segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18332: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (31): Abrantes, sede do antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2, mais tarde Escola Prática de Cavalaria (2006) e hoje Regimento de Apoio Militar de Emergência



Abrantes > O antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2 >  Hoje  Regimento de Apoio Militar de Emergência


Abrantes > O antigo RI 2 - Regimento de Infantaria 2 >  Já foi Escola Prática de Cavalaria (2006)

Fotos: © Manuel Traquina (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abrantes > RI 2 -  Regimento de Infantaria 2 > 1970 > A unidade mobilizadora de muitos batalhões que passaram pelo TO da Guiné como foi o caso  do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)... Durante a guerra do ultramar, o RI2 incorporou, treina e mobilizou um total de 52.000 homens para os diverso Teatros de Operações. Mais concretamente, foi a unidade mobilizadora de  63 batalhões, 30 companhias independentes e 82 pelotões de apoio.

Na foto, em primeiro plano, o nosso camarada Otacílio Luz Henriques, a caminho da "peluda"...

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados.   [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Abrantes > RI 2 -  Regimento de Infantaria 2 > 1969 > Vista aérea.

 Foto: Unidades do Exército Português > Regimento de Infantaria nº 2  (página  de Nuno Chaves, em construção) (com a devida vénia...)


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Traquina, deixada ontem na página do Facebok da Tabanca Grande:


Para aqueles que passaram pelo Regimento de Infantaria de Abrantes vão estas fotos.

O RI2, como em tempos o conhecemos, e por onde passaram largos milhares de militares, agora virou RAME - Regimento de Apoio Militar de Emergência. 

Com um número de militares muito reduzido em relação aos tempos de guerra, foi já também Escola Prática de Cavalaria [, em 2006].

2. Comentário do editor LG:

No seu livro, "Os tempos de guerra: de Abrantes à Guiné" [Edições Palha de Abrantes, 2009), o Manuel Traquina tem um pequeno capítulo dedicado ao RI 2. unidade que mobilizou a sua companhia, a CCAÇ 2382...E dai partiram para a Guiné... O Manuel Traquina "jogava em casa", já que era natural do concelho (, Souto, a 20 km da sede)...

Sobre a sua terra diz o seguinte:

"Curioso é que ainda hoje a cidade de Abrantes seja lembrada por muitos que por aqui passaram e, também, por alguns que aqui arranjaram madrinha de guerra, namorada e noiva... casaram e por aqui ficaram" (p. 31).

Meu caro Manuel, a minha companhia, a CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) foi mobilizada pelo RI 2. Aliás, éramos meia dúzia de gatos pingados (graduados e especialistas, uma meia centena). Formámos companhia, tirámos a Escola Preparatória de Quadros e fizemos a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional, também "à pedrada", como vocês,  no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM), que ficava no concelho vizinho de Constança... A cerimónia de despedida foi junto à capela do CMSM, E dali fomos diretamente, de comboio (, tenho a ideia que de noite, quase como "clandestinos"...) para o Cais da Rocha Conde de Óbidos. Embarcámos no T/T Niassa em 24 de maio de 1969...

Da tua terra, Abrantes, não tenho memórias, desse tempo. Ou varreram-se-me as memórias, de todo.. Posso dizer que passei por Abrantes como cão por vinha vindimada... com os (des)acordes da fanfarra do RI 2 muito ao longe...


3. Recorde-se que o Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70) vive em Abrantes [, foto atual, acima]. Aliás,  nasceu no Souto, Abrantes, em 1945. 

Frequentou o Curso de Sargento Milicianos (CSM), nas Caldas da Rainha, no 1º trimestre de 1967. Em 30 de Março, dava início à especialidade de Mecânico Auto, na Escola Prática de Serviço e Material (EPSM), em Sacavém. Fez ainda estágio no Centro de Instrução de Condutores Auto nº 3 (CICA3) em Elvas. Em finais de Agosto, é transferido para o Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG), em Beirolas. Quinze dias depois, a 13 de setembro, é mobilizado para a Guiné. A 19 de fevereiro de 1968, apresenta-se no RI 2, em Abrantes, a fim de integrar a CCAÇ 2382. Passados dois meses e meio, a 1 de Maio de 1968, parte no Niassa, com destino a Bissau, aonde desembarca a 6.

Na Guiné, passou pelos seguintes aquartelamentos: Brá, Bula, Aldeia Formosa e Bula. Regressa a Portugal em Abril de 1970, no mesmo T/T Niassa.

Depois da ‘peluda’, trabalhou em Angola, no Serviço de Emprego. Regressa Portugal, em 1975, na sequência do processo de descolonização. Em Abrantes, foi técnico de emprego, do Centro de Emprego local. Está actualmente aposentado do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFO). Tem página no Facebook > Manuel Batista Traquina.

