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sábado, 16 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25279: Os 50 anos do 25 de Abril (2): O meu primo Luís Sacadura, furriel miliciano, natural de Alcobaça, hoje a viver nos EUA, estava lá, no RI 5, Caldas da Rainha, no 16 de marco de 1974, e mandou-me fotos dos acontecimentos (Juvenal Amado)


Foto nº 1 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Posto com Reforço.


Foto nº 2 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Capitão Virgílio Varela,  um dos comandantes da revolta


Foto nº 3 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Preparados para defender o quartel


Foto nº 4 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Oficiais revoltosos


Foto nº 5 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Junto à porta de armas: tempo de incerteza (i)


Foto nº 6 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Junto à porta de armas: tempo de incerteza (ii)


Foto nº 7 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > 
Junto à porta de armas: tempo de incerteza (iii)


Foto nº 8 >  Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > O quartel já cercado pelas forças governamentais


Foto nº 9 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Jipe com parlamentar governamental, o brigadeiro Pedro Serrano


Foto nº 10 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Pelo aspecto do brigadeiro,  já se estava no capitulo das ameaças. (A imagem original tem um defeito de revelação ou de exposição, que procurámos corrigir.)


Foto nº 11 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Serviço audiovisuais


Foto nº 12 > Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Furriel mil Luís Sacadura, meu primo  que me enviou as fotos dos EUA.

Fotos (e legendas): © Luís Sacadura / Juvenal Amado (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Reproduzimos aqui a mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º cabo cond auto-rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de maio de 2011, publicada no poste P8359, de 1 de junho de 2011 (*):
 
O 16 DE MARÇO DE 1974 EM FOTOS

O meu Batalhão estava no Cumeré já a aguardar embarque quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha.

Foi com natural apreensão que essas notícias chegaram até nós, pois, já com 27 meses de comissão, os nossos receios viram eventuais atrasos no nosso embarque resultante da situação que se vivia na Metrópole.

Ainda foi alvitrado no gozo, por alguém, que quando desembarcássemos nos seria distribuída novamente as G3 e ainda acabávamos na Serra da Estrela.

Quanto a mim juntava a essas preocupações o facto de o meu primo direito Luís Sacadura, que era furriel miliciano, e o Caetano, que era alferes miliciano, os dois de Alcobaça, estarem nessa altura a cumprir serviço militar no referido quartel e que decerto se teriam envolvido nos acontecimentos, de que resultaram à volta de 200 prisioneiros.

O meu primo já estava em liberdade quando desembarquei em 4 de Abril de 1974, mas o Caetano só o vi depois do 25 de Abril quando foi solto.

Hoje quem lê sobre os acontecimentos os nomes de militares ligados à Guiné, são prova de que o facto terem sido lá combatentes, assumiu um peso muito grande tanto neste levantamento como no 25 de Abril, que levaria por diante o derrube do regime.

Por último, as fotos foram-me enviadas dos EUA pelo o meu primo com a devida autorização para as publicar (...)

2. Comentário do editor LG (*):

(i) Recebemos do Juvenal Amado a seguinte mensagem, com data de 27 de maio de 2011:

"Carlos: Recebi fotos do 16 de Março 1974 a quando do levantamento das Caldas da Rainha. As mesmas foram-me enviadas por um primo meu a morar nos USA que participou na referida tentativa.

"Não sendo assunto directamente associado com a Guiné, venho então saber se ao blogue interessa o assunto. Fico a aguardar a tua opinião e se ela for um sim escreverei alguma coisa para acompanhar as fotos." (...)


(ii) A nossa resposta dos editores só podia ser sim, sem quaisquer reservas... Independentemente da "leitura" dos acontecimentos, e da contextualização do 16 de Março de 1974, seria no mínimo uma "pena" que estas fotos, tiradas pelo Luís Sacadura, de grande interesse documental, e até de boa qualidade estética (traduzindo o momento de grande tensão dramática que foi esse dia), fossem um dia parar a um "caixote do lixo" americano...

Obrigado, Luís ("God Save You!"), obrigado, Juvenal... Tudo o que diz respeito à nossa Pátria e à nossa História, nos interessa, embora com particular enfoque na guerra da Guiné (1961/74)... Mas onde começa e acaba a "guerra da Guiné"? Para nós, que ainda estamos vivos, e cultivamos a arte e o prazer da memória, ela ainda não acabou de todo... 
 
