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sábado, 1 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10746: Tabanca Grande (369): Mário Ferreira de Oliveira, 1º Cabo Condutor de Máquinas (na situação de reforma), Vedeta de Fiscalização Bellatrix, 1961/63, grã-tabanqueiro nº 589


NRP Sal - Foto enviada pelo nosso camarada Manuel Lema Santos (MLS),  com a seguinte nota datada de 27 de novembro último: "Para que nada falte mesmo ao camarada (Cabo de Manobra) que escreveu o artigo que li, aqui envio o navio-patrulha Sal, P584. Aliás, bela imagem que sugiro ser enviada ao autor do artigo. É uma imagem oficial, cedência da Revista da Armada".


1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro, Mário Ferreira de Oliveira, em dia de grande significado histórico e patriótica que hoje comemoramos (e continuaremos a comemorar, com ou sem feriado nacional):

De: Mário Oliveira
Data: 1 de Dezembro de 2012 10:09
Assunto: pedido de adesão á Tabanca Grande

Nhô Luis Graça! Home Grande,
Corpo di bó stá bom?
Bó casa tudo stá bom?
Tabanca Grandi stá bom?
Amim fala mantanhas pra bó e pra bó casa e pra camaradas di Tabanca Grandi.


Isto foi só um pequeno teste ao crioulo, em que, in ilo tempore, dava um jeito, mas agora dou é barraca.

Agradeço a tua rápida resposta e peço desculpa pelo meu atraso em responder, mas acontece que em informática sou um nabo e tive de esperar que o meu filho estivesse disponível para me ensinar a digitalizar e a enviar por email as fotos.

Espero ter aprendido e que este histórico email chegue em boas condições.

Solicito a todos os camaradas do Grande Fórum de Camaradagem que é a Tabanca Grande, que me seja concedida a Subida Honra de ser um de vós. Para o efeito junto as duas fotos da "praxe".

Sou natural de Cantanhede, onde nasci em 13-10-1936, casado com a Maria Fernanda, também de Cantanhede, sou pai de dois filhos, a Margarida, arquiteta, e o Paulo, técnico de eletrónica naval, e  resido em Vale de Milhaços, Seixal.

A minha comissão de serviço na Guiné teve a duração de 28 meses, e foi cumprida em 61/63 na Vedeta de Fiscalização "Bellatrix" onde para além de "pau para toda a obra" fui fogueiro-motorista, eram assim designados naquele tempo os actuais CM [. Cabos de Manobra]..

Quanto à minha expressão "infeliz" capitão G3,  utilizei-a porque o tristemente lendário fuzileiro, conhecido entre outros epítetos nada abonatórios por capitão G3, na Guiné, tendo como pano de fundo operações militares, onde diariamente militares dos três ramos faziam inimagináveis sacrifícios e de armas na mão morriam e matavam, o tal G3 passou-se para o IN, levando com ele conhecimentos e técnicas de combate, que lhe valeram a promoção a oficial e um posto de comando. Mas a infelicidade dele não se ficou por aqui: enviado com outros guerrilheiros para a Argélia, frequentar um curso que daria (se não fosse entretanto caçado) promoção quem sabe a general, teve a infelicidade de ver a carreira interrompida por um golpe de Estado de sinal contrário.

Tempos depois, isto para abreviar o que se sabe, responde em tribunal militar, e cumpriu a pena a que foi condenado. Não deve portanto nada à sociedade. Tem direito à sua privacidade, e fazer da sua vida o que entender. Que na madrugada libertadora que foi o 25 de Abril tenha finalmente encontrado a paz e a felicidade que não teve nos tempos conturbados do fascismo.

Agradeço a foto do NRP Sal, e irei retribuir com uma foto da proa do Sal, rasgando as vagas de uma enorme tempestade no dia 25 de dezembro de 1960, que há Natais inesquecíveis, ai isso há, até para os homens do mar!

