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sábado, 2 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23403: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (7): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VI: o ataque a Gadamael Porto: de 31 de maio a 11 de junho, o IN disparou cerca de 1500 granadas de canhão s/r e morteiro 120



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > De 31 de maio a 11 de junho de 1973, em cerca de 6 dezenas de flagelações, caíram em Gadamael Porto 1468 granadas de canhão s/r e de morteiro 120. Fonte: CECA (2015), p. 333



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 >  O alf mil Carlos Milheirão (*), depois,  no obus 14, e por detrás, assinalados por seta e  legenda, o depósito de géneros e a enfermaria


Foto nº 2  > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Em primeiro plano, o autor das fotos, o alf mil Carlos Milheirão, que esteve em Gadamael entre fevereiro e julho de 1974.


Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Legendas, em primeiro plano, o Carlos Milheirão... À volta, da direita para a esquerda (i) portadas da messe; (ii) depósito de géneros e enfermaria; (iii) canhão sem recuo; e (iv) geradores elétricos (?).


Foto nº  4 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
O Carlos Milheirão no espalddão do obus 14. Legendas: da esquerda para a direita: (i) aqui provavelmente estava uma das metralhadoras; (ii) obus 14; (iii) algures por aqui havia um canhão sem recuo; e (iv) depósito de géneros e enfermaria.
 

Foto nº  5 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 >
 Crianças... Legendas: (i) direção da bolanha /cais; (ii) depósito de géneros e enfermaria; e (iii) enfermaria / abrigo.


Foto nº  6 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Aspeto geral do aquartelamento... Legendas, da esquerda para a  direita: (i) abrigo; (ii) bandeira; (iii) padaria (?); (iv) cozinha e messe de sargentos; (v) messe e bar de oficiais; (vi) estas telhas certamente "voaram" com um disparo de obus para a mata do Cantanhez (Jemberém); e (v) espaldão de obus 14 


Foto nº  6A> Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > Foto anterior, mais detalhada.


Foto nº  7> Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Legendas: (i) abrigo; (ii) geradores elétricos (?); e (iii) bandeira (quando se içava ou arriava, os cães vinham para ali e uivavam ao toque do clarim)


Foto nº  8 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Da esquerda para a direita: (i) bolanha; (ii)  algures por aqui havia um canhão sem recuo; (iii) obus 14; (iv) depósito de géneros e enfermaria; (v) bolanha/cais; e (vi) tabanca.

Fotos (elegenda): © Carlos Milheirão (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação da esta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (**).

Trata-se de excertos da CECA (2015) sobre estes acontecimentos de maio/junho de 1973. Recordamos Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", na véspera da efeméride dos seus 50 anos (que será em 2023).  

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.



CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas


2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto

2.1.2. Ataque lN a Gadamael Porto


Após a retirada da guarnição de Guileje (22Mai73), a guarnição de Gadamael 
Porto tinha a seguinte constituição:

CCaç 4743/72, 
2 GComb/CCaç3520, 
Pel Canh s/r 3080 (5 armas) 
e Pel Mil 235. 

Vindas de Guileje: 

CCav 8350/72, 
15° Pel Art (14 cm) a 3 bocas de fogo, Pel Rec Fox 3115, apenas com 1 VBTP White 
e 1Sec (+)/Pel Mil 236 (o restante pessoal estava ausente ou havia sido baixa em combate).

O Cmdt do CAOP 1, Cor Para Rafael Ferreira Durão, esteve no aquartelamento de 22 a 31Mai73.

O Capitão Inf 'Cmd' Manuel Ferreira da Silva assumiu o Comando do COP 5 em 31 de Maio de 1973.

"[ ... ] No dia 29, no Comando-Chefe das FAG, foi-me comunicado que no dia seguinte seguiria para Gadamael Porto, para comandar o Comando Operacional n" 5, substituindo o Major Coutinho e Lima, entretanto preso em Bissau. No dia 30, segui de helicóptero para Cacine, e em 31 de barco "sintex", para Gadamael Porto onde cheguei cerca das 11h00n depois de 2 horas de viagem [... ]

Após a partida do coronel Rafael Durão, nesse mesmo dia, reuni com os dois Comandantes de Companhia, Cap Mil Inf Manuel Maia Rodrigues (CCaç 4743/72) e Cap Mil Art Abel Quelhas Quintas (CCav 8350/72), para me inteirar da situação. Após o almoço, quando iniciávamos uma visita ao aquartelamento, começaram as flagelações contínuas, com artilharia, morteiros, canhão sem recuo e mísseis. No início os impactos verificavam-se fora das instalações, mas gradualmente foram-se aproximando, e no final do dia já caiam dentro do aquartelamento.

O aquartelamento de Gadamael Porto, onde se encontravam as instalações militares tinha uma área de cerca de um hectare, com uma avenida central em terra batida que do cais, onde na maré cheia acostavam os pequenos barcos, passava junto à enfermaria, comando, depósito de géneros, arrecadação de material de guerra, posto de rádio, etc. e seguia para a pista de aviação. Os alojamentos estavam dispersos, e alguns junto ao arame farpado, que protegia a parte por onde o ln podia atacar. Do lado oposto existia a tabanca
da população com cerca de 500 habitantes. [... ]

Gadamael Porto face à sua localização, normalmente não era atacado, pelo que os abrigos existentes eram reduzidos, e as valas à volta do aquartelamentonnão ofereciam qualquer protecção às granadas do lN. 

Além disso, para além dos militares a população de Guileje, procurou ocupar os poucos lugares com alguma protecção, o que mais complicou a situação. O aquartelamento de Gadamael Porto, era um local com pequenas instalações dispersas, com fraca consistência construídos apenas com adobes feitos no local que, como se constatou durante as flagelações, se desmoronavam quando as granadas de morteiro e artilharia aí rebentavam. O PAIGC utilizou durante os ataques granadas explosivas, incendiárias e perfurantes.

Ao amanhecer do dia 1 de Junho, o 2°dia da minha permanência, iniciou--se aquele que seria o dia mais crítico de toda a batalha de Gadamael Porto,mcom as flagelações quase permanentes particularmente de artilharia e morteiros 120 mm. Num espaço de tempo de 3 minutos chegaram a cair 18 granadas 
dentro do Quartel. 

O Relatório final da CCaç 4743/72 fala em 700 granadas no final do dia, mas penso que o número foi superior, a 1000. O que mais impressionava nem eram as explosões, mas sim o silvo arrepiante das granadas quando passavam por cima de nós.

Para responder ao fogo do PAIGC tínhamos a nossa artilharia e o morteiro 81 mm, que iam fazendo fogo com a rapidez possível. Poucos dias antes os obuses de 10.5 cm tinham sido substituídos pelos de 14 cm, mas os espaldões de protecção não estavam ainda adaptados. 

