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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23633: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (13): Cumbamori, uma das mais violentas acções das NT em território estrangeiro e um dos maiores desaires do PAIGC... Mas falta-nos a versão do outro lado...


 
Batalhão de Comandos da Guiné (1972/74): Guião



1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G... Daqui a menos de um  ano, em maio e junho de 2023, a "batalha dos 3 G" vai fazer meio centenário...

Será que já está tudo dito, escrito e lido sobre os 3 G ? De modo nenhum,  e sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e  junho de 1973 (e que se prolongam até julho, no caso de Gadamael), continuamos a querer saber mais,,, 

Foram dos combates mais violentos que se travaram em toda a guerra, desde o início de 1963, a par da Op Tridente (1964) e da Op Mar Verde (1970)... A batalha dos 3 G  (há quem não goste da designação)  não se pode resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). E menos ainda aos "roncos" como a destruição de material fornecido pelos russos e outros ao PAIGC. No balanço dos ganhos e perdas, o PAIGC, apesar da destruição (parcial) da base de Cumbamori,  é capaz de ter marcado pontos ao nível político e diplomático, junto da OUA (Organização de Unidade Africana) e países do bloco soviético e até de alguns dos nossos amigos nórdicos, com o seu cerco a Guidaje (e depois Guileje e Gadamael). Deixemos esse balanço para os historiadores.

Passados 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje ou Guidage (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), parece-nos que continua a ser oportuno e importante, para os nossos leitores,  repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informação de sinopse dos acontecimentos  

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (*).

É uma pena que os camaradas ainda vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael, não escrevam, ou já não escrevam ou ainda não tenham escrito tudo sobre o assunto.  Infelizmente, há outros que a morte já levou, sem que tenham sequer passado ao papel as suas memórias: é o caso, se não erramos, do próprio comandante da Op Ametista Real, o então major Almeida Bruno, 1º cmdt do Batalhão de Comandos da Guiné,  recentemente desaparecido...Enfim, ficou pelo menos o relatório da Op Ametista Real, que será da sua autoria (...) (**) 

Do lado do PAIGC,  já não temos grande esperança de ainda podermos conhecer a versão dos seus combatentes, "na primeira pessoa do singular". Do lado das NT, republicamos mais um resumo sobre a Op Ametista Real, em que foi invadido o território do Senegal para destruir ou neutralizar a base de Cumbamori (ou Kumbamory) e aliviar a pressão sobre o nosso aquartelamento fronteiriço de Guidaje.

Infelizmente, também está pouco ou nada documentada, em termos de imagens, esta operação em que os nossos bravos comandos pagaram uma "fatura elevada", em "sangue, suor e lágrimas". Como já aqui temos comentado, não sabemos por andaram os fotocines do exército durante a guerra do ultramar / guerra colonial. E o arquivo da RTP, sobre esta matéria, é de um pobreza franciscana...

Por outro lado, já chamámos a atenção para o facto de, em duas das maiores (e mais temerárias, do ponto de vista político e militar) operações terrestres em território estrangeiro, a Op Mar Verde (Guiné-Conacri, 22 novembro 70) e a Op Ametista Real (Senegal. 19-20 mai 73), Spínola não ter arriscado o envio de tropas metropolitanas (páras e comandos, por exemplo). Foram os comandos africanos  (1ª, 2ª e 3ª CCmds Africanos, do Batalhão de Comandos da Guiné) que deram o corpo ao manifesto (para além dos nossos pilotos da FAP: os bombardeamentos aéreos de Cumbamori foram decisivos, como é público e notório,  no desfecho da Op Ametistra Real). 

O risco era menor, de todos os pontos de vista... Mas os comandos africanos acabaram por ser "usados e abusados" (se nos é permitida a expressão)  e em Cumbamori enfrentaram não só os combatentes do PAIGC como inclusive tropas paraquedistas senegalesas... Vale a pena reflectir sobre isto... Em todo o caso, é bom lembrar que o  BCP 12 também participou nesta operação, mas do lado de cá da fronteira. Releia-se o precioso e dramático testemunho do nosso querido amigo e camarada Victor Tavares, no poste P1316, de 26/11/2006: 

(...) "A 17 de Maio de 1973, a Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 recebe ordem para se integrar na operação acima referida [,a Op Ametista Real] , tendo-lhe sido atribuída a missão de garantir a segurança de um corredor entre Ujeque e Guidaje, através do qual se processaria a retirada dos Comandos Africanos. (...) (**)


17 de Maio de 1973: início da Op Amestista Real  (***)


Início da Operação Ametista Real, em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Cumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal

A operação destinava-se a aliviar o cerco do PAIGC a Guidage e a permitir o reabastecimento daquela guarnição.

Só a destruição da base de Cumbamori, a grande base do PAIGC no Senegal, na península de Casamança, permitiria pôr fim ao cerco a Guidage. A operação era difícil e de resultados imprevisíveis. O ataque ao Senegal foi atribuído ao Batalhão de Comandos Afruicanos  [ou melhor, da Guiné, constituído pela 1ª, 2ª e 3ª CComds Africanos]
, comandado pelo major Almeida Bruno – que tinha por hábito atribuir às acções militares o nome de pedras preciosas: esta ficou Operação Amestista Real.

Na tarde de 19 de Maio de 1973, uma sexta-feira , 450 homens do Batalhão de Comandos Africanos embarcavam, em lanchas da Marinha e subiram o rio Cacheu até Bigene onde chegaram ao pôr-do-sol. À meia noite a força de ataque seguiu dividida em três grupos de combate:
  • o Agrupamento Bombox, comandado pelo Capitão Matos Gomes;
  • o Agrupamento Centauro, sob o comando do Cap Raul Folques;
  •  e o Agrupamento Romeu, comandando pelo capitão paraquedista António Ramos.

O Comandante da operação, Almeida Bruno seguiu integrado no Agrupamento Romeu, que levava um grupo especial comandando por Marcelino da Mata. Avançaram, durante a madrugada e pisaram território senegalês, cerca das seis da manhã do dia 20, sábado.

Às oito horas, uma esquadrilha de aviões Fiat iniciou pesado bombardeamento da zona. Os pilotos atacaram um pouco às cegas, porque a axacta localização da base da guerrilha não era conhecida. Mas por sorte as bombas da avião acertaram, em cheio nos paióis. 

Mal cessou o ataque aéreo , que não terá demorado mais do que dez minutos, os grupos comandados por Matos Gomes e Raul Folques lançaram-se ao assalto, enquanto o Agrupamento Romeu, comandado por António Ramos, e onde seguia o comandante da operação, Almeida Bruno, tomava posição como força de reserva. Os três agrupamentos envolveram-se em duros combates: “Os soldados de ambos os lados estavam tão próximos uns dos outros que era impossível delimitar uma frente”.

O combate foi corpo a corpo e desenrolou-se até às 14h10, quando Almeida Bruno deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as forças do Batalhão de Comandos e as do PAIGC. O Agrupamento Bombox estava praticamente sem munições e o Agrupamento Centauro substituiu-o no contacto. Entretanto, Raul Folques, o comandante do Agrupamento Centauro, apesar de gravemente ferido numa perna, conseguiu a ruptuta do combate. A marcha do Batalhão de Comandos em direcção a Guidage foi lenta e com várias emboscadas pelo meio.

Resultados

Pelas 16 horas cessaram os combates e às 18h20 os primeiros homens do Batalhão de Comandos começaram a chegar a Guidage. Tinham sido destruídos:

  • 22 depósitos de material de guerra;
  • duas metralhadoras antiaéreas;
  • 50 mil munições de armas ligeiras;
  • 300 espingardas Kalashikov;
  • 112 pistoals PPSH
  • 560 granadas de mão;
  • 400 minas antipessoal:
  • 100 morteiros 60;
  • 11 morteiros 82;
  • 138 RPG7:
  • 450 RPG2;
  • 21 rampas de foguetões 122.

O PAIG sofreu 67 mortos entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e quatro elementos mauritanos, enquanto os Comandos sofreram dez mortos, dos quais dois oficiais, 23 feridos graves (três oficiais e sete sargentos) e três desaparecidos.

Uma nova coluna de reabastecimento ficou retida em Farim, por ter sido atacada uma coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram, no terreno, tendo as forças portuguesas sofrido quatro mortos e 16 feridos, dos quais nove graves.

