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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20061: Memória dos lugares (393): Ainda os memoriais de Buruntuma e Camajabá (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 9 de Agosto de 2019:


Ainda os memoriais de Buruntuma

Estando eu navegando no nosso blogue, resolvi pesquisar postes relacionados com Buruntuma, onde permanecemos algum tempo, deparando com o poste P17867 que fala sobre os memoriais daquele aquartelamento.

Começo por dizer que na foto do memorial da CCAÇ 3546 que presta homenagem aos seus mortos, que ainda está na Ponte Caium, e que vai resistindo à erosão dos tempos, se vê à esquerda, os restos de um pedestal onde existia um pequeno oratório, tipo capelinha, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Já lá se encontrava quando a CART 1742 tomou conta do sector que tinha sede em Buruntuma.
Ao tempo, era enviado um grupo de combate para Camajabá, que por sua vez deslocava uma secção para a Ponte Caium a fim de manter a segurança da mesma.

Envio foto minha junto desse oratório. O pedestal não tinha a inscrição que se vê na foto do Patrício Ribeiro. Olhando para semelhança das letras e  dos números inscritos no memorial, dá a ideia de que tenha sido a malta da 3456 a fazer tal inscrição, e muito bem.

Ponte Caium - Memorial da CCAÇ 3546
Foto: Eduardo Campos

Ponte Caiun - Abel Santos junto ao oratório
Foto: Abel Santos

Ponte Caium - Restos do oratório
Foto: Patrício Ribeiro

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Em Camajabá ainda resiste um memorial pertencente à CCAÇ 1418. Envio foto minha e, para comparação, uma foto mais recente do mesmo, tirada pelo camarada Patrício Ribeiro.

Camajabá - Abel Santos junto ao Memorial da CCAÇ 1418
Foto: Abel Santos

Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418 - Actualmente
Foto: Patrício Ribeiro


Envio um abraço aos camaradas da CCAÇ 3546 pelo bonito memorial que deixaram em terras da então Guiné Portuguesa, perpetuando assim a sua e nossa passagem por África.
Ao meu amigo Eduardo Campos a minha vénia pelas excelentes fotos, tiradas aquando da sua visita em 2010 à Guiné-Bissau.
Também uma referência ao Patrício Ribeiro que palmilha a Guiné-Bissau de lés-a-lés e que nos vai revelando a arqueologia da passagem das Unidades Militares naquele país.

Um abraço para a Tabanca Grande e camaradas da Guiné.
Abel Santos.
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Notas do editor

Último poste da série de 21 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19811: Memória dos lugares (392): Memoriais da zona de Buruntuma e Camajabá (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

terça-feira, 21 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19811: Memória dos lugares (392): Memoriais da zona de Buruntuma e Camajabá (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 16 de Maio de 2019, falando-nos dos Memoriais da região de Nova Lamego:


Memoriais 

Os memoriais de Buruntuma e Camajabá testemunham a presença dos militares portugueses na região de Nova Lamego, sector onde a Companhia de Artilharia 1742 cumpriu a sua comissão de serviço nos idos de 1967, 1968 e 1969.

Mas o que é um memorial?
A palavra foi tomada de empréstimo do inglês pela Língua Portuguesa. Originalmente, por exemplo, memorial indicava um património de pedra, e que era erigido, e ainda é, em determinado local, simbolizando uma conquista ou alguma tragédia, como foi a guerra do ultramar Português, mas é vê-los espalhados por aí, cumprindo a missão para o qual foram construídos, não deixar cair no esquecimento os feitos que os Portugueses fizeram por cá e além-mar.

No que diz respeito ao memorial da CART 1742, à qual pertenci, o seu autor, arquiteto e construtor, foi o Soldado Condutor Auto, João Fernando Lemos, a quem envio um forte abraço.

Por agora é tudo, um grande abraço a toda a tertúlia.
Abel Santos.


Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418

Buruntuma - Memorial da CCAÇ 2724

Buruntuma - Memorial da CART 2338

Ponte Caium - Memorial da CCAÇ 3546 - Foto: Eduardo Campos

Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418 - Actualmente

Camajabá - Memorial da CCAÇ 1418 - Abel Santos

Buruntuma - Memorial da CART 1742

Buruntuma - Memorial da CART 1742 - O que resta

Buruntuma - Conjunto de Memoriais ainda existente

Buruntuma - Memorial da CCAÇ 1588

Com a devida vénia a Patrício Ribeiro, Eduardo Campos e eventuais autores das fotos, não referenciados.
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19664: Memória dos lugares (391): a velha ponte do rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, e os seus ninhos de andorinha (Jorge Araújo)

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18026: Estórias avulsas (88): Recordações da minha passagem por terras da Guiné, vaca morta junto ao arame farpado (Abel Santos, ex-Soldado Atirador Art.ª)

Camajabá, 1968 - Abel Santos junto ao memorial à CCAÇ 1418/BCAÇ 1856


 

1. Em mensagem do dia 20 de Novembro de 2017, o nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), enviou-nos esta memória da sua passagem por terras da Guiné, mais propriamente por Camajabá.