Publicou "Os Tempo de Guerra, De Abrantes à Guiné”,  Edição Palha de Abrantes, 2009. E, mais recentemente,. em 2017, na Chiado Editora, "Angola que eu conheci: de Abrantes a Luanda"

(*) Último poste da série > 27 de abril de 2017 > Guiné 63/74 - P17290: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (30): Tavira, CISMI, onde há 48 anos frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos (António Tavares)

Vd. também 28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

(...) Até que um dia me transmitem:
- Vais para Abrantes.

Bati o pé e disse:
- Não vou... Não vou... Não vou... 

E fui.

Em Abrantes, estava mais perto de casa [, Ponte de Sor], o que me agradou.

Lá se foi passando o tempo e coube-me ajudar o Oficial instrutor, ensinando novos militares. Por que alguns de nós, os recentes cabo-milicianos, estávamos já a ser mobilizados, fui-me preparando. Contudo, tal mobilização só veio a acontecer, quando já houvera prestado 20 meses de tropa.

Entretanto em Abril de 1965 e "por equivalência a seis meses consecutivos em Unidade Operacional, condição a que satisfaz para promoção ao posto imediato (sic)" , fui promovido a Senhor Furriel-Miliciano. Estava então em Tomar a preparar outros jovens, que afinal acabaram por ser os que fazendo parte da Companhia de Caçadores 1422, embarcaram comigo para a Guiné, em 18 de Agosto. (...)

7 comentários:

Juvenal Amado disse...

Também por lá passou o meu batalhão 3872 a caminho da Guiné .

Do pouco tempo que por lá passei só posso dizer que a cidade era uma pasmaceira.

Calhou-me a ajudar a mudar pneus a várias viaturas quase jurássicos com os ditos colados às jante desde a guerra de Espanha (talvez) :-), descolados à força de marreta e cunhas de madeira com parafusos que só desenroscavam à custa de vários banhos de petróleo .

Fui para lá no final da especialidade apanhei calor até dizer chega mas depois uma passagem pelo o CIME e ST. Margarida vi que ainda podia haver sempre pior neste caso com frio de rachar.
Voltei para Abrantes no início de Dezembro de 1971 e após receber a farda de campanha fui gozar os 12 dias da praxe. No dia 18 de Dezembro já ia a navegar no Angra do Heroísmo.

Quanto à cidade o tempo que lá estive, não guardei nada de bom nem de mau quase não me lembro dela. Passei por lá há um ou dois anos e a não reconheci nada.

O batalhão 3872 fará lá o seu próximo almoço a cargo do ex enfermeiro Catroga. Será uma oportunidade para rever a cidade e talvez o quartel que ao conTrário de hoje tinha sempre a parada cheia.

Um abraço




Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Juvenal, eu acho que nem sequer passei por Abrantes... Ou se passei, fiz questão de esquecer tudo... Devo ter ido diretamente para o Campo Militar de Santa Margarida, onde inclusive há uma estação ferroviária... Estava em Castelo Branco, no BC 6, quando recebi a notícia da minha mobilização para o CTIG... Nessa noite houve o sismo de 28 de fevereiro de 1969... Como eu estava "anestesiado", não senti nada... Devo ter chegado ao CMSM em 3 de março de 1969... Foi lá que conheci os meus futuros amigos e camaradas da CCAÇ 12, com destaque para o António Levezinho e o Humberto Reis, que serão depois meus companheiros de quarto em Bambadinca...

Eis alguns dados para refrescar a memória de quem por lá passou, há meio século atrás... São dados da Wikipédia:

(i) Dados estatísticos do CMSM

6400 ha de Área Total ocupada
3500 ha de Área da Zona de Aquartelamentos
1 Avenida Principal com 2,4 Km
330 Edifícios
5000 militares de Guarnição
1 Pista de Aviação
2 Heliporto
1 Estação Ferroviária
4 Carreiras de Tiro de Armas Ligeiras
1 Carreira de Tiro de Carros de Combate
1 Carreira de Lançamento de Granadas
1 Pista de Combate


(ii) Unidades Instaladas

Comando e Quartel-General do CMSM
Batalhão de Comando e Serviços do CMSM
Centro de Finanças do CMSM
Unidades Operacionais da Brigada Mecanizada
Regimento de Cavalaria Nº 4
Centro de Instrução e Treino de Operações de Apoio à Paz

(iii) História

O CMSM nasce com as necessidades criadas a Portugal pelo facto de ter sido membro fundador na NATO em 1949. No âmbito do compromisso de contribuição militar para a NATO o Exército Português começa a organizar a 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (Divisão D. Nuno Álvares Pereira). Nessa altura sente-se a necessidade de criação de um grande campo de instrução onde pudessem ser treinadas grandes unidades de armas combinadas. Em 1951 é então decidida a construção do então denominado Campo de Instrução Divisionário em Santa Margarida da Coutada ao sul do rio Tejo.

O campo militar foi construído pela engenharia militar durante o ano de 1952, sendo activado em 1953, já com a denominação de Campo de Instrução Militar (CIM). O quartel-general da Divisão Nun'Álvares Pereira instala-se no campo em 1957.

