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segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19980: 15 anos a blogar desde 23/4/2004 (11): quando os "artilheiros" davam lições aos "infantes", habituados a comer e a calar... (C. Martins, alf mil art, cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 >  A saída do obus 14, de noite. Foto espetacular do  ex-alf mil médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007.

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "infantes" e de "artilheiros" (*)... 

O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , alf mil art, comandante do 23º  Pel Art, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, periférico, - não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas e profissionais,  que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe; (v) nem muito menos gosta que a gente lhe mostre a cara ou o use o seu nome profissional.. Mesmo assim tem 27 referências no nosso blogue.

Em contrapartida, é (ou foi) leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador quase diário, há alguns anos atrás, dos nossos postes, e frequentador dos nossos encontros nacionais (, já não foi aos dois últimos, o de 2018, por razões imprevistas de saúde...). É um profundo conhecer da Guiné,  onde depois da independendência fez voluntário como médico de uma ONG, enfim, é um verdadeiro amigo do povo guineense... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue...

Já em tempos lhe transmitimos que tínhamos saudades das suas "lições de artilharia para os infantes", da sua boa disposição, do seu sentido de humor de caserna, da sua saudável irreverência, enfim, dos seus comentários, por vezes desconcertantes,  mas sempre certeiros, ou não fosse ele um artilheiro e, para mais, o último artilheiro de Gadamael!...Sabemos que alguns não lhe perdoaavam esse pequeno detalhe do seu currículo, mas a verdade é que alguém tinha que fechar a porta da guerra... E em Gadamael coube-lhe a ele, que nem sequer foi voluntário para a tropa, era dirigente estudantil quando foi apanhado pela "ramona"...

Será sempre aqui lembrado como um bom contador de histórias, com grande  sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, que ele se dignou partilhar connosco, seus camaradas da Guiné...  Enfim, um "bravo da Guiné"!

Esta história que (re)publicamos a seguir,  é uma verdadeira lição de um "artilheiro", para os pobres coitados ds "infantes" que já cá, na metrópole, nos quartéis de Norte a Sul, comiam e calavam... Já nessa altura perguntavamos aqui: foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores como os da justiça, equidade, liberdade, integridade, honestidade, coragem moral, patriotismo ?...

Espero que o C. Martins nos leia (ainda) e se sinta honrado com a republicação desta história  que é também uma forma singela de o associarmos às  discretíssimas comemorações dos quinze anos do blogue de todos nós (**)... Não sei se ele já se reformou, se sim (, mesmo que médico nunca arrume o estetoscópio e dispa a bata), acho que está na altura de ele entrar por aí adentro, na nossa Tabanca Grande, de mãos nos bolsos, a assobiar e dizer: - Rapaziada, finalmente cheguei!

2. Lições de artilharia para os infantes > Quando a gente nem sempre come e cala...

por C. Martins (***)

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa. Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo. Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico. 

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.
Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa, a carne praticamente tinha-se evaporado!.

- NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso, seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:

- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde.

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis, com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C. Martins

______________

Notas do editor:



sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16685: In Memoriam (270): Vasco Pires (1948-2016): missa do 7º dia, amanhã, 5, sábado, às 19h00, na igreja matriz de Arcos de Anadia, Anadia



Brasil , Bahía, Porto Seguro > Novembro de 2013 > O Vasco Pires com o seu amigo e camarada, Arménio Cardoso, da CART 6252/72, Os Indiferentes (Gadamael, 1972-74)

Foto (e legenda): © Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(...) "Na semana passada recebi a honrosa visita do meu amigo e nosso camarada Arménio Cardoso - CART 6252/72, que também bebeu das 'águas escuras e amargas' do Rio Sapo. Lembrando quantos dos nossos por lá ficaram e outros tantos voltaram mutilados no corpo e/ou na a<lma, tivemos pois que concluir que somos todos privilegiados sobreviventes.

Há tempos ouvi o depoimento de um membro da E Company, 506 Infantry Regiment (United States), do tão mediatizado Band of Brothers, dizia ele que muitas décadas depois, nas frias noites do rigoroso inverno aqmericano, quando ia para a cama, falava para a esposa:
- Ainda bem que não estou em Bastogne!

Eu também, sem fazer comparações, claro, no fim desses dias em que a vida parece "Madrasta", penso:
- Ainda bem que não estou em Gadamael." (...)






Vasco Pires (1948-2016): notícia necrológica








BI de cidadão nacional do Vasco Pires

1. Celebra-se amanhã, na Anadia, dia 5,  sábado, pelas 19h00, missa  do 7º dia em honra da memória do nosso querido camarada Vasco Pires (Vilarinho do Bairro, Anadia, 15/6/1948 - Porto Seguro, Baía, 31/10/2016). (*)

O Vasco, que vivia no Brasil desde 1972, deixa 3 filhos, Mónica, Vasco e Catarina Pires. Tinha ainda a irmã, Isabel, a residir em São Paulo.

O elemento de contacto é o seu afilhado, Pedro Araújo, natural de Anadia, que nos deu a triste notícia e que já nos agradeceu também as "elogiosas palavras a respeito do Vasco" (**)... E acrescenta: "Foi ele que me enviou sempre os links para os postes que enviava para o blog da Tabanca Grande".

Páginas do Facebook dos familiares mais próximos:

Mónica Pires,  filha (deixou de ser atualizada desde 25/11/2015);

Isabel Pires, irmã.

Pelo que sabemos o Vasco terá morrido, de morte súbita,  em casa, em Porto Seguro, Bahía, de complicações respiratórias, e na sequência de uma gripe. O corpo foi cremado em Porto Seguro e as cinzas enviadas para São Paulo. 

À família enlutada, aos amigos e aos camaradas mais próximos, vai o nosso abraço solidário. 

O editor LG


2. Convidam-se os nossos leitores a visitar a sua série "Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires)", de que se publicaram, 16  postes, o último dos quais há 2 anos (****). 