Recordações da minha passagem por terras da Guiné Portuguesa

Depois de uma imensa actividade operacional na zona Leste 1 - Nova Lamego, a qual calcorreamos de Norte a Sul, Leste a Oeste, a CART 1742, a partir de 23 de Abril de 1968, foi deslocada para Buruntuma, ficando com a responsabilidade da vigilância do subsector de Camajabá e Ponte do rio Caiúm.

De Camajabá guardo algumas recordações, umas boas outras menos boas.
Estando eu a chegar ao aquartelamento, ido da Ponte Caiúm onde passei um mês destacado, surge um convite do responsável do subsector, Furriel Miliciano Amaro, do qual guardo gratas recordações, para gerir o depósito de géneros, mas com uma condição, fazer um reforço por semana, o que aceitei de imediato.

Foi uma experiência enriquecedora para mim, pois teria de saber dosear os géneros disponíveis para alimentação dos meus camaradas, tinha uma outra responsabilidade acrescida, que se baseava no apoio à população, em Camajabá havia um pelotão de milícia, homens recrutados na própria tabanca, e treinados pela tropa Portuguesa, aos quais éramos obrigados a fornecer os géneros alimentícios para sua alimentação. Este contacto directo com a população levou-me a perceber o que aquela gente pretendia, e não era a guerra, sentiam segurança junto da tropa, trabalhavam as suas terras, semeando e colhendo o fruto do seu trabalho, mas também sabiam que de um momento para o outro podiam ficar sem nada, sendo surripiado o esforço do seu trabalho, por aqueles que se diziam seus defensores.

Localização da Camajabá, estrada Buruntuma-Piche

Recordo um facto do qual fui protagonista, acontece que um dia os géneros alimentícios já eram escassos, a refeição do jantar era bianda (arroz) com salsicha, mas insuficiente para alimentar os meus camaradas, que todos os dias tinham serviços a desempenhar, como a ida à água e à lenha, e patrulhar a área envolvente ao destacamento. Eu e o furriel Amaro achámos por bem comprar na tabanca frangos para complemento do jantar, que depois de assados na brasa pelo cozinheiro Silva, foram degustados pela malta, e eu como responsável da cantina, ofereci meio barril de vinho que desapareceu pelas gargantas sequiosas, ainda hoje alguns camaradas me recordam esse dia.

Mas nessa noite fiz reforço como estava combinado, e lá fui cumprir o meu dever de militar para o posto de vigia que me estava destinado, e aqui é que foram elas, eu que já estava um pouco toldado pelo néctar do barril, ouvi barulho junto ao arame farpado e, não estou com meias medidas, faço fogo gritando ao mesmo tempo: "são eles, são eles", provocando o caos no destacamento.

Camajabá, 1968 - Abel Santos, de cócoras, com o Cabo Costa, filtrando água

De manhã, quando acordo, reparo que estou todo enlameado, não me lembrando do que tinha acontecido, mas fui logo informado que o inimigo era, “tinha sido”, uma vaca. Eu retorqui: "Ainda bem, pois o almoço vai ser melhorado, bifes com batata frita, com um copo de vinho para cada um".

Escusado será dizer que a tropa milícia também teve direito à metade do animal, cuja morte veio mesmo na altura ideal, devido à escassez de géneros.
Esta é uma das muitas peripécias passadas aquando da minha passagem por terras de África.

Um abraço para todos os combatentes.
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17030: Estórias avulsas (87): Tudo começou a 9 de Janeiro de 1967 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador Art.ª)

terça-feira, 5 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15941: Atribulações de Soldado de há 50 anos. Esforço de Memória da Semana Santa e do Domingo de Páscoa de 1966, em Camajabá (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 28 de Março de 2016 com uma memória da Páscoa de 1966:


ATRIBULAÇÕES DE SOLDADO DE HÁ 50 ANOS

Esforço de Memória da Semana Santa e do Domingo de Páscoa de 1966, em Camajabá (Leste da Guiné)…

Narrativa dedicada aos camaradas que tarimbaram em Camajabá e Buruntuma, nomeadamente ao Abel Santos, José Fernando Estima, Abreu dos Santos, Eduardo Ferreira Campos, Jorge Gabriel, Ricardo Costa, Carlos Costa, José Campos Pontinha … que partilharam as suas vivências através deste blogue.

