Mostrar mensagens com a etiqueta Amadora. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Amadora. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24847: Notas de leitura (1633): “A Guerra Que a História Quer Esquecer”, por Elidérico Viegas; Arandis Editora, Outubro de 2023 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Colaborador desde o n.º 0 do jornal tavirense de nome Postal, li em número recente a publicação de um livro de um camarada nosso que fez comissão entre 1971 e 1973 em Empada e Bissau. Pedi-lhe o livro, foi célere a responder, fiz a recensão para Tavira e considero que esta tem todos os condimentos para chegar aos meus confrades. Elidérico Viegas é uma personalidade algarvia com o nome ligado à vida turística. Entendeu agora passar a escrito as suas memórias, elas seguem o curso que qualquer um de nós seguiu: assentou praça nas Caldas da Rainha, especialidade em Tavira, cabo miliciano colocado no RI3, em Beja, ingressa na Amadora na formação da CCAÇ 3373; viagem no Niassa, instrução de aperfeiçoamento operacional em Bolama, ida para Empada, quartel isolado só com saída para Bolama entre os rios Buba e Tombali. Registou 36 flagelações em Empada, sem consequências maiores. Certamente focado num público de não ex-combatentes, tece considerações sobre a população, descreve o quartel, as dependências administrativas, um quotidiano com lavadeiras, viaturas e mecânicos, a horta, ação psicológica, enfim, todos os serviços próprios de qualquer unidade, dá-nos conta dos patrulhamentos e da vida operacional em geral. Referencia os diferentes oficiais e sargentos, continua a guardar um ódio de estimação ao capitão. E depois a vida mais serena no Comando de Defesa de Bissau. Deplora a indiferença com que o sistema político trata os ex-combatentes. É este, em suma, o testemunho que nos entrega.

Um abraço do
Mário



Os equívocos e os paradoxos em torno da guerra colonial, uma História adventícia

Mário Beja Santos

Colaborador desde o n.º 0 do Postal, um jornal tavirense que tem décadas, fundado pelo meu amigo Henrique Dias Freire, tomei nota da publicação por um antigo combatente da Guiné de um seu livro relativo à sua comissão na Guiné, isto na edição de 3 de novembro passado. Teço agora comentários ao livro que ele amavelmente me enviou. Elidérico Viegas foi furriel-miliciano da CCAÇ 3373, Os Catedráticos, companhia independente, desembarcaram em Bissau em 7 de abril de 1971, foram diretos a Empada, no sul da colónia, entre os rios de Tombali e Buba.

Procede à apresentação do seu livro um artigo publicado no Postal com as suas reflexões. Confesso que não partilho uma boa parte das suas opiniões e explico porquê. Escreve que “O facto de não haver muita coisa escrita sobre esse período difícil da nossa história recente, e das obras conhecidas serem geralmente ficcionadas, incentivou-me a escrever este livro”

O que não corresponde à verdade, há centenas e centenas de livros sobre a guerra colonial, abarcando investigação histórica, ensaio, romance, novela, poesia, diários e memórias; os antigos combatentes movimentam-se ainda hoje à volta de reuniões anuais, são encontros por todo o país, aparecem antigos combatentes, filhos e netos; há blogues, entre os dedicado à Guiné, porventura o mais influente de todos os blogues de antigos combatentes, chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde irei informar os leitores desta narrativa do Elidérico Viegas; além disso, a imprensa periódica e não periódica é atraída por depoimentos dos antigos combatentes, há mesmo publicações de delegações da Liga dos Combatentes onde eles conversam entre si, eu colaboro numa delas, O Combatente da Estrela, obviamente gente da Serra e arredores. E lembro que a guerra colonial é objeto de estudos universitários, e não só em Portugal.

Diz mais adiante no seu artigo que “É preciso que aqueles que combateram na guerra colonial escrevam as verdades sobre uma guerra que o poder político teima em ignorar, sobretudo os milicianos, aqueles que verdadeiramente estiveram na linha da frente dos combates na Guiné, Angola e Moçambique. Portugal não pode esquecer nem ver apagados 13 anos da nossa história.”

Nfão estão apagados estes 13 anos, estão profusamente documentados, obviamente que a questão ideológica da colonização/descolonização ainda separa muita gente quanto à profundidade das motivações do fim da guerra, o êxodo que se seguiu e o quadro horrível de execuções praticadas em novos países independentes.

Concordo com Elidérico Viegas que é nossa obrigação contribuir com o dever de memória, e ainda bem que ele se acometeu a escrever numa literatura memorial singela, tocante e afetiva, o que viveu na Guiné entre 1971 e 1973. Oxalá o seu relato “A Guerra Que a História Quer Esquecer”, Arandis Editora (arandiseditora@gmail.com), outubro de 2023, passe por muitas mãos, seja alvo de muitos encontros com antigos combatentes e até conversas em estabelecimentos de ensino. Porque a sua narrativa possui um chamamento universal, é um registo que qualquer um de nós, antigo combatente, pode gizar e adaptar à experiência vivida. No seu caso: recruta nas Caldas da Rainha, no curso de sargentos-milicianos, a descoberta de novos relacionamentos, a aspereza de tais aprendizagens, o juramento de bandeira, segue-se a instrução em Tavira, intercalam-se muitas lembranças da juventude, a promoção a cabo-miliciano, a colocação no quartel de Beja, a formação da CCAÇ 3373 no Regimento de Infantaria 1 na Amadora, o batismo da Companhia como “Os Catedráticos”, mais tardes Os Catedráticos de Empada, a viagem para a Guiné; ele conta que precedia a viagem a compra dos uniformes (“Comprei, em segunda mão, por pouco mais de 500 escudos, os uniformes que me haviam sido fornecidos aquando da minha incorporação nas Caldas da Rainha”), ala que se faz tarde, já está a bordo do Niassa, seguem-se as surpresas que reservam Bissau, os bafos quentes e tropicais; no dia seguinte, aparece o general Spínola e depois a viagem da Companhia para ir substituir os Leões de Empada. 

Sente-se tudo quanto vai escrever se destina fundamentalmente a um público não combatente, já que a generalidade das observações que faz sobre a Guiné são, de um modo geral, conhecidas pelos antigos combatentes.

Dentro deste contexto que tem um discurso universalizante, vê-se que o autor tem o afã em nos transmitir usos e costumes, um pouco da história da colónia, pretende que o leitor se sinta inserido naquele ambiente e conheça a gente do local onde ele penou, e por isso vai falar das bolanhas que rodeiam Empada, do Rio Grande de Buba, da fauna, das duas estações do ano, a caracterização do quartel de Empada, do posto administrativo e da escola primária, da companhia de Milícia ali existente, ficamos a saber que Empada se encontrava isolada e sem acesso a outros aquartelamentos, podia-se ir até Bolama de barco. 

Entramos na esfera do quotidiano, a importância da lavadeira (“As lavadeiras eram verdadeiros entrepostos comerciais, comercializavam de tudo um pouco – galinhas e ovos, entre outros produtos, que trocavam por conservas e Coca-Cola”), o abastecimento de água, a fonte Frondosa que tinha sido renovada em 1946, exercia esse papel vital; e havia o hastear e o arrear da bandeira, os cães, a horta, a enfermaria, o departamento de ação psicológica, o papel da Força Aérea, quem era quem dentro do quartel de Empada, desde o vague-metre, as transmissões, a secretaria, o capelão.

E para que o leitor não se esqueça que havia guerra, Empada conhecia muitas flagelações, o autor comenta: 

“Parece impossível não ter havido baixas nas mais de três dúzias de ataques que o inimigo levou a cabo durante o ano em que permanecemos em Empada. Pura sorte, digo eu.” 

Descreve a vida operacional e a organização dos pelotões, ficamos a saber dos seus ódios de estimação, sobretudo com o comandante da Companhia, hoje é comportamento raro, no início da literatura da guerra havia uso e costume de proceder a assassinatos de caráter, o tempo ensina-nos a desvalorizar estas nódoas negras do passado, e até se dá a circunstância de que estes homens não estimados têm família.

O grande cometimento militar em que estiveram envolvidos foi a Grande Emboscada, a força de centenas de guerrilheiros foi dizimada, entre os mortos encontrava-se o comissário político Quintino Gomes. Volta-se ao quotidiano, a vida da messe de sargentos, aos petiscos, as madrinhas de guerra. E de Empada vem-se para Bissau para o COMBIS (Comando de Defesa de Bissau), uma vida muito mais amena, com patrulhamentos guarda ao palácio, descreve-se a vida de Bissau e o regresso no Uíge. 

No final da sua narrativa observa que Portugal precisa de reconciliar-se com o passado mais recente da sua História, fala na sorte dos antigos combatentes e no imperativo de os dignificar.

Questiono-me muitas vezes se existe algum propósito deliberado em esquecer a guerra colonial e acabo sempre por concluir que o facto de ela estar associada ao fim do império e à criação de novos Estados independentes, todas as decisões políticas deliberadas em torno do seu reconhecimento, os conflitos violentíssimos que ocorreram em Angola e Moçambique e que levaram ao êxodo das populações, por exemplo, precisam da cura da História, a serenidade da interpretação dos factos. 

Em meio universitário, consegue-se chegar à proeza de se aprovar uma tese de doutoramento, num fenómeno que dá pelo nome de pós-colonialismo, de uma senhora expender apreciações grosseiras sobre o que se passou com a perseguição e execução de Comandos guineenses sem ter tido o mínimo de cuidado em basear-se nos documentos sobre o comportamento dos políticos e dos militares na sequência dos Acordos de Argel. Isto só para sublinhar que ainda há muita manipulação no tratamento dos factos históricos, inevitavelmente envenena as consciências. Procuro assim também responder às preocupações de Elidérico Viegas.
Fonte Frondosa, Empada, a dar água desde 1946
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24839: Notas de leitura (1632): "No Limiar da Guerra", por José Manuel Barroca da Cunha; RARO, Tomar, 2021 (Mário Beja Santos)

sábado, 21 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24001: Os nossos seres, saberes e lazeres (551): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86): A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Graças ao desvelo do nosso confrade, o Coronel Morais da Silva, fiz o primeiro périplo pela Academia Militar, na Gomes Freire. Há anos que aspirava entrar neste espaço. Estava completamente esquecido que a vida ativa da escola passou de armas e bagagens para a Amadora, estão aqui uns larguíssimos milhões devolutos, ao que parece a instituição militar pode dar-se ao luxo de desmazelar ou deixar ao abandono tão importantes instalações. E há aspetos que doem bastante, passámos pelo que terá sido uma área de atividades desportivas e de educação física, tudo ao abandono, as ervas a tomar conta de um espaço que deverá ter sido formoso. Tudo agravado, talvez por ser dia feriado, por não ser ver praticamente vivalma. Há muita beleza na Bemposta, aqui o património denota a existência de muitos cuidados, mesmo com sinais de que há obras pertinentes para fazer, caso das portadas da entrada, já a descascarem. Mas será com imenso prazer que aqui voltarei para conhecer os outros tesouros da Bemposta.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86):
A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire


Mário Beja Santos

Passei vezes sem conta à porta desta instituição, vi entrar e sair cadetes, o meu destino era lá mais abaixo, na zona do Campo do Mártires da Pátria, ia visitar a minha irmã, ou o meu amigo Raúl Perez ou o Instituto Alemão ou descer a Calçada de Santana, passar pelo Convento da Encarnação e desaguar no Martim Moniz, à procura de especiarias.
Um dia, conversando com um nosso confrade, o Coronel Morais da Silva, manifestei-lhe vivamente o meu desejo, ele fora professor da Academia mais de 20 anos, além de cadete, aqui se diplomara. E um dia acertou-se numa data de visita, uma manhã fria de feriado. Talvez tenha sido melhor assim, a falta de bulício deu para intensificar a sensação de que todo aquele espaço ao abandono é um gravoso desperdício. A instituição tem larga história, gozou de várias designações, foi Escola de Guerra, Militar e do Exército, tornou-se Academia em 1959, e mais recentemente transferiram-se para a Amadora as escolas e a vida dos cadetes. O que encontrei fechado não resultava de dia feriado, é puro abandono, ao que parece as nossas luminárias ainda não encontraram forma expedita de potenciar tão rico património, ademais todas esta Academia Militar assenta no primitivo Palácio da Bemposta, a residência da rainha viúva de Carlos II de Inglaterra, Catarina de Bragança. Propriedade enorme, mais tarde dela foi desafetado o terreno onde se construiu o Hospital Dona Estefânia, a igreja mandada construir pela rainha é um primor de arte.
Gostei do estado dos jardins, mas já conheceram melhores dias. Achei curiosa esta lápide do tempo do reinado de D. Carlos para comemorar o edifício da Escola do Exército, tendo ao lado um ginásio já do tempo da I República, há uma bela sintonia arquitetónica a despeito da diferença de regimes políticos.
Com tudo fechado, e de ouvido atento às descrições feitas pelo anfitrião, caminhámos para a Bemposta onde nos aguardava o sr. Coronel Rodrigues, Diretor do Museu Militar, era suposto uma visita a preceito ao edifício e mesmo à igreja, muita coisa ficará para a segunda visita. Avançou-se para a entrada da Academia a partir do Paço da Rainha, a multiplicidade de conjuntos de azulejos, obra de Jorge Colaço, enche-nos as medidas, conjuntos perfeitos, elucidativos, pela sua disposição vamos acompanhando as atividades das diferentes armas tratadas na então Escola do Exército, ou da Guerra ou Militar.
E daqui passou-se para um espaço museológico, impensável não captar a imagem do legado desse bravo militar que foi o Marquês Sá da Bandeira, até a prótese do seu braço direito deixou à escola que o fundou. Enquanto se visualizavam os oficiais mortos em combate, chamou-me à atenção nas paredes os oficiais mortos na Guiné e na Primeira Guerra Mundial, ocorreu-me ao pensamento que nós só morremos quando deixamos de ser lembrados, uma instituição militar que se preza grava para todo o sempre os seus heróis e os seus mártires.
Impossível não visitar a Sala do Conselho Académico, aqui decorrem atos solenes, pelas paredes espalham-se os retratos de antigos diretores.
Daqui se parte para um espaço de outras memórias, condecorações de antigos alunos que deixaram rasto pela bravura e reconhecimento pátrio, caso do general Almeida Bruno.
A nossa visita está prestes a terminar, voltaremos à Academia Militar para visitar a belíssima biblioteca, outro espaço histórico da Bemposta e a igreja. Chamou-me à atenção o vitral brasonado da escola da Academia e as sucessivas referências porque passou a Academia, como se disse foi designada por Escola até 1959. Até breve.
Biblioteca da Academia Militar