(iii) Cinquenta anos depois do 16 de março de 1974, e do 25 de Abril, todas estas fotos são preciosas (**). O 16 de Março não teve um grande fotógrafo à altura como o Alfredo Cunha (que fez na madrugado do 25 de Abril fez a reportagem da sua vida)... 

São fotos, amadoras, que merecem ser republicadas. Aliás, temos escassas referências no blogue ao "16 de Março" e a imprensa da época, devido à censura, não pôde dar informação detalhada sobre o ocorrido...

Três dias depois os leitores do "Diário de Lisboa", como eu (na época), ficaram a saber, por uma pequena notícia da SEIT (antigo SNI) que tinham  sido presos 33 oficiais (e não 200, como dizia alguma imprensa estrangeira) "implicados na insubordinação verificada no Regimento de Infantaria nº 5"... (Repare-se que nem a RTP Arquivos tem imagens do cerco ao RI 5)...

3. O historiador e biógrafo de Spínola, Luís Nuno Rodrigues, escreveu: 

"No rescaldo do episódio, cerca de duas centenas de militares são presas, entre ele os membros do MFA mais próximos do general António de Spínoala, como Almeida Bruno, Manuel Monge, Casanova Ferreira, Armando Ramos e Virgílio Varela" (...). 

E mais adianta: 

"O '16 de Março'  tinha sido, por conseguinte, uma tentativa algo atabalhoada da 'ala spinolista' do MFA de fazer despoletar um movimento para o derrube do regime e para a entrega do poder ao general. 

"A acção fora em grande parte motivada pela tomada de posição de algins oficiais do CIOE de Lamego (que acabariam por não sair do quartel), pelas atitudes de dois antigos oficiais de Spínola na Guiné (Leuschner Fernandes e Carlos Azeredo) e pelo impeto dos oficiais oriundos de milicianos do RI5  das Caldas da Rainha". (Fonte: Excertos de "Spínola: biografia",  Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010, pág. 236).




Diário  de Lisboa, edição de terça feira, 19 de março de 1974, pág, 1
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Notas do editor:

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24298: Notas de leitura (1580): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Maio de 2023:

Queridos amigos,
Sinto-me agradecido à probidade e incisão da narrativa forjada por José Matos e Zélia Oliveira, penso que este ensaio de 200 páginas possui a matéria fundamental dos acontecimentos ocorridos entre fevereiro e abril ao nível do regime, se alguma dúvida subsistisse quanto à força motriz que desencadeou o 25 de Abril, aqui se dá pleno esclarecimento. É evidente que subsistem dúvidas, designadamente quanto ao pensamento de Caetano em ganhar tempo para resolver o problema colonial, a conjuntura mundial alterara-se profundamente em 1973, desapareceu seguramente muita documentação privada de Caetano. Fui condiscípulo do seu secretário pessoal, Alexandre Carvalho Neto, que desde a madrugada de 25 de Abril incinerou na residência de S. Bento documentação, como aliás veio esclarecido nos jornais dos dias seguintes. Nunca se apurou o que ficou reduzido a cinzas. Muitos anos mais tarde, encontrei o Alexandre na Av. da República e pedi-lhe encarecidamente que deixasse um documento sobretudo quanto fora incinerado, estava em seu poder uma revelação histórica seguramente de grande significado. O Alexandre já faleceu e desconheço inteiramente se cumpriu a promessa que me fizera.

Um abraço do
Mário



Os últimos meses do Estado Novo, como a guerra colonial fez baquear um regime (3)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", Guerra e Paz, Editores, 2023, por José Matos e Zélia Oliveira, o primeiro investigador em História Militar, a segunda, jornalista e com uma tese de mestrado sobre a crise final do marcelismo. Estão aqui registados numa narrativa que prende o leitor do princípio ao fim os três últimos meses que antecederam o 25 de Abril. Basta ver a bibliografia para perceber que os autores consultaram centenas de documentos de arquivos nacionais e estrangeiros, temos aqui um olhar sobre aquele que terá sido o período mais tumultuoso do marcelismo, aqui se registam os principais ingredientes que conduziram ao seu colapso.

No dia seguinte à última remodelação ministerial, ocorre a chamada revolta nas Caldas, que teve na sua origem, e num quadro já de grande instabilidade nas Forças Armadas, a organização atabalhoada de uma marcha sobre Lisboa que acabou única e exclusivamente por contar com um contingente do Regimento de Infantaria 5, os oficiais descontentes quiseram mostrar uma posição de força. Como escrevem os autores, “o MFA não estava ainda em condições de apoiar uma revolta militar, dado que não existia ainda uma ordem de operações definitiva nem um programa político”. Nem Spínola e os oficiais que lhe eram afetos consideravam que ainda não era o momento adequado para qualquer ação, o que era correto, a polícia política já fazia vigilância de oficiais considerados revoltosos e tinha telefones sobre escuta. Também no quartel de Lamego se presumia haver movimento militar, o importante é que o ministro do Exército ordenou que todos os quartéis entrassem em prevenção rigorosa. A coluna das Caldas avançou em direção à capital convencidos de outras solidariedades. A três quilómetros de Lisboa serão notificados por gente amiga de que o golpe fracassara, nenhuma outra unidade tinha saído. Sufocada a revolta, o governo teve a ilusão de que tudo iria voltar a uma certa normalidade: “Para Caetano, o facto de ter sido apenas uma unidade militar a revoltar-se, e, para mais, por influência de oficiais externos à unidade, era positivo, assim como o facto de as restantes unidades terem obedecido às ordens do governo e de não ter havido agitação pública.” Mas há uma outra leitura, um reverso que contará para o plano de operações do 25 de Abril, Otelo pôde constatar a resposta improvisada ou a tamancada do governo e ficou com a convicção que “uma ação militar bem planeada e estruturada, com um comando centralizado venceria rapidamente qualquer resistência que o regime conseguisse mobilizar.

Os autores anotam igualmente o ceticismo do lado da oposição política portuguesa, o PCP publica um manifesto onde se lia que “o Governo e o regime não cairão por si próprios nem tão pouco por ação de umas dezenas de oficiais do exército, mesmo que corajosos e patriotas. A sublevação do 16 de março mostra-o mais uma vez”. Em 24 de abril, durante um jantar em Bona com elementos do Partido Social Democrata alemão, o ministro das Finanças disse a Mário Soares que a ditadura portuguesa estava para durar: “O Governo alemão tem informações da nossa embaixada em Lisboa, dos nossos serviços secretos, no âmbito da NATO, e informações fidedigna da CIA e dos ingleses. Todos os nossos informadores nos asseguram que a ditadura portuguesa está de pedra e cal e para durar.” Mário Soares estava convencido do contrário.

Persistem, quanto a atuações desencadeadas neste período, perguntas que ainda não obtiveram uma resposta cabal. É o caso da missão que Rui Patrício delegou no então cônsul em Milão, José Manuel Villas-Boas, para ir a Londres falar com representantes da guerrilha do PAIGC. A iniciativa deste encontro terá partido de diplomatas ingleses da embaixada britânica em Lisboa. Patrício consultou Caetano e este autorizou a ida de um emissário português à capital britânica. “Patrício explicou a Villas-Boas que Portugal estava a perder a guerra na Guiné perante uma guerrilha fortemente armada com mísseis terra-ar, e que era necessário encetar conversações com o PAIGC, que deviam ser mantidas no maior segredo. Villas-Boas levava consigo uma oferta de independência da Guiné-Bissau em troca de um cessar-fogo, mas sem referir datas específicas.” É sabido como tais conversações pressuponham outras posteriores, veio, entretanto, o 25 de Abril. Inclino-me para a tese de que se tratava de uma tentativa de ganhar tempo, creio que Calvet Magalhães, então secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros e envolvido nesta missão secreta, terá razão quando diz que o governo português aguardava receber os mísseis Redeye para usar na Guiné, o regime não entendia que o PAIGC dispunha de trunfos, desde o reconhecimento à sua independência até à chegada de novo equipamento militar que iria introduzir a matriz da guerra convencional.

