terça-feira, 7 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17943: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XV: Pago Pago, capital da Samoa Americana, Polinésia, 15/10/2016



Pago Pago, Samoa Americana, Polinésia, 15 de outubro de 2016


Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Parte XV (Segundo volume, pp. 16-19)

1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com cerca de 200 referências.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais. 
Neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Três semanas depois o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento,  sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017).

Na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017). No dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano. Navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo.

Um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016.


Pago Pago, Samoa Americana, Polinésia


Festa rija na chegada ao porto de Pago Pago, o centro político, a capital da Samoa Americana, na ilha de Tutuila, na Polinésia. Há eleições neste pequeno território constituído por cinco ilhas vulcânicas e dois atóis. Hoje temos comício e grandes manifestações de apoio aos dois senhores, Lolo e Lemanu, que pretendem ascender aos cargos de governador e vice-governador da Samoa. Centenas e centenas de militantes da causa dos candidatos estendem-se pelos passeios e por ambas as bermas da avenida principal, ao longo de mais de um quilómetro, junto aos edifícios públicos, às agências bancárias, aos restaurantes, ao mar, com trajes garridos, camisas e saias – uma espécie de sarong que os homens também usam –,  em azul vivo, vermelhão, verde forte, castanho e amarelo canário. Muitos empunham cartazes, ou usam t-shirts com o nome e fotografia dos homens a eleger para governar a ilha, e têm uma boa palavra de ordem “people first”. Carros com aparelhagens montadas nos porta-bagagens, de porta traseira levantada, mais duas instalações fixas nos jardins ao longo da avenida, debitam monumentais decibéis com música da terra e palavras de apoio aos candidatos. Uma grande festa, com as pessoas gordinhas e bem dispostas, saudando os carros que passam lentamente devido ao engarrafamento provocado pela curiosidade de quem conduz e pelo estreitar da avenida, cheia de gente.

Noventa e seis por cento da população da ilha são autóctones, com o seu idioma próprio, aparentado com outros dialectos polinésios. A Samoa depende politicamente dos Estados Unidos da América desde finais do século XIX, quando os norte-americanos estenderam o seu domínio a estas longínquas paragens, dado o interesse estratégico das ilhas. Aqui em Tutuila, construíram uma série de instalações militares de extrema utilidade durante a II Guerra Mundial no apoio às esquadras do Pacífico, na luta anti-japonesa.

Na outra Samoa independente, aqui ao lado, viveu, entre 1890 e 1894, o escocês Robert Louis Stevenson, o autor da “Ilha do Tesouro”, livro que encantou a meninice de muitas gerações de rapazes, como eu, que se imaginavam sulcando as águas do Pacífico com um misterioso mapa na mão, buscando um fabuloso tesouro escondido numa estranha ilha perdida no mar.

Apanhei um autocarro público e parti, não à procura de um tesouro – já estarão todos descobertos!–, mas de uma praia acolhedora e limpa. Curiosos estes jipões, já quase todos velhíssimos, transformados em autocarros que circulam pela ilha. Têm a caixa atrás adaptada com um habitáculo em madeira, onde foram montados dez ou doze lugares. Circundando a baía de Pago Pago, viajei até ao fim da linha com descida numa aldeia chamada Ana. Quinhentos metros mais à frente havia uma praia pequenina, meia escondida, vazia de gente, sombreada por uns tantos coqueiros (cuidado que pode sempre cair um coco, bem pesado, em cima das nossas cabeças), mais o mar azul, uma leve ondulação e um calor tropical. Vamos ao banho. Água quentíssima como só me recordo de ter encontrado há anos atrás num verão com um mar quase a ferver na ilha de Djerba, Tunísia.

Mas nem tudo é perfeito neste lugar. Há vidros de garrafas espalhados pela areia da praia. Uns quaisquer energúmenos devem ter vindo para aqui beber umas cervejolas e, já toldados pelos perfumes do malte, pelas espirais do álcool, ter-se-ão entretido a partir as garrafas vazias e a deixar os vidros na praia. 

O mar também tem um problema. Entramos, avançamos uns dez metros pela areia fina, logo depois começam as pedras e os corais, submersos, quase à tona da água. Não dá para nadar muito e alguns corais podem cortar os pés e ser venenosos. E existe a possibilidade de encontrarmos mosquitos, não os vemos, não parecem ser muitos, mas quem nos garante que não apareça por aí uma mosca travestida de zika capaz de nos espetar, tropicalmente, o ferrão na pele fofa e de nos injectar o vírus que nos deixará abananados durante meses? Também podemos ser atacados por tubarões. Não será mais seguro, e mais barato, trocar o paradisíaco destas enseadas em ilhas no meio do Oceano Pacífico, por uma bonita praia fluvial nos nossos Zêzere ou Mondego, ou por uma praia atlântica a sério, em Porto Covo ou na Fuzeta? Estou a comparar o quê? A Polinésia tem algumas das ilhas mais bonitas do mundo.

Regressei a Pago Pago. A festa da campanha eleitoral continuava. Um cidadão integrado no cortejo eleitoral diz-me: Thank you for coming!... As pessoas destas ilhas vivem tão sozinhas, tão longe de tudo que saúdam com simpatia o estrangeiro que as visita. São Francisco, a pátria americana, fica a 7.700 kms de distância, o Hawai, habitado também por polinésios aparentados com os samoanos, situa-se a 4.700 kms, a Austrália, a 4.000 kms, a Nova Zelândia, a 2.900, as ilhas Fiji, a 1.200, o Tahiti a 2.400. Portugal está quase nos antípodas, a cerca de 20.000 quilómetros.

(Continua)

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, qual é o atual estatuto, do ponto jurídico e político, da Samoa Americana ? Acho que já foi (ou ainda é) considerada como uma "colónia".

Obrigado pelas tuas preciosas e belas fotos... LG

antonio graça de abreu disse...

Obrigado, Luís, por continuares a publicar estas imagens com palavras, rápidas, da minha extravagante Volta ao Mundo em 108 dias.
Não sei qual é o estatuto desta Samoa Americana. Acho que norte-americanos mandam pouco, a terra terá muita autonomia, os governadores são samoanos, os EUA serão o chapelão protector, à distância.

Abraço,

António Graça de Abreu