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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19433 (D)outro lado do combate (42): A nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, de Cassacá, em 17/2/1964: os líderes do 1º Corpo de Exército Popular (Jorge Araújo)


Fig 4

Citação: (s.d.), "O Secretário-Geral do PAIGC e Presidente da Assembleia Nacional Popular, Aristides Pereira, e o Ministro das Forças Armadas, Nino Vieira, passando em revista uma base da Frente. A fotógrafa Bruna Amico, de costas.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_11290 (2019-1-18)



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp. / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): coeditor do nosso blogue






GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACÁ EM 17FEV'1964

- OS LIDERES DO 1.º CORPO DE EXÉRCITO POPULAR 





1.INTRODUÇÃO


Ainda que o conteúdo inicial da presente introdução nada tenha a ver com o título deste trabalho, ele servirá apenas para conceptualizar o quadro narrativo, e factual, que o precedeu.

Pretendo, deste modo, partilhar no fórum, uma vez mais, o que foi possível apurar no âmbito desta pequena investigação cruzada, onde foram seleccionados e utilizados alguns dos depoimentos julgados pertinentes existentes em cada um dos lados do conflito, e que dão corpo a esta minha primeira narrativa de 2019, abrindo-a a outros (novos) horizontes de análise.




Fig. 1

Por outro lado, é de relevar o património documental existente no Arquivo Histórico do ex-Banco Nacional Ultramarino, produzido pela Administração da Delegação da Guiné [Vd. Fig 1] e remetido para a sua Sede em Lisboa, sobre o qual o nosso camarada, incansável, Mário Beja Santos, nos tem presenteado com as suas «Notas de Leitura», tituladas «Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné», a quem agradecemos.


Como consequência desse seu trabalho de inegável mérito, o seu conteúdo tem captado a minha superior atenção, aproveitando esta oportunidade para o citar.


Estamos, então, perante informações que consideramos de elevado valor historiográfico para a compreensão do processo iniciado em 1961 a nível interno, com diversas acções subversivas, e que evoluíram para a confrontação bélica, preparada e estruturada além-fronteiras.





Figura 2 – Mapa da Guiné com as principais linhas de infiltração da guerrilha, em 1961/63 – infogravura publicada no P15795: «O início da guerra da Guiné (1961-1964)», de José Matos, historiador – Parte I (com a devida vénia).

O primeiro acto, a Norte, ocorreu em 20 de Julho de 1961, 5.ª feira, com um assalto à povoação de S. Domingos, em particular ao edifício onde estava instalado um pelotão da 1.ª CCAÇ (CCAÇ 3), "fazendo uso de terçados [espadas curtas e largas], armas de caça, espingardas e garrafas de gasolina. Cinco dias depois, outro grupo armado provoca danos materiais na estância turística da praia de Varela e ainda em Susana" - (P15795).

Seguiram-se, depois, novas acções subversivas, desta vez a Sul, com incursões armadas vindas da fronteira com a Guiné [-Conacri], actos registados durante o segundo semestre de 1962.

Como exemplo dessa subversão, refere-se o caso narrado pelo gerente do BNU onde escreve: "é nosso dever levar ao conhecimento da V. Exa que por volta das três da madrugada de ontem [25Jun'1962; 2.ª feira], pequenos grupos de indivíduos, que se supõe pertencerem ao PAIGC, atacaram a tiros de pistola em Catió a Administração do Concelho, a Central Eléctrica, o posto da PIDE e os CTT, cortando os fios telefónicos e atravessando árvores na estrada. Incendiaram também a jangada e três pequenos barcos que fazem a ligação de Bedanda para Catió. Entre Buba, Empada e Fulacunda, foram cortadas as comunicações telefónicas e destruídos alguns pontões feitos de paus de cibe" (P19291).
Como elemento de comparação, dá-se conta da versão escrita e assinada pelo Rui Djassi (Faincam, nome de guerra) [1938-1964], responsável do PAIGC [Zona 8] pelas acções supras, cujo conteúdo se transcreve:

"30.06.1962 [sábado] > Da última hora – EMPADA

Destruíram pontes no dia 27-28 [Junho'62], cortaram fios em grande quantidade. Há dificuldade [de] comunicação para vários pontos, entre os quais Bissira-Empada, Empada-Pam-Tchuma, Sacunda-Aidara.

No dia 28 [Junho] foi morto um comerciante europeu [Januário Simões, irmão de Manuel Simões, 1941-2014] que está [estava] ao serviço da PIDE.


Na mesma noite meteram fogo na casa do Anso Mara, também agente da PIDE.
Todos os professores catequistas daquela área foram presos sem motivo de justificação. Eis os nomes: Domingos Lopes; Mário Soares; Avelino Mendes Lopes; Bernardo Mango. E mais alguns camaradas. Agradecia mandar-me relógio para José Sanha.

ass: [Rui] Djassi (Faincam)"
Eis a reprodução do original [Fig 3]



Fig 3

Citação: (1962-1962), "Comunicados [Zona 8]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40585 (2019-1-18), com a devida vénia.

Fonte: CasaComum; Fundação Mário Siares. Pasta: 04620.104.055. 
Título: Comunicados [Zona 8].
Assunto: Comunicados assinados por Rui Djassi (Faincam): destruição de pontes e comunicações na região de Empada; ataque a agentes da PIDE; prisão de professores catequistas (entre os quais Bernardo Mango); ataque das tropas portuguesas à tabanca de Caur e à população.
Data: Quarta, 27 de Junho de 1962 - Quarta, 4 de Julho de 1962.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1960-1962 (interna).
Documentos anexos a 04620.104.054.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.


2. A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACA EM 17 DE FEVEREIRO DE 1964


Neste segundo ponto daremos conta da decisão tomada durante o I Congresso de Quadros do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, nomeadamente no âmbito político-militar, cujos elementos foram retirados de um documento manuscrito de Amílcar Cabral (1924-1973), localizado nos arquivos existentes na Casa Comum, Fundação Mário Soares, constituído por sete folhas, e que serão reproduzidas no fim deste trabalho.

De referir, ainda, que esta narrativa segue na "fita do tempo" uma outra relacionada com o envio de uma carta de Aristides Pereira (1923-2011) a 'Nino' Vieira (1939-2009), escrita igualmente em Cassacá, em 22 de Janeiro de 1964, um ano depois do ataque a Tite, informando-o da intenção de se realizar um encontro, ou seja, o "I Congresso" - P19335.[Fig 4, em cima]

Eis, então, o conteúdo das decisões tomadas.

23 de Junho de 1964 > Decisão

"O desenvolvimento da nossa luta armada exige que se tomem medidas urgentes e concretas tanto no plano político como militar. A VI Conferência de Quadros do Partido (I Congresso) tomou decisões importantes em relação a essas medidas, principalmente no que respeita à organização do Partido, as regiões libertadas, a criação das FARP, com o reforço das guerrilhas em todo o país, a criação do exército popular e a instalação das milícias populares.

Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".


[O que terá acontecido a Rui Djassi (Faincam)?, uma vez que o seu nome deixou de constar na estrutura da «guerrilha», então aprovada, sendo substituído por Guerra Mendes [† em combate, em 09Mai'65, em N'Tuane (Antuane)], conforme pode ler-se no ponto 8.

A propósito de Rui Djassi, recupero o comentário do camarada Manuel Luís Lomba, feito no P13787, onde refere:

"O Rui Djassi era cobrador da Farmácia Lisboa, foi incorporado no Exército Português e desertou como furriel mil para ir com o Amílcar Cabral e mais 29 para a China, tirocinar "guerra revolucionária" e foi o 1.º a concluir tal formação. Residiu na estrada de Stª. Luzia e quando surgiu na guerra o pai ofereceu recompensa a quem o liquidasse. Foi o 1.º comandante de Quinara e terá sido o responsável do assassinato do irmão do Manuel Simões [, o Januário Simões], ora evocado por falecimento. Foi o comandante dos ataques a Tite, em Janeiro e Fevereiro de 1963, currículo que o terá safado das penas de morte decretadas por Amílcar no I Congresso de Cassacá,  na altura da Operação Tridente".
Alguém tem algo mais a acrescentar, relacionado com este mistério?].

O documento refere ainda:

"Nestas condições, todo o trabalho feito na zona 11 e nas outras regiões do país, está a ser prejudicado pela situação má em que se encontra a zona 8.

Por outro lado, a experiência feita no norte do país em que todas as zonas se encontram sob a chefia e responsabilidade dos camaradas Osvaldo Vieira e Chico Mendes (Té) mostra que é possível fazer o mesmo no sul, enquanto se prepara a nova fase da nossa luta. Quer dizer, todas as Zonas do Sul (11, 8 e 7) devem ficar sob a direcção centralizada dum pequeno número de responsáveis, directamente ligados ao Secretário-Geral do Partido. É portanto necessário fazer uma reorganização da direcção do Partido, da luta no sul do país, com a maior urgência possível.

Por isso, tomo as seguintes decisões, em nome da direcção do Partido.

I – Guerrilhas

1. Todas as zonas do sul do país (11, 8 e 7) ficam sob a chefia do camarada João Bernardo Vieira ('Nino'; Marga), membro do B.P. e actual chefe da região (zona 11). Ele dirige todos os responsáveis de zonas abaixo indicados.

2. O camarada "Nino" é assistido nas suas funções por um grupo de responsáveis constituído pelos seguintes camaradas: João Tomas Cabral, Arafam Mané, Guerra Mendes, Abdoulaye Barry e Constantino Teixeira.

3. O camarada João Tomas Cabral desempenhará junto do camarada Nino as funções de Comissário político para todo o sul do país. Ele deve trabalhar em inteira ligação com o camarada Nino.

4. O camarada Arafam Mané passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Catió-Cacine (antiga zona 11).

5. O camarada Guerra Mendes é nomeado primeiro responsável da região de guerrilha Fulacunda-Bolama (antiga zona 8).

6. O camarada Abdoulaye Barry passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Xitole-Bafatá (antiga zona 7).

7. O camarada Constantino Teixeira tem a categoria de primeiro responsável da região de guerrilha e passa a fazer a ligação permanente entre as diversas regiões e o camarada Nino, com função de controlador para todo o sul do país.

8. Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry.

9. O camarada Nino deve passar as suas funções na Zona 11 ao camarada Arafam Mané. Deve, além disso, começar a dirigir todas as regiões do sul do país, para o que deve fazer as inspecções necessárias e tomar todas as medidas que julgar úteis para a melhoria da luta nessas regiões. A base do camarada Nino deve ficar instalada na região de Catió-Cacine, onde considerar mais conveniente para o bom cumprimento dos seus deveres.

10. O camarada Nino tem autoridade para escolher e nomear os diversos responsáveis dos sectores e bases da guerrilha dentro das regiões a sul do país. Pode igualmente destituir ou transferir todo e qualquer responsável, se isso for conveniente para o desenvolvimento da luta.

11. Sugiro no entanto a seguinte reorganização da direcção das guerrilhas nas diversas regiões e sectores:

a) Catió-Cacine (zona 11) – comissão regional da guerrilha – Arafam Mané, Saco Camará, Quade N'dami, Aguinaldo Noda,

Comissário político geral: Sadjo Bambo.

Responsável principal: Arafam Mané

Responsável do sector de Quitafine: Saco Camará 

Responsável do sector de Chão de Nalus e Como: Arafam Mané

Responsável do sector de Canframe: Aguinaldo Noda

Responsável do sector de Calbert (Tombali): Quade N'dami

- Os responsáveis das diversas bases e dos grupos de guerrilha devem ser indicados pelo camarada Nino.


b) Fulacunda-Bolama (zona 8) – comissão regional da guerrilha – Guerra Mendes, João Tomás, Madna na Isna, Bromejo e Cabiru Baldé

Comissário político geral: João Tomás

Responsável principal: Guerra Mendes

Responsável do sector de Quinara: Guerra Mendes

Responsável do sector de Bolama: Caetano Barbosa

Responsável do sector de Buba: Bromejo

Responsável do sector de Cubisseco: Madna Na Isna

Responsável do sector de Fulamore: Yafai Camará

Responsável do sector fronteira (Contabari): Cabiru Baldé

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha são indicados pelo camarada Guerra Mendes, com aprovação do camarada Nino [Vd. Fig 5].

c) Xitole-Bafatá (zona 7) – comissão regional da guerrilha – Abdulai Barry, Suleimane Djaló, Braima Camará, Tito Fernandes.

Comissário político geral: Tito Fernandes

Responsável principal: Abdulai Barry

Responsável do sector de Xitole: Braima Camará

Responsável do sector de Xime: Abdulai Barry

Responsável do sector de Saltinho e Caré: [?] [nome ilegível]

Responsável do sector de Bangacia: Suleimane Djaló

Responsável do sector de Bambadinca: Joãozinho Lopes

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha devem ser escolhidos pelo camarada Abdulai Barry, com aprovação do camarada Nino."




Fig 5

Citação: (1965), "Desfile de um destacamento das FARP, comandadas por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43067 (2019-1-1)



II – Criação do 1.º Corpo do nosso Exército Popular


1. Deve-se criar imediatamente o 1.º Corpo do nosso Exército Popular no Sul do País, de acordo com as decisões do nosso Congresso. Nenhuma desculpa, razão ou argumento pode servir para retardar mais a criação do exército. Devemos criar as primeiras unidades do exército com os homens e o material de que podemos dispor neste momento, sem prejudicar grandemente a acção e o desenvolvimento das guerrilhas no sul do país. Temos no entanto que compreender que a criação do exército representará um reforço da nossa força e, portanto, permitirá indirectamente, o fortalecimento das nossas guerrilhas.