Cerca das 10h00 explodiu uma granada do lN na cobertura de zinco do Pelotão, causando 3 mortos e 11 feridos, o que o tomou inoperacional. Ainda se pôs um obus a funcionar com o apoio de voluntários e o pessoal que restou do Pelotão de Artilharia, mas ao fim de vários disparos ficou inoperacional. 

Claro que até esta altura os soldados nas valas e torreões de vigilância não faziam fogo, pois não se via qualquer inimigo. Os disparos que mandei efectuar, foi quando à tarde me apercebi que alguém estava a regular o tiro e então fez-se fogo de metralhadora para a encosta do outro lado do rio, onde era possível ver o aquartelamento.

A única arma pesada ainda disponível era o morteiro 81 mm, que embora não tivesse alcance para atingir as posições inimigas, continuava a marcar a nossa presença e que podia atingir as tropas do PAIGC, que encontravam nas imediações, como se provou mais tarde . [... ]

No dia 1 de Junho de 1973 houve 8 mortos e 28 feridos, que foram evacuados para Cacine que distava mais de 20 km, e os barcos levavam 2 horas no trajecto. Apesar da situação difícil nunca faltaram militares, para levar os feridos e os mortos para a enfermaria.

Ao princípio da tarde explodiu uma granada no posto de rádio, que ficou bastante danificado. Nesse abrigo encontravam-se os dois comandantes de Companhia, que ficaram feridos, e outros oficiais. Os dois capitães foram evacuados para Cacine, debaixo das granadas que continuavam a cair, e ficamos sem ligação rádio para qualquer aquartelamento. 

Lembro a noção da responsabilidade do operador cripto, que me veio perguntar se devia destruir os códigos secretos, ao que respondi que não. Passado algum tempo consegui
descobrir um rádio portátil TR-28, que estava intacto e a funcionar, o que me permitiu ser ouvido pela Unidade sedeada em Cufar, a quem pedi para comunicarem para Bissau a situação. Foi esta minha comunicação verbal que informou Bissau que Gadamael Porto embora com uma situação muito difícil estava ocupado, pois a Companhia de Cacine cerca das 12h00 informara Bissau que Gadamael Porto fora destruído e o pessoal tinha fugido para o mato, possivelmente devido aos rebentamentos contínuos que se ouviram em Cacine,
e conversas com os primeiros feridos, que aí chegaram cerca dessa hora vindos de Gadamael Porto. Se não fosse a comunicação rádio a informar a nossa ocupação de Gadamael Porto, poderia criar-se uma situação mais complicada e de difícil solução.

Após a evacuação dos capitães fiquei sem qualquer elemento de ligação às Companhias, em virtude de ter chegado na véspera e não conhecer os subalternos, que estavam dispersos pelo aquartelamento. Entretanto com as flagelações constantes, muitos dos soldados particularmente da Companhia de Guileje em virtude de as valas não oferecerem protecção, deslocaram-se ao longo delas até à tabanca da população, e ao tarrafo (zona alagadiça), que
não estavam a ser bombardeados. 

Não me apercebi dessas movimentações, hipotecado, como estava, com os problemas dos feridos, transmissões e reacção ao fogo ln para resolver. Durante a noite alguns nregressaram ao aquartelamento mas na manhã do dia 2 outros militares tiveram conhecimento de um navio patrulha da Marinha o NRP ORION sob o comando do Comandante Pedro Lauret e 2 LDM (Lanchas de Desembarque Médio) que estavam no rio
Cacine a cerca de 1 km. 

Com o apoio de botes de fuzileiros dirigiram-se para aí tendo sido recolhidos pela Marinha cerca de 200 militares e centenas de elementos da população. Foram levados para Cacine, tendo regressado passados dias a Gadamael Porto. É verdade que se os soldados se mantivessem nas valas, o número de baixas teria sido superior. Também é verdade que o navio patrulha, não enviou nenhum emissário ao aquartelamento a perguntar do que
precisávamos, quando tudo faltava, e só tive conhecimento da sua presença no dia seguinte.

Ao fim da tarde quando estávamos numa das evacuações de feridos no Cais, o médico ficou também ferido e foi evacuado. Era o alferes médico Antunes Ferreira, que foi incansável no tratamento e na preparação dos feridos e não queria ser evacuado. Lembro que todos os 8 mortos e 28 feridos em Gadamael Porto, nesse dia, foram evacuados para Cacine de "sintex".

Pouco tempo depois, quando vindo do Cais me deslocava junto do mort 81 mm, o Furriel Carvalho, saiu do abrigo veio na minha direcção e comunicou-me que não tinha munições para o morteiro, e que estavam poucos soldados na zona critica, e queria saber o que fazer. Eu nem sabia onde estavam as munições de morteiro, mas depois de o acalmar, apareceu o 1º cabo escriturário Raposo que se propôs ir na Berliet buscar granadas, ao paiol a cerca de 100 metros debaixo das flagelações, o que fez e foi incansável nessas tarefas e noutras, ajudado por outros militares que entretanto apareceram. [... ]

Mas tudo se resolveu. As granadas de morteiro apareceram montou-se uma metralhadora apareceram mais militares e passámos a noite a lançar uma granada de morteiro de tempos a tempos, a disparar umas rajadas de metralhadoras para assinalar a nossa presença, napesar de as flagelações com artilharia e morteiros do lN continuarem durante a noite. Nestes militares estavam oficiais, sargentos e praças, no efectivo de muitas dezenas.

A ideia de abandonar o Quartel nunca se me colocou, pois sabia que só por barco podia sair da zona. A minha preocupação durante o dia era evacuar os feridos, e garantir um mínimo de defesa. Mesmo que essa possibilidade existisse a minha formação ética o impediria. Aliás durante o dia estive sempre ocupado, a resolver os problemas que continuamente surgiam. Tudo seria diferente se eu conhecesse há mais tempo aqueles militares, que na maioria eram açorianos e que eram bons soldados, e a cadeia de comando pudesse funcionar.

No dia 2 de Junho, de manhã, aterrou um helicóptero com o General Spínola, o melhor Oficial General combatente da guerra de África. Logo que saiu do heli ouviram-se as saídas das granadas dos morteiros 120 mm, que demoravam 18 segundos a chegar ao Quartel, e que foi o tempo suficiente para se puxar o General, para dentro do helicóptero, apesar da sua resistência, e este levantar com o Cor Durão ainda pendurado. Quando estava a uns 20
m de altura as granadas caíram no local onde este aterrou. Antes de barco ou heli, tinham chegado o Cor Rafael Durão e os capitães de Cavalaria Manuel Monge e António Caetano. O capitão Monge foi comandar a Companhia de Cacine (Nota: Assumiu o comando da CCaç 3520 em 04 12h00 Jun73) e mais tarde o COP 5, e o capitão Caetano a Companhia 8350/72 (por um período limitado).