É nesta atmosfera ensombrada que cresce o receio de um golpe de extrema-Direita em Portugal, Caetano ainda profere uma última conversa em família e será ovacionado no Estádio de Alvalade no dia 31 de março, fora assistir a um jogo entre o Sporting e o Benfica. Os autores elaboram uma exposição bem detalhada sobre os preparativos do 25 de Abril, não conheço algo de tão preciso, conciso e esclarecedor. Dão igualmente notícia de tentativas de conversações em França, os aviões Mirage eram dados como cruciais. A 23 de abril realiza-se o último conselho de ministros. “A 24, desconhecendo a iminência do golpe que tinha lugar nessa noite, Rui Patrício encontra-se com o embaixador francês em Lisboa para tentar desbloquear a venda de 32 caças Mirage-3 que o governo português queria comprar para usar em África, principalmente na Guiné. Na conversa que teve com o embaixador, Patrício alegou que precisava dos caças na Guiné para responder a um eventual ataque aéreo vindo da Guiné-Conacri.”

Há vários jantares de Estado na noite de 24, não há nenhuma informação alarmante que chegue ao Governo, pelas dez da noite Otelo chega à Pontinha, são emitidos os dois códigos que sinalizam o início da operação, seguem-se as movimentações militares, há várias unidades ainda reticentes, prendem-se comandantes, cerca-se o Rádio Clube Português (RCP) e a RTP. Às 4h26 da madrugada, Joaquim Furtado lê o primeiro comunicado do MFA aos microfones do RCP, pouco depois Marcello Caetano é avisado destas movimentações, Silva Pais aconselha Marcello a refugiar-se no quartel do Carmo, telefonema que foi escutado na Pontinha, Otelo sabe para onde vai o chefe do governo. Seguem-se peripécias de todos conhecidas, não deixa de ser saborosa a referência aos protestos de uma mulher da limpeza dos correios no Terreiro do Paço irada com Salgueiro Maia, tinha de ir trabalhar e ele não a deixava passar. “Ó, minha senhora, vá para casa, hoje é feriado. E para o ano também.” Dá-se o cerimonial da entrega do poder, Caetano e outros governantes seguem para a Pontinha, a eles se juntará o almirante Tomás. E, por último, dá-se a tomada da PIDE/DGS, Spínola telefona a Silva Pais e exige a rendição, este coloca-se às ordens do novo poder, pela manhã, uma comitiva de oficiais e jornalistas entrou na sede da polícia política, os ocupantes são desarmados. “Ao contrário do que seria de esperar, os arquivos da polícia política que continham milhões de fichas foram encontrados aparentemente intactos. Nas mesas de alguns agentes também encontraram algumas revistas Playboy e Penthouse, que não se vendiam em Portugal. No gabinete de Silva Pais permaneciam três quadros fixos na parede com as imagens de Américo Tomás, Marcello Caetano e Salazar. São dadas ordens para os retirar e Silva Pais prontifica-se para tal, mas o de Salazar era mais difícil por estar mais alto. Diz-se que alguém foi então buscar um escadote e o retrato de Salazar foi removido. O fim do regime estava consumado.”

De leitura obrigatória.

José Matos
Zélia Oliveira
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24288: Notas de leitura (1579): "Rumo à Revolução, Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos e Zélia Oliveira; Guerra e Paz, Editores, 2023 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Guiné 62/74 - P10209: A minha CCAÇ 12 (26): Outubro de 1970: o jogo do rato e do gato... (Luís Graça)








Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Imagens da progressão de um força da CCAÇ 12 (três mais grupos de combate, 1º, 2º e 3º), no subsetor do Xitole, na época das chuvas (as quatro ou cinco primeiras imagens de cima);  uma helievacução no tempo seco, no subsetor do Xime (última imagem). 


Imagens de diapositivos digitalizados, do  valioso e magnífico álbum fotográfico do ex-fur mil at inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12 (1969/71), posto generosa e solidariamente à nossa disposição.  Natural de Leiria, é professor do ensino secundário, reformado,  é uma apaixonado jogador de damas e de xadrez, e vive em Setúbal. [Foto à direita, tirada nas margens do Rio Geba]


Fotos: © Arlindo Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*)





Fonte: Excertos de CCAÇ 12: história da unidade. Bambadinca, 1971, mimeog., pp. 40-41




B. Comentário de L.G.:

No poema "Esquecer a Guiné..." que publiquei em 16 de junho de 2005, na I Série do nosso Blogue, mas que remonta ainda ao meu tempo de Bambadinca (13 de fevereiro de 1971), há uma referência aos páras da CCP 123 e a esta situação de guerra (Op Boinas Destemidas, de 1 de outubro de 1970)...


