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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20336: Blogoterapia (293): Neuro II - Quarto 7 - Cama 14, ou as camas por que passamos ao longo da nossa vida (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 5 de Novembro de 2019:


NEURO II - QUARTO 7 - CAMA 14

O passado visita-nos, toma-se consciência do que fizemos e do que não fizemos. De  algumas coisas nos arrependemos, de outras temos pena de não ter feito de outra forma ou de ir mais além. No presente vivemos como se não tivéssemos muito tempo. Correr já não é opção, assim caminhamos para o futuro incerto, desejando ter ainda acesso ao que de bom a vida nos dá.

E que de bom tem mesmo, quando o simples é vedado a muitos camaradas quando a saúde os abandonou? Quando necessitam do carinho da família e vigilância, quando são remetidos para instituições, tantas vezes cansadas de ver degradação física e psíquica, e reagem como um cilindro, que vai calcando, ignorando os apelos de quem precisa de ir à casa de banho, ou tão simplesmente limpar os óculos? Os zeladores também têm preocupações familiares, como o dinheiro, com as condições de trabalho, por vezes são vilipendiados pelos utentes, mas não seria de mais vestirem o fato branco, pôr o seu melhor sorriso e com palavras de conforto, animarem um bocadinho a vida dos que estão a seu cargo ainda que por breves horas no seu turno.

Esta introdução um bocado sombria, deve-se ao apelo desesperado e de raiva, de um nosso camarada que sofre (ELA[1]) de abandono ao ponto de pedir que Deus o leve. Como dizer a um camarada neste sofrimento, que espere os impossíveis dias melhores, uma vez que só pode piorar?

O físico Stephen William Hawking, talvez o mais famoso doente com "ELA", que apesar da sua enfermidade viveu até aos 76 anos.

O que me leva a escrever hoje é uma coisa tão comum e tão banal que é uma cama. Todos nascemos numa, dormimos em várias ao longo da vida e a grande maioria em tempo de paz, também morrerá numa. Quando era criança, a minha cama como normal para a época era cheia de camisas de milho, por vezes com restos de tarolos à mistura, um dia de festa quando a minha mãe abrindo portas e janelas remexia a palha, que triplicava de altura e como garoto era uma brincadeira ficar enterrado no monte, que hoje traria alergias e renites alérgicas à maioria de garotos, que nem os ares condicionados aguentam. No nosso tempo passaria por vulgar constipação, com ameaças de que andássemos à chuva levávamos o tratamento profiláctico à base de uns tabefes.
Mas o meu pai homem atento às coisas modernas e simplificadas, logo trocou a palha por sumaúma e assim acabaram-se as comichões. Mais tarde passamos ao máximo da modernidade ao alcance dos nossos bolsos com os de esponja e por aí ficámos por muitos anos.

Quando fui para o CICA4, voltei a privar com a sumaúma que continha várias gerações de percevejos, que milagrosamente não me atacaram, já o meu amigo Sapateiro, ali da Calvaria de Porto Mós, fez com eles um contrato de exclusividade a fim de o só chatearem a ele, que dormia mesmo encostado a mim. Após muitas queixas selectivas, porque eles não atacavam todos, veio um belo dia que, tudo foi desmanchado e substituído por beliches acabados de pintar de verde, com limpíssimos também verdes colchões, que iriam levar algum tempo a ganhar inquilinos incómodos e malcheirosos. No tempo em que lá estive, não deu para constatar nada disto, e no RI6 do Porto, foi mais do mesmo, por ter por ali passado a modernidade da época.

Quando cheguei a Abrantes - RI2, aconteceu-me o impensável. Não tinha cama e passei a dormir à vez, na cama dos camaradas que estavam de serviço. Quando ele chegava eu procurava outra e ali ficava com sorte até de manhã. Como o frio apertava mandaram-me para Santa Margarida e aí por mais roupa de cama que requisitasse, o frio era tal que me fardava e deitava-me vestido.

Entretanto fui mobilizado e assim travei conhecimento com os beliches do Angra do Heroísmo, com os do Cumeré, e por fim cheguei a Galomaro onde a sobrelotação do quartel me obrigou a dormir numa grande tenda de campanha com um pano de tenda por baixo e o saco a servir de cabeceira. Nada que não tenha acontecido a milhares de camaradas. Por fim encontrei alojamento permanente, num abrigo habitado por uma mescla de camaradas das mais variadas especialidades, entre um dos morteiros 81 mm e da MG 42.

Galomaro - Dentro do abrigo, a partir da esquerda: Aljustrel, Ermesinde, Juvenal e Caramba

Finalmente, regressado em Abril de 74, em 79 passei da minha cama de solteiro para a de casado onde tenho sido constante e feliz.

Por desacatos do destino, pois não penso ter pecados dignos de castigo, fui parar ao hospital com uma doença rara, auto-imune, chamada Miastenia Gravis (que veio para ficar como a Toyota), onde pela primeira vez travei conhecimento com uma cama articulada. Estive onze dias hospitalizado, entrei junto com uma senhora com AVC, onde estava já um individuo com 61 anos com AVC isquémico, que saiu primeiro que eu e deu lugar a um jovem com 36 anos também acometido do mesmo, juntando-se assim aos vários casos espalhados pelo piso. Contei a história deveras apaixonante e corajosa do José Saúde, falei-lhe da associação de doentes dessa maleita e constatei, com os números de um AVC por cada quatro indivíduos.