Nos dias 2 e 3 de Junho apesar da intensidade das flagelações, não houve mortos pois os militares procuraram melhores abrigos. No dia 3 chegou uma Companhia de Pára-quedistas comandada pelo Capitão Terras Marques, que eu conhecia, e que se instalou na zona da tabanca e nos assegurou uma estabilidade defensiva. 

No dia 4 de Junho um GComb da CCav 8350/72, efectuou um patrulhamento ao fim da pista antiga, a poucas centenas de metros. O lN atacou-o, tendo as nossas forças sofrido 4 mortos e 4 feridos e a captura de 3 esp G-3 e 1 EIR AVP-1. Os Pára-quedistas, chegados na véspera, acorreram ao local e recuperaram os feridos e os mortos. 

No dia 3 de Junho à tarde tinha-se apresentado o Major Pára-quedista Mascarenhas Pessoa que por ser mais antigo passou a comandar o COP 5. Os ataques mantinham-se intensos
levando o novo Comandante do COP 5 no dia 4 a solicitar a retirada ordenada
de Gadamael Porto. O que nunca se concretizou. [... ]

Perante a gravidade da situação em Junho desembarcaram mais duas Companhias de Pára-quedistas. Entretanto o Comando do Batalhão de Pára- quedistas deslocou-se para Gadamael Port0.  O Comandante era o Ten-Cor Pára-quedista Araújo e Sá e o 2° Comandante o Major Pára-quedista Moura Calheiros a quem muito devemos bem como aos Capitães Cordeiro, Terras Marques e Tenente Borges. 

Em fins de Junho fui com a CCaç 4743/72 para Tite. Regressei mais tarde ao COP 5 como Adjunto deste, comandado pelo Major Cav Manuel Monge, depois da saída dos Páraquedistas. Terminei a comissão na Guiné em Novembro de 1973. [... ]

Entretanto a CCav 8350/72 vinda de Guileje, e a CCaç 4743/72 de Gadamael Porto, foram rendidas por uma Companhia de Cavalaria e por uma Companhia de Artilharia.   [Nota : A CCaç 4743/72 foi rendida por troca pela CArt 6252/72 marchando por escalões em 4 e 19 de Jul73 para Tite e Bissássema. Em 26Jun73 a CCav 8452/72 foi colocada em Gadamael Porto a fim de colmatar a saída da CCav 8350/72. De 18Jun73 a 13Jul73 a 3ª C / BCaç 4612/72 foi atribuída em reforço temporário do COP 5 e colocada em Gadamael Porto. ] 

De 31 de Maio,  data da minha chegada até fins de Junho de 1973, as Nossas Tropas e Milícias aí aquarteladas tiveram 15 mortos e 39 feridos. [... ]  [Nota Depoimento escrito pelo Coronel de Infantaria 'Comando' Manuel Ferreira da Silva. ] 


Flagelações ln a Gadamael Porto de 22Mai a 30Jun26

 [Nota
 : Relatório das flagelações a Gadamael Porto no período de 22Mai73 a 30Jun73, da CCaç 4743/72.  ] 

Transcreve-se o "Desenrolar da Acção":

"O lN manifestou-se em contactos com as NT nos dias 25, 26 e 27Mai73 nas regiões de Ganturé, Lamoi e Bricana Velha, procurando impedir a penetração das NT na zona de Gadamael Fronteira.

No dia 31Mai73, iniciou as flagelações com morteiros 120 mm, tendo as primeiras granadas caído fora do perímetro do aquartelamento e sucessivamente o fogo foi sendo mais ajustado, deduzindo-se que o lN tinha montados Postos Avançados de Observação.

No dia  1Jun73 iniciou nova flagelação que durou várias horas tendo as granadas caído todas dentro do aquartelamento, com especial incidência sobre os depósitos de géneros e da cantina, zonas periféricas de defesa (valas) e espaldões da Artilharia que foram duramente atingidos.

A Zona do Cais de acostagem, foi igualmente batida, sobretudo quando da evacuação dos mortos e feridos. 

Nas flagelações que se seguiram nos dias imediatos o ln utilizou, morteiros 120 mm, canhão 130 mm, morteiros 82 mm e canhão src, com granadas explosivas, perfurantes e incendiárias, estas sobretudo de noite, cuja acção servia como ponto de referência.

A população, ainda no dia 31Mai73, pela tarde e noite, sobretudo a de Guileje procurou refúgio no aquartelamento, invadindo as instalações e ocupando valas e abrigos. 

No dia 1Jun73, ainda noite, foi seguida pela população da Gadamael Porto, que de manhã, quando o fogo IN se concentrou mais sobre a área do Quartel, propriamente dito, debandou para as zonas da tabanca e margem direita do rio, levando consigo, artigos de cantina, géneros e materiais, tudo o que apanhou à mão.

 Seguindo pelo tarrafo a população refugiou-se na região de Talaia, onde se lhe juntaram dezenas de militares que haviam saído das valas do Quartel, que estavam a ser fortemente batidas, bem como do Cais, entre eles, doentes e feridos ligeiros, que foram evacuados para
Cacine e, ainda os militares psicologicamente mais afectados que juntamente com a população foram recolhidos para Cacine. Os restantes militares, passada que foi a maior intensidade das flagelações, desse dia, foram regressando ao aquartelamento.

Nas flagelações que tiveram lugar durante o período o lN continuou a concentrar o fogo mais sobre as instalações com granadas incendiárias; assim, na noite de 2 para 3Jun73, uma granada atingiu a arrecadação do material de aquartelamento e material sanitário, e na noite seguinte a arrecadação do material de guerra e arquivo da secretaria, originando incêndios que destruíram toda a existência, não só destas dependências como das anexas que constituíam mesmo edifício. 

Após o aparecimento do clarão do incêndio o lN continuava enviando granadas, ora esporádicas ora com intensidade, obrigando o pessoal a manter-se nas valas e abrigos, impedindo qualquer acção, pelo que foi vão qualquer tentativa para debelar os incêndios. [...]

As perdas em pessoal e material avultam pela intensidade e ajustamento dos fogos. As arrecadações dos materiais, guerra e aquartelamento, sanitário e transmissões com as dependências anexas ou contiguas, atingidas por granadas incendiárias cujo fogo se propagou com uma rapidez alarmante, foram destruídas bem como toda a existência, salvo a excepção do material de transmissões que se conseguiu retirar a tempo na sua quase totalidade. Os materiais destruídos, sujeitos a altas temperaturas e ao deflagrar de munições, o armamento e outros ficaram calcinados reduzidos a um montão de sucata.
 
Igualmente os depósitos de géneros e artigos de cantina, sala do soldado, oficina auto e duas casernas de Pelotão, atingidas por várias granadas explosivas sofreram não só a destruição como foram alvo na noite de 1 para 2Jun73 da inversão da população que se apoderou de artigos, géneros e material.