(...) Os páras 
Que matam à queima roupa,
E ainda se dão ao luxo
De contar os impactes,
Fotografar
E armadilhar os cadáveres. (...)

Recordo-me muito bem de os ter visto, no regresso a Bafatá, com paragem em Bambadinca, nesse já longínquo dia 1 de outubro de 1970, aos nossos valorosos camaradas da CCP 123/BCP 12... Estavam em cima dos Unimog, perfeitamente alinhados, disciplinados, frescos, profissionais, exibindo algumas das armas apreendidas aos "turras"... Davam-me a impressão de terem vindo de um piquenique. Contrariamente ao que nos parecia habitual - eles costumvam ser helitransportados até às imediações do objetivo -, a Op Boinas Destemidas (*) era uma operação terrestre, a "penantes". Igual a tantas outras executadas pela nossa "tropa-macaca". Repare-se que eles partiram ainda noite, às 5h00, de Bafatá, vêm em coluna auto pela estrada alcatroada (e segura) até Bambadinca e continuam, para o Xime, na nova estrada em construção, mas ainda não alcatroada... Às 7h00 já vão a caminho do objetivo: têm a vantagem da surpresa: nem toda a população do Xime é de confiança; alguém ficar de noite noite no quartel do Xime é sinónimo de operação no dia seguinte... E os "camaradas" que estão no outro lado, ali mais próximos ao alcance do obus 10.5 do Xime - Gundagé Beafada, Ponta Varela, Poindon, Ponta do Inglês -, ficam logo de sobreaviso...


Tenho ideia que esta cena do regresso dos páras, com passagem por Bambadinca, se passa depois do almoço, a meio da tarde. Lembro-me que as forças da CCP 123 estavam estacionadas frente ao comando de Bambadinca, aguardando provavelmente a chegada do seu comandante que dever ter ido transmitir pormenores do sucesso da operação ao comando do BART 2917... Rapidamente começou a circular no quartel de Bambandinca a notícia de que os páras tinham surpreendido 7 combatentes do PAIGC, em círculo, sentados, encobertos pelo capim... a meio caminho da mítica picada, antiga estrada, Xime/Ponta do Inglês... Caíram em cima deles, fuzilaram-nos à queima roupa e trouxeram 7 Kalashnikov novinhas em folha... Os atacantes teriam tido tempo de contar os impactes (só num dos cadáveres teriam sido contado 27 tiros!), fotografar e armadilhar os cadáveres... 


Quem conta um  conto, acrescenta-lhe um ponto... Vejo, agora, ao fim destes anos todos, ao ler a versão (oficiosa) que é contada na História do BART 2917, que as coisas não se passaram exatamente assim, ou seja como dizia por aqueles dias o jornal da caserna... 


As baixas mortais entre o IN foram de facto sete, em princípio,  combatentes, e o armamento apreendido foram 2 metralhadoras ligeiras Degtyarev e 1 LGFog RPG-2... Não havia Kalashnikov... As Kalashnikov que eu vi, faziam parte do próprio equipamento dos páras, ou pelos menos de alguns dos seus graduados. Esta CCP 123, do BCP 12, estava na época estacionada em Bafatá ou Galomaro, já não posso precisar, ao serviço do COP 7 (criado em agosto de 1969, no subsetor de Galomaro). A Op Boinas Destemidas resultou num duro golpe para  o PAIGC na zona. No entanto, quase dois meses depois, a 26 de novembro de 1970, as NT sofreriam, na mesma região, a mais violenta emboscada de que havia até então memória, e de que resultaram 6 mortos e 9 feridos graves, no decurso da Op Abencerragem Candente. Falaremos dessa operação no próximo poste desta série. No setor L1, como no resto da Guiné, jogava-se o perigoso jogo do gato e do rato...


