domingo, 4 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18284: Blogpoesia (551): "Ter quem pense em nós...", "Sabor da melancolia", e "É branda e suave...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Ter quem pense em nós…

Ter quem, perto ou longe,
Pense em nós,
Se preocupe connosco,
É caminhar de dia ao sol.
Ver as cores do mar e céu.
Sentir sabor e o perfume que a terra exala.
Afastar o preço amargo da solidão.
Ter alguém para quem vá nosso pensamento nas horas mais sofridas.
Receber, de vez em quando, umas letras pelo correio, dos ctt ou digital.
Alguém que, um dia, se cruzou no nosso caminho e nos deixou marcado.
Com gestos de amizade.
Nos fez sorrir ou aliviou o fardo de cada momento,
No resvalar dos dias.
É ser rico, mesmo que o dinheiro falte no nosso bolso.
Um amigo que nos visite na cama dum hospital, ou, sei lá, na cela duma prisão.
Quem reze uma Avé Maria pela nossa alma…

Ouvindo Ernest Cortazar – “Best of…” piano e orquestra
Berlim, 4 de Fevereiro de Fevereiro de 2018
8h1m
Jlmg

********************

Sabor da melancolia

Quando as cores desmaiam porque o sol se despediu,
Um vaga de melancolia tolda as encostas e os vales.
Os rebanhos ficam parados e só pensam no seu curral.
Os pastores e seus cães fiéis os tangem serenamente.
Eles descem num bando unido,
Remoendo o que lhes tocou.
É a hora das trindades.
E das almas em peregrinação.
Pelos lares da aldeia, as panelas fervem,
Cheias de couves e batatas boas.
Sob as ramadas, se lavam as mãos nos lavatórios.
A água é limpa e fresca.
A toalha branca, corada ao sol, cobre a mesa longa, com as tigelas de barro.
O pai já foi à pipa buscar uma canada de tinto puro.
A pequena que só quer brincar faz ouvidos moucos à mãe já farta de os chamar.
Só o berro do pai os faz pensar…

Berlim, 28 de Janeiro de 2018
19h6m
Jlmg

********************

É branda e suave…

Como é brando e suave aquele pedaço inerte que me abre a porta.
Tem a forma certa e a medida justa.
Foi feito assim.
Procura um dono
No futuro incerto.
Nem ela sabe onde irá entrar.
Tem um dom condão
Na mão do dono.
Só ele no seu jeito certo,
Agarra e puxa o que trava a porta
E lhe abre o mundo.
Por isso, ele a guarda com cuidado infindo.
Parece que o mundo acaba se ele lhe perde o rasto.
Se desfaz em rezas.
Até que o susto acabe e a festa venha…

Berlim, 28 de Janeiro de 2018
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18262: Blogpoesia (550): "As sombras dormem ao sol", "O despertar da toupeira", e "Os astros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Sem comentários: