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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22928: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (1): CART 6252/72 (Bissássema, Tite, Gadamael, Bafatá, 1972/74)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 6252/72, "Os Indiferentes", 72-74... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Brasil > Bahía > Porto Seguro > Novembro de 2013 > O Vasco Pires (1948-2016), ex-alf mil. cmdt, 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72),  com o seu amigo e camarada, Arménio Cardoso, da CART 6252/72, Os Indiferentes (Gadamael, 1972-74)

(...) "Na semana passada recebi a honrosa visita do meu amigo e nosso camarada Arménio Cardoso - CART 6252/72, que também bebeu das 'águas escuras e amargas' do Rio Sapo. Lembrando quantos dos nossos por lá ficaram e outros tantos voltaram mutilados no corpo e/ou na a<lma, tivemos pois que concluir que somos todos privilegiados sobreviventes.

Há tempos ouvi o depoimento de um membro da E Company, 506 Infantry Regiment (United States), do tão mediatizado Band of Brothers, dizia ele que muitas décadas depois, nas frias noites do rigoroso inverno aqmericano, quando ia para a cama, falava para a esposa:
- Ainda bem que não estou em Bastogne!

Eu também, sem fazer comparações, claro, no fim desses dias em que a vida parece "Madrasta", penso:
- Ainda bem que não estou em Gadamael." (...) (*)

Foto (e legenda): © Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há ainda muitas companhias e subunidades, mobilizadas para o TO da Guiné, entre 1961 e 1974, que não têm qualquer representante na nossa Tabanca Grande, nem nenhuma ou apenas algumas, escassas, referências no blogue. 

É o caso da CART 6252/72, com apenas meia dúzia de referências no blogue nem nenhum representante, registado. Não sei se o Arménio Cardoso, que vive no Brasil, e era amigo do Vasco Pires (1948-2016), nos acompanha ou nos lê,
 esporadicamente. Se sim, gostava que ele se juntasse a nós.  

Há uma página do Facebook com o nome CART 6252/72 "Os Indiferentes",  criada pelo Luís Francisco Gouveia, ex-fur mil trms: telem  964 153 392 | email:  luisfsgouveia@gmail.com

O nosso mail é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com


Ficha de unidade > Companhia de Artilharia n.º 6252/72

Identificação: CArt 6252/72

Unidade : Mob: RAP 2 - Vila Nova de Gaia

Crndt: Cap Mil Inf Jorge Manuel Gonçalves Pereira de Melo | Cap Mil Inf Jorge Joaquim Lage

Divisa: "Os Indiferentes" 

Partida: Embarque em 230ut72; desembarque em 230ut72

Regresso: Embarque em 25Ag074


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 230ut72 a 17Nov72, no CMl, em Cumeré, seguiu em 18Nov72 para Bissássema, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3327.

Em 08Dez72, assumiu a responsabilidade do subsector de Tite, então com a sede da subunidade em Bissássema, deixando um pelotão em Tite e sendo integrada no dispositivo e manobra do BArt 6520/72. 

Em meados de Abr73, a sede da subunidade foi transferida para Tite, tendo então ficado dois pelotões em Bissássema.

Em 30Jun73, foi rendida, por troca, pela CCaç 4743/72, marchando em 04Jul73 e 19Ju173, por escalões, para Gadamael, onde assumiu a responsabilidade do subsector, a partir de 06Ju173, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 5, e onde sofreu fortes flagelações e ataques ao aquartelamento, até 12Ag073.

Em 08Fev74, foi rendida pela CCav 8452/72, do antecedente ali colocada em reforço, tendo recolhido temporariamente a Bissau.

Em 15Fev74, seguiu para Bafatá, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3884 e depois do BCaç 4514/72, com vista à realização de patrulhamentos, emboscadas e batidas na zona de acção.

Em 17Ag074, foi substituída no serviço de guarnição de Bafatá pela CCS/BCaç 4514/72 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.? 120 - 2." Div/Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág.  485.

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Nota do editor:

sexta-feira, 7 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12804: Manuscrito(s) (Luís Graça) (25): O Pepito que eu conheci... em 16/2/2006 e que, no fim da conversa de 1 hora, me fez um pedido algo insólito: um obus 14 para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje...


Joana Graça (2014): Africa > Homenagem ao Pepito 1 > Acrílico com digital,  40 x 30 cm.



Joana Graça (2014): Tabanca Grande: caixa de histórias > Homenagem ao Pepito 2 > Técnica mista, colagens e digital,  30 x 20 x 15.

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



1. Conheci, pessoalmente, o Carlos Schwarz da Silva, Pepito (1949-20014),  em 16/2/2006...

Ele costumava, por essa altura do ano, vir a Lisboa, para passar os anos da sua mãe, Clara Schwarz, hoje uma veneranda senhora, de 99 anos, de origem judia, de pai polaco e mãe russa, mas portuguesa de gema, nascida em Lisboa, a 14 de fevereiro de 1915, casada com o caboverdiano Artur Augusto Silva (1912-1983).

Já nos conhecíamos do blogue, por intermédio do saudoso Zé Neto (1929-2007). Foi ele que me falou do Pepito e do seu projeto museológico de Guileje.

Como prometido, o Pepito esteve  connosco, nesse dia já longínquo de 16/2/2006:  com o Zé Neto (de manhã, na Fundação Marquês de Valle For) e comigo (à tarde, no meu local de trabalho, na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de  Lisboa).

Foi muita gentileza, da parte dele, ter-se deslocado só para me conhecer pessoalmente, dar-me notícias da sua terra (que ele amava com um coração muito grande), e falar-me, com entusiasmo contagiante, da menina dos seus olhos - que era então o Projecto Guiledje (com dj, como ele gostava de grafar Guileje).

Capa do livro de contos de Artur
Augusto Silva (1912-1983)
 (Bissau, edção de autor, 2006)
Na altura fez questão de presentear-me com o livro de contos do seu pai, Artur Augusto Silva (Ilha Brava, Cabo Verde, 1912- Bissau, 1983), um homem de leis e de cultura, amante da justiça e da liberdade: O Cativeiro dos Bichos era o título de uma colectânea de 25 contos, selecionados pelos seus filhos, Henrique, João e Carlos Schwarz, alguns dos quais tinha sido escritos na prisão de Caxias, em 1966. O  livro tinha acabado de ser editado em Bissau (Fevereiro de 2006, edição de autor).

A conversa, de cerca de 1 hora, que tive com o Pepito (ninguém o conhecia, em Lisboa ou em Bissau, por Carlos Schwarz da Silva, nem quando fora ministro dos transportes num governo de transição antes do golpe de Estado de 1998) só pecou por ser curta... Mas deu para, de imediato, eu fazer mais um amigo guineense...

Bem razão tinha o capitão Zé Neto quando um mês antes tinha escrito sobre o Pepito o seguinte:

" (...) Eu conheço pessoalmente o engº Carlos Schwarz da Silva, o nosso Pepito. Passei uma tarde a conversar com ele em casa do nosso amigo comum, engº António Estácio. Eles foram colegas de infância e condiscípulos, pois o Estácio também é guineense.

"Tenho a pretensão de conhecer o carácter dos homens ao fim de dois dedos de conversa. Não tão cientificamente como tu, profissional do ramo, mas, como dizia o outro, raramente me engano.

"E asseguro-te que o Pepito é do melhor que há. Talvez um pouco sonhador, porque abdica duma vida confortável que poderia gozar cá em Portugal, em troca das mil e uma tarefas que desenvolve na sua querida Guiné em prol do seu povo. É fácil entender que o seu espírito superior choca com certo primitivismo que grassa naquela região, mas não desiste e essa é a qualidade que faz dele um amigo que muito admiro e a quem dispenso a minha modestíssima colaboração sem reticências.

"Quando ele vier, para o mês que vem, vais confirmar o quer te digo" (...).

De imediato comfirmei a opinião do Zé Neto, que era de facto um grande conhecedor da natureza humana. Para mim,foi um privilégio conhecer, ao vivo, uma pessoa com a qualidade humana do Pepito.




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2005 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 

Antigos combatentes do Exército Português em Guileje, e que viviam no quartel.  O seu conhecimento do terreno permitiu mais facilmente a localização de cada um dos edifícios do quartel.

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento  (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


2. No seguimento da nossa conversa, no meu gabinete, na Escola Nacional de Saúde Pública, o Pepito, jà quase à despedida, veio-me fazer um pedido algo insólito: ele precisava de um obus 14...

Para quê ? Para pôr no seu Núcleo Museológico Memória de Guileje, a criar a partir da reconstrução do nosso antigo aquartelamento, abandonado em 22/5/1973... E eu repliquei, no blogue, esse pedido:
- Camaradas, algum de vocês sabe de um velho obus 14, para aí abandonado num qualquer ferro-velho da tropa ? Se souberem, digam-nos... Levá-lo até Guileje será outra carga de trabalhos, mas até lá folgam as costas...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > O temível obus 14 [140 mm] em ação... à noite.

(...) "O Obus 14 cm (...), de origem inglesa, foi  recebido em Portugal, em 1943, para equipar as Unidades de Artilharia pesada, substituindo os  Obuses 15 cm T.R. m/918 e 15 cm / 30 m/41. O Obus foi concebido para tracção auto exercida  pelo camião tractor de 8 ton A.E.C. (Matador)  4x4 MA/46 e pelo camião tractor de 8 ton Magirus  – Deutz 4x4 MA78. Serviu operacionalmente nos teatros de guerra da Guiné, Angola e Moçambique,  entre 1961 e 1974, tendo sido substituído, em 1987, pelo Obus M114 155mm/23"... O obus 14 pesava mais de 6 toneladas... Cada granada pesava c. 45 kg...  Tunha um alcance de c. 15 km... e uma cadência de tiro de 2 granadas por minuto... Tinha uma guarnição de 10 militares... (Fonte: sítio do  Exercito Português).

Foto: © Vasco Santos (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Ele falou-me com entusiasmo do progresso das escavações efetuadas pelo pessoal da AD e população local no antigo aquarteklamento de Guileje. Nas limpezas e escavações até então feitas feitas,tinham já sido encontros e recuoperados objectos do quotidiano dos militares portugueses,  alguns curiosos como garrafas de cerveja com o rótulo de papel intacto ou garrafas de sumo de laranja - de um conhecido fabricante de refrigerantes de então, com sede em Venda do Pinheiro, Mafra...