Um elevado número de armas extraviado tem por base a troca de armas entre o pessoal que superlotava o aquartelamento, acontecendo que no acto de evacuação dos feridos, o fogo incidiu sobre o cais, muitos militares deixaram cair as armas ao rio tendo mesmo acontecido que num bote ao virar-se, tem-se conhecimento que pelo menos cinco armas ali se tenham perdido".

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo  das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 325-333.

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
__________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 30 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23398: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (6): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte V: o ataque a Guileje

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17267: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (15): Tabancas de Cufar e Matofarroba


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Bajuda balanta


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Pilão do arroz


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > O al ff mil imf Luís Mourato Oliveira e o alf mil médico em visita ao reordenamento feito pelas NT


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > > Tabanca > 1973 > Aspeto parcial



Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Cufar >  Tabanca > 1973 > Aspeto parcial com o fontenário à direita

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar,  1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começamos hoje a publicar.

Sobre esta subunidade, açoriana, mobilizada pelo BI 17,  há uma página na Net, criada pelo ex-furmil mec auto Mário [Fernando Lima de] Oliveira, podendo a sua história ser consultada aqui.

Sabemos, por exemplo, que em janeiro de 1973, o "alferes mil 01876771, Luís Fernando Mourato de Oliveira, substitui o alferes mil 18029168, Mário José Correia Salsinha, nomeado para as unidades africanas: CCAC 13".

Esta companhia, comandada pelo cap mil inf João Gaspar Dias da Silva teve 9 (nove!) alferes milicianos e 19 sargentos (, a maioria, furriéis milicianos). O pessoal partiu para o CTIG, em 21/6/1972, num Boeing 707 dos TAM. 

Em 22/7/1972 seguiu, em LDG, para Cufar onde, em sobreposição, realizou a rendição da CCAÇ 2797. Um mês depois assumiu a responsabilidade do subsetor. A 23/12/1972, Cufar sobreu uma flagelação com 9 mísseis ou foguetões 122 mm (os famosos Katiusha).

Em 11 de Julho de 1974 passou o último dos 690 dias passados em Cufar. No dia seguinte chega, transportada em LDM, a CCAÇ 4152/73 , ao porto de Impundega, para substituir a CCAÇ 4740.

Em 3/8/1974, chegou o finalmente a "peluda"... A CCAÇ 4740 regressa a casa: o Boeing dos TAM, com destino ao aeroporto de Figo Maduro, faz escala no aeroporto das Lajes, em Angra do Heroísmo, desembarcando aqui os militares açorianos.

2. Reuniões de convívio do pessoal da CCAÇ 4740:

1 de Dezembro de 2007 -1º Encontro Continental

21 de Junho de 2008 - 2º Encontro Continental,

10 a 14 de Junho de 2009 - 1º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

19 de Junho de 2010 - 3º Encontro Continental,

3 a 9 de Julho de 2010 - 2º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

18 de Junho de 2011 - 4º Encontro Continental,

16 de Junho de 2012 - 5º Encontro Continental,

15 de Junho de 2013 - 6º Encontro Continental,

21 de Junho de 2014 - 7º Encontro Continental,

20 de Junho de 2015 - 8º Encontro Continental,

18 de Junho de 2016 - 9º Encontro Continental,

17 de Junho de 2016 - 10º Encontro Continental.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16182: Memória dos lugares (340): Gadamael, 1974: foto dos régulos de Ganturé e de Gadamael... O de Ganturé chamava-se Abibo Injassó (Carlos Milheirão, ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 4152/73 ( Gadamael e Cufar, 1974)  > 1974 > Régulos de Ganturé e de Gadamael... O de Ganturé chamava-se Abibo Injassó.

Foto: © Carlos Milheirão (2016). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem de Carlos Milheirão [ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974]


Data: 9 de junho de 2016 às 00:02


Assunto: Foto de Gadamael


Olá, caro Carlos Vinhal

Porque li um "post" em que alguém falava do régulo de Ganturé, lembrei-me de que tenho uma foto onde estão os dois (o de Ganturé e e o de Gadamael). Não me lembro de quem é quem mas lembro-me que o de Ganturé se chamava Abibo [Injassó].(*)

Abraço,

Carlos Milheirão (**)

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Notas do editor:



(...) A CART 494, comandada pelo então Capitão de Artilharia Alexandre Coutinho e Lima, embarcou em Lisboa, no navio Niassa, em 17 jul 63, tendo desembarcado em Bissau em 24 jul.

Esteve em Ganjola  (Norte de Catió), desde 17 set 63 (, desembarcámos às 11H00, ) até 15 dez 63, sendo a primeira tropa portuguesa a ocupar aquela localidade.

O baptismo de fogo foi no dia da chegada, em pleno dia (16h30); um grupo inimigo (IN) atacou com grande intensidade de fogo, aproximando-se a cerca de 3 metros, nas poucas zonas onde já estava instalado.

O IN teve 4 mortos confirmados, encontrados no meio do capim, com as respectivas armas: 2 Espingardas Mauser, 1 carabina e 1 pistola metralhadora PPSH. As nossa tropas (NT) não tiveram a mais pequena beliscadura; foi um dia de muita sorte.

Desde 17 set 63 até 28 mai 65, ocupou Gadamael, sendo a primeira Companhia naquela localidade. Neste período, construiu, a partir do zero, dois aquartelamentos: a sede da Companhia e o destacamento de Ganturé.

Realizou uma intensa actividade operacional, no sector que lhe foi atribuído, bem como a abertura e manutenção dos respectivos itinerários. Gadamael foi uma verdadeira plataforma logística, pois no seu “porto” desembarcavam os reabastecimentos para a Companhia e para as guarnições de Guileje, Mejo e Sangonhá/Cacoca, que davam origem às respectivas colunas, para os levar ao destino.

A Companhia realizou uma permanente acção psicossocial, no sentido de fazer regressar as populações, que se traduziu pelo regresso a Ganturé do seu Régulo Abibo Injassó e de 108 elementos da população.

Desde 28 mai 65 até 18 ago 65, esteve no sector de Bissau, onde desenvolveu acções de patrulhamento, acção psico social e assistência sanitária às populações.

A Companhia regressou a Lisboa em 18 ago 65, a bordo do navio Uíge; seguimos para o Regimento de Artilharia Pesada nº. 2, em Vila Nova de Gaia, onde o pessoal foi desmobilizado. (...)






terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15089: Em busca de... (260): José Carlos, taxista em Vila do Conde, ex-Soldado Atirador do 2.º Pelotão da CCAÇ 4152, procura camaradas (Vasco Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Santos (ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6 (Onças Negras), Bedanda, 1972/73), com data de 1 de Setembro de 2015:

Olá amigo Carlos,

Espero que esteja tudo de bem contigo e com a Família.

