domingo, 16 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17587: Blogpoesia (519): "A gaivota sozinha..."; "No bar do Reichelt..." e "Adoração ao sol...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Gaivota sozinha. © Carlos Vinhal


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


A gaivota sozinha...

Uma gaivota sozinha passou ao meu pé,
pisando a areia,
à borda do mar.

Me olhou de soslaio,
parecia dizer:
- bom dia, amigo.
sabe bem passear,
ver o sol a nascer.
Desejei-lhe um bom dia
e ela desatou a voar
como só ela o sabe fazer.

Harmonia no céu,
serenidade no mar.
Um dia de praia
começava a nascer.

Foi belo o encontro
com a gaivota sozinha
que passeava a pé...

Roses, 16 de Julho de 2017
7h46m
Jlmg

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No bar do Reichelt...

Do canto do bar,
durante a manhã,
vejo quem entra e quem sai,
carregado de compras
do supermercado.

Rostos serenos,
nada expansivos,
enchem os carros
com tudo o que há,
sem olhar para o lado.

Cabelos grisalhos,
são reformados
os maiores clientes,
durante a semana.

Papelinho na mão,
do bom e melhor,
levam de tudo,
conforme precisam.

Independência total,
sem pobres nem ricos,
é tudo igual...

Bar do Reichelt, 12 de Julho de 2017
8h44m
Jlmg


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Adoração ao sol...

Mal acordei,
vi o sorriso do sol,
no casario ao longe
do outro lado do mar
e desatei a sorrir.

Ali, à frente, do outro lado da rua,
e duma restinga de praia,
as gaivotas em linha,
debicam as ondas que chegam
e se espraiam cansadas.

O mesmo tractor de há um ano,
não pára.
Filtra e alisa as areias,
dos restos que ontem
os banhistas deixaram
na volúpia do dia.

Aos poucos, a praia vai animando.
Repetem-se os gestos.
Escolhe-se os poisos,
o mais perto das ondas.
Abrem-se cadeiras,
se estendem toalhas,
cada corpo a sua.

A custo se espetam os guarda-sóis
que o vento destrona num ápice.

Tiram-se as vestes ao corpo.
O recato se enterra
e o que se guardava à chave,
expõe-se sem custos
aos olhos de todos.

Tantas mazelas ocultas
se abrem ao sol.

Afinal, a diferença que parecia reinar,
por debaixo das vestes,
se reduz a nada,
porque, no fundo,
somos todos iguais...

Roses, 15 de Julho de 2017
14h15m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17561: Blogpoesia (518): "Terra queimada..."; "Milhões de folhas" e "No meu paquete...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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