Divertidas, para o Pepito, eram as manifestações de humor (e de carinho) dos fulas para com os seus antigos camaradas de guerra, metropolitanos: ele  referiu-se às gravações audio que estavam a fazer e em que os antigas combatentes fulas, que estiveram do lado das NT, imitavam descaradamente os tugas, quando estes estavam debaixo de pressão (na época ainda não se usava o termo stresse...):
- Seus c...lhos...! Seus ca...ões! Seus s... nas! Seus filhos... da p...!

O Pepito prometeu-me depois mandar alguns excertos dessas gravações áudio, reveladoras do superior sentido de humor fula... E comentei-lhe:
- Ora quem diria! ... Eu, pessoalmente, sempre os achei inteligentes e com grande capacidade para negociar e estabelecer alianças estratégicas.

O Pepito também corroborou este ponto de vista: os fulas eram um povo  orientado para o poder, aliaram-se ao Spínola contra o Amílcar Cabral; e depois ao Luís Cabral, a seguir à independência, contra os balantas...

Lisboa, ENSP/UNL, 13 de julho de 2007 >
 Pepito no meu gabinete. Foto  de L.G.
Como diria o Príncipe de Salinas, protagonista do filme O Leopardo (Visconti, 1963), eles eram os leopardos, os leões, enquanto os novos vencedores - que se aliaram ao PAIGC - não passavam de chacais e de hienas... Mesmo assim, eles tinham a consciência de que, presas e predadoras, têm de coexistir (mais ou menos pacificamente) naquela terra, que é a sua terra...

O Pepito mostrou-se, por outro lado, deveras impressionado com o que estava a acontecer com o nosso blogue e o ritmo de produção das nossas memórias... E eu, na altura, avancei com uma explicação de vulgata sociológica:

 (i) a nossa geração, os machos, tinham  mais ou menos à sua frente quinze anos a vinte de 
esperança média de vida;

(ii) para muitos de nós, a experiência da guerra colonial terá sido porventura o acontecimento maior, talvez o mais  emociante, das nossas vidas cinzentas;

(iii) tivemos a sorte de sobreviver e, ao fim de cinco anos, retomar a marcha do comboio, não contando com os que ficaram precocemente pelo caminho: os mortos, os traumatizados, os inadaptados, os desadaptados, os cacimbados;

(iv) muitos de nós já tinham deicado (ou estavam em vias de deixar) a vida activa e sentiam o vazio do presente: os filhos que partiram, os netos que só se veem nos dias festivos, as companheiras que sempre se recusaram a partilhar essa experiência, a guerra, que é uma actividade de machos;

(v) enfim, a memória seletiva do passado, a disponibilidade de tempo, a redescoberta da camaradagem, o apelo dos verdes anos..



Lisboa > Universidade Nova de Lisboa > Escola Nacional de Saúde Pública > 13 de Julho de 2006 > Três homens de Guileje!... Visita de cortesia e reunião de trabalho do Pepito (AD - Acção para o Desenvolvimento) - na foto, ao centro - e dois dos amigos que o apoiam no seu Projecto Guiledje: O capitão Zé Neto (à esquerda) e o coronel Nuno Rubim, especialista em história da artilharia (à direita). Os membros eram então membros, da primeira hora, da  nossa Tabanca Grande. O anfitrião fui eu.

Almoçámos juntos (tivémos a agradável surpresa da visita, embora rápida, do José Martins, que trabalhava, na épcoa, no MARN e que passou pela Av Padre Cruz a caminho do médico para uma consulta de rotina). Fizemos o ponto da situação do Projecto Guiledje, contámos histórias, conhecemo-nos pessoalmente (do grupo, eu só conhecia o Pepito, embora já tivesse falado ao telefone com o Zé Neto e o Nuno Rubim).

Tal como Pepito, o Zé Neto, infelizmente, já não está entre nós. O nosso querido Zé Neto (ex-2º sargento da CART 1613, Guileje, 1967/68, e na altura capitão reformado, com 10 anos de Macau), era o veterano da nossa tertúlia, na altura. Era um pessoa dotada  de uma invejável energia e de uma memória fabulosa.  Foi o primeiro "tertuliano" a falecer, em 2007.

 Quanto ao Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, é bom que se recorde que foi um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões). É hoje coronel na reforma e historiador militar. Teve a gentileza de me oferecer um das suas publicações, além de um CD-ROm com os seus trabalhos.... Por razões de saúde, também está retirado doas nossas lides bloguísticas. Falei-lhe, ainda há relativamente pouco tempo, pelo telefone.

Foto: © Luís Graça (2006). Todo os direitos reservados.


3. Sabendo das suas suas obrigações como diretor executuivo da AD e das dificuldades de comunicações da Guiné-Bissau com o mundo exterior, o Pepito surpreendeu-me, na altura,  ao dizer-me que não dispensava a visualização diária do nosso blogue. Achava que este fenómeno (a vontade de abrir o livro, o baú da memória...) também estava a acontecer na Guiné: os antigos combatentes, de um lado e do outro,  sentiam necessidade de falar do passado e passar a escrito (ou ao videogravador) as suas memórias... A necessidade de falar da luta, na cidade ou nas matas, com alguém...

