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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12261: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (76): Encontro do nosso editor, ao fim de 6 anos, com a família do ex-alf mil Martinho Gramunha Marques, natural de Cabeço de Vide, Fronteira, morto heroicamente em combate, em Madina do Boé, em 30/1/1965


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde > Em cima, o nosso editor Luís Graça, com a família do nosso infortunado camarada Martinho Gramunha Marques: duas irmãs (sendo a Adelaide a primeira a contar da direita) e um irmão (ou cunhado, não sei ao certo).


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde >  Sessão de autógrafos: o autor escrevendo uma dedicatória a um familiar do alf mil Martinho Gramunha Marques, que era natural de Cabeço de Vide, concelho de Fronteira, Alto Alentejo. (Tem na sua terra natal, uma rua com o seu nome.)

Fotos (e legendas) : © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados.





Guiné > Zona Leste > Pirada > Janeiro de 1965 > Da direita para a esquerda: (i) em primeiro plano, o alf mil Martinho Gramunha Marques (3ª CCac Indígena / BCAÇ 512, Mansoa e 1963/65; (ii) ao centro, o António Figueiredo Pinto, [alf mil, BCAÇ 506, Nova Lamego, Beli, Madina do Boé, 1963/65]; e (iii) o Sarg Piedade.

Foto tirada em Pirada...Poucos dias depois, a 30 de Janeiro de 1965, o Gramunha Maqreus morre numa emboscada, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento...  Natural de Cabeço de Vide, concelho de Fronteira, Alto Alentejo, está inumado no cemitério de Cabeço de Vide.  Pertencia à 3ª Companhia de Caçadores Indígenas do BCAÇ 512.

Foto (e legenda) : © António Pinto (2007). Todos os direitos reservados.


1. No passado dia 26 de Outubro, o nosso camarada  e amigo José Romeiro Saúde, natural de Vila Nova de São Bento, Serpa, a viver em Beja, Baixo Alentejo, fez o lançamento do seu 5º livro, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos; preço de capa: 10 €),

Como já noticiámos, o evento constituiu um sucesso e foi pretexto para uma belíssima tarde de animação cultural, com dois grupos musicais do Baixo Alentejo. O Zé estava felicissímo pela presença de numeroso público, com muitos amigos e uma meia dúzia de camaradas da Tabanca Grande.  Fartou-se de escrever dedicatórias e autógrafos (nos cerca de 4 dezenas de livros vendidos). Veio gente de vários lados, do Baixo e até do Alto Alentejo. Um das grandes surpresas, que me emocionou, foi a presença da família do saudoso Martinho Gramunha Marques, um dos 75 alferes que morreram no TO da Guiné.

Mais uma prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (*)... Finalmente pude comhecer um das primeiras mulheres, familiares de camaradas nossos, a entrar para a Tabanca Grande, Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo). Vinha acompanhada de mais dois familiares, uma irmã e um irmão (, ou marido, ou cunhado, não fixei na altura, no meio de tanto ruído).

Já lhe mandei as fotos que publicamos hoje, juntamente com a seguinte mensagem, por mail de 3 do corrente::

Querida amiga Adelaide:

Estou feliz pelo nosso breve encontro. Afinal, você perdeu, irrremediavelmente, um mano na guerra, mas também nós ganhámos, enquanto grupo de ex-combatentes, uma mulher, que será nossa irmã, e que será sempre para nós e para as mulheres portuguesas que nos leem, um exemplo extraordinário de coragem, de lucidez e de amor fraterno.

A sua história tocou-nos, ao revelar-nos, publicamente, a sua reação íntima à notícia lida no blogue, sobre as circunstâncias da morte (heróica) do Martinho, dada por uma camarada dele, o António Pinto, e que você irá mais tarde conhecer (se não me engano).

Se a ajudámos a fazer o luto, a si e à sua família, como temos feito com outras mulheres e outras famílias, é o suficente para nos sentirmos compensados pelas agruras, que também as temos , da edição deste blogue, que vai fazer 10 anos de existência.