Até princípio da década de 1960 o campo é utilizado da forma para o qual foi concebido sendo aí realizadas manobras e acções de instrução de grandes unidades em situações de guerra convencional e nuclear. No entanto, com o início da Guerra do Ultramar o CIM passa a ser utilizado sobretudo para a instrução em operações de contra-guerrilha. (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Campo_Militar_de_Santa_Margarida

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Juvenal, dizes tu que Abrantes era, no teu tempo de "menino e moço", uma "pasmaceira", quando por lá passaste a caminho de Galomaro...

Na realidade, o que eram as nossas terras, cidades, vilas e aldeias, nessa época ? Um "austera, apagada e vil tristeza"...

Como sabes, a genial expressão é do nosso genial poeta, sem-abrigo, Luís Camões, vem na estrofe 145 do Canto X dos "Lusíadas":

(...) Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida,
O favor com quem mais se acenda o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

[ Os Lusíadas, X, 145]


https://oslusiadas.org/x/145.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É um tremendo desafio para todos nós dar a volta a muita coisa que, aqui e agora, nos parece irreversível e que é angustiante: a nossa "bomba biológica", a "catástrofe social", a "desertificação do interior", o nosso "suicídio coletivo"...

O envelhecimento e a desertificação do país é um fenómeno apavorante...

Abrantes, por exemplo não para de perder população desde o censo de 1960,de resto como muitas outras terras: c. 51 mil habitantes, na época, 39 mil hoje (2011)... Ou seja, perdeu um 1/4 da população em meio século...

Alguns dirão: não é nada, as cidades nascem, crescem e morrem... De resto, como os povos... E Portugal com um escasso milhão de habitantes, deu a volta ao mundo, em quinhentos, ou melhor "acrescentou mundo ao mundo" (, uma expressão que o nosso artilheiro António J. Pereira da Costa não gosta mesmo nada...).

Pessoas, nossos amigos e camaradas, que vivem em Abrantes, como o médico Ernestino Caniço e o antigo administrador hospitalar Silvino Maia Alcaravela, são também parte da solução do problema... Curiosamente estiveram os dois no TO da Guiné, também ao PIFAS. O Alcaravela é hoje provedora da Santa Casa da Misericórdia de Abrantes... E gostava que integrasse a nossa Tabanca Grande. Já o convidei... O Ernestino Caniço honra-nos, há muito, com a sua presença. ativa, na Tabanca Grande.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Abrantes

Antº Rosinha disse...

Luís, trouxeste esta da desertificação como uma lástima, mas penso que se não se semearem eucaliptos, antes assim.

A desertificação do interior podia diminuir se os "refugiados" não gostassem mais da Inglaterra e da Alemanha e França, vêm cá e fogem...chatice!

Um ou outro fica, mas na Universidade e não parecem muito animados pelas poucas imagens da TV.

E o nosso interior se fôr respeitado, é maravilhoso.

Uma das piores que ouvi a alguém, que nem lembraria a Camões, sobre o povo e o país foi esta: "Não são os portugueses que emigram, é o país que se purga".

Eu que também era emigrante nessa altura, tinha fugido do interior, disse para mim, PORRA! este gajo está a tratar-me muito mal.

Mas gosto muito de ir lá ver em Agosto as coisas tal como as deixei à mais de 60 anos.

Se não plantarem lá eucaliptos, dispenso bem o papel higiénico e gosto de passar por Abrantes à beira de um Tejo cristalino.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro Rosinha, eu também tenho casa (e exploração agrícola, a Quinta de Candoz), no interior, com a serra de Montemuro em frente e o rio Doruo em baixo, mas mesmo assim, a 70 km do Porto...

Gosto de lá ir, várias vezes por ano... Não sei como me vou "comportar", se lá tiver que viver daqui a mais uns aninhos... Nasci à beira mar, ao som dos moinhos de vento e das ondas do mar... Não sou serrano, nem camponês... Mas hoje, com a rede de autoestradas que construímos, toda a gente quer é estar com os pés de molho no mar...

Entendi (e gostei da tua ironia): "não são os portugueses que emigram, é o país que se purga"... Já vi isso escrito algures, não sei quem é o autor do "achado"... É cruel, mas tem um fundo de verdade, como todas as frases feitas...

Somos um povo da diáspora, desde que fomos "empurrados" para o mar... desde há séculos-

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O vídeo da ORTF, por mais visto e revisto, continua a mexer connosco e com as nossas emoções... Eu estou a rever (e reviver) cenas parecidas por que passei no setor L1, em 1969/71... É pena que os gajos do INA francês não nos deixem passar o vídeo em formato maior... "Business is business"... Também aqui não há vídeos grátis...

Os franceses estavam lá... Onde é que estavam os nossos fotocines ? A comer ostras e a beber cerveja no Pelicano, em Bissau... É por isso que não temos documentários de jeito, verdadeiras reportagens sobre a nossa maldita guerra... A culpa não é dos pobres fotocines, mas dos chefões (políticos e militares) que sempre quiseram esconder a brutalidade da guerra... A RTP era, por outro lado, a "voz do dono", o mesmo é dizer, estava ao serviço da propaganda do regime...