Outros factos de relevo, referentes à atividade IN, no mês de outubro de 1970, no setor L1, segundo a história do BART 2917:

(i) 6 out 1970: Grupo IN estimado em cerca de 10 elementos emboscou com LGFog e armas ligeiras durante 2 minutos em [XITOLE 9C9-92] um Grupo de Combate da CART 2716 sem consequências para as NT; perseguido por estas,  o IN retirou sem reagir; 


(ii) 13 out 1970:  Forças da CCP 123 realizaram a Operação Golfinho, patrulha de reconhecimento com emboscada, na região de Seco Braima [, subsetor do Xitole], sem vestígios nem contactos com elementos do IN;


(iii) 15 out 1970:  Grupo IN, não estimado, emboscou em Ponta Colia [,. subsetor do Xime,]  um Grupo de Combate da CART 2715 quando este montava segurança a uma coluna vinda do Xime, à sua aproximação; o IN utilizou LGFog e armas ligeiras; as NT reagiram imediatamente apoiadas pelo fogo de Mort 81 e Obus 10.5 do Xime, pondo-se o IN em fuga; as NT não sofreram quaisquer consequências;

(iv) 30 out 1970:   Grupo IN estimado em 5 elementos abriu fogo de armas ligeiras e uma LGFog da direcção de Madina Colhido, sobre o aquartelamento do Xime; as NT reagiram imediatamente ao fogo IN, após o que saiu um Grupo de Combate tentando capturar os elementos IN; julga-se que o IN quis espalhar a confusão dado que nesse momento se encontrava no porto do Xime uma LDG descarregando material e no aquartelamento se encontravam forças de escolta a uma coluna de Bambadinca.


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Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 30 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)

(**) Op Boinas Destemidas, 1 de outubro de 1970 > Companhia de Caçadores Paraquedistas 123 > Desenrolar da acção

Pelas 5,00 horas, iniciou-se o deslocamento das forças que intervinham na operação, em coluna auto, de Bafatá para o Xime. 

Às 7,00 horas iniciou-se a progressão, rumo Sudoeste, pelo Norte de estada Xime / Ponta do Inglês.

Durante a progressão, quando as NT se deslocavam a corta mato, foi detectada e levantada uma mina A/P, a sul da bolanha de Madina [XIME 3F1-45]. O engenho foi levantado, assim como a carga de reforço, constituída por 7 kg de trótil, uma granada de bazuca e duas granadas de canhão s/r. 

A progressão continuou pela estrada Xime / Ponta do Inglês cerca de 3 km, após o que continuou paralelamente à estrada, pelo lado Norte e a corta mato. Depois de percorridos 1,5 km foi encontrada uma picada bastante batida no ponto da cota 27. Fez-se a exploração do trilho encontrando-se peugadas muito recentes. 

Entretanto, às 11,00 horas, ouviram-se vozes a cerca de 200 metros do local onde as NT se encontravam, e na direcção noroeste. Iniciou-se imediatamente uma progressão cuidada para o local de onde provinham as vozes, tendo as NT conseguido detectar um acampamento IN onde se encontravam alguns elementos. Devido à sua despreocupação, permitiram uma aproximação das NT até cerca de 20 metros. 

O pessoal instalou-se em linha frontalmente ao acampamento, o qual não pode ser cercado devido à densidade da mata. As NT abriram imediatamente fogo tendo abatido diversos elementos IN dos que se encontravam mais próximos, enquanto os mais afastados se punham em fuga desordenada. 


A reacção do IN foi muito ligeira fazendo apenas uma “roquetada” e alguns tiros de armas ligeiras sem consequências para as NT. O objectivo foi imediatamente assaltado, tendo-se encontrado 4 elementos mortos e diverso material. 


Montada a segurança, feita uma busca ao local, encontraram-se, já na picada, mais 3 elementos IN mortos, apesar de gravemente atingidos se tinham posto em fuga. 


Depois de recolhido o material e de ter sido passada revista aos mortos, as NT retiraram em direcção ao Xime, onde chegaram cerca das 12,05 horas regressando posteriormente, em coluna auto a Bafatá. 

Resultados obtidos:


(i) Baixas infligidas ao inimigo 7 elementos IN abatidos. [Estes elementos usavam fardamento esverdeado];


(ii) Inimigos capturados: Nada;


(iii) Material e documentos capturados ao IN:

- 2 M/L DEGTYAREV, municiadas; 
- 1 LROCK RPG-2; 
- 5 fitas M/L DEGTYAREV; 
- 5 tambores de M/L DEGTYAREV 
- 5 granadas de LROCK RPG-2 
- 12 carregadores de KALASHNIKOV; 
- 900 munições de KALASHNIKOV; 
- 4 bolsas para carregadores de KALASHNIKOV; 
- Cantis, marmitas, fardamentos, etc. 
- Documentos diversos. 