2. O camarada Nino deve empregar o melhor do seu esforço para a criação imediata do Exército no sul do país. Para isso deve ser devidamente ajustado com todos os camaradas responsáveis e militantes, que lhe darão a melhor colaboração. Terá, além disso, toda a assistência do Secretário-geral e da direcção do Partido.

3. Devem ser criadas imediatamente duas Subsecções do Exército, com os nomes de "Botchecol" (1.ª subsecção) e "Vitorino" (2.ª subsecção). A organização e a estrutura dessas unidades do Exército popular são descritas pormenorizadas em documento secreto, que segue para o camarada Nino.


4. Estas duas subsecções, com todos os Corpos do nosso Exército Popular, serão superiormente dirigidas pelo Comité Principal do Exército, o qual é subordinado ao Conselho de Guerra. No sul do país, as unidades criadas são directamente dirigidas por um comando-geral do sul e pelos responsáveis indicados pela direcção do Partido.

5. O comando-geral do sul é formado pelos seguintes camaradas:

Nino / Marga – comandante geral

Carlos Leal – comissário político geral

Umaro Djaló – comandante da subsecção

Saturnino Costa – comandante da subsecção

Na qualidade de comandante geral, o camarada Nino, com a colaboração do camarada Comissário Político geral, estuda e planeia, de acordo com o Secretário-geral, ou os seus representantes, todas as acções militares e políticas a realizar pelo exército no sul do país. Os camaradas das subsecções são responsáveis pela execução dos planos e a realização total das acções determinadas pelo comando, de acordo com a direcção do Partido.

6. A subsecção "Botchecol" tem os seguintes dirigentes:

Umaro Djaló – comandante

Humberto Gomes – 2.º comissário político

Gustavo Vieira – chefe dos grupos especializados


7. A subsecção "Vitorino [Costa] tem os seguintes dirigentes:

Manuel Saturnino Costa – comandante

Mamadu Alfa Djaló – 1.º comissário político

Ngalé Yala – 2.º comissário polític

Mário Silva – chefe dos grupos especializados

8. Os chefes de grupo e comissários políticos de grupos devem ser indicados pelo comando geral do Sul

Nota: Tudo isto deve ser feito completamente até ao dia 15 de Julho de 1964".


Segue-se a reprodução das sete folhas originais [Fig 6].











Citação: (1964), "Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso)", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42295 (2019-1-) (com a devida vénia)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 07061.032.017.
Título: Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso). Assunto: Manuscrito de Amílcar Cabral das decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (Congresso de Cassacá). Organização do PAIGC; a situação das regiões libertadas; a criação das FARP; a criação do Exército Popular e a instalação das milícias populares; problemas da Zona 8; guerrilha; criação do I Corpo do Exército Popular; organização e estrutura de uma Subsecção. Em anexo uma carta de Amílcar Cabral para Nino Vieira e uma folha de apontamentos.
Data: Terça, 23 de Junho de 1964.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
22Jan2019.
______________

Nota do editor Jorge Araújo:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19335: (D)outro lado do combate (41): Carta de Aristides Pereira a 'Nino' Vieira, escrita em Cassacá, em 22 de janeiro de 1964 (Jorge Araújo)

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17765: (In)citações (111): Lembrando Setembro, o mês comemorável da Guiné, a sua Libertação, que intrujou todo o mundo e todo o mundo se deixou intrujar e os seus improváveis heróis (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

Nuno Tristão
Com a devida vénia a AdBissau.Org

1. Em mensagem datada de 13 de Setembro de 2017, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, BissauCufar e Buruntuma, 1964/66) enviou-nos este artigo de opinião para publicação:


Lembrando Setembro, o mês comemorável da Guiné, a sua Libertação, que intrujou todo o mundo e todo o mundo se deixou intrujar e os seus improváveis heróis

Por Manuel Luís Lomba

A minha memória da Guerra da Guiné anda associada à lembrança das suas “mentiras revolucionárias” e das duas utopias, responsáveis directas e indirectas, da imolação dos seus milhares de vítimas - homens, mulheres e crianças: a de que a Guiné continuaria a ser dos portugueses, de um lado; e a de que os guineenses empreendiam a sua libertação, do outro. Um chamamento do além, à evocação se “valeu a pena?” ou ao piedoso respeito pelos que derramaram o seu sangue por ela?

A Guerra da Libertação da Guiné foi o meu (nosso) passado de mocidade, o nosso futuro próximo é estarmos todos mortos e, neste mês de Setembro, efeméride da Declaração unilateral da independência e do seu reconhecimento por Portugal, seja-me permitido evocar alguns dos seus acontecimentos e evidências.

Nuno Tristão chegado à Guiné, diz o cronista que na missão da “busca certa de informação e sabedoria daquelas partes” e foi morto pelos Mandingas pré-cabralinos, em Setembro; o reconhecimento da posse exclusiva da Guiné, pelos Reis Católicos da Espanha e pelo Papa de Roma, foi em Setembro; Amílcar Cabral nasceu em Setembro; o PAIGC foi fundado em Setembro; Amílcar Cabral fez a parceria do PAIGC com a União Soviética, em Setembro; as acções de sabotagem pelo PAIGC, adventícias da guerra da Guiné, tiveram início em Setembro; a declaração unilateral da sua independência, “nas colinas do Boé”, foi em Setembro; a demissão do general Spínola, que levantou e reforçou o moral combativo ao PAIGC, foi em Setembro; a fundação do MFA, a substância activa do PAIGC replicada nas Forças Armadas Portuguesas, foi na Guiné e em Setembro; a formação da Comissão Coordenadora do MFA, o mais eficiente “comité libertador” da Guiné, foi em Setembro; e o reconhecimento da independência da Guiné por Portugal, foi em Setembro; etc.

O apoio da Oposição sistemática ao regime do Estado Novo, o fenómeno eleitoral Humberto Delgado - a Guiné votou-o a PR - e aquele “massacre” no cais do Pidjiquiti, estereótipo das consequências das greves musculadas, foram o lastro para Amílcar Cabral começar a Guerra da Guiné. Mal começara o aliciamento de combatentes e já os apoios morais e materiais de todo o mundo lhe abundavam. Grande era o efeito multiplicador das adesões, com a sua eficiência subversiva, no desempenho de alto funcionário do governo colonial e pelo poder da mensagem que dirigia aos contactados, de que transformaria a Guiné, de pobre e atrasada colónia portuguesa, na Suíça da África; e, a seu exemplo, o seu núcleo duro de combatentes foi formado por soldados e graduados da guarnição militar da Guiné, no activo e na disponibilidade.

