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terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22828: Notas de leitura (1401): "Adeus... até ao meu regresso": livro de memórias fotográficas de 56 antigos combatentes, naturais de Vila Real, incluindo o Miguel Rocha, ex-alf mil inf, CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) - Parte I

 

Feliz capa do livro "Memórias fotográficas da guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique, 1961-1974". editado pelo Grupo Vila-Realense de Ex-Combatentes do Ex-Ultramar. Coordenação: Carlos Almeida e Duarte Carvalho. Vila Real, 2021, 191 pp. Foto da capa: Guiné, 1966, coleção de José Ferreira Barros.


1. Chegou-nos, pelo correio, um exemplar desta obra, com dedicatória, oferta do nosso camarada Miguel Rocha, membro da Tabanca Grande desde 21/11/2019, natural de Vila Real, a residir em Oeiras: 

"Para o amigo Luís Graça com um abraço do transmontano Miguel Rocha, 12/12/20212". (Às vezes, ele brinca com a região da sua naturalidade, dizendo-me: "Olha, é o Rocha, o transmontano, não o alentejano"!... Na Tabcanca da Linha, onde o conheci, eu achava que ele era alentejano,  por ser amigo, vizinho e companheiro de mesa do Manuel Macias, que, esse, sim, é da Aldeia Nova de São Bento, Serpa...)


O Miguel é um dos 56 ex-combatentes, naturais de Vila Real, que passaram pelos teatros de operações de Angola, Guiné e Moçambqiue, entre 1961 e 1974, e quiseram agora partilhar as fotos dos seus álbuns, numa bonita iniciativa que, se não é inédita, tem  grande mérito e pode até servir de exemplo (contagiante) para outros grupos.

O pretexto são os 60 anos do início da guerra do ultramar / guerra colonial e o objetivo desta obra é singelo, mas nem por isso digno de realce: dar a conhecer "retalhos do nosso dia-a-dia" destes homens, uma valiosa contribuição, afinal, para a"pequena história" que tem de (ou deve...) ir a par da "grande história" com a H... 

É uma homenagem também aos 15 vila-realenses que perderam a vida neste conflito, e cuja memória é lembrada, todos os anos, a 1 de dezembro, por este grupo de ex-combatentes.

Grato ao Miguel e demais camaradas que congregaram esforços para a materialização deste projeto, deixo aqui alguns excertos da obra, numa primeira nota de leitura.

Mandei há dias ao Duarte Carvalho a seguninte mensagem:

 "Duarte, parabéns pelo vosso trabalho (e em especial pelo teu). O Miguel Rocha já teve a gentileza de oferecer ao blogue um exemplar do vosso livro e vamos dar-lhe o devido destaque, com menção da lista de autores, e ficha técnica, e reprodução de algumas fotos (uma de cada TO).

Peço desculpa por não ter publicado, em tempo oportuno, o teu convite . Houve um lapso na gestão do correio. Mas farei referência à cerimónia. Vejo que fazes falta aqui no nosso blogue e na nossa Tabanca Grande. Aceita o convite para te juntares a esta comunidade virtual, dos amigos e camaradas da Guiné, e onde já estão camaradas transmontanos como o MIguel e outros,


Em 24 de novembro passado, o Duarte Carvalho mandara-nos a notícia (e o convite) do lançamento da obra:

"Dia 1 de Dezembro de 2021 pelas 15h30 nos claustros do antigo Governo Civil de Vila Real. Apresentação do álbum de fotografias “ADEUS…ATÉ AO MEU REGRESSO”. Memórias fotográficas de 56 Vila-Realenses que participaram na Guerra Colonial (1961/1974). Apresentador: Eduardo Varandas."

Sublinhe-se, com apreço, o apoio a esta obra (ou o patrocínio), dado por diversas instutuições e empresas locais: Câmara Municipal de Vila Real, Junta de Freguesia de Vila Real, Liga dos Combatentes - Núcleo de Vila Real, CIMAGOM, realcópia, CA - Crédito Agrícola e Adega Vila Real.

Reprodução do preâmbulo:






Guiné- Bissau > 1968-70 > Coleção Miguel Rocha:  Dois irmãos na Guiné, Carlos Jorge Ribeiro Rocha, e Miguel José Ribeiro Rocha. Foto Iris (Bissau), outubro de 1969.


Guiné> 1968-70 > Coleção Miguel Rocha: s/d, s/l >  O Miguel 


Guiné > 1968-70 > Coleção Miguel Rocha: s/d, s/l >  O Miguel é o primeiro da esquerda  

O Miguel Rocha foi alf mil inf, CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70).  O irmão Carlos esteve no sul, na região de Tombali, em Aldeia Formosa (1969/71), segundo informação (telefónica) do mano. Vive em Vila Real.

(Pág. 87)


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22388: Notas de leitura (1366): “História da Unidade - Batalhão de Caçadores 2845", em verso, por Albino Silva (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Os nossos poetas populares bem podiam um dia fazer uma jornada de convívio e contribuir para o levantamento destas peças que poderiam ajudar os investigadores do futuro a confirmar acontecimentos passados e bem referenciados pelo estro poético. Como é evidente, esta poesia não é isenta, são testemunhos com muitos abraços fraternos, ninguém comparece nos convívios com estas poesias pronto a fazer guerras pessoais. Acresce, como Albino Silva diz no seu livro, socorreu-se, para falar das companhias operacionais, da história da unidade, e como todos nós sabemos nem tudo ficou registado como exatamente aconteceu. Mas o que apraz neste momento realçar e que devíamos fazer um esforço a que haja um inventário dessa poesia popular da guerra da Guiné, uma verdadeira parente pobre, discreta e apagada da nossa atenção, que poderá vir a ter muita utilidade em novas gerações de historiógrafos.

Um abraço do
Mário


História do BCAÇ 2845 em verso

Mário Beja Santos

Ficará para as próximas gerações de investigadores a tentativa de apurar ou esboçar um inventário da história das unidades militares em verso, missão por ora inextrincável, sabe-se aqui e acolá da existência de poetas populares que procederam a tal registo. Guardo a melhor lembrança que tive quando descobri "Missão Cumprida", por António Alberto Santos Andrade, pertenceu ao BCAV 490, e que me catapultou para escrever "Nunca Digas Adeus às Armas".

Albino P. da Silva foi maqueiro, pertenceu à CCS do BCAÇ 2845, com sede em Canchungo (Teixeira Pinto) e com um conjunto de destacamentos envolvendo Bissorã, Olossato, Jolmete, Pelundo, Bachile e algo mais. Conta o seu itinerário que começou em Braga, esteve depois em Coimbra no Regimento de Serviço de Saúde, foi formar batalhão em Chaves no BCAÇ 10 e daqui partiram para Teixeira Pinto. Ficamos a saber que viveu em Angola, passou-lhe pela cabeça fugir, repensou e fez o serviço militar. Trabalha com quadras, e vê-se que não faz grande esforço para alcançar as rimas. Fora para Angola trabalhar, queria ser comerciante, assustou-se com o início da guerra, fugiu para França e lembrava-se daqueles sete soldados em Camabatela (Angola) que protegiam e guardavam a vila. Lembrava-se que esses sete soldados não tinham medo, e assim veio cumprir o serviço militar, chegam no princípio de maio de 1968 e partem imediatamente para Teixeira Pinto. Gosta de contar as suas brejeirices, o serviço de enfermaria abriu-lhe muitas portas para certas ternuras de ocasião. Aproveita para nos dizer que a CCS era composta por maqueiros e doutores, enfermeiros e eletricistas, mecânicos e condutores, sapadores e analistas, escriturários e cantineiros, cozinheiros e transmissões, SPM e padeiros. Seria incomum que não se queixasse da comida, mas não deixou de exultar as ostras e o camarão.

A sua poesia dirige-se inicialmente para a vivência da CCS, distribuição de muito mezinho, muita bajuda a consolar, dá-nos uma descrição de Teixeira Pinto, inevitavelmente o comércio de comes e bebes e em cada trecho de rapsódia deixa a sua marca de água, Albino Silva maqueiro da CCS. Lembranças não faltam, tanto das morteiradas como das batucadas, e põe a CCS num grande ecrã, de oficiais a praças, faziam as transmissões, os cozinheiros, os quarteleiros, o vagomestre, os mecânicos, não esquece os pintores nem o carcereiro, recorda todos com emoção.