Gostaria de relembrar, num novo poste, a publciar em breve, o seu mano bem como a grande família que ele tem e de que ele se pode continuar a orgulhar, lá onde quer que ele esteja... Junto duas fotos que tirámos, na Casa do Alentejo, uma delas em grupo. Com tanto ruído na sala, não consegui tomar boa nota dos nomes dos seus manos, ou melhor, mana e mano (?). Enfim, gostaria de publicar no blogue uma pequena notícia sobre o encontro em que finalmente conheci uma mulher, como você. de grande nobreza, e uma boa amiga do blogue, uma das primeiras a juntar-se à nossa "caserna virtula", a que chamamos Tabanca Grande.

Se por acaso tiver fotos, digitalizadas, do seu mano e dos seus camaradas, cá e/ ou na Guiné, esteja à vontade para mas mandar (ou não). Eu acho que ele, mas vocês e nós também, temos direito à memória. Falar dele é não esquecê-lo, é mantê-lo ao pé de nós. Um beijinho do Luís Graça



2. Recorde-se aqui a mensagem de Adelaide Gramunha Marques, publicada em 20 de junho de 2007 (**):

Exmo. Senhor Dr. Luis Graça

Estou a escrever-lhe porque através de um dos meus sobrinhos (#) veio parar-me às mãos um blogue que fala da Guiné, daqueles que por força do destino ou da cegueira de um homem, se viram envolvidos em lutas que não provocaram e cujo desfecho final nem sempre foi o mais agradável.

Deixe que me apresente primeiro: o meu nome é Maria Adelaide Gramunha Marques Sales Crestejo, irmã do falecido Martinho Gramunha Marques (##).

Quero que saiba que a minha primeira reacção quando vi o blogue, foi de expectativa pois fiquei entusiasmada com a ideia de que aqui podia finalmente encontrar alguém, que durante aquele período de tempo em que ele esteve na Guiné (3), conviveu com ele, quem sabe assistiu aos seus últimos momentos, o confortou, lhe deu apoio enfim, não o deixou morrer sozinho.

Quando vi a mensagem do Sr. António Pinto e vi o nome do meu irmão ali escrito com todas as letras, nem parei para pensar e foi então que um murro me atingiu em cheio o estômago, a cabeça começou a girar e as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.

Ali à minha frente estava aquilo que durante anos e anos eu tentei saber e nunca tive ninguém que mo dissesse. Como foi a morte do Martinho Gramunha Marques ? O meu coração pedia a Deus que tivesse sido rápido, que ele não tenha sofrido.

Agora sei que isso não foi assim. Agora que já passaram 2 dias desde que tive conhecimento da vossa existência, e tendo lido com mais calma alguns dos comentários e narrativas, acho que foi bom, esta revelação aproximou-me mais dele.

Há no entanto tanta coisa que eu gostaria de saber, por essa razão lhe escrevo este email, pois gostaria se isso fosse possível, entrar em contacto directo com o Sr. António Pinto (4), seja através de telefone ou email.

Dr. Luis Graça, não quero terminar este email sem antes mandar para si e para todos os que de uma maneira ou doutra tornaram este cantinho uma realidade, um BEM HAJAM e as maiores felicidades.

Adelaide Gramunha Marques
______________

(#) Comentário de Bernardo Garmunha Marques ao poste de 23 de janeiro de 2007 | Guiné 63/74 - P1456: Gabu: Fotos com legendas (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (1): Pirada e Piche

(##) Vd. poste de 17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui
ferido

3. Comentário, na altura, de L.G.:

Querida senhora, cara amiga:

(...) Deixe-me ser solidário na sua dor e na sua revolta. Deixe-me que lhe fale do meu próprio espanto. O seu irmão morreu há mais de 42 anos, no dia 30 de Janeiro de 1965, em Madina do Boé (de má memória para muitas famílias portuguesas) (...)

