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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24066: Notas de leitura (1556): Em "A Minha Guerra a Petróleo", por António José Pereira da Costa; Chiado Editora, 2019 - "Cerca das 281330AGO71", uma memória de guerra, uma apreciação de um facto (Carlos Vinhal)


Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Mansabá ea lgumas das tabancas (Mansomine, Manhau, Mantida, etc.) desactivadas no tempo da CART 2732 dentro da sua zona de acção, que a Leste, terminava na bolanha de Manhau (Vd. poste P12150, de Ernesto Duarte)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


N
o meu primeiro comentário no Poste 24063, fiz referência ao infortúnio que atingiu o então Cap Faria Monteiro, comandante da CART 3417, quando pisou uma mina antipessoal ali para os lados de Manhau.

No seu livro "A Minha Guerra a Petróleo", o nosso camarada António José Pereira da Costa, Cor Art Ref, faz referência este incidente nas páginas 159 a 167, porque o Cap Monteiro era, e é, seu amigo. Porque a narrativa está muito pormenorizada e fiel ao acontecimento, pelo menos nas horas difíceis passadas em Mansabá e em que eu e os meus camaradas tivemos a nossa modesta intervenção, não resisti a transcrever aqui no Blogue o capítulo na íntegra. Só espero que o nosso esforço tenha minorado a extensão dos ferimentos sofridos pelo Cap Monteiro.

A propósito, o livro "A Minha Guerra a Petróleo" ainda pode ser adquirido, tendo um custo actual de 14,00€, através da WOOK, por exemplo.
São 187 páginas de leitura interessante complementada com algumas fotos.

CV
********************

Cerca das 281330AGO71[2]

Este texto não é só mais uma memória de guerra, uma apreciação de um facto que veio ter comigo. Será a maneira como observei algo que sucedeu a outra pessoa e a memória que disso guardei, influenciada por situações que vivi antes e depois. Julgo que este texto pode ser considerado uma homenagem.

Saindo de Mansabá em direcção a nascente encontrávamos três pequenas localidades abandonadas: Mansomine, Manhau e Mantida. No tempo da paz eram servidas pela estrada que seguia para Banjara - esta já a mais de 18 km de distância - e que, na altura em que por ali andei, também já fora abandonada. Não pertencia ao nosso sector. Era apenas algo de que se falava...

Nos patrulhamentos que realizávamos naquela direcção, marcou-me especialmente a visão do quartel de Manhau, abandonado e destruído. Segundo apurei, fora um destacamento da Companhia de Mansabá, ocupado quinzenalmente por um grupo de combate e um pelotão de milícia com umas condições de vida muito más e para onde era necessário levar tudo, até a água, numa viatura-tanque. Qual seria a vantagem táctica de uma posição com aquelas características? Como tantos outros "quartéis da malta", acabara abandonado e destruído "à granada de mão", por volta de 1966.

Naquela altura, ainda se reconheciam as duas fiadas de arame farpado, agora ferruegnto e quebrado aqui e além, vagamente esticado entre as últimas varas que o tinham suportado. O cavalo-de-frisa ainda se mantinha de pé, mas inútil não chegava a vedar o acesso ao interior da área quadrada, que deveria ter tido cerca de trinta a quarenta metros de lado. No interior, nenhuma construção ou mesmo restos do que pudesse ter sido uma, eram identificáveis com clareza, mas no exterior, o sistema de iluminação continuava bem representado por alguns postes: uns já caídos, outros resistindo às intempéries numa posição quase vertical. Cada poste não era mais do que um tronco de palmeira cravado no solo, ao qual havia sido adossado pela geratriz um "abat-jour" cilíndrico deveras original.

Era constituído por um bidon vazio que tinha sofrido umas pequenas, digamos, adaptações. Uma das tampas - a que ficaria para baixo - fora removida, mas a outra apenas havia sido separada da superfície lateral do cilindro em pouco mais de metade do perímetro. Depois de aberta a geratriz oposta à que fora pregada ao poste, um petromax ficava pendente da face inferior da tampa, no interior do cilindro. Julgo que assim se pretendia preservar o candeeiro dos ventos e das chuvadas, mantendo o perímetro do aquartelamento iluminado. Sempre que um dos Petromax fraquejasse, o "electricista de noite" tinha uma tarefa a cumprir. Considero este abat-jour mais uma prova do "desenrascanço nacional" e do engenho (que não arte) dos Portugueses.

Todavia, o sistema fornecia pouca iluminação para que os defensores pudessem observar a área circundante da posição. Em compensação, o In dispunha de uma visão privilegiada sobre ela, a algumas centenas de metros de distância. Agora, olhar para este "quartel" era contemplar uma espécie de peça de arqueologia militar, que entristecia se procurássemos saber o que levava a que o destacamento fosse construído, sabe-se lá com que esforço, e depois abandonado. Depois deste, era a tabanca de Mantida, onde os militares que guarneciam Manhauiriam buscar laranjas de boa qualidade e correndo os inerentes riscos. Era uma lenda, mas para que tenha surgido é necessário que, pelo menos uma vez, lá tenham ido...

Devo ter ido a Manhau e Mantida duas ou três vezes, mas para além da visão das ruínas do quartel, tenho a imagem de uns dois metros de estrada onde a erva não tinha crescido, passado mais de um ano. Tinha sido ali... segundo se dizia e eu acredito, pois - soube dpois - que, além da mina que vitimara o Monteiro, havia mais três que o furriel de minas e armadilhas tinha detonado.

Eu estava em Bissau com a Bateria Ati-aérea, quando o Joaquim Evaristo me deu a notícia. O Monteiro[4] tinha pisado uma mina anti-pessoal. Há notícias que não podem ser dadas de outra maneira: de modo brutal e com uma frase curta e, como todas do mesmo tipo, de significado imediatamente dedutível. Não sei porquê, mas não fui logo ao Hospital. O Joaquim foi e, pouco tempo depois, só medisse:
- Está sem um pé.

Logo que me foi possível fui ao Hospital e localizei-o. Estava num quarto, deitado na cama com uma perna esticada e a outra erguida e apoiada em algo que se parecia com uma almofada...

Fiquei sem saber o que dizer, mas o silêncio de poucos segundos tornou-se impossível de suportar. Nestes momentos, sabemos que é necessário dizer ou fazer qualquer coisa, mas não temos a ideia do que possa ser. Se calhar, concentramo-nos em nós e no que sentimos, quando deveríamos considerar que o ferido ou o doente grave que ali está é que deverá estar antes de tudo.