Percebe-se que afina a sua mestria e a sua veia poética a propósito dos convívios, “tiramos fotografias/ alegres também cantamos/ prometemos uns aos outros/ que para o ano voltamos”. Destaca a enfermaria e maternidade em Teixeira Pinto, uma palavra muito especial para o médico, Maymone Martins, alvo de várias imagens. É certo e seguro que os convívios o estimularam a passar da CCS para as outras unidades, as operacionais, sabe exaltar quem mesmo na CCS tinha o corpo mais exposto, caso dos condutores e dos sapadores, manda um abraço ao sacristão militar que era um bom pregador e tudo quanto fazia era apenas por amor, sintetizando todos tinham um fraquinho pelas bajudas pacatas e que se não fosse a tropa também não haviam mulatas. Parece que Portugal inteiro esteve representado neste batalhão, ele vai elencando quem e como e a sua proveniência geográfica. E saudades da Guiné não lhe faltam, quando dela se fala na televisão sente sempre emoção e lança uma saudação e um pedido de cuidados: “O Governo agora é vosso / o território também é / por isso sois vós agora / a governar a Guiné. / Governai bem a nação / nós a malta não esquece / pois só queremos p’ra Guiné / o que de bom ela merece. / Nunca mais andei aos tiros / percam lá essa mania / combatam só os maldosos / que usam a cobardia”.

Chegou a vez de pôr em verso as companhias operacionais (CCAÇ 2366, CCAÇ 2367 e CCAÇ 2368). Agora sim, fala-se de valentia, armamento às costas, emboscadas, operações, citam-se os nomes, seguem-se os louvores, enumeram-se os efetivos, referem-se localidades como Olossato, Ponte de Maqué, Pelundo, Có, Jolmete, exaltam-se façanhas e bravuras. Não deixa de mencionar que houve recompletamentos das companhias, das milícias, das tabancas, o nome de todas as operações, deu-se ao cuidado de ler a história da unidade. E para todos chegou a hora do regresso. Fala de uma África que lhe atravessa o coração, de partilhas, de intensa camaradagem. “Sonhando contigo Guiné / creio ser bom e não mau / Assim se lembrarei sempre, da Guiné e de Bissau. / Guiné foi castigo / Guiné foi verdade / Guiné foi juventude / Guiné hoje saudade”. Agradece a ajuda que lhe deu o Comandante Aristides Monteiro, embora inicialmente tenha aparecido o Tenente-Coronel Martiniano, creio tratar-se do oficial-inquiridor que desceu de um helicóptero em Missirá, ele fora alvo de um processo de inquérito para se apurar como é que aquela mexeruca em duas grandes flagelações perdera 45 camas, centenas de lençóis e cobertores e fronhas, dezenas de pás e picaretas, correias de várias utilidades, até capacetes. Não houve para ali meias verdades, disse ao Sr. Coronel Martiniano que me tinham pedido da CCS para ali descrever nos relatórios das flagelações tudo quanto tinha desaparecido das arrecadações de Bambadinca e que o batalhão anterior descurara de dar baixa. O coronel riu-se e o inquérito foi arquivado. Aqui encontrei uma associação com as recordações poéticas do Albino Silva com o que a vida me ensinou a ser camarada de infortúnios de uma nova CCS, fi-lo com gosto, quem se interessaria em trazer cobertores fedorentos e arreios da I Guerra Mundial como recordações daqueles trópicos onde tudo apodrece?

E desejo ao Albino Silva que nos continue a dar conta de todos os seus convívios, já que a saudade é muita que também deseje melhor sorte à nossa querida Guiné.
Destacamento de Jolmete com a sua pista de aviação
Rua Principal de Olossato, fotografia da CCAÇ 2367 (1968-1970), com a devida vénia
Festa dos Manjacos em Bachile, do site Conversas ao Acaso, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22366: Notas de leitura (1365): “Oito Viagens, Uma Voz”, por Sérgio Matos Ferreira; Edições Vieira da Silva, Lisboa, 2018 (Mário Beja Santos)

domingo, 30 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22236: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (6): Cecília Supico Pinto (30/05/1921-25/05/2011), uma portadora de afectos - No dia do centenário do nascimento da fundadora do Movimento Nacional Feminino

Sexta crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

06 - PORTADORA DE AFECTOS


Conheci a elegante Senhora D. CECÍLIA SUPICO PINTO a 02 de Maio de 1969, aquando da sua visita, por duas ou três horas, ao aquartelamento de CÓ, que à época transbordava de militares oriundos das mais diversas Armas do Ramo do Exército, empenhados na construção da estrada "CÓ-PELUNDO".

