Mostrar mensagens com a etiqueta Augusto Mota. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Augusto Mota. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21134: Tabanca Grande (496): Gonçalo Inocentes, ex-fur mil, CCAÇ 423 e CCAV 488 / BCAV 490: de rendição individual (1964/65), natural de Angola, reformado da TAP, escritor... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 810


Guiné > Bissau > Brá > c. 1964/65 > o fur mil Gonçalo Inocentes,  angolano, de rendição individual, tendo passado pela CCAÇ 423 e pela CCAV 488, entre 1964 e 1965

Fotos (e legendas): © Gonçalo Inocentes  (20w0) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem Gonçalo Inocentes, que passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 810

Data: terça, 23/06/2020, 14:47



Luís, encantado com a recepção (*).

Fui mobilizado em rendição individual em Abril de 64 como furriel. Fui direitinho da EPC [, Escola Prática de Cavalaria] em Santarém para a CCAÇ 423 em S. João.

Como eles já tinham um ano de comissão,  eu fiquei e fui a seguir colocado na CCav 488 [Bissau e Jumbembem, 1963/65]. Quando eles cumpriram o tempo, eu já tinha mais de 16 meses,  pelo que  acabei por regressar com eles sem ter cumprido os dois anos. Tive sorte.

Regressei a Angola, onde nasci [, em 1940], para exercer a profissão de Regente Agrícola.

Quatro  anos depois fiz a agulha e passei-me para a aviação. O meu primeiro trabalho foi voar para os quarteis do norte para fazer reabastecimentos. Acabei na linha aérea (TAAG) e, com a descolonização,  acabei na TAP onde permaneci até ser apanhado por um enfarte cardíaco o que me levou para a reforma.

Aí comecei a escrever, editando a história da Escola Agrícola de Santarém. Depois a história da Sociedade Agrícola da Cassequel, onde trabalhei como técnico [, e onde também trabalhou o Amílcar Cabral, em 1956, como engenheiro Agrónomo].

Depois editei a história de um naufrágio, em 1724, na ilha de Porto Santo, de um galeão holandês. 

Editei também um livro de arte e poesia em coautoria com uma artista, bem como um de poesia escrito por um tio falecido. Em espera e já escritos tenho a minha história na aviação, a influência das mulheres no meu percurso de vida, uma viagem desde o mar do Norte até Vilamoura em veleiro de 10 m, o restauro de um veleiro clássico. 

Assim, meio resumido,  aqui vai o meu percurso.

Como página do meu livro da Guiné, atendendo ao período que estamos agora a passar, envio um bem curioso, sem qualquer tiro.

Quanto a livros podem ser vistos alguns no Google em Gonçalo Inocentes (Matheos).

Como fotos segue uma da Guiné tirada no quartel de Brá e outra actual.
É bom ficar abrigado na grande tabanca.

Outro alfabravo
Gonçalo


2. Comentário do editor LG:

Camarada Gonçalo, depois de um primeiro poste (*), e da manifestação da tua vontade em ficar "abrigado" sob o nosso poilão (simbólico, as fraterno, mágico, protetor...), cabe-me completar a tua apresentação à Tabanca Grande, conforme mail que já te enviei ontem,

Passamos a ser, contigo, 810, os camaradas e amigos da Guiné... 10% infelizmente já não estão, fisicamente, entre, são aqueles bravos que já partiram para a última viagem...

Camaradas são os de armas, amigos são familiares de ex-combatentes (viúvas, filhos, irmãos), e alguns guineenses ou gente especialmente interessada pela Guiné e pela guerra de 1961/74 (investigadores, etc.). 

Temos gente das 3 armas, e da grande maioria das unidades que passaram pelo CTIG. Partilhamos memórias (e afectos). Temos algumas regras, simples e consensuais, que é pressuposto aceitares tacitamente

Faço a tua apresentação, com os elementos que me mandaste, incluindo o pequeno excerto do teu livro ), que reproduzo abaixo).

Vai dando notícias e manda mais colaboração: se achares oportuno podemos abrir uma série para ti, com pequenas histórias / memórias de 1964/65... Ou outras, que achares por bem, de "outras guerras".

Boa saúde, boas escritas, e que os bons irãs da Tabanca Grande te protejam,
Luís Graça


PS - O alferes miliciano  e escritor Armor Pires Mota, é também da tua da CCAV 488. Natural de Oliveira do Bairro, região da Bairrada, onde nasceu em 1939, honra-nos com a sua presença na Tabanca Grande onde tem quase uma centena de referências, Lembras-te dele?

O alferes Santos Andrade escreveu, em verso, a história do BCAV 490. Podes encontrar no blogue muitos postes com excertos do livrinho, cuja capa se reproduz (, imagem à direita). Lembras-te dele?

Temos apenas meia dúzia de referências à CCAÇ 423... Mais de 3 dezenas à CCAV 488. Vais gostar desta foto, abaixo reproduzida, que eu presumo tenha sido tirada em Jumbembém


Guiné > Região do Pio > Jumbembem > CCAV 488 (Bissau e Jumbembem, 1963/65) > Emblema da CCAV 488, desenhado com "garrafas de cerveja"... Foto do 1º cabo  Augusto Mota,  especialista em material de segurança cripto, hoje a viver  no Brasil,  que, pelas funções no QG, nunca saiu de Bissau (***)... Tinha um amigo em Jumbembém  a quem enviava jornais e revistas.

Foto (e legenda): © Augusto Mota (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Pormenor da capa do Gonçalo Inocentes (Matheos),  "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65" (ModoCromia, no prelo).



Brasão do BCAV 490  (Bissau, Como e Farim, 1963/65)


3. Excerto do livro"O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65"

A Diarreia

por Gonçalo Inocentes (Matheos)

As diarreias,  Senhor!

As diarreias são um desequilíbrio que nos deixa completamente desequilibrados porque é como se estivéssemos a desfazer-nos de dentro para fora.

São péssimas quando aparecem e quando aparecem em certos lugares e ocasiões são simplesmente demolidoras.

Há diarreias singulares e surtos epidémicos.

Agora imagine-se um surto de epidémico de diarreia num grupo de combate, no decorrer de uma acção militar nas matas da Guiné. É surreal.

É surreal de facto. Homens caminhando em duas linhas, afastados como é norma, de arma aperrada prontinha a disparar e no silêncio da mata quando nem os bichos se manifestavam, há uma voz sumida que diz: “é agora!”.

Toda a coluna estaca, joelho no chão e o infeliz

 afasta-se um metro para o lado, despe as calçasrápido porque não há tempo, observa bem não vá haver uma cobra por ali e, descarrega.

Não há papel e muito menos higiénico, mas há folhas de plantas que usadas com cuidado limpam e não deixam lá formigas.

E segue-se outro e outro, mais outro correndo a vez a todos mas diga-se: o inimigo nunca nos apanhou com as calças em baixo.

Vivi isto nas matas de Quinhará e deixámos para o inimigo um rastro diarreico, malcheiroso, desagradável até para os formigueiros. Autênticas minas que quando pisadas não matam, mas desmoralizam pra caramba.

E lembrei-me disto, porquê? De facto, desde a dita Guerra da Guiné que terminámos de forma vil, que a nossa Governação se tem caracterizado por uma diarreia epidémica e crónica. Quando a coisa é boa para o povo, arruína as contas do estado, logo é efémera. Quando ajuda o orçamento é penosa para os mesmos de sempre, logo é perene.

Até dá a sensação de que houve uma praga pregada que, quanto mais corrermos mais nos borramos e quanto mais pararmos, mais nos dói. (p. 49)

____________


(**) Último poste da série > de 21 de junho de  2020 > Guiné 61/74 - P21097: Tabanca Grande (495): Acácio Fernando da Silva Mares, ex-Fur Mil Inf da 1.ª Comp/BCAÇ 4612/72) (Porto Gole, 1972/74), 809.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

(***) Vd. poste de 6 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16452: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, grã-tabanqueiro nº 726... Especialista em material de segurança cripto (Quartel General, CTIG, Bissau, 1963/66), gerente comercial da Casa Campião em Bissau, agente do Totobola (SCML), agente e correspondente do "Expresso" e de outros jornais e revistas, livreiro, animador cultural, português da diáspora a viver no Brasil há mais de 40 anos...

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20494: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (16): Augusto Mota (Brasil), António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina), João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, João Sacôto, José Colaço, Lucinda Aranha, Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes



1. Mandaram-nos boas festas, por email ou telemóvel, por estes dias, mais os seguintes camaradas e/ou amigos/as, aproveitando também para fazer "prova de vida":

António Graça de Abreu, Cristina Silva (filha do Jacinto Cristina),  João Azevedo / Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes,  João Sacôto, José Colaço e Lucinda Aranha Antunes.



2. Mensagem do Augusto Mota

[ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG/CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974, e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 726, desde 6/9/2016; tem 7 referências no nosso blogue] 


Amigos!

Muito tempo se passou desde que contatei vocês. Infelizmente as vicicitudes do dia a dia não têm permitido mais atenção para acompanhar vossa causa. Enfim...


Ainda não é hoje que lhes vou dar notícias mais concretas, mas pelo menos quero desejar-vos UM BOM NATAL e MELHOR ANO NOVO!!!!
Tudo de bom para vocês.





3. Mensagem do Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes:

O Núcleo  de Ponte de Lima da Liga  dos  Combatentes, aproveita esta quadra natalícia, para desejar um SANTO NATAL e que NOVO ANO traga saúde e Bem Estar.


A Direcção

Manuel Oliveira Pereira
António Mário Lopes Leitão
Leonardo Costa Gonçalves
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20493: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (15): António Marques Lopes, Cor Art DFA Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690; Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208; José Firmino, ex-Soldado At da CCAÇ 2585; Luís Fonseca, ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366 e Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16993: Camaradas da diáspora (15): Um belo e perfeito soneto, "Hibernação", datado de Bissau, abril de 1965... (Augusto Mota, Brasil)

1. Augusto Mota, ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG, CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974, e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 726, desde 6/9/2016] (*): 

Mandou-nos, com os votos de boas festas, este belíssimo e perfeito soneto, escrito em Bissau no já longínquo abril de 1965, e guardado no "baú das velharias".

Recorde-se que o soneto é um género poético obrigatoriamente com quatro estrofes: (i) as duas primeiras são quartetos (estrofes de quatro versos); e (ii)  as duas últimas são tercetos (três versos, cada um).

 Todos os versos são decassílabos (têm dez sílabas métricas). Camões e Bocage, por exemplo, foram grandes mestres do soneto. Mas também Antero de Quental ou Florbela Espanca... (LG)


HIBERNAÇÃO

por Augusto Mota

Na penumbra de um quarto ruvinhoso,

entre quatro paredes glaciais,
despidas, enervantes, espectrais,
nunca beijadas pelo sol fogoso...

Na penumbra, dizia, nem sinais
do mundo em que vivi, vão, tumultuoso,
onde perdi o filtro milagroso
de gostar como todos os mortais.

Aqui nada acontece de visível.
O tempo passa quase indescritível,
E eu cansado da longa caminhada...

Se alguém assume à porta é o carteiro.
Traz notícias do dia rotineiro
que, compiladas, dão de soma: NADA!

Bissau, Abril de 1965.

______________

Nota do editor:

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16888: Camaradas da diáspora (14): Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito... (Augusto Mota, Brasil)

1. Mensagem de Augusto Mota, com data de 22 do corrente:



[foto à esquerda: ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG, CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974,  e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 6«726, desde 6/9/2016] (*)

Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito.

Quero apenas agradecer a paciência que tiveram comigo ao longo do ano que agora se vai.
FELICIDADES para vocês no ano que se avizinha.
Dos alforges em um velho baú, mando alguns rabiscos...

Um abraço para todos! (**)
Mota

O SERTANEJO

por Augusto Mota

Lá na casa de taipa onde nasceu,
grosseira, velha,
triste,
poeirenta,
parida pelo chão seco,
nativo...

Nada de pilão.
Pau-a-pique nu,
suado
por mãos calejadas,
rudes,
duras,
sofridas,
mãos cansadas...

à porta, dizia,
dessa casa miserável,
isolada,
espraia o olhar pela imensidão
despida,
aguardando a noite

- ASSUSTADORA!

Pavorosa!
Noite de preces,
de murmúrios,
de silêncios que
gritos esfrangalham,
arautos da morte
e sua corte,
clamores desvairados
de impotência,
brados de insanidade,
uivos de agonia...

Naquela condição de
alma perdida,
aborto inesperado,
assustador,
submisso ao cansaço,
à desilusão,
pensa e repensa
em seus pedaços perdidos
por entre duendes,
relíquias,
fantasias,
orgasmos desvairados.

                                         - TUDO EM VÃO!

Ali
sepultou o pai, amargurado,
ali, também,
aquela a quem rasgou o ventre minguado...


- MAS MINHA MÃE, DEUS!
SUBLIME, ABNEGADA...
QUANTOS PECADOS DELA,
SIM!...
SÃO SEUS?...


Mais além,
naquele mato ressequido
de pontas para o céu
vermelho brasa,
jaz o filho famélico,
mirrado,
que o sol inclemente despia,
enlutava os olhos desmedidos,
quebrava a pele,
escravizava,
dominava...
até quedar de mãos abertas,

- SUPLICANTES!

apanágio desta terra madrasta de seus filhos.

A mulher o sepultou,
muda e mecânica,
guardando a dor no olhar
desesperado,
desvairado,
acusador...

Olha as gretas no solo
como veias...
são toalhas rendilhadas no capricho
por bruxas que pululam sorridentes.

- AQUI SATÃ FESTEJA SEUS DELÍRIOS
E DEUS RECOLHE AS PRECES DOS FINADOS!

Tudo quanto é vivo se apressa neste
satânico terreiro
onde mirabolantes vultos dançam,
pulam, festejam um
momento derradeiro...

Morreu a plantação
já faz tempo.
tinha um bode que vendeu,
chorou o jumento...
a léguas a caveira da vaquinha...

Xiquexique não tem mais.
Macambira,
Mandacaru,
Palma,
qualquer raiz...
a seca matou rato e urubu,
calango,
porco espinho e tatu...
restou sua loucura para alimentar
a teimosia
e a boca de palavras entupida.
Dizem velhos vizinhos de infortúnio:


- DEUS ASSIM O QUER.
                                          É NOSSO DESTINO.

                                          - QUE JUSTIÇA GRANDIOSA SERÁ ESSA
                                          QUE DÁ VIDA,
                                          QUE MATA,
                                          FAZ SOFRER?!...

QUE PAI É ESSE DE UM FILHO INOCENTE
QUE AFINAL NEM PEDIU PARA
NASCER?!...
QUE SÁDICO IMPRESTÁVEL
SE SATISFAZ
SOBRE A BRUTA NATUREZA?!...

Ao despertar,
sol matinal,
cenário de Dali.
Tela grotesca,
mágoa ,

- HUMILHAÇÃO.

Segue arquejando
pelo caminho imenso
tal braseiro inclemente,
tenebroso.
Sobraçando a enxada,
ossudo,esquálido,
esfarrapado,
sujo, 
débil,
pálido,
busca um local onde cavar.
Não a última morada de seus ossos
mas uma cova de onde brote
a vida.
Um barreiro milagroso
em que gente e bicho
comunguem na terra.

Pertinho dum juazeiro paladino,
senhoril,
seco mas imponente,
majestoso,
que ninguém sabe como ali nasceu...
vovô dizia:
- aqui corria um rio...

lança o ferro ao solo.
Cava, esburaca,
fura sem parar.
Ao lado,
de olhar mortiço,
lazarento,
o cachorro.
Um amigo da infância,
fiel até nas desventuras.
Alimenta-se com a própria fome...

enquanto o sol
hercúleo, vil, gigante,
aquele mesmo que mata e consola,
que nos alegra,
humilha,

- VIOLA...


brutal e fero cobre suas costas...


- NERO RESSUSCITOU NESTE SERTÃO!


desfere golpes, golpeia a terra
seca.
Há labaredas no aço da enxada...

Esta terra que tanto tem de valioso,
petróleo,
ouro,
turmalina,
água-marinha,
feldspato,
lítio e diamante ,
não tem, afinal, nada.
Não tem da vida o mais

- IM – POR – TAN – TE!!!...

E quando o desalento
o toma de loucura,
desnorteia
a mente conturbada,
surge então uma gotinha
que a terra sorve,
pingo de suor,
sangue,
até de lágrimas...
num frenesim de raiva,

- DESVARIO,

Cava mais forte,
cava mais profundo,
teimoso
sem parelha neste mundo,
quando então, o barreiro

- NASCE,
CHORA!

Por entre aquela terra
calcinada,
aparece uma sombra de umidade
que lentamente veste a cor do barro.

Cai de joelhos
e, molhando a boca
sôfrega, gretada,
aquele herói
surrado do sertão
apenas balbucia:

- Á G U A ! ! !


augusto mota
Vertentes do Lério

11/1990 
_______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

6 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16452: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, grã-tabanqueiro nº 726... Especialista em material de segurança cripto (Quartel General, CTIG, Bissau, 1963/66), gerente comercial da Casa Campião em Bissau, agente do Totobola (SCML), agente e correspondente do "Expresso" e de outros jornais e revistas, livreiro, animador cultural, português da diáspora a viver no Brasil há mais de 40 anos...

8 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)

12 de setembro de 2016 >Guiné 63/74 - P16477: História de vida (11): Augusto Mota: nasceu no Porto, começou a trabalhar aos 10 anos, foi 1º cabo do Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, 1963/66), foi homem dos 7 ofícios em Bissau, como civil, foi para o Brasil em 1974, tem hoje dupla nacionalidade, tendo-se formado em ciências económicas... Trabalhou como gerente de empresas, foi empresário, entrou por concurso para a função pública, está reformado...

7 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16570: Blogpoesia (473): Peregrinação (Augusto Mota, camarada da diáspora no Brasil; ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripo , Bissau, QG, CTIG, 1963/66)

(**) Último psote da série > 23 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16874: Camaradas da diáspora (13): O ativista João Crisóstomo (EUA) visitou a nossa Tabanca Grande... e já tem causas para o ano de 2017... Um delas é a continuação das celebrações dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque... Para ele e a Vilma, desejamos "Merry Christmas and Happy New Year".. Mas também para o Eduardo Jorge e a São que desta vez foram consoar para Londres...(O que os pais fazem pelos filhos, camaradas!)

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16570: Blogpoesia (473): Peregrinação (Augusto Mota, camarada da diáspora no Brasil; ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripo , Bissau, QG, CTIG, 1963/66)

1. Mensagem de Augusto Mota, com data de 12 de setembro último:

[foto à direita: ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG, CTIG, 1963/66)]

Caríssimo Luís,

Acabei de ler nosso último contato. Temos algumas retificações:

DESTERRO DE ENTRE RIOS - É em Minas Gerais (MG) e não em Mato Grosso. "MG" é a sigla. Em consequência a foto do lago ou represa tem o mesmo erro. A foto 2, em Carmópolis (também em mg), idem.

Aproveito para mandar algo "escrito" de minha lavra [Peregrinação, datada de 2005].

Tchau, amigo!

PS [28/9/2016] - Passei pelo blog e reparei que a correção (Minas Gerais e não Mato Grosso), não consta. Imaginando tratar-se de algum desvio de meu e-mail, aqui estou reencaminhando o mesmo.



PEREGRINAÇÃO

refrigerado...
condicionado,
mergulho no bafo
possessivo do sol...
martírios,
Praça dos Martírios.
-jesus está chegando!
-ehehehehehe!
crendices, crendices...
a esteira sebosa do pedinte
é sofisticação.

rua do Sol...
João Pessoa,
Augusta...
rua das árvores...
comércio...
rua do Comércio
empréstimo
dinheiro
empréstimo
Boa Vista...
bancas... carroças...

-patrão
-freguês
-mestre
-negão!
... perdido no tempo
rasgando o espaço...
humanoide repetitivo,
reciclando fantasmas.
-eita, miséria!!!

Casarões, casinhas,
Remendos, galpões...
IN-I-DEN-TI-DA-DES!
a massa agitada,
miasmas, parasitas,
enfermidades.

navego absorto
em busca da linha
seccionada.
-que dia é hoje?...

CD... amendoim...
pastel chinês...
sapateiro...
buraco... buraco
buzinas...
muitas buzinas...
e o trem pastando
entre barracas:
-Te!... teeeeee!
e o trem posando
sobre os trecos 
da feira do troca-troca:
-Te!... teeeeee!

costuro o trânsito:
paro aqui, sigo acolá,
subo e desço calçadas
por entre odores
de noites e matinas.
-tem mulher pelada?...

calor, suor,
filme pirata
pirata
lotação
santa amélia
água de coco
vozes...
muitas vozes
de mundos inexplicáveis.

-não tenho
-não tenho
-não tenho
-que horas moço?
máculas citadinas...

João da moenda,
Bio cachaça,
Rita canavial,
caldo de cana,
cheiro de usina...
Bia... Bia garçonete.
Canetinha vocifera.
Maria... Maria
do esgar constante.
Madalena brava
qual sabor amargo da desilusão...
hematoma, mioma...
os óculos escuros na cara de madame
são janelas fechadas
para o mundo.

caramba,
esqueci a passagem de volta
ao ventre de Mãe!...
-Mar!... quero ver o mar alto,
alto mar.
sua infinitude.
sorver lhe a imensidão,
cortar e pesar o silêncio
em suas catacumbas
onde jaz a civilização:
plásticos,
dejetos,
minérios letais,
esqueletos das naves
dos meus ancestrais.

zoada! zoada!...
investir social
excluir excluídos
zoada... zoada...
para todos
para todos...

olha! Lá vai a ave preta
de bico dourado...
-oi menino, cadê teu pai?
-gaaaalo!... gaaaaalo!...
gritaria correria
um guri voando...
menina aponta 10 dedos da mão
para titio.
a mímica da vida.
DES-PA-TER-NI-DA-DES!
Sinimbu...
sem terra,
sem vergonha,
sem teto
curtindo ao sol
para todos...
paira no ar Salgadinho.
... Deodoro
Pirulito
vale... vale transporte
lotação
filme pornô
quinquilharias...

-quantas léguas!...
a destra ocupada,
a sinistra cansada.
na frente, a galáxia em que
gravito.
verdades, mentiras, imaginações,
mas meu horizonte ninguém vê.
factível ou não,
como é fácil moldar a fantasia!...
nada de novo
no reino de morfeu.

augusto mota

Maceió/2005
________________

Glossário:

AVE PRETA DE BICO DOURADO = Tucano. Símbolo de partido político
GALO = time de futebol
GURI = Criança
PIRULITO = Pequena Praça em Maceió
SALGADINHO = Canal levando dejetos para o Mar
SINIMBU = Praça, em Maceió, onde normalmente se fazem acampamentos de “Sem Terra” preparados para protestos.
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16548: Blogpoesia (472): "Segundo dia de Outubro"; "Me sinto um não pintor que quer escrever" e "Marés vivas", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728