Grande parte da memória (escrita) de guerra de libertação, na posse do PAIGC, dos seus militantes e ex-militantes, desapareceu, foi destruída, extraviou-se ou ficou reduzida ao Arquivo Amílcar Cabral, em boa hora tratado e preservado pela Fundação Mário Soares.

Há um sério risco da geração pós-independência ver amputada uma grande parte da memória do seu povo, a luta pela independência, a difícil construção da Guiné-Bissau, a revolução que devorou os seus filhos, a fabricação dos novos mitos, os ajustes de contas, o cinismo pós-revolucionário, a subversão de valores...

Daí que o Pepito e os seus colaboradores da AD - Acção para o Desenvolvimento estivessem  afanosamente a gravar depoimentos dos antigos combatentes e habitantes de Guileje... Começaram pelas bases, mais acessíveis e espontâneas... Numa segunda fase, esperavam poder entrevistar os dirigentes, os comandantes operacionais, os comissários políticos, quando as defesas psicológicas e as pressões dos pares se começassem a quebrar ou a esbater...

Respondi-lhe que nós também cá tínhamos esse problema: como dissera uma vez  o Jorge Cabral, ainda havia, na época, muito boa gente (militar) com culpa e vergonha de ter feito a guerra da Guiné, a começar pelos nossos oficiais superiores... A hierarquia militar não nos  parecia ainda disposta a dar a senha e a contra-senha de acesso aos arquivos militares da guerra colonial...

O que o Pepito e a sua ONG estavam então  a fazer era, na  minha opinião,  um trabalho meritório e sobretudo patriótico, com dividendos para o futuro... Foi o que transmiti ao Pepito; não há futuro para um povo que tenha perdido a memória, a historicidade e a identidade.  E o tempo urgia, porquanto a geração que fez a guerra colonial (ou a guerra de libertação, conforme os lados da barricada), estava a desaparecer... Mais rapidamente na Guiné, devido à menor esperança média de vida à nascença dos homens guineenses da geração da guerra...

Também falámos da  situação económica, social e política da Guiné-Bissau, nessa épcoca (2006).  Dos medos e das esperanças que os guineenses sentiam em relação ao futuro. Do retorno à pertença e à identidade étnicas, na ausência de um Estado de direito que garantisse a proteção e o respeito do indivíduo e da sua família... Dos terríveis acontecimentos de 1998, que levaram o Pepito e a família a refugiar-se em Cabo Verde, terra de seu pai... E do doloroso regresso a Bissau, um ano e tal depois, o retorno à casa, no bairro do Quelelé,  completamente pilhada, violada, destruída... Os livros, as fotografias, as memórias de uma vida...

O que foi espantoso, para mim,  foi  ouvir este homem, que era um profissional do optimismo, contar isto sem ódio, sem ressentimento, sem rancor, qause sem mágoa... Tinha vindo a recuperar algumas coisas, com emoção: uns negativos, umas cartas, uns livros... E isso era suficiente para lhe dar alento e força para retormar a picada de uma vida, fértil de acontecimentos, sonhos, emoções, projetos, realizações...



Seta de sinalização de um dos antigos espaldões da artilharia.
Foto: © Carlos Afeitos (2013).  Todo os direitos reservados.

Para além das suas obrigações como deputado (por Contuboel, e independente, se bem recordo), o que mais lhe dava gozo era viajar de jipe - apesar dos problemas de coluna de que já sofria, em consequência dos milhares de quilómetros feitos através das picadas da Guiné... E estar no sul, em Iemberém ou em Guileje, com os seus amigos e vizinhos... A Mata do Cantanhez, o futuro Parque Transfronteiriço do Cantanhez, era um espanto, com riquíssima fora e fauna - onde se incluíam elefantes e chimpanzés ! - e, felizmente, ainda então ao abrigo, devido ao seu isolamento, dos apetites vorazes da clique político-militar no poder em Bissau e em Conacri...

Last but not the least, o Pepito também gostaria de ter contactos com todas as companhias que passaram por Guileje e, se possível, ter acesso a uma resumo da sua actividade operacional na região. Disse-lhe que esse pedido não seria  difícil de conseguir... Mais difícil seria desencantar, adquirir, encaixotar e transportar o raio do obus 14!... E a verdade é que o tempo passou e a gente esqueceu-se mesmo do obus!... Mas seguramente não vamos esquecer-nos do nosso querido amigo Pepito!...Dele e do Zé Neto, o primeiro a falar-me do Pepito.

Até sempre, amigos Pepito e Zé Neto! Um alfabravo para o Nuno Rubim a quem desejo saúde e longa vida.
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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11908: Memória dos lugares (243): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte II (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > c. 2011 > Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica. Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG.



Fotos; © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico 
do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à à direita ], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guilejem, em finais de maio passado.

