terça-feira, 13 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18410: Fauna & Flora (13): De Cassumba, na ponta mais a sul de Quitafine, até Bissau, em 300 km, de um lado e do outro da estrada, não encontrei um único macaco-cão... Até há poucos anos atrás, era capaz de encontrar meia dúzia de bandos, alguns com dezenas de indivíduos (Patrício Ribeiro, Bissau)

Patrício Ribeiro, empresário
[Impar Lda, Bissau]
1. Comentário de Patrício Ribeiro ao poste P18407 (*):


Boas, Boa tarde.
Tenho más noticias,
Já não há "cabrito pé de rocha", na Guiné, nome do bicho já cozinhado, para não se falar o verdadeiro nome [macaco-cão]...

Cheguei há poucas horas da praia de Cassumba, no ponto mais ao Sul da Guiné [, região de Quitafine, a sul de Cacine],  por onde andei vários dias. 

Na viagem de mais de 300 km, para cada lado, não vi um único macaco, coisa impensável até há poucos anos. Nessas nossas viagem, encontrávamos meia dúzias de bandos, alguns dos quais com umas dezenas de animais.

Más noticias para os apreciadores...

Abraço

2. Comentário do editor LG:

Boas, Patrício. Más notícias para a Guiné-Bissau. para a conservação do babuíno da Guiné, para a preservação da biodiversidade, para o turismo, para a economia, para a ciência, para todos nós, afinal.

Há uns anos atrás, em 2009,  colaborámos com a bióloga Maria Joana Silva (**), que estava a fazer o seu doutoramento.numa universidade inglesa. A tese de doutoramente tinha justamente como tema a genética do babuino da Guiné. Não temos tido notícias dela, mas gostaríamos de ter acesso pelo menos ao resumo da tese e algumas das suas principais conclusões... Pode ser que ela nos leia, e satisfaça a nossa curiosidade...

À nossa modesta escala, gostaríamos de poder contribuir para a preservação deste magnífico primata que só existe num nicho ecológico da Africa Ocidental, relativamente restrito, e que inclui a Guiné-Bissau. É uma tremenda responsabilidade, para todos nós, o risco da sua extinção... Até aos anos 90, ninguém se preocupava com o seu futuro...

E a propósito de Cassumba, diz-nos o nosso amigo Cherno Baldé (*): "Cassumba, aldeia situada nos confins do Sector de Cacine (zona marítima), tem uma das praias mais lindas da Guiné-Bissau, mas que, exceptuando umas poucas pessoas que conhecem os segredos do país [, como é o caso do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro], ninguem conhece e é pouco frequentada. Merecia constar da rota do turismo se tivesse acesso facilitado, que é o grande quebra-cabeças".

PS - Disse há dias (*) que o babuíno não existe em Angola e Moçambique, o que é falso... O vocábulo vem do  francês "babouin".. É o nome comum  os "antropoides cercopitecídeos" do género Papio...Algumas das características mais evidente deste Macaco do Novo Mundo (, não existindo portanto no Novo Mundo): (i) focinho pontudo (como o cão...), (ii) caninos grandes, (iii) bochechas volumosas, (iv) calosidades nas nádegas, etc. Pertence à ordem dos primatas, como nós, é  semi-quadrúpede, pode medir 1, 2 metros de  comprimento, vive em África, de preferência em    campos abertos (savana arbustiva, pastagens, terrenos rochosos...).

Há cinco espécies do género Papio, em África, uma delas é o Papio papio que, essa, sim, é que vive na África Ocidental (Guiné-Bissau, Guiné, Senegal, Gâmbia, sul da Mauritânia e oeste de Mali). É vulgarmente conhecido como "bauino da Guiné" ou "macaco-cão"...
____________

Nota dp editor:

(*) Vd. poste de 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18407: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (26): Os "animais, nossos amigos"...

(**) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

(...) O meu nome é Maria Joana Silva e sou uma aluna de doutoramento da Universidade de Cardiff (Reino Unido). O meu projecto de doutoramento é acerca da genética do babuíno da Guiné (mais conhecido na Guiné-Bissau por macaco Kom).

Tenho-me deslocado à Guiné-Bissau, mais propriamente a Cantanhez, onde comecei por fazer uma recolha de amostras biológicas exploratória. Logo percebi que a história demográfica desde primata está intimamente ligado à história daquele local. Fiz algumas entrevistas a antigos caçadores da tropa portuguesa que me falaram do tempo da guerra, do facto dos babuínos terem sido caçados principalmente por tropas do PAIGC e que durante o tempo da guerra era relativamente fácil encontrar babuínos. (...) 