(...) Mas a família nunca soube as circunstâncias da morte do Martinho. Vem a sabê-lo, há dias, casualmente, impessoalmente, através da blogosfera, através do do relato de um camarada e grande amigo do seu tempo de Guiné, o ex-Alf Mil António Pinto...

É triste que as coisas tenham acontecido assim. É revoltante que o Exército, na época, não tenha conseguido sequer humanizar a notícia da morte dos seus homens.  Percebo hoje a sua revolta, que é também a nossa. Resta-nos a consolação de termos contribuído um pouco - todos nós, a começar pelo António Pinto - para que você, irmã do nosso camarada Martinho Gramunha Marques, e os seus familiares mais próximos, consigam finalmente fazer o luto e preservar o melhor da sua memória... Através do nosso blogue, através do pungente relato do seu amigo e camarada António Pinto, o Gramunha Marques não será esquecido. (...)


[ Foto a esquerda, António Pinto, II Encontro Nacional da Tabanca Grande, Pombal, 2007; vive atualmente em Vila do Conde] (***)

4. Excertos do poste P1437:

(...) (1) Gramunha Marques, morto em Madina do Boé.

Estava em Beli, já noite, quando através do rádio do Chefe de Posto soube o que aconteceu aos nossos camaradas, que foram vítimas duma emboscada fatal. A minha primeira reacção foi entrar em contacto com Nova Lamego e pedir autorização para ir tentar ajudá-los.


Levei uma nega do Ten Cor Figueiredo Cardoso  (****) que me deu ordens terminantes para ficar onde estava, em Beli, com redobrada vigilância. Com os nervos à flor da pele, desliguei-lhe a comunicação depois de quase o ter insultado (e que mais tarde pedi desculpa, do acto impensado).

Pedi voluntários para irem comigo, mesmo desobedecendo
às ordens e quem conseguiu demover-me, já
com a pequena coluna pronta para arrancarmos, foi o Furriel Stichini, que me disse e não posso mais esquecer:
- Nós vamos, mas será o responsável pelas nossas mortes.

Acabei por ficar, destroçado e cheiro de raiva. O Gramunha Marques, soube-o depois, teve uma morte horrível,
com uma perna esfacelada, esvaindo-se em sangue e sempre consciente até ao fim. (...) (*****)

_____________

Notas do editor

(*) Último poste da série > 5 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12252: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (75): O reencontro de 3 amigos e camaradas estremenhos: Eduardo Jorge Ferreira (Polícia Militar, BA 12, 1973/74), Jorge Pinto (3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) e Luís Fernando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)

(**) Vd. postes de:

20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

5 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8324: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (10): O pungente testemunho da irmã do nosso malogrado camarada Martinho Gramunha Marques, morto em Madina do Boé, em 30 de Janeiro de 1965

(***) Alguns dados sobre o António Figueiredo Pinto:

(i) Embarcou para a Guiné em Novembro de 1963, em rendição individual ("Fui substituir um colega que se pirou para o Senegal");

(ii) Passou  por Nova Lamego, tendo ao fim de algum tempo sido destacado para Pirada ("onde reconstrui o aquartelamento");

(iii) Esteve e algum tempo em Geba ("zona na altura um bocado perigosa, mas sem problemas");

(iv) Veio de férias, à Metrópole,  em Outubro de 1964;

(v) No regresso, foi destacado para Madina do Boé (,"tendo sido o primeiro pelotão a chegar lá onde montei o primeiro aquartelamento");

(vi) Depois foi para Beli (, o primeiro pelotão também a lá chegar e a montar o destacamento);

(vii) Em Maio de 65, o destacamento de Beli é atacado; o António Pinto é um dos sete feridos, na sequência do rebentamento de uma granada de morteiro;

(viii) Esteve um mês internado no HM 241, em Bissau;

(ix) Seguiu depois para Bolama, para dar instrução e terminar a comissão.

(***) Ficha das unidades:

BCAÇ 506: mobilizada pelo RI 2, partiu para o TO da Guiné em 14/7/1963, regressando a casa em 29/4/1965. Esteve sediado em Bafatá. Comandante: ten cor inf  Luís de Nascimento Matos.

