sábado, 18 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17057: Manuscrito(s) (Luís Graça) (112): ...Os feitos da arte e da ciência da saúde pública... "eu já não cantarei por toda a parte, / Jubilado, falta-me o engenho e a arte"...


À laia de despedida
da Escola Nacional de Saúde Pública
que servi, 
com amor e humor
(1985-2017)


por 


Luís Graça







1. Os meus colegas do Conselho Científico quiseram-me  fazer um "almoço de despedida",  por ocasião da minha jubilação. É  da praxe, da tradição.... , mas o gesto tem significado para mim...Mostra apreço e carinho.

Fomos ao sítio do costume, em Carnide, onde há bons restaurantes com  grelhados (de peixe e carne)...O dia era de trabalho para todos eles,  No fim, e já cá fora, perto do coreto de Carnide, insisitiram comigo para que. declamasse, m voz alta, em círculo, as estrofes que tinha escrito para a ocasião, uma paródia às  cinco primeiras estrofes do I Canto dos "Lusíadas",  do Luís Vaz  de Camões, o imortal poema da gesta da gente lusa... Aqui fica o registo... Ninguém tirou fotos... e o vídeo que eu me pedi à minha Sílvia falhou. Mas, já antes da reunião do Conselho Científico, eu tinha mandando os versos, por email, com uma singela mensagem...


Caros/as amigos/as da Saúde Pública, 

colegas (os que seguem a mesma lei, escola, doutrina, linha de pensamento),

 e porque não companheiros/as (os que partilham física e simbolicamente, o mesmo pão à mesma mesa), 

e até camaradas (os que partilham, simbolicamente, a mesma "camerata", a mesma cama, caserna, buraco, trincheira, lugar de combate)...

Desejo-vos boa caminhada pela "picada" da vida fora, em termos individuais e coletivos, e sempre com um olho nas "minas e armadilhas" (metaforicamente falando) dos amigos e inimigos, que vos possam surgir...

Vou ter saudades destas manhãs de segunda feira em que, mensalmente, se reunia o conselho científico da nossa Escola... E não posso deixar de ter um pensamento de gratidão para com os/as que estiveram à frente deste órgão e todos/as os/as demais conselheiros/as que, ao longo do tempo, contribuíram para um melhor ensino, investigação e desenvolvimento da arte e da ciência da saúde pública...

Agora do outro lado, mas marginal-secante como sempre, continuarei a torcer pela mesma "camisola"... "À laia de despedida" da Escola, que servi com "amor e humor", desde os idos anos 80 do século passado, deixo-vos uma brincadeira poética... Que a Ciência. os seus conselheiros e o (e)terno Camões me perdoem esta(s) irreverência(s)...

Para todos vós, mais novos do que eu em idade, só posso desejar que continuem a lutar pela Escola Nacional de Saúde Pública com "high tech & human touch" com que sempre sonharam os nossos "pais fundadores"... O mesmo é dizer, uma Escola onde todos/as caibam com tudo o que nos une e até com aquilo que nos pode separar...

Dito isto, sejam felizes!


Boa saúde, bom trabalho, Luís Graça



Os sábios desta Escola assinalados
Que, de uma obscura avenida lusitana (*),
Por terras, céus e mares nunca explorados,
Fizeram da saúde ciência urbana,
Com muito papel e tinta esbanjados,
Além de queimada muita pestana,
E na Universidade se afirmaram,
E até uma NOVA Saúde criaram;


E também as memórias saudosas
Dos mestres e gurus vão celebrando,
Nos books e working papers volumosos,
Na língua de Shakespeare publicando (**),
E aqueles que por obras valorosas
Se vão da lei da Morte libertando,
… Eu já não cantarei por toda a parte:
Jubilado, falta-me o engenho... e a arte!


Cessem dos velhos sábios hipocráticos 
As grandes lições e secas que nos deram,
Calem-se os demais profes catedráticos,

Esqueçam a fama e a glória que tiveram,
Por mais gentis que fossem… e democráticos,
Cesse tudo o que ontem era Ciência,
Que outra, NOVA, se ergue com turbulência.

 
E vós, ó eternas bolseiras minhas,
Que a Saúde Pública tendes servido,
Pequeno reino com os seus reis e rainhas,
Continuai trabalhando alegremente,
Mais do que cigarras, sois formiguinhas,
Com o pão de cada dia bem merecido,
Cuidem de manter sempre limpo o carreiro,
E ponham a Escola sempre... em primeiro!


Senhora de boa reputação,
Ela está bem, para uma cinquentona,
Já deu muitos e bons filhos à Nação,
E até já morreu, quando mocetona (***),
Conheceu a perfídia e a traição,
Como a Fénix renasceu, veio à tona.
… Pois que seu nome se cante no universo,
E, se preciso for, juntem... o meu verso!...


Lisboa, ENSP/NOVA, 13 de fevereiro de 2017

Luís Graça


Notas do autor:

(*) Av Padre Cruz, em Lisboa, onde se situa a Esscola Nacional de Saúde Públcia, da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A funcionar desde 2/1/1967, como Escola Nacional de Saúde Pública e de Medicina Tropical, dois ramos que se vão separar em 1972,   comemora em 2017 as suas bodas de ouro, embora a sua origem a 1899... Originalmente tutelada pelo ministério da saúde (e do ultramar!), será integrada na Universidade NOVA de Lisboa, em 1994.

Para saber mais, clicar aqui, no sítio oficial da Escola: https://www.ensp.unl.pt/

(**) Referência ao veredicto: "Publish or perish" (publicas ou morres!)... Com a globalização (e googlização) da ciência, o veredicto agora é: "Publish in English... or perish" (publicas em inglês, or morres!)...

(***) Referência à ameaça de extinção  da Escola, entre 1991 e 1994, ao  tempo dos XI e XII Governo Constitucional, sob a liderança do prof Cavaco Silva.

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1 comentário:

José Botelho Colaço disse...

Votos de boa saúde para viveres a vida de pensionista com alegria um abraço.