quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17053: Tabanca Grande (427): João Maria Pereira da Costa, ex-fur mil Pel Rec Info CCS / BART 2857, Piche, nov.1968- ago 1970

1. Apresenta-se na Tabanca, o nosso Camarada João Maria Pereira da Costa, que foi Fur Mil na CCS do BART 2857 (Nov 1968 a Ago 1970, Piche), que nos enviou a seguinte mensagem:

HISTÓRIAS QUE A MEMÓRIA NÃO ESQUECE

“A MINHA PASSAGEM PELO XIME DE REGRESSO A CASA”

Chegados a Bambadinca perto das 5 horas da tarde, a primeira leva de regresso a Bissau, terminada a comissão, camionetas com as nossas malas e uma companhia, nos disseram que não havia maré e que teríamos de seguir para o Xime.

Deitei as mãos à cabeça e pensei baixinho vai ficar pelo caminho metade do pessoal em emboscada e depois a passagem da bolanha será tiro ao boneco. As covas na estrada com muita água, as viaturas só andavam através dos guinchos dos Unimogs agarrados às árvores.

Mas enfim, felizmente nada aconteceu.

Colocámos as viaturas na descida para o ancoradouro e o pessoal a dormir debaixo delas, pois somente ao outro dia pela manhã chegaria a LDG.

E nós que vamos fazer!?

O pessoal periquito, com três meses de Guiné tudo dentro dos abrigos. Não restava nem mais um buraco para nós.

Começámos então na conversa com os piras. Pessoal, até que horas são aqui os ataques ao aquartelamento. Costumam terminar depois da meia-noite e devem vir da Ponta do Inglês. Então pessoal não existe por aí uma garrafinha de whisky? Nada, metidos nos buracos. Nós tarimbados fora dos abrigos e em cima das valas sem saber como iríamos passar a noite. Eram oito horas da noite. Fomos buscar umas garrafas das nossas e começámos a beber e a oferecer aos piras. Passado o medo o já com o efeito do álcool. começaram a sair da toca.

Bem! Levámos a noite toda nos copos. Já se faziam corridas por cima das mesas do refeitório. Não conto pormenores pois ficou uma imundice.

Portanto não havia lugares no tal Hotel Estrela.

Até Bissau fomos a curtir a buba da véspera. Um pouco de cuidado na ponta do inglês, mas tudo correu às mil maravilhas.

Histórias da nossa juventude de guerreiros inconscientes

Belos tempos. Hoje mais idosos recordamos alguns dos bons momentos e das loucuras por terras da Guiné.


Um abraço a todos quantos passaram pelos vários Spa’s da Guiné.

João P. da Costa
Fur Mil da CCS do BART 2857 

Foto de Juvenal Amado © Direitos reservados.


___________

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

4 comentários:

José Nascimento disse...

No Xime de Junho/69 até Maio/70, apenas só dormi a primeira noite em abrigo. Curioso é que enquanto a Cart 2520 lá esteve e das várias que foi atacada ou flagelada, eu e o meu pelotão nunca estávamos no quartel, não foi preciso correr para qualquer abrigo. Não, não tivemos nenhum pacto com o PAIGC.
Um abraço a todos os camaradas.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O João Pereira da Costa há muto que é amigo do Facebook da Tabanca Grande!... Aqui está a página dele:


Além disso, estudou no ISCTE-IUL como eu: ele contabilidade e fiscalidade, eu sociologia... É provável que nos tenhamos encontrado, não ? Eu acabei em 1980...

Eduardo, obrigado pela tua inicitiva, tua e do Sousa de Castro. Mas há muito que o João Pereira da Costa devia estar, formalmente, integrado na nossa Tabanca Grande...


Vê aqui poste de 30 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6910: Falando do BART 2857, da CART 2479, da CART 11 e da CACAÇ 11 (J. M. Pereira da Costa)

(...) Mensagem de João Maria Pereira da Costa, um dos fundadores e
administradores do blogue BART 2857.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/08/guine-6374-p6910-falando-do-bart-2857.html

Nessa altura fiz-lhe um convite expresso: (...) "Um terceiro ponto: quero-te convidar pessoalmente para ingressares na nossa Tabanca Grande, o que não te impedirá de
continuar a liderar o teu/vosso blogue. Vamos a caminho do meio milhar de membros da Tabanca Grande que, como tu sabes, reúne sob um vasto poilão, centenário, simbólico, os amigos e camaradas da Guiné... Queremos reforçar a presença da malta que, como tu, esteve no nordeste
da Guiné, no sector de Piche. Basta-te, no teu caso, o envio de duas fotos, uma actual e outra do tempo da tropa." (...)