Os alarme e sinais dos três F's

FACE, FORÇA e FALA, bem como a máxima importância de pedir ajuda dentro das primeiras duas horas em que começaram os sintomas e anomalias.

Por ultimo a forma como fui tratado e vi tratar. A excelência dos cuidados prestados por médicos, enfermeiras, auxiliares, de um sistema hospitalar cheio de deficiências e carências tão propaladas por bem intencionados e por muitos mais pelos mal intencionados, onde os profissionais fazem milagres com o que têm. O seu sorriso, carinho e palavra amiga, são parte das melhores recordações que guardarei para sempre.

Lembrei-me das campanhas muitas vezes mesquinhas e ignorantes, que contra o Serviço Nacional de Saúde fazem e querem acabar com ele. Meus camaradas e amigos é preciso defendê-lo por nós e pelas nossas famílias. A saúde e a liberdade só lhe damos valor quando as perdemos.

Já estou na minha cama felizmente.

Nota: - [1] - ELA - http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/ela-esclerose-lateral-amiotrofica

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota pessoal do editor CV:

Ao nosso camarada enfermo desejo a melhor qualidade de vida possível, dentro dos condicionalismos que esta terrível doença impõe.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20039: Blogoterapia (292): Os Impérios (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732)

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17865: Notas de leitura (1005): “AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade, Uma vitória no mundo dos silêncios”, por José Saúde, Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Outubro de 2017:

Queridos amigos,

Temos aqui o testemunho de um confrade nosso cuja vida foi brutalmente flagelada por um AVC, tinha ele 55 anos. É uma narrativa de alguém que nunca aceitou desistir e que hoje, apesar de limitações, se sente autodeterminado, tem carro adaptado, convive, escreve, não pára de sonhar, quer ser útil.
É um testemunho muito sentido, minucioso, um confronto entre um inesperado pesadelo e a subida íngreme para a autonomia, apesar de tudo.
Este livro é um hino à vontade de viver.

Um abraço do
Mário


José Saúde e um AVC contado na primeira pessoa

Beja Santos

José Saúde

O livro intitula-se “AVC, Recuperação do Guerreiro da Liberdade, Uma vitória no mundo dos silêncios”, por José Saúde, Chiado Editora, 2017. A substância do testemunho é um AVC que deixou aos 55 anos o nosso confrade José Saúde entre a vida e a morte. É uma descrição detalhada, que não escusa o íntimo, desses momentos de descalabro em que não se sabe contabilizar o volume das perdas até à recuperação em que se reganha a dignidade e autonomia, graças a uma resiliência inabalável.

Tudo começou na madrugada de 27 de Julho de 2006. A vontade superou as marcas físicas e reversíveis, o acidentado tornou-se uma pessoa motivada, dispõe de um carro adaptado às suas deficiências, move-se a pé pelas ruas da cidade de Beja, e faz um apelo genuíno a quem sofreu de um abalo tão demolidor: “As nossas mazelas, sendo evidentes, não podem, tão-pouco devem, servir de obstáculos a uma vivência rica em experiências inolvidáveis. O nosso ego propõe-nos conquistas num território armadilhado mas incansavelmente superadas”.

O que ele testemunha é que se considera um homem livre, que rejeita o coitadinho, a despeito das sequelas a nível dos membros, superior e inferior, do lado direito. “A minha mão não mais mexeu e a perna mostrou sinais de vitalidade mas de acordo com a extensão do dano. O membro inferior superou o possível e permitiu-me, em certa ocasião, deixar a cadeira de rodas, depois a bengala, apetrechos que muito ajudaram a ultrapassar uma condição considerada deprimente”. Teve alta em 11 de Agosto de 2006, saiu do hospital em cadeira de rodas. Começou o processo da recuperação. Logo a fala, não conseguia emitir sons percetíveis, começou um trabalho insano. Fazia frequentemente análises clínicas. Vivia inquieto: que será feito de mim, qual o meu futuro, será que voltarei a conviver com os meus amigos, como será a minha reintegração no processo familiar, será que vou sair da cadeira de rodas?

E disserta sobre o AVC e depois a fisioterapia, o uso do standing frame, um aparelho que proporciona uma alternativa posicional a quem está sentado numa cadeira de rodas, aprendeu tarefas conducentes a uma maior autonomia, a fazer a sua higiene, a respeitar escrupulosamente os alertas. Passou a olhar para o mundo de modo diferente, aprendeu com as limitações físicas e a reconhecer como é bom saudar a vida com prazer. E faz novo apelo: “Lembro, para ajudar alguém que é portador de um acidente vascular cerebral, tem primeiramente que recolher informações concisas sobre a forma de como lidar com o prejuízo que nos subjuga”. Adaptar é a palavra de ordem, toda a casa, a adesão à fisioterapia, o ganhar paulatinamente, deixando a cadeira de rodas, contando com a bengala, ganhando lutas com as pedras da calçada, a dominar a ansiedade, e assim se chega ao que é hoje: “Tomo banho, desfaço a barba, visto-me e calço-me, abotoo os botões, faço máquinas de roupa, estendo-a e apanho-a, passo-a a ferro, tomo o meu café, almoço a janto, trabalho no meu computador, passeio, convivo com os amigos. Ajudas, só em caso de extrema necessidade. Abdico da faca pela inércia da mão direita. Em casos pontuais solicito auxílio".

