Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 14. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta CCAÇ 14. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25169: In Memoriam (495): Major Inf ref Humberto Trigo de Bordalo Xavier, ex-cap op esp QEO, CART 3359 (Jumbembém, 1971), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1972) e CCAÇ 14 (Cuntima, 1973); era natural de Lamego (1935-2024) (Joaquim Mexia Alves)

 


Major inf Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego (1935-2024). Foto: cortesia de Joaquim Mexia Alves e da Associação de Operações Especiais (AOE), com sede em Lamego


1. Morreu ontem, aos 88 anos (nasceu em 3/5/1935),  o ex-cap inf op esp QEO Humberto Trigo de  Bordalo Xavier, o 3º comandante, por ordem cronológica da CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74). (*)

A triste notícia foi nos dada pelo António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974)].

Foi ele que nos reencaminhou para a página do Facebook do Joaquim Mexia Alves, cujo texto se reproduz com a devida vénia:


MAJOR HUMBERTO BORDALO XAVIER

Sou hoje confrontado com o falecimento do “meu capitão” Bordalo, que nunca chegou a ser “meu capitão”, mas era e foi sempre o meu capitão Bordalo.

Quando fui enviado a comandar tropas guineenses, muito especialmente o Pelotão de Caçadores Nativos 52, conheci em Bambadinca o então cap Bordalo, que era o comandante da Companhia de Caçadores 12, constituída também por militares guineenses, enquadrados por oficiais e sargentos da então metrópole.

Ambos tínhamos o curso de Operações Especiais (ele bem antes de mim), hoje conhecidos como Rangers.

A amizade entre os dois foi imediata e a nossa maneira de ser e de pensar tornou-nos extremamente unidos.

O capitão Bordalo era um homem simples, sem alardes (como são sempre os grandes homens), e um combatente extraordinário, que galvanizava as suas tropas por ser sempre o primeiro a liderar, mas também o primeiro a defender aqueles que estavam debaixo das suas ordens e, isso mesmo, incutiu em mim, o que nos trouxe alguns “amargos de boca” com alguns superiores nossos.

Nunca servi directamente sob as suas ordens, mas fizemos algumas operações militares conjuntas da sua CCaç.12 com o meu Pel Caç Nat 52.

Numa altura em que as condições de vida a que eu com outros estávamos sujeitos, o cap Bordalo foi o garante da minha “sanidade mental”, com o seu apoio sempre próximo, franco e amigo.

Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, quando eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo frente ao Hotel das Termas e vejo parar um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o cap Bordalo.

Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. 

A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.

Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à recepção por um motivo qualquer. 

Quando nos vimos, demos num abraço em que literalmente lhe peguei ao colo (o cap Bordalo Xavier era bem mais baixo do que eu), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados, com as lágrimas nos olhos.

O hall do Hotel estava cheio de gente, que ficou muito espantada por me ver assim abraçado a um homem de barbas.

Passados uns tempos, recebi uma convocatória para um encontro de Rangers em Lamego e decidi meter-me no carro e fazer a viagem.

Quem estava a receber os camaradas de armas era, como não podia deixar de ser, o então major Bordalo.

Mais um abraço daqueles que faz tremer o chão, e a “obrigação” de imediatamente me fazer sócio da AOE – Associação de Operações Especiais que, com um padrinho como ele, não podia de forma nenhuma recusar.

Seguiram-se anos de vários encontros em Lamego, até que a vida com as suas voltas, não me permitiu, ou eu não me disponibilizei para isso, e deixámos de nos encontrar.

Repetidamente me prometi a mim mesmo que iria a Lamego dar-lhe um abraço novamente e repetidamente o comodismo me “impediu” de o fazer, o que hoje, neste dia, me dói verdadeiramente no coração e na vida.

Podia ficar horas a escrever, a falar sobre o cap Bordalo, de como ele era um homem de coração grande, como era um verdadeiro comandante que comandava pelo exemplo, como era um amigo sempre pronto a me apoiar, mas também a fazer ver os erros que eu ia cometendo, como me safou de levar uma punição pela minha forma de reagir a ordens sem sentido, enfim, de como me fez mais homem, mais militar, mais oficial, mais amigo.

Ontem escrevia sobre as lágrimas. Hoje as lágrimas são minhas, e sim, um homem chora e eu choro a saudade de um homem bom que tornou a minha vida melhor.

À sua família o meu sentido abraço.

A ti (agora trato-te por tu), meu capitão Bordalo, até já, quando nos encontramos no cantinho do céu que recolhe os Rangers no seu eterno descanso

Marinha Grande, 13 de Fevereiro de 2024

Joaquim Mexia Alves 

Publicado em: https://queeaverdade.blogspot.com/ 

e na página do Facebook do Joaquim Mexia Alves (14 de fevereiro de 2024, 15:08)

(Seleção / revisão e fixação de texto / itálicos: LG)

Nota de LG: O ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves esteve na Guiné, entre dezembro de 1971 e e dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa). Nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca). Ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, do Cap QEO Xavier Bordalo.

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, António Duarte,  por mais uma vez estares a atento às notícias (boas e más) que interessam à Tabanca Grande e nos teres  feito chegar a "carta a Garcia". E obrigado ao Joaquim Mexia Alves por este comevedora e belíssima homagem a um camarada e amigo que acaba de deixar a Terra da Alegria.

O Bordalo Xavier tem 10 referências no nosso blogue. Nunca o conheci pessoalmente, com pena  minha: sou da primeira "fornada" da CCAÇ 12, então comandada pelo cap inf Carlos Alberto Machado de Brito, maio 69/mar 1971, mas sempre ouvi falar dele, como um grande comandante operacional; os camaradas  das "três gerações da CCAÇ 12", com quem tenho falado, sempre me transmitaram as melhores referêncas sobre ele, como militar e como homem.

Pertenceu à direção da Assoiação de Operações Especiais, com sede em Lamego. E tambéme esteve ligado aos corpos sociais dos Bombeiros Voluntários de Lamego.

Sabemos que o Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego, começou por ser, no CTIG,  o comandante da CArt 3359 (Jumbembém, 1971/73), do BART 3844, "Bravos e Sempre Leais" (Farim, 1971/73. Foi depois substituído pelo Cap Mil Inf Francisco Luís Olay da Silva Dias.

Foi igualmente, neste período, o 3º comandante, por ordem cronológica, da CCAÇ 12 (1969/1974), mas em data que não podemos precisar (1971/72, ou 1972/73), subunidade da guarnição normal do CTIG que teve os seguintes comandantes, por ordem cronológica:

Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito (maio 69/março 1971);
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa;
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier;
Cap Mil Inf José António de Campos Simão;
Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus.

A CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime) foi extinta em 18/8/1974.

Mas também comandou a CCAÇ 14 (que esteve em Cuntima, 1969/74, foi extinta em 2/9/1974):

Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Inf José Clementino Pais
Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues
Cap Inf Vítor da Silva e Sousa
Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos
Cap Art Vítor Manuel Barata

Fonte: CECA, 7.° Volume, Fichas das Unidades, Tomo II
Guiné, 1ª edição, Lisboa, 2002.

Recordaremos aqui, em próximo postel as referências elogiosas que lhe foram feitos em vida por camaradas  que o conheceram de mais perto (Victor Alves, António José Pereira da Costa, Joaquim Mexia Alves...). Para já deixamos aqui a expressão da nossa tristeza e os votos de condolências à família natural e à família "ranger".

_______________

Nota do editor:

sábado, 16 de setembro de 2023

Guiné 51/74 - P24659: As nossas geografias emocionais (6): o mergulho do astro-rei na praia de Faro (Eduardo Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)



Praia de Faro > 14 de serembro de 2023 > Pòr do sol

Fotos (e legendas): © Humbero Rosa / Eduardo Estrela (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



1. Mensagem do nosso amigo e camarada Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, a jóia da Ria Formosa (foto à esquerda):

Data . quinta, 14/09, 22:03
Assunto - O mergulho do astro-rei

Caro amigo e camarada!

Acabei há meia hora de ser presenteado com estas belas fotografias feitas por um companheiro, nosso contemporâneo. nas agruras da Guiné,  mais exactamente o Humberto Rosa,  ex-fur mil atirador de infantaria.

Como sabe que tenho estado por Cacela, não quis deixar de me proporcionar o pôr do sol de hoje na praia de Faro.

Tal como o mar da tua terra , cujas belezas tens mostrado no blogue, o mar do Algarve e o mergulho do astro rei nas suas águas também é muito bonito.

Calculava que tinhas que fazer trabalho de casa relativamente as fotos da piscina Farim. Pelo facto, o meu obrigado.

Continuação das tuas melhoras, boa vindima e abraço fraterno.

Eduardo Estrela

2. Comentário do editor LG: 

Obrigado, a ti e ao Humberto Rosa, pela partilha. Para ser nosso contemporàneo, deve tratar-se do ex-fur mil at inf da CCAÇ 2587 que foi connosco  no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969. Eu era da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12) , e tu  da CCAÇ 2592 /futura CCAÇ 14). Bate certo ? 

Não temos ninguém dessa companhia, que esteve em Mansoa, Jugudul e Porto Gole (1969/71). Convida-o, em meu nome,  a integrar a nossa Tabanca Grande. Sei que tem fotos da Guiné. Abraço para ambos. LG

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Guiné 61/74 -P24648: As nossas geografias emocionais (5): a piscina de Farim em dezembro de 1970 (Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3

Guiné > Região do Oio > Farim > Dezembro de 1970

Fotos (e legendas): ©  Eduardo Estrela (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



1. Mensagem do nosso amigo e camarada Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha,  a jóia da Ria Formosa (foto à direita):

Data - domingo, 10/09, 18:20 (há 3 dias)
Assunto - Piscinas

Boa tarde,  companheiro!

Na sequência do poste sobre piscinas na Guiné (*), descobri as fotos das quais te mando cópia em anexo, tiradas numa das poucas vezes que utilizei a piscina de Farim,  isto em meados de Dezembro de 1970.

Numa,  a atirar-se para a água, está o camarada Brotas, fur mil at inf,  da CCaç 2549,  estando ao fundo o Leonel que era o fur mil trms  da mesma CCaç. O outro camarada já não recordo quem seja (Foto nº 1)

Noutra, está o Brotas sozinho (Foto nº 2) e na outra está à esquerda o Leonel e à direita estou eu (Foto nº 3).

Vê-se parte das instalações e da prancha de saltos.

Abraço fraterno com desejos de rápidas melhoras do teu joelho.

Eduardo Estrela

P.S. - Não sei se a qualidade te permitirá colocar as fotos no blogue.

__________


quinta-feira, 15 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24401: Louvores e condecorações (14): Ordem da Liberdade, Grande Oficial, para o antigo cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, cmdt da CCAÇ 12 (e também da CCAÇ 14, e antes da CART 3359)

Insígnia da Ordem da Liberdade.
Imagem: Cortesia de
Wikimedia Commons 



1. Por Alvará n.º 12/2023, de 24 de abril de 2023, da Presidência da República, Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas, publicado no  Diário da República  n.º 80/2023, II Série, de 2023-04-24, pág. 23, foi agraciado com a Ordem da Liberdade, Grande-Oficial, o major (na reforma) Humberto Trigo de Bordalo Xavier. 

A Ordem da Liberdade, criada em 1976,  destina-se a "distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana e à causa da Liberdade".

 O antigo cap QEO Humberto Trigo Bordalo Xavier começou por ser o comandante da CArt 3359 
Jumbembém, 1971/73), do BART 3844, "Bravos e Sempre Leais" (Farim, 1971/73. Foi depois substituído pelo cap mil inf Francisco Luís Olay da Silva Dias. (QEO é a sigla de Quadro Especial de Oficiais, criado em 1969.)

Foi igualmente, neste período, o 3.º comandante, por ordem cronológica, da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74):

  • Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito
  • Cap Inf Celestino Ferreira da Costa
  • Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
  • Cap Mil Inf José António de Campos Simão
  • Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus

Mas também comandou a CCAÇ 14:
  • Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
  • Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
  • Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
  • Cap Inf José Clementino Pais
  • Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues
  • Cap Inf Vítor da Silva e Sousa
  • Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos
  • Cap Art Vítor Manuel Barata
Fonte: CECA, 7.° Volume, Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné, 1ª edição, Lisboa, 2002.


2. Sabemos pouco da ação do cap QEO no TO da Guiné.  Natural de Lamego, e tendo frequentado o Curso de Operações Especiais, como oficial miliciano, passou ao quadro de complemento. Continua  a viver em Lamego, mas está infelizmente muito surdo, o que dificulta ao máximo a interação com ele. Alguns dos nossos tabanqueiros, como os antigos "rangers" Eduardo Magalhães Ribeiro e Joaquim Mexia Alves, são alguns amigos ele.

Sabemos que os graduados e especialistas metropolitanos da CCAÇ 12, da chamada 2.ª geração (Bambadinca, 1971/72) tinham (e continuam a ter) uma estima muito especial por este oficial...  É recorrente referirem o seu nome nos convívios anuais (como aconteceu recentemente em Coimbra, no passado dia 27 de maio). Infelizmente há poucas referências (uma meia dúzia) ao seu nome, aqui no blogue. Aguardamos o envio de algumas fotos dele, por parte do Eduardo Magalhães Ribeiro e do Joaquim Mexia Alves.

Recordo aqui o elogio do cap QEO Bordalo Xavier feito pelo saudoso do Victor Alves (1949-2916), que foi fur mil SAM na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) (**)  

(...) Amigo Luís, conforme informámos (...), lá realizámos o nosso habitual encontro (...) o 34.º. Tem causado algum espanto, o facto de se ter começado a realizar, tão cedo, os nossos encontros...

Foram vários os factores que contribuiram para isso. Porém, o grande causador disso terá sido a vinda, para a CCAÇ 12, do Cap Humberto Trigo Bordalo Xavier, oriundo das Operações Especiais, e amigo pessoal de Spínola.

Ele soube muito bem provocar uma aglutinação e consequentemente uma união entre todos, ao ponto de estabelecer uma messe e bar para todos os militares da companhia oriundos da metrópole, sem distinção de posto...

Foi, na minha óptica, eata a principal razão da nossa união. Eu, por exemplo, como vagomestre e sempre que havia uma operação, por exemplo com saída às 4 da manhã, lá estava a dar pequeno almoço, pão quente e café à rapaziada que seguia. Assim como, mal regressassem, por exemplo, às 3 da tarde, tinham sempre a refeição com meio frango ou meio bife com acompanhamento à sua espera...

Foi isso que o Capitão pediu e foi isso que se fez. É evidente, dentro dos limites da guerra. Com fomos todos em rendição individual, nem sempre nos encontros conseguimos reunir todos, alguns já faleceram, outros emigraram e outros não vão porque... não.

Este ano conseguimos trazer mais duas presenças novas o que foi maravilhoso, foram eles o cabo radiotelegrafista Andrade, de Caldas da Rainha, e o cabo cripto Simões, de Lisboa. Isto quer dizer que não nos víamos há 37 anos, portanto foi muito bom.(...)

 

3. Também dele fala, com entusiasmo, o Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp, que esteve na Guiné, entre dezembro de 1971 e dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa). Nunca esteve sediado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão, o BART 3873, 1972/74, a que estava adida a CCAÇ 12:


(...) A sala de que fala o Vitor Alves, frequentei-a muitas vezes, aliás, para mim era a sala que eu frequentava nas minhas visitas a Bambadinca.

O Cap Bordalo Xavier, meu particularissimo amigo, é e foi na Guiné um homem de extraordinárias relações humanas, para além de um fantástico operacional, que conseguiu uma união notável com todo o pessoal, não só da CCAÇ 12 mas de outras unidades, como o meu 52.

Reside em Lamego, é major, obviamente na reserva, e é a alma da Associação de Operações Especiais. Infelizmente há muito que não contacto com ele, mas quero fazê-lo brevemente.

Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo à frente do Hotel das Termas e vejo para um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o Cap Bordalo.

Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.

Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à rcepção por um motivo qualquer. Quando nos vimos, literalmente num abraço como que lhe peguei ao colo, (o Cap Bordalo Xavier é bem mais baixo do que eu, o que não é de espantar), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados.

O hall do Hotel estava cheio de gente que ficou muito espantada de me ver assim abraçado a um homem de barbas. Foi dos encontros mais emocionantes da minha vida!!! (...) (***)

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG)
____________

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23353: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (4): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte III: Cerco e ataque IN (650/700 elementos) a Guidaje, de 8 de maio a 12 de junho de 1973



Guiné > Região do Cacheu > Carta da província da Guiné (1961) > Escala 1/ 500 mil > Detalhe: A fatídica picada Binta - Genicó - Cufeu -Ujeque - Guidaje...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)




1. Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, ou a "batalha dos 3 G" (ou batalhas ?),  já aqui tão acaloradamente discutida, analisada, comentada, ao ponto de alguns de nós termos perdido a serenidade e a contenção verbal que devem ser apanágio deste blogue de antigos combatentes...

Em 2023, os três G vão fazer meio centenário... Bolas, como estamos velhos como o c...!

Mas ainda há muito coisa para dizer, ler, ouvir e aprender, sobretudo aqueles de nós que não viveram na pele as agruras daqueles longos, trágicos mas também heróicos dias de maio e junho de 1973... Dias que não se podem resumir à contabilidade (seca) das munições gastas ou das baixas de um lado e do outro (e foram muitas, as baixas, as perdas). (*)

Nestes dia que correm de fim de prinevera, em que passam 49 anos sobre a Op Amílcar Cabral, em que o PAIGC jogou forte (em termos de meios humanos e materiais mobilizados) contra as posições fronteiriças de Guidaje (no Norte) e Guileje e Gadamael (no Sul), pareceu-nos oportuno repescar alguns postes e comentários que andam por aí perdidos... E publicar novas histórias ou informção de sinpose dos aconteimentos.

Daí esta série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?"...

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra! sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil  poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Damos continuação à publicação de um excerto da CECA )2015) sobre estes acontecimentos(*).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN a Guidaje, no Norte (de 8 de maio a 12 de junho de 1973)



(...) O inimigo desencadeou no mês de Maio uma operação que tinha por finalidade isolar Guidaje, tendo para o efeito flagelado esse aquartelamento e Bigene, quer para obrigar ao abandono e posterior destruição, quer ainda para impedir o auxílio da artilharia e das NT. 

Além disso deslocou elevado número de elementos para a estrada Binta-Guidaje com o fim de tentar neutralizar qualquer tentativa de reabastecimento.

No início de Maio, a guarnição militar de Guidaje (sob comando operacional do COP 3 com sede em Bigene), era constituída pela CCaç 19 e 24° Pel Art (10,5 cm), num total de um pouco menos de 200 militares.

Os efectivos do PAIGC, que se encontravam na região de Cumbamori 
[no interior do Senegal a escassos 7 km da fonteira] Senegal, julgam-se que eram os seguintes:
  • Corpo de Exército 199/B/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; 
  • Corpo de Exército 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bataria de artilharia; grupos de foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; 
  • três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bataria de artilharia do Corpo de Exército 199/A/70 deslocados de Sare Lali (Zona Leste) (efectivos estimados em 650 a 700 homens).
[Veja-se a cronologia dos acontecimentos: ]

(i) Em 8 de Maio, Guidaje esteve debaixo de fogo por cinco vezes num total de 2 horas; dia 9 sofreu 4 ataques; dia 10, três e até 29Mai todos os dias foi flagelada, num total de quarenta e três ataques principalmente com artilharia, foguetões e morteiros. Todos os edificios do aquartelamento ficaram danificados. A guarnição teve 7 mortos e 30 feridos militares e a população 15 feridos .

(ii) Em 8Mai pelas 16h00,numa acção de escolta a uma coluna de viaturas no itinerário Farim-Guidaje por forças de 1 GCom 1ª C/BCaç 4512/72 e 1 GComb/CCaç 14, accionaram uma mina anticarro que danificou uma viatura. A seguir as forças foram emboscadas durante 15 minutos por um grupo lN fazendo uso de armas automáticas, morteiros e LGFog 
RPG-2 e RPG-7. Pernoitando no local, no dia seguinte pelas 05h20, as
 forças foram atacadas durante 4 horas. Devido à falta de munições as forças foram compelidas a retirarem para Binta. O lN teve 13 mortos e vários feridos prováveis. As NT sofreram 4 mortos, 8 feridos graves e 10 ligeiros. Quatro viaturas foram incendiadas e destruídas.

(iii) Em 10Mai, uma força constituída por 2 GComb 1ª C/BCaç 4512/72, 2 GComb/ 2ª C/BCaç 4512/72,2 GComb/CCaç 14 e 1Bigrupo da 38ª CCmds, encarregada de escoltar uma coluna entre Farim e Guidaje, accionou 2 minas A/P , cujo rebentamento provocou 1 morto, 1 ferido grave e 1 ligeiro às NT.

No mesmo dia, 2 GComb/CCaç 19 saíram de Guidaje para executarem a picagem e abertura do itinerário até Cufeu, juntamente com 2 GComb/CCaç 3 (da guarnição de Bigene e que foram reforçar Guidaje) que realizavam a protecção à picagem e tinham por missão continuar a mesma até Genicó, onde se daria o encontro com a coluna saída de Binta.

A força da CCaç 19, accionou 1 mina A/P reforçada com 1 mina A/C , de que resultou 1 ferido grave e 1 ligeiro.

A força da CCaç 3: 

"Antes de entrar na região do Cufeu, foi por mim pedido fogo de artilharia para ambos os lados da estrada de modo a ser batida a bolanha.

Entretanto instalei o pessoal em linha do lado esquerdo da estrada no sentido Guidaje-Binta [... ]

"A Artilharia entretanto fez um dos tiros pedidos, do que resultou saírem do lado esquerdo da bolanha 22 elementos ln nos quais foram referenciados alguns de cor branca. No contacto resultante, o lN foi posto em fuga, seguindo para o lado direito da Bolanha.

"Em virtude do acontecido e visto os restantes tiros pedidos não terem ido executados, dei ordem para seguir para a tabanca do Cufeu. Ao entrar na referida tabanca o lN desencadeou forte emboscada, a partir de lado direito da estrada, com apoio de canhão sem recuo, morteiro 82 mm e armas pesadas. Tendo em vista a situação dei ordem para avançar, saindo assim da zona de morte do mort 82 mm, tendo pedido de novo apoio ao Pel Art de Guidaje e aos 2 GComb da CCaç 19 que faziam a picagem.

"Não tendo sido prestado esse apoio, [... ] dei ordem para retirar por secções, tendo como pontos de encontro Guidaje e Genicó. Com um grupo de 8 elementos tentei seguir para Genicó a fim de contactar com o Comandante da coluna saída de Binta; [... ] tal foi no entanto possível [... ], tendo então dado ordem aos elementos em melhor estado físico de seguir para Guidaje, onde exporiam a situação. Com os 4 elementos restantes prossegui a deslocação tendo pernoitado a noite na bolanha de Fajonquito, Rep Senegal, e atingido Guidaje em 11Mai73, pelas 7h30. [... ]

De acordo com as informações recebidas o lN sofreu 12 mortos confirmados e 9 feridos, as NT tiveram um ferido ligeiro. [... ]". 
 

[Nota: Relatório de acção de protecção à picagem no sentido Guidaje-Genicó realizada em 10Mai73 pelo Cmdt da coluna da CCaç 3. ]


(iv) Em 12Mai, uma coluna de reabastecimento, ida de Farim, escoltada pelos DFE nºs 3 e 4, conseguiu atingir Guidaje. Em 15, no regresso a Farim, as NT accionaram 2 minas, sofrendo 2 feridos graves; mais tarde foram emboscadas, sofrendo 5 feridos.


(v) Em 15Mai uma força constituída por 2 GComb/CCaç 3518, Pel Mil 322 e 1 GComb da CCaç Africana Eventual-Cuntima  [sic] , comandada pelo Cmdt da 2ª C/BCaç 4512/72, efectuou uma coluna de reabastecimento a Guidaje partindo de Farim. Tinha apoio para execução de picagem de 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 Grupo de Milícias de Farim e 2 GComb/ CCaç 3; 1 DFE emboscado no Cufeu e o apoio de artilharia do 24° Pel Art e 27° Pel Art. Chegou a Guidaje pelas 15h30 do mesmo dia, sem contacto com o lN.

O retorno da coluna a Farim, reforçada com 2 GComb/CCaç 3 e um agrupamento do DFE, faz-se pelas 10h00 do dia 19Mai.

Antes da coluna ter penetrado na tabanca do Cufeu, a equipa que seguia picando o itinerário accionou uma mina anticarro que originou um morto e um ferido grave às NF. Pouco depois, accionada outra mina anticarro por uma viatura Berliet, que ficou parcialmente danificada,
mas incapaz para prosseguir o deslocamento. De seguida um civil ficou ferido por ter accionado uma mina antipessoal. Pelas 12h20, na zona de tabanca do Cufeu, a coluna é emboscada, frontal à sua testa, por um grupo lN estimado em cerca de 100 elementos.

A força dos DFE nºs 1 e 4 reagiu à emboscada, tendo sido pedido apoio aéreo e fogo da Artilharia de Guidaje. Pelas 12h55 o lN activou dois mísseis terra-ar que partiram do lado sul da bolanha do Cufeu. Pelas 13h20 é dada ordem de regresso a Guidaje em virtude do esgotamento de munições; abandonou-se a viatura Berliet minada. 

No total as NT sofreram 5 feridos. A coluna permaneceu em Guidaje, de 20 a 29Mai, tendo sofrido 4 mortos num ataque lN a Guidaje em 26Mai, às 23h00. 

Em 30 a força, incorporada numa coluna organizada em Guidaje, com forças ali estacionadas e outras chegadas a 19Mai, regressou a Farim".

 [Nota: Extractos do Relatório da Operação "Reabastecimento a Guidaje realizado em 15Mai73" da 2ª C/ BCaç 4512/72 e dos Relatórios da "acção realizada em 19Mai73" dos Iº e 20º  GComb/CCaç 3.]


(vi) Em 23Mai, saiu de Binta, uma coluna de reabastecimento com destino a Guidaje. Era constituída pelas seguintes subunidades: CCP 121, DFE nºs 1 e 4, 1 GComb/CCaç 14 e 1 GComb/CCaç 3.

"Até Genicó a coluna correu sem dificuldades. Em Genicó o GComb/CCaç 3 começou a picagem, correndo também sem dificuldades até ao momento que 1 elemento accionou uma mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou morte imediata. Segundo um elemento do GComb/CCaç 3 que conhecia mais ou menos a zona, devia a coluna estar aproximadamente a 3 Km do Cufeu. Entrou-se logo em contacto com Águia (Cmdt COP 3 Avançado) o qual mandou prosseguir, apesar de haver já um morto. Ia a coluna a prosseguir, outro elemento do GComb/CCaç 3 accionou uma outra mina anticarro reforçada com uma antipessoal, que lhe causou também morte imediata e 1 ferido grave do mesmo grupo. [... ] Entrou-se logo em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado informando-o da situação actual da coluna.

"Foi-nos dada ordem do mesmo para prosseguirmos com a coluna a corta-mato. Estávamo-nos a preparar para progredirmos com as viaturas a corta-mato, quando um elemento dos DFE nºs 1 e 4 accionou uma mina antipessoal a uns 4 metros da picada, que lhe decepou uma perna e mais ferimentos. De novo entrámos em contacto com o Cmdt do COP 3 Avançado, informando-o da situação actual da coluna. Logo após termos accionado a 1ª mina, entrámos em contacto com o Grupo da CCaç 14 que tinha ficado em Genicó, para ir ao nosso encontro a fim de transportar os feridos e os mortos para Binta. Passados 3/4 de hora, apareceu um grupo junto de nós, mas não era da CCaç 14, mas sim 1 GComb da 2Ç CCaç/BCaç 4512/72 de Jumbembem. 

"Entretanto o Cmdt do COP 3 Avançado deu-nos ordem para regressarmos ao ponto inicial da partida. Do local onde nos encontrávamos até Binta, a coluna correu bem. Chegados a Binta, tratamos de evacuar os dois feridos e de arranjar urnas para os dois mortos. De Binta a Ganturé fomos transportados pelo NRP Hidra sem problemas. De Ganturé para Bigene também não houve problemas.?" 

 [Nota: Relatório da coluna Binta-Guidaje realizada em 23Mai73 pelo GComb/CCaç 3.]

Como já referido foi decidido que a coluna regressasse a Binta com excepção da CCP 121, que recebeu a missão de atingir Guidaje. Pelas 16h30, na região do Cufeu, a CCP 121 é emboscada por numeroso grupo inimigo, sofrendo 4 mortos e 2 feridos graves e provocando, com o apoio da Força Aérea, baixas não controladas ao lN. A CCP 121 atingiu Guidaje ao final do dia.

(vii) Em 29Mai, o COP 3 levou a efeito uma coluna de reabastecimento e abertura do itinerário entre Binta e Guidaje, articulando as suas forças em seis Agrupamentos:

A - 2 Bigrupos/38* CCmds e Pel Sapadores do BCaç 4512/72

B - 1 GComb/1ª C/BCaç 4512/72, 1 GComb/2ª C /BCaç 4512/72, GE Mil 342 e 2° GComb/CCav 3420

C - CCav 3420 (-)

D - CCaç 3414

E - CCP 121

F-DFE

A CCP 121 montou emboscada na região do Cufeu. O DFE montou emboscada na clareira de Ujeque. O 24º Pel Art, em Guidaje, apoiou o deslocamento a partir da antiga tabanca do Cufeu.

O Agrupamento B levou um D-6 do BEng 447.

"Pelas 05HOO o Agr A saiu de Binta seguido do Agr B. Iniciou-se a progressão até Genicó indo o Pel Sap e GE Mil 342 de Olossato, do Agr B, alternando-se na picagem da estrada. Seguidamente continuou-se a progredir ao longo da picada de molde a atingir-se o limite Sul de um suposto campo de minas ln, na zona das viaturas destruídas. Nesta zona um picador accionou uma mina A/C  ao picar, causando-lhe morte instantânea e ferimentos graves num Furriel desta CCmds e ferimentos ligeiros em vários militares. a morto e os feridos foram transportados para Genicó por um GComb/2ª C/lBCaç 4512/72. Imediatamente se começou a abrir uma nova picada para oeste utilizando o D-6.

"A abertura fez-se em bom andamento devido à arborização do terreno. Nesta altura, atendendo a que o Agrupamento B se encontrava desfalcado de um GComb que fez a evacuação para a retaguarda, fez--se a junção dos Agr A e B.

Pelas 11h30 do lado Nordeste elementos ln foram detectados pelo Soldado "Comando" NM - 15306371 Santos Silva que abriu fogo, tend o lN ripostado. Debaixo do combate aceso o Agrupamento A lançou-se ao assalto; entretanto o Alf Rocha do mesmo Agrupamento conseguiu colocar o mort 81 mm em posição batendo a zona do ln. Durante o assalto o ln redobrou o fogo dos morteiros 82 mm, RPG e armas ligeiras pelo que o Agrupamento A não conseguiu concretizar o assalto; noentanto em resposta o Agr A redobrou o fogo tendo calado o fogo lN.

"Passados 10 minutos numerosos elementos ln vindos de oeste o dispondo-se em linha começaram a avançar para a frente noroeste das NT; então o Agr A formou também uma linha para dar combate ao lN.

"As NT abriram fogo tendo o lN ripostado com fogo cerrado de armas ligeiras e pesadas nomeadamente canhão sem recuo e mort 82 mm.

"Salienta-se nesta altura o Soldado António Mendes que correu atrás trazendo o mort 81 mm para a frente noroeste ao pé de mim e montou-o com a ajuda da guarnição, fazendo de apontador, de pé, indiferente ao cerrado fogo do lN. [... ] a lN abandonou a posição acabando por retirar em direcção a Uália. [... ]

"Às 13h00 a coluna voltou a pôr-se em movimento com o mesmo dispositivo de segurança ( 2 GComb em linha à frente e segurança lateral), depois do Cmdt do cap 3 ter dado ordem para prosseguirmos até Guidaje. Atravessou-se a bolanha do Cufeu e entrou-se em contacto
com Agr E (Paras) e daí fez-se um desvio para a picada Cufeu- Ujeque. Mal se entrou na picada um Unimog 404 da CCaç 3414 accionou uma mina anticarro de que resultou a destruição do Unimog, a morte do condutor e ferimentos em vários militares. 

"Nesta altura um Soldado Milícia de GE Mil 342 accionou uma mina antipessoal que estava na berma e que lhe originou amputação duma perna. Em virtude destes acontecimentos, voltou-se a abrir nova picada paralela à antiga até Ujeque onde se encontravam emboscados os Fuzileiros (Agr F); a coluna voltou à picada antiga e a testa e uma viatura foram emboscadas a 3 Km de Guidaje, sem consequências, com armas pesadas (mort 82 mm), lgfog e armas automáticas.

"Às 18H30 todas as forças atingiram Guidaje. [... ]" 

 [ Nota: Transcrito do Relatório da "escolta entre Binta e Guidaje em 29Mai73" da 3S" CCmds, do Relatório da operação "reabastecimento a Guidaje em 29Mai73" do Agr B/COP 3 e do Relatório da operação de "abertura do itinerário Binta-Guidaje e reforço ao COP 3 que decorreu de 2SMai a 30Jun73" da CCav 3420.] 
 
O IN teve feridos prováveis e foi-lhe capturada 1 granada de RPG-2 e uma granada de mão F -1". As NT sofreram 2 mortos, 1 ferido grave e 11 feridos ligeiros .

(viii) Em 5Jun um GComb da guarnição de Binta efectuou a picagem do itinerário Binta-Farim e a segurança a uma coluna. Quando esta acabou de transpor a ponte do rio Caur,  um elemento do grupo accionou com a pica uma mina A/C tendo morte instantânea, tendo a mesma causado ferimentos ligeiros a outro elemento. Acorreu em auxílio, dada a hipótese de haver elementos lN na zona, 1 GComb/2ª C/BCaç 4514/72 e 1 GComb PMil 282, que transportaram o morto e o ferido para Farim.

(ix) Em 11Jun, às 05h00,  saiu uma coluna auto de Guidaje com destino a Binta, abrindo novo itinerário. A força era constituída por 1 GComb/lª C/BCaç 4512/72, Pel Sap do BCaç 4512/72, GMIL 342, 1 Sec AM Panhard do ERec 3432, Pel Caç Nativos 56 e 65.

Forças de 3 GComb/CCav 3420, 38ª CCmds e 3ª C/BCaç 4514/72 emboscaram na ponta nordeste da bolanha do Cufeu, entre 1000 metros nordeste da ponta nordeste do Cufeu e Alabato, todas estas forças balizando e definindo o itinerário de marcha. A coluna chegou a Binta pelas 15h00 sem contacto com o lN. Regressou a Guidaje pelas 16h30 com mais sete viaturas da 3ª C/BCaç 4514/72 carregadas com reabastecimentos percorrendo o itinerário aberto em sentido inverso, também sem contacto IN. 

  [
Nota: Relatório de acção realizado em 11Jun73 do Posto Comando Avançado do COP 3.]
 
(x)  Em 12Jun, constitui-se nova coluna que saiu de Guidaje pelas 09h00 com destino a Binta que à medida que percorria o itinerário, foi recolhendo os 3 GComb/CCav 3420 e 38ª Cmds. Depois da passagem da coluna a 3ª C/BCaç 4514/72 recolheu a Guidaje. O Tenente-Coronel de Cavalaria António V. Correia de Campos, que comandava o COP 3, veio também na coluna .

