terça-feira, 6 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18382: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXI: As deslocações do batalhão ou "os meus cruzeiros azuis do Douro": (i) 4 de outubro de 1967: Rio Geba, Bissau-Bambadinca, a caminho de Nova Lamego


Foto nº 46A


Foto nº 47A



Foto nº 52 A


Foto nº 50A 


Foto nº 50B


Foto nº 50C 


Foto nº 45 A


Foto nº 45 


Foto nº 45 B

Guiné > Rio Geba > 4 de Outubro de 1967 > BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S- Domingos, 1967/69)  > Viagem de Bissau a Bambadinca, a caminho de Nova Lamego 


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)


Assunto - Tema T032 –  – As deslocações do Batalhão Caçadores 1933: "Os meus cruzeiros azuis do Douro"



(i) Anotações e Introdução ao tema: 

Uma parte do meu batalhão – BCaç 1933, CCS e 2 Companhias – , chegaram no navio T/T Timor a Bissau em 3 de Outubro de 1967. Eu já estava lá à espera, tinha ido a Nova Lamego em 24 de Setembro de 1967 e regressei a Bissau no dia 1 de Outubro, em serviço da minha área de especialidade [SAM]. 

Por isso o comando, a CCS e uma companhia operacional desembarcaram, passaram o dia nos Adidos em Brá, e às 04h00 da manhã estávamos a entrar nas lanças e nas barcaças civis rumo a Bambadinca, rio Geba acima. 

Aquilo era uma confusão, pois havia que dar ‘boleia’ aos civis que queriam ir também para as suas terras e não havia outro transporte. Eram homens, mulheres, crianças, bebés, bagagem e animais domésticos. Era, como já disse, tudo ao molho em fé em Deus. [Fotos nº 45, 46 e 47].

Eu e alguma malta – eu, alinhei sempre com os soldados e cabos condutores do meu batalhão, quase todos os furriéis milicianos e um ou outro alferes como eu [Fotos nºs 46 e 47]. E dei-me bem, pois foram eles que me ensinaram a conduzir e assim tirei a carta lá em Bissau. E foram eles que fizeram a maior parte das festas e petiscos, para os quais eu era sempre convidado, tudo feito nas suas casernas. Tenho dezenas de fotos que são um espanto, algumas até me envergonho delas, pelo meu estado geral… 

Mas correu tudo bem, apesar das piadas que eram dirigidas aos periquitos, pelos mais velhos, numa tentativa de amedrontar os mais novos, com a farda camuflada ainda limpinha, lustrosa, e hirta. O rio é medonho, os mosquitos infestam tudo, as margens de tarrafo ficam muito perto em alguns sítios, os crocodilos vão se vendo aqui e ali, e a mata que ladeia o rio é densa e nada se vê. O calor, a humidade no fim da época das chuvas é terrível, e casas de banho nem vê-las. 

Os que vieram nas LDG [, lancha de desembarque grande,] parece que a coisa era bem pior, disso não me posso queixar. Estranhei que os barcos que nos transportavam [Foto nº 52] eram rebocados por um pequeno barco de dois motores, tenho fotos disso. Ia a acompanhar esta coluna fluvial, uma LDM [, lancha de desembarque média,] ao largo, da qual tenho algumas fotos [Foto nº 50]. Também se viu os caça-bombardeiros T6 a passar por cima numa manobra de protecção. Era tudo muito estranho. 

Lá fomos comendo a ração de combate – eu já tinha tido essa experiência, na deslocação por avião militar DC6 desde Figo Maduro até Bissau, não era uma primeira experiência. Também na recruta e especialidade já tinha tido contacto com as rações de combate. 

Lá chegamos ao destino, Bambadinca, porto de rio [Foto nº 50], que voltei a visitar várias vezes, para ir ao Pelotão de Intendência nas colunas de reabastecimento. Deviam ser 12 ou 13 horas.  (Voltei lá em 1984 e 1985 nas minhas viagens de visita e negócios pela Guiné. )

Então começa a faina de transportar tudo para os camiões da imensa coluna militar. [Foto nº 45]

Vamos estrada acima, não era boa nem má, tinha algum alcatrão até Bafatá. Depois uma parte da coluna sai para Fá Mandinga, e o restante segue para Nova Lamego, em terra batida. 

Chegamos ao cair da noite, e ficamos em sobreposição durante quase 2 semanas com o Batalhão que fomos render, era uma confusão total, cada um a procurar o melhor sitio. Eu já lá tinha o meu, pois tinha lá chegado em 24 de Setembro e tive tempo de arranjar o lugar. 

No dia 25 de Fevereiro de 1968 [, fotos a publicar no poste seguinte], passamos o último dia em Nova Lamego,  de madrugada fizemos o percurso inverso, mas já tínhamos outro calo, os camuflados já estavam bem batidos nas pedras pelas lavadeiras lá do sítio. 

Ficamos em Bissau uns 30 dias em quadrícula, aquartelados nos Adidos em Brá, e em finais de Março  de 1968 lá vamos novamente para os barcos, agora fazendo o percurso Rio Cacheu acima, até São Domingos. Acho que já foi mais agradável, pois a paisagem era menos feia e medonha do que no Rio Geba, ou foi apenas por ser o primeiro percurso. 

Nunca tivemos qualquer situação de perigo, e tudo correu bem. 

Não cheguei a fazer a viagem de regresso em directo para o T/T Uíge, pois já estava em Bissau, a minha missão tinha acabado dois meses antes e fiquei encostado, primeiro no 600 em Santa Luzia, e depois nos Adidos. 

Estas foram as deslocações feitas por mim em conjunto com o meu Batalhão.  Junto algumas fotos, mas falta ainda muita coisa para digitalizar. 

Virgílio Teixeira 

Em, 29-01-2018

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Nota do editor:

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ganda repórter!... Virgílio, chamávamos a esses barcos civis os "barcos turras"... A passagem, antes do Xime, em Ponta Varela, e depois no Geba Estreito, antes de Bambadinca, no Mato Cão, era sempre temida... Daí a escolta: LDM, T6..., além de das nossas patrulhas terrestres (no Mato Cão, por exemplo, no meu tempo, CCAÇ 12, Bambadinca, julho de 1969/março de 1971)... Nesse tempo, as LDG assim chegabam a Bambadinca... Depois passaram a abicar no cais do Xime...

Sem dúvida, a pequena grande aventura... Ao longo da guerra, houve vários ataques das margens, com mortes e feridos sobretudo civis... Havia barcos que nunca eram atacados, por isso chamávamos-lhes os "barcos turras", deviam ter as "quotas" em dia... Mas às vezes também havia "enganos"... e atacavam o barco errado..."Guerra é guerra, camarada, e a nossa é que era justa", dir-te-ão mais tarde...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tiveste sorte nesse dia... O barco turra tinha as quotas em dia...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Elementos IN também viajavam nos barcos turras... Era uma guerra engraçada, a nossa...

Anónimo disse...

Virgílio Teixeira

6 mar 2018 11:47

Bom dia que hoje está sol.

Já via a reportagem, já nem me lembrava que a tinha enviado, e ir mandar outra.

Também vi o Destaque de hoje, o Claudino tem ali um bom poste com as bajudas e as suas mamas. Já agora pergunto, onde estão as minhas fotos com bajudas e mamas individuais, são aí umas 15 ou mais, foram juntas com as Felupes?

Falas na foto 50, é LDP que está na direcção do Porto, só pode ser Bambadinca, embora não confirmo, mas não paramos em mais parte nenhuma. Tu estiveste lá tanto tempo deves conhecer melhor, penso eu de que!

A foto 45 é a fazer o transbordo em Bambadinca, da nossa bagagem para os camiões da Coluna para Nova Lamego. Como vês também lá vai pessoal civil, talvez 'turra' que pagaram as quotas também para a coluna pois não aconteceu nada.

Não me lembro de ouvir nomes naquele tempo, com 10 dias de Guiné, em Xime e outras coisas estranhas, Mato Cão, etc. Eu lembro-me realmente e disse algures no meu livro, que passamos por sítios muito estreitos, outros largos, mas a gente lá ia enfiado a observar a 'paisagem' e ninguém pensou em mais nada, pelo menos eu, mas era caso único, andava sempre despassarado.

Acabei ontem de acabar outro Tema - A Tabanca do Morteiros - era em Nova Lamego. Já estou a trabalhar numa reportagem geral sobre o sector L3, tal como fiz para São Domingos, vejo que há muito interesse e eu tenho algumas coisas.

Nesse tema que vou enviar de seguida, tem um texto longo, é um introito para o inicio de um periquito que chega mato dentro até 300 km no interior, e chega a um mundo que desconhece.
Vou fazer a primeira coisa que não fiz ainda:

Para facilitar a minha escrita, fui ao meu 'Livro' e saquei de lá uma páginas que foram escritas há mais de 6-7 anos, nunca ninguém as leu, nem a minha mulher que não quer ler nada, está saturada, e já digo porquê. Aquilo foi o que escrevi num contexto da minha vida, aquilo que me veio à cabeça, pois escrevo sem grandes problemas de ser correcto ou não, e depois já vi, porque li agora, passados anos, que há muita repetição, mas não vou alterar nada, no meu livro eu disse que escrevia conforme falava, não era nenhum poeta nem escritor de profissão, infelizmente.

Esse texto vao a titulo de ser visto e analisado por ti, como editor, sozinho nada diz porque são umas páginas de mais de 2 milhares, por isso eu andava a procurar o nome do Morteiros - o Alf Azevedo, que não me lembrava, e resolvi sacar aquelas páginas. Só usas e utilizas se achares que é oportuno e legal, que não vai chatear ninguém, é uma lenga lenga, mas era assim que eu pensava e escrevi. Podes tirar partes ou nenhuma, simplesmente guardar ou eliminar. Vão umas fotos dos tempos em que passava naquela Tabanca, saboreei lá bons petiscos e era bem preciso.

Um abraço,

Virgilio