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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23655: Os bu...rakos onde vivemos (15): O destacamento da Ponta do Inglês que tinha um gerador que nunca funcionou e onde havia um poço a 700 metros do arame farpado, que servia três clientes: as NT, o IN e a população sob o seu controlo (e que, por isso, nunca foi envenenado) (António Vaz, 1936-2015, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)



Guiné > Região de Bafatá > Xime > Ponta do Inglês > O destacamento da Ponta do Inglês, um dos muitos "bu...rakos" onde viveu gente nossa, neste caso de dezembro de 1964 e outubro de 1968. Ilustrações de Vera Vaz (2012).


1. Houve muitos sítios "desgraçados" onde vivemos, ao longo da guerra da Guiné... Temos uma série a que chamámos "Os bu...rakos em que vivemos"... Publicaram-se 14 postes, em março e agosto de 2009. 

Pela amostra (*), vê-se que estamos longe de ter um painel representativo dos nossos aposentos "bunker...izados", sítios onde nem sequer havia geradores nem muito menos "climatizadores de pesadelos"... Muitos outros postes dos já 23 mil e tal que já publicámos, podiam caber nesta série...

Às vezes redescobrimos alguns e achamos que vale a pena "refrescá-los" e pô-los nesta série... Por uma razão ou outra. É o caso do poste P10009 (**), primorisamente escrito pelo nosso saudoso António Vaz (1936-2015) (***) e ilustrado pela sua filha (salvo erro) Vera Vaz. Eze topónimo, "Ponta do Inglês", tem mais de quatro dezenas de referências no nosso blogue.


O destacamento da Ponta do Inglês

por António Vaz (1936-2015) 
(ex-cap mil, CART 1746. Bissorã e Xime, 1967/69)

− Não tenho a certeza de ter aterrado no sítio certo… − disse, ao aterrar  [no seu heli] o brigadeiro Spínola. 

−  Saiba V. Exa. que está na Ponta do Inglês − respondeu o alf mil João Mata, da CART 1746,  que usava na ocasião calções, barba, tronco nu e uma extraordinária boina de cor verde alface com uma estrela de metal.

[É com este saboroso diálogo, entre o novo "homem grande de Bissau" e um oficial miliciano já completamente "apanhado do clima", que poderei  contar a história ou o resto da história do destacamento da Ponta do Inglês.]  A Cart 1746 saiu de Bissorã a 7 de janeiro de 1968,  seguindo de Bissau para o Xime via Bambadinca,  a bordo da barcaça Bor. Um grupo de combate seguiu directamente para a Ponta do Inglês onde rendeu o pessoal da CCAÇ 1550.

Este pelotão da Cart 1746 era comandado pelo alf mil Gilberto Madail [mais tarde, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, entre outros cargos], e que lá permaneceu [naquele bu...rako,] cerca de 4 meses, sendo substituído por outro, comandado pelo alf Mil João Guerra da Mata que lá esteve até outubro [de 19681], data em que este destacamento foi abandonado,[por ordem de Spínola] .

A Ponta do Inglês foi ocupada e os abrigos construídos em dezembro de 1964 na Op Farol pela CCAÇ 508,  comandada pelo malogrado capitão Torres de Meireles, morto em combate na Ponta Varela.

Não controlavam nada na foz do Corubal e nada podiam fazer em conjunto com o pessoal do Xime para manter aberto o itinerário Ponta do Inglês / Xime porque a Companhia do Xime ocupava também Samba Silate, Taibatá, Demba Taco e Galomaro. Assim o seu isolamento era, foi, praticamente total.

Os géneros só a Marinha os podia levar e o mesmo se pode dizer das munições, correio, tabaco, combustível, etc.

A chegada dos abastecimentos era motivo de alegria geral como se pode ver nas imagens que junto.

Por muito que o pessoal controlasse os gastos, a falta de quase tudo fazia-se sentir. Bem podia o Comando da Companhia pedir insistentemente pela vias normais a satisfação dos pedidos que não conseguíamos nada. Cheguei a tentar meter uma cunha directamente na Marinha, mas as prioridades eram outras. Como alguns géneros recebidos da Companhia que lá tínhamos rendido, estavam deteriorados, a situação ainda foi pior. Esta situação originou, a pedido do alf Madail, o Fado da Fome, que o Manuel Moreira ilustrou nas quadras populares da sua autoria.

O destacamento da Ponta do Inglês era a pequena distância da margem do Rio Corubal e tinha a forma quadrangular. A guarnição era formada por 1 Gr Comb + 1 Esq Pel Mort 1192 e pelo Pel Mil 105.

O destacamento era formado por 4 abrigos principais nos vértices para o pessoal, para a mecânica e rádio. O combustível e as munições ficavam na parte mais perto do rio Corubal; na parte central sob uma árvore frondosa (poilão?) um abrigo mais pequeno onde ficava o alferes, o enfermeiro e, logo ao lado, o forno do pão e uma cozinha, tudo muito rudimentar. Tinha o espaldão do morteiro na parte central. Não tinha, ao contrário do Xime, paliçada e apenas duas fiadas de arame farpado.

Os abrigos eram de troncos de palmeira com as indispensáveis chapas de bidão, terra e não eram enterrados. Uma saída na direcção do rio e outra no lado oposto para as idas à água e à lenha. No destacamento havia um Unimog para estas tarefas.

A água era tirada a balde de um poço existente a cerca de 700 metros do arame farpado que também era utilizado pela população, totalmente controlada pelo IN, e pelo próprio IN, sem nunca este ter aproveitado as nossas idas à água e à lenha para nos incomodar e vice-versa

Diz o Manuel  Moreira  [1945-2014]

O poço era um só,
Estava longe do abrigo,
Dava a água para nós
E também p’ro inimigo.

As noites eram passadas como se calcula, com as sentinelas nos quatro cantos do quadrado e a malta a ver e a ouvir os rebentamentos que vinham da direcção de Jabadá, de Tite, Porto Gole e do Xime, claro. Pode ser sinistro mas não é difícil pensar que muitos diriam.
Este destacamento teve sempre uma triste sina porque não tinha meios senão para... "estar". A dispersão de meios que encontramos no 
[sector] L1 a isso conduzia. Nunca serviu de nada a não ser castigar, sem culpa formada, as guarnições que para lá eram enviadas.

− Antes eles do que nós.

Como de costume, depois das tarefas de rotina, quando o calor era menos intenso seguia-se o eterno futebol com bolas dadas pelo MNF, de péssima qualidade, substituídas pelas tradicionais trapeiras. Num dos reabastecimentos que se fizeram, conseguimos levar para, além de gado mais miúdo, algumas vacas, que como sabemos, na Guiné são de pequeno porte. Como o futebol também farta, houve alguém que sugeriu tourear uma das vacas que ainda estava viva para tardios bifes.

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A vaca tísica... Ilustração de Vera Vaz (2012)

Foi uma festa com as peripécias inerentes à Festa Brava e todos os dias “a las cinco en punto de la tarde” soltava-se a vaca e era um corrupio de faenas com cornadas… incompetentes. O tempo foi passando e já só restava um dos pobres animais para animar os fins da tarde.

Como o reabastecimento nunca mais chegava e o atum com arroz já não se podia ver e muito menos comer, o alf Mata teve de decidir entre o partido pró-tourada e o partido pró-bife. Não foi fácil, mas acabou por vencer este último. Convocou-se o soldado condutor J. Viveiro Cabeceiras que também era padeiro, magarefe e pau para toda a obra, que procedeu à matança. Começando a esquartejar a rês, vai ter com o alferes e informa-o que a vaca estava tísica, pulmões quase desfeitos.

− Come-se a vaca... ou não se come a vaca?

Nova discussão e resolveu-se não aproveitar as vísceras e apenas o músculo. Assim se comeu carne assada sem problema de maior. Quando esta acabou voltou-se ao atum aos enlatados, tudo coisas que já escasseavam mas o pessoal andava triste com a falta dos fins de tarde taurinos. Então o Cabeceiras foi ter com o Alferes e disse-lhe:

− Meu alferes, a malta anda tão triste que se quiser e autorizar eu faço de vaca pois guardei os... cornos.

E assim de conseguiram mais uns fins de tarde…

Nunca percebi por que razão se fez o destacamento, afastado do único poço com água potável... Uma proposta de sã convivência? O caso é que resultou.

O que se passou nos tempos infindáveis em que o gerador esteve avariado, assunto já abordado neste Blogue, por quem o foi substituir, depois de aturados pedidos a Bissau sem que se resolvesse em tempo útil, é inenarrável. : [Em comnetário ao poste P7590 (****), o José Nunes, ex-1º cabo mec eletricidade, BENG 447, 1968/70; escreveu:  

(...) "O aquartelamento da Ponta do Inglês estava operacional em abril de 1968, quando aí nos deslocámos pra montar o grupo gerador, ficava junto ao rio e não havia cais, o Unimogue avançou rio dentro até da LDP [Lancha de Desembarque Pequena] de onde se descarregou o gerados a pulso. A iluminação era feita [, até então,] com garrafas de cerveja com uma mecha, cheias de combustível, e as havia a servir de alarme, havia muitos macacos na zona que causavam problemas, ao agarrar o arame farpado da zona de protecção. Foi uma permanência de horas por causa das marés." (...) 

As garrafas de cerveja penduradas no arame farpado, cheias de combustível, tinham que ser continuamente acesas nas noites de chuva forte ou de vento. O risco que a malta corria nessas circunstâncias, sendo a única coisa iluminada na escuridão, tornando-se um alvo fácil, era enorme, embora, que me lembre, nunca tenha havido flagelações nessas alturas.

Flagelações houve muito poucas - seis - sem grandes consequências, a água do poço nunca foi envenenada e, mesmo sabendo que a resistência oferecida pelas NT, aquando dos ataques, fosse de nutrido fogo mantendo o IN em respeito, penso que este nunca empenhou efectivos suficientes e capazes para provocar danos consideráveis. No fundo o IN sabia que enquanto aquele pessoal ali estivesse enquistado, a tropa do Xime, com a dispersão acima referida, estaria muito menos apta a fazer operações complicadas.

As relações entre o pessoal podem considerar-se muito boas, não havendo atitudes condenáveis, que até seriam possíveis num ambiente concentracionário como aquele. A convivência com a milícia logo de início se mostrou muito favorável porque, abastecendo-se de géneros junto das NT, passaram a pagar muito menos do que anteriormente porque os preços eram os mesmos que nos eram debitados sem alcavalas de qualquer espécie.

Não me recordo da existência de familiares a viverem com o pessoal africano, mas, segundo o testemunho do tabanqueiro Manuel Moreira, uma mulher deu à luz na época em que lá esteve e foi o 1.º cabo aux enf Cordeiro Rodrigues, o "Palmela", ajudado por ele, que assistiu ao parto.

Com a falta de géneros tudo se aproveitava incluindo a caça, que se resumia a tiro de rajada para bandos de aves grandes, pernaltas (não sabemos quais) e, se caíam nas redondezas, eram o pitéu desse dia.

Felizmente com a redistribuição das Forças no terreno, iniciada pelo brig Spínola, foi a Ponta do Inglês evacuada sem problemas em 7/8 de Outubro de 1968, pondo-se fim ao disparate da sua existência.

Há uma enorme falta de informação (para mim) sobre a evacuação da Ponta do Inglês; nem na história do BART 1904, nem na da CART 1746, apenas é mencionada a data em que se efectuou. Tenho ideia que, para além do pelotão da 1746, Secção de Morteiros e Milícia, estiveram na Ponta do Inglês pessoal de outras unidades a montar segurança (mas quais?) enquanto o pessoal carregava a barcaça Bor de todo o material e bagagem da rapaziada. Estivemos nas imediações da Ponta Varela a assegurar a passagem da Bor a caminho de Bambadinca. Foi uma operação, para mim sem nome, que envolveu mais meios que não recordo.



Guiné > Carta de Fulacunda (1955) > Escala de 1/ 50 mil > Posição relativa da Ponta do Inglês, na maregm direita do Rio Corubal, fente à pensínsula de Gampará.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


Segundo informação de oficiais do BART 1904, o brig Spínola com o respectivo séquito aterrou na Ponta do Inglês, já ia adiantado o carregamento da Bor, mandando evacuar a segurança, depois de se ter armadilhado o que estava determinado, e só depois reparou que já não havia segurança nenhuma e que ele e os outros oficiais que o acompanhavam tinham ficado, como hei-de dizer, abandonados na margem do Corubal com o pessoal do ou dos helis a chamá-los quando se aperceberam da situação.

O pelotão da Cart 1746 chegou ao Xime sem problemas e todos tivemos uma enorme alegria por voltarmos a estar juntos. ...E na verdade o que vos doi... É que não queremos ser heróis (Fausto).

António Vaz, ex cap mil

PS - Esta estória da Ponta do Inglês só foi possível com as recordações do Manuel Moreira (releiam o Fado da Fome), do João Guerra da Mata, o ex-Alferes – último comandante daquele destacamento, e de Vera Vaz nas interpretações desenhadas.

[ Revisão / fixação de texto / parênteses retos,  efeitos de publicação deste poste: LG ]


Leiria > Monte Real > Palace Hotel de Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande >  21 de Abril de 2012> O ex-alf mil João Mata (à esquerda) e o ex-cap mil António Vaz, à direita, ambos da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69). 

O João Guerra da Mata foi o último comandante do destacamento da Ponta do Inglês, um dos míticos topónimos da guerra da Guiné.  Julgo que vive em Évora. Infelizmente, não é membro da Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados   [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

 (*) Vd. postes de:

21 de agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4850: Os bu... rakos em que vivemos (14): O meu abrigo em Mampatá (Zé Teixeira)

3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4632: Os bu... rakos em que vivemos (13): Sare Banda um dos bu…rakos em que morremos! (A. Marques Lopes)

8 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4481: Os bu...rakos em que vivemos (12): Cafal Balanta contribui para o desenvolvimento nacional (Manuel Maia)

18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4369: Os bu...rakos em que vivemos (11): Banjara City, capital do Oio (Fernando Chapouto, CCaç 1426, 1965/66)

14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4346: Os bu...rakos em que vivemos (10): Também havia um em Nova Lamego (Luís Dias)

11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)

11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu... rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4252: Os Bu... rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4211: Os Bu...rakos em que vivemos (6): Banjara, CART 1690 (Parte II): Lugar de morte (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)

12 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4175: Os Bu...rakos em que vivemos (5): Guileje bem se podia considerar um hotel de 5***** (Manuel Reis)

10 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4168: Os Bu... rakos em que vivemos (4): Acampamentos de apoio à construção da estrada Mansabá/Farim (César Dias)
7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4153: Os Bu... rakos em que vivemos (3): Acampamentos de apoio à construção da estrada T.Pinto/Cacheu (Jorge Picado/José Câmara)

5 de Abril de 2009 Guiné 63/74 - P4141: Os Bu... rakos em que vivemos (2): Bula, CCCAÇ 2790 (António Matos)

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu... rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)

(**) Vd. 7 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10009: Memória dos lugares (185): Saiba V. Excia que está na Ponta do Inglês!, disse o Alf Mil João Mata para o Brig Spínola (António Vaz, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69)

(***) Vd. 30 de 20 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15553: In Memoriam (243): António [Gabriel Rodrigues] Vaz (1936-2015), ex-cap mil art, cmdt CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69); nosso saudoso grã-tabanqueiro nº 544, desde 2012

(****) Vd. poste de 11 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22596: Notas de leitura (1387): Imagens à procura de comentários: Augusto Trigo e a CART 1746 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
A folhear um acervo documental dos herdeiros do General Schulz, chamou-me a atenção a belíssima imagem de um álbum de Augusto Trigo, um artista luso-guineense a quem se faz a tremenda injustiça de não lhe conhecer a valiosa obra; e no meio daqueles dossiês e registos metodicamente organizados, saltou uma fotografia de gente que conheci, a CART 1746, por obra e graça da investigadora Lúcia Bayan aqui a faço chegar, ela é merecedora de comentários. Façamos isso em memória desse gentil camarada que foi o Capitão Vaz, é o meu pedido.

Um abraço do
Mário



Imagens à procura de comentários: Augusto Trigo e a CART 1746

Beja Santos

Sempre que me encontro com investigadores a estudar a Guiné Portuguesa, ou etnias da Guiné Portuguesa, ou estudiosos das guerras de África, não deixo de os alertar que continuamos com algumas lacunas graves no tocante a esses treze anos: a guerra da Guiné carece, e com algum grau de urgência, de uma tese de doutoramento sobre a governação de Arnaldo Schulz, nós pegamos nos manuais e não há investigador que habilidosamente circunscreva o período de 1964 a 1968 num arrazoado de linhas que não nos permite conhecer a estratégia utilizada por aquele oficial do Estado-maior quanto à ocupação da Guiné, depois das tremendas convulsões que se viveram em 1963; Portugal manteve relações diplomáticas com Cuba durante a guerra de África e não há nenhuma investigação que nos permita conhecer o que consta nos arquivos diplomáticos de Lisboa e Havana, nomeadamente quanto à participação cubana junto dos movimentos anticoloniais PAIGC e MPLA; o Estado de Israel apoiou a política colonial portuguesa, vendeu armamentos e explosivos, etc.

Em conversa com a investigadora Lúcia Bayan, que trabalho no doutoramento sobre a etnia Felupe, deu-me a saber que era depositária pelos herdeiros do general Schulz de um acervo documental e que mo gostaria de mostrar. E um dia aconteceu, folheámos um acervo impressionante de documentação de caráter institucional, vimos álbuns e recortes em doses maciças. No essencial, trata-se de documentação de utilidade subsidiária para quem estudar o Governador Schulz, são recortes de jornais, cópias dos seus discursos, álbuns com imagens à sua despedida, enfim documentação já publicada. Mas encontrei duas exceções. A lindíssima capa de um álbum fotográfico que lhe ofereceram com a cópia de um quadro de Augusto Trigo, um artista infelizmente pouco conhecido, guineense e com um trabalho apuradíssimo ao nível da banda-desenhada. Era bom que o Luís Vassalo, que tanta atenção tem dado à banda-desenhada com motivos na guerra de África, falasse da obra do Augusto Trigo.

No meio daquela caterva de documentos, saltou uma fotografia, via-se nitidamente que era uma imagem avulsa, sem nexo com tudo quanto ali aparecia organizado. Ela aqui está, refere uma viagem do General Schulz a Bissorã, à CART 1746, que esteve em Bissorã e no Xime, lembro-me perfeitamente do falecido Capitão Vaz, com quem estabeleci uma relação afetuosa, teve mesmo a gentileza de colaborar na apresentação de um livro meu. Apelo aos camaradas da CART 1746 que façam comentário desta fotografia, tão gentilmente cedida pela investigadora Lúcia Bayan. Ficamos todos a aguardar.


Capa de álbum fotográfico cedida pelos herdeiros do general Arnaldo Schulz à investigadora Lúcia Bayan, a quem se agradece a partilha. A capa do álbum reproduz um quadro a óleo de Augusto Trigo.
Augusto Trigo no seu ateliê.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22593: Notas de leitura (1386): "Um caminho de quatro passos", de António Carvalho (2021, 219 pp.): apontamentos etnográficos para o retrato da nossa geração, de antigos combatentes - Parte II (Luís Graça)

quarta-feira, 10 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21989: Fichas de unidade (17): CCAÇ 1550 / BCAÇ 1888 (Farim, Binta e Xime, 1966/68)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > António Fernando Marques e Arlindo Teixeira Roda, dois camaradas, furrieis, da 1ª geração da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao monumento da CCAÇ 1550 (1966/68), unidade de quadrícula do Xime que antecedeu a CART 1746 (1968/69), a CART 2520 (1969/70), a CART 2715 (1970/71), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)... 

A CCAÇ 12 conheceu, bem e duramente, o subsetor do Xime, entre 1969 e 1974, primeiro como subunidade de intervenção ao setor L1 e depois, no final da guerra, como subunidade de quadrícula... 

A CCAÇ 1550, antes de passar a subunidade de quadrícula no Xime, esteve antes em Farim, era comandada pelo cap mil inf Agostinho Duarte Belo; no monumento estão inscritos os lugares (de diferentes setores) por onde passou: Binta, Guidage, Xime, Ponta do Inglês, Galomaro, Candamã, Taibatá, Farim, Dembataco, Samba Silate, Bissau... (*)

Foto: © Arlindo Roda (2010).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Ficha de unidade: CCAÇ 1550 / BCAÇ 1888 

A CCAÇ 1550, juntamente com a CCAÇ 1549 e 1 551, foi uma unidade de quadrícula do BCAÇ  1888. Esta unidade foi mobilizada pelo RI I,  Amadora, tendo  como Cmdt o ten cor  inf Adriano Carlos de Aguiar e 2.° Cmdt o maj inf Artur Miguel Agrely Rebelo . (Não se conhece o nome do major Inf Op/Adj).

Cmdts Companhias:  CCS: Cap SGE Manuel Pereira Pimenta de Castro |  CCaç 1549: Cap Mil lnf José Luís Adrião de Castro Brito | CCaç 1550: Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo | CCaç 1551: Cap Mil Inf Francisco Silva Pinto Pereira

Divisa: "Vendo, Tratando e Pelejando"

Partida: Embarque em 20Abr66; desembarque em 26Abr66 | Regresso: Embarque em 17Jan68


Síntese da Actividade Operacional do BCAÇ 1888

Em 26Abr66, rendendo o BCaç 697, assumiu a responsabilidade do Sector L I, com sede em Fá Mandinga e a partir de 14Nov66, em Bambadinca, e abrangendo os subsectores de Xitolc, Xime, Bambadinca e Enxalé, este até  1Jul67 e retirado ao sector por alteração dos limites.

Comandou e coordenou a actividade das forças que lhe foram atribuídas, orientando a sua acção sobre as linhas de infiltração do inimigo, em patrulhamento, reconhecimentos e emboscadas em ordem a obstar à sua instalação e movimentação na zona. Desenvolveu ainda uma intensa actividade psicossocial junto das populações, promovendo a sua autodefesa e reordenamento e garantindo a segurança dos itinerários e a recuperação das populações.

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora pesada, 2 metralhadoras ligeiras, 70 espingardas, 1 lança-granadas foguete, 4 minas, 28 granadas de armas pesadas e 3000 munições de armas ligeiras.

Em 16Jan68, foi rendido no sector de Bambadinca pelo BArt 1904 e recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.


CCAÇ 1550 (Farim, Binta e Xime,  1966/68) (*)

A CCaç 1550 seguiu imediatamente para Farim, a fim de substituir a CCaç 675, como subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 733 e depois do BCaç 1887, orientada para a realização de patrulhamentos, emboscadas e acções sobre os corredores de Sambuiá e Samine.

Em 28Dez66, foi rendida pela CCaç 1546 e,  após curta permanência em Bissau, seguiu em 3Jan67 para Xime, a fim de substituir a CCav 1482.

Em 11Jan67 , assumiu a responsabilidade do subsector de Xime, com efectivos destacados em Ponta do Inglês, Taibatá e Galomaro e depois ainda em Demba Taco, Samba Silate e Candamã, estes por períodos curtos e variáveis, ficando então integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 9Jan68, foi rendida no subsector de Xime pela CArt 1746 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp.85/86.
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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 8 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21983: Notas de leitura (1345): "Memorial, O livro dos 172 autores", da CCAÇ 1550 (Binta e Xime, 1966/68), DG Edições, 2018 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 2 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21960: O segredo de... (35): José Ferraz de Carvalho (ex-fur mil op esp, CART 1746 e QG, Xime e Bissau, 1968/70): "Não matem a bajudinha!"


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos.

Foto (e legenda): © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem conplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Voltamos a publicar este texto do  José Ferraz de Carvalho  (ex-Fur Mil, Op E Esp, CART 1746, e QG, Xime e Bissau, 1968/70); radicado em Austin, Texas, EUA, desde meados de 1970, tem duas dezenas de referências no nosso blogue: faz parte da Tabanca Grande desde 19 de novembro de 2011 (*); é autor da série "Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz";  tratando-se, de algum modo, de um "confissão" ou "confidência", este texto  (***) merece ser reproduzido agora na série "O segredo de..." (****)


O segredo de... (35): José Ferraz de Carvalho:
 "Não matem a bajudinha!"


Falando de acção psicossocial, de que sempre fui partidário, lembrei-me que, durante uma operação de penetração ao sul do Xime, aprisionámos 2 elementos IN.

Depois de interrogados, guiaram-nos a uma tabanca IN. Fizemos um assalto e durante esse combate ferimos uma miúda, bajuda, com um tiro por detrás do joelho que lhe destroçou a patela [ ou rótula].

− Mata a miúda...  − disse alguém.

− Não mata nada − disse eu  [, que estava a comandar o 2º  pelotão].

E ordenei ao meu pessoal para fazer uma liteira, trazendo a bajuda para o Xime de onde foi posteriormente helitransportada para o hospital em Bissau. Oxalá ainda seja viva.

Nem tudo na guerra é destruição. Talvez alguém dos meus tempos no Xime se lembre deste episódio.

Mas ainda a respeito desta bajudinha do Xime, alguém que não tenha estado nesta situação, é capaz de não perceber o que me levou a fazer o que fiz.... 

Por outro lado, se alguém que tenha estado lá comigo se lembrar [deste episódio], seguramente dirá que o tempo que levámos a preparar a liteira, deu tempo ao IN para começar a mandar morteiradas para dentro da tabanca e tiroteio de armas ligeiras como eu nunca tinha visto. De facto, poderia ter causado sérios problemas, mas graças a Deus tudo correu bem.

A minha intenção é apenas a de dizer publicamente que nós, no mato, e em situações de perigo, tínhamos coração e respeito pela vida humana, nem sempre tudo era ronco e destruição de tudo por onde pássavamos - a [alegada política da] "terra queimada".
 
PS - Curiosamente fui eu que fiz os prisioneiros... Íamos a sair da mata para uma abertura com capim talves de meio metro de altura e um trilho que cruzava essa abertura em sentido perpendicular ao nosso sentido de marcha (se bem me lembro eram dois e não um) quando nos demos conta que eles vinham na nossa direcção a conversar e, portanto, não se deram conta de nós ( ainda bem que tinha ensinado ao "pessoal balanta" os sinais aprendido em Lamego). 

Indiquei que se alapassem e eu deitei-me de costas para o chão ao lado desse trilho. Quando, eles se deram conta de mim, só talvez a um par de metros donde eu estava deitado, levanteio torso, apontei-lhes a G3 e disse: "A bo firma ai"...  Tremiam como se tivessem visto um fantasma e eu ri-me... Foram então levados para junto do comandante dessa operação,  interrogados e vocês ja sabem o resto da história. 

Também me lembro agora uma histária mais do Júlio [, o nosso "pilha-galinhas"] (*****) que, como responsável pelos dilagrams,  andava sempre ligado a mim. Quando o contra-ataque se desencandeou, ele e eu abrigámo-nos detrás de um baga baga enorme. Começámos a responder e o Júlio por um lado de baga baga e eu pelo outro tivemos que nos desabrigar. Disse-lhe para onde atirar os dilagramas e dou-me conta de que o Júlio de joelhos no chão a disparar dilagramas e cai pra frente, redondo. 

Atirei-me para junto dele com terrível ansiedade porque estava convencido que ele tinha sido ferido. Quando me dei conta que estava vivo a primeira coisa que me disse foi: "Furriel, os meus tomates?"... Houve mais tiroteio,  acabou o contacto, levanto-me, ajudo o Júlio a levantar-se e, quando de pé ele puxa as calças abaixo dos "tomates",  lá estava um buraco de bala, uns centimetros mais a cima e pobre pobre do Júlio!...  Disse-lhe em descarga nervosa: "Ah,  Júlio ainda bem..., senão nunca mais comíamos galinha" ...

José Ferraz

2. Comentário do editor LG:

Poderá ter-se tratado  da Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, na área de Poindon / Ponta do Inglês, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de "se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas quando da Op Lança Afiada [8-18 de Março de 1969]".

As NT eram constituídas por dois 2 destacamentos:

(i) Dest A: CART 1746 (Xime) (a 3 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/70))(1 Gr Comb);

(ii) Dest B: CCAÇ 2405 (Galomaro) (a 2 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/70) (1 Gr Comb).

Oportunamente, poderemos publicar um excerto do relatório desta operação, em que foi capturado um elemento IN, desarmado [, o Zé Ferraz refere dois elementos]. Na exploração imediata de informações dadas pelo prisioneiro, o Dest A fez uma batida à zona, surpreendendo "9 homens sentados acompanhados de 2 mulheres" (sic). Aberto fogo, foram capturadas as duas mulheres, feridas [, O Zé Ferraz refere apenas um "bajudinha", ferida].  Os restantes elementos fugiram, com baixas prováveis.

Entretanto, "ao serem prestados os primeiros socorros às mulheres feridas, um grupo IN de efectivo não estimado flagelou as NT durante cerca de 6 minutos com LGFog, mort 60 e cerca de 6 armas automáticas", sem consequências para as NT.

(Fonte: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70. História da Unidade. Cap II, pp. 78/79).

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9065: Tabanca Grande (307): José Ferraz de Carvalho, português há mais de 40 anos nos EUA, ex-Fur Mil da CART 1746 (Xime, 1969)

(...) Em 1965 o pai  [oficial superior da Marinha]foi nomeado para ser o Senior Portuguese Officer no SACLANT [The Supreme Allied Commander Atlantic,], em Norfolk, Virgínia. Vim então estudar Engenharia nuclear para o Virginia Politecnical Institute, mas tive que ir primeiro para o Old Dominion College para fazer estudos de habilitação.

Sempre quis fazer tropa e estava aqui com uma licença militar porque era da incorporação de 65. Lisboa nunca me reconheceu os meus estudos aqui, pelo que em vez de ir para Mafra [, COM], fui para as Caldas [, CSM].

(...) Ofereci-me como voluntário para a 16ª Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68 [, 16 de agosto]. No fim da fase operacional [, IAO, que decorreu em Bula, Binar e Có, em setembro] não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime, onde o Capitão [António] Vaz [ 1939-2015] me responsabilizou em formar um grupo de combate com o segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente" (...).

O J. Ferraz de Carvalho, uma vez terminada a comissão da CART 1746, em junho de 1969, foi colocado em Bissau, no QG, e deve ter regressado à Metrópole, com a 16ª Ccmds, em 24 de junho de 1970 (**)..
.



(*****) Vd. poste de 30 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18925: Furriéis que tombaram no CTIG (1963-1974), por acidente, combate e doença - Parte I: Por acidente (n=68) (Jorge Araújo)


A linha vermelha, ligando o Xime (aquartelamento) e a Ponta Coli (local da segurança), na estrada Xime-Bambadinca, era o itinerário diário utilizado pelas NT. Linha vermelha para Sul, zona de emoções fortes (antiga estrada Xime-Ponta do Inglês), onde se verificaram muitas baixas de ambos os lados (NT e PAIGC), ao longo da guerra.


Xime (Abril de 1972) – Elementos do 4.º Gr Comb, o grupo que sofreu duas emboscadas na Ponta Coli (estrada Xime-Bambadinca) – a primeira, em 22 de Abril de 1972; a segunda, em 1 de Dezembro de 1972 [vidé P9698 e P9802]. Até à 1.ª data, a CART 3494 foi comandada pelo cap. Vítor Manuel da Ponte Silva Marques (?-2004) [P15470]. Em 22 de Junho desse ano, o cap. António José Pereira da Costa [membro da n/ Tabanca] chegou ao Xime para render o cap. Silva Marques, ausente após a 1.ª emboscada.

Imagem acima: de cócoras, da esquerda para a direita – Manuel Bento (furriel; 1950-1972.04.22), Jorge Araújo (furriel) e Sousa Pinto (Furriel; 1950-2012.04.01), os três “quadros de comando” do 4.º Gr Comb.

Esta imagem foi obtida alguns dias antes da primeira emboscada, onde viria a falecer o camarada Manuel Bento, natural de Galveias, Ponte de Sôr, a única baixa em combate do contingente da CART 3494, nos mais de vinte e sete meses de comissão (1971-1974).


Subsector do Xime (08Fev1970), heli evacuação de feridos em Madina Colhido, durante a «Op Boga Destemida», envolvendo a CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) – [P16762].

Em 26NOV1970, na «Op Abencerragem Candente», o mesmo cenário envolvendo a CART 2714, CART 2715 e CCAÇ 12, num total de 8 Gr Comb. Dos combates travados com a guerrilha, as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves. Um dos mortos foi o camarada furriel Joaquim Araújo Cunha, natural de Outeiro, Barcelos, da CART 2715, unidade sediada no Xime, comandada pelo cap aet Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014).


Em 14NOV1968 (três anos e meio antes do episódio da CART 3494), em emboscada na Ponta Coli (estrada Xime-Bambadinca) morreu o furriel Fernando Maria Teixeira Dias, natural de São Simão, Amarante, da CART 1746, comandada pelo cap mil António Gabriel Rodrigues Vaz (1936-2015) [P11522].




Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil. Op. Esp./RANGER, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue


OS 221 FURRIÉIS QUE TOMBARAM NO CTIG [1963-1974] (POR ACIDENTE, COMBATE E DOENÇA) - Parte I: Acidente (n=68)


1. INTRODUÇÃO

Na sequência da actualização da lista dos camaradas «Alferes» que tombaram no CTIG (1963-1974), publicada no P18860 (*), anexo agora a referente aos camaradas «Furriéis», apresentando-a ao Fórum organizada segundo a mesma metodologia anterior, ou seja, por quadros de categorias (acidente, combate e doença) e por ordem cronológica.

Porém, admitimos a hipótese desta lista estar incompleta, uma vez que existem alguns casos de ex-combatentes que tombaram nos diferentes TO que estão ainda por registar e/ou recensear, como são os exemplos de dois dos três camaradas da minha CART 3494, naufragados no rio Geba em 10AGO1972 [faz quarenta e seis anos], cujos corpos não apareceram e daí não fazerem parte dos documentos oficiais [P10246]. São eles: o Abraão Moreira Rosa (Sold; 1950-1972), da Póvoa de Varzim [registo do óbito em 23Nov1973], e o Manuel Salgado Antunes (Sold; 1950-1972), de Quimbres, São Silvestre, Coimbra [registo do óbito em 21Fev1973].

Entretanto, em homenagem a todos aqueles que não regressaram para junto dos seus familiares, aqui recordo os nomes de três furriéis, todos eles falecidos em combate no subsector do Xime, com intervalos de dois anos, região onde vivi, convivi e sobrevivi a muitas situações… francamente difíceis e de grandes emoções/tensões.

● Em 14NOV1968 – o furriel Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746.

● Em 26NOV1970 – o furriel Joaquim Araújo Cunha, da CART 2715.

● Em 22ABR1972 – o furriel Manuel Rocha Bento, da CART 3494.

Para que não fiquem na "vala comum do esquecimento", como é timbre no nosso blogue, eis os quadros estatísticos dos 221 (duzentos e vinte e um) furriéis, nossos camaradas, que tombaram durante as suas Comissões de Serviço na Guerra no CTIG, por diferentes causas: combate (n=139), acidente (n=68)  ou doença (n=14).


2. QUADROS POR CATEGORIAS E ORDEM CRONOLÓGICA










Jorge Araújo

(Continua)
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Notas do editor:

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16772: (De)Caras (54): Em homenagem ao António Vaz (1936-2015), que nos deixou há um ano na véspera de natal: "os guias e picadores do Xime: Seco Camará 'versus' Mancaman Biai"


Leiria > Monte Real > Hotel Palace Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de abril de 2012 > Da esquerda para a direita, o António José Pereira da Costa, o António Vaz, o Acácio Correia e o Jorge Araújo (ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74). Entre o António Vaz (ex-cap mil art, cmdt CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) e os restantes, graduados da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74), há duas outras subunidades pelo meio, a CART 2520 e a CART 2715...

Como antes da CART 1746, tinha havido a CCAÇ 1550, e como depois veio a CCAÇ 12 render a CART 3494...

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Leiria > Monte Real > Hotel Palace Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de abril de 2012 >  O ex-alf mil João Mata (à esquerda) e o ex-cap mil António Vaz, à direita, ambos da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69).  O João Guerra da Mata foi o último comandante do destacamento da Ponta do Inglês, um dos míticos topónimos da guerra da Guiné, retirado pelas NT em outubro de 1968... 

Conheci ambos, tal como ao Manuel Moreira, no nosso VII Encontro Nacional, em 2012. E a propósito, lembro-me da história que o António Vaz contava do João Guerra da Mata, no dia em que o Spínola, ainda periquito, "aterrou" na Ponta do Inglês:
– Não tenho a certeza de ter aterrado no sítio certo… –  disse, ao aterrar, o brigadeiro Spínola.
–  Saiba V. Exa. que está na Ponta do Inglês – respondeu o alf mil João Mata que usava na ocasião calções, barba, tronco nu e uma extraordinária boina de cor verde alface com uma estrela de metal.


Foto (e legenda): © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. O António Vaz (19936-2015) já não está entre nós. Morreu vai fazer um ano, na véspera de Natal. (*)

Deixou-nos muitas saudades. Tinha uma grande vontade de viver, e era um belíssimo contador de histórias. Algumas estão connosco no nosso blogue,, infelizmente não tantas quantas ele gostaria ter podido contar.

Penso que a última vez que o vi,  fora numa manife, no Terreiro do Paço, contra a troika e a política de austeridade, em data  que já não posso precisar, talvez em finais de 2013/princípios  de 2014. 

Tinha superado um ACV, achei-o combativo e otimista. "Agora vou a todas"!, garantia-me ele, referindo.se às manifes. De vez em quando telefonava-lhe, umas vezes respondia-me, outras não... . Na véspera do Natal de 2015, talvez até no próprio dia em que morreu, tive o pressentimento de o seu telemóvel calara-se de vez... Foi uma estranha premonição. Sabia que ele estava de novo doente, com uma neoplasia,,, 

O António Vaz entrara para a Tabanca Grande em 31/3/2012, e timha cerca de 25 referências no nosso blogue. Era lisboeta e, se não erro, trabalhara na antiga Direção Geral das Alfândegas. Casado, tinha pelo menos uma filha e netos, de quem não temos, infelizmente, nenhum contacto.

Quase um ano depois, apetece-me convocá-lo para as nossas fileiras e para as nossas conversas intermináveis, sob o poilão da Tabanca Garnde, versando a Guiné, o Xime, a guerra, o blogue... Fui repescar um poste antigo em que ele evoca a figura do pequeno Seco Camará, ostracizado pela elite mandinga do Xime, e contrapondo-a à figura, mais ambígua e distante, do Mancaman Biai, filho do chefe da tabanaca. Um e outro disputavam a liderança da equipa de guias e picadores do Xime. É interessante seguir o raciocínio do António Vaz e ver como ele toma partido por um deles, 

Nunca soube ao certo a etnia do Seco Camará... Sempre o considerei mandinga, mas não tenho a certeza, dada a rivalidade com o clã Mancaman Biai. Ele morreu em 26/11/1970 e está sepultado em Nova Lamego. Os mandingas, no início de 1970, estavam longe de ser a maioria da população do regulado do Xime, sob nosso controlo: no que restava daquele martirizado regulado, estavam recenseados 872 habitantes (745 fulas e 127 mandingas), distribuídos por 4 tabancas: Xime: 250; Amedalai: 160; Taibatá, sede de Regulado do Xime: 228; Demba Tacó: 234. Julgo que os mandingas viviam todos os no Xime. (Fonte: História da Unidade - Bart 2917, BambadincA, 1970/72).

Do nosso blogue o António Vaz disse palavras que  nos enchem de orgulho e reforçam a nossa motivação  para continuar a trilhar a difícil picada que é este projeto de partilha de memórias (e de afectos):

Seco Cmará em Mansambo (c. 1969).
Foto de Torcato Mendonça (2007)
"A Tabanca Grande é um fenómeno que eu, que não sou bloguista, me deixa abismado e de certo modo surpreendido, porque,  que eu saiba,  não tem paralelo com outras formas de depoimento escrito sobre outros teatros de operações nem outras actividades. Para todos que erigiram e alimentaram com contribuições várias este blogue presto aqui as minhas merecidas homenagens. (...)


2. Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (1): os meus picadores e guias, Seco Camará e Mancaman Biai (**)

Quando cheguei ao Xime, em janeiro de 1968, na "passagem do testemunho" que a CCAÇ 1550 [1966/67] fez da situação material e do pessoal adstrito (Pel Caç Nat, milícia e picadores), foi-me dito que o picador Seco Camará era o melhor da zona e que, nessa época, já levava 56 minas detectadas, o que para mim, nessa altura, era um número respeitável pois até à data, vindo de Bissorã, não tinha tido contacto frequente com tais engenhos.

Fiquei sabedor e considerei que a chefia do grupo de picadores estava, continuaria, bem entregue. Assim sucedeu durante alguns meses e o Seco era sempre convocado para as operações que pareciam mais complicadas.

Numa delas, em julho de 68, talvez a Op Golpear, com a paragem da coluna veio-me a informação:
 – MINA!!!

Ao chegar-me aos ouvidos, avancei para junto do Seco pois fora ele que a tinha detectado e operava. Aproximei-me dele com o cuidado requerido e fiquei a observar o seu procedimento. (Será que  a adrenalina que se liberta tem cheiro? O mato molhado parecia-me sempre adocicado mas naquela altura tinha mudado.)

Estava o Seco semideitado no chão e com a "pica" fazendo perfurações quase horizontais no terreno pois achava que este estava mais brando que o normal. Os gestos comedidos, o cuidado imenso e a tensão elevada ao máximo contagiaram-me. Tentava perceber se aquela textura do terreno correspondia ao que pensava ser uma "caminha" de mina.

Não mais esqueço a transformação que nele se operou: o seu semblante e a própria cor mudaram; o Seco estava cinzento de tão pálido que estava. Levantou-se,  lentamente dizendo:
– É mesmo mina, capitão!

A minha norma foi sempre "Mina rebenta-se, não se levanta". Arriscava contudo a perca do segredo da progressão mas era assim. Assim se procedeu mas o Seco teve o seu prémio pecuniário.

Vieram mais operações e num delas um alferes nomeado veio dizer-me que havia problema com a escala dos picadores, não queriam que o Seco fosse naquele dia e nos subsequentes porque não o queriam como chefe.
– Grande berbicacho – pensei eu.

As razões que me apresentaram não me convenceram: invocavam que aquele posto – chefe dos picadores –  devia ser desempenhado por alguém superior na hierarquia tribal. Prometi que resolveria o assunto depois daquela operação pois não era altura de estar com mais conversa.

O Seco foi como estava determinado mas com os resmungos dos outros picadores que acalmaram, talvez por eu ir nessa operação. Esta como outras foi "sem contacto, com vestígios" e,  num dos dias seguintes,  falei com o Seco que me disse que ele próprio não estava interessado em viver no Xime e preferia ir para outro lado.

(Eu à época não estava a par de eventuais "trabalhos sujos", já invocados neste blogue, que Seco desempenhara anteriormente. O comandante que me antecedeu [, da CCAÇ 1550,]  nada me referiu, embora quando arrumava as minhas coisas tivesse encontrado, na secretária a mim atribuída, um objecto formado por um cabo de madeira com 40 ou 50 centímetros ao qual estavam presos 3 ou 4 pedaços de arame farpado de idêntico comprimento formando um sinistro chicote. Destruí-o, pois não tinha como conduta torturar prisioneiros e achei que tal objecto prefigurava situações que sempre repudiei por princípio. Nos primeiros meses da comissão, em Bissorã, tive de travar, nem sempre com êxito, atitudes condenáveis por parte de milícias que facilmente se propagavam pelo pessoal da companhia.)

Quanto ao Seco, não consegui arrancar-lhe mais explicações e, falando no comando do Batalhão, em Bambadinca [, BCAÇ 2852], consegui arranjar-lhe um sítio para ele morar e que ele seria o "picador do capitão" e que seria convocado de vez em quando,  por mim, coisa que lhe agradou. 

Depois, falando com os picadores, vim a saber que, embora já desconfiasse, o chefe por eles desejado era o filho do chefe da tabanca, o Mancaman Biai, que desempenhou o papel até ao fim da comissão.

O Mancaman foi sempre uma pessoa reservada, discreta, embora entre o pessoal existisse certa desconfiança que me foi transmitida por diversas maneiras. O mesmo se passava com o chefe da tabanca que, na noite do ataque ao Xime, na passagem do ano de 1968 para 1969, que foi o mais forte da minha época, foi trazido para dentro do "quartel" por haver fortes suspeitas a seu respeito (não esquecer que a morte do furriel Dias, o vaguemestre da CART 1746,  e os muitos feridos na emboscada,  passara-se um mês antes). As coisas serenaram mas a desconfiança [manteve-se] com altos e baixos.

No dia da minha retirada, já com a LDG atracada no Xime, veio o Mancaman ter comigo,  se eu não lhe deixava uma recordação:
– Não, Mancaman, não tenho nada para te dar, mas já dei a ti e ao teu pai a possibilidade de não terem sofrido represálias que, numa certe altura, pareciam mais que prováveis.

Compreendia que as populações estavam divididas com a guerra e que era natural que familiares ou antigos amigos seus vivessem naquilo que à época eram bases IN e que isso era agora a realidade.
– Adeus, Mancaman.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de dezembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15553: In Memoriam (243): António [Gabriel Rodrigues] Vaz (1936-2015), ex-cap mil art, cmdt CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69); nosso saudoso grã-tabanqueiro nº 544, desde 2012

(**) Vd. poste de 20 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11429: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (1): os meus picadores e guias, Seco Camará e Mancaman Biai

Vd. também postes de:

26 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16764: Efemérides (241): a Op Abencerragem Candente foi há 46 anos: lembrando os nossos mortos, incluindo o Joaquim Araújo Cunha, e evocando aqui a figura do valoroso guia e picador das NT, Seco Camará (Bambadinca), rival do Mancaman Biai 

sábado, 15 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16603: A construção de Mansambo, em imagens (Carlos Marques dos Santos, ex-fur mil at art, CART 2339, 1968/69) - Parte I: era uma vez uma obscura tabanca do regulado do Corubal que mal se via no mapa...













Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos (2026). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Início da publicação de um trabalho sobre a "construção de Mansambo em imagens", realizado pelo Carlos Marques dos Santos, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora,  ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), subunidade adida ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Recorde-se aqui que, desde novembro de 1968,  o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2 km da Ponte dos Fulas, na zona de ação da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole. A coluna prosseguiu com apoio aéreo. A construção de raiz de um novo aquartelamento, como o de Mansambo (uma obscura tabanca que mal se vê no mapa, com meia dúizia de moranças), foi fundamental para  travar a progressão do IN nos regulados do Corubal, Badora e Cossé, e em particular meutralizar o temível comandante Mamadu Indjai, de que os "viriatos" da CART 2339 foram o carrasco.

Nove meses depois, fez-se a reabertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participaram 2 Gr Comb CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o destacamento A, e forças da CART 2413 (Xitole), formando o destacamento B.


2. Sobre o  CMS, recorde-se aqui o seu CV abreviado:

(i) é  natural de Coimbra, da freguesia de Santo António dos Olivais; 

(ii) estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro em Coimbra; 

(ii) assentou praça em Mafra (EPI) em setembro de 1966; fez a especialidade de atirador de artilharia em Vendas Novas;

(iii) iniciou a formação da CART 2339,  no RAL 3, Évora, em 28 de agosto de 1967, tendo partido paar a Guiné em 14/1/1968:

(iv) foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e vice-presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra.

(v) diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, fazendo parte da Comissão de Gestão);

(vi) efetivou-se na Escola Secundária de Avelar Brotero, onde integrou como vice-presidente o Conselho Directivo;

(viii) foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos;

(ix) está atualmente aposentado  e reside em  Coimbra.

domingo, 1 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16036: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (6): A capela do Xime (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)










1. Mensagem do Jorge Araújo, com data de 28 de abril

Caro Camarada Luís,
Boa Noite!
Os teus comentários expressos no meu último poste (*) , dos quais emergem um montão de memórias, levaram-me a elaborar uma resposta em nova narrativa histórica que anexo. Ela não esgota este tema, pelo que sugiro a quem pelo Xime passou e tenha fotos melhores que as minhas o favor de as publicar (**).

Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo. (***)

ABR 2016
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16026: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (3): Imagens com história... separadas por 44 anos: Xime (1972) e Monte Real (2016) (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)

(...) Tabanca Grande disse...

Jorge, é incrível, fui tantas vezes ao Xime, em geral em operações, mas reconheço que nunca andei a explorar a tabanca e o antigo posto administrativo... Desconhecia por completo a existência de uma capela!... Um gajo quando lá ia, ia sempre com os "cornos enfiados" no Poindom / Ponta do Inglês e na porrada que ia dar e levar.... Como já aqui escrevi o asubsetor do Xime era uma autêntica ratoeira, sempre que saía do arame farpado, a partir de Madina Colhido sentia-me "encurralado"... E algumas vezes tivemos que regressar a toque de caixa, com o apoio da artilharia, as granadas de obus 10.5, a silvarem por cima das nossas cabeças... Arrepiante!... Ninguém como a CCAÇ 12 foi tantas vezes ao Poindom / Ponta do Inglês... A CCAÇ 12 esteve 5 anos na guerra... de julho de 1969 a agosto de 1974!... Houve 3 "gerações" de quadros e especialistas, de origem metropolitana... Eu sou "sócio fundador"... Apanharam 4 batalhões diferentes em Bambadinca!... Os meus pobres camaradas guineenses deveriam ter ido ser todos condecorados no 10 de junho de 1974! Esses,sim, foram uns heróis e defenderam o seu "chão" (...)