Estou a entrar em contacto a fim de te solicitar um favor, ou seja, a possibilidade de publicares uma foto de um conterrâneo nosso que esteve em Gadamael no ano de 1973/1974. Será possível?

Em caso afirmativo o que ele pretende é restabelecer contacto com algum amigo do Pelotão/Companhia dele. Para tal, anexo uma foto (ele é o ultimo na primeira fila à esquerda, com o prato na mão).

José Carlos, de pé, à direita da foto

José Carlos

Dados:
José Carlos (Taxista em Vila do Conde)
Ex-Soldado Atirador do 2.º Pelotão da CCAÇ 4152
Contacto: tlm 966 852 568

Desde já os meus agradecimentos e até uma nova oportunidade.
Abraço
Vasco Santos


2. Comentário do editor:

Caro Vasco, faz chegar ao camarada José Carlos que na nossa tertúlia há 2 camaradas da CCAÇ 4152/73, a saber: o ex-Alf Mil Carlos Milheirão e o ex-Alf Mil José Gonçalves, este radicado no Canadá.

Em tempos um outro camarada da 4152, de nome Manuel Joaquim Gonçalves, de Viana do Castelo, tentou também através do nosso Blogue  encontrar camaradas seus.

Se o José Carlos quiser os contactos destes 3 companheiros de Companhia, fá-los-ei chegar até ele por teu intermédio.

Fico ao dispôr
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14756: Em busca de... (259): Fotos do cinema de Bafatá, c. 1970 (António Martins, arquiteto, Bigarquitectura, Braga)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14781: Memória dos lugares (295): Gadamael Porto, 1974 (Carlos Milheirão, alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 1 > O Carlos Milheirão no obus 14, e por detrás, assinalados por seta e  legenda, o depósito de géneros e a enfermaria



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 19 > Em primeiro plano, o autor das fotos, que esteve em Gadamael entre fevereiro e julho de 1974.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael >  1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 15 > Legendas, da direita para a esquerda (i) portadas da messe; (ii) depósito de géneros e enfermaria; (iii) canhão sem recuo; e (iv) geradores elétricos (?).



Guiné > Região de Tombali > Gadamael >  1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 21 > O Carlos Milheirão no espalddão do obus 14. Legendas: da esquerda para a direita: (i) aqui provavelmente estava uma das metralhadoras; (ii) obus 14; (iii) algures por aqui havia um canhão sem recuo; e (iv) depósito de géneros e enfermaria.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael >  1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 23 > Crianças... Legendas: (i) bolanha /cais; (ii) depósito de géneros e enfermaria; e (iii) enfermaria / abrigo.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 18 > Aspeto geral do aquartelamento... Legendas, da esquerda para a  direita: (i) abrigo; (ii) bandeira; (iii) padaria (?); (iv) cozinha e messe de sargentos; (v) messe e bar de oficiais; (vi) estas telhas certamente "voaram" com um disparo de obus para a mata do Cantanhez (Jemberém); e (v) espaldão de obus 14


Guiné > Região de Tombali > Gadamael >  1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 8 > Legendas: (i) abrigo; (ii) geradores elétricos (?); e (iii) bandeira (quando se içava ou arriava, os cães vinham para ali e uivavam ao toque do clarim)


Guiné > Região de Tombali > Gadamae >  1974 > CCAÇ 4152/73 > Foto nº 9 > Da esquerda para a direita: (i) bolanha; (ii)  algures por aqui havia um canhão sem recuo; (iii) obus 14; (iv) depósito de géneros e enfermaria; (v) bolanha/cais; e (vi) tabanca.



Fotos (e legendas): © Carlos Milheirão (2015). Todos os direitos reservados (Edição: LG).



1. Mensagem, de 17 do corrente, enviada por  de Carlos Milheirão (ex-alf mil, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974):

Assunto - Gadamael Porto 1974


Bom dia

Tomo a liberdade de enviar em "anexo" algumas imagens de Gadamael para que, se assim o entender, publicar no "Blog".

Cumprimentos

Carlos Milheirão
(Ex-Alferes Miliciano da CCAÇ 4152)

2. Comentário do editor:

Obrigado, camarada, são fotos preciosas, ainda para mais convenientemente legendadas. Manda mais, de Gadamel e de Cufar, terras do fim do mundo onde passaste e penaste, já no fim da guerra. Sabemos que estiveste lá, na mítica Gadamael, entre fevereiro e julho de 1974. Tens, por certo, ainda muitas histórias para nos contares. Um abraço dos editores.

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sábado, 15 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12722: Efemérides (148): 9 de Fevereiro de 1974, chegada da CCAÇ 4152/73 ao inferno de Gadamael (Carlos Milheirão)

Vista aérea de Gadamael
Foto: © Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva


1. Mensagem de Carlos Milheirão (ex-Alf Mil da CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974), com data de 7 de Fevereiro de 2014:

Bom dia
Em primeiro lugar, um abraço a todos os camaradas.

Na passagem 40º aniversário da chegada da CCAÇ 4152 ao "inferno de Gadamael", lembrei-me de actualizar as minhas fotografias da época e actual.

Do mesmo passo e porque comemorei o meu 22º aniversário nas matas de Bolama, durante o IAO, na semana de campo, juntamente com o Comandante da Companhia, Capitão Rodrigo Bello de Serpa Pimentel, vou contar a história da "festa" que oferecemos ao pessoal da Companhia.

Tendo "adquirido" duas cabras que andavam a pastar à beira da picada que ligava o local do acampamento à aldeia vizinha, esfolámo-las e à beira de um pequeno riacho que existia no local, fizemos uma valente fogueira.

Como não havia ingredientes para temperar, demos a volta às rações de combate para juntar o que se pudesse para dar gosto à coisa. As cabras untadas/temperadas com o que havia, lá engendrámos a maneira de as pôr a rodar sobre o brazido. Uma vara a servir de espeto e outras duas, com forcada, a servir de suporte.
Em breve começámos a ficar inebriados com aquele cheirinho da carne assada. Ficaram os ossos limpos.

Que festança!

Nesta foto, como é evidente, aquele "Velhice" de 72, não me diz respeito porque só cheguei em Fevereiro de 74.