BCAÇ 512: mobilização pelo RI 7;  partida a 17/7/1963 e regresso a 12/8/1965; localização: Mansoa e Nova Lamego: comandante: ten cor inf António Emílio Pereira de Figueiredo  Cardoso.

3ª Companhia de Caçadores Indígenas:

Elementos informativos pelo nosso colaborador, amigo e camarada José Martins:

(i) Esta unidade foi constituída em 1 de Fevereiro de 1961, como unidade da guarnição normal do CTIG;

(ii) Era  formada por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, 

(iii) Iniciou  a sua formação adstrita à 1ª CCAÇ I;

(iv) Em 1 de Agosto de 1961, com a constituição de dois pelotões, substitui a 1ª CCAÇ I na guarnição de Nova Lamego;

(v) Desloca elementos para guarnição de várias localidades do Setor Leste, por períodos e constituição variáveis, sendo de destacar as localidades de Che-Che, Béli e Madina do Boé;

(vi) Passou a guarnecer, em permanência as localidades de Béli e Madina do Boé instalando, em 6 de Maio de 1963, um pelotão em cada localidade;

(vii) Em 1 de Abril de 1967 passa a designar-se por Companhia de Caçadores nº 5, com sede em Canjadude.

(*****) O dia 30/1/1965 foi particularmente trágico para as NT no TO da Guiné. De acordo com o portal da Liga dos Combatentes, complementado com informações preciosas do portal Ultramar Terraweb (sobre a unidade de origem, e o concelho de naturalidade) morreram nesse dia, em combate, 10 camaradas nossos, todos do Exército, incluindo o Martinho Gramunha Marques. Nove estavam ligados ao BCAÇ 512, e devem ter morrido em Madina do Boé. Só um é de batalhão diferente, o BART 733 (que estava na região de Farim):

ANTÓNIO ANGELINO TEIXEIRA XAVIER, alf, CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Valpaços:

ANTÓNIO CANDEIAS DOS SANTOS,  Sold, CART 730 / BART 733; natural de Tavira;

ANTÓNIO JOAQUIM DA GRAÇA VIEGAS, Sold, CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Olhão:

AVELINO MARTINS  ANTÓNIO, 1º Cab, CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Monchique:

DOMINGOS MOREIRA LEITE,  Fur, CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Paredes:

JOSÉ MAXIMIANO DUARTE, Sold,  CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Monchique:

JOSÉ PIRES VIEIRA DA CRUZ,  Sold, CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Coimbra;

LEONEL GUERREIRO FRANCISCO,  1º Cabo, CCAÇ 727 / BCAÇ 512; natural de Loulé;

MARTINHO GRAMUNHA MARQUES,  Alf, 3ª CCAÇ I / BCAÇ 512; natural de Fronteira;

SILVÉRIO GALVÃO NOGUEIRA,  Fur, CCAÇ 509 / BCAÇ 512; natural de Mafra.


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12219: Convívios (545): Uma festa em cheio, na sessão de lançamento do livro do José Saúde: Lisboa, Casa do Alentejo, 26/10/2013 (Parte I): Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, que nos emocionaram, com a moda "Lá vai uma embarcação / Por esses mares fora, / Por aqueles que lá vão / Há muita gente que chora"



Vídeo (2' 46''). Alojado em You Tube / Nhabijoes

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) (Preço de capa: 10 €).

Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa. Um homenagem sentida a um combatente da terra, o José Romeiro Saúde, nascido em Vila Nova de São Bento (em 23/11/1950), mas que foi cedo para Beja, a sua segunda terra, onde ainda hoje vive e onde nasceram as suas duas filhas.  Os dois concelhos viram sacrificados no "altar da Pátria", 69 dos seus filhos, durante a guerra do ultramar/guerra colonial: 35, de Beja; 34, de Serpa...