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23981: Os nossos seres, saberes e lazeres (550): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (85): Com que alegria revisitei Buscot Park, entre Faringdon e Lechlade (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23168: Agenda cultural (807): Seminário Internacional de História Militar - "As Forças Armadas e a Guerra Colonial (1961-1974): Adaptações, Evoluções e Impactos", a levar a efeito no próximo dia 4 de Maio de 2022 na Amadora

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA MILITAR DA ACADEMIA MILITAR

“AS FORÇAS ARMADAS E A GUERRA COLONIAL (1961-1974): ADAPTAÇÕES, EVOLUÇÕES E IMPACTOS”

Portugal, Amadora, 04 de Maio de 2022


A Academia Militar organiza e desenvolve o Seminário “As Forças Armadas e a Guerra Colonial (1961-1974): Adaptações, Evoluções e Impactos”, em maio de 2022, com o objetivo principal de promover a divulgação científica deste tema central da História de Portugal mais recente.

O Seminário pretende reunir investigadores, académicos, estudantes e outros interessados nesta área da História de Portugal, de forma a proporcionar uma oportunidade para a divulgação de estudos e o debate de ideias no domínio da História da Guerra Colonial.

O evento será organizado no âmbito de uma parceria que reúne as sinergias da Academia Militar e do ISCTE-IUL, tal como tem vindo a ser feito no âmbito do Doutoramento em História Defesa e Estudos de Segurança, com o envolvimento da Comissão Portuguesa de História Militar.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23136: Agenda cultural (806): Salgueiro Maia - O Implicado, filme de Sérgio Graciano (Portugal, 2021, 1h 55m), a estrear nos cinemas no próximo dia 14

terça-feira, 31 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18884: Estórias do Juvenal Amado (60): O azar das margaridas



1. Em mensagem de 13 de Julho de 2018, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", enviou-nos mais uma das suas estórias.


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO


59 - O AZAR DAS MARGARIDAS

Juvenal Amado

Costumo dar umas voltas a pé aqui pelo sítio onde moro. Umas vezes aproveito para ir à farmácia, ou supermercado, levar ou trazer coisas da costureira. Umas vezes vou sozinho de auscultadores para ouvir a Antena 1, outras com a minha mulher porque é sempre bom fazer estes passeios acompanhado.

Gaivotas e pombos cruzam os céus, em comparação não vi andorinhas por aqui este ano.

À medida que passo pelas ruas da primeira cidade de Abril vou apreciando como é diferente dos sítios onde morei. A falta de limpeza das ruas motivado pelo excesso populacional, a falta de civilidade que raia o incompreensível com papeis, plásticos, que redopiam ao vento e se espalham pelas ruas e caneiros.

Mas a riqueza étnica com que nos cruzamos a cada passo, dá-nos a ideia que é viver a par com África. Ao envelhecimento da população branca respondem a quantidade de crianças e jovens negros, ciganos de origem romena, brasileiros, etc.

No trabalho de jardinagem são as mulheres negras bem como nas limpezas, nos cafés, restaurantes são brasileiros e os chineses tomaram conta do comércio de bairro, indianos pequenas mercearias, quanto aos romenos para além de terem filhos com fartura não sei o que fazem na verdade, mas são felizes nas suas vidas pouco sujeitas a imposições sociais.

Nota-se pelos costumes que há populações oriundas da Guiné, de Cabo Verde e Angola. A par de velhos com olhar perdido talvez de melancolia, é engraçado ver passar crianças com o cabelo às trancinhas, com contas coloridas nas pontas e algumas mães com os filhos nas costas tipo Racal, hábito bem conhecido das Fulas. Nos adolescentes imperam os hábitos importados dos states, com roupas e bonés tipo rappers, que publicitam clubes futebol americano ou mesmo de basebol, coisa que por cá é um “ignoro”, mas modas são assim e não vale a pena pôr mais na escrita.

No meu prédio, uma moradora queixava-se do barulho que a vizinha de cima fazia logo de manhã a batucar. Dizia a queixosa para a outra, que não sabia o que ela fazia para provocar aquele barulho. Pensei para mim, que talvez a tal vizinha confeccionasse alguma coisa no pilão ou estivesse a fazer “funge” (acompanhamento típico angolano) para o marido e filhos.

Aos Sábados de Sol coisa que tem andado arredada, é ver a criançada a jogar à bola aqui no pátio na linha de prédios, que noutros tempos foi resguardado, para que hoje haja um local onde os carros não entram. Mas não há bela sem senão, pois no resto-chão mora uma velha, que de bengala em punho, qual condestável, entende que ali não é sítio para jogar a bola e passa a vida a ameaçar a garotada com a policia e com a bengala. Bem, o policiamento da velhota não é bem encarado por todos e já resultou em troca de galhardetes entre aos prós e os contra sem Fátima Campos a moderar os debates.

