segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)



 Oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue 

Os modelos de Morteiros usados no CTIGuiné foram: o morteiro médio Brandt de 81mm (francês), imagem acima, e o morteiro 10,7 cm (americano).

Sobre o primeiro modelo consultar, também, o sítio Museu da Vitória - Brigadeiro Nero Moura




Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp/ranger,  CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)


PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) - ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS [CORRIGIDOS E AUMENTADOS]

por Jorge Araújo



1. INTRODUÇÃO

Na condição de ex-combatente miliciano no TO do CTIGuiné (1972/1974), determinada pela conjuntura política vigente nesse tempo ou nessa época, cativa-me participar neste plenário virtual (electrónico) a que o seu fundador deu o nome de «Tabanca Grande». E é Grande, de facto, como provam os dezoito mil postes contabilizados no dia em que se atingiu a expressiva cifra de dez milhões de visitas ou visualizações (21Nov2017 às 18h47). Pela quantidade do seu valioso espólio estamos perante um verdadeiro Serviço Público aberto a todas as comunidades… e que continua o seu processo de crescimento.

Por outro lado, como membro tertuliano e comungando dos mesmos objectivos didácticos do seu colectivo, cativa-me também poder partir da percepção do já acontecido, do já sentido e do já divulgado ou publicado, e adicionar-lhe algo mais, o que anda disperso, ou aquilo que resulta do seu aprofundamento, estudo ou investigação nesta área – a da ciência militar – da qual possuo uma reduzida competência teórica.

Dito isto, o presente trabalho nasce de um desejo/pedido do editor e camarada Luís Graça endereçado
ao nosso novo Tabanqueiro (761.º), Carlos Vieira, ex-fur mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), a quem envio um abraço de boas vindas. O pedido foi formulado no P17993, em comentário, nos seguintes termos… “Carlos, quantos Pelotões de Morteiro passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974? Podemos saber, mas para já só temos referências a 19 Pel Mort, e nalguns casos muito escassas…”.

Sem prejuízo da participação do camarada Carlos Vieira neste ou noutros temas, pois será sempre bem-vindo, o que acontece é que este estudo, sobre este mesmíssimo levantamento, eu há já algum tempo o tinha realizado.

Ao estruturar o presente texto, encontrei um trabalho académico semelhante, mas mais completo pois incluía os três TO, realizado por um estudante da Academia Militar que, como é do conhecimento público, é uma Unidade Orgânica Autónoma do Instituto Universitário Militar.

Trata-se do “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” com o título: «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», sendo seu autor o Aspirante de Infantaria José Luís Pires Ferreira, estudo concluído em Julho de 2015 (capa ao lado).

Ao confrontar este trabalho académico com o meu, constatei existiram discrepâncias nas estatísticas, pelo que hesitei sobre qual deles deveria fazer uso neste fórum: o académico ou o meu. Mas, enquanto membro da academia, na qualidade de docente universitário, não podia aceitar que se continuasse a manter os erros históricos e estatísticos, por uma questão de princípio deontológico (a segunda condição).

Assim, partindo da mesma premissa temática, decidi acrescentar o que estava em falta, e corrigir o que não estava bem, apresentando a competente justificação para cada caso. Por este facto, espero ser perdoado pelo Oficial de Infantaria José Ferreira.

Este seu trabalho pode ser consultado no poprtal RCAAP - Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal


2. O PORQUÊ DESTA INVESTIGAÇÃO

José Ferreira, autor do estudo, no ponto 1.2 - Importância da investigação e justificação do tema -, refere que “dos trabalhos publicados em Portugal sobre a história da guerra de África (1961-1974), nenhum abordou a mobilização das unidades da Arma de Infantaria, que foram constituídas no dispositivo territorial do Exército, do Continente, da Madeira e dos Açores, e depois enviadas para os três Teatros de Operações.

O estudo publicado pela comissão para o estudo das campanhas de África (CECA) e a obra “Os anos da guerra Província Ultramarina” [“Os Anos da Guerra Colonial”] da autoria de Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso, reúnem dados e analisam diversas dimensões sobre a guerra, mas não foram estudos dedicados especificamente à mobilização. Julgamos pertinente analisar o esforço de mobilização para cada um dos TO, a sua evolução ao longo do período da guerra, bem como aspetos particulares sobre a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria.

