quinta-feira, 12 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18517: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte II: Dando uma oportunidade à paz, depois de oito anos de guerra: os últimos dias dos bravos do pelotão


Foto nº 3 / 10 >  Sete elementos do bigrupo, com o comandante à esquerda (em 2º lugar)... O jovem porta-estandarte oparece usar pistola à cintura... Tr~es elementos, incluindo o comandante, devem ter trocado os seus chapéus por boinas castanhas das NT...


Foto nº 10 A /10 >  Outros elementos do bigrupo com garrafas de cerveja... ou aguardente de cana (ou vinho de palma)...


Foto nº 4 A /10 > O Fur mil Sérgio cumprimenta o cmtd do bigrupo... Dá para perceber, pelos detalhes do fardamento, que terá havido entretanto "troca de galhardetes" (é uma confusão de boinas, quicos e gorros...).  Os guerrilheiros trazem, como calçado, botas de lona, uns, ou sandálias de plástico, outros. Estão equipados com a Kalash.


Foto nº 2 A/10 > O "alteirão" é o fur mil Sérgio, metropolitano, do Pel Caç Nat 52... e dá um "jeitinho" para que a bandeira dos "visitantes" também caiba na fotografia...


Foto nº 5 / 10 >  Alguns elementos do bigrupo com as praças, metropolitanas, do Pel Caç Nat 52, com alguns populares à volta, naturalmente "curiosos" e "expectantes"...


Foto nº 5 A / 10 > 


Foto nº 6A /10 > Nem faltou o apontador do RPG-7...


Foto nº 6 B / 10


Foto nº 7A /10 > Que "promessas" ou "ameaças" terá feito o comandante do bigrupo (ou de zona) ?


Forto nº 7 /10 > Comício, numa tabanca nos arredores de Missirá. talvez Sancorlá ou Salá, a noroeste, já no limiet do regulado do Cuor.

Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 > c. julho de 1974 > São "10 fotos para a história"... As NT "deixam-se fotografar" com uma delegação do PAIGC, que vem (sempre) armada, em "visita de cortesia" ao destacamento e tabanca de Missirá, na sequência do processo de cessar-fogo e negociação da paz...

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação das fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Lisboeta, bancário reformado, tem raízes na Lourinhã (Marteleira e Miragaia), pelo lado materno. Durante a sua comissão no CTIG foi sempre um apaixonado pela fotografia... Fotografou quase tudo... e neste caso algumas das últimas cenas da presença portuguesa no TO da Guiné.

São 10 fotos ("slides" digitalizados) da visita, a Missirá, de um grupo do PAIGC, ou menos que um bigrupo. Missirá era o destacamento mais a norte, no regulado do Cuor, do setor L1 (Bambadinca). Provavelmente estes homens do PAIGC pertenciam à base de Sara-Sarauol, no Morés, a noroeste de Madina / Belel (aonde fui, com o Beja Santos, na sequência da Op Tigre Vadio, iniciada em 30 março de e terminada em 1 de abril 1970).


2. E porque uma imagem às vezes precisa de "mil palavras", aqui vai, a nosso pedido, "o texto e o contexto" destas 10, em mensagem que nos mandou o autor, com a data de 10 do corrente: 

Luís:

Aqui vai,  tal como me pediste,  uma pequena descrição dos acontecimentos que deram origem aos encontros com o PAIGC que estão documentados nas fotografias que contigo partilhei e assim estão à disposição dos camaradas do blogue.


Foto nº 9/10 (*):
Foto nº 9/10

No grupo está à minha esquerda está comandante do bigrupo, a seguir está o furriel maçarico do Pel Caç Nat  52,  natural da Guiné. É o João [, devida ser de etnia papel,  de Bissau, tinha o 5º ano do liceu]. À esquerda do João,  o "pequenino" do PAIGC é o comissário politico e a seguir o homem grande de branco é Malan Soncó. Dos cabos europeus não me recordo o nome. Está também um milícia de Missirá [, na ponta direita, na primeira fila de pé]. Segue um texto em anexo.

Um abraço, Luís

3. Os últimos dias do Pel Caç Nat 52: contactos com o PAIGC

por Luís Mourato Oliveira


Foto nº 8 B  /10 (*)
Os meus primeiros encontros com o PAIGC,  enquanto comandante do Pel.Caç Nat 52, não decorreram,  como calculas,  na forma de uma cordial e amigável confraternização social.

Imediatamente após a minha chegada 
ao destacamento do  Mato de Cão,  recebemos a "visita" do então IN que nos quis saudar com uma flagelação com canhão sem recuo. O ataque,  como os outros que se seguiram,  era desencadeado da orla de mata que abraçava uma bolanha a oeste do planalto onde estava instalada a guarnição de Mato de Cão.


A sudoeste do planalto, junto à estrada para Bafatá e junto ao Geba,  havia apenas uma tabanca que albergava apenas uma família de civis. No cume do planalto não existiam infra-estruturas a que pidéssemos chamar aquartelamento,  pois limitavam-se a quatro abrigos subterrâneos suportados por “cibes” [troncos de palmeira]  e cobertos por bidões com areia.

Havia ainda uma construção precária em chapa ondulada que servia de depósito de géneros, cozinha e refeitório dos europeus e uma pequena tabanca [morança] de adobe que designávamos de “enfermaria” e era utilizada pelo maqueiro africano de que não tenho o nome na memória (já passou muito tempo). As outras construções eram tabancas [moranças] de palha e colmo onde viviam os soldados africanos e respectivas famílias e uma mais pequena de que existem fotografias no blogue e onde eu habitei durante o período que lá estive.

A esta incursão do IN seguiram-se outras de morteiro e até uma tentativa de assalto em golpe de mão em pleno dia, evitado pelas mulheres dos soldados que,  quando lavavam a roupa junto ao Geba, detectaram a progressão do IN na bolanha,  o que nos permitiu escorraçá-los, dado estarmos numa posição superior e estrategicamente mais favorável.

Na sequência destes acontecimentos tivemos informação com origem em civis, familiares de soldados do pelotão, que o IN preparava um novo assalto ao destacamento. A informação pareceu-me fiável porque os soldados confiaram absolutamente nas narrativas dos civis e inclusivamente fizeram uma cerimónia ritual na qual, para além de juntarem palhas de colmo de cada tabanca e pólvora de uma munição de cada militar, eu incluído, com que fizeram uma fogueira, procederam à leitura do Corão.

Isto aconteceu dia 23 de dezembro de 1973 e,  no dia seguinte, apesar de ser véspera de Natal,  pensando que seria nessa data que o IN poderia aproveitar para atacar, saímos em patrulhamento para confirmar as informações recebidas.

Detectámos a coluna IN que se dirigia na nossa direcção,  talvez a três quilómetros a Norte do destacamento, e montámos uma emboscada imediata.

Dada a proximidade da coluna IN,  a última secção de caçadores do Pelotão, ao contrário da primeira,  posicionou-se com algum afastamento do trilho. A primeira  secção, da qual eu fazia parte, ficou a cerca de talvez dez ou quinze metros da zona de morte e tivemos ocasião de verificar que o IN não tinha intenções de atacar Mato de Cão. Era um grupo onde inclusivamente vinha um adolescente e que tinha ido caçar, pois eram portadores de vários macacos-cães que transportavam.

A última secção desencadeou a emboscada e o destacamento que acompanhava a nossa deslocação no terreno fez fogo de protecção de morteiro 81 para Norte da nossa posição, em pontos previamente assinalados no plano de tiro.

O contacto durou poucos minutos e,  em virtude da nossa flagelação de morteiro estar a bater na zona de assalto, o destacamento estar completamente desguarnecido e verificar que a intenção do IN não era agressiva, não efectuámos a perseguição ao IN e  regressámos a Mato de Cão.