Para todos um abraço amigo, do grato
Mário Oliveira

2. Comentário do L.G.:

Mário:
A tua juventude e jovialidade não passam despercebidas, são dignas de registo e de regozijo. O teu pedido de adesão já tinha sido aceite pelo régulo e adjuntos da Tabanca Grande [vd,. poste P10728]. Espero agora que os muitos e dignos representantes, na nossa Tabanca Grande, dos três ramos das forças armadas que bateram com os quatro costados na Guiné, de 1961 a 1974, abram alas e te recebam com ramos de palma em arco, festivamente...

Toma boa nota: és o grã-tabanqueiro (ou membro da Tabanca Grande) nº 589 (*)... Não és o grã-tabanqueiro mais velho, à tua frente e com quase 98 aninhos vai a nossa decana Clara Schwarz...De qualquer modo, rapazes da tua boa colheita de 1936 não temos muitos, e para mais marinheiros, dos bravos, como tu. Felizmente que venceste a barreira da "literacia" informática. com a ajuda do teu filho. Estás de parabéns, guarda esse mail, histórico, para mostrares aos teus filhos, netos e bisnetos.

A honra é toda nossa, a tua presença é também é uma recompensa para aqueles de nós, grã-tabanqueiros, amigos e camaradas da Guiné, que fazemos  todos os dias este blogue, desde 23 de abril de 2004, e que já ultrapassou os 4,3 milhões de visualizações. O mês passado tivemos 116 mil visitas, o que dá uma média diária de 3850... Vê estes números também como uma oportunidade para comunicares com esta vasta comunidade virtual (e real) que vai de Portugal ao Brasil, e de Cabo Verde à Lapónia... A rapaziada está por todo o lado, e ainda mexe como tu as falanges, falanginhas, falangetas, pernas, pernetas, neurónios...

Quanto ao teu crioulo, pá!, bate a bota com a perdigota: só mostra que os anos que constam do teu BI ou CU,  podem ser de calendário (manga de luas, as tuas) mas não são anos  mentais... Neste annus horribilis de 2012 alegra-nos e honra-nos a tua jovial presença sob o nosso mágico, secular, frondoso e fraterno poilão da Tabanca Grande!...

PS - A história do tal capitão G3, o ex-fuzileiro António Tavares Trindade,  já aqui foi evocada pelo nosso camarada Mário Pinto (**).

Por outro lado, saiu há dias um livro autobiográfico do António Tavares Trindade, com o título O homem a quem chamaram G3.

Vd. aqui, no Sítio do Livro, da editora Vírgula, a referência à obra e ao autor (nascido em 1944, em Lisboa).

(**) Vd. poste de 19 de janeiro de 201o > Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 34ª mensagem, em 17 de Janeiro de 2010:
Camaradas,

Eu não perfilo com desertores, mas a lenda, o carisma sentimental e o infortúnio do fuzileiro de que vos vou falar, fez-me pesquisar a estória da sua vida e trazê-la ao nosso convívio, por achar de interesse geral.

O TURRA BRANCO CAPITÃO G3

António Tavares Trindade era um rapaz simples, filho da cidade de Lisboa, onde cresceu e aprendeu a viver. Ficou órfão de pai na adolescência, ainda bastante novo.

Sua mãe, ainda jovem, veio a casar em segundas núpcias com um indivíduo, que o veio a marcar negativamente para o resto da sua vida, pois pertencia à mórbida organização da PIDE.

Aos 17 anos, desagradado com o seu padrasto, começou a ver a sua vida a complicar-se, plena de hostilidade em casa e, revoltado, resolveu ingressar na Marinha como voluntário.

Nesta altura, inicio do ano 1962, a guerra em Angola estava no auge e a necessidade de tropas para o Ultramar fez com que o recém marujo incorporado fosse direitinho parar aos fuzileiros.

A dura recruta e a cultura castrense, que se vivia naquela altura em todas as unidades militares, não contribuíram em nada para melhorar o carácter do jovem fuzileiro. Apenas com 18 anos e acabada a sua formação militar, foi enviado para a Guiné e despejado num teatro de guerra, que não lhe despertava qualquer sentimento em particular.

