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segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21528: Notas de leitura (1322): "Biambe e os Biambenses", por Manuel Costa Lobo; 5livros.pt, 2019 - Um levantamento ímpar: toda a história de Biambe (1966/1974), sítio de coragem e martírio (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
Foi obra, pôr em sequência cronológica, entre 1966 e 1974, as atividades desenvolvidas por um conjunto de Unidades Militares que puseram de pé o quartel de Biambe, que aqui lutaram e muito sofreram, que refizeram o quartel, que acompanharam reordenamentos, que viveram o drama do duplo controlo, e que naquele ponto estratégico estiveram sempre na mira de uma guerrilha bem motivada, não longe do santuário do Morés. 

Aqui igualmente se desenham, em termos corográficos, as ligações de Biambe com Encheia e Bissorã, é elevada a lista dos sinistrados com minas anti-pessoal, mas também minas anticarro e nenhuma das unidades que por ali passou foi poupada a flagelações grandes e compridas. Épico o nascimento do quartel e a 26 de julho o aquartelamento de Bissum foi entregue ao PAIGC, o mesmo acontecendo no dia 31 com o aquartelamento de Inquida. O que se entregou estava limpo e arrumado. A 7 de setembro entregou-se Biambe. "O único acontecimento digno de relevo foi o desgosto demonstrado pela população que se manifestou ruidosamente no adeus aos militares. Estavam apreensivos e temerosos porque não sabiam como seria o dia seguinte"

O trabalho de Manuel Costa Lobo incentiva-nos a repensar nos benefícios historiográficos que era coligir outras histórias, de molde a angariarmos testemunhos dos antigos combatentes, os que escreveram e os que porventura terão orgulho em serem convocados para dar o seu contributo.

Um abraço do
Mário


Um levantamento ímpar: toda a história de Biambe (1966/1974), sítio de coragem e martírio (2)

Mário Beja Santos

Por uso e costume, o antigo combatente fala da sua experiência, comenta o lugar ou lugares em que permaneceu, fala do quotidiano, a guerra está sempre presente. Há também as histórias de unidade, passadas todas estas décadas ainda há quem as esteja a cotejar, é um dever de memória que mais cedo ou mais tarde nos abala a consciência. 

A raridade de haver narrativa de como se constituiu um aquartelamento e fazer figurar todos os que lá estiveram, honrar o esforço, homenagear o heroísmo, abraçar quem figurou na gesta coletiva, naquele lugar e por todo o tempo da guerra. "Biambe e os Biambenses", por Manuel Costa Lobo, 5livros.pt (telemóvel 919 455 444), 2019, é um documento exemplar, uma faina de coligir a implantação de um aquartelamento em 1966, numa das regiões mais ásperas da luta armada, nas fímbrias do Morés, ali ganhou esporas de valentia a CCAV 1485, seguir-se-ão outras unidades até se chegar à missão final, que marcará a partida das forças portuguesas na região. 

Não é literatura memorial, é um registo dos dados disponíveis destas unidades envolvidas a que se vão averbar testemunhos e ilustrar com imagens, muitas delas pessoais. Biambe era lugar estratégico para evitar infiltrações do PAIGC na ilha de Bissau.

Está feito o registo da CCAV 1485 e da CART 1688, chegou a hora de pôr em cena mais unidades militares, logo a CCAÇ 2464 que permaneceu em Biambe de 15 de fevereiro a 8 de junho de 1969, teve pois uma curta estadia, o treino operacional foi feito em sobreposição com a CART 1688, um dos seus pelotões foi para o destacamento de Encheia, destacamento que também era reforçado com um outro pelotão da CCAÇ 2444. Não para a via-sacra das flagelações, as minas antipessoal fazem vítimas, responde-se bem aos ataques, fez-se um golpe de mão a uma base de guerrilha conhecida por Biambinho ou Biambifoi, os guerrilheiros tinham retirado deixando lá apenas velhos, doentes e feridos, na última retirada foram colhidos por uma tempestade de fogo, segue-se outra emboscada já perto de Biambe, só com a chegada dos Fiat é que findou o tiroteio. 

É neste contexto que surge um problema de desobediência ao Capitão Prata levou a um pelotão a ter-se negado a sair, acusando-o de incompetente. 