Na sequência destes acontecimentos e do ataque efectuado pelo IN na zona de Enxalé a um barco de munições com destino a Bambadinca,  e que explodiu nesse ataque, o Pel Caç Nat 52 tentou a intercepção da força atacante,  progredindo na mata do Enxalé mas sem resultado. Passámos então  a ter uma acção de vigilância muita activa na navegação do Geba e detectámos e aprisionámos uma canoa IN que transportava arroz e tabaco adquiridos em Bambadica e que tinham como destino (penso eu,  que a memória vai falhando) [a base de ] Sára.

A tripulação da canoa foi interrogada, deu informações claras que as provisões se destinavam ao PAIGC, que tinham uma base militar com anti-aérea e onde estava aquartelado um bigrupo. Fizemos apreensão de todas as mercadorias transportadas, pagámos o arroz apreendido após pesado a sete pesos o quilo e libertámos os tripulantes,  explicando-lhes que se tratava de um gesto de boa vontade,  que se alteraria caso as acções do PAIGC continuassem agressivas para com Mato de Cão.

Deveria ter resultado esta acção [psicossocial...], pois nunca mais sofremos qualquer ataque e também nunca mais bloqueámos o esquema logístico do PAIGC. (**)

Após o 25 de Abril, todos nos apercebemos que os dias da guerra estavam a chegar ao fim, que a nova ordem politica iria finalmente reconhecer o direito dos colonizados à independência e que a tropa iria regressar a casa para bem de todos e felicidade das famílias.

O PAIGC também não teve dúvidas do que seria o futuro próximo e,  nesta altura, o Pel Caç Nat 52 que tinha sido deslocado para Missirá,  através de elementos da população, recebeu o pedido para visitar a tabanca.

Ponderando as consequências futuras para os nossos soldados que tinham sido leais, que acreditavam ser Portugueses, que,  sendo militares profissionais alguns há oito anos em combate,  não tinham outra perspectiva de ganhar a vida, que apelidavam o IN de “bandido” e que não compreendiam como um acontecimento longínquo no dia 25 de Abril também poderia afectar as suas vidas,  decidi que deveria a qualquer custo aproximar os soldados do meu pelotão dos soldados do PAIGC, para que os antigos inimigos se conhecessem pessoalmente, que se fosse possível confraternizassem para que o futuro fosse o menos doloroso,  sobretudo para aqueles que eu tinha comandado e com quem tinha criado laços de estima e amizade.

O PAIGC avisou o dia da visita e deslocaram-se a Missirá um comissário político e alguns soldados. Entraram, com confiança,  fardados e com equipamento militar, conversaram e confraternizamos como combatentes numa guerra que tinha acabado. Bebemos cerveja, aguardente de cana e, a quem a religião proibia,   cocas e  cerveja sem álcool.

Nessas conversas, um soldado do PAIGC em conversa comigo, disse-me “ alfero já te conhecia, um dia vi-te na mata.” Respondi que “não acredito, se me tivesses visto ias usar a Kalash”, então ele justificou “ alfero, nós tínhamos atacado o barco das munições, a tropa correu de Mato de Cão para nos apanhar, mas já tínhamos gasto todas as munições e ficámos escondidos até se irem embora”....

Trocámos histórias como esta, fizemos “selfies” [, "avant la lettre"...] com armas trocadas (!) e até disputámos um jogo de futebol de cinco entre as NT e o ex-IN onde eu fui guarda-redes,  não permitindo mais uma vez que naquele jogo o IN levasse a melhor...