Enfim, cumpridas as formalidades, só me resta desejar boa e longa estadia do João, na Tabanca Grande... Espero que ele partilhe, connosco, mais memórias do seu tempo (1968/70)... Ele é ligeiramente mais velho que eu no TO da Guiné... Estava em Bambadinca, muito provavelmente, quando ele lá passou a caminho do Xime e da peluda... Achei divertida a descrição da última coluna que ele fez no leste, para apanhar a LDG no Xime... Conheci bem aquela maldita picada Bambadinca-Xime...

Um abraço fraterno, LG


Tabanca Grande Luís Graça disse...

O João é um dos fundadores e administradores do blogue BART 2857, fundado em 2009... Tem mais de 50 postes...

Este batalhão era constituído pela CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche).

Outros administradores: José Rocha e Francisco Pereira...

Para visitar, clicar aqui:

http://bart2857-guin.blogspot.pt/

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Publico aqui, resenha histórica que o nosso amigo João Maria Pereira da costa teve a gentileza de partilhar comigo no Facebook.Início da vida militar deste nosso amigo. Se calhar dá um bom poste!...

Boa tarde caro S. Castro.
Fui Furriel Miliciano. Soube antecipadamente a minha especialidade e não entreguei as habilitações, embora pressionado pelo Tenente comandante da minha Companhia de Instrução, amigo da família, que pretendia que fosse para Mafra para a especialidade. Claro seria atirador. Mas a vida tem subtilezas que não dominamos. Irás no final do texto compreender.
Em Outubro de 1967, fui incorporado no serviço militar, na recruta nas Caldas da Rainha, porque me cortaram o «regime de espera» pois frequentava a faculdade e pretendia terminar o curso. Nessa altura ouve uma visita do Américo Tomás à Universidade de Coimbra. O pessoal comportou-se mal e, daí, todos tiveram a minha sorte.

Estive de Janeiro a Março de 1968 em Tavira, na especialidade de Operações e Informações, integrada no Pelotão de Reconhecimento e Informação.
Daqui passei por Penafiel, Abril de 1968, onde tomei conhecimento que estava mobilizado. Poucos dias passados deram-nos ordem para apresentar em Lamego, nas Operações Especiais, a mim e a mais dois quadros, do Pel Rec.Info. que tinham estado comigo em Tavira. Igualmente foi o futuro alferes que viria a comandar o Pel. Rec. Info. Bart 2857.
Em Junho de 1968 terminado o curso fomos os 4 colocados no Porto no RI6, para dar aos recrutas a especialidade de Reconhecimento e Informação.
O tempo foi passando e continuávamos no Porto. Entretanto caíu da cadeira o doutor Salazar e os quartéis entraram de prevenção.
Chamados ao comandante perguntamos que tipo de armamento daríamos aos recrutas e sem ou com munições. Estes ficaram com Mausers, julgo descarregadas e todos os quadros do RI6 com armas pesadas.
O Batalhão já tinha ido para Viana do Castelo para o IPO. O embarque estava previsto para 10 de Novembro de 1968.
O tempo a aproximar-se e nós no Porto. Fomos ao comandante e lá nos deixou partirmos para Viana do Castelo. Aqui estivemos nem uma semana. No dia 9 de Novembro embarcamos para Lisboa de comboio. Esperava-nos o UIGE para dia 10 partirmos para a Guiné. Desembarcamos e ficamos em BRÁ. Uma bela noite entramos numa LDG e partimos para BAMBAMDINCA donde de imediato em coluna partimos para Piche. Fizemos a viajem directa.
Enquanto estive em Piche, fui integrado no Gabinete de Operações e Informações, chefiado por um capitão. Planeávamos as operações e do estudo das informações. Todas as semanas eram enviados plásticos com o desenho das Operações. Como a guerra piorava o gabinete foi completado por outro Capitão que só tratava das Informações e da reorganização dos aldeamentos, tanto de Piche como de outros destacamentos.
Fui várias vezes a Bissau `2.ª Repartição, sala onde estava a guerra toda com os mapas na parede. Uma das vezes fomos fazer queixa do 2.º Comandante, então o Comandante do Batalhão, que metia o bedelho e não percebendo nada de artilharia um dia planificou os alvos em cima das nossas tropas. Claro que tivemos que corrigir.
Estava proibido de sair do quartel nem me integrar em colunas porque tinham medo que fosse apanhado pelos turras e os segredos estavam na minha cabeça. Mas ainda saí a um destacamento verificar do andamento das obras e da Mesquita.
A partir daqui entramos no comentário que publiquei.
Um abraço e bom trabalho.
Sempre ao dispor para informações.
Pereira da Costa
Um abraço