Levou com ele os primeiros 30 a tirocinar na China, devolvidos com os cérebros lavados e como operacionais preparados para a guerra de guerrilhas. E foi essa malta, iniciada na arte militar nos quartéis da guarnição da Guiné que, ao longo de 11 anos, saberá comer as papas na cabeça (falta-me expressão mais erudita) aos militares formada nos quartéis, nas Escolas Práticas, nas Academias e nos Altos Estudos Militares das FA de Portugal!
Para desconforto dos tabus do lado deles e das más-línguas do nosso lado, segundo as quais a longevidade da Guerra da Guiné aconteceu por interesses carreiristas e pelos estipêndios da quase generalidade dos militares profissionais, não me permito a omitir que os principais comandantes do PAIGC não só eram bem pagos (em escudos, dólares ou coroas suecas?) e bem prendados, relógios de ouro Rolex inclusive, mas também, sem qualquer preparação, se alcandoraram aos altos cargos do novel Estado da Guiné-Bissau!
Isso pela unidade e luta ou a génese da corrupção, responsável pelo falhanço da Guiné-Bissau como Estado?

A partir de 1961, os dirigentes de Lisboa viraram-se para Angola “é nossa” e o PAIGC foi-se instituindo e instalando no arquipélago do Como, formado por três ilhas, separadas entre si apenas na maré alta, onde foi crescendo, em subversão, orgânica e como base de guerra, posto em sossego, pela cumplicidade da autoridade colonial de Catió, desempenhada por um militante. De feudo do colono Manuel Pinho Brandão e por bravata de Nino Vieira, aquele arquipélago passou a República Independente do Como, com a capital na tabanca de Cachil, a rádio Brazzaville deu a notícia e a PIDE de Angola alertou as autoridades de Bissau e Lisboa. Naquele tempo, o efectivo paigcista naquele arquipélago seria inferior a 400 combatentes e o efectivo da guarnição militar da Guiné era de cerca de 1800 homens, metropolitanos e naturais, distribuídos pelos três ramos das Forças Armadas.

Tendo partido da base-mãe de Koundara (para não contrariar Skou Touré), 30 km além fronteira, em Janeiro de 1963, um grupo de guerreiros, comandado por um puto guineense de 20 anos, que atendia pelo nome de Arafan Mané, veio fazer o baptismo de fogo, dele e do PAIGC, numa tentativa falhada de assalto ao quartel militar de Tite. O Estado-Maior de Bissau convenceu-se de que as três ilhas eram a mãe dessa guerra, a aviação de Bissalanca passou a bombardear regularmente as copas das suas árvores e um bombardeiro T6, abalroado pela sua parelha, fez uma aterragem de emergência.
A Guerra da Guiné entrava nos seus primórdios e já Amílcar Cabral se antecipava ao seu evoluir e desfecho, a percorrer as arenas internacionais e as chancelarias de Estados, numa diplomacia de propaganda e triunfalista, exibindo o mapa com 2/3 da Guiné libertada, a autoridade colonial circunscrita a Bissau e Safim, provas de aviões abatidos e um piloto de combate aprisionado.

Arvorado em líder dum Partido-armado e de uma guerra política, de efeito dirigido à Comunidade internacional, era mister a Amílcar Cabral formalizá-lo em assembleia constitucional; e, em finais de Dezembro de 1963, marcou o I Congresso do PAIGC para a tabanca de Cassacá, implantada numa densa mata, cercada de bolanhas, quais fossos naturais de fortaleza inacessível, na “área libertada" da ilha do Como, que o seu caudilho dava por inexpugnável.
Nessa mesma altura e dispondo do reforço de meios, vindos da Metrópole e de Angola, o Comandante-Chefe das FA da Guiné, por ordem directa de Salazar, emitiu a directiva da organização e da manobra de uma operação de grande envergadura sobre aquele arquipélago, com a missão de liquidar a situação e a sua causa. Por ironia do destino, os dois eventos decorrerão paralelamente e em proximidade, que só a realidade geográfica da Guiné poderia permitir, primeiro por casualidade e, depois, pela tradicional resiliência cabralina.

Eis dois comandantes-chefes e a sua circunstância – ambos antagónicos ao ditador, ambos favoráveis à negociação e não à guerra: o eng.º agrónomo Amílcar Cabral, ex-alferes miliciano do Exército Português, que havia deixado o emprego para se tirocinar na guerra subversiva na Academia Militar de Pequim, arvorado em líder da guerra independentista da sua terra natal, sustentado pelo ordenado da sua mulher, a eng.ª flaviense Maria Helena Ataíde; e o brigadeiro Louro de Sousa, oficial-general do Exército Português e Comandante-Chefe das FA da Guiné.

Então, em princípios de Janeiro de 1964, o arquipélago do Como foi o objectivo de uma invasão anfíbia, de metodologia semelhança à invasão da Normandia, com o código de “Operação Tridente”, envolvendo o efectivo de cerca de 1200 homens e a panóplia do armamento dos três ramos das FA – Exército, Marinha e Força Aérea. Com os seus escrúpulos de poupar as populações a sobreporem-se ao efeito da surpresa, o Comandante-Chefe mandou que a invasão fosse precedida de dois aviões Dornier de reconhecimento a lançar panfletos sobre o arquipélago, a avisar a metralha que lhes viria da terra, mar e ar.
Assim prevenidos, os cerca de 400 guerreiros nacionalistas do arquipélago do Como, encabeçados por três comandantes, de que apenas sobreviverá Agostinho de Sá, supervisionados pelo felino Nino Viera, estavam para as suas populações “como o peixe para a água”, prepararam-se para festa da recepção. Acontecerá uma metralhada infernal, combates renhidos, sem quartel, e dois aviões de combates derrubados por antiaéreas de grande calibre. Muita bravura e muitos sacrifícios humanos - a bravura mais da parte dos guerrilheiros, os muitos sacrifícios mais da parte da tropa, por maioria de razão.

Na sua consciência de que a fortaleza do Como não passava de quimera revolucionária, a tropa ocupara Cachil e circulava por Cassacá, Amílcar Cabral protelou o congresso, em data a indicar apenas na antevéspera. Atravessou a Guiné com o aludido Arafan Mané, ora seu guarda-costas e manteve a face, confirmando o congresso em Cassacá, não a do Como, mas a do Cubisseco, na península do Cantanhês e mandou Nino Vieira desmobilizar a resistência no Como; e, durante 4 dias, de 13 a 17 de Fevereiro, numa reunião, mais de quadros político-militares que assembleia de massas, estabeleceu orgânicas, ditou directivas e lavrou sentenças de morte. E o PAIGC não deixará de cumprir uma dessas directivas – a execução sumaríssima dos guineenses com ligações à tropa, caídos nas suas garras, assim como dos oposicionistas ou dos que desalinhassem do PAIGC.