Superou o desapontamento quando um médico lhe disse que não podia voltar a conduzir, lutou e obteve um atestado médico, abriu nova porta de liberdade. Conta histórias dos altos e baixos, caso das injeções de botox, havia promessas de melhorar os músculos afetados, José Saúde entendeu desistir do medicamento e escolheu ser internado no Centro de Medicina e Reabilitação do Sul, em S. Brás de Alportel, sentiu-se compensado.

Com o tempo, voltou à praia, apreciou sentir a aranha macia, retomou a vida social, retomou o gosto da escrita, em 2013 publicou um livro sobre as suas memórias da Guiné-Bissau, chamou à atenção para os “filhos do vento”, aqueles frutos de amores espúrios entre militares e mulheres guineenses. Sente hoje muito mais força anímica contratando pessoas. Continua vigilante: “Dissecando a doença que atormenta, e não entrando exclusivamente por saberes dos técnicos de saúde, o meu problema, embora estável, não é seguro. Assumo essa inevitável certeza”.

Também para ajudar os outros acidentados pelo AVC, recorda o papel da mente na recuperação, a descoberta das imensas capacidades que mantemos ocultas, como, pela inversa, não devemos ignorar as taxas de insucesso, um terço das pessoas que sofreram um AVC ficaram incapacitadas. Apelando a que ninguém desanime, lança-lhe uma consigna: “Tropece e erga-se de imediato”.

Para os leigos, explica que há dois tipos de AVC, o isquémico e o hemorrágico, quais os tratamentos e a recuperação, bem como as sequelas. Depois do AVC, muitas coisas mudam na vida e os cuidados para a alimentação ganham prioridade. Testemunhando na primeira pessoa explica como supera os engasgos, as vantagens da natação, a recuperação da afazia. Leva mais de dez anos depois do AVC, conseguiu a autodeterminação, integrou-se na vida familiar, com maior pujança, alinha, a título de aviso que há comportamentos que têm que mudar. O médico fisiatra de José Saúde compraz-se com a alegria de viver que ele transmite, a alegria como sistema de vida, como esquema tático, bola para a frente e fé em Deus, prognósticos só no fim do jogo e esse ainda vem longe.

Um muito bonito testemunho de quem saiu vitorioso do mundo dos silêncios.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17861: Notas de leitura (1004): “Casa dos Estudantes do Império, Subsídios para a História do seu período mais decisivo (1953 a 1961)”, por Hélder Martins; Editorial Caminho, 2017 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17859: Agenda cultural (591): Casa do Alentejo, Lisboa, sábado, 21 de outubro, às 15h30: apresentação, pelo nosso editor Luís Graça, do livro do Zé Saúde, "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade". Atuação de: (i) Grupo Musical Os Alentejanos, de Serpa; e (ii) Grupo Coral Cantadores do Desassossego, de Beja.




Cartaz promocional do evento. Vd, aqui referências ao nosso camarada José Saúde, autor do livro "AVC- Recuperação do Guerreiro da Liberdade" (Lisboa, Chiado Editora, 2017).

Sobre a Casa do Alentejo, no Palácio Alverca, Rua Portas de Santo Antão, 58, Lisboa, ver aqui página no Facebook e sítio na Net

"HISTÓRIA  > A Casa do Alentejo representa e promove a Região Alentejo em Lisboa, apoiando, incentivando e dinamizando a cultura alentejana e lutando também pelo crescimento e sustentabilidade da região, estando sempre presente construtivamente em todas as discussões que digam respeito à mesma."

Sessão musical com os nossos já conhecidos Os Alentejanos, de Serpa e ainda o grupo coral Cantadores do Desassossego, de Beja. Gente fantástica, talentosa e solidária!... Entrada livre.
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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17770: (De) Caras (95): O AVC na primeira pessoa e o processo de recuperação e reintegração (José Saúde)


 Lisboa > Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "AVC - A recuperação do guerreiro da liberdade" > O autor no uso da palavra.

Foto (e legenda) : ©  Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Texto do José Saúde, lido pelo próprio na apresentação do seu último livro

AVC - Acidente Vascular Cerebral

por José Saúde

[ex-fur mil op esp/rangerl, CCS / BART 6523 (Nova Lamego/Gabu, 1973/74); vive em Beja]

(i) Vítima na madrugada de 27 de julho de 2006, com 55 anos, de um acidente vascular cerebral – AVC 

Começo esta dissertação sobre o tema de apresentação da minha última obra – "AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade" – com um pequeno texto de um escritor australiano, Morris West, que me serve como uma chama cintilante na minha ânsia de viver:

“É preciso abraçar o mundo como um amante… É preciso aceitar a dor como condição de existência… É preciso cortejar a dúvida e a escuridão como preço do conhecimento… É preciso ter uma vontade obstinada no conflito, mas também uma capacidade de aceitação total de cada consequência do viver e do morrer”.

Retiro excelentes conclusões desta curta descrição e revejo-me numa luta sobre-humana em cada dia que passa, mas em favor de um amanhã sempre melhor.

Debruçando-me sobre o meu caso pessoal, relato de que fui vítima na madrugada de 27 de julho de 2006, com 55 anos, de um acidente vascular cerebral – AVC – que me deixou entre a vida e a morte. O tempo passou e a verdade é que sou hoje uma pessoa autónoma e determinada para continuar hastear a bandeira de uma inacabada liberdade.

