Governador-geral Manuel Sarmento Rodrigues (1945-1949) [, foto acima, cortesia da Revista Militar].
(Continua)
1. "Em bom português nos entendemos"... já em 1948, quando era governador da Guiné (então Portuguesa) o capitão de fragata Sarmento Rodrigues. Foi com ele que se fez um primeiro esforço sério para grafar os topónimos (nomes geográficos) da Guiné, através da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948... Ainda hoje, há um pequena "Babel linguística" no nosso blogue, quando escrevemos alguns nomes de terras por onde passámos e que nos são familiares, dolorosamente familiares, nalguns casos.
Por exemplo, deve escrever-se Guileje e não Guilege ou Guiledje... Guidaje e não Guidage.. Bajocunda e não Badjucunda... . Xime e não Chime... Copelão e não Cupelom ou Cupilão ou Pilão... Sinchã e não Sintchã... Sare e não Saré... Nalguns casos, ficaram consagradas grafias erradas como Bafatá (que deveria ser Báfata)...
As cartas geográficas seguiram esta orientação de "aportuguesamento" dos nomes geográficos da Guiné. No nosso blogue (, que é escrito, em geral, em Português europeu...) devemos seguir esta "normalização" dos nomes geográficos da Guiné que conhecemos.... A "crioulização" do português da Guiné.Bissau é outro problema (complexo e delicado...) sobre o qual não nos vamos debruçar agora... Na dúvida, perguntamos ao Ciberdúvida da Língua Portuguesa...
Até 1948, as tropelias linguísticas nesta matéria (grafia dos nomes geográficos da Guiné) era confrangedora. Basta ler um folheto como "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos (Bragança, Tipografia Académica, 1937, c. 97 pp.) que publicámos no nosso blogue. Cite-se alguns nomes: Gábu, Xôroenque, Sáfim, Gêba, Gade-Mael, Xôro, Bacerél, Sozana, etc.
Obrigado ao nosso amigo Armando Tavares da Silva, especialista da história político-militar da Guiné (1878-1926) que nos fez chegar cópia desta portaria e de alguns dos seus anexos (que vamos publicar em próximo poste).
Aqui fica a mensagem, de ontem do nosso amigo Armando Tavares da Silva:
Luís,
Enviei por WeTransfer 14 páginas da "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues.
Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu. Teixeira Pinto existia e era uma Vila.
Quanto a Portugal, havia uma povoação na área de Bolama e uma fulacunda. A do régulo Bacar Dikel deve ser esta.
Gabú era uma circunscrição e Nova Lamego uma Vila.
Quanto a Aldeia Formosa esta aparece como uma fulacunda, e Quebo outra fulacunda, aparecendo também como povoação na região de Catió (páginas não enviadas).
Curioso é ler o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e as normas adoptadas para a escrita dos nomes geográficos.
Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula. Entre elas notei a existência de uma Sinchã Comandante, outra Sinchâ Sarmento e (entre muitas outras) uma Sinchã Marío (com acento agudo!?).
Espero que isto anime a discussão...
Abraço
Armando
______________________
Nota do editor:
Último poste da série > 3 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17819: Historiografia da presença portuguesa em África (95): A intriga política na Guiné, 1915-1917 (Armando Tavares da Silva, historiador)