Nos seus tempos livres, ele foi, por volta de 2011, duas vezes a Guileje. Foi depois do golpe de Estado de 12 de abril de 2012 viver para  Londres. Um abraço para ele, se nos estiver a  ler.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11907: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (72): O reencontro de dois camaradas da CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68), Joaquim Fernandes Alves e Augusto Varandas Casimiro


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 1659 (1967/68)... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12) (*)... Foram os "Zorbas" que construiram o cais de acostagem, em Gadamael-Porto.

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]

1. O primeiro representante da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), o Joaquim Fernandes Alves, ex-fur mil, residente em Vila Nova de Gaia, acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande, com o nº 625.

Ele acabou por aparecer no nosso blogue, à procura de camaradad da companhia, que gostaria de voltar a reunir. Tem os nomes de todos mas não os contactos. Na sequência de um primeiro poste, alguém apareceu  a escreber em nome do ex-fur mil vaguemestre, Augusto Varandas Casimiro.

Afonso Silva
24/6/2013, 21:37

Boa noite

Pertenci também à CART 1659 (OS ZORBAS) e solicito o contacto do meu camarada Joaquim F. Alves que mora em Olival-Gaia

Obrigado
Augusto Varandas Casimiro


Escrevia ao Joaquim, F. Alves no passado dia 30/7, o seguinte, a propósito deste seu camarada e do seu contacto:

Joaquim: Vamos ver se o teu camarada Casimiro nos lê... Não tenho a certeza de quem é o email... Pode ser de um filho ou genro (Afonso Silva)... Manda as tuas fotos que é para eu te apresentar à Tabanca Grande. Assim chegas a mais malta... Um abraço. Luis

E logo a seguir, responde-nos a filha do Casimiro... Como se vê o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca.. é Grande!...

Gisa Casimiro
30/07

Boa noite a todos,

Efectivamente este é um email da filha (Adalgisa) e quem despoletou o contacto foi o meu sogro (Afonso Silva).

O meu pai teve conhecimento do vosso blog por via do meu sogro, que lhe mostrou algumas das fotografias, mas é uma pessoa completamente desligada destas tecnologias, não tem computador e a melhor forma de o contactar/falar será mesmo por telefone/telemóvel.

O contacto fixo: 227138096, muitas vezes está pelo quintal, mas se ligar ele depois devolve. Ou em alternativa, se me enviar um contacto telefónico,  ele concerteza retornará.

Qualquer outra coisa podem falar comigo! Ficamos a aguardar novas,

Adalgisa Casimiro.


2. Comentário de L.G.:

Saúdo a Gisa Casimiro!... As filhas (e os filhos) dos nossos camaradas têm-nos dado exemplos extraordinários de amor filial... Já não é o primeiro caso: são elas (até mais do que eles...) a procurar-nos, a contactar-nos, em nome do pai...

Eu fico extremamemte sensibilizado e emocionado com estas manifestações de carinho filial e estes exemplos de ajuda intergeracional!... Sei que o Augusto Casimiro pode passar a ter,  na sua filha, uma boa e leal intermediária, fazendo a ponte com o nosso blogue. Espero, por outro lado, que o o Joaquim F. Alves já tenha contactado o Augusto Casimiro por telefone. Eu estou de férias, ainda não tive oportunidade de falar ao telefone  com a Gisa.

De qualquer modo quero que a Gisa saiba que as filhas dos nossos camaradas... nossas filhas são!... Muita saúde e longa vida para o teu querido pai. E vai-nos dando notícias dele e dos demais "zorbas"...

Um abraço, para os três, do Luís Graça, fundador deste blogue, e que neste momento está de férias... Sem esquecer o Carlos Afeitos, antigo cooperante na Guiné-Bissau (2008/12), e que deve estar agora em Londres (ou em Portugal, de férias)... Foi através de um foto dele, de 2011, que chegámos a estes dois "zorbas"...

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11779: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (71): as pinturas do Xitole, recentemente redescobertas pelo Francisco Silva e pelo José Teixeira, são do meu amigo e vizinho, o pintor de Espinho, Armando Ribeiro que pertenceu à CCAÇ 818 (Bissau, Xitole e Saltinho, 1965/67) (David Guimarães, CART 2716, Xitole, 1970/72)

domingo, 4 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11905: Tabanca Grande (406): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 - "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967-68)



1. Mensagem do nosso camarada, e novo tertuliano, Joaquim Fernandes Alves* (ex-Fur Mil da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 30 de Julho de 2013:

Camarigo Luís Graça
Como prometi junto envio as respectivas fotos, assim como o emblema da "ZORBA" Junto também, tirado da "in história da Unidade", um relato real sobre a construção do cais.

Mais uma vez, os meus dados pessoais:
Joaquim Fernandes Alves
Ex-Furriel Mil Artª.  da Cart 1659
1967-1968
ZA: Gadamael Porto e Ganturé
Local de residência: Olival, Vila Nova de Gaia

Joaquim F. Alves




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > "Cais 3". Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados.


2. Comentário do editor:

Caro camarada Joaquim Alves,

Bem-vindo à Tabanca Grande onde és o tertuliano n.º 625.

Uma vez que conversaste com o editor-chefe Luís Graça, e a mensagem que mandaste é muito sucinta, não sabemos se é tua intenção colaborar activamente no nosso Blogue.

Como saberás,  és o primeiro representante da "Zorba" (CART 1659) na nossa tertúlia. Ficas assim com a responsabilidade de contar a história da tua Unidade, socorrendo-te das memórias que ainda retenhas da tua passagem por aquelas terras vermelhas da Guiné. Não esqueças a palavra de "Homem Grande".

Sei que tens como missão encontrar camaradas que não vês há muito, pelo que ficam aqui algumas da tuas palavras escritas em mensagem de 7 de Junho passado:

Camarada Luís Graça 

Descobri o vosso blogue por mero acaso e já lá vai algum tempo.  Depois de algumas hesitações hoje mesmo decidi pôr a minha questão à prova. 

O meu nome é Joaquim Fernandes Alves. Sou ex-furriel mil. da CART 1659 - Zorba, que fez o IAO no RAC, Oeiras.  Partimos de Lisboa a 11 de Janeiro de 1967, e não regressámos todos, como é óbvio, em 10 de Novembro de 1968. 

A nossa área de intervenção foi Gadamael Porto / Ganturé.  Desembarcámos no meio daquele grande lamaçal do rio que penso ser, o Cachima, onde depois, durante o nosso tempo, construímos um cais. 

Após esta pequena apresentação, e tendo a lista de todos os elementos que faziam parte da Companhia, o que pretendo é saber se há possibilidades de obter as moradas de cada um, pelo menos nessa altura da formação da Companhia. 

Um abraço do camarada 
J.Alves
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3. Como na devida altura te elucidou o Luís, não podemos satisfazer o teu pedido pelas razões por ele aduzidas. Fica no entanto, de novo aqui e agora, o teu apelo na hipótese de algum dos teus camaradas, ou alguém por eles, te leia e te possa contactar por nosso intermédio.

Resta-me deixar-te, em nome dos editores e da tertúlia, um abraço de boas-vindas. Fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento adicional.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

20 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11738: Em busca de... (225): Os "Zorbas", camaradas da minha CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (Joaquim F. Alves, ex-fur mil, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)
e
30 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11887: Em busca de... (226): Augusto Varandas Casimiro, ex-fur mil vaguemestre, CART 1659, Os Zorbas, Gadamael e Canturé, 1967/68 (Joaquim F. Alves, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)

Último poste da série de 18 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11852: Tabanca Grande (405): Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518, Galomaro, 1973/74 (Tertuliano n.º 624)

sábado, 3 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11900: Memória dos lugares (242): Núcleo Museológico Memória de Guileje - Parte I (Carlos Afeitos, ex-cooperante, 2008/2012)



Foto nº 1 > Placa indciativa do antigo heliporto


Fotio nº 2 > O trajeto do quartel para o heliporto, feito com garrafas de cerveja


Foto nº 3 > Uma garrafa de cerveja



Foto nº 4 > O antigo heliporto


Foto nº 5 > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia


Foto nº 6 >  Resto de caixa de munições, com orifícios de estilhaços



 Foto nº 7 >  Caixas, metálicas, de munições de artiharia


Foto nº 8 > Granadas de obus 14 ou peça de artilharia 11.4



Foto nº 9 > "Posto de socorros"


Foto nº 10 > Brasão dos "Cobras", CCAÇ 3325 (1971/72)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico memória de Guiledje > c. 2011



Fotos (e legendas);  © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 30 de maio último, do Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com o nº 606 [, foto à esquerda], que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guileje. Vamos fazer uma seleção desse material.

Bom dia,  caro Luís,

Nos meus devaneios encontrei estas fotos de Guilege, já vi muitas postadas no blog e não sei se já tem algumas parecidas a estas ou não. Durante o tempo que estive na Guiné passei por Guilege duas vezes. A primeira vez foi a caminho de Cantanhez, região lindíssima e que vale a pena visitar. A segunda vez foi quando convidei a minha irmã para ir conhecer a Guiné em 2 semanas. Fiz questão de levá-la um bocado ao sul e ficar a conhecer um bocado mais da história que une os dois países.

Pelas conversas que tive com um homem a viver e a recuperar o antigo aquartelamento, está previsto edificar um complexo que irá servir de escola profissional no sítio da pista de aterragem de helicópteros, relembro que isto segundo as informações.

O senhor serviu de guia e explicou-nos como estava ordenado o quartel e como viviam os militares que estavam destacados para lá. O museu relembra muito bem da vida e da luta de ambas as partes envolvidas no conflito. À entrada podemos ver uma anti-aérea e um Unimog, lado a lado. Fizemos uma visita à pista de aterragem exactamente pelo caminho feito de garrafas e depois mais umas voltas pelos pontos assinalados. 

Na minha segunda visita também tive uma conversa muito amigável com uma pessoa que estava a viver na tabanca no interior do quartel aquando da retirada. Ele contou-me alguns dos momentos complicados que passou e recordou com alguma angústia e nostalgia. As memórias ainda fazem chorar...

Uma das coisas curiosas que eu reparei é do carinho que a população tinha por alguns militares portugueses, pois é uma das coisas que todos falam é nos nomes deles. Depois de tantos anos ainda os recordam e sabem exactamente quem são, a graduação que tinham e de onde eram.