Era  membro da nossa Tabanca Grande desde  27/9/2012 (*****). Era um querido camarada da diáspora lusitana, como ele próprio se nos apresentou:

(...) "Prezado Luís Graça: fico muito grato pela cordial acolhida, bem como pelo convite. Sou um desses milhões da multicentenária diáspora Lusitana. Em 1972 saí de Portugal, e por aí ando até esta data. Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blog; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blog, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadas de distância." (...)

Era seu editor, sempre dedicado e delicado, o Carlos Vinhal a quem o Vasco tratava por "padrinho".

______________





Postes anteriores:

18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado

11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

15 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

11 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11929: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (12): Fotos do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva em confraternização com oficiais e sargentos sob o seu comando

21 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11858: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (11): Terra firme e o pântano - Dois grandes líderes, Cap Op Esp Fernando Assunção Silva e ex-Cap Art.ª António Carlos Morais Silva

25 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11627: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (10): Perguntas sem resposta

23 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11302: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (9): INGORÉ... ou os inusitados caminhos da memória

16 de março de 2013 &amp;gt; Guiné 63/74 - P11262: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (8): Terei estado no "bem-bom de São Domingos"?

9 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11223: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (7): Fotos de um líder, do Cap Op Esp Fernando Assunção Silva

3 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11185: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (6): ...onde também tem lealdade, dedicação e competência

24 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11148: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (5): "Alfero di canhão"

31 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

14 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (3): A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva, 1º comandante da CCAÇ 2796, e meu amigo~

16 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10535: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (2): Como fui parar a Gadamael, por acção do meu pai e reacção do 'Paizinho' ...

13 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10525: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (1): Uma história do artilheiro de Gadamael, à beira da peluda, no 'bem-bom' de São Domingos...

(*****) Vd. poste de 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10443: Tabanca Grande (362): Vasco Pires, ex-Alf Mil, CMDT do 23.º Pel Art.ª (Gadamael, 1970/72)

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)


Vasco Pires, natural de Anadia, ex-cmdt do 23.º Pel Art (Gadamael, 1970/72), emigrante no Brasil desde 1972. Morreu hoje em Porto Seguro.


1. Mensagem de Pedro Araújo. com data de hoje, às 19h24:

Caro Sr. Luis Graça.

Faleceu em Porto Seguro esta noite (31/10/2016),  de enfarte, seu camarada Vasco Pires. Como sei que era participante em seu blog,  sinto-me no dever de o informar do sucedido.

Seu afilhado.
Pedro Araújo.


2. Comentário do editor LG:

Meu caro Carlos Vinhal, editor do Vasco Pires:

Acabo de ser surpreendido com a notícia da morte, súbita, do nosso camarada e amigo Vasco Pires, "teu afilhado" (como ele gostava de dizer, com delicadeza, ternura e bom humor, considerando que tu eras o"padrinho" dele no blogue, porque o acolheste e o apresentaste à Tabanca Grande e lhe editas a sua série "Fantasmas... e Realidades do Fundo do Baú")...

Vamos fazer de imediato um poste, "in memoriam"... Se quiseres e puderes acrescenta qualquer coisa mais da tua lavra... Recordo que ele era um apaixonado pelas suas raízes bairradinas  e que fora para o Brasil em 1972, depois do regresso da Guiné... 

Mas não temos grandes dados biográficos sobre ele: família, amigos, negócios... Mas, ao certo ao certo em que concelho da região da Bairrada nasceu: Anadia ? Águeda ?...Sei que estudara em Coimbra, mas desconheço a vida dele no Brasil, que terá começado em São Paulo. Não sabemos o ano exato em que nasceu,  talvez entre 1945 e 1948... Sabemos o nome da sua companheira, Maria Helena, psicóloga clínica...

A trágica notícia é dada pelo afilhado, Pedro Araújo, a quem agradeço, comovido, o seu gesto (que é também de gratidão e apreço pelo seu padrinho e pelos seus camaradas de armas)...

Sabemos que morreu de morte súbita, em Porto Seguro, mais perto das suas raízes...Foi aqui que em 1500 os portugueses aportaram, quando chegaram às terras do Novo Mundo. Porto Seguro, a 4000 km da sua Gadamael, na região de Tombali, Guiné-Bissau, onde foi um brioso artilheiro, comandante do 23º Pel Art, entre 1970 e 1972; e a 7000 mil da sua Bairrada querida, e do seu Portugal sofrido...

Estou desolado, estamos desolados, tu e eu. Ambos testemunhamos que o Vasco era uma presença, discreta mas constante, no nosso blogue. Tem 60 referências, afora muitas dezenas de comentários (que é preciso revisitar).

À família mais próxima, à sua companheira Maria Helena, e aos seus amigos, a todos eles na pessoa do afilhado Pedro Araújo (que agora é o nosso contacto com Porto SEguro), a Tabanca Grande, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, quer transmitir toda a sua solidariedade na dor.

O Vasco, que era a gentileza em pessoa, apesar da distância (física) que nos separava, era um ser humano de grande estatura e um extraordinário camarada, de quem começamos já a ter saudades.

Até sempre, camarada!...
Gadamael, presente!
23.º Pel Art, presente!
Tabanca Grande, presente!,
Brasil e Portugal, presentes!...

O editor
Luís Graça



Guiné > s/l > 1970 > Uma "selfie" ("avant la lettre"...) do Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; bairradino, vivia no Brasil desde que acabou a comissão de serviço no CTIG... Sempre longe tão perto de nós, como ele gostava de nos dizer...




Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu, 1972.


Fotos (e legendas): © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 3. Um camarada grato à Tabanca Grande



Caro Luis,

As palavras são de justiça, e agradecer não há que; não estou mitificando ninguém, a mim parece óbvio que a equipa que você lidera, presta relevante Serviço à nossa tão injustiçada geração.

