quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17674: Os nossos seres, saberes e lazeres (226): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (5) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
São os últimos dias passados em Malta, amanhã vou até Gozo e farei relatório.
Malta vive essencialmente do turismo, é gigantesco, desdobra-se em atividades ao ar livre, visitas culturais, excursões em todas as direções. Hoje movimentei-me a pé durante horas, quando me senti esfaimado entrei num snack e fui servido por um português que ali vive e se sente muito bem, o salário mínimo ronda os 840 euros, ele sente-se satisfeito com o estado social de Malta.
Continuo à volta do Grão-Mestre Vilhena mas há outros vultos portugueses referidos com regularidade. Para os estudiosos das guerras informo que tem aqui um largo pitéu com as instalações poderosas que foram vitais durante a II Guerra Mundial para assegurar sucessos da aviação e da frota naval.

Um abraço do
Mário


De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: 
À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (5)

Beja Santos

Pelas contas do viandante, hoje será um dia exclusivamente dedicado a contemplar preciosidades em Valeta. Já ficou dito que este pequeno país tem entre as suas peculiares atrações um número elevadíssimo de estátuas em todas as localidades, é um país novo que procura a identidade com os seus vultos e eventos superiores. Logo esta dinâmica estátua alusiva à independência, à entrada da cidade.


Há razões fundadas para os guias proporem, entre as principais atrações, a visita à Igreja do Naufrágio de S. Paulo e às suas 25 relíquias. Caminhando para o templo, surpreende a amálgama de diferentes estilos arquitetónicos da sua fachada neogótica oitocentista, parece mais a sede de um banco do que uma igreja. Entra-se e tudo muda de figura. Ali predomina o barroco. Os visitantes vão à procura das relíquias, diz-se que há um osso do pulso direito e um fragmento da coluna onde terá sido decapitado. O viandante já aqui esteve e voltará aqui logo que possível. A cúpula do tempo não é nada de transcendente, mas o arquiteto foi subtil nos jorros de luz que a elevam e lhe dão uma dimensão sublime. Também esta relíquia de S. Paulo, a sua cabeça, é uma impressiva imagem da mortificação, ele que falou na dádiva pelos outros assim cumpriu a sua missão, parece dizer o génio desta estatuária.



Não teria sentido ignorar o nosso Grão-Mestre Manoel, sempre presente, vamos ao seu encontro no teatro que ele providenciou para que o público tivesse “entretenimento honesto”, logo ópera séria. O Teatro Manoel abriu as suas portas em 19 de Janeiro de 1732. Em rigor, é hoje uma casa de espetáculos, promove concertos, recitais, mas também óperas. Foi ligeiramente atingido durante os bombardeamentos da II Guerra Mundial e restaurado. Dizem que é uma réplica do teatro da ópera de Catânia, a capital da Sicília.



O turista recebe ampla informação sobre o património maltês, dentro das referências fala-se nas fontes e o viandante gosta muito desta, está na Praça de S. Jorge, lugar de grande afluência, o viandante pôs-se a observar e escreveu no caderninho: mais um elemento italiano a juntar a tantos outros.


Sendo Valeta uma cidade com tantos fortes e fortificações, é sempre uma tentação descer e olhar de cima para baixo a monumentalidade das muralhas. O viandante tomou o elevador nos jardins superiores de Barrakka e desceu. Recorde-se a ironia de ter feito esta construção ciclópica que ficou operacional no exato momento em que o império Otomano entrou em refluxo.


O viandante sobe ao nível superior de Valeta, encontra aberta a igreja de Nossa Senhora das Vitórias, considerada a primeira igreja de Valeta, mandada construir por Jean Parisot de Valette, para comemorar a sua vitória sobre os otomanos em 1565. Foi a principal igreja de ordem e o Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca mandou embelezá-la com a fachada barroca que podemos admirar. Fala-se das vitórias, não é só a de 1565 é também para marcar a capitulação da Armada italiana em 1943, representou a chegada da paz para os malteses. Os viandantes podem agora admirar uma igreja praticamente toda restaurada, é um encanto para os olhos tanta arte preservada.


Nisto o viandante tem uma veneta, olha para o céu, busca um autocarro e procura novo desfrute, as falésias Dingli, muito procuradas pelos amantes da conservação da natureza. Estas falésias de calcário na Costa Ocidental proporcionam panorâmicas de cortar o fôlego. Foi construída uma agradável marginal e dá-se um passeio de alguns quilómetros a ouvir o piar dos pássaros, a ver o funcho e a contemplar, mantendo uma respeitosa distância das falésias uma brancura que cai abruptamente nas águas. Está na hora do regresso, volta-se a Sliema.


Isto de vasculhar à procura de promoções dá por vezes resultados sensacionais. Um hotel de Sliema assegurava um quarto por 30 euros, com vista para o pátio, por sinal sem graça nenhuma. Mas era um quarto cheio de conforto, foi um ótimo negócio. Porque Sliema é a principal faixa turística de Malta, passeios não faltam e as vistas são soberbas. O viandante despede-se hoje dos seus amigos com uma vista da cidade e em dado momento até pensou em Veneza, imagine-se, estava na marginal a ver os barcos e o serviço de ferry que atravessa a baía em dez minutos. O viandante escreve no seu caderninho: amanhã começamos pela pré-história e a seguir parte-se para Gozo. O passeio maltês dentro em breve finda para se partir para Bruxelas, o viandante está saudoso desta cidade que percorre com tanta alegria.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17660: Os nossos seres, saberes e lazeres (225): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do grão-mestre António Manoel de Vilhena (4) (Mário Beja Santos)

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