Como as fotos são algumas, vou enviar em 3 mails diferentes, pode fazer o que quiser com elas. Algumas não estão legendadas pois não me lembro muito bem.

Com os melhores cumprimentos,


Carlos Afeitos

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de julho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11894: Memória dos lugares (241): Surpresas que só a Feira da Ladra oferece (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11738: Em busca de... (225): Os "Zorbas", camaradas da minha CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (Joaquim F. Alves, ex-fur mil, residente em Olival, Vila Nova de Gaia)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 1659... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12) (*)... Foram os "Zorbas" que construiram o cais de acostagem, em Gadamael-Porto.

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


 1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Joaquim F. Alves:

Enviado: sexta-feira, 7 de Junho de 2013 23:42
Assunto: Contactos de camaradas da minha companhia da Guiné

Camarada Luís Graça

Descobri o vosso blogue por mero acaso e já lá vai algum tempo. Depois de algumas hesitações hoje mesmo decidi pôr a minha questão à prova.

O meu nome é Joaquim Fernandes Alves.

Sou ex-furriel mil.  da CART 1659 - Zorba, que fez o IAO no RAC, Oeiras. Partimos de Lisboa a 11 de Janeiro de 1967, e não regressámos todos, como é óbvio, em 10 de Novembro de 1968.

A nossa área de intervenção foi Gadamael Porto / Ganturé, Desembarcámos no meio daquele grande lamaçal do rio que penso ser, o Cachima, onde depois, durante o nosso tempo,  construímos um cais.

Após esta pequena apresentação, e tendo a lista de todos os elementos que faziam parte da Companhia, o que pretendo é saber se há  possibilidades de obter  as moradas de cada um, pelo menos nessa altura da formação da Companhia.

Um abraço do camarada
J.Alves

2. Comentário de L.G.:

Falámos ontem pelo telefone. Pus-te à vontade. E tu foste franco comigo. Infelizmente, não tenho  (nem quero ter) nenhuma base de dados com nomes e moradas do pessoal que passou pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974. Nem sei se alguém tem, a começar pelo Arquivo Histórico Militar. Nas chamadas Histórias das Unidades (HU) há listagens de todo o pessoal de cada companhia, número mecanográfico e posto, mas não as moradas de residência da época (que, passados quase 50 anos, já não serão as mesmas: uns já morreram, outros emigraram, outros mudaram de casa, de rua, de terra...).

A melhor maneira de constituires uma pequena base de dados do pessoal da tua companhia é a partir dos primeiros convívios... Disseste-me que já foste a dois convívios dos teus camaradas. O último,  há 2 anos, em Leiria. Apareceram vinte e poucos. Ficaste dececionado. Mas é assim que se começa. A lista de nomes, moradas e contactos vai aumentando e passando de mão para mão, do primeiro organizador do convívio para o segundo e por aí fora. Não há outra maneira.

Espero que não tenhas ficado desapontado. Há cada vez mais gente a pedir-nos contactos de antigos camaradas (**). Infelizmente, não temos meios materiais, logísticos e humanos para responder rápida e cabalmente a estes pedidos. Somos apenas um blogue, nem sequer somos uma associação de veteranos de guerra, muito menos uma instituição militar. Somos apenas um grupo de algumas centenas de camaradas (e amigos) da Guiné que se juntam aqui para "blogar", partilhando memórias e afetos. Quando é possível, ajudamos, com todo o gosto e sentido de camaradagem. Por exemplo, publicando pedidos como o teu ou divulgando notícias de convívios, realizados ou a realizar.

Dito isto, reitero o conselho que te dei, ao telefone: tenho apenas 4 referências, no blogue, à tua companhia, a CART 1659.  Ninguém aqui a representa, o que é triste. Tu podes ser o primeiro "Zorba" a sentar-se aqui ao pé de nós, debaixo do nosso poilão. Baste-te, para isso,  mandar as duas fotos da ordem e contares a história da tua guerra, o que já fizeste em versão curta. Mas, sabendo que tens em teu poder uma cópia da história da unidade, podes mandar-nos uma série de textos com as partes mais interessantes. Fica ao teu critério. Manda também umas fotos digitalizadas. Sei que eras conhecido como o Alves e ma Tabanca Grande podes ficar registado Joaquim F. Alves, para não haver confusão com os outros nomes parecidos...

A partir do momento que aparece na Net a referência à CART 1659, é maior a probabilidade de os teus antigos camaradas,  os "Zorbas", te descobrirem e baterem aqui à porta... Sei que aceitaste, com agrado, a minha sugestão. Tens tempo, estás reformado, trabalhaste nas Alfândegas do Porto, vives na freguesia do Olival, Vila Nova de Gaia...

Bom, procura também a malta da Tabanca de Matosinhos, de que já ouviste falar e  que te pode ajudar a enquadrar. Tenho o teu telefone (fixo) e o endereço de email. Sei que um há camarada teu, o Viga, que já organizou um encontro. Trá-lo também contigo até nós. Lembra-me que te fiquei de mandar o contacto do Manuel Vaz, de Vila do Conde: foi alf mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto (1965/67), possivelmente ainda o apanhaste... Ele é quem, no blogue, mais sabe da história de Gadamael...