Numa ponderação sobre os fatores de risco que poderão estar na origem de um AVC, casos da diabetes, hipertensão, tabagismo, afirmo jamais fumei um cigarro, obesidade, sedentarismo, álcool, drogas, idade, entre outros fatores propícios a este infortúnio, julgo que a minha situação, até então constatada, não se enquadrava num plano de prevenção, por isso sentia-me ausente de tamanho prejuízo. Todavia, o “mal” bateu-me à porta e paulatinamente fui-o combatendo com uma garra enorme.

(ii) o desafio de reconquistar a autonomia, a autoestima, a cidadania...

Reconheço que transportar as sequelas de um AVC que muito me fustigou, não foi fácil, contudo, lutei com as minhas forças para suprimir obstáculos que quotidianamente se nos deparam. Noto, que a sensibilidade de quem está no outro lado, como nós já tivemos, é dúbia. Não falo no genérico, mas em casos pontuais que muito me revoltam.

Por exemplo: pessoas que chegam e que ocupam um lugar de estacionamento público destinado a deficientes, sendo que este ao chegar vê o senhor, ou a senhora, sair do seu veículo lançando um subtil olhar e um frágil sorriso nos lábios para aquele companheiro que ficou sem possibilidades de um lugar que justamente lhe pertence. Ou, de um lugar devidamente identificado e constantemente assaltado. Mas atenção que esse devaneio já é contemplado como uma infração ao código da estrada.

Exprimo, também, que neste deambular de histórias contadas nesta obra, incido a minha experiência pessoal sobre as fracas acessibilidades em alguns dos edifícios públicos.

É verdade que nem todas as situações enveredam pelo mesmo diapasão. Não dispenso é de lançar o meu grito de alerta para aqueles que, por enquanto, descuidam essa certeza.

Neste pausado caminhar deparo-me, com alguma frequência, com um catálogo imenso de pessoas que me consideram como exemplo numa teia humana onde sobressaem gentes inconformadas com o destino que a vida lhes aplicou, sendo a minha situação conduzida ao púlpito pela forma positiva como sempre soube lidar com o direito à liberdade. Não ganhei a guerra mas sucessivas batalhas.

Confesso que o trilho da simplicidade fui eu próprio que o tracei. Desde uma afasia onde as palavras teimavam em não fluir, até a uma luta travada no mundo dos silêncios onde num atroz monólogo surgia uma imensidão de incertezas, foi uma situação difícil de digerir.

Que irá ser de mim? Pensava! Será que voltarei a ser quem era? Será que deixarei a cadeira de rodas? A bengala? Será que irei ser compreendido? E a família aceitar-me-á com as minhas paupérrimas limitações? Será que um dia voltarei a pisar as pedras da calçada e caminhar seguramente numa marcha tranquila? Será que um dia voltarei a conduzir? Será que a vida, tantas vezes cruel, me proporcionará novas etapas e eu voltarei a conviver com os meus amigos, ou a fazer parte de uma sociedade, embora por vezes estigmatizada, mas que sempre me reconheceu? E o maravilhoso mundo do jornalismo onde anos a fio a escrita fez parte do meu dia-a-dia ter-se-á perdido? Respostas que teimavam em cair no limbo do vazio.

Basta de tantas interrogações, interiorizava. E eis que um neurónio considerado herói desmultiplicava-se em variadas tarefas e acordava os irmãos adormecidos em pasmos de santa paciência. No meu horizonte visualizava uma luz que me transportava a uma meta onde ênfase da vitória final era o desfecho desejado.

(iii) a alegria de voltar a conduzir e ter um carro próprio, adaptado

Pelo meio deste meu manso divagar reativei uma ideia que parecia inatingível. Quiçá impensável. Voltar a conduzir e ter um carro próprio. Não foi fácil. Inusitadas burocracias impostas invadiram-me a mente. Uma visita ao médico cuja finalidade era um atestado que narrasse a minha situação, dado que a decisão final seria matéria de uma instância superior, e como resposta um expressivo não. Mandou-me emoldurar a carta de condução e coloca-la na parede. Já não voltava a conduzir. Que decisão tão bárbara e sugerida com uma leviandade tremenda.

Perante a sentença carpi mágoas e as lágrimas escorreram-me pela cara abaixo. Que notícia tão desumana e lançada por um velho amigo. Não me dei por vencido e marquei uma visita no Centro de Mobilidade de Alcoitão. Com um atestado médico, passado agora pelo meu fisiatra, Dr. Carlos Machado, o homem do prefácio desta obra, lá fui sujeito a uma avaliação com duas médicas fisiatras e duas terapeutas ocupacionais. Resultado: o exame foi de tal forma claro que me foi passado um documento para a alteração da carta de condução e a seguir veio uma junta médica que me passou o documento para a aquisição de um veículo.

Adquiri o meu Citroen e com ele já faturei nove anos de condução e de uma cumplicidade indiscritível.

(iv) a escrita que me salvou: nestes 11 anos de AVC já editei seis obras

O universo da escrita nunca o abandonei e nestes 11 anos de AVC já editei mais seis obras, sendo uma delas "AVC Na Primeira Pessoa", agora "AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade". Sublinhe-se que tudo é feito com a mão esquerda. Aquela que se pautou pelo inquebrável silêncio ao longo da minha existência.