Na luta por Guidage o PAIGC utililizou a sua infantaria apoiada por artilharia pesada e ligeira, além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento utilizou foguetões de 122 mm, morteiro 120 e 82 mm, canhões sem recuo de 5,7 e 7,5 cm, RPG2 , RPG7, armamento ligeiro e mísseis Strela. (...)

Fonte: Excerto de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973: Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: Quidnovi, 2009, pp. 41-45. (Com a devida vénia..)

[Seleção / revisão / fixação de texto,  para efeitos de edição deste poste: LG. ]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de setembro de  2022 > Guné 61/74 - P23625: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (12): A Op Ametista Real: o batalhão de comandos em Cumbamori, no Senegal, 19 de maio de 1973 (Amadu Bailo Djaló, alf graduado 'comando', 1940-2015)


(***) Vd. informação mais detalhada no poste de 18 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23364: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (5): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte IV: Op Ametista Real, de 17 a 21 mai73, destruição da base de Cumbamori, no Senegal

Vd. também o testemunho, na primeira pessoa, de Amadu Djaló (1940-2015):

domingo, 23 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22932: Agenda cultural (797): Museu do Aljube, Resistência e Liberdade, Lisboa: exposição temporária, de 13/1 a 20/3/2022: "A Guerra Guardada: Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)



Duas exposições (temporárias) de temática colonial 
para ver em 2022, no Museu do Aljube Resistência e Liberdade, rua de Augusto Rosa, 42 • 1100-059 Lisboa | Telefone: +351 215 818 535 | Email: info@museudoaljube.pt

Transportes Públicos: Elétrico 12 | Elétrico 28 | Autocarro 737 | Metro – Estações da Baixa Chiado e Terreiro do Paço | Acessibilidade: Acessível a pessoas com mobilidade reduzida.

Horário: Aberto de Terça-feira a Domingo das 10h00 às 18h00. Última entrada às 17h30. Encerra segundas-feiras e nos feriados de 1 de janeiro, de 1 de maio e de 25 de dezembro.

A Guerra Guardada

13 DE JANEIRO A 20 DE MARÇO DE 2022

Fotografias de Soldados Portugueses 
em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)

Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.

Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.

Cinquenta anos após o início do conflito, algumas coleções de antigos soldados foram destruídas, como se o passado se pudesse apagar nesse gesto. Outras, com o desaparecimento dos seus donos, ficaram órfãs. Muitas sobrevivem ainda, conservadas em álbuns ou em caixas, analógicas ou digitalizadas, e são mostradas em círculos restritos ou partilhadas nas redes sociais.

A Guerra Guardada explora coleções pessoais de homens que em tempos foram soldados. A maioria foi recolhida através de entrevistas presenciais no quadro de uma investigação etnográfica em curso no ICS-ULisboa. As restantes estão publicadas em diversos sítios e arquivos da internet. Dispersas um pouco por todo o país, retratam um tempo e um espaço distantes, e mostram uma guerra vivida mas também imaginada. Banais ou extraordinárias, revelam os muitos mundos de uma guerra longa e anacrónica que foi mandada combater pela ditadura. Que possam provocar diálogos em democracia.

Curadoras
Maria José Lobo Antunes e Inês Ponte
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“A Guerra Guardada” – Visita Orientada pelas curadoras
9 de fevereiro de  2022 - 16H00
Museu do Aljube Resistência e Liberdade

As curadoras Maria José Lobo Antunes e Inês Ponte orientam uma visita à exposição “A Guerra Guardada – Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)” .

Duração aproximada: 1h | Entrada livre, sujeita a inscrição em: inscricoes@museudoaljube.pt

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“A Guerra Guardada” – Visita Orientada com Aniceto Afonso
16 de março de 2022 - 16H00
Museu do Aljube Resistência e Liberdade

Uma visita à exposição “A Guerra Guardada – Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)” com Aniceto Afonso, historiador militar.

Duração aproximada: 1h | Entrada livre, sujeita a inscrição em: inscricoes@museudoaljube.pt

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22926: Agenda cultural (796): Próxima apresentação do último livro do José Saúde ("Aldeia Nova de São Bento"): Beja, Biblioteca Municipal de Beja José Saramago, 3ª feira, dia 25 de janeiro de 2022, pelas 21h00

domingo, 12 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22538: (Ex)citações (391): Ainda não sabemos a proveniência da foto de capa do livro do TCor Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021), escolhida pela editora (António Bastos / Carlos Vinhal)


1. Há dias telefonou-me o camarada António Bastos para falar do livro "Os Números da Guerra de África" do Tenente Coronel Pedro Marquês de Sousa de quem é vizinho e amigo.
Em conversa com o TCor Marquês, inevitável era que o Bastos não falasse da fotografia[*] da capa do seu livro, ao que o autor respondeu não ser responsável pela sua escolha, e que até tinha pedido que omitissem o seu posto militar quando fizessem referência ao autor da obra. Que lhe mostraram o livro já tal e qual como foi publicado.

Disse-me também o Bastos que se lembrava de ter visto uma foto semelhante àquela numas das muitas obras que tem sobre a guerra de África. Pedi-lhe que se a encontrasse, ma mandasse para se pubilcar.

2. Passados poucos dias recebi esta mensagem do António Bastos:

Companheiro Carlos, bom dia,
Mediante a nossa conversa sobre as duvidas de onde saiu a foto para o livro "Números da Guerra de África" do nosso Camarada Tenente Coronel Pedro Marquês de Sousa. Foi do Diário de Noticias que lançou já há alguns anos, dos autores Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, o livro "Guerra Colonial", livro esse que tem esta foto. Eu penso que seja uma sequência do mesmo.
Carlos, como eu disse na conversa que tive com o Pedro, ele disse-me que sobre a foto da capa do livro não sabe onde a editora a foi buscar e também me disse que tinha dito à editora que não metesse o Tenente Coronel.

Penso que esclareci algumas dúvidas dos nossos camaradas.
Um abraço e muito obrigado.
A. Paulo


3. Como também coleccionei os fascículos que compõem o livro "Guerra Colonial - Angola - Guiné - Moçambique", fui em busca da famosa foto da capa do livro do TCor Marquês mas só encontrei a que o Bastos me enviou, que está na página 400 e que não é a mesma, embora tudo leve a crer que se trate de momentos temporalmente muito próximos, minutos talvez.
Podemos comparar e verificar que os militares em progressão são os "mesmos", a autometralhadora e os dois militares que a ocupam, idem, e que até a vegetação é a mesma.

Pormenor da imagem, reduzida a preto e branco, da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.). (Com a devida vénia ao autor e editora...) Foto (editada) da capa do livro "Os Números da Guerra de África".
Foto (editada) retirada, com a devida vénia, da pág. 400 de "Guerra Colonial", publicação em fascículos do Diário de Notícias, da autoria de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, e que tem a seguinte legenda: Exemplo típico de abertura de itinerário. Em primeiro plano, o "picador" - com a vara de detectar minas, protegido por uma secção à sua retaguarda e por outra no seu flanco. Atrás uma autometralhadora "Fox".
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Notas do editor:

[*] - Vd. poste de 19 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (154): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

Último poste da série de 10 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22530: (Ex)citações (390): o ouri (ou uril) de Madina Xaquili, um jogo de estratégia (Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Cherno Baldé)

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Guiné 671/74 - P21445: Notas de leitura (1314): “Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2020 - O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Não podemos ignorar que o tema da guerra colonial continua a suscitar, sobretudo na classe sénior, uma controvérsia maniqueísta, há permanentemente um dedo acusador de que o rumo da guerra podia ter sido outro, diferente do que sucedeu ao 25 de Abril. Estes dois investigadores manifestam-se arredados de prós e contras, consultaram fontes documentais, e acima de tudo dão no seu manual um pano de fundo como mais ninguém até hoje ensaiou na literatura destinada ao grande público, é uma narrativa onde não se foge ao essencial do que é a guerra subversiva, guerrilha e contra-guerrilha, qual o ideal imperial do Estado Novo personificado em Salazar, o deflagrar da guerra e o seu alastramento, os homens e os dispositivos, as populações envolvidas, escolhem-se três generais distintos para relevar o comportamento pragmático, passando pelo destemor pessoal até à motivação ideológica de desejar uma vitória impossível. Os autores não fogem a esta discussão acirrada entre aqueles, em diferentes quadrantes ideológicos, associados à nostalgia e ao saudosismo, responsabilizam o 25 de Abril por se ter conduzido o desfecho da guerra para o caos e para a vergonha da retirada, mostrando, com a evidência dos documentos, a situação crítica que se estava a viver em Angola, na Guiné e em Moçambique, nas vésperas do 25 de Abril.

Um abraço do
Mário


O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (2)

Mário Beja Santos

"Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, Porto Editora, 2020, só de longe é uma reedição, ganhou a forma de livro de consulta, transformado numa grande angular onde os dois investigadores, seguramente os mais habilitados nesta vertente historiográfica, deram uma arrumação muito mais ventilada para políticas, doutrinas, territórios, organização das Forças Armadas, movimentos de libertação, populações envolvidas, ritos do quotidiano, balanço, o pós-guerra, elenco de figuras cimeiras intervenientes nos três teatros de operações. É timbre dos autores o rigor, a comunicação acessível só possível de quem muito sabe, o desnudar mitos diáfanos da fantasia de quem ainda hoje propala toda aquela guerra era por natureza sustentável e um ato patriótico. O texto de Adriano Moreira, em que este académico esculpe Salazar, o seu regime e o seu pensamento sobre o ideal imperial, é uma peça de indiscutível importância. Luís Salgado de Matos regista igualmente o relacionamento entre a Igreja e o regime face aos conflitos coloniais e averba com oportunidade que as independências de Angola e de Moçambique vieram mostrar que a Igreja Católica nestes territórios tinha uma implantação suficientemente forte para poder sustentar-se sozinha, o que é facto indesmentível. O mesmo investigador aborda a economia e a guerra, esta era paga pela metrópole, como ele escreve: “Em 1971, as colónias contribuíam com apenas 18% dos 12 milhões de contos de despesas operacionais de defesa, uma proporção que ficava permutada da sua participação na receita total do Estado. A metrópole gastava com a guerra cerca de 40% da despesa pública. Em 1974, aos custos morais e humanos da guerra – que eram os mais decisivos – acrescentava-se o prejuízo económico. À vontade da independência africana ameaçava sobrepor-se a da independência branca”.

Três generais são analisados, pela forma como fizeram a guerra: Costa Gomes, Spínola e Kaúlza de Arriaga. Costa Gomes chega a Angola em 1970, fora aberta a Frente Leste, ali se movem os três movimentos independentistas. E delineou uma estratégia de reorientação do esforço para as imensas planícies do Leste em detrimento das florestas dos Dembos e das margens do rio Zaire. Aumentou o número de distritos dentro da zona militar Leste, convocou múltiplas forças auxiliares. Consegue pôr a UNITA a combater o MPLA, lançou no terreno unidades táticas de contra-infiltração. “Um aspeto caraterístico da sua manobra foi o modo de emprego das forças africanas. Costa Gomes, ao contrário de Spínola na Guiné, não as integrou em qualquer projeto político destinado a alterar o status quo existente”. Os autores alongam-se na figura de Spínola, na análise das suas primeiras Diretivas, a sua enorme preocupação em pôr os guineenses do seu lado. Mexe no dispositivo criando Comandos de Agrupamento Operacional e os Comandos Operacionais, irá utilizar as forças africanas na contra-guerrilha e as milícias na proteção e enquadramento da autodefesa das populações. Consegue manter a situação equilibrada até 1972, será depois ultrapassado por uma nova estratégia e pelo uso de armamento mais sofisticado. Promoveu os Congressos do Povo, envolveu-se em operações que desencadearam fiascos diplomáticos, apercebeu-se que toda a sua orientação depois dos acontecimentos de Maio de 1973 era posta em causa, todo aquele plano de retração que inicialmente aceitou e que Costa Gomes assinou era o princípio do fim, nada do que ele sonhara para uma Guiné inteiramente dos guineenses.

Kaúlza de Arriaga terá uma ação de comando assumida e radicalmente ideológica, não podia admitir outro resultado que não fosse a vitória sem compromissos. Quando ele chega a Moçambique, a FRELIMO já está a esboçar um plano para avançar até ao Tete. Kaúlza lança em força a Operação Nó Górdio, vão encontrar as bases da FRELIMO abandonadas. Cahora Bassa, como se veio a demonstrar, não era um empreendimento primacial, exigiu a mobilização de um volume de meios cada vez maior para a defender, acabou por ser o Nó Górdio de Kaúlza, acrescido da denúncia dos massacres de Wiriamu, tal como Marcello Caetano já estava desavençado com Spínola acabou igualmente o relacionamento de confiança com Kaúlza e Arriaga. Ele regressa e vem para conspirar.

Este importante roteiro mostra como se desenvolveu o esforço de guerra, como foi evoluindo o comportamento da ONU dos anos 1960 para 1970, como nasceu o Movimento dos Capitães. E temos as feridas, a mais óbvia e visível foram os deficientes, escreve o presidente da ADFA que durante a guerra terão sido evacuados da frente de combate cerca de 25 mil militares afetados por deficiências motoras, sensoriais, orgânicas e motoras.

E chegou a hora da polémica interminável, se a guerra estava ou não perdida. As investigações têm progredido e os autores revelam o que se estava a passar sobretudo em 1974 em Angola, Moçambique e Guiné. Resumindo, em Angola não se estava a caminho de nenhuma vitória militar nem política: existia uma séria e assumida ameaça colonial sobre Cabinda e o Norte, a situação no Leste não inspirava confiança ao nosso aliado sul-africano, considerava-se que o programa de aldeamentos era desastroso; em Moçambique a situação era crítica, para além da continuação das ações nas zonas tradicionais de guerrilha, a FRELIMO estava a infiltrar grupos cada vez mais para Sul, abatera três aviões rodesianos que apoiavam as operações de contraguerrilha, o grosso dos meios estava empenhado na defesa de Cahora Bassa e nas linhas de reabastecimento à barragem, nas zonas restantes as forças portuguesas corriam atrás dos acontecimentos. Na Guiné, é onde tudo ia pior, primeiro com a chegada dos mísseis terra-ar e depois com os acontecimentos de Maio de 1973. Põem-se em cima da mesa o plano de retração. “Para a constituição deste reduto eram considerados os seguintes ponto-chave, a manter a todo o custo: Aldeia Formosa, Cufar, Catió, Farim, Nova Lamego e Bafatá, a Ilha de Bissau associada às regiões de Bula e de Mansoa. Isto é, reduzir a soberania a um reduto central. Esta solução é a clara admissão de que as forças portuguesas abdicavam da posse de boa parte do território da Guiné e das suas populações para se concentrarem num reduto central”. Enquanto tudo isto se passa, Marcello Caetano tentou várias saídas para o problema colonial e a guerra, pensa-se numa independência branca para Moçambique e Angola, há conversações em enviados secretos do Governo Português com o PAIGC e o MPLA, por três vezes Caetano procura a admissão junto do Almirante Tomás, este respondeu: “Já é tarde para qualquer um de nós abandonar o cargo”.

As investigações evoluíram muito e os saudosistas da sustentabilidade da guerra colonial veem cair por terra toda a sua carga emocional. Um só exemplo, referente à Guiné. Em 27 de novembro de 1973, o Comandante da Zona Aérea, Coronel Lemos Ferreira, enviou uma carta a Costa Gomes a explicar o que se passara na Guiné. Refere as possibilidades militares do PAIGC, que incluíam o patrulhamento aéreo feito por aviões MiG-15 e MiG-17 da República da Guiné Conacri, a eliminação de duas guarnições portuguesas junto da fronteira, a existência de blindados e armas anti-aéreas e anti-carro. E escreve textualmente: “Sabendo-se que a sobrevivência militar desta Província Ultramarina assenta quase exclusivamente no pessoal e nos meios da Força Aérea, por ser patente que as forças terrestres não parecem capazes de suportar e reagir a uma safanão forte por razões conhecidas, nomeadamente a sua reduzida motivação, deduz-se o risco de, apesar de sermos aqueles que mais intensamente procuramos remar contra a maré, acabarmos por ser o pião das nicas, por não termos realizado o milagre integral, ou seja, impedir todo e qualquer ataque inimigo!”.

Manual de referência, roteiro, obra-prima de divulgação, nada supera no panorama editorial português esta guerra colonial, totalmente indicada para antigos combatentes, investigadores e curiosos das novas gerações, manifestamente indiferentes às apoplexias do saudosismo.
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Notas do editor:

Poste anterior de 5 de outubro de 2020 > Guiné 671/74 - P21419: Notas de leitura (1312): “Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes - O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21426: Notas de leitura (1313): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte IV (Luís Graça): as primeiras minas e fornilhos A/C

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Guiné 671/74 - P21419: Notas de leitura (1312): “Guerra Colonial", por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2020 - O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Esta nova edição da Guerra Colonial é uma obra de referência para quem quiser ter uma grande angular da guerra, o que motivou o Estado Novo a optar pela guerra alegando mesmo que havia força para a manter intemporal, isto a despeito dos ventos de mudança que tinham refeito novas cumplicidades e introduzido na cena internacional o conceito de auto-determinação. Os autores oferecem-nos agora um manual escrito numa linguagem muito acessível e que abarca o modo de fazer a guerra, a organização das forças terrestres, aéreas e navais, a africanização, o viver quotidiano. Iremos mais tarde apreciar o que eles descrevem e analisam sobre as controversas teses da guerra ganha ou guerra perdida e como, na última cena do ato final, Marcelo Caetano procurou arranjar tentativas para a solução da guerra, quando tudo já estava perdido.
Obra de leitura obrigatória.

Um abraço do
Mário


O mais rigoroso manual de divulgação de toda a guerra colonial (1)

Mário Beja Santos

A dupla Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes obteve um currículo inexcedível na investigação da guerra colonial, são dois comunicadores rigorosos, possuem opinião fundamentada e estão dotados daquela mestria de tornar acessível matéria que poderá ser encarada como árida pela opinião pública curiosa mas leiga. Acaba de sair uma nova edição de Guerra Colonial, Porto Editora, 2020, não é uma remodelação superficial, a sua arrumação permite a quem quer recordar ou iniciar-se sobre políticas, doutrinas, modos de ver, territórios da guerra, organização e manobras táticas das Forças Armadas portuguesas, as populações envolvidas nos conflitos, como era o dia-a-dia dos militares e dos guerrilheiros, como surgiram, se organizaram, evoluíram os movimentos de libertação e conduziram a guerra; e como eram os comportamentos na sociedade portuguesa face ao progredir da guerra, procede-se ao balanço, o que se passou após o fim do conflito, quais os protagonistas considerados com papéis mais marcantes. Enfim, uma obra de estrutura inédita entre o roteiro, o manual e o breviário.

“A guerra que Portugal travou em África entre 1961 e 1974, e que contribuiu de forma decisiva para o 25 de Abril, é o acontecimento mais marcante da nossa história na segunda metade do século XX. Este trabalho pretende contribuir para um melhor conhecimento do que foi esse conflito, das condições em que ele se desencadeou e das suas consequências”.

Abre toda esta digressão com o mapa da guerra, o cenário do mato, passa-se para a doutrina militar de contraguerrilha assente no manual O Exército na Guerra Subversiva, uma verdadeira bíblia para as forças terrestres. Elencam-se as forças portuguesas perante a guerrilha, a natureza das operações, desde a defesa dos pontos sensíveis, passando pelas minas, os patrulhamentos e os golpes de mão. Com este pano de fundo da guerra e dos atores de âmbito nacional, a digressão é de Portugal na cena internacional, estudos que ficam a cargo de Josep Sanchez Cervelló, a partir de 1960 nos areópagos internacionais a política colonial portuguesa era maioritariamente contestada. Ficamos igualmente a conhecer o que era o Exército Português nas vésperas da guerra colonial.

Adriano de Moreira dá-nos um magnífico ensaio sobre Salazar, um homem só num mundo em mudança, é de leitura obrigatória, aqui fica um parágrafo:
“Extremamente hábil e lúcido com os problemas diplomáticos até ao fim da II Guerra Mundial, não receando medir-se com representantes de qualquer grande potência, num quadro de referência euromundista que permaneceu vigente durante a maior parte da sua vida, a explosão dos fatores internos e a mudança revolucionária do contexto internacional não o encontraram munido de igual capacidade de gestão, porque as solidariedades mundiais eram outras, as lealdades eram diferentes. O mundo, como o país, deixara de ser o conhecido”.

E Adriano Moreira disserta sobre a hierarquia militar e o olhar de Salazar sobre o império.

Estamos agora no primeiro palco de guerra, Angola, descreve-se o meio, os primeiros atos de terror, e depois a reocupação do Norte de Angola, esquematiza-se a emblemática Operação Viriato. Segue-se o quadro em que se movem os atores, os locais, os grupos étnicos, quem é quem nos movimentos de libertação e a resposta das Forças Armadas Portuguesas.

O segundo teatro de operações é a Guiné, releva-se a atuação do líder revolucionário Amílcar Cabral na fundação do PAIGC, dá-se relevo à primeira operação de grande operação, a Operação Tridente, entra-se propriamente no terreno e resume-se o que foi a guerra entre 1963 e 1968, segue-se a era Spínola e faz-se menção aos acontecimentos de 1963, ficamos igualmente a saber os efetivos da Marinha e da Força Aérea, bem como evoluiu o dispositivo militar do Exército na Guiné.

E passamos para a guerra em Moçambique, faz-se uma súmula do território, é descrito o aparecimento e organização da FRELIMO, como se iniciou a guerra, como se caraterizou o avanço da FRELIMO para Sul, entre 1973 e 1974. Faz-se agora um registo das Forças Armadas Portuguesas, primeiro o Exército com as suas diferentes armas, incluindo as Forças Especiais, segue-se a Marinha e por último a Força Aérea. Feita esta contextualização, avança-se para a descrição dos movimentos de libertação e guerra: o MPLA, a UPA/FNLA, a UNITA, o PAIGC e a FRELIMO, dá-se mesmo o quadro dos armamentos e equipamentos dos movimentos de libertação. Procura-se uma descrição dinâmica da evolução política destes movimentos de libertação, primeiro o MPLA, depois a FNLA, segue-se a construção do Estado na Guiné-Bissau, o papel de Samora Machel na FRELIMO e as contribuições da organização da Unidade Africana em suporte dos movimentos de libertação.

Em capítulo distinto é-nos dado um quadro referencial da manobra militar das Forças Portuguesas: o seu armamento, o desafio da logística, houve que requisitar paquetes, transformar a linha aérea imperial e comprar novos aviões, montar sistemas de informações e validar a ação psicológica, a ação psicossocial, construir aldeamentos, fazer recurso da africanização, em 1973 a percentagem das tropas locais no efetivo-geral do Exército mostrava números impressionantes e díspares: 42% em Angola, 20% na Guiné e 54% em Moçambique.

O quotidiano arranca com uma ordem de mobilização, forma-se uma unidade, dá-se instrução, segue-se uma licença de dez dias antes do embarque e para a generalidade a viagem é por navio. Os oficiais seguiam para a 1.ª classe, os sargentos para a 2.ª e as praças para a 3.ª. “À chegada ao porto de destino, procedia-se a uma nova formatura, um desfile e um discurso. Depois, iniciava-se a partida para um campo militar: o Grafanil, em Luanda, ou o Cumeré, em Bissau. Aqueles para quem Moçambique era o destino, prosseguiam viagem de Lourenço Marques para norte até à Beira, Nacala ou Porto Amélia. A partir daqui, seguiam-se os dois anos da comissão”. Os autores referem a importância dos quartéis, como se passavam aqueles dois anos, a importância do correio e os ritos da glorificação, as cerimónias do 10 de Junho e as condecorações. Não são esquecidas as organizações femininas, o papel das mulheres na guerra colonial e as manifestações oposicionistas à guerra. O historiador Luís de Salgado Matos dá-nos um elucidativo estudo sobre a Igreja e a guerra, da colaboração à resistência.

E ficamos hoje por aqui, os autores vão-nos falar depois de três generais com três conceitos distintos, o peso do esforço de guerra, o fim do Império, as feridas que a guerra deixou e inevitavelmente emerge a questão ideológica da guerra perdida ou sustentável, que eles vão documentar com os casos concretos da Guiné, Angola e Moçambique. Bem interessante é a relação que nos dão dos principais protagonistas e é de ter em conta a reflexão final sobre as Forças Armadas. Despedem-se dizendo que esta divulgação lhes pareceu a mais adequada para o maior número de pessoas, tanto para as que estiveram nos teatros de operações como para as gerações mais novas, que da guerra vagamente sabem por ouvir falar.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2020 > Guiné 671/74 - P21400: Notas de leitura (1311): “I Reunião Internacional de História de África - “Relação Europa-África no 3.º Quartel do Século XIX”; Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa 1989 (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16683: Agenda cultural (511): Convite para assistir ao debate a partir do livro Alcora - O Acordo Secreto do Colonialismo que contará com a presença dos autores Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 10 de Novembro de 2016, pelas 18h30, na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95 - Lisboa



C O N V I T E


Mensagem do nosso camarada Carlos Matos Gomes, Coronel Cavalaria Reformado (ex-2.º CMDT Batalhão de Comandos da Guiné, 1972/74), escritor e historiógrafo da guerra colonial, com data de 2 de Novembro de 2016:

Minhas e meus amigos,
Estamos, o Aniceto Afonso e o Carlos de Matos Gomes a convidar-vos para participarem na apresentação da reedição de um livro sobre a Aliança Alcora e num debate sobre este tema. Gostávamos muito de contar com a vossa presença e a vossa participação.

Alcora foi o nome de código dado a uma Aliança política e militar entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia que ainda hoje é muito pouco conhecida. Coloca questões decisivas sobre a forma como os governos de Salazar e de Marcelo Caetano abordaram a questão colonial, o estado unitário, multicultural e multiétnico, do Minho a Timor, a guerra e como em segredo procuraram outras saídas.

Algumas questões que a Aliança Alcora colocou:
- O que pretendia cada um dos Estados que faziam parte dessa Aliança, Portugal, a África do Sul e a Rodésia?
- O que representou a aliança com a África do Sul e com a Rodésia para Salazar e para Marcelo Caetano?
- Como evoluíram ao longo dos anos as relações de Portugal com a África do Sul e com a Rodésia?
- Como compatibilizar os princípios de um estado que se afirmava multicultural e multiétnico com o apartheid?
- A Aliança Alcora era uma simples manobra dilatória para Marcelo Caetano, ou representava uma via para resolver o impasse da guerra colonial?
- Se a Aliança Alcora tivesse sido completamente estabelecida e implantada quais as consequências para Portugal, para Angola e para Moçambique?
- Como se articula a Aliança Alcora com as tentativas de Marcelo Caetano estabelecer ligações com os Movimentos de Libertação?

Em resumo, a Aliança Alcora colocava, ou não, em causa os princípios da política colonial que tinham sido estabelecidos por Salazar e que Marcelo Caetano se comprometera a prosseguir, de manter um Portugal do Minho a Timor, uno e indivisível, os princípios que levaram à opção pela guerra e a recusa da descolonização?

Carlos Matos Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16652: Agenda cultural (504): Apresentação do livro “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, da autoria de Luís Barbosa Vicente, a levar a efeito no próximo sábado, dia 29 de Outubro, no Clube Fenianos Portuenses, no Porto

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12437: Agenda cultural (298): Apresentação do livro "Olhos de Caçador", de António Brito, integrada na Tertúlia Fim do Império, dia 17 de Dezembro na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves de Sousa. Apresentação da edição especial da obra "Portugal e a Grande Guerra", coordenação de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 18 de Dezembro nas instalações da Liga dos Combatentes (Manuel Barão da Cunha)

1. Mensagem do Coronel Ref Manuel Júlio Matias Barão da Cunha que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66:

Caríssimos,
Recordo a próxima tertúlia em Oeiras, dia 17, com «páras», incluindo o ex-soldado e actual dr. António Brito e o coronel Nuno Mira Vaz (ver anexo); quem puder ir será bem-vindo e também agradecemos divulgação.

Votos de Natal e Ano Novo com paz e saúde, de
M. Barão da Cunha.



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2. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cavalaria Reformado (ex-2.º CMDT Batalhão de Comandos da Guiné, 1972/74), escritor e historiógrafo da guerra colonial:

Meus caros amigos e amigas, 
A nossa editora, Verso da História, preparou uma edição especial do livro «Portugal na Grande Guerra» que eu e o Aniceto Afonso tivemos o privilégio de coordenar e que contém os trabalhos originais de alguns dos melhores especialistas deste acontecimento marcante da nossa história. 
Essa edição especial, reeditada no âmbito do centenário do início do grande conflito, será apresentada no próximo dia 18, quarta-feira, no Forte do Bom Sucesso, por gentileza da Liga dos Combatentes. 
Eu e o Aniceto Afonso, os autores e os editores teríamos o maior prazer em contar com a vossa presença e com o vosso bom acolhimento a esta obra. 

Antecipadamente gratos, com os nossos melhores cumprimentos e os votos de Umas Festas Felizes. 
Junto segue o convite

C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12374: Agenda cultural (297): Comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, na Av Liberdade, 14h30: 18 bandas filarmónicas e mais de mil músicos em desfile, culminando na interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12130: Agenda cultural (286): Novidade: Livro "Alcora: o acordo secreto do colonialismo", de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Lisboa, Divina Comédia, 2013, 400 pp.


1. Mensagem do Carlos Matos Gomes, com data de 30 de setembro último:

Assunto - Alcora - a aliança secreta do colonialismo, no programa Agora, RTP2


Meus caros amigos, junto envio o link para uma entrevista feita para o programa Agora, da RTP2, transmitido ontem e que tem por tema o meu livro e do Aniceto Afonso , "Alcora, a aliança secreta do colonialismo" e o livro "Salazar, Caetano e o Reduto Branco", de Luís Barroso.

Os dois livros tratam da aliança política e militar entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia. Revela a importância decisiva e determinante da Africa do Sul na condução da política ultramarina do governo português nos anos 60 e 70 e de como esta aliança podia (ou não) ter sido uma solução tentada por Marcelo Caetano...

Para os interessdos, a entrevista passa entre os minutos 30 e os 40. Desculpem o incómodo.

http://www.rtp.pt/play/p1235/e129809/agora


2. Sobre o livro:

Ficha Técnica

Título: Alcora - O acordo secreto do colonialismo
Autores: Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes
Prefácio: Fernando Rosas
Selo (editora): Divina Comédia
1ª edição: maio de 2013
ISBN: 978-989-8633-01-9
Nº de páginas: 400
PVP: 19.90€

Sinopse (Fonte: Divina Comédia)

Um documento histórico fundamental que desvenda a existência de um acordo estratégico entre Portugal, África do Sul e Rodésia realizado no final da Guerra colonial.

“O livro que agora se dá à estampa – Alcora, O Acordo Secreto do Colonialismo – vem revelar a existência de um acordo estratégico formalizado em Outubro de 1970 ao mais alto nível entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia, envolvendo os domínios político, económico e militar, com o fito de preservar o poder nas mãos do regime colonial português e dos regimes racistas dos outros dois países, desde logo assegurando a derrota militar das guerrilhas de libertação nacional.

"O que o livro agora presente revela, precisamente, é como as chefias militares sul-africanas, paralelamente ao crescimento da sua ajuda financeira, operacional e logística à guerra, vão ganhando um concomitante poder de opinião e interferência na condução das operações em Angola e Moçambique, que hoje surge, apesar de tudo, como surpreendente, pelo seu carácter inusitado e intrusivo. Não só levando as chefias portuguesas a deslocarem o centro das operações de contra insurgência, em Angola e em Moçambique, mas até opinando quanto aos aspectos mais imediatos da condução da guerra no terreno e quanto ao mérito dos oficiais ou funcionários responsáveis.” Fernando Rosas (in Prefácio)



3. Autores:


Aniceto Afonso > Coronel de Artilharia na situação de reforma, membro da Comissão Portuguesa de História Militar e investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Antigo director do Arquivo Histórico Militar e do Arquivo da Defesa Nacional; antigo professor de História da Academia Militar. Mestre em História Contemporânea Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1990. Comissões militares em Angola (1969-1971) e Moçambique (1973-1975). Participante no Movimento dos Capitães e membro da Comissão Coordenadora do MFA em Moçambique (1974-1975).

Autor de: A Hora da Liberdade, 2012 (com Joana Pontes e Rodrigo de Sousa e Castro); Portugal e a Grande Guerra, 2010 (1.ª ed., 2003); Anos da Guerra Colonial, 2009; e Guerra Colonial – Angola, Guiné, Moçambique, 1997-1998 (todos com Carlos de Matos Gomes); O Meu Avô Africano, 2009; As Transmissões Militares – da Guerra Peninsular ao 25 de Abril, 2008 (Coordenador); Portugal e a Grande Guerra, 1914-1918, 2006; História de Uma Conspiração. Sinel de Cordes e o 28 de Maio, 2001; e Diário da Liberdade, 1995. Colaborou na História de Portugal, 1993; e na História Contemporânea de Portugal, 1986 (ambas dirigidas por João Medina).


Carlos de Matos Gomes > Nascido  em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército (reformado). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, nas tropas especiais «comandos».

Co-autor com Aniceto Afonso de obras sobre a guerra colonial: Guerra Colonial e Os Anos da Guerra Colonial, de textos para publicações especializadas; co-autor com Fernando Farinha de Guerra Colonial – Um Repórter em Angola, coordenador, com Aniceto Afonso, da obra Portugal e a Grande Guerra; autor de textos para a História de Portugal, coordenada por João Medina, e Nova História Militar de Portugal, coordenada por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira; autor de Moçambique 1970 – Operação Nó Górdio.

Fonte: Divina Comédia Editores

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12110: Agenda cultural (285): Guiné-Bissau: as memórias de Gabu, 1973/74 (José Saúde)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9898: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (16): Guidaje foi há 39 anos...

1. Sobre Guidaje, há uma referência apenas do Diário da Guiné (1972/74) (*), da autoria do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu. Vem na entrada "Mansoa, 26 de Maio de 1973"... 

Colocado com alf mil de secretaria num CAOP1 (Mansoa), o António Graça de Abreu  estava relativamente bem colocado para ir sabendo das novas da guerra... Muito  melhor colocado do que qualquer um de nós, que fomos operacionais mas atuámos sobretudo a nível de setor ou subsetor, com uma visão necessariamente fragmentada e parcelar da situação operacional e político-militar...

Este documento diarístico vale também, para a historiografia da guerra colonial na Guiné,  por nos dar uma outra visão, e aliás bastante interessante, a  do estado de espírito ou do moral das nossas NT... Neste caso há referência explícita a tropas especiais, uma companhia do BCP 12 que regressa de Guidaje, e a 38ª CCmds (adida ao CAOP1) que parte para Guidaje...

Amigos e camaradas, leitores do nosso blogue: O "inferno de Guidaje" começou justamente a 8 de maio de 1973, faz agora 39 anos... Dizem os historiógrafos militares Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes que a operação de auxílio a Guidaje, reabastecimento e contra-ofensiva durou um mês (de 8 de maio a 8 de junho de 1973), e envolveu mais de mil homens das NT (na sua maioria, tropas especiais, comandos, fuzileiros e paraquedistas). Nunca é de mais evocarmos, nestas efemérides, o pesado sacrifício que foi pago pelos combatentes, de um lado e de outro, envolvidos nesta e noutras batalhas sangrentas da Guiné, ligadas a topónimos estranhamente começados por G (Guidaje, Guileje, Gadamael, Gandembel)...

 Recorde-se, mais uma vez,  para os eventuais leitores interessados,  que há uma edição comercial do livro do AGA. Referência completa: António Graça de Abreu - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp. (*) (LG) 


Mansoa, 26 de Maio de 1973

[, Na foto, o AGA, na estrada Mansoa- Porto Gole, em 1973, a G3 numa mão e a máquina fotográfica na outra]

A Guiné ferve, até de boatos. Tenho a vantagem de estar razoavelmente bem informado sobre o que vai acontecendo. 

O PAIGC, confiante e moralizado, passou à ofensiva. Começaram há quinze dias atrás por se concentrar em Guidaje (**), na fronteira norte e agora sobre Guileje, na fronteira sul, as duas povoações trissilábicas, ambas começadas por “Gui”, sinónimo de desespero e morte. 

Um alferes pára-quedista meu amigo que passou agora por aqui com os seus homens vindos de Guidaje a caminho de Bissau, rotos, sujos, barbas de dias, os olhos afundados no nada, disse-me: “Lá para cima é só ferro, não se pode ir.” 

Guidaje, embora flagelada continuamente há mais de duas semanas, tem-se aguentado. Não se pode ir para lá, mas ontem quase toda a 38ª. Companhia de Comandos partiu para Guidaje. Os quarenta homens que lá haviam estado, com o nosso David Viegas que aí morreu, permaneceram em Mansoa. Já tinham tido um morto e o soldado Tavares sem um pé. Foi triste ver partir os restantes. Formaram a Companhia, saudaram toda a gente.

Antes houve bebedeiras, risadas secas a tentar afugentar o medo, a incerteza de voltarem vivos. A zona de Guidaje está cheia de guerrilheiros, a terra fica a quinhentos metros do Senegal – dizem-me que a pista de aviação entra por dentro do território do Senegal, – e, do outro lado, em Cumbamori no país do Senghor, os combatentes do PAIGC têm uma grande base militar. 

A partir de Bissau, lançou-se uma operação com o batalhão dos Comandos Africanos, cerca de 500 homens, sobre Cumbamori. Saiu um comunicado especial das Forças Armadas onde se refere a destruição do quartel de Cumbamori, só não se diz que este quartel fica no Senegal, tudo mais está mais ou menos correcto. O número de elementos IN abatidos, cento e sessenta e sete no total, é que pode criar algumas confusões porque engloba civis, às vezes mulheres e crianças, tudo o que aparece à frente e é suspeito de estar com os guerrilheiros, é frequentemente abatido. Na retirada, os Comandos Africanos foram atacados por blindados senegaleses e sofreram vinte e tal mortos.

O pessoal anda amedrontado. Ontem na messe, ao jantar, quase todos saltaram das cadeiras, ouviu-se um rebentamento. Afinal era a porta do frigorífico.

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Nota do editor:


(**) Sobre Guidaje temos mais de 140 referências no nosso blogue. Sobre a intervenção da CCP 12/BCP 12 bem como da 38ª CCmds ver aqui os seguintes postes de camaradas nossos:

Victor Tavares (CCP 121/BCP 12) [, foto à direita]:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121) 


Amílcar Mendes (38ª CCmds) [, foto à esquerda]

27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)


23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
 

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

Aniceto Afonso  [, foto à esquerda,] e Carlos Matos Gomes, [, foto à direita,] historiógrafos militares [, tendo o segundo participado na Op Amestista Real, como oficial do BCA]


21 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1198: Antologia (53): Guidaje, Maio de 1973: o inferno (Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes)

(...) "Para cercar Guidaje, o PAIGC começou por cortar o itinerário de Binta e instalar sistemas antiaéreos com mísseis Strela. O isolamento aéreo de Guidaje iniciou-se com o abate de um avião T-6 e de dois DO-27 e o terrestre acentuou-se em 8 de Maio, quando uma coluna que partira de Farim, escoltada por forças do Batalhão de Caçadores 4512, accionou uma mina anticarro e foi emboscada, sofrendo 12 feridos. 


"Em 9 de Maio, a mesma força foi de novo emboscada, mantendo-se o contacto durante quatro horas.

"A coluna portuguesa sofreu mais quatro mortos, oito feridos graves, dez feridos ligeiros e quatro viaturas destruídas, deslocando-se então para Binta, em vez de subir para Guidaje" (...).

(...) "Em 23 de Maio, saiu uma coluna de Binta para Guidaje protegida por uma companhia de pára-quedistas [, a CCP121]. A coluna regressou ao ponto de partida, porque a picada estava minada em profundidade, e a companhia de pára-quedistas, apesar de ter sofrido violenta emboscada feita por um grupo de cerca de 70 elementos, que lhe causou quatro mortos, chegou a Guidaje " (...). 

(...) "Em 29 de Maio, foi organizada uma grande operação para reabastecer Guidaje. Constituíram-se quatro agrupamentos com efectivos de companhia em Binta e dois agrupamentos em Guidaje, estes para apoiar a progressão na parte final do itinerário. A coluna alcançou Guidaje nesse dia, tendo sofrido dois mortos e vários feridos" (...).

(...) "Em 12 de Junho, considerou-se terminada a operação de cerco a Guidaje. Uma coluna partiu desta guarnição para Binta, trazendo o tenente-coronel Correia de Campos, que comandara o COP3 durante este difícil período.

"Baixas das colunas de e para Guidaje, entre 8 de Maio e 8 de Junho de 1973: Mortos: 22; Feridos: 70; Viaturas destruídas: 6.

"Em suma, o primeiro objectivo do PAIGC foi isolar Guidaje, o segundo foi flagelar a posição e destruir o espírito de resistência das forças portuguesas e o último seria conquistar a povoação. 

"Guidaje sofreu, entre o dia 8 e o dia 29 de Junho, 43 flagelações com artilharia, foguetões e morteiros. Logo no dia 8 esteve debaixo de fogo por cinco vezes, num total de duas horas, em 9 sofreu quatro ataques, em 10 três, e até ao final todos os dias foi atacada. No total dos 43 ataques, a guarnição de Guidaje sofreu sete mortos, 30 feridos militares e 15 entre a população civil. Foram causados estragos em todos os edifícios do quartel" (...).

Sobre Op Ametista Real, ver ainda:

16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973) (João Almeida Bruno)

Ainda sobre Guidaje, vd aqui tambémo depoimento de José Afonso, que pertenceu à CCAV 3420:

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9851: Notas de leitura (357): As grandes Operações da Guerra Colonial (2), edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 26 de Março de 2012:

Queridos amigos,
Era de exigir mais e melhor a estes textos apresentados como “As Grandes Operações da Guerra Colonial”.
Há dados que não batem certo, há topónimos ilegíveis, há explicações bem duvidosas para factos naturalmente complexos. E teme-se mesmo que o leitor se sinta desorientado com a informação avulsa que acompanha algumas destas brochuras.
Um abraço do
Mário


As grandes operações da guerra colonial (2), edição do Correio da Manhã

Beja Santos

Da série “As grandes operações da guerra colonial”, com textos de Manuel Catarino, foram publicadas 16 brochuras que eram distribuídas num encarte com os diferentes volumes de “Os Anos da Guerra”, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, edição do Correio da Manhã. A maior parte das brochuras tem a ver com a Guiné. Em texto anterior, aqui se referiu a operação “Tridente”, as operações “Grifo” e “Ciclone II” em que os Paraquedistas passaram por Guileje com infortúnios e também colhendo sucesso; depois aparecem os Paraquedistas na operação “Vulcano” em que não conseguiram progredir na zona de Cassebeche sem o apoio do fogo aéreo; referiu-se a captura do capitão Peralta numa operação conduzida pelos Paraquedistas da Companhia 122, a operação “Jove”. Ainda desta 4ª brochura importa agora referir a operação “Grande Empresa”, um esforço de fixar no Cantanhez tropas, a partir dos finais de 1972.

Tudo começaria pela destruição de importantes posições da guerrilha, conquistando a população que seria retirada do controlo do PAIGC. Escreve Manuel Catarino: “A gigantesca operação foi desencadeada por duas companhias operacionais do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12, então comandado pelo Tenente-Coronel Sílvio Araújo e Sá, e pelo Destacamento de Fuzileiros Especiais 1 – que, numa primeira fase, ocuparam pontos estratégicos do Cantanhez, na margem sul do rio Cumbijã, e permitiram o desembarque e a instalação em segurança da CCAÇ 4541, da CCAÇ 4540 e da CCAV 8352. A ambiciosa ação militar, cujo planeamento foi atribuído à Secção de Informações e Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12, chefiada pelo Major Moura Calheiros, teve início no dia 12 de Dezembro”.

A primeira posição inimiga que se pretendeu neutralizar situava-se entre Guileje e Bedanda, era imperioso destruir esta base de guerrilha. Na manhã de 12 de Dezembro, os Páras da Companhia 122 atacam a base, ataque que foi precedido de bombardeamento aéreo. A primeira tentativa de assalto foi rechaçada. A força atacante ensaia um segundo assalto, novo insucesso. Então, o Comando da operação envia de Cufar mais 5 helicópteros. O Capitão Valente dos Santos, ferido, tem um comportamento heroico, apesar da gravidade do ferimento não quis ser transportado para a base. É agora o Capitão Terras Marques quem comanda a operação, encaminham-se para o objetivo apoiados por mais bombardeamentos aéreos. No termo da manhã, a base caiu finalmente. A “Grande Empresa” conheceu a segunda fase com a ocupação de Caboxanque, Cadique e Cafine, na margem sul do rio Cumbijã, por Paraquedistas e Fuzileiros Especiais. Dezenas de Paraquedistas ocupam Caboxanque, outros tantos tomam posição em Cadique e duas lanchas sobem o rio Cumbijã com o Destacamento de Fuzileiros Especiais 1, que ocupa as bolanhas de Cafine. Ocupadas as posições na margem do rio as Companhias de Infantaria e Cavalaria sobem o Cumbijã em lanchas da Armada. Depois de algumas peripécias (o desembarque da CCAÇ 4540, em Cadique atrasou-se, houve camiões que ficaram atolados).

Seguiu-se o esforço de conquistar a população. E o inimigo reagiu, passou a flagelar os aquartelamentos que começavam a erguer-se em Caboxanque, Cadique e Cafine. A população do Cantanhez começou a colaborar com a tropa portuguesa: “Dirigentes locais do PAIGC, chefes das milícias e guerrilheiros foram presos ou abatidos. As informações recolhidas em tabancas permitiram cercar o comissário político do PAIGC na região: morreu em 29 de Dezembro, de arma na mão. O comandante militar da guerrilha no Cantanhez foi feito prisioneiro e o guerrilheiro que o substituiu foi morto em combate (…) Mas, menos de um ano depois, com a retirada dos Paraquedistas que tiveram de ir acudir a Guileje e a Guidage, a região deixou outra vez de ser nossa”.

A undécima brochura refere-se ao ataque a Conacri, a operação “Mar Verde”.
O seu conteúdo é sobejamente conhecido de todos. Já foi anteriormente referido que a organização dos textos é de uma disciplina duvidosa, neste, totalmente a despropósito, fala-se do acidente em que perderam vida três deputados, em Julho de 1970. Igualmente as conclusões do autor sobre a operação “Mar Verde” são muito duvidosas: a PIDE é o bode expiatório. Diz-se que: “As forças de assalto desembarcaram em Conacri – mas não encontraram nesses locais aquilo que a PIDE lhes garantira que iriam encontrar. As informações não eram exatas”. Como se sabe, muitas coisas correram ao contrário, muito do que falhou nada teve a ver com as informações da PIDE.

Quanto à 13ª brochura, o conteúdo prende-se com a viagem secreta de Spínola ao Senegal.
O texto começa com o encontro de Salazar com Spínola, em Abril de 1968 e a sua indigitação para governador, à mistura fala-se de Portugal e o Futuro, aflora-se a atividade inicial de Spínola, fala-se a seguir das operações no Chão Manjaco para negociar a incorporação de forças de PAIGC no Exército Português, é sabido como tudo redundou em bárbaro massacre. O autor dá a seguinte explicação: “O assassínio dos negociadores portugueses só se explica por uma ordem vinda da direção do PAIGC, já então minada por desconfianças entre fações. A cúpula política do partido, na altura instalada na cidade senegalesa de Dakar, soube da traição em marcha – e, perante o risco da rendição vir a ser seguida por outros chefes da guerrilha, agiu com brutalidade. Dirigentes intermédios do partido, como M´Bana Cabra e Júlio Biague, foram enviados ao Chão Manjaco e confrontaram os comandantes locais – que acabaram por colaborar na chacina dos negociadores portugueses e dos seus guias para se limparem da traição. André Gomes, o interlocutor privilegiado dos Majores, continuou comandante do Chão Manjaco. Após os massacres, a guerrilha continuou adormecido no Noroeste da Guiné”. Permanece o mistério sobre as razões efetivas desde bárbaro massacre, como se sabe.

É conhecido o teor das conversações entre Senghor e Spínola e o veto de Marcelo Caetano à continuação de novos encontros, é-lhe indiferente um cessar-fogo por um período de transição de 10 anos e um sufrágio no território para se saber se a população quer a independência total ou a integração numa federação. E vem aí o argumento de que era preferível uma derrota militar com honra a um acordo negociado com terroristas.

Nunca mais as relações se irão recompor. Recorde-se que Luís Cabral em “Crónica da Libertação” desmente categoricamente que Amílcar Cabral alguma vez tenha sustentado as teses de Leopoldo Senghor ou lhe tenha pedido para ser intermediário em negociações. A ser verdade, as expetativas postas nestas conversações foram muito mais voláteis do que consta nas exposições de Spínola a Caetano.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9835: Notas de leitura (356): As grandes Operações da Guerra Colonial, edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9835: Notas de leitura (356): As grandes Operações da Guerra Colonial, edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 19 de Março de 2012:

Queridos amigos,
Compreende-se como as brochuras sobre a Guiné “As grandes operações da guerra colonial”, distribuídas com os fascículos de “Os anos da guerra colonial” foram alvo de contestação no tocante às ilustrações, à toponímia, arrumação de assuntos, etc.
É matéria de divulgação, algumas das brochuras trataram com ligeireza os assuntos e têm até omissões gritantes. Mas é o que há, temos que as deixar repertoriadas no grande acervo para consulta de interessados, investigadores ou historiadores.
Peço a gentileza a quem possui as brochuras IX (A morte dos majores), XIV (O terror dos mísseis), XV (O corredor da morte) e XVI (Comandos libertam Guidage) que me façam o grande favor de mas deixar consultar, prontamente as devolverei.

Um abraço do
Mário


As grandes operações da guerra colonial, edição do Correio da Manhã

Beja Santos

“As grandes operações da guerra colonial”, textos de Manuel Catarino, eram distribuídas num encarte com os diferentes volumes dos “Anos da Guerra”, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Foram publicadas 16 brochuras e um número expressivo delas prendia-se diretamente com operações ocorridas na Guiné. Houve grande alvoroço, crítica e mesmo indignação à volta desta iniciativa: uso descarado e sem qualquer referência ao proprietário de imagens em muitos casos desadequadas ao teatro de operações em referência; erros grosseiros em topónimos, datas e até cronologia; reticências quanto à seleção das grandes operações por grau de importância, tratamento conjugado de operações diferenciadas na mesma brochura, repetições e recapitulações excessivas, etc. O que cabe aqui registar foi o que se escreveu, em ordem em que no futuro cada investigador ou pesquisador saiba com o que pode contar.

A primeira brochura com interesse tem a ver com a operação “Tridente”. O autor dá-nos o cenário, a cronologia dos factos, as operações de desembarque com os respetivos quatro agrupamentos, carateriza os combates, lista os louvados, os abastecimentos, o material gasto na operação, as baixas e o texto intercetado de Nino a pedir reforços. A operação é classificada como inútil, como escreve: “Em 24 de Março, ao fim de 71 dias de campanha, o tenente-coronel Fernando Cavaleiro dá o assunto por encerrado, quatro dias antes, à noite, passeara triunfante com o grupo de comandos e o pelotão de paraquedistas pelas matas de Cauane, de Cassaca e de Cachil. Os guerrilheiros, incapazes de travar os ataques portugueses, estão em fuga".
Os combates custaram às nossas tropas 9 mortos e 47 feridos – além de 193 combatentes evacuados por doença. O tenente-coronel Fernando Cavaleiro escreveu no relatório final: “Mais uma vez se verificaram as extraordinárias qualidades dos nossos soldados. Apesar de pessimamente instalados em abrigos, vigilantes dia e noite, de terem tomado parte em inúmeras operações, de durante 23 dias se alimentarem exclusivamente da mesma ementa de ração de combate à base de conserva, de durante os restantes 48 dias apenas terem comido uma refeição quente, apesar da falta de água para beber – a tudo resistiram, mostrando assim um verdadeiro e inigualável poder de adaptação e espírito de sacrifício”. A operação “Tridente” foi das mais ingratas de toda a guerra colonial – um sacrifício inútil. Os guerrilheiros foram expulsos da região, mas o comandante-chefe que veio a seguir, general Arnaldo Schulz, retirou a guarnição que lá tinha ficado. Resultado: os guerrilheiros voltaram a ocupar as ilhas”.

A segunda brochura inclui os acontecimentos das operações “Grifo” (Abril de 1966) e “Ciclone II” (Fevereiro de 1968), sob o título “Para-quedistas no inferno de Guileje”. O autor destaca: “A partir de meados de 1964, a guerra sofre um sério agravamento na Guiné. A guerrilha, que tem as bases na vizinha Guiné-Conacri, cava na fronteira do Sul as principais linhas de infiltração. As tropas portuguesas vivem dificuldades crescentes no Sul do território – na zona de Guileje e em toda a península do Cantanhez. É em Guileje que os paraquedistas passam a grande provação. No dia 28 de Abril de 1966, um pelotão onde seguia o capitão Tinoco de Faria leva a cabo a operação “Grifo”. Objetivo: emboscar um grupo de guerrilheiros. O capitão morre em combate. Dois anos depois, em 25 de Fevereiro de 1968, os Páras executam com êxito a operação “Ciclone II”: tomam de assalto uma forte posição da guerrilha em Cafal-Cafine e infligem pesada derrota ao inimigo”. Encontramos na brochura a descrição da operação “Grifo” e o martírio do capitão Tinoco de Faria, bem como o assalto demolidor da “Ciclone II” que assim culmina “Os combates em Cafine, entre a Companhia 121, do capitão Mira Vaz e os guerrilheiros estavam a ser duros. É então que o comandante da operação manda a Companhia 122, comandada pelo capitão Manuel Lopes Morais, voltar a embarcar nos helicópteros em Cafal e seguir para Cafine. A luta é encarniçada. O inimigo acoitado na mata tenta conter a força de assalto. Os Páras enfrentam autênticas paredes de fogo. Mas sabem que não podem ficar ali: têm que correr em ziguezague, alcançar a mata e calar a metralha inimiga. Quando chegam à zona dos abrigos de onde os guerrilheiros disparam, atacam-nos pela retaguarda com granadas de mão. Os combates terminam pelas 3 da tarde. Uma hora depois, os paraquedistas retiram da zona. Sofreram 3 feridos graves e 2 ligeiros, mas dizimaram um bi-grupo do PAIGC e capturaram todo o material de guerra. Quarenta guerrilheiros foram mortos e dezanove foram feitos prisioneiros. A operação “Ciclone II” fora um êxito.

A terceira brochura trata de uma operação que envolveu paraquedistas, a operação “Vulcano”, que se realizou em Março de 1969, e a seguir o texto, sem mais explicações, dá-nos um quadro abrangente do pensamento e ação de Spínola na Guiné. No caso da operação “Vulcano”, o BCP 12 foi encarregado de planear e executar uma ação com o objetivo de destruir o ninho de metralhadoras antiaéreas – as ZPU-4, que atuavam no Cantanhez. Duas companhias de paraquedistas tinham como missão atacar as posições do PAIGC em Cassebeche. Aviões Fiat, no início da operação, bombardearam os objetivos. No terreno, as coisas estão muito difíceis para os paraquedistas, os morteiros do PAIGC não deixam avançar. O comandante da operação manda retirar. Só uma grande capacidade de combate lhes permitiu retirar sem baixas. O texto que segue nada tem a ver com operações, alude ao isolamento diplomático, à caraterização de Spínola como cabo-de-guerra e o modo como procurou a reviravolta no plano político e militar. O texto vai de enfiada até à publicação do livro “Portugal e o futuro”.

A quarta brochura diz respeito à captura do capitão Peralta, em Novembro de 1969, e descreve a operação “Grande Empresa”, referente à ocupação do Cantanhez, em finais de 1972. No que toca ao capitão Peralta, havia a informação extraída a um prisioneiro de que uma importante coluna do PAIGC se preparava para atravessar o corredor de Guileje, nela seguiria Nino Vieira. Coube ao BCP 12 a missão de atacar a coluna, será a companhia 122 que irá emboscar no local. É a operação “Jove”: “Cerca das 10 horas da manhã de 18 de Novembro de 1969, os paraquedistas chegam ao ponto de emboscada – e procuram tomar as melhores posições no terreno. Ainda não estavam preparados, ouvem-se vozes ao longe. A coluna do PAIGC aproxima-se. Os soldados portugueses aguardam as ordens do comandante. Estala então violento tiroteio. Um dos homens da coluna foge para o interior da mata. O capitão João Bessa dá ordens para que o persigam. O fugitivo está ferido. O sargento Regageles corre com meia dúzia de Páras. Seguem o rasto de sangue. Encontram-no caído numa poça de sangue. Tem um braço quase arrancado pelas balas. Está entre a vida e a morte”. Aquele homem não é Nino Vieira, é o capitão do Exército de Cuba, Pedro Rodriguez Peralta. Os guerrilheiros acabam por retirar ao fim de quase meia hora de combate. Peralta receberá uma transfusão de sangue a caminho de Bissau, seguidamente será internado no Hospital Militar, mais tarde foi transferido para o hospital-prisão de Caxias. Será julgado no Tribunal Militar e condenado a 10 anos de cadeia. O episódio termina com um dado curioso: “Não chegou a cumprir a totalidade da pena. O embaixador americano em Lisboa, Frank Carlucci, interessa-se pelo caso. Um agente da CIA, Kirby Hunt, fora apanhado em Cuba e corria o risco de apodrecer numa cadeia de Havana pela acusação de espionagem. Os americanos negoceiam a troca de Peralta por Hunt. Fidel Castro aceita o negócio”.

 (Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9814: Notas de leitura (355): Manuel Pinto de Andrade, Amílcar Cabral e o PAIGC (Mário Beja Santos)