Estas visitas levaram a várias reacções, alguns aceitaram sem qualquer relutância estes encontros,  mas não esqueço a tristeza que levou ao choro compulsivo o soldado e grande companheiro Jalique Baldé, cuja família tinha sido vítima do PAIGC numa acção de recrutamento na sua tabanca a que ele escapou por estar a caçar. Recordo que foi o Jalique, enorme soldado e caçador, que detectou o IN quando este se dirigia na nossa direcção dia 24 de dezembro de 1973 e, se não fora ele, teríamos sido nós a cair na emboscada.

Na sequência destes encontros que se tornaram normais, fomos convidados para assistir a um comício organizado pelo PAIGC,  dirigido à população de Missirá e aos soldados e milícias da guarnição,   e aceitámos estar presentes.

Presidiram ao comício o comissário político bem como o chefe militar da zona e esteve presente grande parte da população civil da zona.

Na minha experiência politica levei o pelotão bem fardado e armado e foi-me pedido pelo comissário politico que os soldados poderiam assistir ao comício mas não deveriam estar armados,  o que me deixou apreensivo, mas, dada a forma como me foi transmitido o pedido e ao relacionamento anterior, aceitei que as nossas armas ficassem numa tabanca [, morança,] à guarda e irmos desarmados. Felizmente tudo decorreu com normalidade e, findo o comício e as fotografias que considero históricas,  recolhemos as armas e regressámos a Missirá.

A última missão que recebi na Guiné foi, a pedido do PAIGC ao comandante do batalhão de Bambadica [, BCAÇ 4616/73] (***), que me deu ordem de participar numa cerimónia simbólica do içar da bandeira do PAIGC numa localidade a norte de Missirá, provavelmente  Salá ou Sancorlá [, a noroeste de Missirá, vd. mapa a seguir]


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca  (1955) > Escala de 1/50 mil >  Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)

O meu pelotão [, o Pel Caç Nat 52,]  tinha sido desmobilizado após os acontecimentos de agosto de 1974 em que algumas tropas africanas se rebelaram tendo a CCAÇ 21 [... e não 22],  tomado o quartel de Bambadinca e sequestrado, eu incluído, o pessoal europeu com ameaça de fuzilamento,  caso não recebessem contrapartidas pela desmobilização (episódio já relatado no blogue)  [Vd. poste com depoimentos de Fernando Gaspar e Luís Mourato Oliveira] (****).

Por essa razão,  e obedecendo às ordem do comando, dirigi-me ao local da cerimónia, apenas acompanhado pelo soldado condutor que me foi dispensado,  sendo recebido com algum descontentamento pelos quadros do PAIGC que queriam dar alguma ênfase à cerimónia do içar da sua bandeira naquela localidade.

Foram estes os últimos dias do Pel Caç Nat 52. Estas memórias trazem-me sempre tristeza e remorso pela forma em que deixámos na Guiné os nossos irmãos de armas africanos que ficaram sem qualquer apoio ou negociação,  à mercê dos antigos inimigos.

Quero ter fé que o processo de integração que me foi possível iniciar,  minimizou ou talvez até tenha evitado as consequências que todos nós conhecemos e que tiraram a vida a muitos que,  ombro a ombro,  connosco suaram e sangraram num conflito que atempadamente se poderia ter evitado se os nossos dirigentes da época tivessem a noção que o curso da história não se pode travar apenas com armas.

Luís Mourato Oliveira
________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I

(**) Vd. postes anteriores com fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, respeitantaes ao setor L1, tiradas em lugares como Bambadinca, Mato Cão, Fá Mandinga e Missirá:

9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

11 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17126: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (13): Visita de cortesia a Fá Mandinga, onde ainda pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"...