Falando em justiça, não posso deixar de "confessar" a minha dívida pessoal, com duas pessoas, cada uma a seu modo, que me guiaram e incentivaram, nesses por vezes tão íngremes e tortuosos caminhos da memória; e só nós sabemos, que o "caminho da memória" dos veteranos de guerra, por vezes é ainda mais tortuoso que o do comum dos mortais.

A Maria Helena, minha companheira do pós-guerra, que é psicóloga clínica, foi quem me guiou com datas e factos que já estavam "jogados" no subconsciente, e me incentivou a essa catarse. E o camarada Carlos Vinhal, quem me recebeu nesta GRANDE TABANCA, criou até o caminho para os FANTASMAS saírem, e sempre me incentivou a encaminhá-los para o papel.

As palavras, como disse acima, são de JUSTIÇA e GRATIDÃO.

Forte abraço a todos

Vasco Pires


4. Comentário do coeditor CV.

Nesta época já de si nada alegre, uma notícia como a de hoje cala bem fundo em que estava habituado àquelas mensagens, curtas e concisas, que invariavelmente começavam por: Bom dia Padrinho, Cordiais saudações...

A última mensagem de trabalho, que guardo do meu afilhado é de 13 de Maio passado. O assunto era Fundo do Baú (revisitado), referente à sua série Fantasmas... e realidades do fundo do baú.

Quando se levantavam dúvidas na edição dos postes, deixava ao "meu exclusivo e avalizado critério" a escolha da melhor solução.

Refere o Luís a sua delicadeza, ternura e bom humor, o que confirmo após quase 5 anos de contacto. Os seus comentários, sempre correctos e oportunos, vinham no sentido de tentar esclarecer ou completar ideias ou acontecimentos, nunca depreciando qualquer camarada, mesmo os que davam palpites na área em que ele se sentia mais à vontade, a artilharia, aquela que usava obuses e peças, não a nossa, a da G3.

O Vasco vai para a equipa dos que partiram, mas não sem antes deixar o seu valioso contributo no nosso Blogue.

Pela minha parte, agradeço ao seu afilhado Pedro Araújo o nobre gesto de nos dar a notícia, que não queríamos receber, do seu falecimento. Peço-lhe que seja portador, junto da família, do nosso pesar pela perda do seu ente querido e do desgosto destes velhos combatentes pela perda do seu camarada e amigo Vasco Pires, de quem se orgulham. 

Carlos Vinhal
Coeditor
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16653: In Memoriam (267): gen pilav ref Francisco Dias da Costa Gomes (BA12, Bissalanca, 1967/68, cmdt do Grupo Operacional 1201)... Foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido, em 28/7/1968, sob os céus de Gandembel (José Matos, investigador independente em história militar)

domingo, 22 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16121: Dando a mão à palmatória (29): Fundo do Baú revisado, ou a foto onde posso não estar (Vasco Pires, ex-Alf Mil do 23.º Pel Art)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 13 de Março de 2015:


FUNDO DO BAÚ REVISADO

Bom dia Padrinho(1),
Cordiais saudações.

Houve anteriormente uma "cobrança" tua, para "raspar o fundo do baú", porém, venho agora revisá-lo.

O nosso Camarada Manuel Vaz, historiador de Gadamael, nas suas intensivas pesquisas, me alertou que na foto do P11148, onde eu pensava estar atrás do Capitão Videira, posso não ser eu. Como já referi algumas vezes anteriormente, saí de Portugal no mesmo ano (1972) em que voltei da Guiné.

Fiquei "afastado" das minhas memórias Africanas durante décadas, até que durante o repouso forçado após um acidente, tive contato com o Blog, ativaram-se algumas memórias e reconstruíram-se outras.


Quando resolvi falar do Capitão Videira, encontrei uma foto já desgastada pelo tempo e a má conservação, que estava entre as poucas que restaram das minhas "andanças por aí". Por estar comigo, e por ter rapado o cabelo por essa data, pensei ser eu.

Depois do alerta, ampliando a foto digitalizada, concluí que não devo ser eu. Peço, que faças no P11148 as alterações que julgares necessárias.

Agradeço ao Camarada Manuel Vaz, a sua ajuda na reconstrução do passado.

Forte abraço.
Vasco Pires
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Notas do editor

(1) - O editor, entre os tertulianos tem alguns afilhados e até um mano.

Último poste da série de 11 de julho de 2011 Guiné 63/74 - P8539: Dando a mão à palmatória (28): Na melhor nódoa cai o pano... ou: Não basta à mulher de César ser séria, é preciso parecê-lo (Luís Graça)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15630: O que é feito de ti, camarada ? (5): C. Martins, o último artilheiro de Gadamael, cmdt do 23º Pel Art, 1973/74


Monte Real, Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > 
VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > J. Casimiro Carvalho, 
à esquerda,  com  o C. Martins, dois homens de Gadamael... Uma das
raras foto do cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1973/74). 
Foto: LG (2011)
1. Não sabemos o que se passa com o nosso leitor (e camarada) C. Martins, ex-comandante do 23º Pel Art de Gadamael (1973/74)... 

Deixou de mandar sinais à navegação, ou seja, deixou de fazer comentários no nosso blogue... 

Ele era relativamente assíduo, e tem pelo menos 20 referências no nosso blogue... Nunca quis aceitar o nosso convite para integrar a Tabanca  Grande, por razões da sua vida pessoal e profissional que respeitamos. 

É médico.  Mas já tivemos ocasião, por várias vezes, de estar  e de conviver com ele, nomeadamente nos últimos encontros nacionais da Tabanca Grande. Esteve, inclusive, no último, o X Encontro Nacional, que se realizou em 18 de abril de 2015... Lá está ele na lista, mas sempre avesso à fotografia... 

Apetece-nos perguntar: o que é feito de ti, camarada, C. Martins  ? (*)... 