Havia tropas de infantaria, cavalaria, armas pesadas, artilharia, engenharia e eventualmente outras, que a memória de há 52 anos poderá deixar escapar.

O Comando da minha Companhia estava a meu cargo, e é nessa circunstância que o CMDT do aquartelamento me indigita para assumir a acção protocolar de receber a ilustre Presidente do MNF, missão assaz facilitada pela sua natural simpatia, sublime educação, determinação, inteligência, coragem, conhecimento dos teatros de guerra, do carinho quase maternal com que "A CILINHA" se dirigia aos seus"meninos", falando-lhes, é certo, com alguma exultação patriótica, mas sobretudo do amor e da saudade de suas MÃES, que curiosamente eram da sua geração e que lá longe, na Metrópole, viviam em permanente ansiedade cientes da dureza da guerra por terras da Guiné.

Num dos momentos mais informais, e num cordial diálogo que mantivemos, enalteci-lhe, e agradeci-lhe, a criação do espectacular "AEROGRAMA" de que eu próprio era assíduo utilizador, e a importância sentimental que ele tinha para os militares e suas famílias, sem por sombras imaginar, à época, os números astronómicos diariamente assumidos no movimento postal só pelo uso do "BATE-ESTRADAS", como era conhecido na gíria militar.

E saudei na sua pessoa a intervenção bem notória do MNF na agilização das burocracias duma retaguarda inundada de emperrantes "pequenos poderes", que se quedavam numa abjeta inércia sem o mínimo respeito pelos combatentes, ou sua memória, e suas doídas e quase sempre carenciadas famílias.

Estamos no ano do I Centenário do Nascimento (30/05/1921) de CECÍLIA S. PINTO. Em sua memória, e com profundo respeito e admiração pela sua pessoa e sua obra, não esquecendo todas as outras Senhoras do MNF, muitas delas Mães de jovens mobilizados para as frentes de combate, venho aqui deixar meu testemunho de eterna gratidão pelo apoio dado aos combatentes na sua inegável qualidade de "portadora de afectos".

Foto 1 - Có - Cecília Supico Pinto no uso da palavra, na parada de Có, acompanhada do CMDT Major Ferreira da Silva e do Alf Mil Miguel Rocha.
Foto 2 - Có - A boa disposição de Cecília a contagiar todas as patentes.
Foto 3 - Có - Já na messe, combatendo o calor com uma bebida refrescante, depois do discurso e da distribuição das habituais "lembranças do MNF" aos rapazes reunidos na parada.
Foto 4 - Có - Cecilia Supico Pinto, perante o ar divertido do Major Ferreira da Silva, surpreende o Alf. Mil. Miguel Rocha com uma especial “lembrança”.
Foto 5 - Có - O Alf. Mil. Miguel Rocha indaga da possibilidade de obter mais uns maços de tabaco para os rapazes da sua Companhia.
Foto 6 - Có - Missão impossível! A caixa dos cigarros está quase vazia e o que resta tem destino marcado.
Foto 7 - Có - Uma cordial despedida de uma visita vivida com muita simpatia e permanente boa disposição
Foto 8 – Assinando como “Alferes” Cilinha, o cartão dirigido pela Presidente do MNF ao alf. mil. Miguel Rocha, a acompanhar a carta oficial de agradecimento pelo acolhimento que recebeu no aquartelamento em Có.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE MARÇO DE 2020 > Guiné 61/74 - P20767: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (5): Volkswagen "Pão de forma"

terça-feira, 12 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20966: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (6): Composição da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2020:

Boa tarde Carlos Vinhal
Mais trabalho para ti e para a Tabanca. Para completar o BCAÇ 2845, envio a composição das CCAÇ 2367 e CCAÇ 2368.
Tenho acompanhado tudo que na Tabanca é publicado e, claro está, gosto de nela passar algum tempo.
De momento resta-me enviar um abraço para todos, especialmente para vocês Chefes de Tabanca.


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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20945: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (5): Composição da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845

terça-feira, 24 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20767: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (5): Volkswagen "Pão de forma"

Volkswagen "Pão de forma"


Mais uma crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

05 - VW - "PÃO DE FORMA"

Era uma VW de passageiros do Exército (9 lugares), que às horas certas vinha a uma praceta da baixa de Bissau recolher os oficiais, que em trânsito pela capital, estavam alojados no "600", quartel fora de portas, famoso pela sua "vala comum", como apelidávamos o pouco dignificante dormitório.

Estávamos em meados de Setembro de 1969, o calor exterior era imenso, e a "pão de forma" com a sua térmica concentradora cor mate verde-escuro, e um único arremedo de isolamento no tecto, elevava a temperatura do habitáculo para próximo dos 50º!

Seria a viagem das 15 horas, e como pontualmente acontecia, dez minutos antes, a viatura chegou e estacionou no ponto de recolha. Era dado adquirido que assim que a lotação estivesse completa a carrinha abalava, caso contrário esperava pela hora certa para o fazer.

No banco da frente, junto ao condutor, sentava-se o oficial mais graduado, que nesse dia, se bem me lembro, seria um major.

Tomámos lugar mas faltava um viajante para que a largada se desse de imediato! Olhares esperançosos de todos nós para o dobrar das esquinas... e nada! Não aparecia mais ninguém! O calor estava ao nível de boca de forno de padaria!

Então com voz dorida, pausada e com as sílabas bem batidas, clamei :
- Condutor! Está completo, podes arrancar!

E à laia de justificação, acrescentei:
- Eu conto por dois! Têm-me fodido tanto que acredito que estou grávido!

O senhor major, de soslaio, avaliou o grau de "cacimbagem" que o meu semblante de 17 meses de mato denotava, e com um conveniente sentido de humor virou-se para o condutor e ordenou:
- Arranca! O nosso alferes é capaz de ter razão!
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20706: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (4): Alcunhas

quinta-feira, 5 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20706: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (4): Alcunhas

Foto n.º 1 > Soldado Ribeiro, o "Perna Facaia"

Foto n.º 2 > Soldado Toninho,  o "Senhor Doutor"

Foto n.º 3 > 1.º Cabo Bento,  o "Mal disposto"

Foto n.º 4 > Soldado Sá,  o "Capilé"

Foto n.º 5 > Soldado Dias, o "Padeiro"

Foto n.º 6 > Soldado Sousa, o "Simpático"

Guiné > Região do Oio > CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70) > Miliares do pelotão do alf mil Miguel Rocha e respetivas alcunhas...

Fotos (e legendas): © Miguel Rocha (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Mais uma crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

04 - ALCUNHAS

As alcunhas, fruto duma criativa espontaneidade, eram servidas sem luvas e sem bandeja aos seus forçados titulares, num misto de picardia e natural bonomia. O nível de aceitação por parte dos visados era elevado dada a reciprocidade vigente!

Umas vincavam características de personalidade, quer por excesso, quer por antítese, outras visavam a oralidade, tanto nos seus regionalismos como no grau de dificuldade de expressão.

As profissões civis, bem como as funções militares, e ainda um ou outro episódio mais burlesco ocorrido já no teatro de guerra, eram farta e garantida sementeira para elas. Colavam-se-lhes à pele de forma indelével, substituindo no nosso registo de memória o nome e apelido do visado.

Do meu pelotão, recorrendo ao meu álbum de guerra e mais uma vez às fotos do meu aniversário (13.02.69), recordo com muito carinho as seguintes:

"TATIBITILÉ" - Pela forma titubeante como se expressava.
"PERNA FACAIA"- Argumento que usava para pedir escusa de operações.
"SIMPÁTICO" - Pura antítese.
"GÉMEO" - Por ter o seu irmão gémeo na Guiné.
"CUBA" - Por bem "decilitrar".
"MAL DISPOSTO" - Pelo condizente semblante.
"PADEIRO" - Profissão civil.
"TELEGRAFISTA" - Função Militar.

"XIPANÇO", "MIASSAS", "MÃO CERTA", "BRANQUINHO" e "CAPILÉ" são outras alcunhas que o significado já me escapa.

Havia ainda a "EQUIPA DO PINCEL" - todos oriundos da construção civil.

No meu álbum fotográfico, faço-me acompanhar de alguns daqueles que viram distintivas alcunhas substituir, no dia a dia, os seus nomes próprios. [Vd. fotos caima]
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20669: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (3): Um Presépio de cartolina

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20669: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (3): Um Presépio de cartolina

Olossato – Um Presépio em cartolina que com “uma improvisada lamparina acesa, até ao fim do Dia de Reis”, fez a diferença naqueles dias de Natal no Olossato.