Sobre a CCAÇ 4152/73:

Digitalização da pág. 423 do 7.º Volume das Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné, da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1774)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12305: Efemérides (147): Dia 9 de Novembro de 2013, data em que se assinalaram os seguintes aniversários: 95 Anos do Dia do Armistício da Grande Guerra, 90 Anos do Dia da Liga dos Combatentes e 39 Anos do Fim da Guerra do Ultramar (José Marcelino Martins)

sábado, 19 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9925: Em busca de ... (188): Manuel Joaquim Gonçalves, de Montaria - Viana do Castelo, procura os seus camaradas da CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1973/74)

1. Mensagem de Victor Gonçalves, filho do nosso camarada Manuel Joaquim Gonçalves que integrou, com a Especialidade de Atirador, a CCAÇ 4152/73 que esteve em Gadamael e Cufar:

Boa tarde,
Em nome do meu pai (Manuel Joaquim Gonçalves), gostaria de encontrar os colegas que andaram com ele na Guiné.

Meu pai disse-me que era da companhia 4152, atirador. Dezembro de 1973 a Setembro de 1974.

Meu pai é de Montaria - Viana do Castelo. Nasceu em Janeiro de 1952.

Agradecia se tivesse alguma informação, fotos, endereços.

Envio em anexo uma foto da época.

Atentamente,
Victor Gonçalves
victormmgoncalves@gmail.com


2. Notas do editor:

Sobre a CCAÇ 4152/73, do qual fazem parte da nossa tertúlia os ex-Alf Mil Carlos Milheirão e José Gonçalves, podemos dizer:

- Foi mobilizada no RI 1 - Amadora
- Comandante: Cap Mil Inf Rodrigo Belo de Serpa Pimentel
- Embarcou para a Guiné em 29DEZ73
- Regressou em 12SET74

 - De 09JAN74 a 06FEV74 realizou o IAO no CIM de Bolama, de onde seguiu em 09FEV74 para Gadamael, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 5.

- Em 02JUN74 assumiu a responsabilidade do subsector de Gadamael, substituindo a CCAV 8452/72.

- Em 12JUL foi transferida para Cufar, onde substituiu a CCAÇ 4740/72, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector.

- Em 07SET74, após a desactivação e entrega do aquartelamento de de Cufar ao PAIGC, recolheu a Bissau a fim de aguardar o embarque de regresso.

(Elementos recolhidos na Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), edição do Estado-Maior do Exército - 2002)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9893: Em busca de ... (187): Maria Luísa procura ex-combatentes da CCAV 1693 e do BCAV 1915, camaradas de seu marido, falecido recentemente

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9394: Tabanca Grande (318): Carlos Milheirão, ex-Alf Mil da CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1974)

1. Mensagem de Carlos Milheirão (ex-Alf Mil da CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974), com data de 12 de Junho de 2011:

Caro Luis
Fui combatente na Guiné na CCAÇ 4152 que esteve sediada em Gadamael Porto e posteriormente em Cufar. Fui contemporâneo do José Gonçalves e subscrevo em (quase) tudo o seu testemunho. Tenho algumas fotos e memórias que gostaria de publicar no Blog mas não sei como fazer. Por isso, gostaria que me enviasse as dicas necessárias para o efeito.

Abraço
Carlos Milheirão
ex-Alf Mil
CCAÇ 4152


2. No dia 9 de Julho de 2011 foi enviada mensagem ao camarada Carlos Milheirão nos seguintes termos:

Caro camarada Carlos Milheirão
As nossas desculpas por só agora virmos ao teu encontro.
Muito obrigado pelo teu contacto que muito nos apraz porque cada camarada que se nos dirige é um novo amigo e um novo colaborador do nosso Blogue.
Claro que teremos o maior gosto em publicar as tuas memórias, acompanhadas pelas tuas fotos.

Para fazeres parte integrante da nossa tertúlia, terás que pagar a respectiva jóia que é enviares uma foto dos teus tempos de Guiné, uma foto actual (ambas tipo passe de preferência em formato JPEG) e uma pequena história que servirá de apresentação. São elementos indispensáveis: nome, posto, especialidade, Unidade, locais de permanência na Guiné, datas de ida e volta, etc.

Todo o material para publicação deverá ser enviado para o editor Luís Graça - luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores: Carlos Vinhal - carlos.vinhal@gmail.com  ou Eduardo Magalhães - magalhaesribeiro04@gmail.com, isto para assegurar que a tua correspondência não passará despercebida entre as centenas de mensagens que se recebem.

As fotos deverão vir com um tamanho nunca inferior a 150kb para assegurar uma boa qualidade na publicação. Se vierem "maiores" nós faremos os ajustes necessários. Era óptimo o envio à parte das legendas de cada foto, com indicação do local, data e acontecimento.
Há camaradas que enviam as fotos e legendas integradas nos textos (em Word, nunca em PDF), mas poderão vir à parte, numeradas e com a indicação do local do texto onde as queres ver publicadas.
Depende tudo do conhecimento e da prática informática.

Não estranhes o tratamento por tu, mas na Tabanca, o antigo posto, a idade, a formação académica, a profissão, etc, não diferencia os camaradas que beberam a água das mesmas bolanhas, que pisaram aquela terra vermelha e suaram sob aquele sol naquele clima húmido e pegajoso.

Aguardamos as tuas notícias.
Até lá recebe um abraço dos editores
O camarada e novo amigo
Carlos Vinhal




3. Mensagem com data de 18 de Janeiro de 2012 do nosso camarada Milheirão:

Cumprimentos
A foto a preto e branco, onde me encontro em primeiro plano, foi feita em Bolama durante um desfile aquando da substituição do General Spínola pelo General Bettencourt Rodrigues. Passou-se em Janeiro de 1974, estávamos no I.A.O. e foi pouco antes da partida para Gadamael Porto.
A segunda foto é de Outubro de 2009 e foi tirada no dia das eleições autárquicas.

Carlos Milheirão


4. Comentário de CV:

Caro Carlos, bem aparecido na Tabanca Grande, onde a partir de hoje integras a tertúlia.

Já te disse quase tudo no que respeita à colaboração no Blogue. Falei-te no "tamanho" das fotos, e tens bem à vista o resultado. A tua foto à civil chegou com apenas 3K que não deu sequer para que te venhamos a reconhecer na rua. Se puderes repete o envio desta ou outra para teres uma foto tipo passe como deve ser a encimar os teus trabalhos. A foto militar (65K) também não dá para fazer uma tipo passe com a mínima qualidade.

Estás formalmente apresentado à tertúlia. Recebe um abraço em nome de todos os camaradas e amigos tertulianos.
Pelos editores
Carlos Vinhal
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Em tempo: Fotos da praxe incluídas nos poste em 07FEV13
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9346: Tabanca Grande (317): Anabela Pires, voluntária no projeto Ecoturismo do Cantanhez, nossa tabanqueira nº 536, aqui saudada pelo Hélder Sousa

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8516: As nossas melhores fotos (3): Na senda do Cap Imaginário que eu conheci em Gadamael Porto, em 1974 (Joaquim Sabido, 3ª CART / BART 6520 e CCAÇ 4641, 1973/74)


Guiné > Região de Tombali > Gamael > Maio de 1974 > A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício ); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. O nosso camarada José Gonçalves está atrás, na segunda fila,  entre os dois. Por sua vez, o capitão Pimentel, comandante da CCAÇ 4152 (***),  está ao lado do José Gonçalves, por detrás do Comandante Patrício. 