(xi) No mês de Junho de 1973 o Inimigo apenas flagelou por uma vez Guidaje o que indica que desistira das suas intenções sobre este aquartelamento.

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 306/313. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos,  pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série;


6 de junho de 2022  Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22662: Fichas de unidades (21): CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama, Contuboel, Cuntima, Farim, Binta, Jumbembem, Canjambari, Saliquinhedim / K3, 1969/71)



Companhia de Caçadores nº  2592

Identificação: CCaç 2592

Unidade Mob: RI 16 - Évora

Crndt: Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira

Divisa: -

Partida: Embarque em 24Mai69; desembarque em 30Mai69 | Extinção em 18Jan70

Síntese da Actividade Operacional

A subunidade foi constituída com quadros e especialistas metropolitanos e enquadrou pessoal natural das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe, tendo efectuado a 2ª fase da instrução de formação no CIM, em Bolama [e em Contuboel, o pelotão de mandingas] e sido seguidamente utilizada em patrulhamentos, reconhecimentos e contactos com as populações da região.

Em 6Nov69, foi colocada em Cuntima [região do Oio, sector de Farim], a fim de substituir a CCaç 2529 como força de intervenção e reserva do BCaç 2879, tendo sido empregada em várias acções, patrulhamentos e emboscadas na linha de infiltração de Sitató.

Em 18Jan70, a subunidade passou a designar-se CCaç 14, sendo considerada subunidade da guarnição normal a partir daquela data.

Observações - Não tem História da Unidade.


Companhia de Caçadores nº 14


Identificação: CCaç 14

Cmdts: 

Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira | Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias | Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier | Cap Inf José Clementino Pais | Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues | Cap Inf Vítor da Silva e Sousa | Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos |  Cap Art Vítor Manuel Barata

Início: 18Jan70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2592) | Extinção: 2Set74


Síntese da Actividade Operacional

Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando quadros e especialistas metropolitanos, e pessoal da Guiné, das etnias Mandinga e Manjaca e ainda um pelotão da etnia Felupe, que constituíam anteriormente a CCaç 2592.

Continuou instalada em Cuntima, nas funções de subunidade de intervenção e reserva do sector de Farim, com vista à actuação prioritária sobre a linha de infiltração de Sitató.

Após ter deslocado um pelotão para Farim, a partir de finais de Dez70, foi transferida para Farim em 20Fev71, depois de ter sido substituída, por troca, pela CArt 3331. 

Rendeu, na função de intervenção e reserva do sector, a CCaç 2533, com vista a realizar acções de contrapenetração no corredor de  Lamel. 

Destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente de Binta, de 25Abr71 a 12Jun71, Jumbembém e Canjambari.

A partir de 10Fev73, mantendo no entanto a sede em Farim e continuando orientada para a sua anterior missão assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, para onde deslocou um pelotão.

Em 2Set74, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade a partir de Jan72 (Caixa n." 117 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 382 e 634
____________

Nota do editor: 

Último poste da série > 7 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22607: Fichas de unidades (20): Batalhão de Comandos da Guiné (Brá, 1972/74), incluindo 1ª CCmdsAfr (1969/74), 2ª CCmdsAfr (1971/74) e 3ª CCmds (1972/74)

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22661: Tabanca Grande (527): António G. Carvalho, a viver em Ponta Delgada, ex-fur mil op esp, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama e Cuntima, 1969/70). É Deficiente das Forças Armadas. Senta-se no lugar nº 853, à sombra do nosso poilão



Foto nº 1 > Guiné > Bolama >  Centro de Instrução Militar > CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 > 1969 > Da esquerda para a direita, os furriéis milicianos Eduardo Estrela, o Manuel Ramos Marques Cruz (, de Vila Real de Santo António, já falecido) e o  António G. Carvalho.


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector de Farim > Cuntima  > CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 > 1969 > "Eu e dois soldados da etnia Felupe (esta etnia era canibal, mas estes diziam que já tinham deixado de ser), que faziam parte da nossa companhia. No mês de Novembro de 1969 (penso), fizeram queixa ao gen Spinola, dizendo que tinham ido para o exército, para aprender armas de branco para defender as suas famílias que estavam em S. Domingos, por isso não queriam ficar em Cuntima e realmente foram logo transferidos.


Foto nº 3 > Guiné > 
Região do Oio > Sector de Farim > Cuntima  > CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 > Em Cuntima. Eu e o vagomestre Germano (do Porto). A inscrição que está no pedestal é de uma das  companhias que  esteve  aqui, a  CCAÇ 1789, do BCAÇ 1932 (1967/69), mobilizado pelo RI 15 (Tomar). A CCaç 2592 (futura CCAÇ 13) foi colocada  em 6 de novembro de 1969, em Cuntima, a fim de substituir a madeirense CCaç 2529 como força de intervenção e reserva do BCaç 2879,

Este vagomestre mandava fazer muitas vezes bife com batatas fritas, e sempre servia uísque, quando estavámos em Portalegre, no IAO. Grande Germano.

Fotos (e legendas): © António G. Carvalho (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de António Manuel Gaspar de Carvalho, novo membro da Tabanca Grande, nº 753:


Data - domingo, 24/10, 21:10 (há 16 horas)
Assunto - Blogue 


Olá, boa noite,  Camaradas.

Terei muito gosto em pertencer como elemento activo na tertúlia.

Pertencia à CCAÇ 2592, ao que depois se veio a formar a CCAÇ 14, não foi rendição individual

Como diz o Estrela (eu já não me lembrava), pertencia ao 3.º pelotão, cujo alferes era o Azevedo.

Para não ficar pesado irei enviando fotos com algumas legendas. A foto n.º 1  foi tirada em Bolama, alguns dias antes de termos sido atacados (com mísseis) a partir de S. João, cujo comandante do IN (soube-se depois) era o 'Nino' Vieira, que certamente sabem, tinha sido cabo do exército Português.

Sou António Manuel Gaspar de Carvalho. (agora escolham o nome que pretendem usar). Actualmente sou 2.º Sarg. DFA

Na altura do embarque no navio Niassa, penso que a 24 de Maio de 1969,  era Furriel Miliciano com a especialidade de Operações Especiais (Ranger), 1.º Classificado do 3.º turno de 1968, o 2.º Classificado foi o Humberto Reis, penso que da CCAÇ 2590 / CCAÇ12

No dia 2 de Março de 1970, por volta das 9 da manhã, em Cabele Uale caí numa mina antipessoal, com amputação abaixo do joelho), depois contarei a história.

Regressei a 11 de Abril de 1970, por evacuação, com destino ao HMP, após 38 dias de férias no HM 241, em Bissau

Abraço
AC

PS - Seguem também as fotos n.ºs 2 e 3


António Manuel Gaspar Carvalho (foto gentilmente cedida pelo seu amigo e camarada da CCAÇ 2592 / CCAÇ 14,  Edurado Estrela, ex-fur mil at inf (que esteve em Bolama e Cuntima, 1969/71) 


2. Através do Formulário de Contacto do Blogger,  o nosso camarada António G. Carvalho tinha-nos mandado a seguinte mensagem, sucinta, com data de sábado, 23/10, 17:23


"Estive na CCaç 14, furrriel, ferido em combate, tenho algumas fotos, como faço?
Cumprimentos,
António G. Carvalho"

3. Resposta do nosso editor LG, na mesma data, às 17h23:


António: Sê bem vindo. Gostaria de te ter aqui ao lado do teu camarada Eduardo Estrela, que é do meu tempo (eu sou da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Manda duas fotos tipo passe, uma atual e outra do tempo da Guiné. Diz mais qualquer sobre ti. Terei muito gosto em apresentar-te à Tabanca Grande: somos já dois batalhões...

As fotos têm que vir digitalizadas (passas-as pelo scan), com legendas (data, local, etc.). E com boa resolução... Mantenhas. Um alfabravo. Luis Graça

4. Logo a seguir o Carlos Esteves Vinhal escreveu-lhe (e ele respondeu logo, na volta do correiro, vd. ponte 1, acima):

Data - Sábado, 23/10, 20:03
Assunto - Contacto com o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Caro camarada António Carvalho: Uma vez que já temos na tertúlia um camarada António Carvalho, por favor diz-nos o teu nome do meio. 

Entretanto, muito obrigado pelo teu contacto. Se aceitares a nossa proposta, teríamos muito gosto em receber-te como elemento activo da tertúlia do nosso Blogue.

Para o efeito, manda-nos uma foto actual e outra do tempo de Guiné (fardado), diz-nos o teu nome, posto, especialidade, data de ida e de regresso. Poderás ter ido integrado na CCAÇ 2592 que mais tarde passou a designar-se CCAÇ 14, ou mais tarde em rendição individual, depois confirma.

E finalmente diz-nos os locais onde usufruiste das férias que o governo de então te proporcionou nos melhores "resorts" da Guiné. Terás andado pelo Norte (Farim), não muito longe de Mansabá, onde estive entre 1970 e 1972.

Podes começar a mandar-nos as tuas fotos, com as respectivas legendas (à parte) que indicarão, se te lembrares, o local, a data, a situação e quem está retratado.

Também nos podes mandar memórias escritas, em forma de estórias, com acontecimentos que ainda retenhas.

Para contactares connosco, utiliza este meu endereço (carlos.vinhal@gmail.com) e o do editor Luís Graça: luis.graca.prof@gmail.com

Ficamos na espectativa da tua resposta.

Em nome da tertúlia e dos editores segue um abraço e os votos de boa saúde.
Carlos Vinhal

Ex-Fur Mil da CART 2732
Mansabá/Guiné/1970-72

Co-Editor dos Blogues:
Luís Graça & Camaradas da Guiné
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt

CART 2732
https://cart2732.blogspot.pt

 5. Entretanto, o Eduardo Estrela, nosso amigo e camarada, da CCAÇ 14, deu-nos mais informação sobre o António G. Carvalho, em mensagem de sábado, dia 23, às 2oh33:

Boa noite Luís!

O António Carvalho era o outro furriel do meu grupo de combate da CCAÇ 14. (3.º  Pelotão). Era um grupo só com 2 furriéis, eu atirador de infantaria e ele de operações especiais. Grande companheiro e amigo com o qual temos mantido, não obstante ele viver há muitos anos em Ponta Delgada, um relacionamento que se traduz nalgumas presenças físicas em almoços onde o António faz questão de participar.

Ainda hoje estivemos a falar ao telefone e voltei a falar-lhe do blogue.

Lamentavelmente no dia 2 de Março de 1970 por volta das 9 da manhã, em Cabele Uale, a caminho do corredor de Sitató, foi vítima duma mina A/P e perdeu um pé.

Ele tem coisas e histórias para contar e fá-lo-á tenho a certeza. É mais um a engrossar as tropas desmobilizadas mas activas.

Grande abraço
Eduardo


6. Nova mensagem do Eduardo Estrela:

Data - 24/10/2021, 23:11

Olá Luís,  boa noite!

Na fotografia que o Carvalho mandou (Foto n.º 1), o da esquerda sou eu, ainda sem o bigode que me tem acompanhado até hoje.

Ao centro está o saudoso Manuel Ramos Marques Cruz, bom amigo que nos deixou há vários anos. Era natural de Vila Real de Santo António. À direita, está o António Carvalho.

Julgo não estar enganado se disser que a fotografia foi tirada no dia do juramento de bandeira e do desfile a seguir, das CCaç 13 e 14. Em Bolama.

Abraço, 
Estrela


7. Comentário final do editor LG:

António, és recebido de braços abertos. Tens aqui um lugar, o n.º 853, para te abrigares à sombra do nosso polião, árvore sagrada para os nossos amigos guineenses, guarmecendo e protegendo as suas tabancas. Para nós tem um grande simbolismo.

Há mais de um mês que não entrava, pelo seu prório pé, nenhum novo membro da Tabanca Grande. O último foi o Manuel Oliveira (n.º 850) (*). Os dois últimos entraram, infelizmente, a título póstumo: o  Celestino Bandeira (1946-2021) e Manuel Dias Sequeira (1944-2008), respetivamente os n.ºs 851 e 852.

Temos então mais um "ranger" na Tabanca Grande, um bravo "ranger" que felizmente sobreviveu à explosão de uma mina A/P, que lhe custou a amputação de uma perna (abaixo do joelho). É uma recordação dolorosa da Guiné que carregas toda a vida. 

Mas deixa-me confirmar que fostes connosco para o CTIG (CCAÇ 2590, CCAÇ 2591, CCAÇ 2592, etc. incluindo o hoje secretário geral do PCP, Jerónimo Sousa, soldado condutor auto da da CPM 2537, além de  outras unidades...) no Niassa, a 24 de maio de 1969, conforme podes verificar aqui, nesta ordem de transporte, constante do poste P19839.

Estás devidamente apresentado ao resto da malta. Conheces as nossas regras de convívio, que deves reler. Só espero que fiques connosco ainda por muitos e bons anos. 

A tua entrada ajuda-nos a mitigar a dor da perda recente de vários camaradas que faziam (e fazem) parte da história deste blogue. Como sabes, aqui partilhamos memórias (boas e más), mas também afectos. 

Ficamos  então a aguardar que nos envies  mais fotos e histórias da tua CCAÇ 14. Da Tabanca Grande também faz parte outro camarada da CCAÇ 2592 / CCAÇ 14, do teu/nosso  tempo, o António Bartolomeu: vê aqui. (O Bartolomeu esteve comigo em Contuboel,  a dar instrução de especialidade a um pelotão de mandingas, na mesma altura, em junho e Julho de 1969, em que eu, o Humbero Reis e outros estávamos a formar a CCAÇ 12, oriunda da CCAÇ 2590). 

Sei que tu e o Estrela estiveram no CIM de Bolama. Sobre Cuntima temos cerca de 60 referências. Sobre a vossa CCAÇ 14 só temos três dezenas de referências, enquanto sobre a CCAÇ 12 há 425. Espero que nos ajudes a encurtar as distâncias...

Ficas registado na Lista Alfabética da Tabanca Grande (vd. coluna estática do lado esquerdo) como António G. Carvalho, para te distinguir do António Carvalho, que chegou primeiro que tu, e que é de Medas, Gondomar.