Nesta obra procuro desmitificar o mundo dos portadores de AVC. A doença é silenciosa, traiçoeira e não conhece sexos, raças, religiões, credos, cores, idades, ou um outro adjetivo que possamos citar.

Nunca ousei admitir que um dia seria mais um dos muitos pacientes com AVC. Contudo, sinto-me feliz porque no ano de 2006, o do meu AVC, se registaram em Portugal, de hora-a-hora, seis novos casos, sendo metade contabilizados como mortes. Eu sou uma das felizes criaturas neste cosmos terrestre que recusei a certidão de óbito e passei à frente.

(v) a evocação da minha  santa mãe

Possibilitem-me que neste âmbito leia um pequeno texto contido neste meu livro:

“O tempo passava. O travesseiro, habitual companheiro, pugnava pela hostilidade do silêncio. Um silêncio que dizia não à confidencialidade dos meus profundos desabafos. Mantinha-se ausente. Evocava, por força de uma razão maior, a palavra mãe. Sussurrava: Mãe, tu que foste uma mulher com um M bem maiúsculo ajuda-me! Partiste há muito para uma outra vida celestial, mas sei que és agora o espírito que se depara com o sofrimento do filho único que sempre amaste incondicionalmente! Não, não pode ser. Não me abandones. Ajuda-me! Murmurava, desalmadamente… Guardo de pequeno a tua imaculada imagem. Lembro-me, enquanto miúdo, da tua insistência para não faltar à missa e à catequese. Eras uma mulher religiosa. Falavas-me de Deus. Dos milagres feitos por Jesus. Do milagre do pão. Da ressurreição. Dizias-me para ter fé e acreditar. E eu bebia religiosamente as tuas preces. Respeitava, e respeito, as opiniões dos crentes. Absorvi na igreja saberes celestiais que me ensinaram a calcorrear novos caminhos.

"Mais tarde, quando prestava serviço militar, fui mobilizado para a Guiné e tu, na hora da partida para África, encorajaste-me, sabendo eu a dor que envolvia a tua alma. Pediste-me para acreditar na salvação. Respeitei, como não podia deixar de o ser, o teu comovente pedido. Lembro, ainda, a tua cara angelical no momento do adeus. Sustentavas que a fé nunca morre em nós. Move montanhas. O Deus Pai Todo-Poderoso é um Ser Divino que ajuda os necessitados. E eu parti confiante. Fui e voltei em perfeita saúde”…

(vi) a importância dos amigos e camaradas

Uma saúde que agora me atraiçoou. Não desisti e percorro um mundo de onde retiro experiências alucinantes. Volto a um outro curto esboço incluído nesta obra: …

”Num outro âmbito, refiro uma aventura que me levou a libertar energias. Numa noite de agosto do verão de 2010, levado pelo repto do meu grande amigo Fernando Mamede, antigo recordista mundial dos 10.000 metros, em Helsínquia, ao serviço do Sporting Clube de Portugal, um feito que marcou literalmente a história do atletismo luso, passei uma noite numa discoteca em pleno coração algarvio. Não dancei mas ficou a inabalável certeza que as nossas capacidades atuam em absoluto desde que nós sejamos autodeterminados e confiantes em aceitar o “mal” que nos chegou e não fazendo dele (AVC) um princípio para relegarmos as nossas capacidades na hora de mostrarmos aos outros que somos seres íntegros numa sociedade que frequentemente parece rejeitar a nossa débil condição física.

A estonteante algazarra de um espaço onde se misturavam cidadãos anónimos, feitos para a festa, e caras cor-de-rosa das revistas vipes, deleitavam-se perante a música de um disco joker que numa missão de bem servir a clientela se entregava a uma causa de infinitos prazeres. O ritmo da música era francamente estimulante e em simultâneo quebrava momentos de uma jocosa noite de sonhos”…

Sonhos que no meu caso pessoal reforçavam realidades assumidas, embora sentisse que olhares ocos me miravam de lado, alvitrando, talvez, que aquele lugar não era pressupostamente para mim. Engano puro, deduzi. No entanto, nunca me dei e dou por vencido. Sou forte e decidido no caminhar sempre em frente e de cabeça erguida.

(vii) a recusa da condição de "coitadinho"

Faço a minha higiene diária, calço-me, visto-me, desfaço a barba, e traço trajetos próprios. Recuso uma ajuda desde que esta esteja ao meu alcance. Não envergo a pele de cuidado mas sim de cuidador. Rejeito a expressão de coitadinho. Aqui ninguém é coitadinho. Todos iguais mas todos diferentes.

A minha condição física como antigo futebolista – Despertar de Beja, Sporting Clube de Portugal, Desportivo de Beja, FC Serpa e Atlético Aldenovense - completado com a minha especialidade militar de Ranger, tirada em Lamego, a que acresce uma comissão militar na Guiné, para além de mostrar uma saúde considerada de ferro, fazia parte do meu ADN enquanto pessoa que nunca descurou um bem-estar diário.

Hoje, examino, com generosidade, 11 anos de convivência com o meu AVC. O tempo, embora distante com o confronto com o “mal”, não quebrou a minha gentileza em conviver e sobretudo gracejar com as sequelas herdadas. Afirmo, sempre com um profícuo sorriso nos lábios, que o legado trouxe-me novas formas de análise da vida.