Estes lugares vulgo florestas de cimentos, que há quase cinquenta anos afastaram muitos lisboetas da sua cidade com promessas de melhores condições de alojamento na periferia, onde puderam comprar apartamento, onde criaram os filhos e hoje alguns cuidam dos netos, bem felizes uns e outros. Na verdade há um tempo para tudo mas não deixam de ser efectivamente cimento e mais cimento, não é fácil viver em especial para os mais velhos que vivem sozinhos, por vezes em equilíbrio instável.

Mesmo assim é visível o esforço da Câmara Municipal no cuidar dos poucos espaços com relva.

Hoje, quando passava, vi que com a relva brotam milhares de margaridas com as suas cabecitas amarelas e pétalas brancas. Se lhes dessem tempo também algumas papoilas tingiriam o verde de vermelho empoleirado nos seus delicados caules pretos.
Mas as cidades são normalmente desprovidas destes pruridos e à mediada, que também não se condoem com as necessidades individuais de cada um, também as flores, que teimam nascer livres e selvagens, têm os dias contados. Quando regressei a casa e passei pelo jardim, vi que tinham andado a cortar a relva. Pensei como era diferente ver, como ainda se vê, nas pequenas cidades e vilas os terrenos baldios polvilhadas de flores silvestres, como quando íamos para a escola e apanhávamos e sugávamos a sua seiva avinagrada.

A relva tinha sido aparada e as margaridas tinham sido erradicadas no “holocausto” jardineiro e só se viam os caules em pé misturados com a relva aparada.

O tempo é severo, vai e não volta e também passou o tempo das “margaridas “ só que elas renascem sempre, quanto a nós há várias opiniões não condicentes.

Um abraço
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18300: Estórias do Juvenal Amado (58): Histórias com Pharmácias

terça-feira, 26 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18782: Historiografia da presença portuguesa em África (121): O primeiro voo, ligando Lisboa a Bolama, em 1925, e a primeira tentativa de usar a aviação com fins militares naquele território (Armando Tavares da Silva) (Parte II)


Foto nº 1 > Da esquerda para a direita, Tenente Sérgio da Silva, Capitão Pinheiro Correia e 1.º Sargento António Manuel, antes da segunda partida, no campo de aviação da Amadora, em 1925


Foto nº 2 >  A tripulação do Santa Filomena: tenente Sérgio da Silva, capitão Pinheiro Correia e 1.º sargento António Manuel.


Foto nº 3 > Bolama > 2 de abril de 1925 > de Chegada dos aviadores a Bolama , onde aterraram no Campo de Aviação Sacadura Cabral


Foto nº 4 >  Vista aérea de Bolama, tirada  a partir do “Santa Filomena”


 Foto nº 5 > Vôos realizados na Guiné pelo Breguet n.º 15: Bisssau_Bor, Bissau - Bolama, Bolama - ILha das Galinhas - Ilha de Canhanbaque...                          



Página dedicada ao coronel Pinheiro Corrêa (1892-1973), um dos nossos "gloriosos malucos das máquinas voadoras".  O editor, ATR, deve um dos seus descendentes.

Referência: “Lisboa-Bolama- A primeira viagem aérea a uma colónia de África”, 1Sar. Pedro Manuel Ferreira, Mais Alto, pg 4-15, Mar/Abr 2005.

Texto de: 1Sar Pedro Manuel Ferreira

Fotos: AHFA - Arquivo Histórico da Força Aérea (Textos amavelmente cedidos pela Revista “Mais Alto” )


Fotos (de 1 a 5): retiradas, com a devida vénia, da página acima,  foram também publicadas na Revista “Mais Alto”, de mar / abr 2005.



Raide Lisboa-Bolama (1925)
Armando Tavares da Silva


por Armando Tavares da Silva, 
historiador (*)


(i) As tentativas de aquisição de hidroaviões para a Guiné

Passados cerca de ano e meio desde que Portugal entrara na Primeira Grande-Guerra, conflito em que hidroaviões desempenharam papel importante na luta anti-submarina, em meados de 1917, o governador interino da Guiné, major Carlos Ivo de Sá Ferreira, enquanto decorriam as perturbações na ilha de Canhanbaque, e face à dificuldade de se poder dispor de espingardas e cartuchame, lembra ao ministro a compra de um hidroavião ou monoplano, despesa com que a Província “bem pod[ia]”, a ser utilizado para pôr fim à “má situação” que lá se vivia.

 Em Outubro de 1917 Ivo Ferreira volta a esta questão, entendendo que a existência na Guiné de um hidroavião, “máquina de guerra”, acabaria com as revoltas de “certos elementos maus em extremo” e diminuiria os custos com a guarnição militar que mais proveito teriam se fossem para obras de fomento “de que se caresse (sic) por completo”.