Naquele tempo, Buruntuma era uma tabanca de fulas e mandingas, um triângulo de território encravado na República da Guiné, domínio do régulo de Canquelifá, que aparecia à moda de cavaleiro, montado num belo cavalo, escoltado por escudeiros armados de G3, em visita de cortesia sentimental à formosa, escultural, evoluída e descontraída fula, uma das suas mulheres legítimas, segundo o Corão.

O Comandante Domingos Ramos fora encarregado de reactivar a Frente Leste, que Vitorino Costa falhara, antes de ir morrer a Fulacunda, com práticas de puro terrorismo contra as populações fulas, e a nossa CCav 703 foi transferida de emergência para lá, em finais de Maio de 1965, directamente da “Operação Razia” à mata de Cufar Nalu, na qual participava como força de intervenção às ordens do Comando-Chefe, para reforço e, depois, em rendição da sua guarnição, um pelotão de malta rija e valente, comandado pelo Alferes Vinhas, sou ignorante quanto a mais dados.

Buruntuma era cortada a meio por uma “estrada internacional” de terra batida Bissau-Nova Lamego-República da Guiné, a servir de divisória às comunidades fula e mandinga, ladeada de casas de arquitectura colonial, frontais às tradicionais moranças circulares cobertas a colmo, destacando-se a casa da PIDE e a vivendazinha de planta quadrada e de cor amarelada da Guarda Fiscal, idêntica à que depois vi implantada na praia de Leça, a tradicional barreira tubular e, na margem do pequeno rio Piai, campeava uma placa de betão: do nosso lado avisava Republique de Guineé; do lado oposto avisava República Portuguesa /Província da Guiné, emendando na estrada alcatroada, para Kandica, Saraboido e Koudara com derivação para Conacri.

Estrada internacional Bissau-Nova Lamego-Piche-Camajabá-Buruntuma-República da Guiné

Estávamos na época das chuvas, subiu-se ao cume do telhado mais alto para observar a vizinhança, reconheceu-se a ameaça de um par blindados Panhard ou parecidos, o Shirley, furriel sapador, afadigou-se na confecção de um potente fornilho e escolheu-se o melhor sítio onde escavar o buraco do seu enterro. Toda a gente em alerta, bazuqueiros e as suas “granadas de efeito dirigido” em prontidão, o capitão tornou-se guardião do explosor de accionamento eléctrico do fornilho – seria mais uma, das já muitas noites sem sono. O céu começou a descarregar água aos cântaros sobre estes pobres de Cristo, os raios e coriscos da tempestade tropical a incendiarem-no, um dos ditos percorreu o curso do cabo condutor até ao fornilho – e que tremenda explosão! Veio o dia e duas constatações: uma grande cratera e horizonte livre de blindados.

Camajabá situava-se nessa “estrada internacional”, a meio caminho entre Ponte Caium e Buruntuma, um deserto de apenas três moranças e um pontão de betão sobre o rio do mesmo nome, a sua valia estratégica, uma espécie de apólice de seguro para a subsistência da guarnição de Buruntuma. A guarnição de Camajabá, assim como a da Ponte Caium era destacada da CCaç 727 e das milícias de Canquelifá, malta tão fixe quanto azarenta – cada tiro cada morto sofrido – cujo comandante se distinguia como poeta, o então Capitão Miliciano Evóneo de Vasconcelos, recentemente falecido.

A duração máxima do destacamento de Camajabá não ultrapassava as três semanas e passara a rotativo da CCS do Batalhão de Nova Lamego, da CCaç de Canquelifá e da CCav de Buruntuma. Não obstante as ameaças, ainda não fora atacado, enquanto a sua milícia se distinguia a infernizar a vida aos militares europeus. A sua pequena guarnição averbava o suicídio de um alferes e o enlouquecimento de um segundo sargento. Chegara-me ao conhecimento de que os comissários do PAIGC em missão de doutrinação, procuravam abastecer-se do nosso tabaco e cerveja junto de milícias de Camajabá.