Esta série é justamente para relembrar alguns de nós que temos andado mais arredados do convívio bloguístico... E vamos começar a perguntar por esses... Devagarinho, como quem não quer a coisa... Naturalmente que respeitamos o silêncio voluntários dos camaradas e amigos/as que, por esta ou aquela, andam mais arredios... Afinal, o blogue vai fazer 12 anos, o que na Net é já uma eternidade...

C. Martins, querido camarada, espero que estejas bem, de saúde. E que a vida profissional esteja a correr o melhor possível, tanto quanto te deixam. Temos saudades das tuas "lições de artilharia para os infantes",  da tua boa disposição, do teu sentido de humor de caserna, da tua saudável irreverência, enfim,  dos teus comentários, por vezes desconcertantes mas sempre certeiros, ou não fosses tu um artilheiro e, para mais, o último artilheiro de Gadamael!...Sei que alguns não te perdoam esse pequeno detalhe do teu currículo, mas a verdade é que alguém tinha que fechar a porta... E em Gadamael coube-te a ti, que nem sequer foste voluntário para a tropa...

Aproveitamos para reproduzir aqui uma das tuas histórias que na altura nos deliciou e que os mais novos, os "piras", nunca leram... Desconfiamos que esta "cena"  passou-se mesmo contigo, que tens um grande sentido de justiça,  e és um camarada de cinco estrelas, um beirão dos quatro costados, mas a verdade é que tu nunca te descoseste. Fica para o teu livro de memórias.

Dá notícias, camarada, se puderes!.. E promete que estás bem...


2. Lições de artilharia para os infantes: quando o oficial de dia fez uma levantamento de rancho (**)

por C. Martins



 (...) A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.

Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas, repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa, a carne praticamente tinha-se evaporado!.
– NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! – berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
–  Você está preso, seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:
–  ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde.

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis, com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção. (**)

____________

Notas do editor:

(*) Postes da série > 

23 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11140: O que é feito de ti, camarada ? (1): Jorge Canhão, Oeiras (ex-fur mil at inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74)


26 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11870: O que é feitio de ti, camarada ? (2): Afonso M. F. Sousa, residente em Maceda, Ovar, ex-fur mil, trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidaje, Barro, 1968/70)

2 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12535: O que é feito de ti, camarada ? (3): "Agora estou na trajetória do vôo livre da borboleta, seguindo outros horizontes da memória, despreocupadamente ! Felizmente com saúde"... (Afonso M.F. Sousa, a residir em Ovar, ex-fur mil trms, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14351: Blogoterapia (266): O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu"... Será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra? (Vasco Pires, ex-alf mil art. cmdt do 23º Pel Art. Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 11 de Março de 2015:

Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.

Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.

Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".

Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.

Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.

Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.

E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.

Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.

Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.

Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!

Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".

Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?

Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.

O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du  temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?

E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?

Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.

Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!

Forte abraço
VP
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13675: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (16): Um soldado de Artilharia na fronteira sul

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 26 de Setembro de 2014:

Bom dia Carlos,
Cordiais saudações.
Do velho e já desgastado baú, sempre algo pode surgir...

Lembro o já distante ano de 70, quando em meados do ano rumei a Gadamael, para assumir o Comando do 23.° PelArt, e por lá fiquei na maior parte da minha comissão de serviço.

A situação operacional de Gadamael, já foi descrita pelo Camarada Manuel Vaz na sua magistral "Uma visão alargada do ataque a Gadamael". Também, o Exmo. Sr. Coronel de Artilharia Morais Silva, caracterizou a situação: "...A CCaç 2796 foi fustigada de forma brutal nos seus primeiros passos em Gadamael numa primeira tentativa do PAIGC de, indirectamente, eliminar a posição de Guileje (o que veio a conseguir em 1973 por via directa). Sofreu baixas, incluindo o comandante da companhia (24Jan71)..." .

Gadamael - Espaldão de obus 10,5

Gadamael - Obus em acção de tiro
Fotos: © Humberto Nunes

O Pelotão era maioritariamente composto por soldados da incorporação local, somente o Comando, um Oficial e dois Sargentos vinham de Portugal, no sistema de rendição individual.
Os soldados (profissionais) eram operacionalmente eficientes, e sob aspecto disciplinar, só lembro um evento de relativa gravidade, quando um soldado na formação e revista diária do Pelotão, teve uma atitude (passiva) de insurbordinação.
Já falei antes da sorte que tive com os Furriéis, dedicados, eficientes e leais.

Coincidiu a minha chegada com a entrega das casas do reordenamento, sendo atribuida ao Pelotão, a última fileira de casas junto ao rio e aos obuses, conforme assinalado na foto.
Acredito que foi do Furriel Oliveira, a sugestão de também nós nos instalarmos na tabanca, e foi o que fizemos, na primeira casa junto aos obuses, aliás excelente sugestão, sob o ponto de vista operacional, como parece óbvio, se se olhar a foto.

Gadamael - Casas atribuídas ao Pel Art.ª
Foto: © Coronel Morais Silva

O Comando da Artilharia em Bissau (GAC 7), não permitia a saída do Pelotão sem sua prévia autorização, sendo portanto a atividade da Artilharia dentro do quartel, no "bem-bom" do arame farpado, segundo alguns.

Os quartéis da zona Sul, ficavam expostos a ataques de Artilharia, efetuados também além fronteira. As ordens do Comandante do Aquartelamento eram bem claras: "...Ao ... Pelotão sempre exigi, quando andava no mato, tempo de resposta que não podia exceder 1 minuto e perante uma "saída" das armas IN a resposta imediata de um obus fosse qual fosse, no momento, a direcção de vigilância..." - Ex-Capitão Art. Morais Silva.

Além da resposta a ataques IN, havia o apoio a tropas em movimento, e eventualmente atingir alvos determinados por alguma autoridade militar. ​Como somos poucos, e quase esquecidos, é sempre bom lembrar o papel da Artilharia na Guiné!!!

forte abraço
VP
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13623: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (15): Autorretrato de um soldado



1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 17 de Setembro de 2014:

Bom dia Carlos,
Raspando o fundo do baú, sempre aparece algo.