A "moda" que acima se reproduz evoca esses duros tempos em que os mancebos partiam para o Ultramar, ìndia, Angola, Guiné, Moçambique ... Ver, mais abaixo, a respetiva letra que começa assim: "É tão triste ver partir / Um barco do Continente, / Para Angola ou Moçambique / Lá lai outro contingente"...(LG)


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Um salão de cheio de gente, entre os quais diversos antigos combatentes, incluindo uma meia dúzia de membros da nossa Tabanca Grande: além do Luís Graça e do José Saúde, o Augusto Ismael, o Fernando Calado, o Manuel Joaquim, o José Vermelho, o Pedro Neves... Enfim, cito de cor, e corro risco de omitir mais alguém...  Sem esquecer, uma presença muito especial, que me emocionou, a de  Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo), irmã do nosso malogrado Martinho Gramunha Marques, alf mil morto numa emboscada em 30/1/1965 em Madina do Boé. Era camarada e amigo do nosso António Pinto (a quem mando um abraço afetuoso  em meu nome e em nome da Adelaide, e em nome de mais dois manos que a acompanhavam, um irmão e uma irmã; tirámos uma foto, juntos, que hei-de publicar num próximo poste).



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > A segunda parte da sessão, com a apresentação do autor e do livro. A mesa foi presidida pela dra. Rosa Calado (, esposa do nosso camarada Fernando Calado, e professora de história, e ambos naturais de Ferreira do Alentejo), que tem, na direção da Casa do Alentejo, o pelouro da cultura e do patrimómio. Em segundo plano, o Zé Saúde e o Luís Graça. (Um agradecimento é devido ao José Vermelho, que foi um precioso auxiliar do fotógrafo... Foi ele nos tirou as fotos, durante a segunda parte da sessão: é outro alentejano da diáspora: nascido em Marvão, foi depois para Castelo de Vide e, aos 18 anos,  abalou sozinho para Lisboa...).


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Felicíssimo, o Zé Saúde, com tantos amigos e camaradas à sua volta. Aqui apreciando, na primeira parte da sessão, os seus amigos "Os Alentejanos", que vieram de propósito de Serpa, para atuar na Casa do Alentejo... No foto, o Zé está à mesa com uma amiga de Beja, que o veio ajudar na sessão de venda de livros; e mais à esquerda a sua esposa.


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, amigos do José Saúde, e que animaram a primeira parte da festa, antes da apresentação do autor e do livro pelo nosso editor Luís Graça e por Rosa Calada (diretora da Casa do Alentejo, com o pelouro da Cultura e Património).

Este grupo de música tradicional alentejana é um naipe de cinco vozes magníficas cuja atuação  nos alegrou, encantou e emocionou a todos... Fica aqui um registo para os nossos queridos leitores.

Vídeo, fotos e legendas : © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados


Lá vai uma embarcação

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares fora
Lá vai uma embarcação.

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração,
Por esse mares a fora
Lá vai uma embarcação.

Letra: 

Reproduzida, com a devida vénia,  do sítio Joraga Net > O Cante do Cante: Grupos Corais Alentejanos, página criada e mantida por José Rabaça Gaspar.

[Obrigatório visitar esta página, que contem um repositório riquíssimo de dezenas de "modas" da músicas tradicional Alentejana. Letras e  músicas recolhidas e gravadas por Francisco Baião e Manuel Aleixo, São Matias, Beja, 2011]

Contacto de "Os Alentejanos", 
música tradicional Alentejana, 
Serpa

Telem: 962 766 339 / 938 527 595

Email: joaocataluna@gmail.com

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12202: Agenda cultural (290): O nosso amigo e camarada de Beja, José Saúde, convida os camaradas da região de Lisboa para a sessão de apresentação do seu livro de memórias do Gabu (1973/74): Casa do Alentejo, sábado, 26, às 15h30... Há depois animação e convívio!

