quarta-feira, 5 de julho de 2017

Guiné 63/74 - P17548: Os nossos médicos (86): Cenas da vida de um médico no CTIG, Alfredo Roque Gameiro Martins Barata, Alf Mil Médico da CCAÇ 675 (José Eduardo R. OLiveira)


Alfredo Roque Gameiro Martins Barata
Lisboa, 12.04.1938 † 20.06.2017


1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 30 de Junho de 2017, aceitando o desafio do nosso editor Luís Graça, falando-nos do ex-Alf Mil Médico, Dr. Martins Barata, recentemente falecido:

Caros Amigos
Correspondendo ao pedido, e no seguimento do meu compromisso, segue uma pequena história protagonizada pelo n/Alferes Médico Alfredo Roque Gameiro Martins Barata.

Abraço-vos.
JERO


Na família tinha a fama de... distraído. Na vida militar essa ”fama” não colheu e se algumas dificuldades teve... terá tido mais a ver com o facto de ser uma pessoa muito bem-educada.
E, como se sabe, na vida militar encontra-se filhos de... muitas mães com quem, muitas vezes, não resulta um tratamento do tipo “português suave”! Mas... adiante.

Recordo que cumprimos na Guiné, integrados no CCaç 675, a nossa comissão de 2 anos (de meados de 1964 a meados de 1966).
Em Binta, depois de uns meses de “prática militar”, instalámos o nosso Posto de Socorros no “Largo da Tomada da Pastilha”, que não era só “aberto” a militares. Havia também grande número de nativos que o frequentavam e que apresentavam o mais variado tipo de enfermidades. Tivemos casos de lepra (uma doença que era suposto já estar então erradicada...), elefantíase e um terrível surto de sarampo.

Largo da Tomada da Pastilha

Uma das histórias clínicas mais espantosa passou-se com uma nativa que um dia se apresentou à consulta queixando-se de ter engolido uma cobra enquanto dormia!

O Dr. Barata já falava umas ”coisas” dos dialetos locais e rapidamente percebeu que a sua doente devia padecer de lombrigas que, durante o sono, lhe teriam chegado à boca.

Pensou num vomitório e na apresentação de um pequeno réptil à doente após a medicação, “cena” que ficou marcada para o dia seguinte.
Entretanto encomendou-se a captura de uma pequena cobra, o que não foi difícil de conseguir.

Tudo preparado, chega-se ao dia seguinte e, conforme o plano estabelecido, é administrado à paciente o vomitório, tendo por perto a pequena cobra (já morta) para, no “pós-vómito”, convencer a nativa que... estava curada. O pior foi mesmo o que se seguiu.
O vomitório, durante alguns longos minutos, provocou vómitos sim mas a todo o pessoal do Serviço de Saúde menos à doente que... nunca mais vomitava.
Finalmente lá aconteceu e a cena da cobra resultou inteiramente.

JERO
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14738: Os nossos médicos (85): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (15): Africanização Portuguesa

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