Pelas minhas funções de “apsico” e comandante de dois pelotões de milícia, em permanência às suas actividades específicas, estava excluído da escala para esse destacamento. O último da CCav 703 caberia ao Furriel António Moreira, a regressar de férias; mas ele encalhara em Bissau, de baixa ao Hospital Militar, com os intestinos infestados de bicharada, doença de nome difícil, quiçá uma amebíase (está correcto, Luís Graça?). Entramos na Semana Santa, o Furriel Simas foi escalado para o meu lugar, fui escalado para secção do Moreira e mais uns reforços, subimos para a caixa de carga de uma Mercedes, e fizemo-nos ao caminho da descida ao inferno de Camajabá.

A manhã findava e a rendição foi expedita, sob o impacto do alívio dos rendidos, alvos do escarnecimento por parte de alguns graduados da milícia, que a seguir reagiram refractários ao escalamento de segurança, da ida à água, à lenha ou a jornadas de capinação.

Chegávamos ao fim da comissão num estado de fraqueza geral, eu sair de uma crise palúdica com o peso de 39 kg, e ante aquele desafio. Passei a mensagem de um “olho no cigano e outro no burro” e a malta soube descodifica-lo. Seguiu-se uma tentativa de sublevação, que não terá redundado em carnificina por estarmos bem armados e melhor capacitados para passar ao seu o melhor uso (a milícia era dotada de Mauser) e tive de prender literalmente 7 deles e despachá-los para Nova Lamego.

Chegamos à sexta-feira santa, o ambiente serenara, a disciplina regressara, acabara com a discriminação, instituindo rancho igual para todos, reciclando o meio bidão para a sua “bianda” em caldeirão da cozinha comum; tínhamos acabado de almoçar uma caldeirada de peixe bem picante, que mandara recolher no rio, efeito de lançar uma granada ofensiva no troço que me pareceu mais fundo, (ignorava a ecologia), o cabo que acumulava a metralhadora Breda com a cozinha, acabava de nos fazer rir, ao dizer que se lhe arranjássemos um cabrito, cabra ou cabrão, algumas cebolas e alhos, nos faria um estupendo pitéu para o domingo de Páscoa e aproxima-se um ciclista fardado de cipaio, vindo dos lados da Ponte Caium, que declarou arranjar tudo ao mesmo tempo que me dava um discreto sinal para um aparte.
- Ensina-me a andar de bicicleta – disse-lhe.
Montei o selim, com ele a segurá-lo, percorremos um bocado da estrada e ele disse-me:
- Bandido vem atacar na noite de sábado, para vos apanhar à mão.
- Como soubeste?
- Estão em Koundara (base-mãe do PAIGC), soube agora e não disse nada a ninguém.
- Então não digas; eu digo.

Reunidos aos outros dei-lhe 50 pesos por conta desse material, que protestou entregar no dia a seguir, Sábado de Páscoa.
Eu e outros dois fomos dar uma volta de reconhecimento a todo descampado em volta do destacamento. Como a fronteira distava menos de 20 km, calculei a montagem do cerco para a meia-noite de sábado. Os calafrios perseguiam-me; a duas semanas de ir embora teria o azar de defrontar sozinho o experiente ex-camarada Domingos Ramos? Topamos um rolo de arame de tropeçar intacto junto a uns montes de formiga baga-baga e aproveitamos para implantar duas granadas. O arame de tropeçar servirá para armadilharmos um bosque de cajueiros, fronteiro ao estacionamento. Uma dessas granadas rebentou logo ao anoitecer.

Ao fim da manhã do dia seguinte, surgiu-nos o ciclista, então desfardado de cipaio, com uma cabrita, cebolas e alhos, embolsou mais 120 pesos e desandou, e eu pedi-lhe para me deixar uma manga de câmara de ar de bicicleta. Só então decidi comunicar a notícia ao comando.

Na madrugada daquele domingo de Páscoa, os nossos cerca de 20 milícias islamizados começaram a alarmar-se ante visão de “irãos”, quais pirilampos, observados da caixa de carga de uma Mercedes cujo motor fora destruído por uma mina, a servir-nos de posto de observação e de espaldão elevado. E umas morteiradas devidamente calculadas foram suficientes para afugentar esses “irãos”.