Espero um dia destes poder conhecer-te pessoalmente. Um grande alfabravo para ti e para o Eduardo Estrela (que tem 18 referências no blogue). 
___________

sexta-feira, 26 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22041: In Memoriam (389): Ilídio Sebastião Vaz (1945/2021), ex-fur mil enf, CCaç 14 (Bolama e Cuntima, 1969/1971): morreu em Havana, Cuba, em sequência da Covid-19 (Eduardo Estrela)



Convívio do pessoal da CCAÇ 14 >s/l > s/d> À direita está o Ilídio Vaz (Zé Vaz ) e á esquerda o Vítor Dores.

Foto (e legenda): © EduardoEstrela  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Eduardo Estrela (ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)

Data . sexta feira, 26 de março de 2021, 15h23

Assunto . Em memória do Zé Vaz

Boa, tarde Luís!

Mais um camarada que nos deixa privados da sua presença física. Em Cuba, onde ia com alguma frequência, faleceu o companheiro Ilídio Sebastião Vaz (1945/2021). Foi Fur Mil Enf da C.Caç 14 (1969/1971). 

Deixa-nos um enorme vazio pois em cada um dos que com ele privaram nas agruras da Guiné, cimentou laços fraternos de solidariedade. Na zona operacional onde estávamos instalados, sempre esteve disponível para alinhar em toda a actividade militar, sendo mais um dos enfermeiros da Companhia, de modo a que o pessoal que comandava ficasse um pouco mais aliviado. 

Para poder viajar fez um teste á Covid que deu negativo, mas outro feito na chegada a Havana deu positivo, foi hospitalizado e permaneceu perto de mês e meio numa unidade de saúde. Quatro dias após a alta hospitalar não resistiu a uma paragem cardiorrespiratoria.

Um grupo de camaradas, encabeçado pelo António Bartolomeu, ainda se disponibilizou para repatriar o corpo para Portugal, mas a verba que inicialmente foi pedida depressa subiu para quase o dobro e a iniciativa ficou votada ao insucesso.

Fica na nossa memória e nos nossos corações. A sua verdadeira família éramos nós. Que descanse em Paz.

Anexo foto dum dos nossos convívios, onde á direita está o Ilídio Vaz ( Zé Vaz ) e á esquerda o Vítor Dores.

Se achares por bem, publica no blog.
Grande abraço, 
Eduardo Estrela

2. Comentário do LG:

Eduardo, o Zé Vaz tinha que ser um bom homem e um bom camarada para tu evocares,de maneira tão sensível e generosa a sua memória.  



O Ilídio Sebastião Vaz em 2019.
Fotograma de vídeo do Museu do Aljube.
Com a devida vénia

Apurámos que o teu/nosso camarada era
 natural de Lisboa e vivia em Almada. Tinha página no Facebook, que utilizava pouco, a última "postagem" datava de 13 de novembro de 2019. Via-se que tinha "vários amigos do Facebook", originários de Cuba. 

Ainda em 2019 dera uma longa entrevista ao Museu do Aljube e Resistência e Lisberdade, de que foi publicado um pequeno excerto (3' 20'') no You Tube, disponível aqui.  A versão completa  deve estar disponível no Centro de Documentação do Museu do Aljube.

[Sinopse: Ilídio Sebastião Vaz deixou-nos o seu testemunho repleto de memórias, de familiares e as suas próprias, desde as referentes aos “amigos” que ele sabia serem da PIDE e dos negócios destes com a prostituição, ao terror do franquismo, até à sua experiência como enfermeiro na guerra colonial, na Guiné, sem qualquer tipo de formação.]

Um abraço para ti, o António Bartolomeu e demais camaradas da CCAÇ 2592 / CCAÇ 14:  partimos ttodos juntos para a Guiné no mesmo navio, o T/T Niassa, em 24 de maio de 1969. Infelizmente não me lembro Zé Vaz, já que ele foi para o CIM Bolama e nós (CCAÇ  2590/ CCAÇ 12) para o CIM Contuboel, mais o António Bartolomeu que ali formou um pelotão mandinga.
___________

Nota do editor:

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21672: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (19): lembrando o meu primeiro Natal no mato, em 1969, emboscado, no corredor de Sitató, na fronteira com o Senegal... (Eduardo Estrela, ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)



Eduardo Estrela: vive em Cacela Velha, (en)cantatada por Sophia, 
e que pertence a Vila Real de Santo António

1. Mensagem de Eduardo Estrela [ ex- fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

[O nosso editor LG pertenceu, juntamente com ele, ao 3º turno do CSM,  em Tavira, ele era da 3ª companhia, e eu da 4ª Companhia; partimos no mesmo dia, 24/5/1969, para o CTIG, no T/T Niassa, ele integrando a CCAÇ 2592, eu a CCAÇ 2590, futuras CCAÇ 14, de tropas mandingas, e eu a CCAÇ 12, de tropas fulas, respetivamente; ele seguiu para o CIM de Bolama, eu para o CIM de Contuboel: disse uma coisa interessante: a CCAÇ 14 não era etnicamente homogénea: tinha dois pelotões de mandingas, um de manjacos e outro de felupes, acabando depois por fazer trocas com as companhias africanas: os manjacos devem ter ido, por exemplo, para a CCAÇ 16: a lógica era pôr as tropas locais a defender o seu "chão"... Estivemos um bom bocado ao telefone a recordar estas peripécias da vida; tem 3 filhas, vai passar o Natal sozinho com a esposa, porque a saúde é quem mais ordena...]

Data: quinta, 17/12/2020 à(s) 22:45

Assunto: Boas Festas

Boa noite, Luís!

Do Sul, mando um fraterno abraço a todos os tabanqueiros, desejando um bom Natal e melhor Ano Novo, na companhia das famílias e amigos. Cuidemo-nos, façamos dos "abrigos " das máscaras, da higienização das mãos e da distância física, a nossa e dos outros defesa. O vírus anda á solta e compete-nos como operacionais que fomos e somos, emboscá-lo e destruí-lo.

Natal de 1969. Manhã de 24 de Dezembro. Três grupos de combate, dois da CCAÇ 2549 e um da CCAÇ 14, saem para o mato para interditaram os carreiros de infiltração do corredor de Sitató. O grupo da 14 é o meu. Habitualmente saem dois grupos de combate por períodos de 48 horas, permanentemente, mas porque é Natal e há informação de movimentos do PAIGC na zona, saímos mais reforçados.

Executamos os procedimentos habituais montando emboscadas nos terceiro e segundo carreiros de infiltração utilizados pelas forças dos guerrilheiros, não há contacto, passa-se o dia e a noite de 24 e no dia 25 por volta das 9,30 da noite, quando estávamos instalados para descansar um bocado, rebenta um brutal bombardeamento ao aquartelamento de Cuntima.

O PAIGC tinha instalado as armas pesadas no Senegal, junto á linha de fronteira e cá vai disto. A noite estava escura e a luminosidade dos rebentamentos era impressionante. Felizmente foi mais o barulho e a imagem das granadas a estoirar do que os danos físicos e materiais provocados.

Esse foi o meu/nosso primeiro Natal passado na Guiné. O confinamento vai obrigar-nos a ter cuidados redobrados e a não termos toda a família connosco, mas hão-de vir melhores dias e vamos poder usufruir outra vez em pleno, das coisas boas da vida que nos rodeia.