Tartamudeei qualquer coisa, nem sei o quê. Depois tentei saber como as coisas tinham sucedido. A estrada abandonada ainda conservava as rodeiras, as marcas dos pneus das viaturas que por ali tinham passado. E foi ao movimentar-se pela área entre rodeiras que encontrou a mina.

Por outras experiências que tive, sei que a surpresa inicial deu lugar ao espanto e à pergunta feita a si mesmo:

- O que sucedeu?

Depois é uma mistura de dor sentida e uma vontade de sair dali, de tudo aquilo que não seja verdade e de um turbilão de perguntas que acabam por se redizir a uma certeza: "Estou gravemente ferido. Isto também me aconteceu a mim".

- A mim? Porquê a mim?

Os outros têm muito que fazer. A nós, nada mais resta do que aguentar a dor e sentir revolta contra a falta de sorte e a irreversibilidade da situação

Dez dias depoi de ter completado 24 anos!...

À chegada dos reforços vindos de Mansabá, os enfermeiros da sua Companhia já tinham garrotado a perna e metido o soro, procedimentos habituais nestas situações. Agora eram sete quilómetros em coluna, de regresso ao quartel, num percurso em que se queria evitar solavancos, sempre excessivos para quem sofre. Porém, nesse dia chovia e, devido à pouca visibilidade, os helicópteros não voavam. Podia ser que as condições melhorassem, mas há dias em que nem os astros ajudam. Cerca das cinco da tarde confirmou-se que o héli não viria e não houve outra solução que não fosse a evacuação, em coluna auto. A espera inglória na enfermaria foi angustiante. Uma tortura que nada justificava. 

Por fim, o pessoal de enfermagem "depositou" a maca numa das viaturas e a coluna partiu em marcha moderada. Seria uma viagem até Mansoa e daí, em ambulância, até ao hospital. Todavia a viagem de Mansoa a Bissau "não estava prevista" e a coluna por ser de quase cem quilómetros, até Bissau, debaixo de chuva intensa. Já tinham passado bastantes horas e o sofrimento físico e psicológico somavam-se, numa aritmética de revolta sem fim, que só terá tido uma paragem pelas seis e meia da tarde à entrada do Hospital Militar de Bissau. Tinham decorrido cinco horas.

Ouvi a descrição do Monteiro e, não podendo ou não sabendo, dizer mais, respondi-lhe que agora "era necessário reagir". No segundo imediato apercebi-me da agressão que tinha cometido. Há coisas que, mesmo que se pensem, não se dizem e o Monteiro fez-mo sentir respondendo-me.
- Reagir? Reagir, reages tu que tens duas pernas. Agora eu só tenho uma...

Fiquei sem palavras. Uns instantes de silêncio depois, despedi-me e deixei o quarto. Além do monte de gaze que marcava agora o fim da perna fiquei impressionado com a cor das gengivas que o ferido apresentava. Brancas. Disseram-me que era do soro que lhe fora ministrado, durante muito tempo. Por mim, penso que era um indício de anemia pela perda de sangue.

Poucos dias depois, voltei com o major Gaspar, nosso amigo e meu segundo-comandante. Ainda estou para saber o que o terá levado a aparecer, naquele dia, com as fitas das condecorações e com o brasão do Regimento de Artilharia n.º 3 (de Évora) sua unidade habitual. Era à tarde e os feridos e doentes tinham sido postos na varanda do hospital, talvez numa tentativa de lhes melhorar a disposição, se tal fosse possível...

A conversa foi curta e eu8 procurei ficar calado. O nosso amigo, talvez por ser mais velho, parecia ter maior capacidade de diálogo, mas, ao fim de alguns minutos, o silêncio acabou por surgir. O Monteiro disse, de repente e num tom que parecia subtil, mas que comportava uma crítica muito amarga e contundente:

- O meu major está muito bonito, com as condecorações!

Com o sol já baixo, ficou-me a imagem do major Gaspar com os olhos marejados, a dizer, como se se justificass:

- Calhou. Isto não é nada. Já estavam postas nesta camisa quando a vesti hoje.

Não arranjo melhor expressão para descrever a nossa saída da varanda: "Fugimos"

E chegou a véspera da evacuação para Lisboa.

De novo, o major e eu fomos ao hospital. O jantar já fora distribuído há muito e os corredores estavam desertos e escuros. Eu tinha para mim que seríamos recebidos com frieza, se não mesmo com agressividade. Porém, ao entrarmos no quarto, fomos saudados com alegria e boa disposição. Era a saída da Guiné, o retorno à "Metrópole" e à família. Era o fugir dali, um lugar onde não pertencia, para um sítio onde poderia reencontrar os seus, aqueles que havia deixado pouco mais de dois meses antes.

Fiquei surpreendido por falarmos com certo à-vontade e eu, já não me lembro a propósito de quê, disse qualquer coisa como:

- Pois é, a vida está má!

O Monteiro tratou-me pela alcunha e comentou:

- Boa piada PK! Boa piada! Olha, que até o meu coto se ri!... - e, agarrado à perna, abanava-a com as mãos.

Foi então que concluí que uns produtos daqueles que tiram as dores e dão boa disposição, talvez euforia, deveriam ter andado por ali, misturados na sopa ou mesmo em todo o resto do jantar.

O Gaspar, por seu turno, aproximou a orelha do coto entrapadíssimo e, pedindo-lhe que ligasse o transmissor, comentou a qualidade da música que estaria a ouvir.

Mais uma vez fiquei sem saber o que dizer. Não me lembro se saí por minha iniciativa, por não poder suportar o surrealismo daquela cena, ou se fui levado pelo final da visita, decretado pelo meu segundo-comandante, para meu alívio, confesso.

A partir daqui e ao longo da minha vida, fui recordando duas situações que desenterrei na memória e que envolviam pernas, as pernas do Monteiro. Uma ainda na Academia e outra já quando éramos oficiais.

Nunca tive grande jeito para um qualquer desporto em especial. Contudo, um dia descobri o basquetebol. Achei-o curioso, mas cedo concluí que deve ser dos jogos de bola mais difíceis de praticar. Ou seria "o árbitro" que me perseguia? Certo é que, sempre que eu tocava na bola fazia falta, "por passos". E não havia maneira de aprender a técnica. E aquela regra é tão apertada, convenhamos!...

Apesar disto, não desisti e resolvi aprender com o Monteiro. E uma das coisas que ele me ensinou foi que, ao receber a bola com ambas as mãos, eu deveria escolher um "pé-eixo" que, a partir daí não poderia mexer. Era como se estivesse soldado ao chão. Pelo menos, foi o que entendi. Acabei por desistir da aprendizagem, mas mantive o gosto pela modalidade, graças às indicações do meu improvisado mestre.

Recordei também a cena na Sala de Oficiais da Escola Prática de Artilharia para onde o nosso curso de tenentes tinha sido enviado para o Curso de Promoção a Capitão, que, depois, não valeu. Mas isso já são questões laterais. Uma manhã, no rádio da sala passava "Les Champs-Elysées", na voz de Joe Dassin. Bela melodia e letra curiosa e bem construída Andávamos pelos nossos vinte e dois a vinte e cinco anos e fôramos musicalmente educados na música europeia. Tínhamos cinco anos de francês, no ensino secundário, e numa música como aquela era fácil encontrar encanto. Imediatamente constituimos uma libha de seis ou sete bailadores com as mãos apoiadas no ombros do que nos ficava ao lado. Depois, em sincronismo, atirávamos alternadamente a perna direita para a esquerda e a perna esquerda para a direita, ao rítmo da música, uma gajice própria dos jovens que éramos, apesar de já todos termos um ano de África, em Angola, em Moçambique ou na Guiné para onde partíramos três e só dois haviam voltado. Naquela idade, ainda tínhamos uma certa garridice que permitia enfrentar o futuro com certo ânimo e confiança, mesmo tendo já adquirido uma certa (má) experiência da vida e sabendo que os tempos que se avizinhavam tinham tudo para ser de provação. A dada altura alguém comentou:
- Olhem só para isto! Os futuros comandantes das companhias de Artilharia que irão para o Ultramar!...

O grupo desfez-se, de imediato. Caíramos em nós. No fundo, éramos oficiais respeitáveis e conscientes dos nossos deveres e não podíamos permitir-nos a brincadeiras como aquela...

Depois da evacuação para Lisboa, tive notícias dispersas do Monteiro, até nos encontrarmos na AM na celebração dos trinta anos do nosso curso. Nessa altura, disse-me que era professor. "Professor", mas com P Grande. Por mim pensei:

- Ainda bem! Nem outra coisa era de esperar de um Homem da minha geração!

Mem-Martins, 10 de Agosto de 2018

____________

Notas do autor:

[2) - Esta é a maneira de referir nas comunicações militares ou em documentos escritos, algo que sucedeu cerca das 13 horas e 30 minutos do dia 28 de Agosto de 1971. Fica assim constituído o chamado "grupo data-hora".

[3] - Naquele tempo, nas unidades tipo Regimento da Metrópole, havia um "electricista de dia" nomeado por escala.

sábado, 18 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17154: O Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos que eu conheci (3): Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72, nosso coeditor


Guine > Região do Óio> Mansabá > CART 2732 (1970/72> 28 de novembro de 1971 > Interior do quartel: O Carlos Vinhal (à direita) com o o Dias, Fur Mil Mec Auto.

Foto (e legenda): © Carlos Vinhal  (2014). Todos os direitos reservados. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


Guiné > Região do Oio > Mapa de Farim (1954) >  Escala 1/50 mil > Detalhe: Posição relativa de Mansabá e Manhau... A norte fica Farim.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


1. Texto, recebido a  3 de novembro de 2006, há mais de 10 anos, da autoria de Carlos Vinhal,  ex-fur mil art, Minas e Armadilhas,  CART 2732, Mansabá (1970/72), nosso coeditor, e publicado sob o poste P1325 (*)

(...) Sobre nosso Coronel de Cavalaria António Valadares Correia de Campos (**), vou contar um episódio onde eu e ele fomos intervenientes.

Em 10 de Agosto de 1971 chegou a Mansabá a CART 3417, companhia independente como a nossa, para fazer o seu IAO connosco. Faziam alguma instrução no quartel e acções de patrulhamento e emboscadas no mato. A princípio integrados em pelotões da CART2732, em fase mais adiantada, sozinhos.


O Major Cav Correia de Campos, 
Comandante do COP 6

O Comandante desta Companhia [CART 3417] era um capitão muito jovem, daqueles que a determinada altura começaram a proliferar pela Guiné em virtude do desgaste dos capitães mais velhos e com algumas comissões de serviço em teatro de guerra.

No dia 28 de Agosto de 1971, pela manhã, saíram para o mato acompanhados por alguns elementos do Pelotão de Milícias 253, para uma zona não muito distante, mais propriamente para a zona da Bolanha de Manhau, a leste de Mansabá.

Por volta das 13 horas dirigia-me eu à messe para almoçar, quando o então Comandante1 do COP 6, Major Correia de Campos, encontrando-me na parada, me ordenou para eu avisar o oficial de piquete de que era preciso organizar imediatamente uma coluna auto para ir a Manhau e que o furriel de Minas e Armadilhas deveria ir também.


O Comandante da CART 3417, vítima de uma mina A/P 

na bolanha de Manhau, em 28 de Agosto de 1971

O Major Correia de Campos acrescentou que o comandante da CART 3417 tinha pisado uma mina antipessoal, precisando de evacuação urgente e que havia mais minas detectadas, pelo que era preciso neutralizá-las. Informei-o que era o meu pelotão que estava de piquete e que eu mesmo era o furriel de Minas e Armadilhas. Disse-lhe também que iria providenciar no sentido de que as suas ordens fossem cumpridas imediatamente.

Organizada a coluna, prontamente ele subiu para a viatura da frente. De pé, ao lado do condutor, com uniforme não camuflado e com os galões nos ombros, viajou até ao local para recolhermos o ferido e para eu me inteirar da quantidade de minas a neutralizar. O dia estava cinzento, caía uma chuva miudinha incessante e o percurso foi feito em picada por zonas de alto risco de contacto com o IN e de alta probabilidade de aparecimento de minas anticarro. Nem mesmo assim ele se protegeu da intempérie e das possíveis vistas do IN.

Chegados, deparámos com o capitão já assistido pelos enfermeiros da sua companhia. Tinha já a perna garrotada e estava a soro. Vociferava contra a sua falta de sorte e estava visivelmente nervoso. O caso não era para menos. Era muito novo e tinha sido ferido logo na sua primeira comissão de serviço no Ultramar.

Como se pode depreender, o moral das tropas estava muito em baixo. Foram sujeitos à mais dura provação. O seu comandante tinha sido, cedo de mais, vítima da guerra. Não estavam em condições de continuar a instrução daquele dia pelo que iriam regressar connosco.

Organizou-se a coluna de regresso ao quartel. O nosso Major e o sinistrado vieram na minha viatura. O percurso foi feito devagar para evitar solavancos exagerados.

O capitão recolheu à enfermaria para ser devidamente tratado e esperar por um heli para o evacuar para o HM 241. Eu fui aprontar o meu equipamento para voltar a Manhau, a  fim de rebentar as minas detectadas e trazer de volta os militares da CART 3417. A chuva continuava e a fome apertava, mas o dever obrigava.

Em Manhau rebentei três minas antipessoais e regressámos trazendo connosco o pessoal da 3417. Cerca das 15h00 pude comer qualquer coisa, requentada, só para não ficar em branco.


Uma coluna auto até ao HM241, em Bissau e, regresso a Mansabá: um pesadelo de 200 quilómetros

Cerca das 17h00 veio a ordem do nosso Major Correia de Campos para evacuar o comandante da CART 3417, em coluna auto, uma vez que a chuva não abrandava e os helicópteros não tinham condições para levantar.

O melhor que puderam, os enfermeiros acondicionaram o capitão numa das viaturas, para que a viagem de quase cem quilómetros até Bissau (!), debaixo de chuva intensa, se tornasse para o ferido o menos penosa possível. Só pedíamos a Deus que não tivéssemos nenhum contacto com o IN até Mansoa, porque então seria o bom e o bonito. Já bastava a chuva para complicar. O estado geral do sinistrado não era o melhor, porque já tinha passado bastante tempo desde a triste ocorrência. As horas de sofrimento físico e psicológico somavam-se.

Lá nos pusemos a caminho em marcha moderada, convencidos de que só iríamos até Mansoa. O normal seria as tropas dali continuarem até Bissau, mas não. Constatámos que não estava prevista nenhuma coluna, pelo que com muita resignação, espírito de sacrifício e altruísmo, continuámos nós a viagem até ao HM 241 onde chegámos cerca das 18h30. A viagem não se pôde fazer em velocidade elevada para não fazer sofrer ainda mais o ferido.

Voltámos tão rápido quanto possível, porque a noite já ia alta. A chuva que nos tinha acompanhado até Bissau, continuou até Mansabá.

Voltando ao senhor Coronel Correia de Campos, quem sou eu para enaltecer a sua figura? Sei apenas que era chamado para as situações mais complicadas no CTIG. A determinada altura deixou o comando do COP 6 [, em Mansabá,]  para assumir o comando noutra zona complicada da Guiné onde a sua presença era mais necessária.

Carlos Esteves Vinhal
Ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas
CART 2732
Mansabá, 1970/72
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1325: Memórias de Mansabá (7): O Comandante do COP6, Correia de Campos, e as Minas na Bolanha de Manhau (Carlos Vinhal)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)


Foto nº 13 > Foto de grupo: os cozinheiros e ajudantes de cozinha da CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)


Foto nº 1 >  Joviano Teixeira


Foto nº 2 > O Joviano é o primeiro de pé, do lado direito


Foto nº 3 > Sentado num cais, o  Joviano é o primeiro, do lado direito


Foto nº 4 >  O Joviano é o primeiro do lado direito


Foto nº 5 > O Joviano, junto ao monumento às forças ao serviço do COP 7 (Bafatá) que ocuparam e construíram a partir de 1972 o aquartelamento de Gampará, desalojando o PAIGC da  margem esquerda da foz do Rio Corubal (península de Gampará, região de Quinara, habitada sobretudo por beafadas): entre outras unidades, a CART 3417 (Magalas de Gampará), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCAÇ - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29,  o Pel Mil 331, e a 38.ª CComandos


Foto nº 6 > O Joviano  em cima da cobertura de um abrigo...


Foto nº 7 > O Joviano é o primeiro do lado direito


Foto nº 8 > Num bagabaga, o Joviano é o primeiro do lado direito (1)


Foto nº 9 > Num bagabaga, o Joaviano é o primeiro do lado direito (2)


Foto nº 10 > Foto de grupo: esfolando uma vaca


Foto nº 11 > O Joviano à volta dos tachos e panelas (1)


Foto nº 12 > O Joviano à volta dos tachos e panelas (2)

Fotos: © Joviano Teixeira  (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem enviada, em 8 de abril último,  pelo nosso camarada Joviano Teixeira, natural de Tavira [, foto à direita,] que passa ser o grã-tabanqueiro nº 687:

Boa noite Graça

Venho enviar algumas fotos da minha companhia, a CCAÇ  4142, "Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74), no sentido das mesmas poderem ser publicadas no blogue, o qual acho muito útil porque se trata de um recurso muito importante.

Anexo as fotos:
Abraço,
Joviano Neto Mendonça Teixeira
Nascido a  16 de março de 1951
Luz de Tavira, Tavira

PS - Vou tentar legendar as fotos e identificar os camaradas que me lembrar.
Agradecido



Guiné > Região de Quinara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

2. Resposta do editor, no mesmo dia:

Joviano: Recordas-te do nosso convite para integrares a nossa Tabanca Grande ? (*) Na altura escrevemos: "O ideal era termos duas fotografais tuas, uma atual e outra do teu tempo de Guiné, para a malta te poder reconhecer e contactar. Ficas, desde já, convidado a integrar a nossa magnífica Tabanca Grande. Entre camaradas e amigos da Guiné, vivos,  somos já cerca de seis centenas. Serás bem vindo, tanto mais que não temos ninguém que represente os 'Herdeiros de Gampará'. Por outro lado, sobre Gampará também só temos nove referências. Espero que nos contes histórias do teu tempo de Gampará."...

Hoje estamos a caminho dos 700... E tu passas a ser o nº 686 (**)... Enfim, demoraste algum tempo a  responder-nos... De qualquer modo, diz-nos algo mais sobre ti... Julgo que estavas ligado à cozinha, a avaliar por algumas fotos que nos mandas... Se puderes, completa as legendas: diz-nos onde e em que data as fotos foram tiradas, quem são os teus camaradas, etc. A maior parte deve ser de Gampará. As fotos foram editadas e melhoradas por mim, foram também renumeradas... As mais recentes, que me mandaste, serão publicadas oportunamente. Desse lote é a nº 13.

Aqui fica, para já, a tua apresentação formal à Tabanca Grande. Espero notícias tuas em breve.
Um alfabravo.
Luís Graça. 

PS1 - Fiz tropa em Tavira e voltei lá há pouco tempo... Bela terra!...

PS2 - Leitor do nosso blogue, é o Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau,  há mais de 2 décadas; foi  alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; continuamos a aguardar que ele nos mande uma foto desses tempos heróicos para o apresentar formalmente à Tabanca Grande.


3. Mensagem recente (8 de abril) do nosso camarada Virgílio Valente


Caro Luís Graça,  olá!

Também me comprometi contigo e ainda não cumpri. Tenho fotos dos "Herdeiros de Gampará" que vou tentar enviar, depois de fazer um scan. Também tenho a história oficial da Companhia, do arquivo militar, donde constam os nomes dos camaradas que por lá passaram!
Infelizmente estes últimos dois anos têm sido árduos e o tempo tem escasseado, mas vou cumprir o que te prometo. Mais vale tarde que nunca.

Abraço de Macau.
Virgílio Valente

«Se quer ir depressa, vá sozinho! Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)
«If you want to go fast, go alone! If you want to go far, go together!» (African Proverb)

_____________

Notas do editor:

(*) 15 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11941: Em busca de... (227): Pessoal da CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74 (Joviano Teixeira, residente em Tavira)

(...) De: Joviano Teixeira  

Data: 11 de Agosto de 2013 às 16:27
Assunto: Pedido

Boa tarde, camarada

Desde que voltei da Guiné que não sei nada dos meus camaradas. Apenas sei que quase todos eram da região norte: Lamego, Mondim de Basto, Viana do Castelo, Porto etc.

Pertenci à CCÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, Guiné. 1972/74.

Se te for possível localizar alguém, nomeadamente saber o local e data do próximo encontro, agradeço.

Resido em Tavira e, como disse, nunca mais soube da malta.

Obrigada pela dedicação (já visitei o blogue e gostei).
Cumprimentos, Joviano.

(**) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12247: Memória dos lugares (248): Em Gampará, sítio desolador, o dia mais feliz era quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau... (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando, 38ª CCmds, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará >  1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará),  assinalando a passagem  por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outars tropas especiais. Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.




Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá)  > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gamapará >  Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes, hoje taxista na praça de Lisboa, e membro sénior da nossa Tabanca Grande.

Fotos: © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.

1. No nosso blogue, temos 12 referências (ou marcadores) sobre Gampará e 3 sobre Gaujauará. Temos falado pouco sob esta pensínsula de Gampará, correspondente à margem esquerda do Rio Corubal e durante muito tempo um "santuário" do PAIGC. Era "chão beafada"... Já a Ponta do Inglês, com 23 referências, em frente a Gampará, na Foz do Corubal, mas na margem direita do rio,  tem tido mais "tempo de antena", uma vez que fazia parte do subsetor do Xime (Setor L1, Bambadinca)...

Nos últimos anos da da guerra (1972/74) passaram por lá, pela pensínsula de Gampará, de acordo com os nossos registos bloguísticos,  a 38ª CCmds e CCAÇ 4142 (*).  Mas houve mais tropa nossa, ao tempo em que Spínola fez uma grande ofensiva contra as chamadas regiões libertadas do PAIGC (por exemplo, o Cantanhez, embora já no fim do ano de 1972).

Está na altura de revisitar um poste antigo, do Amílcar Mendes, da 38ª CCmds, que conheceu o resort de Gampará (**), antes da malta da CCAÇ 4142. Quem tem trágicas memórias de Gampará e o nosso Victor Tavares e os seus camarasas da CCP 121 / BCP 12 que, uns meses antes, em 4/3/1972, sofreram 6 mortos e 12 feridos, no decurso da Op Pato Azul (***).


2. Memória dos lugares >  Gampará (38ª CCmds, agosto/dezembro de 1972)

por Amílcar Mendes [, foto atual, à esquerda]


(i) A cerveja de marca Mijo

Em Gampará não existe gerador. As noites são mesmo noite e, tirando umas chamas improvisadas nas garrafas de Cristal, nada se vê. No arame farpado duplo, os sentinelas esfregam os olhos para tentar distinguir vultos junto ao arame farpado. Pendem do arame centenas de garrafas de cerveja vazias que são o último grito em tecnologia de alarme. Nesta terra do nada, nada há. Temos uns bidões vazios, fizemos umas caleiras em chapa para apanhar a água da chuva e é dessa água que enchemos os cantis e nos lavamos.

A população beafada, embora seja muito hospitaleira, é muito ciosa das suas coisas e não abre mão dos animais, somos então obrigados a ir ao desenrasca até porque já atingimos a saturação dos petiscos de Gampará: cubos de marmelada com bianda, bacalhau liofilizado com bianda, chouriço intragável com bianda e tudo acompanhado por cerveja com temperatura ao nível do mijo...

Dizia-se então em Gampará,  quando os hélis vinham trazer mantimentos, que vinham entregar cerveja marca Mijo. Assim se vive em Gampará!


(ii) Feliz Natal e um Ano Novo cheio de 'propriedades'...

Todas as noites,  e sempre à mesma hora, na ausência de música, ficamos entretidos a tentar contar as morteiradas que brindam o destacamento do Xime! Ficamos à espera quando acaba lá e os tubos sejam virados para o nosso lado... Nunca na Guiné atingi um estado de magreza igual. Nunca na Guiné as condições de vida foram tão miseráveis.

Entramos no mês de Outubro [de 1972]  e vei o cá uma equipa da Emissora Nacional para gravar as mensagens de Natal para a nossa família. Não foi fácil. Todos íamos para um canto repetir vezes sem conta: Queridos Pais, irmãos e irmãs e restante família, desejamos um Natal feliz e um Ano cheio de 'propriedades'!... Esta ultima palavra era emendada mil vezes, que isto com os nervos e emoção não é fácil !

E como a ladainha era igual para todos, só muito depois é que muitos se lembravam que só tinham irmão ou irmãs, mas isso não era problema. Estavam presentes as Senhoras do Movimento Nacional Feminino. Animavam-nos porque a meio da mensagem muitos desatavam a chorar. Uma das Senhoras era de uma simpatia sem igual.(Só anos mais tarde soube que era a Cilinha!) .

(iii) O dia mais feliz: quando chegava a LDG com as 'meninas' de Bissau...

Em Gampará um dia verdadeiramente feliz para os militares era quando chegava a LDG e vinham as meninas de Bissau, trazidas pelo Patrão, e que tinham por missão aliviar o stress do pessoal.

As meninas chegavam, instalavam-se numa tabanca, o pessoal passava pelo posto de enfermagem (?), recebia o sabão asséptico, o tubo da pomada para meter pelo coiso acima a seguir ao acto... Entretanto formava-se a bicha e trocavam-se larachas para matar o tempo, do tipo Quando chegar a minha vez com tanta gente, 'aquilo' parece o arco da Rua Augusto!.

A seguir era rezar para que o esquenta não aparecesse...

(iv) O nosso regresso a Bissau

19 de Outubro de 1972.  Soubemos hoje que metade da 38ª CCmds regressa amanhã e outra metade irá permanecer aqui a fim de dar o treino operacional à CCAÇ 4142 até 3 de Novembro de 1972. O meu Grupo de Combate será um dos que regressa.

Gampará, com todas as privações, teve o mérito de reforçar ainda mais os laços de amizade e confiança da 38ª CCmds. Aprendemos na privação a dar valor às pequenas coisas que a vida nos dá. A amizade entre os praças, sargentos e oficiais é,  na 38ª CCmds, visível  a quem observa a Companhia de fora. Essa amizade irá refletir-se em diversas ocasiões e irá levar a Companhia a muitos sucessos na actividade operacional.

20 de Outubro de 1972. Pela MSG imediata 3831/c , a 38ª CCmds regressa a Bissau, donde segue para Mansoa [, CAOP1,] para um período de descanço, ficando apenas a realizar segurança imediata ao Aquartelamto. (Esse período de descanso só durou três dias, logo aseguir correram connosco para Teixeira Pinto, de tão má memória para a 38ª CCmds). (****)

Amílcar Mendes
1º Cabo Comando
38ª CCmds
Guiné 72-74

2. Comentários do editor:

A CART 3417  foi mobilizada pelo RAL 3. Partiu para o TO da Guiné em 26/6/1971 e regressou a 24//9/1973. Teve 4 comandantes, sendo o 1º o cap art António Ângelo de Almeida Faria...Esteve Mansabá, Bissau, Ganjauará, Quinhamel, Bissau e Quinhamel

A CCAÇ 4142/72 foi mobilizada pelo RI 1. Partiu para o TO da Guiné em 16/9/1972 e regressou a 25/8/1974. Comandante_ cap mil cav Fernando da Costa Duarte. Esteve sempre sediada em Ganjauará.
_________________

Notas do editor:

Vd. poste de

(*) 3 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12246: O Nosso Livro de Visitas (168): Elisabete Gonçalves, filha do nosso camarada Victor Gonçalves, Sargento-Chefe que pertenceu à CCAÇ 4142 (Ganjauará, 1972/74)

(**) Vd 19 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2775: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (3): Nem só de guerra vive um militar

Vd. postes anteriores. desta série:

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador

(...) 15 de Agosto de 1972 - Pelas 09H30 do dia 15 de Agosto 1972, a 38ª CCmds segue via fluvial na LDG Alfange com destino a Gampará nos termos da mensagem Confidencial Imediata 3054/c, de 9 de Agosto de 1972, do COMCHEFE (REPOPER). Chega pelas 14h30 deste dia fazendo a sua apresentação e, passando a reforçar o COP-7 [Zona Leste, Bafatá], rendendo a 2ª Companhia de Comandos Africanos. (...)

(...) Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe. (...)

16 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome

 (...) 2ª quinzena de Agosto de 1972

Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.

Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.

Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.

Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata. (...)

(***) Vd. postes de:


9 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7916: Efemérides (61): 4 de Março de 1972, uma data trágica para a família pára-quedista: 6 mortos e 12 feridos, em Gampará, na margem esquerda do Rio Corubal (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os pará-quedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gampará (Victor Tavares, CCP 121)

(...) Desta tragédia para a família pára-quedista, que jamais esquecerá este dia, resultaram seis mortes, Alf Mil Pára-quedista Abreu, Furriel Pára-quedista Cardiga Pinto, PCB/Pára-quedista 47/68 Santos , PCB/Pára-quedista 129/69 Almeida , Sol/Pára-quedista 318/69 Jesus , PCB/Pára-quedista 412/69 Sousa, 2 feridos graves e nove com menos gravidade, Furriel Pára-quedista Casalta (Comandante da 1ª secção do 2º Pelotão) , Sol Pára-quedista Inês (evacuado para a metrópole ), Ferreira, Tavares, Ventura, e 1º Cabo Pára-quedista Figueiredo, todos do 2º Pelotão, e o Sold Pára-quedista Salgado - Estilhaço, de alcunha - do 1º Pelotão, faltando três por identificar pois, passado todos estes anos, já não me recordo, e ficará para sempre uma saudade enorme D’AQUELES EM QUEM PODER NÃO TEVE A MORTE" (...).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3445: Tabanca Grande (96): Ten Cor Art José Francisco Robalo Borrego, ex-1.º Cabo do Gr Art 7 e Furriel QP do 9.º PELART (1970/72)

Ten Cor José Francisco Robalo Borrego, que pertenceu, como 1.º Cabo, ao Grupo de Artilharia n.º 7, de Bissau e, como Furriel do QP, ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné 1970/72)


1. Mensagem com data de 10 de Novembro de 2008, do Ten Cor José Francisco Robalo Borrego

Caros companheiros Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote

Assunto: O Bom Humor em Tempos de Guerra

Em primeiro lugar as minhas felicitações pela criação do blogue colectivo, o qual permite comunicarmos as nossas histórias passadas, há muitos anos, mas que se encontram bem arquivadas e conservadas nas nossas memórias.

Após a Recruta básica no Batalhão de Caçadores n.º 6 em Castelo Branco (Julho-Setembro de 1968), quis o destino que a minha Especialidade fosse Artilheiro de Campanha 10,5 e não Atirador de Infantaria, ou seja, estive na Guiné entre Julho de 1970 e Outubro de 1972, tendo lá chegado a bordo do paquete Alfredo da Silva, como 1.º Cabo Apontador de Campanha 10,5 (obus de Artilharia) e, graças a Deus, a minha actividade operacional não foi muito arriscada, quer nas colunas que tive de realizar, quer nos poucos ataques que sofri nos aquartelamentos onde estive colocado. Para tudo é preciso sorte!

A minha unidade era o Grupo de Artilharia n.º 7, de Guarnição Normal, estacionado em Bissau (Santa Luzia), perto do QG/CTIG e do Batalhão de Intendência. O Gr Art n.º 7, em 1970, tinha vinte e tal pelotões de obuses 10.5, 11.4 e 14 disseminados pelo TO da Guiné, actuando sobre as linhas de infiltração do IN e de reacção rápida aos ataques sobre os nossos aquartelamentos.

Após a minha promoção a Furriel do QP de Artilharia (Janeiro de 1972), marchei para o Sector do BCAV 3864 (1971/73) (Pirada) com destino ao 9.º PELART (Bajocunda), ficando adido à CCAV 3462 do referido Batalhão.

Foi lá que conheci o meu amigo João José Coelho Teixeira Lopes, Fur Mil, Comandante de uma Secção do 9.º PELART, sendo hoje um distinto médico.

Em Bajocunda tenho uma história engraçada, que passo a descrever.

Soldado Herodes

Quando me apresentei no Pelotão, verifiquei que fazia parte do efectivo um cão chamado Herodes criado pelos soldados, presumo, amarelo e branco. Não se sabendo bem porquê, o bicho ausentou-se durante três ou quatro dias e quando regressou à base, vinha todo sujo, num estado lastimável. Como era considerado soldado havia que proceder ao levantamento do respectivo processo disciplinar por ausência ilegítima. Vai daí, peguei numa folha de trinta e cinco linhas e na qualidade de graduado mais antigo redigi a punição que foram, salvo erro, cinco dias de prisão, tendo em conta o bom comportamento anterior.

Como o referido soldado não sabia ler nem escrever, colocou a pata sobre o papel, depois de molhada, através de uma almofada de carimbo azul que pedi emprestada na Secretaria da Companhia. Como a punição era mesmo para cumprir o Herodes ficou preso junto ao nosso abrigo.

Ao segundo dia de privação da liberdade o aquartelamento foi atacado e, como não houve tempo de o soltar, o desgraçado gania de medo com o barulho dos rebentamentos. No fim das hostilidades, foi libertado, porque tivemos compaixão dele. O Herodes, assim que se apanhou solto, fugiu para debaixo das camas e esteve lá uns dois dias que nem comer queria! Coitado, não merecia tanto castigo, teve azar!...

Ainda dentro do Sector do BCAV 3864, o 9.º PELART foi transferido para Paunca, em Abril ou Maio de 1972, onde se encontrava a CÇAC 11, constituída por elementos africanos, à excepção dos graduados e das praças especialistas que eram todos europeus.

O meu companheiro de pelotão e de tabanca era o já aludido, anteriormente, Fur Mil Teixeira Lopes que me dizia:
- Ainda te hei-de ver em primeiro-ministro - isto pelo facto de eu estudar muito nas horas vagas, o que muito ajudava a passar o tempo, aliás, posso dizer que comecei os meus estudos na Guiné, já que até aí não tinha tido possibilidades na vida.

“Enquanto se Luta, Constrói-se” era uma das máximas do general António de Spínola.

Nesta localidade, passaram-se duas histórias que o meu companheiro, Teixeira Lopes, pode confirmar.

Primeira História ou Galináceo, espécie em perigo de extinção

Existiam muitas galinhas, embora de pequeno porte, e como a nossa alimentação não era muito famosa, resolvi apanhar umas aves, com a cumplicidade do Teixeira Lopes, que consistia no seguinte: deitava um carreirinho de arroz em frente à porta da tabanca que se prolongava para o interior da mesma; o animal na boa fé entrava e depois era só encostar a porta pelo interior e a presa não tinha salvação.

Como o efectivo das galinhas começou a diminuir fomos avisados pelo nosso Comandante de Pelotão, Alferes Mendes, que já havia queixas da população e o melhor era deixarmos as galinhas em paz, assim fizemos em nome do bom senso e da boa vizinhança e também porque já andávamos com imensa azia de tanto churrasco, preparado por um soldado do Posto Rádio!

Segunda História ou Era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha

Numa bela noite de Abril ou Maio de 72, dois burros da população resolveram lutar e, já de madrugada, o burro perdedor aflito com os ataques do seu adversário fugia num galope acelerado até que encontrou um buraco para se esconder e esse buraco, vejam só, foi a nossa tabanca, cuja porta estava aberta por causa do calor. Depois foi o bom e o bonito para tirar o burro que mais profundamente penetrou na tabanca.

De marcha-atrás era impossível, porque o outro burro mordia-lhe; sair de frente também era difícil, devido à exiguidade do espaço da tabanca para fazer a manobra. Por fim, ao cabo de uma ou duas horas, lá conseguimos resolver a situação. Nessa noite não chateou o IN, mas chatearam os burros!

Finalmente, de 19 de Agosto a 21 de Setembro de 1972, ainda fiz uma perninha na CART 3417, pertencente ao COP 7, onde se encontrava o 29.º PELART em Ganjuará (Península de Gampará) na confluência dos rios Geba e Corubal a norte de Fulacunda, felizmente sem problemas.

Companheiros, presentemente sou Tenente-Coronel do SGE, presto serviço no Ministério da Defesa Nacional e tenciono passar à reserva em 16-11-2008.

Junto duas fotos: 1.º Cabo (Gr Art N.º 7 – Guiné); Ten Cor (actual)

Despeço-me com muita amizade e elevada consideração com abraços a todos os ex-combatentes: Portugueses e Africanos.

Lisboa, 10 de Novembro de 2008
José Francisco Robalo Borrego

2. Resposta enviada ao nosso novo camarada em 12 de Outubro de 2008

Caro camarada:

Na qualidade de relações públicas da Tabanca Grande, estou a responder-te em nome dos editores do Blogue.

É um prazer receber na nossa Tabanca mais um Oficial Superior do Exército, onde contamos já com a colaboração do Cor Ref António Marques Lopes, Ten Cor Rui Alexandrino Ferreira, Cor Ref Hugo Guerra, Cor Pereira da Costa e Cor Ref Coutinho e Lima. Contamos ainda entre os nossos amigos o Cor Cmd Ref Carlos Matos Gomes. Espero não ter cometido a falta grave de esquecer alguém.

Estamos curiosos pelo conteúdo das tuas histórias pois tiveste um percurso militar digno de registo. Na mesma comissão chegaste como 1.º Cabo e saíste como Furriel do QP. Fizeste mais alguma comissão de serviço ou foste salvo pelo 25 de Abril?

Com respeito às nossas normas de conduta, podes consultá-las no lado esquerdo da nossa página assim como aquilo que nós (não) somos

Consideramo-nos camaradas em toda a acepção da palavra e não levamos em conta os postos militares e a posição na sociedade civil. O respeito é a nossa divisa, tanto na discussão das ideias, como na diferença das convicções religiosas, políticas e outras. Assim o tratamento por tu é normal dentro da nossa Caserna.

Caro Robalo Borrego, entra, instala-te e começa a conhecer as pessoas e os cantos da casa.

Agora um apontamento de ordem mais pessoal. A dada altura do teu mail, dizes que fizeste uma perninha na CART 3417. Esta Companhia é-me particularmente familiar, porque foi a minha Companhia (CART 2732) que a acompanhou no IAO, em Mansabá. Por outro lado, há um acontecimento trágico registado no dia 28 de Agosto de 1971, dia em que o CMDT da 3417 que tinha saído sozinha, pisou uma mina AP na zona de Manhau. Foi o meu Pelotão que o foi evacuar ao mato, vindo na minha viatura no regresso ao Quartel sempre assistido pelos enfermeiros. Como a meio da tarde ainda não tinha sido evacuado para o MH 241 por meio aéreo, fizemos uma directa em coluna auto até Bissau, onde o deixámos para tratamento. Nunca mais soube nada desse, na altura, jovem capitão.

Caro camarada, recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia e dos editores em particular.

Carlos Vinhal

OBS:-Como brevemente vais passar à situação de Reserva, se mudares de endereço, não te esqueças de nos informar da alteração.
________________

Nota de CV

Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390: Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1956: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (2): Passa-se fome, muita fome

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª Companhia de Comandos > 1972 > O Comando Amílcar Mendes.

Guiné > Bissau > Brá > 38 CCmds > "Dia 14 de Agosto de 1972, na véspera de partir para Gampará, recebi o Crachá no quartel dos Comandos em Brá" (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > 38ª CCmds > "Estou atrás, à esquerda. Em segundo plano com o braço metido na ligadura o 1º cabo Cmd Simão que um ano mais tarde viria a morrer na ponte do Bachile" (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38 ª CCmds > 1972 > "Como vês, alojamentos de primeira classe. A ventoinha que aparece na imagem, nunca trabalhou em Gampará" (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > Gampará > "Eu, à direita, a almoçar na tabanca do padeiro. À esquerda o Sold Cmd Balsinha, de Borba, e ao meio o padeiro. Dias mais tarde num ataque a padaria foi c'os porcos " (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 38ª CCmds > 1972 > "Começa a notar-se os efeitos de uma boa alimentação..." (AM).

Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do RCorubal > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), "assinalando a passagem da minha Companhia" por Gampará (AM). Vê-se que por ali também passaram, ao servlço do COP (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29 e o Pel Mil 331.

Fotos e legendas: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Amílcar Mendes, com data de 24 de Junho de 2007:
Amigo Luís Graça: Assim que puder vou-te mandar a continuação do diário (III parte). Podes publicar o documento e as fotos que te envio, mas ressalvando sempre os direitos de autor.

Um abraço do A. Mendes,
ex-1º Ccabo Cmd da 38ª CCmds

2. Continuação de Diário de um Comando: Gampará (Agosto a Dezembro de 1972) > II Parte (1)

2ª quinzena de Agosto de 1972


Passa-se fome, mesmo muita fome. Saímos em patrulhamentos ofensivos dia sim dia não, para as regiões de Campana, Nhala, Guebambol, Ganjaurá, Sama, Gambachicha, etc. etc.

Dormimos em colchões pneumáticos mas já há muito que não tenho esse luxo porque as formigas roeram-me o colchão por baixo e estou a dormir no chão. A luz vem de candeeiros improvisados: uma garrafa de cerveja com gásoleo e com corda a servir de pavio.

Come-se muito mal, a não ser algum cabrito roubado ou alguns papagaios que se matam e o resto é bianda com marmelada, bianda com chouriço, bolachas com bianda e assim se vai vivendo. Perdi cerca de 10 kg até agora.

Tivemos problemas sérios com a população. O 1º cabo Simão (que meses mais tarde viria a morrer na estrada Teixeira Pinto -Cacheu) roubou um porco que se matou e assou no forno do padeiro para melhorar um pouco a diete do pessoal. Só que, e sabe-se lá como, o Homem Grande da tabanca descobriu e foi-se queixar ao comandante. Fomos obrigados a pagar o porco e de castigo fomos p'rá mata.

10 de Setembro de 1972

Os cabos da Companhia reuniram-se hoje todos e fomos falar com o comandante Capitão Pinto Ferreira. As condições de alimentação e dormida são péssimas e a intensa actividade operacional está a levar-nos a zero.


26 de Setembro de 1972

Hoje faço anos. Como prenda sai para o mato e à noite quando cheguei tinha muitas cartas e uma encomenda com alguns petiscos que desapareceram todos num instante.


13 de Setembro de 1972

Saímos hoje para uma operação helitransportada e vou anexar os relatórios (Acção Águia Errante):

38ª CCmds - História da Unidade > Cap II, página 9 > Registo da actividade da actividade operacional, em 12, 13, 16 e 18 do mês de Setembro de 1972, com destaque para o dia 13: Acção Águia Errante

Foto: © Amilcar Mendes (2007). Direitos reservados.

Missão: (

i) Acção de patrulhamento, emboscada e golpes de mão imediatos na região de Lagoa de Bionrá; (ii) Destruir instalações e meios de vida, criando um clima de instabilidade; (iii) Cpaturar ou aniquilar os elementos IN que se revelem e recuperar as opopulações.

Força Executante: 3 Gr Comb actuando isoladamente.

Planos estabelecidos para acção:
~
(i) Helitransportados os 3 Gr Comb, colocando-se na parte Norte de Lagoa de Bionrá, em locais diferentes,s endo recuperados de helicóptero a Norte de Farená Beafada; (ii) Apoio de DCON (DO 27 armado), em alerta no solo de Bissau e helicanhão, assim como helicópteriod e evacuações, em alerta no solo de Gampará; (iii) Apoio do Pel Art sediado em Gampará.

Duração da acção: 12 horas

Resultados obtidos:
(i) Pelo IN, 2 mortos e vários feridos, visto terem, sido deixados vários rastos de sangue; (ii) Feita a captura do seguinte material: 1 Met Lig Degtyarev; 1 Esp Semi-Aut Simonov; 1 Tambor de Met Lig Degtyarev com munições.

(Continua)
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post anterior > 7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1930: Diários de um Comando: Gampará (Ago-Dez 1972) (A. Mendes) (1): Um sítio desolador
(...) "15 de Agosto de 1972:
(...) "Gampará à vista! Desolador! O quartel é só tabancas que a tropa divide com a POP, arame farpado a toda a volta e uma dúzia de torreões com sentinelas. É aqui que iremos viver até quando calhe" (...).