quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16640: Os nossos seres, saberes e lazeres (181): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Após a surpreendente Split, a despeito das muitas imagens vistas sobre os lagos de Plitvice, faltam as palavras para adjetivar o esplendor natural de um conjunto de lagos que se visita com uma música de fundo permanente dos sons criados pelo turbilhão das águas, água que escorre de impressionante altura, que se derrama por bacias e que conflui para regatos ou lagos. Ver para crer. Ver de manhã o que assume outra forma de tarde, ver com a neblina o que dá uma moldura romântica que se altera radicalmente com um céu aberto que transforma a cenografia numa natureza radiosa, onde se ouvem as aves exultantes e nos lagos são bem visíveis as gordas trutas. Melhor intermezzo entre Split e Rijeka não podia haver.
Escuso de dizer que regressar à Croácia significa automaticamente voltar a Split e a Plitvice.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (6)

Beja Santos



Por estes dias não tem chovido, mal sabe o viajante que a partir de amanhã, no Parque Nacional dos Lagos de Plitvice vai haver permanentemente esguichos de água a brotar dos céus e das fendas de pedra. Aproveita-se o tempo ameno para ir visitar, antes da abalada para os lagos, um museu de Ivan Mestrovic. Confessa o viajante sem qualquer rebuço que nunca lhe ocorrera a existência deste grande mestre da escultura mundial. Tem as suas vantagens bater às portas nos postos de turismo, ali aparecem desdobráveis que acicatam a vontade de bater à porta do desconhecido. Rezam esses desdobráveis que o mestre nasceu na Croácia em 1883 e morreu em South Bend, Indiana, nos Estados Unidos. É considerado como o mais famoso artista da Croácia, e polivalente – escultor, pintor, arquiteto e escritor. Tornou-se célebre em dois movimentos artísticos coexistentes, a Secessão e a Arte Deco. Depois da II Guerra Mundial, emigrou para os Estados Unidos onde foi professor de escultura. Tornou-se cidadão americano em 1954, ali morreu em 1962. Foi membro da Academia Americana de Artes e Letras. Reza um dos desdobráveis que a sua arte tem sido comparada com Miguel Ângelo e Rodin.






A Galeria Mestrovic é uma doação do mestre à Croácia. Uma das suas doações, a outra é uma casa de Verão em Crikvine – Kastilac. Na galeria, o visitante tem esculturas em mármore, em bronze, em madeira e em gesso. Inicia-se a deambulação e o viajante é impressionado com o esmagador Polifemo, aquele gigante truculento que Eneias afrontou, mostra-se uma parte da fachada clássica da galeria, o viajante gostou imenso da fotografia do jovem artista, segue-se uma escultura baseada também num tema clássico e as duas últimas imagens reportam-se a uma obra gigantesca que Mestrovic foi construindo uma casa de Verão em Crikvine, ao longo de 35 anos foi construindo relevos em madeira com o tema central da vida de Jesus tudo dentro de uma galeria em que a figura preponderante é a crucificação.







Chovia que Deus a dava de Split até Plitvice, num autocarro com gente de dezenas de nacionalidades, grandes, médias e pequenas mochilas. Largados na proximidade, subimos para umas construções tipo albergues de montanha, arrumadas das trouxas, comprados os bilhetes para entrar no parque e observado o mapa, num ambiente bucólico, quiçá romântico pela muita neblina e chuviscos intermitentes, lá vão os grupos a gralhar, e percorridos uns caminhos de saibro, abre-se um espetáculo faustoso, inigualável, tal como escreveu Fernando Pessoa para o anúncio da coca-cola: primeiro estranha-se e depois entranha-se, demora tempo a perceber se há alguma harmonia possível naquelas trombas de água que brotam por todos os lados. O folheto que nos é oferecido à entrada reza que o parque tem uma extensão apreciável, quase 300 quilómetros quadrados, estão inscritos na lista do património mundial da UNESCO, é um fenómeno peculiar da hidrografia calcária. Trata-se de uma rocha porosa formada por sedimentação do carbonato de cálcio da água, o tufo, que dá a forma a barreiras, diques e cursos de água de diferente tamanho e sinuosidade. Com o tempo a água muda o seu curso, fenómeno que dá a sensação que estes lagos não são sempre os mesmos, acrescendo o facto de estarem cobertos por florestas abundantes, prados, sapais e lameiros, habitat espantoso para cerca de 1267 espécies de plantas, e diz mais a literatura que há 55 variedades de orquídeas, 320 espécies de borboletas, 160 espécies de pássaros e 21 espécies de morcegos.

Que mais vos dizer? Ficaria aqui sem hesitar mais uma semana, mesmo com chuva e ventania, nunca me fora dado assistir a um espetáculo tão pródigo em cachoadas de água, água a saltar do tufo no emaranhado da vegetação. Por mim, voltava muito depressa, estas caminhadas entre estacaria, caminhos saibrosos, de barco, com saco de piquenique e tempo disponível para contemplar a grandiosidade de céu, tufo e miríades de água, deixam a alma lavada. Acabou-se o hino à natureza, o passeio vai prosseguir por uma outra surpresa, Rijeka, depois Trieste e Veneza. Por outras palavras, ainda há muita coisa a conversar.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16617: Os nossos seres, saberes e lazeres (180): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (5) (Mário Beja Santos)

Sem comentários: