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domingo, 28 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19142: Manuscrito(s) (Luís Graça) 147): Tinha 14 anos em 1961, o "annus horribilis" de Salazar e da Nação... Depois do desastre da Índia, em 18-19 de dezembro de 1961 e de cinco meses de cativeiro, o general Vassalo e Silva e outros oficiais foram expulsos das Forças Armadas, em 22 de março de 1963... Era um aviso sério para os que combatiam em África.



Primeira página do "Diário de Lisboa", de 22 de março de 1963. O jornalismo, censurado, que se fazia em Portugal, o jornalismo das notas oficiosas e dos comunicados do Governo.


Citação:
(1963), "Diário de Lisboa", nº 14464, Ano 42, Sexta, 22 de Março de 1963, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_15253 (2018-10-28)

(Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivis > Fundo: Documentos Ruella Ramos)


O gen Vassalo e Silva, no cativeiro. Foto do Paris Match,
c. 19 de dezembro de 1961.
 Fonte: A toponímia de Lisboa 
(com a  devida vénia...)
1. Com a devia vénia, ao autor do  blogue Archive of Goan Writing Portuguese [Arquivo de Escritos Goeses em Português],  Paulo Melo e Castro,  leitor de Estudos Portugueses [Portuguese Studies],  Universidade de Leeds,  Departamento de Espanhol, Português e Estudos Latino-Americanos [ Department of Spanish, Portuguese and Latin American Studies]...

O blogue esteve ativo desde dezembro de 2010 até abril de 2015. Foram publicados 460 postes, neste período, com destaque para os anos de 2011 (n=212),  212 (n=127) e 2013 (n=86).

Fomos lá descobrir este inesperado poema, da autoria de Khnata Kharana Kabba, datado de 1980, e em que se defende o general Vassalo e Silva (Torres Novas, 1899 - Lisboa, 1985),  o último governador de Estado Português da Índia,  que se rendeu às forças indianas 36 horas depois da invasão dos territórios de Goa, Damão e Diu, contrariando ordens terminantes do chefe do Governo Português, para resistir até ao último homem... É, como se sabe,  um episódio patético da nossa história do séc. XX, que abriu uma crise grave entre o regime do Estado Novo e as Forças Arnadas.

Este poema terá aparecido na imprensa goesa em 1980. O seu autor, que se expressa em português quase perfeito, é um  nacionalista, indiano de origem goesa, mas que nem sequer tem um nome português. Aqui fica, para conhecimento e apreciação, crítica, dos nossos leitores:



Archive of Goana Writing Portuguese

Monday, 22 August 2011

Khanta Kharma Kabha:

Os que [se] opõem ao Camões ou Vassalo e [Silva,
Só por não serem indianos, mas portugueses,
Saibam que eles só merecem um Viva!,
Por serem amigos de Goa e dos Goeses.

Foi Vassalo quem salvou a nossa Goa
Das ordens da sua destruição
E, quando regressou a Lisboa,
Sofreu a sua condenação.

Não é verdadeiro nacionalista
Quem não o souber admitir e homenagear
E, na sua estreiteza de vista,
Não [o] reconhecer como “political-sufferer”.
Camões, Shakespeare ou Tagore,
Qualquer deles é indiano e universal,
Não há lugar, portanto, para o rancor
Contra Camões por ser de Portugal.



[Revisão e fixação de texto: LG. Nota: "political-sufferer": vítima da política e dos políticos, da injsutiça social e económica, etc.; expressão muito usada na Índia]


2. Comentário de LG:

Eu tinha 14 anos em 1961, ia fazer 15, em 29 de janeiro de 1962... e já  "sabia" que ia parar a África como soldado do Império... quando chegasse a minha vez. Premonições... Lia os jornais, ouvia rádio, via a televisão... Seguia com apreensão o que se passava em Angola, na Índia, na Metrópole... Hoje, tenho a convicção de que foi um "annus horribilis" paar todos nós, e não apenas para o regime...

Manuel  António Vassalo e Silva (Torres Novas, 1899 - Lisboa, 1985), general do exército, foi o último Governador  do Estado Português,e comandante-chefe das forças armadas naquele território, aquando da invasão, pela União Indiana. em 18 de dezembro de 1961.

Uma invasão, de resto, há muito anunciada..., por uma força caricatamente desmesurada (um exército de 45 homens; 1 porta-aviões, 1 cruzador, 3 contra-torpedeiro e 4 fragatas; 50 caças e bombardeiros), contra um punhado de homens mal armados e mal equipados, que estavam a mnaius de 8300 km de distância de casa...

Em 36 horas foi posto  um fim à presença histórica dos portugueses, no subcontinente indiano, de quase 5 séculos (desde 1492, o ano da chegada de Vasco da Gana à Índia). (*)

Vassalo e Silva desobedeceu às ordens de Salazar para lutasse até ao último homem. Ao render-se, salvou cerca de 3300  vidas, a sua e as dos seus subordinados (que vão ficar 5 meses em cativeiro, bem como evitou o massacre da população e a destruição do património de Goa, Damão e Diu (. hoje classificado pela UNESCO como como património mundial da  humanidade, as Igrejas e os Conventos de Goa). É isso que o poema celebra.

Em 22 de março de 1963, Vassalo e Silva (, que ficará com a alcunha do "Vacilo e Salva", entre os  seus homens, )  é  expulso das Forças Armadas Portuguesas. Será reabilitado a seguir ao 25 de Abril de 1974.  A História o julgará.  A História nos julgará. Afinal os regimes, mais do que os povos, precisam de heróis, mártires e vilões... (**)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9219: Efemérides (82): A invasão da Índia Portuguesa em 18 de Dezembro de 1961 (José Martins)

(...) No inicio de 1961, o Coronel Francisco da Costa Gomes, na sua qualidade de Subsecretário de Estado do Exército (56.º Ministério, cargo que ocupou de 14 de Agosto de 1958 a 13 de Abril de 1961), sugeriu a redução dos efectivos naquelas paragens [Goa, Damão e Diu]  para cerca de 3.500 homens, em virtude de se ter constatado que aquele território seria indefensável, perante uma, mais que provável, invasão. Esses efectivos foram deslocados para África, onde se tinham iniciados os conflitos que se prolongariam por cerca de treze anos, e que se propagou a três frentes de combate.

Com uma guarnição de pequena dimensão, mal armada e pouco municiada, dá inicio a alguns combates esporádicos, com forças da União Indiana, em 17 de Dezembro de 1961. Porém, no dia 18, uma força de cerca de 45.000 homens, mantendo na retaguarda como reserva cerca de mais 25.000, dá inicio à invasão simultânea dos três territórios ainda em poder efectivo de Portugal. (...)

(...) 19 de Dezembro de 1961 – O contingente português acabou por se render, tendo o governador, general Vassalo e Silva, ordenado a “suspensão de fogo” às suas tropas. Mais de três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, entre eles o próprio Comandante. O Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar que queria “Só soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, puniu e perseguiu alguns dos oficiais em serviço na Índia, o que abriu dolorosa ferida nas Forças Armadas Portuguesas e foi uma das raízes do derrube do regime Salazar, doze anos depois da queda de Goa, Damão e Diu. (...)


(...) Recorde-se que a generalidade dos antigos prisioneiros da Índia (cerca de 3500) foram, no regresso á Pátria, mal tratados, humilhados, abandonados, ostracisados, esquecidos... Para o regime político da época, e para sua opinião pública, eles pura e simplesmente deveriam ter-se deixado imolar no altar da Pátria na defesa da Índia Portuguesa, a "joia da coroa". Por não ter sabido resistir, até á última gota de sangue, Vassalo e Silva, o governador geral da Índia e comandante chefe da simbólica força expedicionária estacionada nos territórios de Goa, Damão e Diu, fui expulso do exército... (...)


(...) Em memória dos camaradas de armas tombados em nome de Portugal, deixamos o registo dos seus nomes, para que a História e os Homens, os não esqueçam, e não se tornem em SOLDADOS ESQUECIDOS:

Militares tombados em Defesa da Índia Portuguesa

Abel Araújo Bastos – Soldado
Abel dos Santos Rito Ribeiro – Alferes Miliciano de Infantaria
Alberto Santiago de Carvalho – Tenente Infantaria
Aníbal dos Santos Fernandes Jardino – Marinheiro
António Baptista Xavier - 1.º Cabo
António Crispim de Oliveira Godinho - 1.º Cabo
António Duarte Santa Rita - 1.º Sargento da Armada
António Fernando Ferreira da Silva - 1.º Cabo
António Ferreira – Marinheiro
António José Abreu Abrantes – Alferes Miliciano Infantaria
António Lopes Gonçalves Pereira – Alferes Miliciano Engenharia
Cândido Tavares Dias da Silva - 1.º Cabo
Damuno Vassu Canencar – Soldado
Fernando José das Neves Moura Costa - Soldado
Jacinto João Guerreiro – Soldado
João Paulo de Noronha - Guarda 2.ª classe
Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo - 2º Tenente Armada
José A. Ramiro da Fonseca - Furriel Miliciano
José Manuel Rosário da Piedade - 1.º Grumete Armada
Joviano Fonseca - Guarda-Auxiliar
Lino Gonçalves Fernandes - 1.º Cabo
Manuel Sardinha Mexia – Soldado
Mário Bernardino dos Santos – Soldado
Paulo Pedro do Rosário - Guarda Rural
Tiburcio Machado - Guarda-Rural

OBS: Esta lista pode estar incompleta.

Os Soldados da Índia só foram “reabilitados” do ostracismo a que foram votados, após o 25 de Abril. Todos os prisioneiros de guerra, foram condecorados com a Medalha de Reconhecimento  (...)  em 03 de Maio de 2003, pelo então Ministro de Estado e da Defesa Nacional Dr. Paulo Portas. (...)

(**) Último poste da série >  26 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19138: Manucrito(s) (Luís Graça) (146): Tinha eu sete anos quando começou a guerra colonial, com a invasão e a ocupação dos "anexos" de Dadrá e Nagar-Aveli, Estado Português da Índia, em 22 de julho de 1954...

sábado, 2 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18704: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: Como se faz um alferes miliciano do Serviço de Administração Militar (I)


Foto nº 9 > – Nas instalações da EPAM [, Escola Prática de Administração Militar], no Lumiar, em Lisboa: o meu último dia de Cadete... No dia seguinte seria promovido a aspirantes miliciano com divisas na diagonal, e direito a continência. Estava vestido com a farda nº 1 daquela época. Fins de Junho de 67.


Foto nº 10 > A minha foto tirada para o Bilhete de Identidade Militar, já como alferes miliciano, uns dias antes de embarcar para a Guiné. Porto, Setembro de 1967.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem 56 referências no nosso blogue.

GUINÉ 1967 /69 1967/69  > ÁLBUM DE TEMAS >  T001 – SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO  > CURSO DE OFICIAIS MILICIANOS  (COM)  > EPI | MAFRA; EPAM | LUMIAR, LISBOA  - Parte I


Virgílio Teixeira, hoje
(i) Como cheguei a Alferes Miliciano SAM (Serviço de Administração Militar)

Este devia ser o primeiro tema da minha participação no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, isto é, a incorporação militar, a instrução básica, o juramento de bandeira, a especialidade, a promoção a aspirante miliciano, os Estágios, a mobilização e a integração no Batalhão de Caçadores 1933 em Santa Margarida.

Mas,  como não foi, vai agora e ainda com tempo, pois tenho inesgotáveis temas para participar, não falando da vida ‘pós serviço militar’ que não é para aqui chamada.

Assim:

Com os meus 18 anos, isto é,  em 1961,  vou dar os chamados ‘sinais’ na minha Junta de Freguesia de Paranhos,  no Porto. Neste ano,  e na altura dos sinais, já tinha rebentado a guerra em Angola – a 4 de Fevereiro (em Luanda) e  a 15 de Março de 1961 (no noroeste),  com a ‘matança’ dos inocentes. 

O meu irmão mais velho – um ano e meio de diferença  - estava já na Índia há mais de um ano, pois a rebelião tinha também começado, em Dadra e Nagar Aveli, com os "satiagrás" a fazer o mesmo papel que futuramente coube aos nossos terroristas na nossa guerra de África. 

O meu pai já lá tinha estado na Índia, entre 1955 e 1958, no início da rebelião, por isso estou muito familiarizado com estas guerras todas. Nesse ano, em 18 de Dezembro de 1961, a União Indiana invadiu os territórios do Estado Português da Índia – Goa, Damão e Diu -, e fez prisioneiros os militares que lá estavam a cumprir o serviço, entre eles o meu irmão, sargento Rádio Montador. 

Esteve cinco meses em cativeiro no campo de concentração de Pondá, e curiosamente li aqui um artigo sobre este tema, e ele esteve a dois passos da relatada tentativa de fuzilamento de uma quantidade enorme de militares, por causa de uma fuga abortada de alguns, e depois um padre capelão veio salvar tudo [, Joaquim Ferreira da Silva, jesuita,d e Santo Tirso], temos na memória de estarem todos perfilados, e os "shiks" com as metralhadoras apontadas à espera da ordem de disparar. 

Tudo acabou em bem, tendo o meu irmão e restantes prisioneiros sido libertados em Maio de 1962, quando a guerra em Angola já estava em força com os primeiros contingentes militares a embarcar para lá. 

O espectro de vir a fazer o serviço militar como soldado tomou conta de mim. Tinha de dar a volta a isto.  Quando fui dar os 'sinais', isto é, em Junho de 1961, tive de dar as habilitações literárias. Apesar de estar a frequentar um curso comercial à noite, já no 4º ano, ainda não o tinha completado, pelo que o diploma que tinha para apresentar era apenas o da 4ª classe, nada mais.

Em 1962 começam a aparecer os primeiros mortos, militares, e dá-se um volte-face na minha vida. Como já conhecia o que era ser militar, pois passava alguns tempos nos quartéis onde o meu pai prestava serviço, e em especial a vida de um soldado, passou-me um clique pela cabeça, ‘eu tinha de ir fazer a tropa como oficial miliciano’... Era outra coisa, e ganhava mais. Eu já trabalhava de dia e estudava à noite. Não tinha muito tempo, mas imaginei, fiz as contas e atirei-me de cabeça.

Em poucos meses tinha de fazer um exame de admissão ao Instituto Comercial do Porto, pois tinha sido lançada uma experiência no ensino, com um curso de 2 anos, que daria equivalência ao 7º ano do Liceu, habilitação  mínima para ser admitido no COM.

Mas,  para esse exame, tinha de ter o 2º ano dos liceus, que nunca frequentei, pois quando acabei a primária, fui logo trabalhar, e aos 14 anos inscrevi-me no curso comercial, mas à noite, as matérias eram diferentes, e muito pouco sabia, pois a escola comercial tinha um curriculum escolar muito diferente dos liceus. 

Então preparo-me sozinho para esse exame do 2º ano liceal na época normal, e ao mesmo tempo começo em força a estudar tudo o que era do 5º ano, para fazer a admissão ao Instituto,  na 2ª época de Setembro de 1962.

Não sabia uma única palavra de Inglês, não sabia Física, nem Química, nem Ciências, nem Desenho, tinha umas noções de Português, Francês, Geografia, História e pouco mais. Uma senhora minha vizinha, ex-professora de Letras, oferece-se para me dar explicações de Inglês e aproveitei também para receber umas de Português, e não pagava nada, nem podia pagar.

Faltava-me a Matemática, o que eu sabia da escola comercial era cálculo comercial e aritmética, mas nada de Álgebra, Geometria e coisas dessas do liceu. Um amigo, que já frequentava a faculdade de economia, prontificou-se a dar-me umas explicações de Matemática num café ali para os lados do Campo Lindo, onde ele morava. Em pouco tempo consegui ‘perceber’ a matemática, e já não tinha problemas com isso, já sabia tudo até ao 5º ano.

As lições de Inglês e Português continuavam a bom ritmo e também absorvi rápido, porque era individual e intensivo, ao fim da tarde e fins de semana.  Veio a época de fazer o exame do 2º ano em Junho de 1962, e lá fui, tive algumas dificuldades em Desenho, pois nunca tinha feito ou estudado nada sobre desenho.

Mas safei-me e passei no exame do 2º ano liceal. Com esse diploma já me vou inscrever no exame de admissão ao Instituto Comercial. Ainda tinha uns dois meses e meio até lá, ia fazer na época de Setembro.

Mas o meu trabalho continuava, os horários mantinham-se por isso a alternativa era fazer verdadeiras maratonas e muitas directas com alguns, mas poucos que me acompanharam mas acabaram de desistir, não aguentaram este ‘ritmo’ alucinante. Estudava só nos cafés, com predominância do Café Cenáculo, inaugurado em 11 de Novembro de 1961. Era a minha sala de aulas e explicações, ficava sempre até fechar, já depois das 2 horas da manhã.

Na época de Setembro de 1962, faço o exame de admissão, e fico espantado comigo mesmo, pois tirei média acima de 14 valores, o que me dava acesso imediato á matrícula, sem fazer exames orais, que para mim era uma praga, não gostava nada.

Assim já tenho o 5º ano do Liceu, já podia ir para o Curso de Sargentos Milicianos (CSM)  Mas havia um preço a pagar, tive um esgotamento cerebral, não dormia, tinha de tomar comprimidos para não dormir e estudar até esgotar, todos os sítios e minutos eram para estudar, não comia muito bem, e perdi muito peso, fiquei esgotado, e comecei a tomar comprimidos de ‘ferro’ pela primeira vez.

Com 19 anos, em Outubro de 1962 inscrevo-me no Instituto, no 1º ano do ‘curso de acesso ao ensino superior’, era assim que se chamava. Só frequentava as aulas fora dos horários de trabalho, isto é das 8 às 10, e depois das 18 horas da tarde.

Era o curso da noite, sem rodeios nem vergonhas, era assim e ponto final. Tinha de competir com aqueles que tiveram um ciclo normal, com idades 2 a 3 anos mais novos, e todo o tempo do mundo para estudar. Comigo também entraram mais uns tantos, todos também com idades de adulto, para os cursos da noite, mas os exames eram feitos ao mesmo tempo dos de dia, não havia distinções nenhumas, nem benesses.

E aos 20 anos, em meados de 1963, vou à primeira inspecção militar, ali para os lados das Taipas,  na Cordoaria,  no Porto, onde existia um quartel velho. Ainda estava a frequentar o 1º ano do Instituto, ou seja o equivalente ao 6º ano do liceu.

Como pesava apenas uns 43 kg, os médicos acharam por bem mandar-me para casa e engordar um pouco mais. Fiquei adiado um ano. Foi-me dado logo o primeiro número de identificação militar – NIM – 00439364. Os dois últimos dígitos significam e ano previsto da minha incorporação – 1964 – o que não veio a acontecer.

Não sei porque fui adiado, mas hoje imagino que a tropa nessa altura não tinha muita gente letrada, para sargentos e oficiais milicianos, e eu tinha uma grande vantagem competitiva, frequentava um curso da área comercial, cujo objectivo era o curso de Economia, e tinha já nessa altura, em 1963, quase 9 anos de trabalho regular dentro da mesma área do curso que frequentava, uma área administrativa. E pessoal para servir como operacionais não faltava, era preciso quadros e técnicos, e havia aqui uma possibilidade comigo, penso eu agora, sem saber nada do que se passou.

Voltei no ano de 1964, novamente em meados desse ano e,  como estava mais ou menos na mesma, já não havia direito a mais um adiamento, por isso sou considerado ‘apto’ para toda o serviço militar e mantive o mesmo NIM, que viria a ser alterado.

Nesta época já estava praticamente feito o 7º ano, por isso já pertencia à próxima incorporação de Janeiro de 1965, para o Curso de Oficiais Milicianos (COM).

Acabei o Instituto também com média superior a 14 valores e assim entro directamente para a Universidade, sem precisar de exame de admissão, a que todos estavam sujeitos se não tivessem essa média do 7º ano.

Em Setembro de 1964 inscrevi-me no 1º ano do curso de Economia da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Um feito que sempre o considerei épico, para pessoas vindas da minha classe social, uma vez que nunca nasci num berço de ouro.

E o trabalho tem de continuar, pois é preciso pagar os estudos, e isso é tudo por minha conta, também é verdade que ganhava bem, acima da média, pois já exercia funções importantes nas empresas, apesar da pouca idade e habilitações básicas.

Novamente dou início a um novo curso, agora um curso superior, nas velhas instalações da Faculdade de Economia, na Praça dos Leões,  no Porto, em duas salas emprestadas pela Faculdade de Ciências, a Economia era um curso novo no Porto.

Mas não ia, ou ia muito raramente às aulas teóricas, porque eram em horário laboral, e eu estava matriculado como aluno ‘extraordinário’, que significava,  em termos mais práticos, alunos da noite, ou alunos de... segunda categoria.

Tinha aulas práticas obrigatórias das 8 às 10 da manhã, e depois da 6 horas da tarde. Os exames e provas correntes eram todas em conjunto, não havia distinções. Foi muito difícil, como também já havia sido no anterior Instituto Comercial, a cabeça estava cansada, tomava muitos comprimidos para as dores de cabeça – ainda me lembro do Optalidon, entretanto retirado do mercado. Passei a usar óculos devido ao cansaço da vista, mas lá fui por diante.

Conheci muita gente que mais tarde viria a ocupar os cargos mais importantes na administração e no Estado. Não vou mencionar ninguém porque não é importante agora. Não ganhei amizades nem confiança com esta gente, pois mal nos encontrávamos, só por mero acaso, nas aulas práticas para todos.

Entretanto já estava apurado, e pensei noutra possibilidade, já que aqui estou, com 21 anos em 1964, estou no 1º ano, mais 5 anos faço o curso, e em 1970, com 26 anos, estou a tempo de ir para a tropa, e se assim pensei assim executei. Pedi adiamento na incorporação do próximo ano de 1965, o ano normal da minha incorporação.

Faço o primeiro e segundo ano do curso, e já estamos em Setembro de 1966.  Mas surgem imprevistos, já conhecia a minha namorada, a estava perdido por ela, e com vontade de casar, e neste andar só com 30 anos lá chegaria e era tarde demais para mim, para ela não tanto, que tinha menos 5 anos, ainda ia a tempo com 25 anos.

E, afinal,  para quê?

Nunca tinha pensado chegar tão longe, havia outros, muitos outros problemas, isto que contei não foi assim tão fácil, na vida nada foi fácil para mim, eu tive de subir a pulso, nunca recebi nada de ninguém, nunca herdei um tostão até o dia de hoje. Mas,  como estas coisas, estas ‘histórias’ andam a percorrer as redes sociais, eu não queria adiantar muito mais, toda a gente tem acesso a estes conteúdos, e não quero, e muito menos a minha mulher que não gosta mesmo nada de redes sociais, mas tudo está já escrito no meu livro ‘não editado’ “A Minha Vida” (, está fechado a 7 chaves).

Assim,  num laivo de mais uma loucura das minhas, vou a Lisboa ao Ministério da Defesa Nacional, informando que queria desistir dos adiamentos, isto por volta de Novembro a Dezembro de 1966, e queria ser incorporada na próxima molhada.

E ainda avisei que, se não fosse feita a minha vontade, poderia até desertar. Não levaram a sério, senão metiam-me na gaiola. Assim ainda antes do Natal de 1966 já estou a receber a Guia de Marcha para Mafra, no dia 3 de Janeiro de 1967, teria de me apresentar pela 8 horas da manhã.

Ia fazer nesse mês os meus 24 anos, e nessa altura era uma idade ainda muito jovem, não se sabia de nada daquilo que os meus netos hoje sabem. Os tempos mudaram.

Um amigo meu com quem fiz algumas incursões pelo país, à boleia, de capa e batina, ele frequentava Direito em Coimbra, só viria a ir para a tropa muito mais tarde, e estava na Guiné no QG – no serviço de Justiça -, já era juiz de Direito, e com 31 anos estava lá no tal dia do golpe de estado do 25A4, e eu já estava casado e com 3 filhos menores. Este meu amigo é hoje ainda Juiz Conselheiro na Relação de Lisboa.

Em termos de comparação, os tempos em que os meus filhos estudaram, as mordomias que tiveram, os cursos superiores que frequentaram, os carros que tiveram para irem para as suas universidades, isto era tudo pago do meu bolso, não havia ajudas do Estado, também diga-se que nessa altura não me custava assim muito, pois trabalhava muito e ganhava bem.

Mas a vida dos meus netos, comparada com a minha e da minha mulher, é a noite do dia, não há termo de comparação, não é só com os meus, foi tudo com a maioria dos filhos da revolução. O país e o mundo mudaram muito nestes últimos 50 anos.

Quis exprimir isto para se ver até que ponto a força de vontade leva tudo à frente, não tive ajudas familiares, bem pelo contrário, acho que nunca acreditaram no que eu seria capaz de fazer, nem mais tarde reconheceram até onde cheguei. São coisas pessoais que estão encravadas na garganta como espinhas, por isso passemos à frente.

Fui para a tropa tirar o curso de oficiais milicianos porque fixei este objectivo que tinha de alcançar, não desisti nunca, não havia espaço temporal para nada, a não ser estudar e fazer exames. Devorava livros e Sebentas, decorei tudo, e agora a minha memória vai-me atraiçoando.

Gostava que em devido tempo, a minha família, pais, irmãos, conjugues, tivessem reconhecido esta façanha, mas não. Acho que ficou a inveja, e sei do que falo.

É desta forma que começa assim a minha saga, a vida militar, que viria a alterar por completo a minha forma de ser, de pensar, de agir, a irritabilidade e agressividade fáceis, importar-me apenas comigo e da minha nova família, a superproteção que imponho a mim próprio, a minha incapacidade de poder ver as consequências dos meus actos, devido ao excesso de fármacos que vou tomando diariamente até hoje, seguindo a minha própria automedicação.

Não vou continuar, ficamos por aqui e vou fazer os meus comentários às poucas fotos que tenho da minha vida militar até chegar à Guiné, e como nunca tive uma máquina fotográfica, estas fotos devem ter sido fornecidas pelos fotógrafos que acompanhavam a tropa e ganhavam a sua vida com este trabalho.

(Continua) 
_________________

Nota do editor:

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10998: Agenda cultural (251): Últimos dias da exposição no Padrão dos Descobrimentos, Álbum de Memórias: Índia Portuguesa 1954.1962: A não perder!!! Encerra a 27, domingo... Já foi visitada por mais de 46 mil pessoas (EGEAC)

1. Mensagem da EGEAC, com data de hoje

Assunto: Padrão dos Descobrimentos apresenta... ÁLBUM DE MEMÓRIAS|ÍNDIA PORTUGUESA 1954.1962 - A Não Perder!!! Útimos Dias!!! A  exposição já foi visitada por mais de 46.000 pessoas



Fausto Brito e Abreu e Jorge Oliveira e Carmo, Comandantes das Lanchas
Fiscalização Antares e Vega, Clube Naval, Caranzalem, Goa, Setembro, 1961


Últimos dias para visitar a exposição

ÁLBUM DE MEMÓRIAS – ÍNDIA PORTUGUESA / A SCRAPBOOK OF MEMORIES – PORTUGUESE INDIA 1954.1962

Padrão dos Descobrimentos
Diariamente, só até dia 27 de Janeiro
das 10h00 às 18h00 - última entrada 17.30

Resultado das memórias de alguns dos militares destacados na Índia, no momento da invasão do Estado Português da Índia, a exposição patente no Padrão dos Descobrimentos - EGEAC, E. E. M., e que já foi vista por mais de 46.000 mil visitantes, é acompanhada de textos de cientistas políticos que a explicam de uma forma objectiva, possibilitando o reavivar da discussão de um tema transversal a toda a sociedade, e ainda muito doloroso – uma vez que a maioria dos portugueses conhece alguém que, de uma forma ou outra, esteve implicado nos eventos políticos e militares desta época.

Álbum de Memórias. Índia Portuguesa 1954-62, foi criada a partir de fotografias, documentação e recordações dos militares portugueses, espólio recolhido por Fernanda Paraíso, com o apoio da Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra (ANPG), e retrata a vida dos militares, prisioneiros de guerra na sequência da ocupação dos territórios portugueses na Índia, em Dezembro de 1961, até ao momento do seu repatriamento. A presente exposição assinala os 50 anos do regresso do último contingente militar da Índia Portuguesa.

Graças ao desenho de António Viana, encontra-se exposta uma questão difícil para toda a sociedade portuguesa, suscitando a discussão, ao mesmo tempo que é dada a oportunidade ao público estrangeiro de contactar com um dado novo sobre o país que visitam.
Uma visita a não perder!

Maria Cecília Cameira
Comunicação
Av. Brasília, 1400-038 Lisboa
T 213 031 950

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10973: Agenda cultural (250): Lançamento do livro "Rosa no País das Flores da Luta", de Maria do Céu Mascarenhas, dia 26 de Janeiro de 2013 pelas 16h00 no Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Lisboa

sábado, 12 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10931: Recortes de imprensa (63): Homenagem, em maio de 2008, ao tenente capelão Joaquim Ferreira da Silva, jesuíta, natural de Santo Tirso, que pela sua coragem e lucidez terá evitado um banho de sangue no campo de prisioneiros de Pondá, Goa, em 19 de março de 1962 (JN- Jornal de Notícias, 12/5/2008)

1. Ainda a propósito da exposição "Álbum de Memórias: India Portuguesa, 1954-1962", que est+a a terminar (Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: imagem do cartaz  à esquerda), reproduz-se aqui, com a devida vénia, a notícia da homenagem,  prestada em maio de 2008, por um grupo de ex-prisioneiros de guerra, ao tenente capelão Joaquim Ferreira da Silva,  cujo comportamento corajoso e lúcido no campo de prisioneiros de Pondá, em Goa, no dia 19 de março de 1962 poderá ter evitado um banho de sangue. (LG)

Goa recordada por prisioneiros

Ana Trocado Marques
JN- Jornal de Notícias, 12/5/2008

É o dia 19 de Março de 1962, pelas 18.30 horas. Campo de prisioneiros de Pondá, Goa, Índia. Três prisioneiros tentaram a fuga. Denunciada por um furriel português, a ousada manobra falhou e o acto de indisciplina iria ser pago com o fuzilamento dos 1750 militares portugueses, prisioneiros, em Pondá, desde 17 de Dezembro de 1961. A coragem e a diplomacia do tenente-capelão Ferreira da Silva haveria de evitar o banho de sangue.

Quarenta e seis anos depois, Fausto Diabinho [, foto à direita, há 50 anos atrás,] ainda não consegue conter as lágrimas ao recordar o fatídico 19 de Março. Viu a morte à frente. Lembra os companheiros a desmaiar, as metralhadoras apontadas, o pelotão de fuzilamento e a voz que gritava "Quem se mexer será abatido". Lembra, sobretudo, o tenente-capelão que, num acto heróico, sai da formatura, arriscando a vida, e consegue negociar com o brigadeiro indiano o perdão dos portugueses, evitando o massacre.

(...) Quarenta e seis anos depois, o Ministério da Defesa reconhece, finalmente, o acto heróico de Joaquim Ferreira da Silva, a quem atribui, a 7 Dezembro do ano passado, a título póstumo, a Medalha Militar de Serviços Distintos, grau ouro.

"Se hoje estamos aqui, devemos-lhe a ele", garante o vice-presidente da Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra (ANPG), que, anteontem, prestou, na Póvoa de Varzim, homenagem a Ferreira da Silva."Se fosse vivo, faria 92 anos", recordou Fausto Diabinho, explicando a escolha do dia para homenagear o tenente-capelão, sepultado no cemitério poveiro.

Foi igualmente em Maio, em 2003, continuou a explicar, que o Governo reconheceu a condição de prisioneiros de guerra, condecorando todos os ex-militares presos na Índia, Timor, Angola, Moçambique e Guiné. Finalmente, foi também em Maio de 1962 que os mais de três mil portugueses presos na Índia começaram a ser libertados.

"O ministro da Defesa, na altura Castro Caldas, teve a ousadia de dizer que não houve prisioneiros de guerra na Índia porque simplesmente estavam à espera de transporte", lembrou Fausto Diabinho, que recorda, com tristeza, os mais de 40 anos necessários para que Portugal reconhecesse que, a defender a pátria, três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, durante seis meses, e 29 perderam a vida. Agora, os ex-prisioneiros na Índia festejam, finalmente, o reconhecimento justo de quem "serviu a pátria e perdeu a vida" em defesa dos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de dezembro de 2012 > Guiné 67/74 - P10854: Recortes de imprensa (62): Um caso de sucesso: a proteção dos hipopótamos de água salgada da ilha de Orango, nos Bijagós (RTP África, 10/12/2012)

Guiné 63/74 - P10929: Agenda cultural (247): Termina a 27 deste mês a exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa. 1954-62, Lisboa, Padrão dos Descobrimentos


O major general  Gespal (Sikh), primeiro comandante do campo de prisioneiros de Pondá, Goa, tendo à sua esquerda o capitão de fragata José Pinto da Cruz, imediato do avio "Afonso Albuquerque", e comandante dos prisioneiros.



Goa > Campo de prisioneiros do Forte de Aguada > O famigerado  bidão da sopa. Um dos cozinheiros deste ou campo de Pandá  era o meu primo Luís Maçarico, de Ribamar, Lourinhã. (Estava colocado no Hospital Militar de Pangim, aquando da invasão).




Goa > Vasco da Gama >  Campo de prisioneiros de Alparqueiros >  1962 > "Quem passar daqui será alvejado a tiro": título de letreiro afixado, ao fundo... Em  11 de janeiro, tinha havido uma tentativa de fuga de 11 prisioneiros, que procuraram refúgio num navio ancorado no porto, e prontamente denunciados pelo respetivo capitão. 

A 19 de março, no campo de prisioneiros de Pondá, Goa, haverá outra tentativa de fuga: 3 prisioneiros tenta5m esconder-se na camioneta da recolha do lixo, mas são denunciados pelo furriel que os comandava.  Este incidente acabou por dar origem a uma revolta coletiva que, embora prontamente doiminada pelos oficiais e sargentos portugueses, levou à intervenção do brigadeiro indiano, comandante geral dos campos de Goa, que ameaçou fuzilar todos os que persistissem em castigar o furriel... O tenente capelão Joaquim Ferreira da Silva, jesuita, natural de Santo Tirso, teve então um gesto heróico, conseguindo apaziguar os ânimos de um lado e do outro. O capitão Roberto Durão escreveuino seu diário: "Hoje foi o dia do Pai [, 19 de março,], podíamos ter deixado muitos órfãos em Portugal, pois a nossa vida estave por um fio".



Goa > Campo de prisioneiros de Alparqueiros > 1962 > Na hora da despedida, ao fim de 5 meses e meio de cativeiro.



N/T Pátria > 1962 > Repatriamento dos prisioneiros de guerra... Um operação discreta, um regresso humilhante, um momento doloroso da nossa história, um esquecimento coletivo de meio século...






Pequena amostra da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62, que tem estado aberta ao público, desde setembro de 2012, em  Lisboa, Padrão dos Descobrimentos. Encerra em  27 de janeiro de 2013. [Imagens e legendas  de L.G,]

A exposição, criado a partir de fotografias, documentação e recordações dos militares portugueses, espólio recolhido por Fernanda Paraíso, com o apoio da Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra (ANPG), "retrata a vida dos militares, prisioneiros de guerra na sequência da ocupação indiana dos territórios portugueses na Índia, em  Dezembro de 1961, até ao momento do seu repatriamentO". Tem também o contributo do Observatório Político que "introduz o enquadramento complementar para a compreensão do quadro histórico e político de meados do século XX, no qual se inscrevem os acontecimentos narrados."

Com a presente expsição, a EGEAC (, a empresa do Município de Lisboa, responsável pela Gestão de Equipamentos e Animação Cultura,) assinala os 50 anos do regresso, em 1992,  do último contingente militar da Índia Portuguesa. (**)

Visitas guiadas a 20 (11h00) e 27 (15h30) de janeiro de 2013. Clicar aqui para aceder ao sítio do Padrão dos Descobrimentos



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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:

 23 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10847: Agenda cultural (242): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: agora até 27 de janeiro de 2013

16 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10808: Agenda cultural (241): Últimos dias da exposição Álbum de Memórias: Índia Portuguesa, 1954-62... Lisboa, Padrão dos Descobrimentos: até 30/12/2012

(**) Último poste da série > 4 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10897: Agenda cultural (246): Exposição, em Odivelas, na biblioteca municipal D. Dinis, de 4 a 20 de janeiro de 2013, " Regimento de Engenharia nº 1 - 200 anos a servir Portugal" (José Martins)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10732: Agenda cultural (237): Visitas guiadas em 2 e 9 de dezembro à exposição Álbum de Memórias - Índia Portuguesa, 1954-1962, Padrão dos Descobrimentos, Lisboa

INFORMAÇÃO / CONVITE

ÁLBUM DE MEMÓRIAS - ÍNDIA PORTUGUESA, 1954/62

Lisboa, Padrão dos Descobrimentos (30/9 a 30/12/2012)





ÁLBUM DE MEMÓRIAS – ÍNDIA PORTUGUESA
SCRAPBOOK OF MEMORIES – PORTUGUESE INDIA
1954.1962

Padrão dos Descobrimentos
Visitas Guiadas – Dezembro 2012


02 DEZEMBRO, 11.00 – MEMÓRIAS DA ÍNDIA

Maria de Lourdes Filomena Figueiredo de Albuquerque
Deputada por Goa à Assembleia Nacional 1965 a 1969 


Para saber mais:

http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/a/albuquerque_maria_de_lourdes_filomena_figueiredo_de.pdf


09 DEZEMBRO, 15.30 – A exposição ÁLBUM DE MEMÓRIAS ÍNDIA PORTUGUESA / SCRAPBOOK OF MEMORIES PORTUGUESE ÍNDIA 1954.1962

Fernanda Paraíso – Comissária da exposição

As visitas deverão ser previamente marcadas e estão sujeitas a confirmação

Preço: 03.00€

Reduções: Professores; Estudantes; Membros da Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra; Membros do Observatório Político
Inscrições: T. 213 031 950 / e.mail: info@padraodosdescobrimentos.pt

Padrão dos Descobrimentos
Avenida Brasília, 1400-038 Lisboa

www.padraodosdescobrimentos.pt

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10123: Os nossos seres, saberes e lazeres (48): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte II): A banda da Associação Musical da Atalaia... é uma festa! ... (E onde se fala também dos antigos prisioneiros portugueses na ìndia, 1961/62) (Luís Graça)




Lourinhã, Atalaia, 1 de julho de 2012. Festa do pão do moínho. Atuação da banda da Associação Musical da Atalaia.


Vídeo (4' 16''): Luís Graça (2012). Alojado em You Tube > Nhabijoes 




1. A 2º edição da Festa do Pão do Moinho (a 1ª edição realizou-se o ano passado) foi organizada pela Associação Musiscal da Atalaia (AMA) e abrilhantada pela sua banda (*)...

A AMA tem uma escola de música e uma banda de música, composta essencialmente por gente jovem. Lê-se no sítio desta associação:

(...) "A Escola de Música, iniciou a sua primeira aula no dia 1 de Dezembro de 1985 com 18 alunos e teve a sua primeira actuação no dia 6 de Setembro de 1986 com a designação de Escola de Música da Atalaia, criada por Joaquim Isidoro dos Santos e Luís Fernando dos Santos, tendo sido na altura, inserida na Associação Desportiva e Recreativa Marítimo de Atalaia.

(...) "Mais tarde, por imperativos legais e legítimos, verificou-se a necessidade de ser separada da Associação Desportiva e Recreativa Marítimo de Atalaia.


(...) "[Em finais de ] 2007, foi legalmente criada a AMA – Associação Musical da Atalaia, no Cartório Notarial da Lourinhã por um grupo de outorgantes que quiseram dar à Banda a existência legal como é seu direito e melhorar as suas condições de vida como Órgão Cultural (...).

"Como Sede, foi-lhes cedida pela Câmara Municipal da Lourinhã a antiga e desactivada E.B.1 [, antiga escola do ensino primário,] da Cabaceira,  em Atalaia, local onde são dadas as aulas de instrução musical e realizados os ensaios gerais. A actual direcção  [está a construir de raiz uma sede, a qual vai permitir] oferecer melhores condições aos jovens músicos.

"A finalidade desta Associação destina-se ao cultivo das artes, visando a formação Humana através da Educação Cultural e Recreativa e encontrando-se aberta a pessoas de ambos os sexos para o ensino da música. Neste local ensaia, para além da Banda, uma Orquestra Ligeira e poderá surgir a formação de outros grupos, nomeadamente um Grupo Coral e/ou um Rancho Folclórico.

"Actualmente a Banda é composta por 45 elementos maioritariamente jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 66 anos, com uma média de idades de 16 anos. São na sua maioria adolescentes, estudantes do Ensino Secundário, sendo que, existem alunos do Conservatório e estudantes em Escolas Profissionais de Música. (...).





 Lourinhã > Atalaia > 1 de julho de 2012 > Festa do pão do moinho > Uma terra de gente trabalhadora, mas que gosta e sabe divertir-se e conviver: terra de agricultores, pescadores, mariscadores, "viveiristas de frutos do mar", comerciantes, improtadores e exportadores de marisco, músicos, padeiras, moleiros e... moleirinhas! Foto de L.G.

2. Sobre os dois fundadores da Escola de Música da Atalaia convirá dizer o seguinte:

(i) Luís Santos é o atual maestro da banda da AMA. Nasceu na Atalaia, em 1941;Começou a aprender música aos 10 anos.  Em 1959, ingressou como voluntário na Banda de Música da Escola Prática de Infantaria, em Mafra. Em 1967, através de concurso público, entra para a  Banda de Música do Comando Geral da Guarda Nacional Republicana (GNR).

Em 1982, é sargento ajudante, e fica a desempenhar as funções de Subchefe da Banda de Música do Comando Geral da GNR.

Em 1984, é promovido ao posto de sargento chefe e em 1989 ao posto de sargento mor, desempenhando as funções de chefe adjunto da referida Banda de Música.

Desde 1975 dirige a Banda do então Batalhão de Sapadores Bombeiros, hoje Regimento. Reformado da GNR, dirige igualmente a banda da AMA.

(ii) O Joaquim Isidoro Santos, o outro dos fundadores da primitiva Escola de Música da Atalaia, em 1985, é irnão do maestro da banda da AMA. Foi taxista, é também nascido na Atalaia. Tinha 21 anos quando foi para Índia, em cumprimento do serviço militar. Pertencia à CCAÇ 8 do RI 5, Caldas da Rainha. Em Goa, foi nomeado encarregado da messe de sargentos, tarefa que cumpriu desde Março de 1961 até à invasão do território pelas tropas da União Indiana, em 18/19 de Dezembro de 1961. Foi então feito prisioneiro.



Caldas Rainha, RI 5... S/d... Convívio de antigos prisioneiros na India (1961/62). Pertenciam às Companhias de Cacadores 6, 7 e 8 , do RI 5.



O estandarte da CCAÇ 8, do RI 5, Caldas da Rainha.


Fotos da página do Joaquim Isidoro no Facebook (Reproduzidas com a devida vénia...)





Já aqui, no nosso blogue, tínhamos falado deste meu conterrâneo e camarada lourinhanense, um homem voluntarioso e decidido, e da sua  iniciativa, inédita, em 2008, de homenagear publicamente o seu antigo comandante, o gen Vassalo e Silva, prisioneiro como ele das tropas indianas, conforme

(…) “Manuel António Vassalo e Silva, último governador português de
Goa, Damão e Diu, foi homenageado no passado dia 22 de Junho [de 2008] na Atalaia, naquela que foi a primeira cerimónia pública do género no país. Para prestar a homenagem, foi descerrada uma lápide em sua memória junto à praceta que passou a designar-se Praceta General Vassalo e Silva, localizada a cerca de 600 metros a norte da Igreja de Nª Srª da Guia”. (...)

O Joaquimn Isidoro também é um dos co-fundadores, em 2000, [, originalmente, Associação dos Ex-Prisioneiros de Guerra da Índia e de Timor]. Tal como no passado, fui de novo encontrá-lo na Festa do Pão do Moinho. Falámos, naturalmente, como camaradas, das coisas da guerra e da paz, e das dificuldades que os antigos combatentes enfrentam, a começar pelas da sua representação e organização... Até um dia destes, Joaquim!

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 5 de julho de 2012 > Guné 63/74 - P1020: Os nossos seres, saberes e lazeres (47): Festa do pão do moinho, 1 de julho de 2012, Atalaia, Lourinhã (Parte I): O som inconfundível do vento a soprar nas velas, nos mastros, nas cordas e nos búzios dos moinhos da minha terra, acompanhou-me desde sempre, desde a minha infância até Bambadinca..., tal como o cheiro, o sabor, a cor e a textura do pão, feito com a farinha do moleiro... Desculpem-me a fra(n)queza!... (Luís Graça)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9405: Efemérides (84): Luís Filipe Maçarico e Joaquim Isidoro dos Santos, dois bravos da Lourinhã, que ficaram prisioneiros das tropas indianas em 19 de dezembro de 1961




Recorte do quinzenário regionalista "Alvorada", de 6 de janeiro de 2012, em que se evoca a guerra (esquecida) da Índia... Reproduzido com a devida vénia. Um pequena homenagem a geração de humilhados e ofendidos a que o nosso blogue também se quer associar. O meu abraço fraterno ao Luís e ao Joaquim. (LG)



1. Dois conterrâneos meus e meus conhecidos, o Luís Filipe Maçarico – que também é meu parente: a minha bisavó materna, Maria Augusta,  nascida por volta de 1860, era irmã do seu  bisaô paterno, Manuel Filipe Maçarico –  e o Joaquim Isidoro  Santos são duas memórias vivas da guerra da Índia, que muitos portugueses não associam à guerra colonial: ambos ficaram prisioneiros, em Goa, no dia 19 de Dezembro de 1961. 

Estes nossos dois camaradas foram recentemente entrevistados (e - de algum modo - homenageados pela comunidade a que pertencem) pelo jornal quinzenário  regionalista “Alvorada”, nº 1096, ano LI, de 6 de Janeiro de 2012. Diga-se, de passagem, que é uma terra, a Lourinhã, que tem sabido acarinhar os seus filhos, antigos combatentes da guerra colonial.

Luís Filipe Maçarico, nascido em 1939, em Ribamar, chegou à India, em 1960, com 21 anos. Cumpriu 28 meses de serviço militar como cozinheiro, primeiro no Hospital Militar de Panjim, e depois – os últimos cinco meses – no campo de prisioneiros (onde continuou a cozinhar para os seus camaradas). O Luís é, além disso, uma pessoa muito estimada na sua terra, estando ligado à organização de eventos como os dois primeiros encontros dos Maçaricos de Ribamar ou à dinamização do Rancho Folclórico de Ribamar.

Por sua vez, Joaquim Isidoro Santos, taxista, natural da Atalaia, também tinha 21 anos quando foi para Índia (ou completou-os a caminho). Em Goa, foi nomeado encarregado da messe de sargentos, tarefa que cumpriu desde Março de 1961 até à invasão do território pelas tropas da União Indiana, em 18/19 de Dezembro de 1961.

Os prisioneiros, naturais da Lourinhã, em número de 13 foram, para além do Luís e do Joaquim, os seguintes

Veríssimo Maçarico  e Domingos Venâncio (Ribamar);  
Acácio Delgado (Toxofal de Baixo); 
Álvaro Rebelo (São Bartolomeu dos Galegos);  
José dos Reis e José Arsénio (Miragaia);  
Silvino Ribeiro e Jorge Rodrigues (Cabeça Gorda);  
Alcino Alves (Praia da Areia Branca); 
Carlos dos Santos (Toledo); 
e Deodoro Nogueira (Lourinhã).

A experiência de cativeiro marcou-os, a ambos, para o resto da vida, salientaram os dois lourinhanenses, Luís Filipe Maçarico e Joaquim Isidoro dos Santos,  à jornalista Sofia de Medeiros, autora do artigo supracitado ("Guerra no Índico há 50 anos recordada na Lourinhã").  No passado dia 19 de Dezembro, ambos estiveram também junto ao monumento dos combatentes da guerra do ultramar, em Belém,  Lisboa, na cerimónia evocativa desta triste efeméride. 

Recorde-se que a generalidade dos antigos prisioneiros da Índia (cerca de 3500) foram, no regresso á Pátria, mal tratados, humilhados, abandonados, ostracisados, esquecidos... Para o regime político da época, e para sua opinião pública, eles pura e simplesmente deveriam ter-se deixado imolar no altar da Pátria na defesa da Índia Portuguesa, a "joia da coroa". Por não ter sabido resistir, até á última gota de sangue, Vassalo e Silva, o governador geral da Índia e comandante chefe da simbólica força expedicionária estacionada nos territórios de Goa, Damão e Diu, fui expulso do exército...

O Isidoro, por sua vez, já tinha tido a iniciativa, inédita, em 2008, de homenagear publicamente o seu antigo comandante, o gen Vassalo e Silva.  Pode ler-se no jornal “Alvorada”, “on-line”, a seguinte notícia de 21/7/2008

(…) “Manuel António Vassalo e Silva, último governador português de Goa, Damão e Diu, foi homenageado no passado dia 22 de Junho [de 2008] na Atalaia, naquela que foi a primeira cerimónia pública do género no país. Para prestar a homenagem, foi descerrada uma lápide em sua memória junto à praceta que passou a designar-se Praceta General Vassalo e Silva, localizada a cerca de 600 metros a norte da Igreja de Nª Srª da Guia”.

E acrescenta a notícia: A iniciativa para promover esta sessão solene partiu do lourinhanense Joaquim Isidoro dos Santos que, juntamente com Vassalo e Silva, foi feito prisioneiro em 1961, durante cinco meses, pelas forças da União Indiana, depois da invasão do território então sob administração portuguesa. 


A Junta de Freguesia da Atalaia e a Associação Nacional Prisioneiros de Guerra   [, originalmente, Associação dos Ex-Prisioneiros de Guerra da Índia e de Timor ] também se associaram a esta justa homenagem. "Joaquim Isidoro dos Santos, o Coronel José Clementino Pais [, entretanto falecido, em 2066], o Capitão Luís Neves e Silva e o Sargento Sérgio Dias Simões, fundaram no ano 2000 esta associação. Quatro anos depois sucedeu outra direcção da qual este lourinhanense faz parte”. 

Na cerimómia, a  Associação Nacional de Prisioneiros de Guerra esteve representada pelo gen Jorge Silvério, também ele lourinhanense, natural de Ribamar, que usou da palavra para fazer uma breve evocação do gen Vassalo e Silva. Por sua vez, em nome da família do homenageado, “a filha mais nova Maria Fernanda Vassalo e Silva agradeceu a todos os presentes a homenagem feita ao seu pai. 'É maravilhoso pensar que após 46 anos de tudo o que aconteceu na Índia, aqui na Atalaia se esteja a fazer uma homenagem ao meu pai', disse"... 


A filha do general lembrou que o pai era “uma pessoa muito delicada, muito simples, amigo do seu amigo e de todos. Em Goa as pessoas continuam a recordar o meu pai com saudade”.
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Notas do editor:

Último poste da série > 30 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9290: Efemérides (62): A CART 3521 chegou à Guiné no dia 29 de Dezembro de 1971 (Adriano Neto)

Vd. também postes anteriores:

17 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9219: Efemérides (61): A invasão da Índia Portuguesa em 18 de Dezembro de 1961 (José Martins)

17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9217: Efemérides (59): O Gen Carlos de Azeredo recorda, em entrevista à TSF, a invasão de Goa (que faz hoje 50 anos)