Nesses tempos de "selfies" (neologismo que significa autorretrato), chamou minha atenção essa foto de 1970, poucos dias após a chegada à Guiné.
Autorretrato acompanha a História da Humanidade, lembra Narciso filho de liríope, passa pela necessidade de autoconhecimento, até chegar na expressão dos modernistas angustiados.

Mas voltemos ao soldado, que parece perguntar:
- Como é que eu vim parar aqui?

É uma viagem à década de sessenta, jovens inexperientes, num país que se queria fechado ao mundo. Eu, particularmente, vinha da Bairrada profunda, de um grupo familiar que Gramsci apelidada "intelectuais rurais', logo por defenição conservadores, embora dela tenham saído alguns que ele chama de intelectuais urbanos.

Passando pelas escolas locais, cheguei na Academia Coimbrã em plena efervescência da segunda metade da década de 60, verdadeiro "ponto de clivagem", dos valores e hábitos Ocidentais (não vamos achar que somos o centro do Mundo, só porque assim fizemos como nosso mapa).
Um fervilhar de ideias, contestação dos valores tradicionais, onde poucos tinham uma visão cosmopolita.

Na época, muitos devem lembrar, a figura do "passador", que mediante determinada quantia, fazia chegar as pessoas, além Pirenéus.
Pois, tinha um que era amigo da família, pai de um amigo, e que trabalhava em parceria com um frade (não sei se este o fazia por dinheiro ou convicção), eu tinha também, grande parte da família do outro lado do Atlântico. Assim, com essa facilidade, eu, que jamais pensei que a missão era "dilatar a fé e o império", nunca me passou pela ideia de usar os seus serviços, ou me reunir aos parentes. Penso, talvez, que não queria romper com os valores culturais em que estava inserido.
Contudo, "nesta altura do campeonato", não é mais relevante. Alguns de nós foram à guerra por convicção, outros movidos pela propaganda, muitos por inércia, e alguns outros com receio de enfrentar usos e costumes estrangeiros.

Forte abraço
VP
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13600: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (14): Sou só o Comandante

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 8 de Setembro de 2014:

Caríssimo Carlos,
Há dias, lendo sobre Marinha na Guiné e "raspando o fundo do baú", lembrei de uma viagem que fiz de Gadamael para Bisau.

Como muitos sabem, Gadamael (Porto) fica num braço de rio, também dito rio Sapo.
A nossa locomoção para fora de Gadamel era preferencialmente, pegar boleia com o Dornier do correio, ou eventualmente com algum "tubarão" em visita aos "perdidos" na fronteira Sul.

Ora, quando tínhamos alguma bagagem mais robusta, a saída era mesmo por mar.
Numa dessas idas, peguei uma embarcação, que não recordo se seria LDG, ou outro barco de guerra. A saída foi ao fim da tarde, e me acomodei no convés da melhor maneira possível. Ao raiar do dia apareceu um Sargento da Marinha, que com a formalidade que lhes é peculiar, me informou que o Comandante estava me convocando para que me apresentasse nos aposentos do Comando.


Guiné -  LDG (Lancha de Desembarque Grande) 105
Foto: © Humberto Reis (2005)

O Comandante era um oficial com patente equivalente a Tenente, talvez Capitão; pediu desculpas de não me ter chamado antes, mas só naquele momento tinha tomado conhecimento da minha presença a bordo. Convidou-me a tomar uma refeição com ele, e lá fomos conversando até Bissau.
Dada altura, perguntei da formação para tal função, e outros detalhes da "arte de marear".
Fiquei surpreso, quando perguntei o que ele fazia a bordo, e me respondeu:
- Sou só o Comandante.

Até hoje lembro a humildade desse Oficial de Marinha!!!

Forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem, com data de ontem, de Vasco Pires (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]


Assunto: Raspando o fundo do baú..

Caríssimos,

Quando li o desafio do Luis, para "raspar o fundo do baú", nada me ocrreu, contudo, há dias, fazendo um comentário num post, "veio à memória":


O ATO MAIS IRRESPONSÁVELDOS MEUS DOIS ANOS DE SERVIÇO COMO SOLDADO DE ARTILHARIA!

Decorria o ano de 1970, quando cheguei a Bissau, no BAC1  (ou já seria GA7?), que era Comandado por um controverso Oficial Superior de Artilharia, a quem a caserna dera o codinome de "Paizinho", entre outros, que vou me abster de mencionar.

Circulavam "estórias" por Bissau, algumas falsas, outras verdadeiras, como o facto de ter "saído no Braço" com o Segundo Comandante, o que acarretou a ruína da carreira do desdito Oficial. Esse comportamento do Comandante, digamos errático para ser generosos, contaminou as relações dos Oficiais do Comando, e consequentemente, se foi alargando (como as pragas).

Após a chegada, foi feita uma apresentação ao material em operação nos Pelotões (10,5,  11,4, e 14); já quanto á situação operacional do TO, apesar de desde a recruta, vermos cartazes "gritando", "O boato fere que nem uma lâmina", as "infomações" vinham mais do "Jornal da Caserna", que propriamente um "briefing" consistente.

Alguns dias após a chegada, mandaram-me, por um curto período, para um Pelotão no Bachile, acredito, que para cobrir férias do Comandante.

Lembro bem, que no entusiasmo de "periquito", aceitei o convite do Comandante de uma patrulha, para ter uma ideia, de como seria um pedido de apoio; errado, porque a ordem expressa do Comando do BAC1, era de que o Pelotão (material e militares), só poderia sair dos quartéis, com uma ordem escrita do Comando do Aquartelamento.