Tento ser mais forte a um “mal” que, amiudamente, muito incomoda. Beja, a minha cidade de adoção, é uma urbe situada em plena planície alentejana, sendo o seu clima agreste. As altas temperaturas no verão mexem com o ser humano. Em dias de calor intenso sinto dificuldades na deslocação. As pernas parecem pesar “100 quilos cada”. O cansaço apodera-se do meu corpo mas não desisto.

A hesitação não faz parte do meu ciclo de afinidades com o processo de desistência. Avanço. As pedras da calçada apresentam-se como inimigas, todavia, consigo dar a volta ao texto e à velocidade de caracol lá caminho rumo ao alvo previamente traçado.

Coxeio, não nego, tropeço mas evito a queda e faço do percurso mais uma rixa vencida. Esta será sempre a minha fé enquanto partilhar este recanto de um universo terrestre e desigual.

O inverno não é nada meigo. Protejo-mo, sem que recorra a um guarda chupa difícil em manejar, mas a um chapéu que me tapa a cabeça e a casacos que me abrigam o corpo.

Seria injusto que neste flutuar pela convivência diária com o meu AVC, não citasse um rol de técnicos especializados que muito me ajudaram em proveito da minha recuperação. A área médica, a fisioterapia, terapia da fala, terapeutas ocupacionais, a enfermagem, os assistentes, entre outras especialidades pelas quais passei, foram simplesmente excecionais. Além disso, o meu internamento durante um mês no Centro de Medicina do Sul em São Brás de Alportel, foi muito importante neste período agreste da uma vida feita solitariamente.

Em São Brás de Alportel fui sujeito a uma fisioterapia intensiva onde o trabalho do dia-a-dia se prolongava por horas a fio. Naquele Centro tive, pela primeira vez, o contacto com a água. Uma experiência extraordinária que visou mexer com partes afetadas e procurar reativar músculos adormecidos. Valeu a pena esta minha estadia em terras algarvias.

Concluindo:

Somos uma ínfima partícula de uma confraria onde o assimilar a fatalidade do próximo parece frágil, subentendendo-se que, neste estado de graça, o nosso futuro é literalmente uma inevitável incógnita. O meu AVC restringiu-me a uma limitadíssima linha de fronteira entre o viver e o morrer. Sobrevivi. Recuperei e cá estou pronto para lançar mais uma obra que narra um mundo de experiências e que partilho com os companheiros deste revés. Obrigado, a todos pela vossa presença.

José Saúde

[Revisão/fixação de texto e subtítulos: LG]
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Notas do editor:


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17763: Estórias do Juvenal Amado (57): Lisboa aqui tão perto... da "Ginjinha" do Rossio ao fórum Tivoli, onde fui assistir ao lançamento do novo livro do José Saúde, "AVC - Recuperação do guerreiro da liberdade"



Foto nº 1 > Lisboa > Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "AVC - A recuperação do guierreiro da liberdade" (*) > Na mesa, o autor, a representante da Editora e o nosso apresentador, o nosso editor Luís Graça.


Foto nº 2 >  Lisboa > "A Ginjinha" > Largo de São Domingos, 8, Rossio > Uma verdadeira "instituição" (1)..


Foto nº 3 > Lisboa > "A Ginjinha" > Largo de São Domingos, 8, Rossio > Uma verdadeira "instituição" (2)...


Foto nº 4  >  Lisboa > Largo de São Domingos > Igreja de São Domingos > O largo é o local de encontro das mais "desvairadas" gentes de Lisboa, nomeadamente estrangeiros, e oriundos da África Lusófona...



Foto nº 5  > Lisboa > Av Liberdade > "Lisboa é uma festa"...


Fotos (e legendas) : ©  Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem comnplementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Lisboa Aqui Tão Perto
Juvenal Amado e José Saúde, Lisboa, 10/9/2019.
Foto de Luís Graça


por Juvenal Amado (**)


ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer de Ti um Himem....Guiné 1972/74" (Lisboa, Chiado Editora, 2016); natural de Alcobaça,  vive hoje na Amadora]






Domingo,  dia 10 de setembro,  desloquei-me à avenida da Liberdade, em Lisboa,  para dar um abraço ao José Saúde e assistir ao lançamento do seu novo livro.

Foi bem cedo e assim aproveitei para andar por ali e acabei por chegar ao Rossio . Os turistas estão por todo o lado, em grupos aos pares e até sozinhos com as suas roupas leves, muitos com filhos às costas ou ao peito, param pelas esplanadas e até ao redor doas estátuas.

Jovens sentam-se despreocupadamente, felizes digo eu, que no nosso tempo não tivemos condições para ir por essa Europa fora de mochila ou comboio, pelas razões que sabemos.

Na Ginjinha tive de me esforçar para chegar ao balcão e recordar o momento em que o meu pai me lá levou. Não me lembro quanto custava, mas 1,40 € é agora o preço da degustação. Está claro que,  ao bebê-la,  veio-me à lembrança o sabor da melhor ginja do mundo e arredores, que é a do David Pinto, de Alcobaça, até há pouco tempo senão ainda, feita no segredo dos deuses pelo João Serafim, ainda primo direito do meu sogro. Mas é assim primos, primos, segredos da famosa ginja à parte.