Face a este pedido de Ivo Ferreira são consultados o chefe da Aviação Marítima, Artur de Sacadura Cabral, e o tenente Pedro Ferreira Rosado, que tinha o brevet de hidroaviões e conhecia a província, tendo estes concluído que os hidroaviões podiam prestar serviço na Guiné. Porém, a impossibilidade de despender 200.000 francos para a aquisição de dois aparelhos, leva a que seja apenas considerada o emprego transitório “mais tarde” de um dos aparelhos a adquirir para Angola.

Em Janeiro de 1918, Ivo Ferreira insiste na compra do hidroavião, pedindo autorização para a província o adquirir directamente. Contudo esta solicitação não terá sido concedida.

(ii) O primeiro voo para a Guiné 

Vai ser apenas em 1925 que, pela primeira vez, e por uma coincidência, a aviação é utilizada na Guiné com fins militares.

Sucedeu que neste ano se realizou o primeiro raide Lisboa-Bolama, e a presença na Guiné de um avião foi aproveitada pelo governador Vellez Caroço para efectuar algumas acções ofensivas igualmente em Canhanbaque, a mesma ilha dos Bijagós em que decorriam confrontos com os povos locais.

A realização deste voo resultou de uma proposta de Outubro de 1924 do capitão José Pedro Pinheiro Correia e do tenente Joaquim Sérgio da Silva, tendo o avião escolhido sido um Berguet XVI com o n.º 15. Este, depois de sofrer várias reparações e revisão do motor, é baptizado de “Santa Filomena”, ostentando na fuselagem uma Cruz de Ourique da antiga Ordem dos Templários.

A viagem era considerada fácil, pois se dispunha em rota de um elevado número de campos de aterragem para as necessárias escalas técnicas e eventuais emergências. Quanto aos propósitos da viagem “apenas” se pretendia “demonstrar, que a aviação portuguesa tem uma compreensão nítida da sua missão, acompanhando todos os progressos dessa arma dentro e fora do país, e podendo, pois, ser aproveitado com fins absolutamente utilitários e práticos.”

A ideia inicial de implantar flutuadores no avião foi abandonada, não só pelo custo que isso representava, como, sobretudo, por se temer que o avião mal se aguentasse em mar revolto.

Uma primeira partida tem lugar no dia 7 de Fevereiro de 1925, mas que é mal sucedida por o avião ter sido forçado a aterrar de emergência em Quarteira, devido a mau tempo e ter ficado danificado. Após as necessárias reparações, a 27 de Março o Berguet parte novamente para o projectado raide, seguindo a bordo o chefe da missão, capitão José Pedro Pinheiro Correia, nas funções de observador, o tenente Joaquim Sérgio da Silva como piloto e como mecânico o primeiro-sargento Manuel António.

A viagem até Bolama vai ser acompanhada de várias contrariedades e dificuldades que foi preciso vencer, tendo o Breguet aterrado em Bolama a 2 de Abril, num campo que entretanto fora aí improvisado.

Para facilitar a aterragem fora pedido que, logo que se avistasse o avião fossem acendidas quatro fogueiras produzindo bastante fumo nos extremos do campo. Haviam sido gastas 31 horas e 31 minutos de voo, e percorrida a distância de 4.070 km.

Esta viagem vem extensamente relatada em Coronel Pinheiro Corrêa (1892-1973) > Aviador >  Viagem Lisboa-Bolama (de 27 de março a 2 de abril de 1925), relato que nos dá conta de todas aquelas contrariedades e que o raide decorreu em 7 etapas: Amadora – Casablanca; Casablanca – Agadir; Agadir – Cabo Juby; Cabo Juby – Vila Cisneros; Vila Cisneros – S. Luís do Senegal; S. Luís do Senegal – Dakar e, finalmente, Dakar – Bolama.


 (iii) Os bombardeamentos de Canhanbaque 

Em apoio à acção do governador, que procurava submeter os indígenas que recusavam o pagamento do imposto de palhota, aqueles oficiais realizaram, em dois dias seguidos (21 e 22 de Abril), missões de bombardeamento sobre os rebeldes, lançando 65 granadas de artilharia, do tipo “Schneider”, que depois de adaptadas de forma rudimentar nas oficinas navais de Bolama, foram transformadas em bombas de avião. O seu lançamento, à mão, foi efectuado “por um oficial-bombardeiro cuja indumentária se limitava a um pijama…tal era o calor (…)”.

Para a primeira missão, com a duração de 1h40, o Breguet descolou às 6 horas e 55 minutos (locais) tendo sobrevoado a ilha das Galinhas e voado próximo da ilha de Bubaque até atingir o posto de Bine, na ponta sul da ilha de Canhanbaque. Aí foram largadas duas mensagens do governador, tendo a artilharia do posto saudado com alguns tiros.

O bombardeamento das tabancas foi feito a 300 metros com granadas de 7mm. Descendo a 100 metros, é atingida uma palhota, tendo sido lançadas algumas granadas dentro da povoação, e notando-se que uma tabanca fora incendiada. Na tabanca mais próxima do posto foi arvorada uma bandeira nacional, depois de lhe terem caído próximo algumas granadas.