(**) Último poste da série >  18 de janeiro de  2009 > 18 de janeiro de 2009 >  Guiné 63/74 - P3755: Fauna & flora (12): Respondendo às perguntas sobre o macaco-cão (Pedro Neves / Alberto Branquinho)

7 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Eh muito triste, mas eh verdade, torna-se cada vez mais dificil encontrar animais selvagens, de um modo geral e em particular de macacos, no territorio da Guiné-Bissau. O caso dos babuinos deve ser mais evidente mas nao é unico.

Para além das razoes apontadas por Luis Graça no seu comentario ao Poste anterior, com os quais concord plenamente, deve-se ter em conta, também, a emigraçao dos mesmos para os territorios vizinhos, nomeadamente ao vizinho Senegal (Casamança, Parque Niokolo-Koba e outros) onde foram criadas condiçoes favoraveis para a vida dos animais selvagens, com infraestruturas de retençao de aguas da chuva beml como poços equipados com paineis e outros equipamentos (Sistemas solares) de agua disseminados em varios pontos do territorio inclusive na savana.

A proposito deve-se dizer que o Senegal é um pais com uma visao economica e politica virada para o futuro e que trabalha com uma estrategia de longo prazo desde os 70/80. Mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, sao algumas dessas realizaçoes (construçao de barragens e pontos de retencao das aguas fluviais e das bolanhas) aliadas a incuria e a ausencia de estado digno desse nome no pais que se chama republica Guiné-Bissau é que estao a contribuir para aniquilar a vida selvagem (fauna e flora) das terras baixas mais ao sul das suas fronteiras e os efeitos sao por demais evidentes e cada vez suas consequencias serao mais alarmantes.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Cherno Baldé disse...

Continuaçao:

No passado mes de Fevereiro, o antigo Presidente do Senegal, publicou uma carta aberta sobre a questao da construçao de uma barreira de proteçao na zona maritima da cidade de St. Louis, antiga capital do Senegal, ameaçada de destruiçao pelas vagas maritimas que ja consumiram parte importante da velha cidade. A publicaçao da carta tinha sido feita na sequencia da visita do <president Francés, Emanuel Macron que prometeu o finaciameneto do empreendimento com largos milhoes de Euros a fim de recuperar e protecçao a antiga capital.

A carta foi publicada no site senegales www.seneweb.com e mereceu tendo sido alvo de muitos comentarios a nivel do Senegal. Na altura e aproveitando a deixa, inseri um comentario mostrando a incoerencia das autoridades do Senegal relativamente aos argumentos postos em relevo para mostrar as sua preocupaçoes ecologicas e dos cuidados a ter em relacao a natureza anivel planetario quando na verdade nem se preocupavam com os vizinhos mais proximos, como é o caso da Guiné-Bissau, cujas regioes do Norte e do leste sofrem as consequencias de accoes humanas realizadas no outro lado da fronteira, cujo conteudo vou copiar em baixo seguido da sua traduçao em portugues.

Comentario inserido no site www.Seneweb.com, a proposito de uma carta aberta de Abdoulaye Wade, antigo Presidente do Senegal, sobre os problemas ecologicos na nossa sub-regiao e no mundo:

"Le sage conseil de M. Abdoulaye Wade, ancien Président du Sénégal, semble refléter une préoccupation écologique d'une grande dimension humaine et universelle, mais il oublie que des importants barrages de rétention d'eau ont été construites le long de la frontière sud du Sénégal, en Casamance, qui ont déjà des effets qui se font sentir durement sur le territoire de la Guinée-Bissau, avec la mort des rivières et bas-fonds, causant de grands dommages à la nature, la faune et la flore qui meurent lentement à cause de l'insuffisance de l'eau qui, du territoire sénégalais (Casamance), en route jusqu'à la mer, alimentait en chemin toutes les espèces de vies qui habitaient ces territoires, et qui aujourd'hui sont simplement obligés d'aller tres loin pour trouver les éléments vitaux qui constituent le base de leur survie.

Les effets combines des barrages d’Anambé et de Ndiandouba sont en train de tuer la vie naturelle au-delà de la frontière et je ne crois pas qu’ont été effectué des études scientifique d'impact environnemental sérieux, comme il tente de nous démontrer, et non plus de préoccupation humanitaire légitime par rapport au partage équitable des eaux afin de sauvegarder la vie animale, forestière et humaine de l'autre côté.

Tout ça pour démontrer que le discours de l'ancien président du Sénégal dans sa lettre ouverte ne peut qu'être hypocrite et populiste, imprégné d'un faux humanisme qui n'a en réalité rien. D'ailleurs, je ne crois pas que leurs préoccupations soient partagées avec les autres pays, notamment occidentaux, qui ont déjà fait mille et une constructions le long des côtes de l'Atlantique sans se préoccuper des effets qui pourraient en résulter dans les côtes africaines et autres.

Cherno Baldé disse...

Traduçao em Portugues:

"Os sabios conselhos do Senhor Abdoulaye Wade, ex-Presidente do Senegal, parecem reflectir uma preocupacao ecologica de uma grande dimensao humana e universal, mas o mesmo esquece que foram construidas importantes baragens de retencao de aguas ao longo da fronteira sul do Senegal, nomeadamente em Casamanca, cujos efeitos ja se fazem sentir duramente no territorio da Guine-Bissau, com a morte dos rios e correntes de agua das bolanhas, causando grandes prejuizos a natureza, a fauna e a flora que estao a morrer lentamente em consequencia da insuficiencia de agua que, do territorio Senegales (Casamanca), corria para o mar, alimentando no caminho todas as especies de vidas que habitavam naqueles territorios e que hoje, simplesmente, sao obrigados a deslocar-se para longe a fim de encontrar os elementos vitais que constituem a base da sua sobrevivencia.
As baragens de Anambe e de Ndiandouba estao a matar a vida natural do outro lado da fronteira e nao creio que tenham sido efectuados estudos cientificos serios de impacto ambiental, como ele tenta demonstrar, nem da legitima preocupacao em relacao a reparticao equitativa das aguas de forma a salvaguardar a vida animal, florestal e humana do outro lado.
Isto para demonstrar que o discurso de antigo presidente do Senegal na sua carta aberta so pode ser hipocrita e populista, imbuido de um falso humanismo que na realidade nao tem nada. Para alem de que, nao acredito que as suas preocupcoes sejam partilhadas com os paises ocidentais que ja fizeram mil e umas construcoes ao longo das costas do Atlantico sem que tivessem a minima preocupacao com os efeitos que dai poderiam advir."

Cherno AB

Antonio Rosinha disse...

O Cherno está a queixar-se do Senegal, como nós da Espanha.

Estive a ver no Google Earth as albufeiras do Senegal, mas deu-me a ideia que aquelas linhas de água correm para a Gâmbia, não influenciam a rede hidrográfica da Guiné Bissau.

Mas aquilo no Senegal está bem mais desertificado do que a Guiné, visto do céu.

Mas a região de Pirada, Gabu e Buruntuma vai desertificar muito rapidamente.

Aliás, o Saara aproxima-se a passos rápidos se não se inventar uma solução de água doce para África sul da Europa e médio oriente.

Há zonas agrícolas na Guiné muito boas, como as bolanhas, mas o resto só com muito trabalho e muitos produtos químicos é que poderá ser produtivo um dia.

Talvez daí se in sistir no cajú.

Cherno Balde disse...

Caro Rosinha,

As bolanhas estao a morrer por falta de chuva e por causa das barragens no outro lado da fronteira. Eh disto que se trata. Toda a regiao do Nordeste esta afectada e, se a situacao continuar, nao serao somente os Babuinos a emigrar.

A zona de Pirada assim como todo o corredor da fronteira com o Senegal esta a secar, ja nao ha palmeiras, nao ha animais selvagens e dentro de pouco tempo as bolanhas e as florestas vao desaparecer. A situacao eh alarmante.

Um abraco,

Cherno

Antº Rosinha disse...

É dramático a escassez de água junto à fronteira do Senegal.

Impressionou-me um pequeno rio, (com ponte antiga)antes de chegar a Pirada ido de Gabu, que tinha água para encher à bomba os carros cisterna, de 10 mil litros, das Obras Públicas para regar e compactar a estrada, isto em 1987.

Pois em 1990 já não havia água nem para humedecer o leito do rio, em pleno tempo das chuvas.

Era hoje 15 de Março o primeiro dia das chuvas em Bissau, diziam os mais velhos.

Será ainda hoje?

Cumprimentos

patricio ribeiro disse...

Olá,

Sobre as bolanhas de arroz...
Ando desde há algum tempo, a trabalhar em um projecto para irrigar as bolanhas de arroz de Contuboel, com bombas solares que vão ficar instalados em jangadas no meio do rio, com um financiamento da UE e o Camões e a ONG TESE.
Esperamos irrigar muitas, em diversas tabancas, para se produzir arroz duas vezes ao ano.

Sobre o " cabrito pé de rocha", espero não o encontrar no meu prato, nestes próximos dias, mas sim vê-los a saltitar nas picadas nos meus passeios a partir de hoje para; Caboxanque, Calaque/Cabedu, ou na Ilha do Como. Passado por Guiledge e Catió.
Vou dar luz, a 8 Centros de Saude / Unicef

As fotos seguem mais tarde.

Abraço