Guiné > Região de Tombali > Carta de Cacine (1960) > Escala 1/50.000 > Posição relativa de Cassacá, a 15 km a sul de Cacine, região também como conhecida como Quitafine.

A resistência do Como feneceu, os guerrilheiros sobrevivos esconderam o armamento pesado e dispersaram-se pelo Cantanhês e Cufar, coisa que a guerrilha sabia fazer e a tropa não (veja-se o acontecido em Tancos…) e, ao fim de 71 dias, as forças invasoras retiraram para Bissau. De tão grandiosa, a “Operação Tridente” não passará de solução de continuidade: a Guerra da Guiné continuou em crescimento, em efectivos, armamento e intensidade.

Passados 10 anos, o então Major Otelo Saraiva de Carvalho e o então Capitão Vasco Lourenço, “rapazes” do General Spínola na Guerra da Guiné, descobriram a sua vocação libertadora, naquela madrugada em que se entreajudavam a mudar uma roda do carro em que regressavam de Santarém, qual sua “estrada de Damasco”, de um churrasco desabafo-conspirativo na casa do Capitão Salgueiro Maia, outro “rapaz” da mesma guerra, que aquele general havia injustamente sacrificado e à sua companhia, na batalha de Guidaje, no auge da crise dos “3 G´s” - o contexto gerador da formação do MFA. O Major Otelo receberá a unção dos seus pares, para planear e desencadear a “Operação Mudança de Regime”; e o seu sucesso culminante foi a conclusão da “Operação Tridente”, pela resolução da problemática da Guiné. Foi no dia 25 de Abril de 1974, o Terreiro do Paço, as suas acessibilidades e o Largo Carmo foram os seus palcos principais; parecerá heresia, mas o seu desfecho vitorioso poderá ser creditado ao discernimento e à coragem moral do Coronel Romeiras Júnior, que fora o 2.º Comandante Operacional da “Operação Tridente”, então comandante do RC 7, posicionado no campo contrário. Qual teria sido o desfecho da “Operação Mudança de Regime” se ele, desobedecendo abertamente ao Brigadeiro Junqueira, não tivesse usado os seus galões para impedir que os poderosos canhões dos seus tanques M44 Paton, vindos da Calçada da Ajuda, dizimassem os conjurados Tenente Assunção, Major Jaime Neves, Capitão Salgueiro Maia, os seus subordinados e as suas Chaimite ocupantes do Terreiro do Paço, desprovidas de armamento para se bater com eles.

Em Setembro de 1974, após o reconhecimento por Portugal da independência da Guiné, consumando a sua proclamação pelo PAIGC, no inóspito lugarejo de Lugajole, deu-se a emergência da substância paigcista do MFA – a sua deriva para um PREC (Processo Revolucionário em Curso), réplica do terceiro-mundismo ou de república das bananas, tentativa para que o “Fim do Regime” fizesse um caminho no sentido único de outra dinastia ditatorial, um delírio indigno e que indignou o país: além da sua honrosa história, os portugueses eram de maior idade desde 1128 e Portugal era o segundo país mais antigo da Europa e o terceiro mais antigo do Mundo!
No contexto desse paigcismo, os subsistentes da “Operação Tridente”, actores do dia 25 de Abril e do seu dia seguinte – Brigadeiro Louro de Sousa, Comodoro Paulo Costa Santos, Coronel Fernando Cavaleiro, etc. foram metidos na cadeia; e outros, como os Comandantes Alpoim Calvão, Benjamim Abreu, etc. passaram a foragidos.
Não será politicamente correcto; mas eles foram uns heróis, improváveis, da independência da Guiné.
E assim começou o futuro da República da Guiné-Bissau.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos)

sábado, 28 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16998: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (5): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte II







O nosso colaborador assíduo do blogue, Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74): tem já mais de 110 referência no nosso blogue; ainda está no ativo, é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto, a publicar em duas partes, foi submetido ao blogue em 4 de janeiro de 2017]



O I CONGRESSO DO PAIGC EM FEVEREIRO DE 1964 NO SUL E A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA SAÚDE E DA INSTRUÇÃO LITERÁRIA, ANALISADA NA BASE CENTRAL (MORÉS) EM MARÇO DE 1964


II (e última) Parte


Um mês após a conclusão do I Congresso de Cassacá, na Frente Sul, os responsáveis da Frente Norte, Ambrósio Djassi [nome de guerra de Osvaldo Vieira; 1938-1974] e Chico Té [nome de guerra de Francisco Mendes; 1939-1978] tomaram a iniciativa de convocar uma reunião para o dia 21 de março de 1964, sábado, a realizar na Base Central [Morés] entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários [políticos] com o objectivo de estudar e discutir as novas fases do desenvolvimento da luta, e ao mesmo tempo para pôr todos os camaradas ao corrente das resoluções aprovadas na reunião de Cassacá.

No final da reunião do Morés foi elaborado o respectivo relatório, que foi remetido ao Secretário-Geral, e por este recebido em 4 de abril de 1964, onde se fez referência aos temas tratados, ao conteúdo de cada intervenção e ao nome de todos os responsáveis que nela tomaram parte, num total de cinquenta e seis elementos.

Eis os dez pontos da Ordem do Dia [dos Trabalhos]:



1. - Mudança de Táctica

2. - Criação de novas bases
3. - Recrutamento e treinos
4. - Política
5. - Disciplina Militar
6. - Alimentação
7. - Saúde
8. - Instrução literária
9. - Segurança e controle
10. - Ligação.



Como ponto extra foi abordado o “ataque ao Enxalé” e analisada a sua necessidade.

Considerando a extensão do documento, constituído por doze páginas A4 manuscritas, iremos abordar neste texto somente os pontos 7 e 8, relacionados com os assuntos sociais – saúde e educação –, aliás em conformidade com o exposto na introdução.

Esta opção é justificada pelo facto de termos vindo a tratar o tema da saúde utilizando as memórias e experiências vividas por médicos cubanos no apoio à guerrilha, cujos relatos são posteriores a este evento (dois anos; com início em junho de 1966).

Já reproduzimos ao altop deste poste a folha de rosto, ou 1.ª página, onde consta o que acima foi referido.


Ponto 7 - SAÚDE


{Ambrósio] Djassi
– Tudo o que já fizemos e pensamos fazer é devido ao estado normal da nossa saúde. Passo a palavra ao nosso camarada Simão Mendes [enfermeiro] para nos apresentar o relatório elaborado em colaboração com os outros camaradas da saúde.


Simão Mendes
– Digo aos camaradas que vou relatar 10 pontos principais conforme o relatório que fizemos:

1 – Medicamentos: - os medicamentos passarão a ser requisitados trimestralmente, requisitando só os medicamentos de maior consumo na Guiné, dando uma regalia aos guerrilheiros como ao povo. Requisitar materiais de pequena cirurgia o mais breve possível.