A ativadade operacional do Pelotão era nula. Deslocava-me a Teixeira Pinto com alguma regularidade, um dia no Bar do CAOP1, fui abordado pelo Major de Operações, que, após se certificar da minha identidade de soldado de Artilharia, desferiu:
- Amanhã, terá uma grande operação, forças especiais e tropa regular vão atacar uma base IN na Mata X [da qual não lembro o nome, e que na altura, como recém-chegado, pouco ou nada dizia para mim]. Nós ( eu e ele) vamos regular o tiro. Amanhã às Y horas, esteja no lugar Z!!!

No auge da minha "periquitice", sem nada perguntar, limitei-me a dizer:
- Sim, senhor, meu Major!

Na minha fantasia, iríamos regular o tiro, a bordo de um helicóptero; na hora e local determinado, como não poderia deixar de ser, me apresentei devidamente "armado" com a minha tabela de tiro. Qual não foi a minha surpresa, quando subimos numa Dornier!

Por lá andamos ás voltas, ele identificando os alvos, e eu,  tabela de tiro no colo, calculando, e transmitindo a ordem de fogo para o Pelotão!!! Felizmente nada ocorreu de anormal.

Quando descemos, me faltaram as palavras e a coragem, para transmitir o meu espanto do ato que tínhamos acabado de cometer.

Ainda hoje, mesmo que tenha cometido outros erros, considero este como o ato mais irresponsável, dos meus dois anos de serviço na Guiné, como soldado de Artilharia.

E siga a Artilharia...

Forte abraço a todos

Vasco Pires

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quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12833: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (83): Recebi notícias do último CMDT do Glorioso GA 7, Coronel de Artilharia Faia Correia (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 4 de Março de 2014:


...e a nossa TABANCA É GRANDE ​

Caríssimos Carlos Vinhal /Luis Graça,
Cordiais saudações.

Em 06 de Agosto 2012, fiz um comentário no P10228 do Nobre Artilheiro Humberto Nunes, e em 23 de Junho 2013, o Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Faia Correia, último Comandante do Glorioso GA 7 (GAC 7), replicou sobre o meu comentário, de que só agora tive notícia.

Anónimo disse...
Caro Humberto Nunes, Cordiais saudações,
Lendo o teu depoimento, lembrei o ano de 1970, quando cheguei a Gadamael. Lá encontrei uma companhia em fim de comissão, comandada por um experiente Oficial, o então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que muito me ajudou nesses primeiros tempos.
Dizia ele, que o que salva o ser humano, é a memória seletiva, pois,com o tempo, vai-se se não eliminando, ao menos amenizando as experiências mais dolorosas,e as experiências positivas ficam relativamente mais fortes.Sábias palavras, digo eu.
forte abraço
Vasco Pires,
Ex-Comandante do 23º Pel. Art.

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Caro Camarada Vasco Pires, Ex-Comandante do 23º Pel. Art.
Fui o último Comandante do GA7 e só muito recentemente é que tive acesso a esta nossa Tabanca Grande e através dela tenho vindo a contactar com camaradas que serviram comigo nessa prestigiada unidade de Artilharia, onde estive de agosto/73 até setembro/74. Não chegámos, portanto, a conhecermo-nos. Contudo, porque se refere às "sábias palavras do experiente Capitão Rodrigues Videira", posso dar-lhe notícias dele, por mantermos uma sólida amizade, desde 1961, quando fui instrutor de Artª na Academia Militar.
Ele voltou à Guiné como Comandante duma Bateria Anti-Aérea que tinha os Pelotões espalhados mas o comando da dita estava sediado no Grupo em Bissau.
Depois, desde o regresso da Guiné fomo-nos encontrando, em Leiria e, por último, na Academia Militar.
Para além de inteligente e culto (foi o 1º.do seu curso na Ac Mil), é transmontano e, como tal, de grande frontalidade. As palavras dele, colocadas aqui por si, demonstra o que afirmo. Mas olhe que ele, em Gadamael, era ainda um muito jovem Capitão.
Mantemos contactos frequentes, a nível familiar, e despedimo-nos sempre com pena que a tarde tenha chegado ao fim...
Um pormenor, como está reformado, dedica-se ao bridge e é muito requerido para encontros organizados por amigos! Como dizia um amigo meu de Cavalaria, quando dois artilheiros se encontram, o abraço toma a forma duma soquetada, que peço que aceite com a amizade do
Faia Correia, Cor Artª Reformado

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Além da honra de receber comunicação do Comandante da minha Unidade, traz notícias do Ex-Capitão Rodrigues Videira, Cmdt da CART 2478, que recebeu este "periquito" em Gadamael em 1970, e cuja foto coloquei no meu P11148 "Alfero di canhão".

Um periquito em Gadamael... e a velhice da CART 2478

Já anteriormente falei do Capitão Videira:
"Cheguei a Gadamael Porto, lá por meados de 70 para assumir o comando do 23° Pelart, encontrei uma Companhia em fim de comissão, comandada pelo então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que logo nos primeiros dias me falou da importância da disciplina em zona de guerra..."

Ele foi figura fundamental, apesar de poucos meses de contacto, nos meus dois anos de serviço na Guiné. Um Capitão em fim de comissão, recebeu o soldado "periquito" paternalmente, e durante esse tempo de convivência, foi desfiando pequenos (grandes) detalhes da arte de comandar.
Posso afirmar hoje, mais de quarenta anos depois, sem risco de exagero, que devo ao Capitão Videira, a "normalidade" com que decorreram os meus dois anos de serviço.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23.° Pel. Art.
Gadamael
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12727: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (81): António Medina, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, foi fur mil da CART 527 (Teixeira Pinto, 1963/65) e vive hoje nos EUA, onde descobriu o nosso blogue

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12662: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (15): Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caríssimo Luís, Como costumas dizer: ...as palavras são como as cerejas...
Aí já fui falando demais, e me comprometi com algo, que para tanto não tenho "nem engenho nem arte".

Quarenta anos depois, tentar falar do "choque", - sim como se fosse elétrico - da disciplina de Mafra, sobre a nossa inocente geração, é muita ousadia.