Ironias que a vida e as suas circunstâncias tecem. Naquele domingo de Páscoa de 1966, a tropa europeia e os milicianos nativos da guarnição de Camajabá, ao partilhar o almoço de um aprimorado estufado de cabra, não lhes terá passado pela cabeça que a oportunidade fora-lhes propiciada pelo comandante da guerra na Frente Leste – o ex-Furriel Miliciano Domingos Ramos.
E para a malta da CCaç 1418, que nos rendeu em Camajabá. Para que nos terá servido aquele troço da câmara de ar, cedido pelo ciclista? Para herdarem de nós a bateria de chuveiros de banho, que encontraram a funcionar plenamente…

Anos depois, o Moreira contou-me que não regressara a Buruntuma (para não ir para Camajabá), não se tratar da bicharada intestinal, mas porque alguém lhe conseguira para a análise a amostra da merda de um doente verdadeiro e a fizera passar por sua…
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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15672: Memória dos lugares (332): Camajabá do tempo da CART 1742 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)

MEMÓRIA DOS LUGARES

CAMAJABÁ

Memorial de Camajabá na actualidade
Foto: © Patrício Ribeiro

1969 - Memorial de Camajabá 
Foto: © Abel Santos


1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 13 de Janeiro de 2016:

Camajabá foi destacamento onde o meu grupo de combate, o 4.º, da CART 1742 sediada em Buruntuma, esteve destacado e local onde acabei a minha comissão de serviço na Guiné Portuguesa.

O memorial visível na foto ainda lá se encontra, embora mutilado, vai-se aguentando galhardamente, e o menino da foto sou eu.

Por acaso algum camarada da 1418 está a ver e a ler esta mensagem? Então que faça prova de vida.

Até breve, um alfa bravo para todos.
Abel Santos
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15654: Memória dos lugares (331): Procissão do Corpo de Deus em Bissau no ano de 1967 (José António Viegas)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11065: Memória dos lugares (210): Também estive na ponte Caium, dois meses, antes de acabar a minha comissão em Camajabá (Abel Santos, ex-sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > O Jacinto Cristina com uma bajuda da tabanca de Mulã Dalassi, que ficava a nordeste da ponte.

Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Resposta, com data de 25 de janeiro último,  do Abel Santos a um dúvida nossa, posta à malta da Tabanca Grande, sobre a célebre ponte Malã Dalassi (que sabemos agora ser, nem mais nem menos do que a ponte do Rio Caium, entre Piche e Buruntuma: no vídeo do George Freire, há erro na legenda, é ponte Malã Dalassi, e não Mule Balassi); (*):

Meu caro camarada Luís

Gostei muito de ver o trabalho que recebi em relação ao nosso camarada [George] Freire, ai como eram diferentes as companhias daquela época em relação à nossa.

Falas na ponte Mulã Dalassi, falas na ponte do rio Sira Muriel... eu sinceramente não conheço,  o que sei é que na estrada que liga Piche-Buruntuma existe a ponte sobre o rio Caium e não com o nome que o camarada Freire fala na reportagem, Mule Balassi. Há uns pequenos pontões ao longo da estrada mas nada comparavél com  célebre Ponte do rio Caium que o IN tentou destruir através de morteiradas por baixo da mesma.

Digo-te,  meu caro amigo,  que cheguei a estar destacado com a minha secção na dita ponte para manter segurança da mesma, e na qual havia quatro abrigos, dois de cada lado,  e que foram a nossa casa durante dois meses,  findos os quais fui para Camajabá, local onde acabei a comissão de serviço.

Caro camarada,acho que com esta minha informação fiques mais esclarecido sobre a tua dúvida.
Sem outro assunto, recebe saudações deste tertuliano.

Abel Santos.

(ex-Soldado Atirador da CART 1742,
"Os Panteras", Nova Lamego e Buruntuma
1967/69).
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11035: Memória dos lugares (209): Fajonquito 2011 - Vestígios da tropa portuguesa (Cherno Baldé)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7742: O Nosso Livro de Visitas (106): José Fernando Estima, natural de Águeda, ex-Fur Mil, CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, Piche, Cambor (1972/74)


Guiné > Zona Leste > Carta de Piche (1957) > Escala 1/50000 > Pormenor da posição relativa de Piche, Cambor (na estrada Piche-Canquelifá) e Ponte Caium (na estrada Piche-Buruntuma)...


Telefonou-me há dias o José Fernando Estima, morador em Espinhel, Rua Cabo do Lugar, nº 140, 3750 Águeda.


Foi Furriel Miliciano da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, a mesma subunidade do Jacinto Cristina e do Carlos Alexandre, dois bravos da Ponte de Caium. Pertencia ao 2º Gr Comb. Esteve em Piche, em Camajabá e em Cambor, a norte de Piche, na estrada para Canquelifá: no destacamento de Cambor passou mais de um ano, enquanto o 3º Gr Comb estava na Ponte Caium (havia um outro grupo em Buruntuma). Fiquei com a ideia de que também terá estado em Canquelifá...