Guiné > Região de Tombali > Gamael > 1974 > O capitão Peixoto da CCAV 8452, de T-shirt branca com o seu nome estampado. De lado estão dois capitães do COP5 e de costas o Alf Mil Lobo, da CCAÇ 4152, a minha companhia. Esta foto foi tirada na messe de oficiais da CCAV 8452, construída com troncos e chapas de lata (**).

Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Comentário do nosso camarada Joaquim Sabido  [, foto à direita,] com data de 5 do corrente, ao poste P7187 [ O Joaquim Sabido é hoje advogado, reside em Évora e esteve presente no último encontro em Monte Real]: 


Caros Camaradas:

Att. José Gonçalves e C. Martins, porque se encontravam em Gadamael quando as fotografias foram obtidas, gostaria que, se ainda vierem a estes comentários [ao poste P7187], me confirmassem se o capitão que aparece na 1ª foto, ao lado direito do Comandante Patrício e na 2ª foto, ao lado esquerdo do Cap 
 Peixoto, não é o Cap Imaginário ? (****)

Na 1ª foto, ao lado esquerdo do comandante Patrício, aparece o cabo fuzileiro Pedras, o de barbas e com avantajada envergadura.

No comentário do Zé Gonçalves, do dia 30 de Outubro, [ ao supracitado poste  
P7187, ] posso confirmar que as posições que bombardearam após a visita do Comissário, foram para auxiliar o pessoal que se encontrava em Jemberém [ou Iemberém, como se diz hoje], pois continuámos a embrulhar e bastante nos ajudaram, especialmente o C. Martins, com os seus 14.

Um Abraço a todos os Camaradas, do

Joaquim Sabido, Évora
ex-Alf Mil Art,
3.ª Cart/Bart 6520/73 
e CCaç 4641/73
(Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974)
_________________

Notas do Editor:

(*) Ultimo poste da série > 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8476: As nossas melhores fotos (2): O Major Pereira da Silva, num zebro, no Rio Mansoa, com outros oficiais, incluindo eu (J. Pardete Ferreira)

(**) A CCAV 8452/72 foi mobilizada pelo RC 4. Partiu para a Guiné a 29/5/1973 e regressou 6/9/1974. Esteve em Gadamael, Cacine, Cumeré e Brá. Comandante: Cap Mil  Cav José Ferreira Rodrigues Peixoto.Fonte: Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões.  Matosinhos: QuidNovi. 2009.

(***) CCAÇ 4152/73:  Mobilizada pelo RI 1. SWeguiu oara a a Guiné em  29/12/1973 e regressou a 12/9/1974.   Esteve em Gadamael e Cufar. Comandante: Cap Mil Inf Rodrigo Belo de Serpa Pimentel. Fonte: Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009.

(****) A única referência (lacónica) que temos no nosso blogue é do próprio Joaquim Sabino: (...) "Sr. Capitão Imaginário, que tive o grato prazer de conhecer em Gadamael Porto, aquando da minha visita ao local [, em 1974]".
 
Pergunta-se: Seria um oficial ligado ao COP5 ? Ou comandante de alguma companhia operacional ?

sábado, 20 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7309: Humor de caserna (20): É proibido c...em frente ao canhão (C. Martins, Gadamael, 1974)

1. Deliciosa, esta, a do nosso leitor (e camarada) C. Martins, que esteve em Gadamael (julgo que em 1974, com o José Gonçalves) e a quem convido formalmente para se juntar aos bravos do pelotão, aqui na Tabanca Grande (*):


Estando eu a fazer uma necessidade fisiológica (que ninguém fazia por mim) em frente ao espaldão do  canhão s/r, [, em Gadamael,] ouvi uma voz de "gago":
- Ooooo meeee,  alll nãnnn saaabbe leeer.


Respondi-lhe com maus modos porque estava com cólicas devido à diarreia, e ao olhar de soslaio vi um cartaz de papelão que dizia:
- É PROIBIDO CAGAR EM FRENTE AO CANHÃO.


Para que conste não fui multado, mas não repeti a cena porque aqueles desgraçados não tinham a obrigação de cheirar os odores das minhas tripas durante dias inteiros.


O gadamaelista


C. Martins (**)


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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 19 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (101): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves)

(**) Último poste da série > 24 de Maio de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (44): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves, ex-alf mik op esp, CCAÇ 4152/73, Gadamael e Cufar, 1974))

1. Texto de José Gonçalves (ex-Al Mil Op Esp da CCAÇ 4152/73, que vive actualmente no Canadá) [, foto à direita]:

Data: 19 de Novembro de 2010 02:12

Assunto: O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau.

Foi já ao entardecer do dia 27 de Fevereiro 1974 quando recebemos uma mensagem para tomarmos as precauções defensivas necessárias pois havia informação indicando a possibilidade de Gadamael vir a ser atacado por tanques e carros de combate [possível referência às viaturas blindadas, de origem soviética, BRDMque o PAIGC estaria em condições de começar a utilizar em 1973 nos ataques aos nossos aquartelamentos fronteiriços ]. 

Como devem calcular não foi uma notícia que pudesse ser ignorada e assim todo o pessoal do comando reuniu-se para decidir o que fazer em relação à nossa segurança e à da população sob nossa protecção.

Defesa contra tanques e carros de combate era coisa que não tinha ideia nenhuma pois nunca tive este tipo de treinamento. Nem eu nem ninguém da minha companhia, mas não podíamos ficar de braços cruzados e decidimos então ir fazer uma inspecção a todos os postos de defesa e instruir os seus responsáveis do perigo que poderia em breve aparecer para que tomassem as devidas precauções em relação às munições e funcionamento das armas de defesa.

[Imagem à esquerda: Viatura blindada BRDM 2, utilizada pelo PAIGC em meados de 1973 no sul da Guiné: Desenho e especificações... 

Cortesia de Nuno Rubim (2009)




Visitámos os postos de metralhadoras pesadas e depois fomos visitar um posto de canhão sem recuo que ficava mesmo ao lado da enfermaria/messe de sargentos. O cabo responsável por esta arma mostrava-se muito entusiasmado pela atenção que lhe estava a ser prestada e queria mostrar-nos a todos nós como a sua arma funcionava . Entretanto o capitão, alferes e furriéis estavam todos à volta do canhão, dialogando sobre as melhores opções de defesa quando o cabo decidiu trazer uma munição para nos mostrar e introduziu-a na câmara do canhão. 