2 – Doentes para a fronteira: - mandar urgente para a fronteira todos os feridos ocasionados por ferimento de balas uma vez que não há já recursos locais para a sua extracção. Formar um grupo de transporte de doentes ou feridos graves para a fronteira. Esse grupo será nomeado pelo responsável pela Zona Norte.





3 – Preparação de Ajudantes de enfermagem para outras bases: - serão escolhidas meninas e rapazes para receberem noções de socorros urgentes e de enfermagem.

4 – Escala de Serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária.

5 – Ginástica, sua necessidade e inconveniência: - a ginástica continuará a ser feita como dantes, isto é, todos os dias principalmente para os recém-chegados.

6 – Visitas guiadas às bases: - deslocação quinzenalmente às bases; nesta visita o enfermeiro escolhido procurará colaborar com o povo estudando assim as doenças de 1.ª instância. Serão construídas duas barracas para consultas.

7 – Noções ligeiras de primeiros socorros aos guerrilheiros: - fazendo parte da guerrilha é lícito que todos os guerrilheiros tenham noções de primeiros socorros. Oferecemos a nossa boa vontade neste momento.

8 – Higiene e sua conveniência: - fazendo parte da saúde, para evitar certas doenças, devem todos os guerrilheiros seguir os princípios da higiene do vestuário e limpeza de barracas.

9 – Escala de serviço e sua conveniência: - far-se-á uma escala de serviço, nomeando cada enfermeiro para a sua responsabilidade diária. (Este ponto é igual ao 4).

10 – Colaboração mútua em tudo que diga respeito ao nosso movimento com o povo e guerrilhas: - colaborar com a nossa população explicando a todos as inconveniências que o abuso excessivo dos medicamentos pode ocasionar. Paciência absoluta, dando ao povo explicações do emprego de medicamentos.




Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo com as proposições dos camaradas da saúde e resolveram criar forças para garantir a execução do que está acima indicado.



Ponto 8 - INSTRUÇÃO LITERÁRIA



Djassi
– Depois de tudo devemos começar a pensar na instrução dos guerrilheiros e do povo. Hoje podemos dispor de alguns livros apanhados e que já empregamos para o mesmo fim. Os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases para começarem a instrução literária.

Chico Té
– Devemos fazer esforços para pôr isso em prática o mais breve possível apesar de poucos meios do que nos dispomos actualmente.


Luís Gomes – Neste ponto posso dizer que é muito importante para a nossa vida e o desenvolvimento da nossa terra. A instrução não é só para crianças mas sim também para adultos.






Resolução:


Todos os camaradas estiveram de acordo neste ponto, e os camaradas que vieram de Bissau vão ser distribuídos nas bases a fim de começar com a instrução literária. Devido à falta de material escolar solicitamos aos dirigentes superiores do Partido o envio de algum material neste campo.


Citação:
(1964), "Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40112 (2016-12-28)


Fonte (,com a devida vénia...):

Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 04613.065.157
Título: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central.
Assunto: Relatório da reunião entre os responsáveis de bases e os sub-comisssários da Base Central, assinado por Chico Té (Francisco Mendes) e Ambrósio Djassi (Osvaldo Vieira). Ordem do dia: mudança de táctica, criação de novas bases, recrutamento e treinos, política, disciplina militar, alimentação, saúde, instrução literária, segurança e controlo e ligação. Ataque de Enxalé.
Data: Sábado, 21 de Março de 1964.
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste).
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Documentos


Em função do exposto, e em jeito de conclusão, podemos dizer que a organização do PAIGC, passados quinze meses do início da sua luta armada, ainda era excessivamente precária, onde os adjectivos: instável, delicada, insegura, débil e pobre, enquanto sinónimos, completam o seu quadro mais global.

Mas poderia ser diferente para melhor? Não creio… pois tudo na vida é processo e projecto.

Obrigado pela atenção.
Um forte abraço de amizade e votos de boa saúde.
Jorge Araújo.
4jan2017.

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Nota do editor:

Último poste da série 26  de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16991: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (4): O I Congresso do PAIGC em fevereiro de 1964, em Cassacá, a sul de Cacine, e a importância social da saúde e da instrução literária, analisada na base central do Morés em março de 1964 - Parte I

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4137: PAIGC: Congresso de Cassacá, 13-17 Fev 1964: A 15 km, a sul de Cacine: o depoimento de Luís Cabral (Carlos Silva)

PAIGC > Documentos > "Amílcar Cabral e outros companheiros, a bordo de uma canoa, a caminho do I Congresso do PAIGC, Cassacá, 1964. Fotografia de Luís Cabral. [05359.000.020] · Documentos Amílcar Cabral (12/23)" (*).

Foto (e legenda): © Fundação Mário Soares > Dossiers >
Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Fotografias (com a devida vénia...)

Sublinhados a vermelho de Sul para Norte temos: 1 - ilha de Canefaque; ¸ 2 – Cassabetche; 3 – Campeane. O ponto representa Cassacá; 4 – Cameconde; 5 - Cacine .

Sublinhados a vermelho de Sul para Norte temos: 1 – Campeane; 2 – Campo, 3 – Cassacá no rectângulo; 4 - Cabonepo.

Infografia: Carlos Silva (2009).


1. Mensagem do Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim e Jumbembem, 1969/71), que esteve recentemente na Guiné-Bissau na qualidade de Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga:


Amigos
Luís, Briote e Carlos Vinhal

A propósito do Post 4122 (*), sobre a localização onde foi realizado o 1º Congresso do PAIGC, segue uma transcrição de excertos do Livro de Luís Cabral – Crónica da Libertação (LIsboa: O jornal, 1ª edição 1984(, da qual resulta de forma inequívoca onde foi efectivamente realizado o Congresso, que foi a sul de Cacine em em Cassacá.

Podem, assim, publicar o artigo, enquanto está a passar o mencionado Post 4122, para melhor esclarecimento dos nossos camaradas bloguistas e outros leitores do blogue.
Com um abraço

Carlos Silva



Assunto - Local e realização do “Congresso do PAIGC algures nas proximidades de Cassacá”

A propósito do Post 4122 (**), sobre a realização do 1º Congresso do PAIGC realizado nos dias 13 a 17 de Fevereiro de 1964 no Sul da Guiné e que erradamente vem indicado numa infografia, relativa à Operação Tridente (In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso: Os Anos da Guerra Colonial, Volumne 5: 1964 - Três teatros de operações. Lisboa Quidnovi. 2009. 17), como tendo sido realizado num local também chamado Cassacá, na Ilha do Como.

Para melhor elucidação dos camaradas bloguistas e outros leitores, na verdade, o 1º Congresso do PAIGC teve lugar numa mata próxima da tabanca de Cassacá, situada a 15 kms a Sul de Cacine, junto à estrada que segue de Cacine a Campeane, entre Cabonepo (a norte) e Campo (a sul).