Na já remota década de 60, éramos uma ilha desinformada, apesar de muitos de nós se julgarem seres politizados. Muitos de nós tínhamos acabado de sair das "asas" paternas, e de sua extensão que era o Colégio local.

Lembra que naqueles tempos não tinha uma Universidade em cada esquina, ainda não tínhamos sido inundados por Escolas com cursos que para nada serviam senão como fábricas de Professores que ficariam necessariamente desempregados, somente Coimbra, Porto e Lisboa tinham Universidade.

E lá íamos nós, em busca de independência e informação, alguns de nós criavam a ilusão de serem bem informados só porque escutavam a BBC, a Rádio Argel ou a Rádio Moscovo, alguns outros de famílias de "Viúvas da Outra Senhora", diga-se República Velha, mais por crença e interesse do que por qualquer motivo mais nobre, formavam o dito na altura "Reviralho", mais à esquerda outros militantes alguns profissionais.

A já longa guerra nas, à altura ditas, Províncias Ultramarinas, as notícias do Maio de 68 em França, e da reação da juventude da classe média Americana à guerra do Vietnam, somaram-se para ajudar a criar um clima de agitação nas Escolas Portuguesas; eu, na altura estava em Coimbra, a Diretoria Eleita da Associação Académica já tinha sido compulsoriamente afastada, o clima era de agitação.

A nossa agitação era fruto de um caldo cultural diferente dos países ditos democráticos que tinham sofrido profundas mudanças estruturais e superestruturais como consequência direta da Segunda Grande Guerra; lembra que o Senhor António tinha livrado nossos pais desse horror! Muitos de nós se julgavam em processo de ruptura com ordem estabelecida, alguns libertários outros mais comedidos, quase todos "freudianamente" prontos para metafóricamente matar o Pai lá de Santa Comba.

Mas éramos todos muito inocentes, aí com facilidade o sistema nos enquadrava com um Tenente e dois Cabos Milicianos e às vezes, poucas, um Sargento.

Poucos dias depois receosos de perder o fim de semana, íamos-nos tornando instrumentos de um sistema que durante tantos anos (63 a 74), enquadrou uma geração de pouca sorte.


"Máfrica" - Vista aérea do Palácio de Mafra - Com a devida vénia a Google Earth


O processo começava aí: "Máfrica", Vendas Novas, Tavira, Caldas da Rainha...
E lá íamos nós, mais ou menos convencidos e eficientes agentes, enquadrar outros mais, pelos quartéis de Portugal e de África. Mafra e Tavira, eram o início de um processo de inserção no sistema de muitos milhares, que a propaganda chegou a fazer pensar, que estavam "dilatando a Fé e o Império". 

Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes.
Estão abertas as "hostilidades"...  Quanto aos números, "passo a bola" ao Camarada José Martins.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

sábado, 25 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12634: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (11): Figueira da Foz... ou dois anos inesquecíveis na Princesa do Mondego (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caríssimos,

Cordiais saudações.

Depois da "Máfrica" de tantos de nós, veio a EPA em Vendas Novas, menos alunos (cerca de 40), o que trouxe melhor tratamento, depois da Especialidade, mais um estágio de um mês ou pouco mais.

Na EPA havia dois pelotões, um de PCT e outro de IOL, e se não me falha a memória com entre 30 e 40 alunos somados os dois.

O "Jornal da Caserna" informou que quem ficasse nos primeiros lugares duma lista conjunta não iria para África, como era costume.

Depois do estágio, já Aspirantes, o que frustou a comissão de recepção, que esperava Soldados-Cadetes, terceiro ou quarto lugar no Curso, lá fui eu, mais o Conceição, quarto ou quinto lugar, planeando como seriam os nossos dois anos de "guerra" à beira do Atlântico, mas do Atlântico Norte.

RAP 3, vários Alferes e Aspirantes mais velhos, confirmavam a tese de que os primeiros colocados não seriam mobilizados. Normalmente os mais novos dariam instrução até chegar nova turma. Logo nos primeiros dias, no bar, o Coronel Comandante falou que o responsável pela messe não iria continuar, precisava de um voluntário, como ninguém se manifestou, e eu na hora era o único dos novos presente, perguntou:
O nosso Aspirante não quer assumir?

Na hora entendi que era mais que um convite, e falei rapidamente:
- Claro,  meu Comandante!

Afinal não foi tão mau; o cozinheiro tinha trabalhado num restaurante da Mealhada, e tinha uma boa equipa, fazia as compras diárias no mercado, ficando para mim tão somente as compras do atacado. O único contratempo surgiu quando o Comandante me chamou para dar os "parabéns", pois, como ele tinha recebido em casa no almoço uma fruta estragada, era sinal de que todos os oficiais eram tratados igualmente.

Era um Coronel da velha guarda, à beira da reforma, que usava o humor no lugar da "porrada". Baixa temporada, fácil de alugar apartamento com vista para o mar, pois havia farta oferta; lembrem que ainda éramos Portugueses pobres num Portugal pobre, não éramos ainda nem Europeus nem ricos.

Figueira da Foz


Figueira da Foz, perto de casa, e de Coimbra minha segunda casa. Era Inverno, contudo, ainda tinha o Casino aberto diariamente. Melhor impossível!!! Só era preciso fazer o planeamento da "guerra" para os próximos dois anos, à beira do Atlântico Norte.

O alvo agora era outro: bandos de loiríssimas turistas nórdicas, ávidas de sol e agitação. Amigos e família, unanimemente me felicitavam, e diziam, ou pensavam, que era um hmem de sorte ou tinha uma grande "cunha", aceitava com bom humor todas as piadas, pois, tudo estava correndo acima de qualquer espectativa.

Já estava me preparando para fazer admissão noutra Faculdade, assim aproveitaria ainda mais esses tempos de sorte. Lamentavelmente, o acima descrito era apenas um exercício de "wishful tinking", a dura realide começou a emergir quando o oitavo colocado foi mobilizado, e a fantasia desmoronou quando o Conceição, primeiro colocado depois de mim foi chamado.