Desse tempo lembra-se do Cap Cristo (Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo, comandante da CCAÇ 3545, sediada em Canquelifá)… Lembra-se de passar pela Ponte Caium… (Falámos do monumento, desenhado pelo Carlos Alexandre e construído pela malta do 3º Gr Comb, os "Fantasmas do leste"...mas não tenho a certeza de ele ter uma ideia precisa desse monummento)...


Lembra-se do Cristina… E lembra-se de ter voltado ao Xime (a 1ª vez, desembarcou lá, vindo de LGD, de Bissau, em Março de 1972)… Da segunda vez, lembra-se de ter encontrado um 1º cabo da sua terra, que levava 11 urnas para Bissau… (Este episódio deve ter ocorrido em Abril de 1972, e deve estar relacionado com a emboscada no Quirafo, de 17 de Abril de 1972)... Lembra-se de ter feito a viagem de regresso, com os seus camaradas, desarmados, à civil, de Piche ao Xime (ou a Lamego ?), com "segurança" do PAIGC ao longo da estrada...

O nosso camarada Estima trabalha em Aguada de Cima, Águeda, mesmo junto ao Restaurante Vidal, um dos restaurantes de referência dos apreciadores de leitão (Dizem que serviu em 1996 três leitões para um banquete da Rainha Isabel II)… Não conhece o Paulo Santiago, em contrapartida é amigo (ou conhecido) do Victor Tavares, nosso camarigo, ex-1º Cabo pára-quedista da CCP 121/BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74).

O Estima pediu a sua entrada formal na nossa Tabanca Grande. Ficou de pedir ajuda,  a um dos seus filhos ou filhas,   para digitalizar fotos do seu álbum. Pediu-me para mandar um abraço à malta da sua companhia e do seu batalhão, extensivo a toda a Tabanca Grande.

Recorde-se aqui o historial da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883:

(i) O BCAÇ 3883 foi mobilizado pelo RI 2, tendo partido para a Guiné, de avião, em Março de 1972 ( o comando e a CCS em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23); (ii) A CSS ficou sediada em Piche; (iii) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (iv)  O comandante da CCAÇ 3546 (Piche, Cambor, Ponte Caium e Camajabá) era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (v) As outras companhias do BCAÇ 3883 eram a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo);   (vi) O batalhão regressou a casa, de avião, em Junho de 1974.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Guiné 64/74 - P6042: Tabanca Grande (209 ): Jacinto Cristina, natural de Ferreira do Alentejo, CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74): Foi soldado atirador, mas a guerra fê-lo padeiro...


Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium &gt CCAÇ 3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1973) > Foto de de meados de 1972 (*). O destacamento ficava na estrada que ligava Piche a Buruntuma. Foi nesta foto que se reconheceu,, por mero acaso, o Sold Jacinto António Grilo Cristina, natural de Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, pai de uma amiga minha...

Não imaginam a alegria dele quando eu, ao abrir o portátil e pesquisar no blogue postes sobre Piche e Caium, deparei com esta foto que nos foi enviada pelo Henrique Castro (e depois com a foto da ponte, da autoria do Luís Borrega, que o antecedeu em Piche e em Caium)... O Jacinto, com olho de lince, disparou logo:
- Mas este sou eu!

A minha amiga Cristina fazia anos, veio de propósito da Madeira com o marido para estar com os pais (é filha única), e convidou-nos, a mim e à Alice, para ir jantar à casa paterna nesse dia,  9 de Janeiro transacto... Há dias perfeitos: esse foi porventura um deles... A felicidade do Jacinto e da esposa era notória (devido à presença da filha, do genro, da neta e dos amigos de Lisboa)... Além o jantar foi uma delícia (estão a imaginar um borreguinho assado no forno do padeiro, com as ervinhas especiais do Alentejo, e acompanhado com um fabuloso tinto da região, sem falar do pão, do queixo e das azeitonas da nossa perdição!)... A nossa amiga  mais emocionada ficou ao ver, com a lágrimazinha ao conto do olho, o pai ao recuar, assim, 40 anos na sua vida e voltar de novo a  Caium, ao destacamento de Caium, onde penou 14 meses da sua vida, num total de 27 meses de comissão na Guiné!...

Dias mais tarde, a nossa amiga Cristina confidenciou-nos:
- Amigos, foi o aniversário mais feliz da minha vida!- E prometi-lhe que ia pôr o Jacinto (que eu conheci pela primeira nessa noite) em título de caixa alta no nosso blogue, logo que ela me mandasse duas ou três fotos do Jacinto em Piche e em Caium... Há dias ela cumpri a sua parte, no nosso acordo,  e eu agora estou a cumprir a minha...

