domingo, 10 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17751: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (45): Como se localizava, por exemplo, na Carta de Cacine 1:50.000, a posição CACINE 6 D4/78? - Conclusões do Gen José Nico (Miguel Pessoa)


1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 6 de Setembro de 2016:

Caros editores
Na sequência do pedido de colaboração do Gen. José Nico publicado no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" acerca das marcações nas cartas 1/50.000 e dos vários comentários ali reproduzidos, este nosso camarada da Força Aérea decidiu apresentar as conclusões a que tinha chegado, com base na informação prestada. Não vê o Gen. José Nico nenhum motivo que impeça a sua divulgação, pelo que fica à vossa consideração a hipótese de publicação do texto abaixo inserido.

Um abraço.
Miguel Pessoa


2. Texto do Gen. José Nico:

"Aqui vão as minhas conclusões sobre a questão das marcações nas cartas 1:50.000.
No meu tempo o Quitafine era um cavalo de batalha para a Força Aérea porque o PAIGC declarara a zona como área libertada e procurava impedir a liberdade de acção da aviação instalando numerosas armas anti-aéreas (AAA) que nós tivemos que eliminar. O reconhecimento do Quitafine como área libertada era importante para o Comité de Descolonização (Também conhecido como Comité dos 24) porque permitiria reconhecer o PAIGC como efectivo detentor do terreno e assim, não só declará-lo como legítimo ocupante como, simultaneamente, declarar a presença de Portugal como ilegal. Esta manobra política acabou por se concretizar anos mais tarde, em Abril de 1972 [1] , se a memória não me falha, com uma passeata no Cantanhez combinada entre o PAIGC e o Comité dos 24. Nela tomaram parte três embaixadores que, com manobras de diversão, reconhecimentos à distancia e guardas laterais, conseguiram facilmente contornar as forças que tínhamos colocado no terreno para lhes dar caça. Foi assim que a ONU declarou o PAIGC como legítimo representante da Guiné e Portugal como ocupante ilegal. Foi este facto político, ardilosamente construído, que também abriu a porta à declaração unilateral da independência em Setembro de 1973 que foi imediatamente seguida de reconhecimento por numerosos países.

Para não me alongar mais, acontece que a área do Quitafine estava coberta por três cartas diferentes. A do extremo SW é a de Cassumba na qual apenas os dois quadrados superiores mostram terreno. Foi, por isso, fácil encontrar diversas marcações de acções nos quadrados 6 e 9 da carta de Cassumba e aproveito para enviar as marcações retiradas do ZASITREP de 28MAR1968 referentes a uma operação conjunta com a Marinha. Concluí assim que a numeração dos quadrados das cartas 1:50.000 era feita de baixo para cima e da esquerda para a direita, isto é de acordo com o método B. Precisando um pouco mais, os três quadrados de cima, da esquerda para a direita, são o 3, 6 e 9.

Existe ainda uma outra carta que tem uma configuração semelhante à de Cassumba e onde, no meu tempo, a Força Aérea actuava com muita frequência: Madina. Também neste caso existem inúmeras marcações que confirmam o método B, sem margem para dúvidas.

Agradecendo a colaboração prestada, considero assim o assunto encerrado

Um abraço
J. Nico"
____________

Notas do editor

[1] - Vd. Mission to Guinea (Bissau) - Casa Comum
e
Poste de 20 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5680: Efemérides (41): No 37º aniversário da morte de Amílcar Cabral, recordando o sucesso diplomático que foi a visita da missão da ONU às regiões libertadas, no sul, 2-8 de Abril de 1972

Último poste da série de 20 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17606: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (44): Como se localizava, por exemplo, na Carta de Cacine 1:50.000, a posição CACINE 6 D4/78 ? (José Nico / Miguel Pessoa / António J. Pereira da Costa)

1 comentário:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Desse tempo ainda me recordo de ouvir o Jesus Vasquez:
"Com o Sol pelas costas. Vou entrar. Entras, mas é o c*****o!
E lá dava ela mais uma volta. Depois entrava mesmo e tempos depois vi a foto do primeiro passe com a ZSU-23-4 dentro do abrigo em caracol.
Depois, nova foto, e sou o buraco.
Noutra foto vi o ataque ao "porto de Camassó". Os barcos encostados e os homens a fugir.
Entre nós procurávamos não usar a quadrícula, por ser complicada.
Só na artilharia (ZLIA) é que recebíamos as missões de tiro e depois íamos ver onde ficavam na carta. Depois era tirar os elementos topográficos e fazer tiro à hora prevista.

Um Ab.
António J. P. Costa