(**) Último poste da série > 28 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12212: Convívios (544): Magnífica Tabanca da Linha: 5ª feira, 17 de outubro de 2013 (Parte IV): Silêncio, meus senhores, que se vai cantar o fado!... Não se cantou, mas ficou a promessa (ou a ameaça ?) de, no 10º aniversário da Tabanca Grande, se fazer uma grande tarde (ou noite) do fado... Um dos nossos fadistas estava lá, e deu um arzinho da sua graça, o Armando Pires

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1865: Blogoterapia (22): Adelaide Gramunha Marques, tem aqui em Monção um amigo e um irmão (António Pinto)

1. Mensagem do nosso camarada António Pinto, enviada ontem a Adelaide Gramunha Marques:


Dª. Adelaide Crestejo:


Deixe-me tratá-la por minha Irmã Adelaide, porque se eu considerava o MARQUES (1) como meu Irmão e o meu melhor Amigo que tive na Guiné, considero não ser abuso fazer tal pedido.


Estou bastante emocionado pois, quando abri as mensagens ou vou ao blogue da Tertúlia, o que faço constantemente, vi uma mensagem desse grande Senhor, que se chama LUÍS GRAÇA (que já tive o privilégio de conhecer pessoalmente) cujo assunto se referia ao nosso Irmão, que sofregamente li e reli.


Ao ler veio-me à memória, já um bocado gasta, tanta coisa que, com certeza, não vou poder descrevê-las todas. Mas isto é sem dúvida um princípio.


Mal possa vou procurar no meu pequeno espólio de guerra e ver se encontro algumas fotos, para além das que eu já enviei para o blogue. No entanto com as várias mudanças de residência muita coisa se perdeu.


Hoje só quero mandar uma mensagem para a Adelaide saber que existe aqui em Monção ( sou de V. N. de Gaia, fiz toda a minha vida no Porto, mas depois de reformado, eu e minha Mulher, refugiámo-nos neste sossego) um Amigo, que gostaria imenso de a conhecer para falarmos e recordar esse grande Homem, que a maldita guerra, que fomos obrigados a fazer, ceifou duma maneira cruel.


Para já deixo aqui os meus contactos:


António de Figueiredo Pinto
Lugar da Cova
Valadares
Apartado 100
EC Monção
4950-909 Monção


Telefone fixo > 251 531 855
telemóvel > 911 029 056


e-mails: >
antoniopinto67@sapo.pt
ninhodavo@sapo.pt


Amanhã não prometo entrar em contacto pois tenho que fazer vários exames médicos, pois a idade (68) já não perdoa, mas breve voltarei.


Uma boa noite e um abraço do


Pinto


2. Comentário de L.G.:


Obrigado, António. São de grande nobreza as tuas palavras. Fico de algum modo feliz por o nosso blogue proporcionar momentos de solidariedade e grandeza humanas, como este. Ao mesmo tempo, é espantoso como, mais de 40 anos volvidos sobre os acontecimentos, tudo isto ainda mexe profundamente com as nossas emoções e os nossos sentimentos. À nossa amiga Adelaide, dirijo-lhe formalmente o convite para ficar na nossa Tabanca Grande o tempo que entender e precisar… Continuaremos a lutar pelo nosso direito à memória.


Mantenhas (como dizíamos lá na Guiné), para os dois.




3. Mensagem da Adelaide, enviada esta madrugada:


Meu caro amigo Luís, obrigada pelas suas palavras de conforto e pela rapidez com que me pôs em contacto com o Sr. António Pinto.


Vou tentar ainda hoje responder ao email que ele me enviou e que me deixou muito confortada pois vejo e sinto nas palavras dele que o meu irmão teve na Guiné se mais não foram, pelo menos UM grande amigo, UM irmão.


Pelo vosso trabalho um bem hajam e que Deus os acompanhe sempre assim como ás vossas familias.


O Luís diz que o Martinho já nos deixou há 42 anos e é verdade, mas para mim esse dia está tão presente na minha memória como se tivesse sido ontem.


A única diferença é que nos habituamos a viver com a ausência e a valorizar os momentos que tivemos de convivio como os mais preciosos deste mundo.