Fonte: História do Batalhão de Artilharia nº 2917, de 15 de novembro de 1969 a 27 de março de 1972 (Bambadinca, 1970/72), pp. 62/63 [Versão digitalizada, melhorada e aumentada, da autoria de Benjamim Durães, s/l, s/d].

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8359: A rebelião das Caldas da Rainha, em 16 de Março de 1974, lembrada pelas fotos de Luís Sacadura

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de Maio de 2011:

Caros Luís, Vinhal, Magalhães, Briote e restante Tabanca Grande
Este texto, o poema, bem como as fotos são testemunho de um tempo que foi um pesadelo que todos vivemos com maior ou menor intensidade.

Um abraço e até para a semana em Monte Real e aos que não poderem estar na nossa festa um até sempre.
Juvenal Amado


 O 16 DE MARÇO DE 1974 EM FOTOS

O meu Batalhão estava no Cumeré já a aguardar embarque quando se deu o levantamento das Caldas da Rainha.
Foi com natural apreensão que essas notícias chegaram até nós, pois já com 27 meses de comissão, os nossos receios viram eventuais atrasos no nosso embarque resultante da situação que se vivia na Metrópole.
Ainda foi alvitrado no gozo por alguém, que quando desembarcássemos nos seria distribuída novamente as G3 e ainda acabávamos na Serra da Estrela.

Quanto a mim juntava a essas preocupações o facto de o meu primo direito Luís, que era furriel miliciano e o Caetano, que era alferes miliciano, os dois de Alcobaça, estarem nessa altura a cumprir serviço militar no referido quartel e que decerto se teriam envolvido nos acontecimentos, de resultaram à volta de 200 prisioneiros.

O meu primo já estava em liberdade quando desembarquei em 4 de Abril, mas o Caetano só o vi depois do 25 de Abril quando foi solto.

Hoje quem lê sobre os acontecimentos os nomes de militares ligados à Guiné, são prova de que, o facto terem sido lá combatentes, assumiu um peso muito grande tanto neste levantamento como no 25 de Abril, que levaria por diante o derrube do regime.

Por último as fotos foram-me enviadas dos EUA pelo o meu primo com a devida autorização para as publicar.


ESTAR VIVO E NEM PODER PENSAR

As paredes estreitam-se
Formas estranhas e bizarras deslizam
A boca sabe a qualquer coisa orgânica
As mãos tacteiam um rosto desconhecido
A pernas não lhe pertencem
Os braços não lhe obedecem

Gritos ecoam pelos corredores
Na cabeça os pensamentos baralham-se
Não quer pensar em nada
Mas a vida passa-lhe em frente
É melhor não pensar em nada
Quando pensamos ficamos transparentes

O pensamento lê-se
O nosso cérebro projecta-o
Deixa-nos nus e indefesos
Noites de gemidos e silêncios
Alguém arreganhará os dentes
Já o tinham avisado que pensar é perigoso!

Falou? Não Falou?

Quando e se sair dali;
Andará cuidadosamente
Sentirá um arrepio em cada esquina
Não se olhará nas montras
À noite ficará de olhos abertos
Qualquer ruído será um sobressalto

Tentará parecer que nada aconteceu
Beijará sua mulher em privado
Nela saciará a sua sede
Responderá aos filhos que esteve doente
Não haverá escândalos nem choros
Voltará mais tarde à luta
Todos fingirão não saber
E não ousarão sequer pensar .

Juvenal Amado



O quartel das Caldas já cercado

Jeep com parlamentar governamental que será o Brigadeiro Pedro Serrano

Pelo aspecto já se estava no capitulo das ameaças

Preparados para defender o quartel

Posto com Reforço.

Tempo de incerteza

Oficiais revoltosos

Capitão Varela um dos comandantes da revolta

Luís Sacadura que me enviou as fotos

Serviço audio-visuais

Fotos: © Luís Sacadura (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8306: Blogpoesia (148): A vida e a morte na ponta de uma vara (Juvenal Amado)