Mas deixando Alcobaça, enquanto bebericava o licor deixando os dois pequenos frutos para o fim, apreciei o que se passava no largo S. Domingos, com os grupos de mulheres e homens grandes em conversa ou a venderem cola e pequenos sacos de mancarra e castanha de cajú. Usam as mesmas roupas, sinal que devem manter muitos dos seus hábitos familiares e domésticos. Com alguma estranheza minha, não são alvo da curiosidade dos turistas, vá-se lá saber porquê.

 Entretanto com o aproximar das horas, desloquei-me pela rua Portas de Santo Antão, passei a outro local da minha juventude onde algumas vezes dividi um bife à Come & Bebe também com o meu pai. Passei pelo Coliseu, Politeama, o ex-cinema Condes, onde existe hoje o café da moda Hard Rock e voltei a subir direito ao centro comercial Tivoli, parando para ver uma esplanada onde se dançava. A música brasileira era sensual e muito apelativa. Está claro que não parei por lá muito tempo, pois sou hoje detentor de dois pés esquerdos, o que não me favorece nas danças de salão.

Finalmente chegado, lá me deparei com um grupo onde pontuava o Luís Graça e o José Saúde, mais tarde também o Cláudio Moreira. Foi excelente a apresentação do Luís no tema que também lhe é caro como profissional de saúde, o descobrir que são acometidos dessa doença 3 portugueses por hora e que é a primeira causa de morte em Portugal.

Seguidamente falou o José e foi um momento de muito sentir ouvi-lo falar na primeira pessoa do percurso, da sua luta, das suas vitórias. Também os doentes criaram uma organização de apoio aos atingidos por esta terrível e incapacitante maleita (AVC Portugal), que aconselha e encaminha os doentes para as suas reabilitações.

Foi um bocado bem passado e daqui faço votos para o José Saúde, continue com a mesma força, que o retirou do reino da morte e o trouxe até nós com a força de sobrevivente, que nos deixa o relato da sua odisseia e nos ensina a continuar a luta pese o sofrimento.

Bem hajas, José,  pela a tua partilha.

No regresso para casa no metro, iam duas adolescentes com a cara completamente pintada de azul, deu-me vontade rir e pensei, Lisboa é Liiiiiiiiiiiinda, como diz o pregão e... é uma festa.

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Notas do editor:

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17759: Agenda cultural (584): Lançamento do livro do José Saúde, "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade" (Chiado Editora, 2017, 184 pp. ), no passado domingo, em Lisboa


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >   Na mesa, o autor e a representante da Editora,.


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >   Aspeto da assistência... Na primeira fila, da esquerda para a direita, quatro representantes da  Associação Portugal AVC.


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  O autor falando do seu livro


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 > O testemunho do autor...


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  O autor e outro camarada "ranger", o Cláudio Moreira, ex-fur mil da CCAÇ 11, os "Lacraus", que o J. Casimiro Carvalho veio render, em maio de 1974, em Paunca. (Foi convidado a integrar o blogue.)


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  Dedicatória, com a mão esquerda, dedicada ao Daniel Pereira, outro camarada do curso de Operações Especiais, em Lamego. Em primeiro  plano, a esposa, Sara. O Daniel Pereira, que perdeu a mão direita devido a explosão de granada, na tropa, foi depois embaixador do seu país, Cabo Verde, na Holanda, em Angola e Brasil. Está reformado e é autor de quase um dúzia de títulos ligados à história da sua terra. (É natural de São Vicente. Outro título publicado, já em 2017: Novos subsídios para a história de Cabo Verde, 284 pp., editora Rosa de Porcelana)


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  Dedicatória, com a mão esquerda, dedicada ao Daniel Pereira, camarada do curso de Operações Especiais, em Lamego... Ambos tiveram que aprender a escrever com a mão esquerda.


Lisboa >  Avenida da Liberdade > Fórum Tivoli nº 180, 1º piso > Chiado Café Concerto > 10 de setembro, domingo, 17h30 / 19h00 >  O autor e o Juvenal Amado (que também foi editado sob chancela da Chiado Editora) (**)

Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. As primeiras fotos do evento (*). Publicaremos a seguir um resumo das intervenções do apresentador,  Luís Graça, e do autor do  livro, José Saúde. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd poste de de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17738: Agenda cultural (581): "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade", de José Saúde (Chiado Editora, 2017, 184 pp.): sessão de lançamento no dia 10, domingo, às 17h30, com apresentação do nosso editor, prof Luís Graça; e hoje, dia 7, o autor vai estar no programa de Fátima Lopes, na TVI, " A Tarde é Sua", às 16h30, para falar do seu livro e da sua história clínica extraordinária

(**) Último poste da série > 12 de setembro de  2017 > seGuiné 61/74 - P17758: Agenda cultural (583): "Doente mas Previdente", por Mário Beja Santos, lançamento no Museu da Farmácia, dia 27 de Setembro, pelas 18 horas, na Rua Marechal Saldanha, n.º 1, perto do Miradouro de Santa Catarina - Lisboa

domingo, 10 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17753: Lembrete (26): hoje, domingo, dia 10 de setembro, às 17h30, na Chiado Café Concerto, Avenida da Liberdade, nº 180, Lisboa, lançamento do novo livro do nosso camarada José Saúde, "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade"



Convite do autor, editora e do nosso blogue:


Camaradas que residam na grande Lisboa,

apareçam hoje, domingo, dia 10 de setembro, às 17h30,

no Chiado Café Concerto, Avenida da Liberdade, nº 180, 


[ou Tivoli Forum, 180, Piso -1, Sala F], 

na sessão de apresentação do novo livro do José Saúde,

ex-fur mil op esp/rangerl, CCS do BART 6523 

(Nova Lamego/Gabu, 1973/74).