Órfão de afectos e desiludido com a vida, que tinha sido compelido a escolher, não o satisfazia de modo algum. As ligações com a sua mãe eram dificultadas pelo seu padrasto, com quem se não dava de modo nenhum e cada vez odiava mais. A PIDE, organização a que, como já disse, o seu padrasto pertencia, era outra espinha no seu coração.

É, nessa altura, que conhece a sua femme fatale, que o ajuda a transformar a sua vida num autêntico inferno.  Nas suas andanças pela cidade de Bissau e pelos seus bares, onde eram férteis as meninas da vida nocturna, veio a conhecer uma brasa por quem se embeiçou. Segundo rezam as crónicas da época, era mesmo uma bonita mulher.

A femme fatale fazia parte da organização do PAIGC e, tendo descoberto a tristeza e o descontentamento do fuzileiro, decidiu convencê-lo a desertar para o outro lado, o que ele acabou por fazer, mais tarde, após uma discussão com um superior.

O fuzileiro Lisboa - António Tavares Trindade - o G3, como era conhecido pelos seus camaradas da altura, era um exímio artista com o LGF (Lança Granadas Foguete), que disparava com muita precisão.

Há quem afirme que o PAIGC, ao ter conhecimento desta destreza do Lisboa, o fez instrutor de RPG 2, para ensinar os seus guerrilheiros, vindo a ser baptizado por Capitão G3.
A Frente Patriótica Nacional, em Argélia, mantinha uma estreita ligação com os movimentos de libertação das colónias, nomeadamente com o PAIGC.

Na sua luta contra o Salazarismo absorvia no seu seio todos os dissidentes do regime, e é neste contexto que o PAIGC em 1964 entrega em Argel 5 desertores do nosso exército, onde o Capitão G3 ia integrado.

Em 1965, o governo de Argel entra em desavenças com a FPN e prende 16 dos seus membros onde se encontrava o G3.

Os mesmos são libertados após o golpe de estado que, nesse mesmo ano, derrubou Ben Bella. O G3 saiu então livre da Argélia, atravessando Marrocos, com destino a Espanha.

Posteriormente, tornou-se combatente anti-fascista, apoiando a candidatura do General Humberto Delgado (foto ao lado), tornando-se seu segurança pessoal até à sua morte.

Na clandestinidade viveu até 1968, altura que foi preso pela PIDE, por denúncia do seu padrasto, quando visitou sua mãe doente,  internada no hospital.

Foi torturado violentamente pelos seus carcereiros, nos calaboiços da polícia política do regime, que não lhe perdoaram a sua deserção da CF3 na Guiné, a colaboração prestada ao PAIGC, bem como as posteriores ligações á FNP e, pior ainda, a sua ligação ao PCP (Partido Comunista Português), a que aderira entretanto.

Como desertor foi julgado pelo tribunal da Marinha e cumpriu a sua pena no Forte de Elvas.

Posto em liberdade, depois da pena cumprida, teve de regressar ao Corpo Fuzileiros. Marginalizado e perseguido, por uns e por outros, arrastou-se penosamente pelos quartéis até cumprir o tempo de serviço na Marinha, que lhe faltava.

Na vida civil, empregou-se na CUF/QUIMIGAL do Barreiro, onde fixou residência depois de casar no Lavradio.

Nunca deixou de ser militante do PCP/Barreiro, pelo que era frequentemente preso pela ex-PIDE, que passou a designar-se, naquela época, por DGS (Direcção Geral de Segurança).

Depois do 25 de Abril, era membro destacado do PCP/Barreiro. Nos anos 1975 a 77 formou a célula do seu partido no Lavradio, após ter frequentado em Moscovo, por ordem do Partido, a formação em política apropriada.

Hoje, pouco mais se sabe do Capitão G3, apenas que frequenta esporadicamente a Sede da Associação dos Fuzileiros, no Barreiro.

Nota final: Todos estes dados recolhidos foram pesquisados na NET em, http://companhia2fz.blogspot.com/search?q=Ant%C3%B3nio+Tavares+Trindade e junto de camaradas de armas do G3, residentes no Lavradio.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5669: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (33): Até os babuínos eram contra nós (Mário G R Pinto)