Na segunda operação de bombardeamento os indígenas, “refeitos do susto da véspera, já encaravam com mais ousadia as evoluções do avião” e reagiram com alguns tiros de longa,  “felizmente sem resultado”.

Pinheiro Correia e Sérgio da Silva seriam louvados pelo Governo da Província pela sua actuação na Campanha de Canhanbaque, em virtude da sua “abnegação, dedicação patriótica e valentia (…), apesar de o avião sofrer de grave avaria no motor”.

Depois dos voos de Gago Coutinho e Sacadura Cabral de 1922, e de Brito Pais, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia de 1924, ligando o continente com Macau, acabava de ser realizado o primeiro voo ligando Lisboa com uma colónia de África, neste caso a Guiné.




Amadora, concelho de Oeiras > 1928 > Campo de aviação. Foto, reproduzida com a devida vénia, da página do Facebook Amadora Antiga.


2. Comentário do editor LG:

O que  muitos "camaradas e amigos da Guiné" não sabem é que a Amadora  (a antiga Porcalhota, até 1907) foi durante  um quarto de século, entre 1913 e 1938 o "berço" dos "gloriosos malucos das máquinas voadores"...  Ou melhor, a "campo de aviação" que ficava no "campo do Borel", onde são hoje as instalações da Academia Militar...

Sabe-se, por exemplo, que a 18 de março de 1917, a “Liga dos Melhoramentos da Amadora” organiza um Festival Aéreo, nos terrenos onde está actualmente a Academia Militar, o campo do Borel, na Amadora, onde aterram o tenente António Caseiro e Sacadura Cabral. Pode imaginar-se a "loucura" que foi este evento, a avaliar pelo número dos que assistiram ao festival (50 mil pessoas), o que equivalia a doze vezes a população daquela povoação na época (c. 4 mil).

Terá sido o primeiro campo de aviação do país, ou a primeira unidade militar aérea: em 1919 o “Grupo de Esquadrilhas de Aviação República” (GEAR) instala-se nos terrenos junto ao campo de futebol dos “Recreios Desportivos da Amadora”,  ou seja, nos terrenos da futura Academia Militar.  A história da aviação portuguesa passa, pois, inevitavelmente por aqui. Foi da Amadora (freguesia em 916, vila em 1937...) que partiram algumas das mais importantes viagens da aviação nacional, nas décadas de 1920 e 1930:

(i) tentativa de ligação à ilha da Madeira, por Sarmento Beires e Brito Pais (1920);

(ii) raide Lisboa-Macau no «Pátria», com Brito Pais, Sarmento Beires e Manuel Gouveia (1924);

(iii) raide Lisboa - Bolama, capital da colónia portuguesa da Gyuiné, no «Santa Filomena» com Pinheiro Correia, Sérgio da Silva e Manuel António (1925);

(iv) voo a Goa, com Moreira Cardoso e Sarmento Pimentel (1930):

(v) voo de Carlos Bleck e Humberto da Cruz à Guiné e Angola (1931);

(vi) viagem de ida e volta, no «Dili», a Timor, com Humberto da Cruz e António Lobato (1934);

(vii) em 1938, é extinto o campo de aviação e transferido para Tancos...

Por fim, não esquecer é que na Amadora, e mais exatamente em Alfragide, que está sediado o Estado Maior da Força Aérea, E a Academia Militar tem também o seu campus, o Campus da Amadora, na freguesia da Reboleira.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17080: Agenda cultural (541): Hoje, 6ª feira, 24 de fevereiro, às 18h30, no auditório da Santa Casa da Miisericórdia da Amadora, em Alfragide: apresentação do livro de Jorge Humberto Ramos Fernandes, "Cova da Moura nos títulos de imprensa"




Convite do autor aos leitores do nosso blogue


1. O Jorge Humberto Ramos Fernandes apresenta, na sexta-feira, dia 24 de fevereiro, o seu livro intitulado “Bairro Cova da Moura nos títulos de imprensa”,  no auditório da Santa Casa de Misericórdia da Amadora. A obra resulta da dissertação de mestrado, em Comunicação Organizacional, pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias realizado em 2011. (*)

O autor é filho de pais cabo-verdianos (, de mãe de Santo Antão e de pai do Fogo). Nasceu em Angola, em 1970, foi criado em Portugal, e tem  sempre sabido manter  a ligação ao país de origem dos pais.