A sessão conta com a presença do nosso editor, Luís Graça,

que é professor, jubilado, da Escola Nacional de Saúde Pública 

da Universidade NOVA de Lisboa. (**)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17738: Agenda cultural (581): "AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade", de José Saúde (Chiado Editora, 2017, 184 pp.): sessão de lançamento no dia 10, domingo, às 17h30, com apresentação do nosso editor, prof Luís Graça; e hoje, dia 7, o autor vai estar no programa de Fátima Lopes, na TVI, " A Tarde é Sua", às 16h30, para falar do seu livro e da sua história clínica extraordinária

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

AVC - Recuperação do Guerreiro da Liberdade 


O mundo é um imenso planeta onde se cruzam imagens de seres humanos que a certa altura das suas vidas se deparam com crueldades que a mãe Natureza, infelizmente, a espaços determina. Porém, ninguém se julgue imune a presumíveis doenças que porventura nos tocam e logo inesperadamente. Mas acontece, nada a opor. Há que aceitar.


Camaradas, sou mais um dos inúmeros portadores de um Acidente Vascular Cerebral, vulgo AVC. Fui apanhado numa feroz e traiçoeira emboscada montada pelo IN (AVC) que me atirou para uma resma de incertezas, chegando mesmo a duvidar do dia de amanhã, aliás, do momento seguinte, para ser mais preciso.

Entre uma limitadíssima linha que separa o ser humano entre a vida e a morte, lá fui conduzido para um universo de incapacitados cujo futuro era marcado por uma constante incerteza. Todavia, num ténue lobrigar ao meu estado físico, conclui que o fim, a meu ver, ainda parecia distante.

A afazia, observada no seu início, limitava toda a minha inquietação face à situação emocional. Mas, lá surgiram os primeiros sinais de alerta e eis-me a caminhar seguramente no trilho do reativar competências que entretanto pareciam perdidas.

A minha hemiparesia direita trouxe-me irreversíveis marcas que o tempo jamais ousará remediar. O braço direito ficou esquecido, sendo que o membro inferior deu-me sinais de vitalidade que me proporciona um caminhar pausado, mas seguro.

A luta titânica que travamos quotidianamente no mundo

Capa do 1º livro, editado em 2009
dos silêncios, levou-me a escrever um segundo livro sobre o AVC (*). Entendi, como oportuno, incentivar todos os companheiros apanhados nesta “armadilha”, assim como os potencias portadores de uma doença contextualizada no universo de informações existentes.

E é neste contexto de realidades adquiridas, que me fixei na construção de uma outra obra que nos permite mergulhar no saber sobre as circunstâncias em como lidar com o “mal” que por vezes parece um fim, mas que afinal nem sempre a meta é a derradeira solução.

A obra, 184 páginas, tem a chancela da Chiado Editora e será, inicialmente, lançada em Portugal e no Brasil e, posteriormente, traduzida em inglês para os Estados Unidos da América, Inglaterra, Irlanda do Norte, assim como em castelhano para Espanha, após a venda dos primeiros 3.000 exemplares. (**)

Para trás ficaram momentos áureos em que a nossa irreverente juventude proporcionou instantes de felicidade e apreensão. Reconheço que o meu passado como antigo futebolista, sustentado num serviço militar obrigatório onde a especialidade de Operações Especiais/Ranger, a que acresce uma comissão no Guiné, me trouxe um novo alento e deu incontestáveis forças no debelar deste sinistro “mal”.

Espelhando, humildemente, o que me vai na alma, convido todos os camaradas que residem na grande Lisboa que no próximo dia 10 de setembro, domingo, 17h30, na Chiado Café Concerto, Avenida da Liberdade, nº 180, marquem presença no evento. De resto fica o respetivo Cartaz e, naturalmente, o Convite. 

Estou a contar com a presença do nosso editor, Luís Graça, que é professor de saúde pública, jubilado, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.

Abraço,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Notas de M.R.:

(*) Vd. poste de 11 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12574: Blogoterapia (246): Uma história de vida contada na primeira pessoa (José Saúde)

Vd. também postes de:

12 de outubro de 2011 Guiné 63/74 - P8898: História de uma vida (José Saúde Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 - Nova Lamego e Gabú -, 1973/74)

1 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12664: História de vida (37): O AVC é uma doença subtil que chega sem avisar (José Saúde)

(**) Vd. último poste desta série em: 

1 DE SETEMBRO DE 2017 > Guiné 61/74 - P17721: Agenda cultural (580): Lourinhã, Ribamar, sábado, dia 2, às 17h00, inauguração da exposição do nosso amigo e camarada Estêvão Alexandre Henriques, "Navegar no passado"... O nosso próximo grã-tabanqueiro foi fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858 (Catió, 1965/67)Lourinhã, Ribamar, sábado, dia 2, às 17h00, inauguração da exposição do nosso amigo e camarada Estêvão Alexandre Henriques, "Navegar no passado"... O nosso próximo grã-tabanqueiro foi fur mil radiomontador, CCS/BCAÇ 1858 (Catió, 1965/67)