Fiquei preocupado pois sabia como tal peça funcionava e disse-lhe prontamente que com todo o pessoal à volta isso era perigoso avisando-o para não fechar a culatra. A resposta do mesmo foi que não havia perigo e fechou a culatra e quase instantaneamente se deu a percussão da mesma ferindo o cabo em estado muito grave pois apanhou-o em cheio nas suas partes privadas e a mim que estava ao seu lado queimou-me quase um terço do corpo principalmente perna esquerda, braço esquerdo e peito. Valeram-me os calções que protegeram a mercadoria. O coitado do cabo não teve a mesma sorte.

Com a explosão voei pelo ar e caí em cima do Alferes Lobo (que estava algures ao meu lado ou por trás de mim) que se queixava não enxergar nada. Olhei então para o Lobo e verifiquei que as pálpebras dos olhos dele se tinham chamuscado e colado não o deixando abrir os olhos correctamente. Ao mesmo tempo olhei para o meu braço e vi que estava todo preto e com sangue, tentei limpar o braço passando com a minha mão direita sobre ele e um bocado de pele automaticamente se descolou. Olhei então para a minha perna e também não estava lá muito católica e resolvi então correr para a enfermaria à procura de ajuda.

Quando cheguei ao abrigo onde os enfermeiros estavam alojados disse-lhes que tinha havido um acidente e que havia vários feridos. Com esta informação saíram todos correndo pela enfermaria a fora em direcção ao canhão e deixaram-me lá sozinho, por fim um voltou para trás para tomar conta de mim. Foi então que me disseram que o cabo tinha ficado mesmo muito mal e que felizmente tinha só sido eu e ele a ficarmos feridos e que teríamos de ser evacuados pata Bissau. Por sorte não estava ninguém em frente do canhão senão o resultado teria sido muito pior.

Começaram então os preparativos para nos evacuar e foi-nos prontamente dito que a evacuação teria que ser feita de Cacine porque os helis não vinham a Gadamael. O sol já estava posto quando nos meteram em dois sintexes do exército e lá fomos rumo a Cacine. Tive então o conhecimento real que a maresia em queimaduras dá dores horríveis e como não me tinham dado e não me deram nada para as dores, tive que aguentar até ser evacuado o que só aconteceu no outro dia de manhã. O cabo estava cheio de morfina mas apesar do meu pedido para me darem também morfina para as dores, foi-me recusado dizendo que os efeitos secundários da morfina não eram justificados no meu caso.

No sintex no meio do rio Cacine sentia um alívio enorme e um sentimento de sorte, apesar dos ferimentos que tinha, pois ia deixar o inferno de Gadamael para trás, os bombardeamentos diários e o suposto ataque   [de BRDM-2] que felizmente nunca chegou a acontecer. As minhas preocupações eram com os meus soldados e camaradas caso o ataque previsto se realizasse: será que tudo estaria bem com eles, será que o treinamento que lhes tinha dada e com o comando dos furriéis poderiam ser dignos militares e não porem a sua vida em risco ? 

Tudo isto me ia na cabeça e também uma grande preocupação de ficar muito cicatrizado (um pouco de vaidade que é normal de quem é novo) . Tinha que escrever aos meus pais e contar-lhes o sucedido mas como fazê-lo sem preocupar mais a minha mãe pois sabia que esta (já vivendo no Canadá com o resto da família), sofria de muitas emoções por me encontrar na Guiné a combater. 

Passei uma noite horrível na enfermaria de Cacine ao lado do meu companheiro,  1º cabo apontador de canhão s/r, pois este estava totalmente sedado com morfina mas com conhecimento do que lhe tinha acontecido. Passou a noite a chamar pela namorada e pela mãe. A uma certa altura pediu aos enfermeiros para urinar e estes diziam um para o outro que não encontravam nada com que ele o pudesse fazer. Foi uma noite horrível escutando aquele homem gemer e chamar pelos seus entes queridos e pedi aos enfermeiros para me mudarem para outro lado pois já não suportava mais a agonia do meu camarada que me causava mais transtorno que as minhas próprias dores. Também me foi dito que não podiam pois que eu tinha que ser monitorizado e que tinha que ficar perto deles. 

De madrugada lá apareceu um heli com uma enfermeira pára-quedista que nos evacuou para o hospital militar de Bissau onde passei os próximos dois meses só regressando a Gadamael no dia 21 ou 22 de April de 1974 (já não me recordo bem da data).

Quando cheguei a Bissau um dos enfermeiros na sala de recepção levantou o lençol que me tapava o corpo totalmente nu e disse : "pensei que era pior" o médico que se encontrava a seu lado olhou para mim e respondeu : "ainda querias pior?". Nunca mais me esqueci destas duas frases. Medicaram-me e puseram-me em soro todavia passadas umas boas horas comecei a ter convulsões que era o começo de envenenamento do corpo devido a quantidade de pele queimada. 

Tudo passou, e um dia apareceu na sala de cuidados intensivos o governador (general Bettencourt Rodrigues) que me perguntou como me estava a sentir e de imediato me ameaçou com um auto por andar a brincar com canhões. Respondi-lhe que agradecia ele mandar averiguar a situação pois eu também estava interessado em saber o que se tinha passado mas que tal acto não foi devido a nenhuma brincadeira com canhões. Não me deu resposta e lá se foi para a sua vida e eu fiquei mais mês e meio em Bissau a recuperar.

Lembro-me de várias vezes ouvir passar tropas cantando, (presumindo ser tropas especiais e talvez africanas) em camiões em direcção a Bissalanca , e logo pela manhã do dia seguinte começavam os helis a chegar com os feridos. Foi um tempo preocupante e interessante pois estive cerca de 3 semanas com alta do hospital (indo às consultas externas ao hospital 1 vez por semana ) nas instalações dos oficiais onde se comia e bebia bem, com piscina e até cinema ao ar livre tinha. 


Comparado com Gadamael,  era um paraíso mas tive alta no dia 21 de Abril e voltei de novo para o "inferno de Gadamael" pensando sempre que talvez fosse o meu último destino, o que não veio a acontecer devido ao 25 de Abril. 

Foi também em Bissau que comecei a conviver com outros oficiais mais experientes que ali se encontravam de baixa ou de passagem e que contavam as suas histórias e preocupações e o seu sentimento de revolta com tudo o que se estava a passar. Em Gadamael, no COP 5 falava-se pouco da situação em que estávamos talvez pelo choque e o pouco tempo que lá estive. Do tempo de Gadamael lembro-me das noites de Poker, dos uísques e dos gins tónicos e do fugir para os abrigos que podia ser várias vezes por dia. 

José Gonçalves | alf mil op esp | CCAÇ 4152/73,
Gadamael e Cufar, 1974)
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Nota de L.G.: 

Último poste da série > 16 de Novembro de 2010> Guiné 63/74 - P7291: Estórias avulsas (100): A mina, que seriam duas (António Branquinho)