quarta-feira, 12 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17574: Inquérito 'on line' (123): Um em cada cinco considera que o aerograma "era rápido mas não seguro"... Total de respostas até agora: 53. Prazo termina amanhã, às 16h59... (Inclui comentário de Carlos Vinhal que enviou para - e recebeu de - a Dina mais de um milhar de cartas e aerogramas, todos devidamente numerados)...


Um "aero" (sic) enviado de Bissau, com data de 25/12/1969, por um dos correspondentes da nossa grã-tabanqueira Maria Alice Ferreira Carneiro. O SPM era o 0148. Este aerograma foi utilizado apenas como envelope ou sobrescrito. Lá dentro vinham duas folhas, em papel azul, bíblico, como se fosse uma carta por avião. O "aero" tinha a vantagem de não pagar porte nem sobretaxa aérea. Essa prática,  embora corrente, era fraudulenta, era contra os regulamentos ("É proibido usar qualquer objecto ou documento"). Era vulgar também mandar-se, dentro de uma "aero", uma fotografia ou  um "santo antoninho" (nota de 20 escudos, que na época, em 1969,  era o equivalente, hoje, a 5 euros e 98 cêntimos)... Com 10 toneladas de correio por dia, durante a guerra colonial, o SPM não podia vigiar e  punir estas pequenas fraudes...

Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017). Todos os direitos reservados. 


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:


"EM GERAL, O AEROGRAMA ERA SEGURO E RÁPIDO" (*)

[Seguro=em geral não se extraviava, não se perdia, era devolvido em caso de erro no endereço, não era facilmente violável, não havia censura, a pessoa sentia-se à vontade para escrever o que lhe apetecesse ...]

[Rápido = em geral demorava poucos dias a chegar ao destinatário]

Assinalar, diretamente, no canto superior esquerdo do blogue, uma das cinco hipóteses de resposta, de acordo com a perceção e e experiência de cada um, no TO da Guiné, entre 1961 e 1974.



Respostas provisórias até ao meio dia de hoje (n=53)

1. Era seguro e rápido > 26 (49%) 

2. Era seguro mas não rápido > 3 (5%) 

3. Era rápido mas não seguro > 11 (20%) 



4. Não era nem seguro nem rápido > 5 (9%) 



5. Não sei / já não me lembro > 8 (15%)

Total > 53 (100%)



Prazo de resposta: 5ª feira, 13/7/2017, 16h59






II. Comentários (**)

(i) Carlos Vinhal

Julgava que era proibido a pessoas não credenciadas pelo SPM abrir os sacos de correio. Lembro-me de, em Mansabá, os sacos serem abertos numa dependência própria para o efeito, pelo Cabo Escriturário, credenciado pelo SPM, a quem incumbia, em exclusividade, separar o correio oficial e distribuir a almejada correspondência pelos militares. Os sacos vinham lacrados e acompanhados de protocolo.

Ainda bem que nos locais onde o camarada Graça de Abreu esteve, o correio demorava menos de 24 horas a chegar ao destino. A Mansabá (1970/72), demorava dois a três dias, e quando a demora era demasiada, púnhamos rodas ao caminho e íamos buscá-lo a Mansoa. O camarada Graça de Abreu lembrar-se-á de quão perigoso era aquele itinerário, principalmente a partir de Cutia para norte, não sei se teve a oportunidade de alguma vez ir a Farim por estrada, uma verdadeira aventura. O único dia da semana com distribuição de correio era à quarta-feira, dia de reabastecimento de frescos por DO 27.



Já agora, para efeitos estatísticos: da minha namorada [e hoje minha mulher, Dina], recebi 573 cartas e aerogramas, e para ela escrevi 577. Nem eu nem ela alguma vez detectámos qualquer violação na correspondência. Numerávamos a correspondência para controlar qualquer extravio.
Recebi algumas encomendas de casa, até um fio de ouro com uma "medalha", enviados na bainha de uma camisola interior para não se perder. Recebi muitos valores declarados porque ficava com o mínimo na Província, e o dinheiro nunca chegava ao fim do mês.


(ii) António Graça de Abreu:


O CAOP 1 era o Comando de Operações. Estávamos acima dos batalhões e companhias. E tínhamos um comandante, coronel de cavalaria, também coronel pára-quedista, um dos braços direitos do Spínola, chamado Rafael Ferreira Durão. Eu era um pequeno alferes, oficial miliciano. Ia de jeep, sobretudo em Teixeira Pinto, buscar o piloto, ou pilotos, e o correio, à pista, ou com o meu coronel ou com o major de Operações, major Pimentel da Fonseca. É verdade que depois eu abria os sacos de correio que eram destinados ao CAOP 1, de uma espécie de sarapilheira, meio lacrados, e logo o distribuía ao nosso pessoal do CAOP 1.
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10 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17565: Inquérito 'on line' (120): Mesmo com ficha na PIDE/DGS, nunca me inibi de escrever cartas e aerogramas, sem autocensura nem receio de represálias... E foram mais de 300!... Contei, a quem gostava, tudo o que acontecia no CTIG no meu tempo (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

8 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17558: Inquérito 'on line' (119): num total (provisório) de 35 respostas, até às 21h00 de hoje, menos de metade (17) entende que "em geral, o aerograma era seguro e rápido"... Comentários de: José Martins, Manuel Amaro e Carlos Vinhal

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É óbvio que, quando um gajo estava destacado no "cu de Judas" (tabanca, ponte, destacamento...), só recebia o correio em dia de reabastecimento ou rendição... Às vezes podiam ser quinze dias...

Nessas circunstâncias, que escapavam ao controlo do SPM (Serviço Postal Militar), admito que pudesse haver extravio ou perda de correio... Mas não por norma... Tenho ideia que o correio vinham sem sacos, selados... O correio era "coisa sagrada" e parece que a tropa, pelo menos na Guiné e no tempo de Spínola, impediu a PIDE/DGS de lhe pôr a mão em cima... Devem ter feito queixas ao Salazar... Mas o ditador já há muito que tinha sido ultrapassado pelos acontecimentos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

1961 foi mesmo o "annus horribilis" de Salazar e de todos nós... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Relembrando apenas alguns acontecimentos marcantes do ano de 1961:

assalto ao navio “Santa Maria”;
início da guerra colonial em Angola;
tentativa de golpe de estado do ministro da Defesa Botelho Moniz;
escalada do conflito com Nova Deli, e colapso militar da Índia Portuguesa;
hostilidade de presidentes de nações amigas como os EUA e o Brasil;
descolonização da África negra, subsariana…