A Princesa afinal era outra... a PRINCESA DO RIO SAPO!!!

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12630: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (10): Coimbra, Porto, Abrantes, com passagem por Santa Margarida (Juvenal Amado)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12403: O que é que a malta lia, nas horas vagas (9): O único título que lembro é o "Diário de Lisboa" (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 4 de Dezembro de 2013:

Caríssimos Luís e Carlos,
Cordiais saudações.

Excelente a ideia: O que a malta lia..., para melhor documentar o nosso quotidiano em terras Africanas. Lamentavelmente, pouco posso colaborar, pois, apesar do meu pai se preocupar com a minha saúde, física e mental, enviando regularmente, alimentos, jornais, revistas e livros, o único título que lembro é o "Diário de Lisboa", também não encontrei no fundo do baú nenhuma foto lendo (também não tem nenhuma com canhão).

Mas, como disseste noutra data: "as palavras são como as cerejas", associado com a campanha do "NÃO ao Acordo Ortográfico", pensei na língua que a malta vai ler (escrever).
Plenamente consciente, que a minha opinião é minoritária, gostaria de fazer algumas perguntas.

Qual a língua que queremos, não diria para os nossos filhos, mas, para os nossos netos e bisnetos?
Uma língua que escreveremos "Orgulhosamente sós", como o homem de Santa Comba, mandou "martelar" os nossos ouvidos?
Ou pelo contrário, escreveremos numa língua de mais de 200 milhões de pessoas, praticada em todos os Continentes, uma das mais usadas línguas ocidentais?
Uma língua que pode ser ensinada em qualquer Universidade do mundo, simplesmente como LÍNGUA PORTUGUESA, e não mais como Português daqui ou dali?

"A minha pátria é a língua portuguesa", ao recusar o Acordo, não estaremos reduzindo a pátria do Senhor Nogueira Pessoa?
O acordo não é a "arte do possível"?
Ou será que que cinco Séculos depois, ainda pensamos que é nossa missão "dilatar a fé e o Império"?

A propósito, sou a favor do Acordo Ortográfico!
Alguns médicos médicos andam dizendo que a polémica, ajuda a afastar o "Doutor Alemão". Será?

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Notas do editor

Imagem do DL, com a devida vénia à Fundação Mário Soares

Último poste da série de 6 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12398: O que é que a malta lia, nas horas vagas (8): As minhas leituras em Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

sábado, 30 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12367: Carta aberta a... (9): Senhor Coronel de Artilharia António Carlos Morais da Silva (Vasco Pires)

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971
Foto: © Morais da Silva (2012). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 26 de Novembro de 2013:

Caríssimos Luís Graça e Carlos Vinhal,
Cordiais saudações.
Peço, publiquem esta CARTA ABERTA.

Vasco Pires


CARTA ABERTA AO SENHOR CORONEL DE ARTILHARIA ANTÓNIO CARLOS MORAIS SILVA

Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Antonio Carlos Morais Silva,

Sou mais um desses milhões da multisecular Diáspora Lusitana; saí de Portugal no mesmo ano (1972) em que voltei da Guiné-Bissau, e por aí vou andando até esta data.
As andanças pelo mundo me afastaram das memórias Africanas, armazenadas lá onde quer que chamemos, subconsciente, inconsciente, ou qualquer outro rótulo, onde o cérebro humano guarda as experiências extremas para que a vida continue fluindo; algum tempo atrás, recuperando de um acidente, "mergulhei" nesse passado, que tantos de nós intensamente vivenciamos.

Confesso, que há tempos estou procurando coragem para vencer um certo acanhamento em escrever estas linhas. Já, algumas vezes, emiti publicamente, a minha modesta opnião sobre o Comando de V. Exa. no Aquatelamento de Gadamael. Não reputo que isso tenha qualquer importância, pois, por seus atos, o Senhor já tem lugar na história deste nosso País, por outro lado, insignes portugueses já o fizeram, entre eles destaco o Senhor General Monteiro Valente.
Contudo, não ficaria de bem com a minha consciência se não o fizesse de forma direta e pública.
Escrevo esta carta na condição de Ex-Oficial do Exército Português, no comando de uma sub-unidade sob o seu Comando.

Lembro o já longínquo ano de 71, quando V. Exa. assumiu o Comado do Aquartelamento de Gadamael, depois de trágicos acontecimentos, quando o moral da tropa já se aproximava do ponto de ruptura. Lembrar as condições operacionais daquele momento seria repetitivo, pois, já foi feito exaustivamente. 

Como "Commanding Officer" de Gadamael - uso o termo anglo-saxonico, não para exibir conhecimentos que não possuo, mas por pensar que expressa melhor a função como Oficial Superior, pois havia sob Comando de V. Exa. uma Companhia de Infantaria, um Pelotão Fox, um Pelotão de Milícias, um Pelotão de Artilharia, e em alguma data uma Companhia de Comandos Africanos -, V. Exa. restituiu o moral da tropa, realizou notável atividade operacional, afastou o que mais tarde acabou por acontecer em Guileje; sempre mantendo as condições de habitabilidade possíveis, tanto para a Tropa como para a população civil.
Permita-me também lembrar, mesmo sendo V. Exa. um insigne Oficial de Artilharia, e não sou eu que o digo, e sim o Exército Portugês, ao nomeá-lo Profesor da Academia Militar, nunca interferiu no meu comando, respeitando sempre a minha condição de comandante da sub-unidade.

Perdoe-me se invadi o seu recato.
Estas palavras são de JUSTIÇA E GRATIDÃO.

Vasco Pires
Ex-Comandante do 23º Pel Art
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE OUTUBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10468: Carta aberta a... (4): Meu amigo português de Cufar, António Graça de Abreu (Cherno Baldé)