domingo, 2 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17534: Blogpoesia (517): "Fugaz e passageiro..."; "Os boicotes..." e "Armazém da boa disposição...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Fugaz e passageiro...

Tudo na vida é fugaz e passageiro,
A começar por ela mesma.
Tudo seca, por mais verde.
Tudo passa e tudo esquece.

Vão-se os dias e os anos, às centenas,
Num abrir e fechar de olhos.
Quem, na infância,
Vendo os avós,
Se não lembra de fitar a velhice ao longe.

Aquela sensação tão forte
De se estar na eternidade...
A juventude, carregada de miragens.
A voragem do dia-a-dia, a caminho do trabalho.

O sonho fremente de ter uma casa sua.
Aquela luta ingente pelo melhor dos nossos filhos.
O ver descer à terra,
Um a um, aqueles a quem mais queremos.

Até que, um dia,
Vemos no espelho,
Os sulcos fundos do nosso rosto
E o branco de nossos cabelos.

Para onde foram as nossas forças?
E o que resta?
É chegada a hora da saudade abençoada!...

Berlim, 26 de Junho de 2017
16h42m
Jlmg

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Os boicotes...

Surgem boicotes aos magotes
Pelas sendas que trilhamos.
Origem desconhecida.
Vêm de fora.
Vêm de dentro.
Quando menos se espera.

Nos enlaçam, embaraçam
E, quase, nos estrafegam.

Vai-se a força e a paciência.
Ó que sina!

As fronteiras,
As portagens,
As coimas e as multas,
Em torrente,
São barreiras
E algemam nossos pulsos.

Nos retalham e escurecem
O infinito horizonte
Onde nascem nossos sonhos.

Bem armados nos desarmam,
Com as artes maquiavélicas
Onde impera o capital
E a política desumana.

Que é das fontes de água pura
E das searas inocentes
Onde o amor é combustão?...

Berlim, 30 de Junho de 2017
7h7m
Jlmg

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Armazém da boa disposição...

O corpo é a casa onde habito.
Tem várias dependências.
Numa delas, guardo a boa disposição.

Um armazém.
Procuro abastecê-lo no dia-a-dia.
A minha dispensa.

Nela deixo só a recordação
De tudo de bom que me aconteceu.
Há que amealhar.

Nossa vida é como o tempo.
É sazonal.
Ora, frio
Ora, quente.
Ora, chove
Ora, sol.
Quando é normal.

Mas, como em tudo,
Por vezes, desafina.
Vêm as secas.
Vêm as cheias.
Com elas vêm as sombras
Da tristeza e da angústia.

Pouco adianta buscar remédio
Onde o não há:
Os excessos artificiais.

Quando vem a carestia,
O refúgio para onde eu vou
É, sempre, a despensa
Que alimentei...

Berlim, 2 de Julho de 2017
9h19m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17510: Blogpoesia (516): "Paz e a justiça..."; "Sermão da natureza" e "Raridade...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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