Para confirmar que de facto assim foi, não há nada como ir à fonte verdadeira e não errada, para no futuro não suscitar dúvidas, caso o erro acima invocado não seja corrigido de forma inequívoca e, como refere o José Colaço, para os nossos vindouros historiadores ou não, que venham a ter algum interesse em estudar o tema que é designado por “Guerra Colonial”, não sejam confrontados com uma situação errada, pois estou convicto que não foi intenção dos autores, que conheço pessoalmente, fazer passar tal mensagem deliberada e conscientemente, na medida em que deve ter havido um mero lapso.

Deste modo, sobre a realização e local do citado congresso, Luís Cabral, testemunha e protagonista do mesmo, no seu livro Crónica da Libertação, refere:

Antecedentes ao Congresso – Visita de Luís Cabral à zona de Quitáfine e Tabanca de Cassacá.

“… A primeira área visitada por mim foi a zona de Quitáfine que fazia fronteira com a República da Guiné. Foi em fins de 1963….. pág 154

… Depois deste encontro com as populações iniciámos a marcha para a base central desta zona, em Cassacá, que ficava a cerca de 30 kms da fronteira. Foi a minha primeira grande marcha… pág 155

… Em Cassacá, esperava-me o comandante do sector, Manuel Saturnino. Com 19 anos de idade, era um dos mais jovens chefes da guerrilha…. Pág 155

A sede do posto administrativo colonial estava em Cacine, pequeno centro comercial e porto para barcos de cabotagem. Em Cacine fora instalado o primeiro quartel das forças coloniais que, pouco antes da minha visita, e com o desenvolvimento da luta, tinham feito um novo acampamento no pequeno porto de Gadamael, mais ao norte….pág 156

… A base, ligeiramente afastada da tabanca de Cassacá, estava bem protegida por grandes árvores que também lhe asseguravam a frescura e a tranquilidade das florestas guineenses.

Antes da nossa luta, a penetração do homem em muitas florestas era proibida: consideradas sagradas segundo a tradição, e nelas viviam, os irãs ou deuses da floresta… pág 156

… A figura predominante da vida militar na base de Cassacá, era dum antigo cabo do exército colonial, a quem os camaradas chamavam de “Antigamente”… pág 157

… A visita a Quitáfine foi muito proveitosa para mim….

… Foi com certa pena que deixei a base de Cassacá e tomei o caminho de regresso… pág 158

… As informações recolhidas em Quitáfine, enriquecidas pelos combatentes chegados das frentes, levaram o Amilcar à conclusão de que era necessária uma reunião geral dos quadros responsáveis do Partido, para se poder discutir e aprofundar esta grave questão, de maneira a tirar dela todas as lições para o futuro.

Os camaradas aceitaram imediatamente a minha proposta para que a reunião se realizasse numa área libertada da Guiné, para que o seu impacto fosse maior junto das nossas populações…. Pág 161



- Face às informações e proposta de Luís Cabral foi deliberado a realização e local do Congresso - Fevereiro de 1964 deslocação para o local do fórum:

“… Preparámo-nos para a partida. Desta vez a viagem realizou-se numa embarcação a motor que havia pertencido a uma empresa colonial de Bissau e que, depois de desviada por militantes do partido, passou a chamar-se “ Unidade”.

Saímos de Boké, de maneira a chegar ao sector de Quitáfine de noite e podermos, já com a maré alta, desembarcar na ilha de Canefaque…pág 162

Às primeiras horas da noite, chegámos a a Canefaque. O barco acostou mesmo ao lado da pequena base encarregada da vigilância da costa. O chefe da base informou-nos, logo após o desembarque, que os responsáveis do Partido só nos esperavam no dia seguinte. Em presença do Amilcar, que pela primeira vez chegava àquele sector, todos falavam em voz baixa e com ar conspirativo…

Avisámos o chefe da base que queríamos seguir para Cassacá desde que a escolta estivesse pronta. Pág 162

… Estava uma bela noite de Fevereiro. Caminhávamos sem pressas. Envolvia-nos um silêncio tranquilizante, cortado de tempos a tempos pelo grito de um animal de mato. O Amílcar, o Aristides e eu íamos completamente distraídos, procurando andar aos passos cadenciados dos combatentes que nos precediam….pág 163

O porto de embarque para Cassabetche, não estava muito longe da base e, em pouco tempo, chegámos e sentámo-nos para esperar a canoa…pág 163

… Pouco depois vieram avisar-nos de que a canoa encontrava-se na outra banda. Precisamente porque só nos esperavam no dia seguinte….pág 163

… O Amilcar não gostou deste contratempo, que vinha provar uma falta de coordenação nos preparativos dessa importante missão…pág 163…


“ … O Renascimento do PAIGC

Andávamos a passo acelerado, quando, pouco depois, passávamos ao longo da tabanca de Cassabetche, a caminho de Cassacá… pág 164

… O nosso grupo ia aumentando à mediada que nos aproximávamos de Cassacá.. pág 164…

A pequena tabanca de Cassacá, destroçada pela aviação e ressurgida nas gentes que a habitavam, estava em festa! Viam-se pessoas saindo dos cantos da floresta, enquanto outras passavam na estrada e se detinham para ver e saudar o Secretário-Geral do Partido. Caminhávamos em direcção ao local onde ia realizar-se a nossa reunião, deixando a estrada e continuando por um pequeno trilho perfeitamente escondido pelas árvores. Ao aproximar-nos da base, o silêncio era impressionante. Os sons variados saídos habitualmente dos pontos onde se encontravam os homens da guerrilha com elementos do povo, tinham-se apagado completamente como por encanto.

Chegámos à entrada da base….

Depois desta saudação colectiva, o Amilcar, seguido do Aristides e de mim avançou em direcção aos camaradas vindos das várias zonas do país. O abraço do PAIGC, de cada um dos lados do ombro, marcou o reencontro, naquele canto libertado da nossa terra, do Secretário-Geral do Partido, com os jovens a quem confiara a grande responsabilidade de estar à frente das nossas populações, na primeira fase da luta pela independência, Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Chico Mendes e Rui Djassi, eram os principais responsáveis de entre todos esses combatentes. À parte Nino Vieira, que ainda não chegara, Vitorino Costa era o ausente, o único dos quadros superiores da guerrilha que tinha tombado na primeira fase da mobilização e preparação para a luta armada….

Pág 165

… O Amílcar foi reconduzido com grande ovação nas suas funções de Secretário-Geral do Partido.