Até uma próxima. De vez em quando passo pela Madalena, outra freguesia de Vila Nova Gaia onde sei que tens uma irmã. Pode ser que a gente se encontre um  dia destes.
Boa saúde, boa reforma.  E não desanimes. Os "Zorbas" hão-de aparecer.
L.G.
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Notas do editor:

terça-feira, 16 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11406: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (65): Carlos Afeitos encontra, em 2011, restos da CCAÇ 1422 (1965/67), no K3 / Saliquinhedim


K3 > Entrada


K3 > Começo do antigo heliporto


K3 > Antigo heliporto


K3 > Foto nº 70 > S/legenda


K3 > Foto nº 71 > S/legenda


K3 > Foto nº 72 > S/legenda


K3 > "Penso que seria a entrada da sala de transmissões"



K3 > Foto nº 69 > "Uma placa que agora é a entrada da casa de um popular [e onde ainda é visível o nº  da CCAÇ 1422, a companhia do Veríssimo Ferreira!...É caso para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!]


K3 > "Um dos edifícios transformados em escola"

Fotos do álbum de Carlos Afeitos, presumivelmente datadas de 2011.

Fotos (e legendas) ©: Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados


1. Em 17 de fevereiro último, o nosso camarada Veríssimo Ferreira fez este pedido ao  Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), a residir neste momento em Londres, e nosso novo grã-tabanqueiro, com o nº 606 (, desde 19/2/2013):

17/2/2013

Caro Senhor Professor Carlos Afeitos:

Falou que tem fotos do meu velhinho K3, que ajudei a fazer e onde estive em 1966. Se quiser fazer o favor, que muito agradeço, envie lá essas fotos, logo que tenha pr' sí uns minutos vagos. Seja bem-vindo e obrigado.
Veríssimo Ferreira
ex-fur mil,
CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858
Farim, Mansabá, K3 (1965/67),

Email: verissimoferreira@sapo.pt

 
Guiné > Região do Oio > K3 > Um abrigo... A identificação da companhia (CCAÇ 1422),  desenhada com garafas de cerveja vazias... O K3 começou a ser construído pela CCAÇ 1421. A CCAÇ 1422 saiu de Mansabá para tomar posse e completar a construção do aquartelamento.

Foto: © Veríssimo Ferreira (2013). Todos os direitos reservados



2. Resposta, no mesmo dia, do Carlos Afeitos 
[, foto à direita,]:


Estive a rever as fotos que tenho do K3, não são muitas e se calhar não foram tiradas do melhor ângulo, mas envio as que tenho.

Não consigo identificar as restantes fotos, uma delas é relativamente a uma placa que agora é a entrada da casa de um popular.

Quando visitei esta povoação,  estivemos a falar com o guineense que tinha sido um ex-militar português. Mostrou-nos a cédula militar, que ainda guarda, e um papel da Embaixada Portuguesa em que se confirma que foi militar português na guerra. Eles explicou-nos que após o final da guerra teve que fugir, pois a sua vida estava em perigo. Voltou mais tarde e agora vive em K3.

Uma das fotografias é uma escola, melhor o interior de uma sala de aula. Não tenho a certeza se a mesma é do tempo do quartel militar ou se foram aproveitadas as instalações do quartel para fazer a sala de aula. Mas penso que é do tempo em que se construíram as escolas dentro dos aquartelamentos no seguimento da política da altura. É com muita pena minha que não tenho a fotografia, mas penso que também existe uma estátua de um militar a ensinar. Não tenho a certeza se é em K3 ou em Mansabá.

Também tenho algumas fotos de Mansabá e de um quartel militar perto de Farim, a 1 km para oeste,  que não sei como se chama.

Com os melhores cumprimentos

Carlos Afeitos

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11318: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (64): Amigos brasileiros (Vasco Pires)

segunda-feira, 4 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11191: Memória dos lugares (221): Gandembel: fotos de 1968 (Idálio Reis), 2008 (Luís Graça) e 2011 (Carlos Afeitos) (Parte II)


Foto nº 13 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 14 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 15 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 16  (Luís Graça, 2008)



Foto nº 17 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 18 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 19 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 20 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 21 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 22 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 23  (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 24  (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 25  (Idálio Reis, 1968)

Guiné - Bissau > Região de Tombali > Gandembel > Fotos de três épocas:  1068 (Idálio Reis), 2008 (Luís Graça) e 2011 ( Carlos Afeitoas).


Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), é nosso mais recente membro da Tabanca Grande, com o nº 606 [, foto à esquerda]. Está na neste momento a fzer um metrado em Inglaterra. Já nos mandou fotos dos restos de alguns dos nossos aquartelamentos (Gadamael, Gandembel, K3).

O Idálio Reis não precisa de apresentação: foi um dos bravos construtores e defensores de Gandembel e ponte Balana (CCAÇ 2317, 1968/79). Luís Graça, por seu turno, passou por estes sítios em 1 de março de 2008, de visita ao sul da Guiné.

Recorde-se que Gandembel, tal como outras guarnições militares no sul, foi abandonada - em 28 de janeiro de 1969 - por ordem expressa do Com Chefe, 292 dias depois do início da saua construção e após 372 ataques e flagelações. (LG).