Escreve-se na obra que “Durante a permanência em Encheia, do Capitão Prata e sua comitiva, houve muitas atuações que ultrapassaram os limites da falta de segurança, nas operações efetuadas em locais muito perigosos houve atuações junto das populações das tabancas limítrofes detestadas pelos residentes, em suma houve uma atuação que saía fora de todas as normas de um correto comando e de uma normal convivência com as populações nativas”

E, mais adiante: 

“Deste facto resultou que, no dia seguinte, o Comandante-Chefe, General António de Spínola, tenha visitado Encheia com uma mensagem apaziguadora, enaltecendo as qualidades dos soldados açorianos e sobrepondo a coragem do capitão às suas falhas nas questões de segurança, dando o assunto como encerrado sem punições para ninguém”

Mas o sarrabulho não ficou por aqui, houve queixa da população civil, no dia seguinte chegou um major como instrutor do auto de averiguações ao capitão e a outro réu. No dia seguinte, em plena manhã, uma flagelação com quatro morteiradas, Encheia é flagelada dois dias depois. Sabe-se, entretanto, o resultado das averiguações, o pelotão desobediente da CCAÇ 2444 fora castigado.

Manuel Costa Lobo inclui o depoimento do radiotelegrafista José Maria Claro a quem foi amputada a perna esquerda decorrente do rebentamento de uma mina antipessoal, ele escreveu a um camarada, António Graça Nobre, um belíssimo depoimento, pungente, que assim termina: 

“Dia 7 de abril, dia trágico para mim, depois de estar duas horas de serviço no rádio fui tentar adormecer. Ao fim de meia hora acordaram-me para que fosse formar a coluna para sair, mas voltei a adormecer. Daí a meia hora, voltaram a acordar-me e disseram que o pelotão já estava à minha espera há uma hora. Até este dia protegi os meus camaradas, pedindo auxílio à Força Aérea, e neste dia, até pedi a minha própria evacuação, com a consternação de todos os colegas do curso, posicionados nos postos do nosso sector”

Quem está a testemunhar é o ex-Alferes António José Vale que descreve também, e com imensa intensidade, um grande ataque a Biambe em 7 de junho. Nesse mês de junho e até finais de novembro temos novo protagonista, a CCAÇ 2531. Registo de novas flagelações, há igualmente reações. É tempo de reconstrução do quartel, as casernas começavam a acusar o desgaste, foi por aqui que começaram as obras, fez-se novo edifício do comando (secretaria, gabinete do comandante, os quartos deste e do 1.º sargento, o bar, a messe de oficiais e sargentos), mais tarde os balneários. Procede-se ao reordenamento da tabanca. 

É um soma e segue de ataques e respostas, a guerrilha podia ver incendiadas as suas instalações, reinstalava-se depressa, sobretudo no Queré e no Iusse. Chegou a hora de aparecerem os foguetões, o Alferes José Manuel Guedes Freire Rodrigues foi condecorado com a Cruz de Guerra 3.ª classe.

Entra no terreno a CCAÇ 2780, chegou a hora do autor fazer jus aos seus registos, estarão no Biambe entre novembro de 1970 e agosto de 1972, terá muito para contar, ele é Furriel Enfermeiro. 

É minucioso no seu registo, terno a descrever as aflições que presenciou, as operações efetuadas, os meses passam-se, as obras continuam, abrem-se picadas, a vida é bastante dura no destacamento de Inquida, fala da sua preparação, nunca percebeu como foi selecionado para enfermeiro, fala do seu currículo, das peripécias que viveu e de como se desenvencilhava de situações melindrosas: 

“Um homem andava em cima de uma árvore no seu trabalho usando uma catana como instrumento. Por qualquer motivo imprevisto ter-lhe-á falhado o movimento e atingiu o próprio pénis. Quando chegou ao posto médico vinha com aquele órgão a pingar sangue. A solução que encontrámos foi dar-lhe uma injeção de um produto coagulante e para evitarmos ter que lhe mexer improvisámos uma lata de conserva de pêssego, enchemo-la de água oxigenada e mandámos o indivíduo mergulhá-lo ali. Assim se procedeu à desinfeção do dito".

"Noutra vez apareceu-me outro homem com um pé ao dependuro, só preso pela pele, com os ossos (tíbia e fíbula) completamente separados pela fratura. Não tivemos outra solução senão fazer uma imobilização muito cautelosa por meio de talas, chamar o meio aéreo e evacuá-lo para Bissau. Passados uns tempos regressou agarrado a um varapau com uma manifesta incapacidade de mobilização”

Narra a rendição pela CCAÇ 4610, conta a história de dois militares que foram caçar e acabaram prisioneiros do PAIGC, serão libertos após a independência da Guiné-Bissau, na troca com os prisioneiros do PAIGC que estavam detidos na Ilha das Galinhas.

E caminhamos para o fim da história de Biambe na guerra, a 3.ª Companhia do BCAÇ 4610/72 permanecerá em Biambe de agosto de 1972 a julho de 1974. Aqui se escreve que Biambe tinha pela frente uma força hostil que atuava com as secções em Biambe, Biur, Quinhaque e Quitamo, 2 grupos de infantaria, uma bateria de artilharia ligeiro e um grupo de sapadores; no Queré tinham um grupo reforçado com 1 ou 2 morteiros 82. 

A unidade militar apanha a transição para a chegada dos mísseis Strella, uma flagelação em maio de 1973 levou à morte de sete crianças num disparo de morteiro 82. O último episódio é a presença da 3.ª Companhia do Batalhão de Cavalaria 8320/73.

Na conclusão, o autor lembra o sacrifício que todos tiveram que suportar, agradece os testemunhos de quem com ele colaborou na elaboração de todo este histórico de Biambe e assim põe termo à sua iniciativa:

“Tudo aquilo que aqui foi escrito traduz a minha maneira de ver, de sentir e de interpretar. Muitos dirão que não foi bem assim, que foi mais assado. Embora a guerra fosse a mesma, cada um viveu uma experiência pessoal muito própria, com cores, cheiros e intensidades muito diversas, tenho consciência de que me dei por inteiro neste testemunho e que não ocultei o que sei”.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21507: Notas de leitura (1321): "Biambe e os Biambenses", por Manuel Costa Lobo; 5livros.pt, 2019 - Um levantamento ímpar: toda a história de Biambe (1966/1974), sítio de coragem e martírio (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21038: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (22): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte IV: Brá, BENG 447, 14/10/1974: O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.








Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Continuação da publicação do álbum fotográficos do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; vive em Paramos, Espinho] (*)

Parte IV - Brá > BENG 447 >    Fotografias nºs  6 a 13: o arriar da Bandeira no dia de embarque [no "Uíge"]. Por coincidência também foi o Magalhães Ribeiro a arriar a Bandeira.


2. Mensagem do Zé Lino (em reposta a uma observação do nosso editor sobre a qualidade desigual das fotos):

Date: terça, 2/06/2020 à(s) 16:45

Subject: Mansoa 1974

Boa tarde

As fotos de Mansoa (**) são de uma qualidade má pois foram reveladas em Bissau.


Eu tinha, e ainda tenho, a máquina fotográfica reflex Ashai-Pentax com a qual fiz  bastantes fotos em papel como em slides. O problema é encontrá-las. As de Brá são melhores pois foram reveladas cá, e não são de slides. Vou ter mais para enviar, só espero não demorar tanto tempo para as enviar.

Quanto ao camião... Como entregamos o aquartelamento de Mansoa, e o deixamos com tudo, pronto a habitar, viaturas inclusive, tive de alugar 12 camiões para o transporte das nossas tropas até Brá. O camião em causa não posso afirmar se era "nosso" ou não, pois deveriam estar estacionados fora. Lembro-me que todas as viaturas estavam guardadas por militares armados, pois estavam com as nossas malas.

Se precisares de algum esclarecimento sobre os últimos dias é só contactar.

Um grande abraço, José Lino

3. Esclarecimento que nos chega pro email, do José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro (***):


(...) "O último navio a sair do Porto de Bissau foi o "Uíge", mas não foi nele que vieram a últimas tropas. Estas vieram no "Niassa" que, como se sabe,  nem chegou a entrar nas águas territoriais da nova Nação. Correndo o risco, de ser repetitivo,  devo dizer que o "Uíge" desatracou perto das 15 horas da tarde do dia 14 de Outubro de 1974, e os últimos militares começaram a marchar para o porto perto, das 23:30 horas, desse dia, já que quando tocasse a última badalada da noite desse dia, já as lanchas de desembarque vinham a navegar ao encontro do "Niassa".

(...) Eu sei que éramos 2 Batalhões, que encontrei alguns militares do outro batalhão, que moravam em Almada, tal como eu, mas não me lembro que batalhão era. O meu era o BCAV 8320/73, e curiosamente há uns meses atrasados encontrei um desses rapazes do outro Batalhão, mas ele não se recorda nem da companhia a que ele pertencia. Só se lembra de nos termos encontrado a bordo do navio, e dos outros camaradas, companheiros de viagem. (...)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de junho de  2020 > Guiné 61/74 - P21035: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte III: a sucata da guerra, abandonada em Brá, no BENG 447...

(**) Vd. poste de 1 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21028: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): Fotos do álbum do José Lino Oliveira (ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12jul74 - 15out74) - Parte II: O adeus a Mansoa: 9 de setembro de 1974: o fur mil op esp / ranger Eduardo Magalhães Ribeiro arria a bandeira verde-rubra, na presença dos representantes do MFA e do PAIGC

(***) Vd. poste de 22 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16514: Tabanca Grande (496): José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16643: Estórias avulsas (86): O velho problema da falta de meios nas Transmissões (José Luís Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista, 2ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974)

Chegada de correio ao Olossato
Foto: © José Luís Gonçalves


1. Mensagem do nosso camarada José Luís Gonçalves (ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974), com data de 23 de Outubro de 2016:

Boa tarde meu caro Carlos Vinhal.

Só agora estou a responder, ao teu convite, porque muito embora acompanhe o blogue no Facebook, não tenho muito tempo livre. Posso aos poucos contar alguns episódios que se passaram durante o tempo que estivemos no Olossato e quando depois ficamos aquartelados na Amura.

Como deve ser do conhecimento de todos que na altura estavam ligados às transmissões, principalmente os radiotelegrafistas e os operadores de cripto, foram meses em que todos os dias recebíamos mensagens extensas a comunicar deserções de elementos de milícias, com armas e fardamento, para não falar das outras mensagens com ordens e outros assuntos.

No Olossato só tínhamos a trabalhar o rádio "STORNO" e os "Bananas" que utilizávamos para comunicar com os helis e as avionetas que nos levavam o correio da Metrópole.

Os outros radiotelefones Racal, e um da marca Marconi, que tinha uma série de relés, e que nunca conseguimos saber como funcionava, estavam avariados. Por isso não tínhamos hipóteses de utilizar telegrafia, porque só me lembro de ter visto um "AN-GRC9" em Bissorã, quando numa deslocação em serviço à CCS do Batalhão, para receber ordens de como devíamos preparar a entrega do nosso material de transmissões antes de fazermos a transferência do aquartelamento para o PAIGC.

Bom, isto tudo serve para contar um pequeno incidente que aconteceu no nosso posto de rádio.

O nosso furriel de transmissões, sportinguista dos quatro costados, quando saiu do avião deve ter tido um choque de calor que lhe deve ter "toldado" um pouco o juízo, e, apesar de ter conhecimento de que os Racal estavam avariados, vinha invariavelmente altas horas da noite, quando não tínhamos operador de serviço, (por não termos rádio), e começava a chamar por Bissorã em altos berros.
Até que um dia, aliás uma noite, fomos acordar o nosso Capitão para pôr fim àquele abuso.
O furriel acabou por ser enviado para Bissorã e nós ficamos sem chefe de transmissões na companhia.

Junto vou enviar uma foto, da chegada de uma avioneta, à nossa pista, onde estou eu e dois radiotelefonistas com os famosos "Bananas (AVP1)" a tiracolo.

Um grande abraço. e prometo não demorar a contar outra história.
José Luís da Silva Gonçalves
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16183: Estórias avulsas (85): "Naja nigricollis" emboscada no Xime na cama de um furriel… teve um fim triste e dramático (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp /Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16514: Tabanca Grande (496): José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano, José Luís da Silva Gonçalves (ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974), com data de 12 de Setembro de 2016:

Boa tarde.

Como disse na minha comunicação anterior, quando confirmei as afirmações do Nelson Cerveira[1], sobre os acontecimentos decorridos aquando a nossa partida da Guiné-Bissau em Outubro de 74, encontrei o Blogue por acidente, e quis logo inscrever-me nele. Não sei se fiquei inscrito mas pelo menos tenho recebido os vossos mails.

Prometi que mandaria imagens desse embarque no Niassa e vou tentar enviá-las em anexo assim como as minhas actual e na altura.

Pertenci à 2.ª Companhia do BCAV 8320/73 e era Operador Rádiotelegrafista.

Não sei o que é preciso mais para poder colaborar, mas de qualquer forma aqui deixo as minhas saudações, para todos os ex combatentes da Guiné-Bissau.

José Luís da Silva Gonçalves

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Nota do editor:

[1] - Meus caros, Acidentalmente, quando procurava os brasões, do BCAV8320/73, vim dar com este blogue, e aproveito para confirmar as declarações do Nelson Cerveira, na sua narrativa, sobre o 25 de Abril de 74 e o nosso embarque no Niassa, de regresso. Tenho algumas fotos desse embarque das lanchas para o navio, que se me ensinarem como se faz terei todo o gosto em enviar. Eu era operador rádio telegrafista na 2ª companhia que esteve estacionada no Olossato. Saudações para todos e disponham sempre.

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Centro de Transmissões do Olossato



A bordo das LDG que nos levaram até ao Niassa - Dia de muito nevoeiro

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2. Comentário do editor de serviço:

Caro José Luís
Estás apresentado à tertúlia.
Foste dos felizardos que foram para a Guiné já em tempo de paz. A vossa missão foi praticamente entregar parte do espólio do Império, destino há muito traçado a um Portugal, cujo regime já apodrecido, fazia prever. Diga-se o que se disser, o modo como se procedeu à descolonização não foi o melhor, mas manter ou acabar a guerra competiria ao poder político. Como este não não resolveu a situação, foram os militares que tiveram de tomar em ombros essa missão.
Cumpriu-se o destino, mas de modo atabalhoado, com todos os inconvenientes para ambos os lados.

Regressaste em Outubro já de um país independente, a Guiné-Bissau, com a missão cumprida e sem baixas como se queria.

Gostava que nos contasses pormenores desses tempo, lá no Oio, por onde também passei nos idos anos de 1970/71/72, e também já em Bissau enquanto faziam todos os preparativos para a retirada final. Como era o clima em relação às nossas tropas, tanto da parte dos civis como dos militares do PAIGC, e qual a perspectiva dos nossos camaradas guineenses para os tempos de paz que se avizinhavam?
Tens muito para nos contar.

Como não podia deixar de ser, ao terminar, deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Ao teu dispor o camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)


Vídeo (11' 29'') do Armando Ferreira, nosso grã-tabanqueiro nº 704, disponível no You Tube > Armando Ferreira.





Foto nº 1 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 2 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 3 > O fur mil at cav Armando Ferreira e mais furrieis na classe turística do navio que os levou, em março de 1973, até à Guiné

Foto nº 4 > O fur mil at cav Armando Ferreira



Foto nº 5 > P fut mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, morto em combate em 5/5/1973, mês e meio depois da companhia ter chegado ao TO da Guiné. Era um dos amigos chegados do Armando Ferreira: andaram juntos desde o primeiro dia, na recruta e especiliadade em Santarém, na EPC



Foto nº 5 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 6 > O fur mil at cav Armando Ferreira e camaradas


Foto nº 7 > Foto sem legenda...[Segundo o "olho clínico" do nosso amigo Cherno Baldé, esta foto deve deve ter sido "tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC"... Não se sabe o local.]

Fotos: © Armando Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. O Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, foi fur mil cav, CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete (1973/74). 

Esta companhia não pertenceu ao BCAV 8320/72, era independente. Foi mobilizada pelo RC 3. Partiu para a Guiné em 16/3/1973 e regressou a 29/8/1974 (17 meses de comissão). Esteve em Bula, Pete, Ilondé e Bissau. Cmdt: cap mil cav António Mota Calado

Veio  substituir a mítica companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420 (Bula, 1971/73).  Neste vídeo, de mais de 11 minutos, o Armando faz um emocionado e emociante relato do historial da sua companhia, declamando em "voz off" um dramático e longo texto poético,  a que deu significativamente o título "A ternura dos 20 anos"... 

O vídeo foi colocado no You Tube,  42 anos depois do "batismo de fogo" do Armando e dos seus camaradas, a trágica emboscada que a companhia sofreu em 5/5/1973, na região de Bula,  de que resultaram as 17 primeiras baixas da companhia, das quais 4 mortos:

(i) fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos;

(ii) 1º cabo at cav José João Marques Agostinho, natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(iii) Sold at cav João Luís Pereira dos Santos, natural de Brejos da Moita, Alhos Vedros, Moita; e

(iv) Sold at cav Quintino Batalha Cartaxo, natural de Castelo, Sesimbra.

Mais tarde, em 4/11/1973, da mesma companhia morrerá, também em combate, Madaíl Baptista, natural de Carvalhais, Ponte de Vagos, Vagos. (Dados do portal Ultramar TerraWeb).

As fotos acima reproduzidas foram recuperadas do vídeo.  Espero que o Armando nos ceda cópias das originais, com maior resolução (**).

Esta CCAV 8353 tem um um blogue em construção, editado pelo Nuno Esteves. Até
a data da entrada do Armando Ferreira na nossa Tabanca Grande não tínhamos qualquer referência a esta subunidade. Temos alguns camaradas do tempo do Armando, e do BCAV 8320/72, que estiveram em Bula como o Fernando Súcio, o Leonel Olhero ou o José Alberto Leal Pinto.

Não confundir este BCAV 8320/72 com o BCAV 8320/73, a que pertenceu por exemplo  o Nelson Henriques Cerveira (fur mil enf, CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974).

O BCAV 8320/72 foi mobilizado pelo RC 3, partiu para o TO da Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve em Bula, sendo comandado pelo ten cor cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Era composto,  para além da CCS, pelas seguintes unidades de quadrícula: 1ª C/BCAV 8320/72 (Bula, Pete, Nhamate e Bissau); 2ª BCAV 8320/72 (Bula, Nhamate); e 3ª C/BCAV 8320/72 (Bula, BIssorã, Catió, Pete).






Guiné > região de Cacheu > Bula > CCS/BCAÇ 8320/72 (Bula, 1972/74) > Casa dos geradores > O fur mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil. O Leonel Olhero, ex-fur mil cav, e nosso grã-tabanqueiro, pertencia ao EREC 3432 (Panhard), 1971/73.

Foto: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Edição: CV]


2. Enquanto artista plástico,  e nomeadamente escultor, o nosso camarada Armando Ferreira tem participado em diversas exposições individuais e colectivas: Lisboa, Porto, Faro, Monsaraz,Torres Novas,  Alpiarça.  Está representado com obras em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália e Holanda. É também autor de cartazes, cenários interiores e exteriores para várias sessões comemorativas: festivais da canção infantil, encontros musicais, ilustração de livros infantis e designers for books. Tem diversas entrevistas, críticas e apreciações por nomes ligados á arte, publicadas em revistas, jornais nacionais, televisão e em várias obras literárias (Portugal e Espanha). (LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

(**) Último poste da série > 31 de outubro de  2012 > Guiné 63/74 - P10600: Vídeos da guerra (11): Sete anos no bacalhau em alternativa aos dois anos no ultramar: o filme A Outra Guerra (Portugal, 2010, 48')

terça-feira, 5 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10002: Tabanca Grande (343): Nelson Henriques Cerveira, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAV 8320/73 (Bissorã e Bissau, 1974)

1. Mensagem do nosso camarada Nelson Henriques Cerveira*, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974, com data de 23 de Maio de 2012:

Boa tarde caro amigo Carlos Vinhal
Fico muito honrado com o teu convite para pertencer ao blogue, podes contar comigo para falar sobre a curta experiência que tive na antiga província da Guiné.

Quanto às perguntas que me fazes apenas te posso esclarecer um pouco no que diz respeito à da nossa desmobilização.
Quanto ao facto de o Comandante nomeado ter sido um Major e depois ter assumido o Comando um Capitão, nada mais te posso acrescentar.

No que diz respeito à nossa desmobilização posso-te narrar os fatos acontecidos no dia 24 de Abril.
Nesse dia, a meio da tarde, aterrou numa parada do Campo Militar de Santa Margarida, em frente aos alojamentos dos oficiais e sargentos do nosso Batalhão e em frente, do outro lado da avenida principal do campo, ao quartel General do Campo Militar, um helicóptero, saindo do mesmo dois oficiais generais e dois oficiais superiores, que se dirigiram ao quartel general do acampamento, onde permaneceram em conversação com o comandante do Campo Militar por cerca de hora e meia, tendo-se depois retirado no mesmo helicóptero.

Cerca das 8 horas e 30 minutos, desse mesmo dia, foi-nos dado ordem para formar todo o Batalhão na parada do Quartel-General. Aí foi-nos informado pelo comandante do campo militar que tínhamos sido desmobilizados, tínhamos de entregar até à meia-noite todo o armamento que nos tinha sido distribuído e que íamos de licença no dia seguinte, tendo que nos apresentar no dia 1 de Maio para recebermos novas instruções.

Posso ainda informar que no dia seguinte, 25 de Abril, tivemos conhecimento que um Batalhão que estava a tirar IAO e estava mobilizado para Angola, teve o seu regresso da semana de campo adiado do dia 24 de Abril para dois dias mais tarde. Como deves saber, saíram do Campo Militar de Santa Margarida duas companhias de caçadores comandadas respectivamente pelo Capitão Miliciano Luís Pessoa e pelo Tenente Andersen, que depois de terem forçado o oficial de dia do aquartelamento de Cavalaria, aliás sem qualquer oposição da parte deste, a entregar-lhes as chaves de várias Chaimites, foram ocupar as antenas do Rádio Clube Português em Porto Salvo e defender a ponte Marechal Carmona em Vila Franca de Xira.

Tudo leva a crer que a intenção era desarmar e imobilizar os Batalhões do campo militar mobilizados para as ex-províncias ultramarinas, para assim impedir a sua participação no golpe militar de 25 de Abril.

Agora deixo a pergunta no ar. Será que havia conhecimento por parte de algumas instâncias superiores do golpe militar de 25 de Abril?

Com um abraço e saudações me despeço.

P.S. Não tenho nenhuma fotografia minha do tempo da Guiné, como já referi anteriormente perdi toda a documentação incluindo fotografias da minha estadia nessa província ultramarina.
Assim que me for possível envio-te uma fotografia minha atual.

Saudações amigas.
Nelson Cerveira


2. Comentário de CV:

Caro camarada Nelson Cerveira, sê, mesmo sem as fotos da praxe, bem vindo à Tabanca Grande, Caserna virtual onde se podem alojar os ex-combatentes da Guiné que querem deixar aqui registadas as suas memórias, tanto em texto como em fotos.

Como aconteceu com outros camaradas, tiveste a boa sorte de ir para a Guiné com a missão de fazer o espólio de uma guerra há muitos anos mantida à custa de muitas mortes e muito sangue derramado pela juventude de Portugal e dos naturais de um lado e do outro da barricada.

Gostávamos que sem hesitações  nos contasses como tu e os teus camaradas viveram aqueles tempos coincidentes com o fim do império. A descrição da retirada de Bissau e embarque das derradeiras forças portuguesas estacionadas na Guiné é de facto clarificadora do ambiente que se viveu naquela hora de tensão. Ainda bem que correu tudo bem.

Tens aqui audiência garantida, pelo que podes começar desde já a escrever.

Feita a tua apresentação, resta-me deixar-te um abraço em nome da tertúlia e dos editores. A partir de hoje contas com mais 561 amigos e camaradas que compõem a tertúlia deste Blogue.

O camarada e amigo
Carlos Vinhal
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9962: O Nosso Livro de Visitas (137): Nelson Cerveira, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73 (Bissorã e Bissau, 1974)

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9981: Tabanca Grande (342): Manuel Joaquim Santos Carvalho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9962: O Nosso Livro de Visitas (137): Nelson Cerveira, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73 (Bissorã e Bissau, 1974)

1. Mensagem do nosso camarada Nelson Henriques Cerveira, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974, com data de 23 de Maio de 2012:

Numa das descrições do seu blogue sobre saída dos últimos militares da Guiné "os últimos militares portugueses a abandonar o território da Guiné" feita por Luís Gonçalves Vaz, refere que o navio Niassa navegava já à frente, na realidade navegava mais à frente por ainda não ter chegado a águas territoriais da Guiné, pois vinha mais atrasado que o navio Uíge, e como não tinha hipótese de chegar ao largo de Bissau antes da meia-noite do dia 14/10/1974, data limite acordada para o abandono dos militares portugueses da então Província da Guiné, ficou à espera dos últimos militares ainda em pleno oceano Atlântico. Estes últimos militares, dos quais fazia parte o meu Batalhão de Caçadores, embarcou no porto de Bissau, em LDG (lancha de desembarque grande), vindos da Amura, poucos minutos antes da meia-noite e eram perto das 6 horas da manhã do dia 15 quando passaram das lanchas de desembarque para o Niassa, subindo por uma escada estreita colocada encostada ao casco do navio, num local onde a ondulação era pronunciada.

Passo de seguida a descrever esse embarque nas LDG. Eram cerca das 22 horas do dia 14, quando os militares formados no aquartelamento da Amura se começaram a deslocar para o porto de Bissau. Logo à saída da porta do aquartelamento encontrava-se uma segurança formada de cada lado da estrada feita por militares do PAIGC e Fuzileiros Navais Portugueses, espaçados cerca de 1 a 2 metros e alternando um militar do PAIGC com um Fuzileiro Português, até ao cais onde se encontravam as LDG. À medida que o último militar português da formatura ia passando por um Fuzileiro este ia-se integrando no fim da formatura. Tudo correu sem problemas e como já referi, os últimos militares a entrarem na LDG fizeram-no poucos minutos antes da meia-noite, tendo estes avançado, sem qualquer tipo de represália, nem tentativa, em direção ao navio, que nos esperava como já disse em pleno oceano Atlântico.

Devo também referir, que não temíamos qualquer represália por parte dos militares do PAIGC, mas sim por parte de alguns civis. Os militares do PAIGC, pelo contrário, protegeram alguns militares portugueses contra os civis, como aconteceu com alguns militares do meu Batalhão nos últimos dias que estivemos em Bissau. Esses militares foram vítimas de tentativa de agressão por parte da população civil negra, valendo-lhe nessa altura os militares do PAIGC que mal apareciam os civis fugiam de imediato temendo represálias por parte desses militares.

O meu posto era Furriel Miliciano Enfermeiro, pertencia à CCS, dum Batalhão de Caçadores, que não me lembro o número, pois todas as referências que tinha em relação à minha estadia na Guiné, e que eram muitas, inclusive grande número de fotografias, perdi-as numa mudança que fui obrigado a fazer de residência, numa altura que não me encontrava no país. No entanto vou deixar alguns dados sobre o meu Batalhão e espero que alguns dos meus colegas leiam o seu blogue e me possam indicar o número do Batalhão.

O meu Batalhão formou-se em Estremoz, nos primeiros meses do ano de 1974. Estávamos em Santa Margarida a tirar o IAO quando se deu o 25 de Abril. No dia 24 de Abril foi-nos comunicado que tínhamos sido desmobilizados, mas que tínhamos de entregar todo o armamento que nos tinha sido distribuído até à meia-noite desse dia. Esta ordem ficou sem efeito após o 25 de Abril e fomos para a Guiné, nos primeiros dias de Junho de avião. O nosso Batalhão foi render um batalhão cuja CCS estava estacionada em Bissorã, de onde saímos depois de fazer a entrega ao PAIGC em fins de Agosto de 1974.

Agradeço a hipótese de colaborar no seu blogue e fico à espera de respostas de companheiros meus desse Batalhão.

Muito atenciosamente
Nelson Henriques Cerveira
nelcerveira@gmail.com


2. No mesmo dia foi enviada a mensagem que se segue ao camarada Nelson

Caro camarada Nelson
Pelos elementos que forneces, poderás ter pertencido ao BCAV 8320/73 formado em Estremoz e não a um BCAÇ como referes.


1.º CMDT - Maj Cav Luís Manuel Lemos Alves
2.º CMDT - Cap Cav Nuno António Amaral Pais de Faria
OInfOp/Adj - Cap Cav João Luís Adrião de Castro Brito
CMDT da CCS - Cap SGE Sizenando Silva Lampreia
CMDT da 1.ª Comp - Cap Mil Grad José Feijão Leitão de Castro e Cap Art.ª Vítor Manuel Barata
CMDT da 2.ª Comp - Cap Mil Grad José Manuel Santos Jorge e Cap Inf.ª António dos Santos Vieira
CMDT da 3.ª Comp - Cap Mil Grad João Pedro Melo Martins Soares e Cap QEO Valdemar Nogueira dos Santos

Partidas:
Em 20JUN74 - CMD e CCS,
em 21JUN74 - 1.ª Companhia
em 22JUN74 - 2.ª Companhia
em 23JUN74 - 3.ª Companhia

Regresso em 14OUT74

Confirma-se que este Batalhão assumiu a responsabilidade do sector de Bissorã substituindo o BCAÇ 4610/72.

Se achares que estou correcto, mando-te cópias das folhas do livro que possuo, onde está a actividade resumida das diversas Companhias.

Recebe um abraço
Carlos Vinhal


3. No dia 24 recebemos resposta do camarada Nelson Cerveira

Caro Carlos Vinhal,
Tem toda a razão, só quero reteficar uma coisa. O Major Luís Manuel Lemos Alves, conseguiu ser desmobilizado pouco antes de termos partido por não haver espaço de tempo suficiente entre a sua última mobilização e esta, tendo assumido provisoriamente o Comando o Segundo Comandante Capitão Nuno António Amaral Pais de Faria, mas não chegou a ser nomeado novo Comandante, passando o Capitão a Comandante efetivo.
Agradeço a sua informação e fico a aguardar os documentos que refere.

Receba um abraço amigo
Nelson Cerveira


4. Comentário de CV:

Analisando os dados fornecido pelo nosso camarada Nelson e consultando a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, concluímos que este Batalhão tinha como 1.º Comandante um Major quando o usual era o cargo ser ocupado por um Tenente Coronel. Pasme-se que por impossibilidade de o Major Lemos Alves ocupar o lugar de 1.º CMDT, foi substituído pelo Capitão Pais de Faria. Competências à parte, tivemos pois um Capitão a comandar um Batalhão. Terá sido porque a guerra estava em fase terminal? Já não havia Tenentes Coronéis e Majores disponíveis para dotar as Unidades mobilizadas?

Outra coisa que não se percebe nas afirmações do nosso camarada, a não haver confusão nas datas, é o facto de o Batalhão ter sido desmobilizado no dia 24 de Abril de 1974. Premonição? E por que foi "reactivado" no dia da Revolução?

Poderá o nosso camarada explicar?

Caro camarada Cerveira, convido-te em nome da tertúlia a fazeres parte da família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné onde há sempre lugar para quem quiser contribuir para a memória futura da história da guerra colonial, e da Guiné em particular. Viveste não o período da guerra declarada, mas meses de tensão e de indefinição, e a fazer fé no que dizes, de alguma hostilidade da população de Bissau para com a tropa portuguesa.

Manda-nos uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné e considera a tua mensagem de 23 de Maio como o início da tua colaboração, narrando as tuas experiências e aquilo que viste e sentiste em Bissorã e Bissau, até àquela inesquecível noite de embarque no Niassa.

Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9894: O Nosso Livro de Visitas (136): António Martins Alves, Regimento de Cavalaria 8 - Castelo Branco, 1967/70