Bom, e é caso para se voltar a dizer que o mundo é pequeno e o nosso blogue é ... grande! (É uma força de expressão, não levem à letra, nem me julguem mal).

Na foto acima, o Jacinto é o militar que está no meio, sentado no banco de detrás do Unimog. Tinha chegado a  Piche há poucos meses...(Partida para a Guiné em 23/3/1972; regressso, 27 meses depois, em 23/6/1974).

Foto: © Henrique Martins de Castro (2008). Direitos reservados



Guiné > Zona leste > Piche > Destacamento da ponte de Rio Caium visto da margem direita do Rio Caium. Foi aqui que o sold Jacinto Catarino viu morrer, à sua frente, o furriel da sua secção, numa armadilha montada pelas nossas próprias tropas... [ Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, natural de Valpaços, morto em acidente, em Piche, a 19 de Fevereiro de 1973, rezarão as crónicas...].

"Passei um ano em Piche, e o resto do tempo,  14 meses,  em Caium. As nossas instalações eram uns bidões cheios de areia, uns em cima dos outros, com um chapa de zinco por cima.  Todas as noites o furriel fazia uma armadilha com uma granada de mão junto do rio. Dava um jeio à cavilha de modo a ela soltar-se facilmente se alguém ou um animal tropeçasse no fio. Podia ser uma gazela que ia ao rio beber água ou podia ser um turra. Tantas vezes a bilha foi à fonte que partiu-se"...

O Cristina assistiu, horrorizado, à morte imediata do furriel (de que já não se lembra o nome) bem como de um camarada que ficou gravemente ferido, cego de um olho, e que foi helievacuado. Nunca mais teve notícias dele. Isto terá sido em 1973, em data que ele já não pode precisar. O pelotão não tinha alferes.

Em Caium, o Cristina entretinha-se a fazer o pão. "Ajeitou-se, quando era mais moço via a mãe amassar a massa  e a enfornar"... Aliás, a sua profissão hoje é padeiro. Faz o o melhor pão de Figueira de Cavaleiros. Trabalha de noite para que os seus clientes tenham o pão fresquinho e saboroso pela manhã. Posso-vos jurar que é uma maravilha de pão. Dorme de tarde até às oito. É um homem disciplinado e trabalhador. Antes da tropa, foi assalariado agrícola. Casou para se tornar independente da casa do pai, como qualquer jovem alentejano do seu tempo.  Antes de ir para a Guiné, já tinha a seu cargo mulher e filha. Tem muito orgulho em ter-lhe dado, à filha,  o curso de engenheira. Conhecemo-nos há largos anos, quando ela casou com um amigo meu, médico, o Dr.Rui Silva.

Foto:  © Luís Borrega (2009). Direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) > Em primeiro plano, o Cristina; atrás, a meio, o Charlot, do seu grupo de combate, o 3º pelotão. O Charlot morreu em combate. 

O Cristina fez a recruta no RI 14, em Viseu, e especialidade no RI 2, Abrantes. A CCAÇ 3546 pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2. A CSS estava sedeada em Piche. O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas.  O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira (o Cristina já não se lembrava do nome).

As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3445 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo).

Pela informação de dispomos, estas quatro subunidades partiram para a Guiné, possivelmente de avião, com um dia de diferença: o comando e a CCS/BCAÇ 3883, em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23.



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > Da esquerda para a direita: O 1º Cabo Pinto, e os soldados Ramos, Cristina (segurando granadas de morteiro 60), o Wolkswagen, o Fernando, de pé (outro que morreu em combate) e o Silva (que percorreu 18 km com um tiro no pé!)...

Em data que o Cristina já não pode precisar, a sua companhia sofreu uma violenta emboscada, entre Piche e Buruntuma, montada por um grupo "estimado em 400" elementos IN (ou "turras, como a gente lhe chamava")...Um RPG 7 atingiu a viatura da frente da coluna, que ia relativamente distanciada do grosso da coluna, e que explodiu...Houve de imediato 4 mortos: O Charlot e o Fernando foram  dois deles... Dos outros dois o Cristina já não se lembra.

Com as granadas de mão dos mortos, o Wolkswagen conseguiu aguentar o ímpeto da emboscada, mas chegou a ter uma Kalash apontada à cabeça... Ninguém sabe como ele  se safou... O Silva por sua vez levo um tiro no pé, fugiu, e mesmo ferido fez 18 km até ao aquartelamento...