Encontrávamo-nos no fim do terceiro dia de trabalhos, a 15 de Fevereiro de 1964… pág 174

… Às 6H00 da manhã do dia dezasseis, o Amilcar deu por terminados os trabalhos desta ultima sessão…pág 180

… Convencemo-lo a dar por terminados os inquéritos e a realizarmos a sessão de encerramento do Congresso naquela manhã, para podermos deixar Cassacá. Com efeito, a nossa reunião prolongara-se muito mais do que o previsto. A menos de 15 quilómetros do quartel de Cacine, perto da fronteira, onde o inimigo tinha vários agentes, era imprudente continuarem ali reunidos os principais responsáveis do Partido… pág 185

… À partida, o povo de Cassacá, os combatentes e os elementos da população que os acompanharam, todos gritavam com força e entusiasmo renovado, vivas ao PAIGC e ao seu Secretário-Geral, vivas ao I Congresso do nosso grande Partido…pág 187

In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição, 1984.


Vd também: Aristides Pereira, Guiné-Bissau e Cabo Verde – Uma luta, um partido, dois países – Notícias Editorial pág 172 a 176

Do atrás transcrito, resulta claramente que o designado “Congresso de Cassacá” foi realizado nas matas próximas da tabanca de Cassacá a menos de 15 kms a sul de Cacine.


Massamá, 3 de Abril de 2009

Carlos Silva

PS - Para se aperceberem da localização, inserem-se acima dois recortes dos respectivos mapas
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3354: PAIGC - Docs (1): Comunicado de 27 de Abril de 1964 sobre a vitória na batalha do Como (Amílcar Cabral)

(**) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4122: PAIGC, 1º Congresso, 13-17 Fev 64: Onde fica(va) Cassacá ? Não na Ilha do Como, mas a sul de Cacine (Luís Graça)

domingo, 15 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2948: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Manuel dos Santos, 'Manecas', um dos últimos históricos do PAIGC


Vídeo (4' 18''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação > Dia 4 de Março > Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé) > Excerto da comunicação de Manuel Santos (guineense, ex-comandante militar do PAIGC) (*): "Amílcar Cabral e a componente militar do PAIGC: achegas para a compreensão dos meandros estratégicos e tácticos da guerra de libertação nacional".

Sinopse: Neste microfilme, Manuel dos Santos começa por referir a difíceis condições em que arrancou a luta pela independência, liderada por Amílcar Cabral e o PAIGC: um país de 600 mil habitantes, com um território plano, sem montanhas, recortadado por inúmeros cursos de água, sem vias de comunicação terrestre, com uma multiplicidade de etnias, com uma população 99% analfabeta, sem consciência nacionalista, não permitia predizer o sucesso que a luta de guerrilha rapidamente alcançou a partir de 1963... Mais, diz taxativamente que "nenhuma guerra revolucionária foi iniciada em condições tão difíceis"...

Evoca a seguir o início da preparação da luta, com a instalação em Conacri do secretariado do PAIGC, em 1960, e o envio para a China, para formação política e militar, de uma primeira leva de jovens quadros dirigentes (entre eles, o 'Nino' Vieira). A luta armada começa no início de 1963, conduzind0 rapidamente à libertação de 15% do território (segundo a própria imprensa portuguesa, de 1964 - creio que o autor cita o jornal República, que não era propriamente um orgão de comunicaçãop social afecto ao regime de Salazar, pelo contrário estava ligado a alguns fracções da oposição).

Depois da mobilização dos indispensáveis recursos humanos, técnicos e fianceiros (o dinheiro, as armas e as munições vieram de fora; os homens foram recrutados, em condições difíceis, no interior...), o PAIGC é confrontado com os primeiros sucessos no campo militar, no sul e a na zona leste, ultrapassando as expectativas e as próprias estruturas organizativas do PAIGC, cujos dirigentes se viram desautorizados, nalguns casos e em certas zopnas, por pequenos senhores da guerra, transformados em déspotas, actuando por sua conta e risco, e que foram autores de abusos e até de "crimes abomináveis" contra a população sob o seu controlo...

O PAIGC vê-se assim obrigado a organizar o seu primeiro Congresso, em Fevereiro de 1964, em Cassacá, no sul, na região de Tombali. É aqui se definem as estruturas político-militares e a administração civil, subordinando-se os militares aos políticos. É também nesta altura que se criam as FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo). Os abusos e crimes são severamente julgados e punidos. Manuel dos Santos não o diz, mas terá havido julgamentos revolucionários e fuzilamentos em Cassacá...

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Nota de L.G.:

(*) Nota biográfica: Manuel dos Santos (Manecas), nasceu em 1942 em Cabo Verde. Recebeu formação militar em Cuba e na URSS. Foi o primeiro a aprender a manobrar os poderosos mísseis Strella, a arma que tantos problemas trouxe às NT. Um dos primeiros disparos ocorreu em 25 de Março de 1973 e resultou no abate do Fiat G91. A partir dessa data, a guerra nunca mais foi a mesma. A aviação deixou de bombardear a guerrilha com tanta regularidade e as evacuações passaram a ser mais difíceis. Depois da Independência foi ministro da Informação, dos Transportes e do Equipamento Social.

Fonte: Guiné, Ir e voltar - Tantas vidas, blogue de Virgínio Briote > 03/02/08 > PAIGC: Alguns dos protagonistas conhecidos > Manuel dos Santos

Vd. também poste de 14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (1): Guidage (João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74)

(...) "1 de Julho de 1974 – Encontro na zona da bolanha de Nenecó (junto da fronteira com o Senegal, a norte de Bigene) entre PAIGC e COP3.
"EM 011000JUL74, CMDT CE 199/E/70 QUECUTA MANÉ E SEUS COMISSÁRIOS POLÍTICOS DUKE DJASSY E MANUEL DOS SANTOS (MANECAS) ACOMPANHADOS DE ELEMENTOS ARMADOS DO PAIGC ENCONTRARAM-SE COM O CMDT, OFICIAIS E SARGENTOS DO COP3, NA REG. DA BOLANHA DE NENECÓ, ONDE FORAM DEFINIDOS NOS SEGUINTES TERMOS A SUA LINHA DE CONDUTA": (...)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Guiné 63/74 - P444: PAIGC: Armazéns do Povo (Jorge Santos)


Guiné > s/d > Região sob controlo do PAIGC > Um armazém do povo. Fonte: PAIGC.

Texto do Jorge Santos:

O PAIGC promove a criação dos Armazéns do Povo por decisão tomada no 1º Congresso de 1964.

O objectivo dos Armazéns do Povo, empresa geral de comércio de tipo estatal, era garantir o fornecimento de artigos de primeira necessidade à população das regiões libertadas e, por meio de troca, receber produtos agrícolas que deveriam em seguida escoar-se para o exterior, criando-se e desenvolvendo-se assim, progressivamente, a base de um comércio externo.

O número de Depósitos dos Armazéns do Povo passou de 6, em 1964, para 16, em 1969.

FONTE: PAIGC - História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde. Porto: Edições Afrontamento. 1974