Licenciado em Ciências da Comunicação e especialista em Marketing e Relações Públicas, é uma figura de destaque na Amadora, onde reside e onde é conhecido por ser um ativista social: tem nomeadamente lutado pela melhoria das condições de vida da comunidade cabo-verdiana que vive na Amadora, incluindo o bairro da Cova da Moura, a "10.ª ilha de Cabo Verde", infelizmente ainda muito estigmatizado pela comunicação social... ou por alguma comunicação social... No bairro da Cova da Moura também há uma pequena comunidade de guineenses. (**)
_____________


(**) Rerferências no nosso blogue ao bairro da Cova da Moura:

16 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6604: Agenda Cultural (81): Kola San Jon, na Cova da Moura, a 10ª Ilha de Cabo Verde, na Buraca, Amadora, 19 de Junho de 2010: Manga di sabi... (Luís Graça)

21 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6204: Agenda cultural (72): Documentário, de Diana Andringa, Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta, no IndieLisboa '10, na Culturgest, a 23 (Grande Auditório, 21h30) e 25 (Pequeno Auditório, 18h30)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13421: Fotos à procura... de uma legenda (30): O aquartelamento da Academia Militar na Amadora, 1963: um regresso ao passado (Tony Levezinho, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71; régulo da Tabanca da Ponta de Sagres - Martinhal)



Oeiras, Amadora > Academia Militar > Aquartelamento da Amadora > 1963  >  A Academia Militar toma esta designação em 1959, e tem o seu antecedente histórico na Escola do Exército, fundada em 12 de Janeiro de 1837 pelo Marquês de Sá da Bandeira. A sua sede é no Paço da Raínha ou Palácio da Bemposta, na Rua Gomes Freire, em Lisboa,. com um polo nma Amadora, desde 1959.

Por sua vez, o município da Amadora foi criado em 11 de setembro de 1977, por secessão das freguesias da Amadora e da Venteira, do nordeste do concelho de Oeiras. Entre os seus símbolos, contam-se o Aqueduto das Águas Livres, bem como os campos de aviação que tiveram tanta importância na emergência da aviação em Portugal, sendo que ainda hoje o Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa se situa no concelho, na freguesia de Alfragide. Na foto acima, veem-se os primeiros prédios da Reboleira, mais tarde freguesia, hoje extinta com a divisão municipal de 2013. Vuzinhos da Academia Militar foram, durante muitos anos, a Isabel e o Tony Levezinho a quem lancei há dias o desfasio  para comentar esta  foto do Virgínio Briote: "Junto te envio a tal foto da Academia Militar em 1963... Escreve uma legenda, .revisitando a tua infância e adolescência"...(LG)

Foto: © Virgínio Briote (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Texto de António Levezinho a quem o nosso editor L.G. pediu uma legenda para a foto acima reproduzida: 


A Propósito da Foto da Academia Militar datada de 1963
por Tony Levezinho 

[, foto à esquerda, em Bambnadinca, 1969, tendo à sua esquerda o Humberto Reis e o Luís Graça, os três fur mil da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, 1969/71]

Com os meus 7 anos de idade fui para a Amadora e morávamos mesmo no "coração" da vila (então freguesia do concelho de de Oeiras),  junto à estação da C.P., e poder-se-á dizer que as instalações da Academia Militar ficavam bem já fora do centro, aliás, foi naquele espaço que a Aviação Portuguesa iniciou o seu caminho.

Em miúdo, corria a segunda metade da década de 50, de quando em vez, eu e os outros companheiros de então, por exemplo o António José Pereira da Costa (o Tozé) lá arriscavamos um tabefe dos pais por nos pirarmos para os campos circundantes da Academia, naquela altura, ainda searas de trigo.

Começava então a nascer o bairro da Reboleira - a Cidade Jardim (pois...pois J. Pimenta! - lembram-se do slogan publicitário?)  e a foto em apreço já testemunhava o aparecimento dos prédios anormalmente altos  para a época, mas, ainda assim, implantados numa zona reletivamente distante da área militar da Académica.

Casei em 1970, no intervalo da comissão na Guiné,  e quando regressei, a Isabel tinha, entretanto, alugado um 1º andar de um prédio de apenas 3 pisos, esse sim, bem em frente à porta de armas da Academia, a uma distância desta de não mais do que 80 metros, o qual iria ser o nosso ponto de partida para a vida, a dois e, não muito depois a três e, logo a  seguir, a quatro.

Ali, na verdade, construÍ família e disfrutei da felicidade de muitos serões com os melhores amigos, ao longo de uns bons 35 anos.

O Humberto Reis, o José Carlos Mendes Ferreira (o saudoso Zé Carlos) e também o Luis Graça, contam-se entre os camaradas de armas que me deram o prazer da sua companhia, naquele local que foi a minha habitação.

Embora nascido em Lisboa e agora  residente, quase permanente, em Sagres, a verdade é que a parte mais significativa, em termos familiares e de amizades, da minha vida, foi partilhada em regime de boa vizinhança com a Academia Militar da qual recordo ainda os toques de clarim, sobretudo, os  matinais de alvorada e os da 1ª refeição .

 _______________

Nota do editor:

Último poste da série > 27 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13337: Fotos à procura... de uma legenda (29): O menino... soldado de Madina do Boé, a G3 e a Kalash... (Manuel Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)