Tempos bem duros que o Cristina recorda com emoção... Não é muito dado a convívios, e além disso é homem de fracas letras. Quem lhe vai emprestar o endereço de email é a filha Cristina (nome próprio)... Mas aqui fica o telemóvel para algum camarada do seu tempo de Piche e de Caium o poder contactar (sempre de manhã): 964 346 202.

 Prometi-lhe, a ele e à filha,  que o poria na galeria da nossa Tabanca Grande. Em contrapartida, ele prometeu-me contar-me mais histórias do soldado que a guerra obrigou a fazer-se padeiro...(Além de padeiro, era o municiador - e às vezes  apontador - do morteiro 81, no destacamento de Caium; é outra história que ele tem para nos contar...).



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) > O Cristina abrindo valas em meados de 1973




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche e Camajabá, 1972 / 1974) > O 3º pelotão... O Cristina é o terceiro da primeira fila, a contar da esquerda para a direita...

Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Direitos reservados

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2008  > Guiné 63/74 - P3252: Tabanca Grande (90): Henrique Martins de Castro, ex-Sold Cond Auto da CART 3521 (Piche, Bafatá e Safim, 1971/74)

(...) Já em Piche, a malta da Companhia fazia colunas a Canquelifá, Buruntuma, Nova Lamego, Bambadinca, Bafatá, Galomaro, etc., operações, patrulhas e psíco - que,  para quem não sabe, era dar um certo apoio e levar medicamentos (mesinho).

Estivemos em Piche mais ou menos até Agosto de 1972, só o primeiro Gr Comb ficou em Piche adido ao BCAÇ 3883. A Companhia seguiu para Bafatá com o segundo, terceiro e quarto Gr Comb.

A Companhia ficou com terceiro e quarto Gr Comb adidos ao BCAÇ 3884 em Bafatá, o segundo foi reforçar para Galomaro o BCAÇ 3872. (...)


(**) 27 de Abril de 2009> Guiné 63/74 - P4252: Os Bu...rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

(...) Era uma ponte estreita em pedra e cimento com 59 metros de comprimento sobre o Rio Caium, na estrada Piche – Buruntuma. Estava situada a 17,5 km de Piche, a 3,5 Km do Destacamento de Camajabá (pertença da CCav 2747,  sediada em Buruntuma) e a l8,5 Kms de Buruntuma.



O aquartelamento estava instalado no tabuleiro da ponte. Dois abrigos à entrada e dois abrigos à saída. Estes eram feitos de bidões de gasóleo de 200 litros, cheios de terra, uns em cima dos outros, cobertos com troncos e cimento por cima. Ao meio do tabuleiro a cozinha, o depósito de géneros e o refeitório. Eram uns barracos, cujo telhado eram chapas de zinco. Havia ainda um nicho com uma santa e do lado esquerdo (sentido Buruntuma) estava o forno.


Como armamento pesado tínhamos um Canhão sem recuo montado num jeep e um morteiro 81 mm num espaldão apropriado. O restante do armamento era HK21 e RPG 7,  apreendidos ao IN. Dilagramas, morteiro de 60 mm e G3 distribuídas pelo Grupo de Combate.


Para nos reabastecermos de água (para beber, cozinha e banhos) tínhamos que nos deslocar a 2 km do aquartelamento, a um poço cavado no chão, com um Unimog a rebocar um atrelado carregado com barris de vinho (50 litros) vazios, que eram cheios com latas de dobrada liofilizada, adaptadas para o efeito.


Como era de difícil solução a localização de um heliporto, foi decidido superiormente, manter sobre a estrada, uma superfície regada com óleo queimado, para a aterragem de helicópteros.


Como se pode imaginar, nas horas de lazer o tempo era preenchido a jogar cartas, ler, escrever à família. Quase todos os dias tínhamos saída à agua, patrulhamento às áreas em redor, etc.


Os dias e as noites eram passados nos limites do espaço, do tempo, na expectativa dum ataque – e quando este começasse, já estaríamos cercados por todos os lados, porque ali não havia milícias, nem tabanca, nem pista de aviação ou possibilidade de retirada (só saltando o parapeito da ponte e atirarmo-nos ao rio uns bons metros mais abaixo).


A desvantagem da área diminuta tinha contrapartidas benéficas: era mais difícil ao PAIGC acertar com os morteiros e a nossa artilharia tinha mais à vontade nos tiros de retaliação, nos limites do alcance das peças de 11,4 instaladas em Piche. (...)