O presente trabalho visa revelar conhecimento novo e permitir retirar conclusões sobre os períodos de maior ou menor esforço de mobilização para cada TO, bem como conhecer a tipologia de unidades mais utilizadas durante o conflito ultramarino detalhando este processo, relativamente a cada um dos três TO. Este trabalho vem assim enriquecer o historial da Arma de Infantaria.

2.1 RESUMO DA INVESTIGAÇÃO

No trabalho de Investigação Aplicada acima referido, José Ferreira apresenta-o fazendo um resumo do que nele aborda. “Através desta investigação pretende-se caracterizar a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria, com base no recrutamento e mobilização feito em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e Madeira, bem como compreender o esforço de mobilização realizado por esta arma, quer através do ritmo de mobilização ao longo do período da guerra, quer ao nível das unidades territoriais que mobilizaram forças durante a guerra para cada um dos Teatros de Operações [TO], durante o período em estudo. É de relevante pertinência a realização desta investigação, pela possibilidade de retirar conclusões sobre os períodos de maior e menor esforço de mobilização (não considerando as unidades de intervenção e as de guarnição normal) em cada Teatro de Operações bem como conhecer a tipologia das unidades empenhadas durante o conflito ultramarino”.

2.2 MOBILIZAÇÃO DE PELOTÕES DE MORTEIROS PARA A GUINÉ

Encontrando-se o trabalho organizado por TO, no ponto 5.5 é apresentada a competente estatística, relativa à Guiné, de modo diacrónico (figura 25) e comentados os resultados obtidos.

Assim, segundo o autor, “o início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1962 [errado] e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, nove unidades foram enviadas para o TO da Guiné [errado]. [Omite 1970]. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados 60 PelMort [errado].

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Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.




2.3 ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS CORRIGIDOS

De seguida, apresentar-se-ão quadros estatísticos por anos, retirados do capítulo dos «Apêndices» [AP-37/38], onde se assinala as discrepâncias encontradas entre as duas investigações, a académica (Academia Militar) e a empírica (a minha).

Como elementos de prova, indicam-se as respectivas fontes.






"Diário do Alentejo", 18 de julho de 1961

Fonte: Blog BC 236, Guiné 61/63 (com a devida vénia)






Breve história do Pelotão de Morteiros 2138

“Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português. No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia” o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã”

[http://pelotaodemorteiros2183.blogs.sapo.pt/1706.html (de notar que os últimos dois algarismos do número do pelotão estão invertidos)].





Aproveitando o texto que serviu de base à análise estatística da figura 25, esta poderia ser, em função das correcções, a seguinte:

“O início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1961 e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, dez unidades foram enviadas para o TO da Guiné. Em 1970 a mobilização foi atípica só com duas unidades. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados um total de 63 PelMort.


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Fonte: Adaptado de: Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.



3. PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) COM E SEM REFERÊNCIAS NO NOSSO BLOGUE

Contabilizado, até à presente data, o número de Pelotões de Morteiro referenciados no blogue da «Tabanca Grande», este é igual a 19 (dezanove), a que corresponde uma percentagem de 30.2%, quando comparado com o universo dos Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961/1974). Com mais cinco unidades atingiremos 1/3.

A) - Pelotões de Morteiros com referências no Blogue (ñ19=30.2%)

16 – 17 – 19 – 912 – 942 – 1192 – 1208 – 1209 – 1242 – 2005 – 2106 – 2117 – 2138 – 2268 – 2297 – 4275 – 4574 – 4575/72 – 4580.

Pel Mort 1028 (1)
Pel Mort 1192 (4)
Pel Mort 1208 (2)
Pel Mort 1209 (2)
Pel Mort 1242 (2)
Pel Mort 16 (1)
Pel Mort 17 (1)
Pel Mort 19 (27)
Pel Mort 2005 (2)
Pel Mort 2106 (12)
Pel Mort 2117 (1)
Pel Mort 2138 (3)
Pel Mort 2268 (9)
Pel Mort 2297 (1)
Pel Mort 4275 (9)
Pel Mort 4574 (31)
Pel Mort 4575/72 (3)
Pel Mort 4579 (1)
Pel Mort 4580 (6)
Pel Mort 4581 (1)
Pel Mort 912 (27)
Pel Mort 942 (8)

B) - Pelotões de Morteiros sem referências no Blogue (ñ44=69.8%)

18 – 41 – 916 – 917 – 918 – 978 – 979 – 980 – 1028 – 1029 – 1039 – 1040 – 1041 – 1042 – 1085 – 1086 – 1087 – 1191 – 1210 – 1211 – 2004 – 2005 – 2006 – 2105 – 2114 – 2115 – 2116 – 2172 – 2173 – 2174 – 2267 – 2294 – 2295 – 2296 – 3020 – 3030 – 3031 – 3032 – 4272 – 4273 – 4274 – 4277 – 4579 – 4581.

Aproveito esta oportunidade para reproduzir oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue [, vd.  imagens no topo deste poste], com a expectativa e/ou esperança de, num futuro próximo, possamos receber algumas histórias das suas passagens pelo CTIG, pois aconteceram em locais e épocas diferentes. Aguardemos!


Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.

27NOV2017.

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, a manter-se a mesma proporção (apenas um terço dos Pelotões de Morteiro, mobilizados para o CTIG, de 1961 a 1974, tem referências no nosso blogue), poderia concluir que o mesmo se passa com as restantes unidades e subunidade: batalhões, companhias... Sabemos (, pelo José Martins), que foram mil, nesses anos todos, as unidades mobiliadas para o CTIG...

Um terço são 333, o que quer dizer que ainda nos falta falar dos restantes dois terços (666)... Se levámos 15 anos. a falar de um terço das unidades, precisamos de mais 30 para termos a "cobertura" completa...

Ou seja, só para os 100 anos é podemos encerrar o blogue e entregar a chave ao Arquivo Histórico Ultramar ou quem que seja que queira ficar com o espólio!... Será que vamos ter coragem e sobretudo saúde para continuar a servir "o pai da noiva" ? isto faz-me lembrar o soneto de Camões, "Sete annos de pastor Jacob servia"... Pungente!...Das coisas mais belas que se escreveram em português...


Sete annos de pastor Jacob servia
Labão, pae de Raquel, serrana bella:
Mas não servia ao pae, servia a ella,
Que a ella só por premio pertendia.

Os dias na esperança de hum só dia
Passava, contentando-se com vella:
Porém o pae, usando de cautella,
Em lugar de Raquel lhe deo a Lia.

Vendo o triste Pastor que com enganos
Assi lhe era negada a sua Pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começou a servir outros sete annos,
Dizendo: Mais servíra, senão fôra
Para tão longo amor tão curta a vida.

Anónimo disse...

Escrevi uma mensagem mas não entrou, não sei porquê.
Queria dizer apenas que estive com o Alferes Azevedo do PM 1191. Ele era de Évora e nunca mais o vi. Passei bons bocados na sua tabanca e ele fazia uns ovos escalfados com chouriço que era uma delicia.
Gostaria de saber informações dele, pois não o vejo desde Fevereiro de 1968.
Um abraço a todos

Anónimo disse...

Esqueci de deixar o nome na mensagem anterior.

Virgilio Teixeira, Nova Lamego, BC1933

https://cart3494guine.blogspot.com/ disse...

Falando em Pelotões de morteiros na Guiné, devo dizer que o dispositivo das NT agregado ao BART 3873 fazia parte o PEL MORTEIROS 2268 em Bambadinca, 01 ESQ MISSIRÁ e Sub Sector de Mansambo, 02 ESQ no Sub-sector do Xime e no Sub-Sector do Xitole, em Cambessé 01 SEC PEL MORT 2268. Em Agosto de 1972 o PEL MORT 2268 foi substituído pelo PEL MORT 4575/72, por o primeiro ter findado a comissão, ocupando o seu lugar no esquema do dispositivo, conforme História da Unidade do BART 3873.

Sousa de Castro