Obrigada meu caro amigo e bom trabalho para todos.


Adelaide G. M. Crestejo
_________


Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

Guiné > Zona Leste > Pirada > "O meu grande Amigo Gramunha Marques", nas palavras do António Pinto... Poucos dias antes de morrer, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento...


Foto: © António Pinto (2007). Direitos reservados (3).


Guiné > Zona Leste > Madina do Boé > 1966 > Vista aérea do aquartelamento (1966). Imagem reproduzida, sem menção da fonte, no Blogue do Fernando Gil > Moçambique para todas. Presumo que a sua autoria seja de Jorge Monteiro (ex-capitão miliciano da CCAÇ 1416, Madina do Boé, 1965/67) ou de Manuel Domingues, nosso tertuliano, ex-alf mil da CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/66 (autor do livro: Uma campanha na Guiné, 1965/67).


1. Mensagem de Adelaide Gramunha Marques:

Exmo. Senhor Dr. Luis Graça

Estou a escrever-lhe porque através de um dos meus sobrinhos (1) veio parar-me às mãos um blogue que fala da Guiné, daqueles que por força do destino ou da cegueira de um homem, se viram envolvidos em lutas que não provocaram e cujo desfecho final nem sempre foi o mais agradável.

Deixe que me apresente primeiro: o meu nome é Maria Adelaide Gramunha Marques Sales Crestejo, irmã do falecido Martinho Gramunha Marques (2).

Quero que saiba que a minha primeira reacção quando vi o blogue, foi de expectativa pois fiquei entusiasmada com a ideia de que aqui podia finalmente encontrar alguém, que durante aquele período de tempo em que ele esteve na Guiné (3), conviveu com ele, quem sabe assistiu aos seus últimos momentos, o confortou, lhe deu apoio enfim, não o deixou morrer sozinho (2).

Quando vi a mensagem do Sr. António Pinto e vi o nome do meu irmão ali escrito com todas as letras, nem parei para pensar e foi então que um murro me atingiu em cheio o estômago, a cabeça começou a girar e as lágrimas não paravam de brotar dos meus olhos.

Ali à minha frente estava aquilo que durante anos e anos eu tentei saber e nunca tive ninguém que mo dissesse. Como foi a morte do Martinho Gramunha Marques ? O meu coração pedia a Deus que tivesse sido rápido, que ele não tenha sofrido.

Agora sei que isso não foi assim. Agora que já passaram 2 dias desde que tive conhecimento da vossa existência, e tendo lido com mais calma alguns dos comentários e narrativas, acho que foi bom, esta revelação aproximou-me mais dele.

Há no entanto tanta coisa que eu gostaria de saber, por essa razão lhe escrevo este email, pois gostaria se isso fosse possível, entrar em contacto directo com o Sr. António Pinto (4), seja através de telefone ou email.

Dr. Luis Graça, não quero terminar este email sem antes mandar para si e para todos os que de uma maneira ou doutra tornaram este cantinho uma realidade, um BEM HAJAM e as maiores felicidades.

Adelaide Gramunha Marques


2. Comentário de editor do blogue:

Querida senhora, cara amiga: Deixemos as deferências. Deixe-me ser solidário na sua dor e na sua revolta. Deixe-me que lhe fale do meu próprio espanto. O seu irmão morreu há mais de 42 anos, no dia 30 de Janeiro de 1965, em Madina do Boé (de má memória para muitas famílias portuguesas) e, tanto quanto sei, está sepultado no cemitério de Cabeço de Vide, concelho de Fronteira, distrito de Portalegre.

Mas a família nunca soube as circunstâncias da morte do Martinho. Vem a sabê-lo, há dias, casualmente, impessoalmente, através da blogosfera, através do do relato de um camarada e grande amigo do seu tempo de Guiné, o ex-Alf Mil António Pinto...