22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17073: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (12): Bambadinca (a "cova do lagarto", em mandinga) e algumas das suas gentes

21 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"

23 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16981: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (10): 28 de outubro de 1973, dia de festa ecuménica, a festa do fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) no... Mato Cão

14 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16954: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (9): cenas do quotidiano do destacamento de Mato Cão

9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga

23 de dezenmbro de 2016 > Guiné 63/74 - P16873: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (7): o destacamento de Mato Cão - Parte III: a construção da tabanca

12 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II

7 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I

4 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16797: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (4): A nosso Natal de 1973, onde não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas dos nossos vizinhos de Madina / Belel

(***) Vd.  poste de  18 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14894: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXV: fevereiro de 1973: três meses depois do fim da comissão, faz-se a sobreposição com os "piras" do BCAÇ 4616/73, o "batalhão liquidatário" (mar / ago 1974)

O BCAÇ 4616/73, mobilizado pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 30/12/1973 e  regressou a  16/9/1974. Esteve sediado,  a CCS e o Comando, em Bambadinca. Foi comandado pelo  ten cor inf  Luís Ataíde da Silva Banazol e depois pelo ten cor  inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira. Tem como unidades de quadrícula a 1ª C/BCAÇ 4616/73 (Mansambo e Xime), 2ª C/BCAÇ 4616/73 (Xime, Bambadinca) e 3ª C/BCAÇ 4616/73 (Farim, Jumbembém e Farim).

(****) Vd., poste de 13 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9892: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (10): Em Bambadinca, em agosto de 1974, eu (e outros camaradas) fui sequestrado, feito refém e ameaçado de fuzilamento por militares guineenses das NT... Cerca de 40 horas depois, o brig Carlos Fabião veio de helicóptero com duas malas cheias de dinheiro, e acabou com o nosso pesadelo (Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518, 1973/74)

16 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Luís, pela tua frontalidade e sensibilidade...

Cinquenta depois do fim da guerra, estas fotos ainda irão "perturbar" alguns de nós... Tu tens a autoridade daqueles que foram atores dos acontecimentos... Obrigado pelas fotos... Quantas destas não ficarão para sempre no "silêncio" dos nossos álbuns e arquivos ? E quantas não irão (ou não foram já) parar ao "lixo" ?

Obrigado pelas explicações que nos destes... o texto e o contexto destas 10 fotos... Quem disse que uma imagem vale mais do que mil palavras ? Só em parte é verdade... Mas a imagem pode desencadear reações emocionais, como estas seguramente já desencadearam... É normal, é humano...

A minha companhia, a CCAÇ 12, fez prisioneiros, ou conheci a "cara" daqueles que se batiam contra "nós"... Mas muitos camaradas, ao longo da guerra, de 1961 a 1974, nunca viram a cara a um elemento IN, fardado e armado, vivo ou morto...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... E a tua honestidade intelectual, quero subinhá-la... Não ignooraste ou escamoteaste factos como a previsível reação e estupefacção dos teus / nossos soldados fulas e outras... Ninguém os preparou para o "dia seguinte"!... E o dia seguinte, em muitos casos, foram de pesadelo...

(...) "Estas visitas levaram a várias reacções, alguns aceitaram sem qualquer relutância estes encontros, mas não esqueço a tristeza que levou ao choro compulsivo o soldado e grande companheiro Jalique Baldé, cuja família tinha sido vítima do PAIGC numa acção de recrutamento na sua tabanca a que ele escapou por estar a caçar. Recordo que foi o Jalique, enorme soldado e caçador, que detectou o IN quando este se dirigia na nossa direcção dia 24 de dezembro de 1973 e, se não fora ele, teríamos sido nós a cair na emboscada. " (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís, a inflação já tinha chegado ao Mato Cão, no teu tempo: pagaste o arroz, apreendido aos tipos da canoa, provavelmente de acordo com as instruções da psicossocial então em vigor, a 7 pesos o quilo...

No meu tempo, o arroz era 6 pesos o quilo... Os meus soldados, de 2ª classe, por não terem andado na escola..., ganhavam 600 pesos de pré (mais os 24$50 por dia, para a alimentação, já que eram dessarranchados)... 600 pesos dava para comprar um saco de 100 quilos de arroz na loja do Rendeiro...

Como os tempos mudaram: na Op Lança Afiada (10 dias, em março de 1969), a ordem era para destuir todos os víveres do IN, no triângulo Xime-Bambadinca-Xitole: arroz, vacas, porcos, cabritos, galinhas, gatos, cães (esqueceram-se dos macacos)...

O Spínola (mas não o Hélio Felgas...) percebeu que não era pelo terror que se ganharia a guerra...Tarde demais...

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

Nesta fase de indefiniçao e de aproximaçao, o pessoal do partido nao fazia ameaças a ninguém, mas sim promessas, promessas e promessas, prometiam até o impossivel. Um Cmdt desses grupos, por sinal o primeiro que entrou no aquartelamento de Fajonquito em meados de Agosto/Setembro74, chegou a prometer, num comicio popular que, logo que os brancos fossem embora, o partido iria trazer tractores para todos os trabalhos de campo e que ninguém precisaria utilizar uma enxada de mao para lavrar o seu campo ou a bolanha.

Os homens grandes fulas presentes nessas reunioes nao se deixaram enganar, pois ja tinham vivido e sofrido o bastante para nao acreditar em milagres que vinham do ceu.

O depoimento do Luis Mourato mostra quao grande era a credulidade das tropas metropolitanas na sua generalidade e o quanto estavam enganados sobre o "dia seguinte". E o descontentamento manifestado pelos guerrilheiros na cerimonia a que ele foi assistir na aldeia de Sancorla ou..., na minha opiniao, fora motivado pela impossibilidade de eles conhecerem de perto e de recensear todos os militares nativos do pelotao de Missira e ainda de poder identificar suas localidades de origem, conforme estavam superiormente instruidos pelo partido.

O comportamento do Djaligue (Jalique) Baldé é premonitorio, como diz o Luis Graça, da desgraça que pairava no ar e que eles, so eles (os militares fulas) ja presentiam e perante a qual sentiam-se desorientados e impotentes. Durante toda o periodo que durou a fase de transiçao, nunca vi sequer um militar ou milicia fula que estivesse a confraternizar com os guerrilheiros em Fajonquito e mesmo nos, ainda crianças inocentes, nao compreendiamos a satisfaçao incontida dos metropolitanos e nas minhas memorias escritas mais tarde disse que "Talvez pela primeira vez na historia dos conflitos armados, uma das partes estava contente por ter perdido a Guerra". Era compreensivel e, ao mesmo tempo, desconcertante.

Sobre o Gen. Spinola, o minimo que se pode dizer é que era dos poucos, se nao o unico, que de facto conhecia todos os meandros da Guerra e da realidade socio-politica da Guine, na altura.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Antº Rosinha disse...

Os verdadeiros "comissários" não foram esses anónimos, de quem nem o nome e etnia se conhecia, que fizeram a "paz" que se seguiu.

Os verdadeiros "comissários" não foi em Argel que reuniram pela primeira vez com Mário Soares?

Santa paciência, Spínola discutia com Mário Soares, com certeza adivinhando a irresponsabilidade com que tudo se ia passar, mas Mário Soares gritava com Spínola e calou-o...para sempre.

Mas este post, bem analisado, dá para compreender o abandono da parte dos altos comandos, a que foi votado problema tão premente.

Muito bem se desenrascaram os alferes milicianos, neste caso Luís Mourato Oliveira.

Pior foi mais tarde em Angola.

O povo da Guiné, não foi enganado, mas sim abandonado por toda a Europa, assim como toda a África subsariana.

A Europa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Atenção, amigos e camaradas, aquela "guerra" não era uma guerra como as outras: já não falo sequer do "isolamento" internacional em que Portugal se encontrava, com implicações inclusive ao nível da aquisição de novas armas (aviões, sistemas de defesa antimíssil, etc.), imprescindíveis para fazer face à escalada militar...

Havia um grave problema interno, e não apenas demográfico (e não era só a Academai Militar às moscas)... O Portugal de Salazar / Caetano baseava-se no "apartheid social"... Era como o Uíge e os restantes navios na nossa marinha mercante: na 1ª classe seguia uma minoria privilegiada, cujos filhos não arriscavam morrer em África; em 2ª classe, havia uma classe média, a crescer, mas ainda sem grande voz ativa, mas cujos filhos já andavam na universidade e preparavam-se para substituir a velha elite domenante; e depois na 3ª classe, nos porões, a imensa maioria, pobre, despolitizada, mas que abandoara já os campos para engrossar a emigração (interna e externa) e alimentar a guerra...

Esta é a verdade amarga: quando o Luís Mourato Oliveira está em Missirá é um português, patriota, responsável, que tem de pensar pela sua própria cabeça mas também "cumprir ordens" de um hierarquia... desonrientada. Quem é que manda em Bambdainca ?... Em Lisboa, grita-se cada vez mais alto: "nem mais um soldado para as colónias" (!)...

As guerras também se perdem na retaguarda...

alma disse...

Missirá deve ter mudado muito. No meu tempo 1970/1971, nem Salá, nem Sancorlá, tinham Tabancas. Tinham era, minas.. Lá morreram, numa operação que comandei, 3 Homens( 1 Milícia e 2 Soldados do Pel.Caç Nat 54) Ainda lá voltei com um Pelotão da C.Caç 12, comandado pelo Alf.Sobral e rebentámos mais 2 minas...À volta de Missirá não existiam Tabancas. Também quando fui a Madina/Belel, não passei por nenhuma Tabanca. Abraço J.Cabral

Manuel Luís Lomba disse...

Nós, ex-combatentes temos o dever de memória de não condescender com o branqueamento da verdade dos factos.
A Descolonização, exemplar para uns e desastrosa para outros, foi obra do MFA (Movimento das Forças Armadas), decididamente impulsionada pelo Partido Comunista Português. Enquanto ministro, Mário Soares tem as costas largas, mas foi sistematicamente ultrapassado, na diplomacia, pelo major Melo Antunes e, no terreno, pelos oficiais político-militares; a história não tardará a fazer justiça ao seu desempenho.
O abandono dos camaradas nativos pelos militares magoa os ex-combatentes.
Felicito o Luís Mourato por este seu "combate".
AB.
Manuel Luís Lomba

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Ainda sinto VERGONHA pela forma como tudo acabou e, continua... (pobres populações!). NÃO hÁ DESCULPAS NEM TENTATIVAS DE BRANQUEAMENTO DA VERDADE ACEITÁVEIS.
Um abraço
JS

Anónimo disse...

A análise dos dramáticos resultados finais sem se referirem as responsabilidades dos políticos que geriram a Guerra?

Muito patrioteiro mas muito limitado.

Desde o crime de Goa a Abril de 74 foram 14 anos de oportunidades de corrigir rumos, adaptando-os inteligentemente às realidades dos tempos e a uma economia mais do que limitada.

Quanto à História no futuro ser justa?
Futuro a ser contado desde 1960 ou 1974?

Dependerá dos referidos patrioteiros com pequeninos almanaques pessoais.

Luis Santos Silva



Anónimo disse...

Nesta fase final da guerra, sobretudo pela forma como foi despachada pelos militares (ver Manuel L. Lomba), cairam por terra, aos olhos dos fulas, seus aliados de conquista e de tentativa de resistencia secular), dois mitos que Portugal sempre tentara conservar junto do indigena:
1. O mito de "poucos, mas valentes". Quando eram poucos fizeram boa figura, desde Marques Geraldes ate o Cap. Teixeira Pinto e quando vieram muitos, nos anos 60, deixaram o imperio desmoronar-se. Um paradoxo.

2. O mito da " palavra de cavalheiro ou eh cavaleiro?", que granjeava junto do indigena, em especial dos chefes fulas, a confianca de que mesmo nas condicoes mais dificeis podiam sempre contar com a promessa de fidelidade do homem branco que o longo dos seculos percorridos tinham sabido conservar sem grandes falhas. Isto nao aconteceu no pos25ABR74 e, mesmo os dirigentes do Paigc nao esperavam tantas facilidades.

Cordiais saudacoes,

Cherno AB

Anónimo disse...

Meu caro Cherno.

Tendo a maioria dos portugueses sido educados desde muito jovens dentro dos valores salazaristas, incluindo obviamente os militares,estranhar que o "castramento" tenha levado ao que levou?

Esquecer que,alguns bons anos depois de morto,acabou por ser o mais votado pelos portugueses em inquérito da TV?

Diploma a um povo livre saudoso da sua ditadura enriquecedora.


"Matar o mensageiro" ,como aparenta fazer o Sr.Manuel Lomba,esquecendo convenientemente o causador originário da bandalheira final?

Nem sequer,naqueles tempos heróicos,nos souberam dar um Aeroporto Eusébio.

Luis Santos Silva

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Tanta ignorância sr. Silva!!!

Anónimo disse...

Amigo Cherno, estás a mexer em susceptibilidades de fazer corar até um preto quanto mais um branco.

Antº Rosinha

Manuel Luís Lomba disse...

Luís Santos: Terás de fazer ajustamentos às tuas contas com a história.
Quando da Descolonização, a longevidade do "império português", geográfico e humano, levava quase 600 ano. Enquanto D. João I, o Regente D. Pedro, morto em Alfarrobeira, o Infante D. Henriques e os "suspeitos" que se lhe seguiram foram responsáveis pela sua formação na "cintura de Lisboa", Salazar tem menos de 50 anos de responsabilidade na sua conservação, mas a responsabilidade dos Portugueses e dos povos a ele reunidos será de mais de 550 anos!
Descolonizar era preciso; mas erro grave foi o forçamento ao abandono, protagonizado não pelo MFA e sua Comissão Coordenadora do 25 de Abril, mas pelo MFA e a Comissão Coordenadora do seu PROGRAMA, pós 28 de Setembro de 1974.
Essa Descolonização não materializou a devolução da independência à Guiné, Angola e Moçambique - que nunca a haviam tido - e muito menos a Democracia e os seus povos como o seu sujeito, mas a entrega do poder a "grupos ou associações" armadas, de ideologia e práticas totalitárias. A independência e democracia ainda demorarão duas gerações a chegar aos seus povos.
E quando falamos de militares, atente-se que era o maior exército operativo, a sul do Mediterrâneo.
Esta minha opinião também se respalda na auto-crítica de dois actores: do desaparecido e
do então major Melo Antunes, grande patriota, sem dúvida; e do então capitão Vasco
Lourenço, o motor do MFA, bem vivo e recomenda-se (insofrido sportinguista, mas conspirador reformado...).
Ab.
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Meu caro Sr.Manuel Lomba.

Haverá uma outra perspectiva quando se analisa o chamado império colonial portugês,o tal dos 600 anos,baseado em longos estudos académicos.

Sem o mínimo de infra-extructuras legislativas e sociais que viessem a tornar a viabilidade económica do mesmo a longo praso,lá vamos sempre cair na ideia paroquial do grande império colonial do salazarismo.
Só olharmos as cores da bandeira nacional sera patriótico,mas infelizmente é insuficiente.

Será justo lembrarmos que os que pensam de outro modo olham com respeito e amor para a mesma bandeira.

Quanto ao misturar-se Melo Antunes e Vasco na mesma frase,eu que tive a oportunidade de com eles conviver de perto durante longo tempo pensaria duas vezes antes de citá-los de um mesmo fôlogo, tendo em conta as abissais diferencas culturais e analíticas dos mesmos.

Quanto ao resto tenho que humildemente concordar com o Sr.J.Fernandes no seu comentário abrangedor.

Luis Santos Silva