Mais uma crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

03 - UM PRESÉPIO DE CARTOLINA

As licenças no período Natalício estavam completamente vedadas aos militares deslocados nos teatros de guerra.

No mato, tomavam-se precauções redobradas para os dias de maior significado Cristão, e festejava-se um arremedo de Natal com rancho melhorado, que de forma alguma colmatava a nostalgia da família, dos amigos e das diversas gastronomias regionais, evocadas tanto por ausência, como por contraste.

No Natal de "68", na única e incipiente loja existente no Olossato, e depois nos comércios de Bissorã, onde a oferta melhorava substancialmente, procuramos, sem resultado, um Presépio.

Aprazado um telefonema nos correios de Bissorã (havia que pedir a chamada com aviso e marcar hora de contacto), solicitei a minha Mãe, do "stock" da nossa loja em Vila Real, o envio em envelope comercial de um Presépio de cartolina, que depois de armado, tinha a particularidade de ficar com o aspecto tridimensional que foto documenta.

Bissorã – No centro, e ao fundo da foto, o edifício dos Correios em Bissorã, de onde o ex-Alf. Mil. Miguel Rocha telefonou à Mãe, a D. Mariazinha, pedindo que lhe enviasse para o Olossato um Presépio em cartolina.

Nas costas do Presépio em cartolina, a Mãe do ex-Alf. Mil. Miguel Rocha escreveu esta mensagem. “Natal de 1968. Que a Paz que reina neste Presépio caia sobre a Guiné”. 

Apesar da humildade artística, este singelo presépio fez a diferença na atípica envolvente tropical, impondo-se como fio condutor dos nossos pensamentos, recordações e emoções daquela quadra festiva, quiçá para nós, a mais marcante, vivida longe dos nossos, num ambiente hostil e de avassaladora saudade.

Uma improvisada lamparina, acesa até ao fim do Dia de Reis, completava o arranjo numa pequena mesa da messe de oficiais.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20646: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (2): Hoje, exactamente 51 anos depois!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20646: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (2): Hoje, exactamente 51 anos depois!

Segunda crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70), a propósito do seu 25.º aniversário festejado há 51 anos no Olossato:


MEMÓRIAS AO ACASO

02 - HOJE, EXACTAMENTE 51 ANOS DEPOIS!

A vida reserva-nos surpresas do Arco da Velha!

Nunca na minha existência havia encontrado alguém que fosse precisamente da minha idade, e isto aconteceu na CCAÇ 2367. O Alf. Mil. Baldaia Martins, que comandava o 2.º pelotão, havia nascido, tal como eu, a 13 de Fevereiro de 1944.

Desde já esclareço os crentes seguidores de signos, que as nossas personalidades eram totalmente distintas e que tal facto não era impeditivo de um são convívio e uma franca amizade, que perdurou até ao seu falecimento em 2013.

Resolvemos festejar o nosso 25.º Aniversário (1969) em conjunto, e para a festa adquirimos uma vaca na população do Olossato.
O almoço, no refeitório das praças, foi reservado aos nossos dois pelotões, muito bem regado, seguido de uma partida de futebol de equilíbrio assaz difícil, dado o grau de "anestesia" da rapaziada. À noite, na messe, teve lugar um beberete com fados e desgarradas, para sargentos e oficiais.

As fotos dizem respeito aos aniversariantes e aos rapazes do meu pelotão, o 1º.


Olossato – Os alferes milicianos Baldaia e Miguel Rocha, já um pouco adornados, na celebração comum dos seus 25 anos de idade.


Olossato – Os homens do 1.º pelotão da CCAÇ 2367, comandado pelo alf. mil. Miguel Rocha. De pé: Bento, Mendes, Toninho, Miguel Rocha, Dias, Afonso, Carvalho, Rocha e Figueiredo. Sentados: Vizela, Almeida, Ferreira, Tocha, Antunes e Balbino. De joelhos: Almeida e Sá. Deitados: Sousa e Américo


Olossato – Depois do almoço, descarregando a cerveja da festa do aniversário.


Olossato – Lá do alto, no refeitório, o aniversariante alf. mil. Miguel Rocha faz contas à despesa que tem de pagar.


Olossato - O soldado Ferreira, “O Cuba”, pela cerveja que consumia, estava adoentado mas o seu alferes foi busca-lo ao colo para participar na festa.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20623: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (1): Origem do nome, Vampiros