É triste que as coisas tenham acontecido assim. É revoltante que o Exército, na época, não tenha conseguido sequer humanizar a notícia da morte dos seus homens. Percebo hoje a sua revolta, que é também a nossa. Resta-nos a consolação de termos contribuído um pouco - todos nós, a começar pelo António Pinto - para que você, irmã do nosso camarada Martinho Gramunha Marques, e os seus familiares mais próximos, consigam finalmente fazer o luto e preservar o melhor da sua memória... Através do nosso blogue, através do pungente relato do seu amigo e camarada António Pinto, o Gramunha Marques não será esquecido... Vou pedir ao António que entre rapidamente em contacto consigo: ele vive hoje em Monção (email> antoniopinto67@sapo.pt ).

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1456: Gabu: Fotos com legendas (António Pinto, BCAÇ 506 e 512) (1): Pirada e Piche

(...) Comentário do Bernardo: "Boas, sou sobrinho do Martinho Gramunha Marques (que nunca conheci) e qual não foi o meu espanto quando encontrei estas breves histórias em que ele participou e não conhecia. Foi uma surpresa agradável.Cumprimentos,Bernardo Gramunha Marques" (...).

(2) Sobre a morte do Alf Mil Gramunha Marques, vd. post de 17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1437: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (1): a morte horrível do Gramunha Marques e o ataque a Beli em que fui ferido


(...) "(1) Gramunha Marques, morto em Madina do Boé.

"Estava em Beli, já noite, quando através do rádio do Chefe de Posto soube o que aconteceu aos nossos camaradas, que foram vítimas duma emboscada fatal. A minha primeira reacção foi entrar em contacto com Nova Lamego e pedir autorização para ir tentar ajudá-los.

"Levei uma nega do Ten Cor Figueiredo Cardoso que me deu ordens terminantes para ficar onde estava, em Beli, com redobrada vigilância. Com os nervos à flor da pele desliguei-lhe a comunicação depois de quase o ter insultado (e que mais tarde pedi desculpa, do acto impensado).

"Pedi voluntários para irem comigo, mesmo desobedecendo às ordens e quem conseguiu demover-me, já com a pequena coluna pronta para arrancarmos, foi o Furriel Stichini, que me disse e não posso mais esquecer:
- Nós vamos, mas será o responsável pelas nossas mortes.

"Acabei por ficar, destroçado e cheiro de raiva. O Gramunha Marques, soube-o depois, teve uma morte horrível, com uma perna esfacelada, esvaindo-se em sangue e sempre consciente até ao fim" (...).


(3) Segundo pesquisas feitas pelo nosso camarada José Martins, o Martinho Gramunha Marques, Alferes Miliciano Comando, natural de Cabeço de Vide / Fronteira, inumado no cemitério de Cabeço de Vide, tombou em Madina do Boé em 30 de Janeiro de 1965. Pertencia à 3ª Companhia de Caçadores Indígenas.

Vd. post de 15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

Sobre a 3ª Companhia de Caçadores Indígenas, o José Martins coligiu mais os seguintes elementos informativos:

"Esta unidade foi constituída em 1 de Fevereiro de 1961, como unidade da guarnição normal do CTIG, formada por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, iniciando a sua formação adstrita à 1ª CCAÇ I.

"Em 1 de Agosto de 1961, com a constituição de dois pelotões, substitui a 1ª CCAÇ I na guarnição de Nova Lamego. Desloca elementos para guarnição de várias localidades do Sector Leste, por períodos e constituição variáveis, sendo de destacar as localidades de Che-Che, Béli e Madina do Boé. Passou a guarnecer, em permanência as localidades de Béli e Madina do Boé instalando, em 6 de Maio de 1963, um pelotão em cada localidade.

"Em 1 de Abril de 1967 passa a designar-se por Companhia de Caçadores nº 5".

Vd. post de 18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

(4) Sobre o António Pinto e as unidades a que pertenceu, vd. posts:

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: António de Figueiredo Pinto, Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

3 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1397: Ataque ao destacamento de Beli em Maio de 1965 (António Pinto, BCAÇ 512)

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira