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quinta-feira, 26 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4083: Memória dos lugares (21): Hospital Militar 241 de Bissau (Carlos Cardoso)

1. Mensagem da Carlos Cardoso, 1.º Cabo Radiologista dos Serviços de Saúde Militar, (HM 241, 1972/74), com data de 24 de Março de 2009:

REPOR A VERDADE
Resposta ao camarada Paiva
Post 4058
(*)

Caro Luis, Carlos e Virginio

A verdade é só uma, efectivamente o heliporto era em frente ao hospital militar. Quando eu cheguei a Bissau em 18/11/72 o heliporto já tinha sido mudado como exemplifico na imagem aérea, já em relação à evacuação do Zé de Guidage, a foto do Canal História é de arquivo e não conrresponde à data de Abril de 73, visto o heliporto já não ser nesse local ou seja em frente ao hospital, daí a confusão.

Confirmei o que não precisava de confirmar com o camarada Albano que esteve na mesma altura no hospital para reforçar a minha verdade.

O camarada Paiva tem a sua, mas o heliporto mudou, confirmo que anteriormente era em frente ao hospital, porque no video da viagem à Guine do Albano, o camarada Casimiro fala que o heliporto era em frente ao edifício e que o posto de socorros era no 1.º andar e dois anos depois no meu tempo de serviço era no r/c.

Espero que tudo esteja esclarecido, mas se existirem dúvidas, o camarada Paiva que me telefone, porque perdi o contacto. Visto estarmos tão perto, podíamos tirar qualquer dúvida antes de ir para o blog.

Sem mais um abraço para todos.
Cardoso RX
Hospital Militar de Bissau

Obs: Um abraço ao ex-Pilav Miguel Pessoa do radiologista que o recebeu naquele dia fatídico




Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2009). Direitos reservados
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1977: Em busca de... (4): Camaradas do Hospital Militar nº 241, Bissau (1972/74) (Carlos Américo Cardoso, o Cardoso RX)

Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > 1972 > O 1º Cabo Radiologista Cardoso, com um miúdo, o Armandinho, a quem foi amputado parte do membro inferior, e que era a mascote do Hospital. Hoje será médico, segundo informações que o Cardoso terá recebido. A ser verdade, é uma estória fabulosa, de luta contar o destino, de determinaçãop, de coragem!


Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > 1972 > O 1º Cabo Radiologista Cardoso, no banco de trás de um jipe da PM, com o Nicolau e um outro seu amigo (o condutor da PM). Ele chegou a Bissau a 18 de Novembro de 1972, em rendição individual.

Fotos: © Carlos Américo Cardoso (2007). Direitos reservados.


1. Duas mensagens, ainda não publicadas, do ex-1º Cabo Radiologista Carlos Américo Cardoso, dos Serviços de Saúde Militar (Hospital Militar nº 241, Bissau, 1972/74):

(i) 12 de Fevereiro de 2007:

Bom dia, camarada Luís. Em relação aos mails, tenho recebido e em boas condições. Aproveito também para dizer que estou muito satisfeito com o camarada Albano [Costa] que me tem enviado fotos do hospital, e que tenho recordado com muita emoção. Até descobri que a nossa mascote no hospital (o Armandinho) é médico, quem me disse foi o Albano. Quando for ao Porto irei fazer-lhe uma visita (...).

Um abraço
Cardoso rx

(ii) 17 de Julho último:

Bom dia camarada Luís Graça:

Não é por mau feitio, mas estou um pouco triste porque o meu objectivo ao entrar para a tertúlia, e não vou negá-lo, era encontrar camaradas que estiveram comigo no Hospital.

Tenho aguardado serenamente a minha foto na tertúlia (dos amigos e camaradas da Guiné). Tendo assistido a diversas actualizações enquanto a minha não aparece. Penso que por lapso, mas gostaria imenso, já que faço parte, penso eu, de pleno direito.

E, ao encontrar camaradas do hospital, o que até agora não aconteceu, novas estórias surgirão para enriquecimento do blogue.

Despeço-me com um abraço e desejo de boas férias

Cardoso RX

2. Carlos:

Tens toda a razão. Tu és um camarada que merece toda a nossa consideração, e és de facto membro da nossa tertúlia, de pleno direito (1), tendo cumprido as regras que estão estipuladas.

Houve um lapso, entretanto já resolvido, como podes comprovar clicando na página da nossa tertúlia

Confere se os teus dados estão todos correctos. Infelizmente, não têm aparecido camaradas teus do Hospital Militar 241, de Bissau. Vamos fazer mais um apelo. Entretanto, refresca a tua memória e manda-nos também mais estórias ou episódios passados contigo, dentro ou fora do Hospital. Olha, por exemplo, a estória do Armandinho: donde é que veio, como é que ele foi aí parar, como é que se transformou na vossa mascote, etc.

___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

1 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1481: Hospital Militar de Bissau (1): Apresenta-se o ex-1º Cabo Radiologista Cardoso

7 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > 1972 > O 1º Cabo Radiologista Cardoso e os seus amigos

Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados.



II parte das memórias do 1º Cabo Radiologista Carlos Cardoso, dos Serviços de Saúde Militar (1972/74) (1):


No dia 18 de Novembro de 1972 ao desembarcar no aeroporto de Bissau tudo era novidade para mim, o cheiro da terra, as tabancas no percurso até ao hospital, enfim, a simpatia com que os meus camaradas do Raio X me dispensaram. Por sorte até cheguei a uma sexta feira ao fim do dia, pelo que só me tive de me apresentar na segunda feira.


O Manel Bolinhas que estava em fim de comisão e que era vizinho da minha namorada, combinou comigo no aeroporto que no sábado me ia buscar para irmos - penso que era a Safim - dar uns mergulhos na piscina e comer carne de porco frita naqueles estabelecimentos que existiam à beira da estrada.

No domingo fiquei no Hospital com os meus camaradas do Raio X: o Coelho, que era do Cadaval e que eu fui substituir; o Carvalho que era de Coimbra e que me deu a conhecer as canções do Zeca Afonso (que eu não sabia que não era permitido o Eles comem tudo, mas que eu achava piada porque era do contra); e o Teixeira que era de Ceira, perto de Coimbra.

Contavam-me histórias que eu, desconfiado, pensava:
- Não é bem assim, os gajos estão-me a meter medo... - Mas dizia-lhes que sim. Mais tarde confirmei que aquilo que me diziam até não andava muito longe da realidade.

Até ai tudo marchava bem, piscina, petiscos... E como eramos três cabos radiologistas, combinámos com os sargentos fazer entre os três o serviço nocturno de urgência e eles só fariam o serviço diurno quando estivessem de serviço. Assim dormiriamos no Raio X, passaríamos a ter mais qualidade de vida, teríamos ar condicionado e evitaríamos a bagunça da caserna. Ao mesmo tempo não estavamos tão dispersos quando houvese alguma eventualidade.

Entretanto chegou a segunda feira, dia de apresentação e entrada ao serviço. Deram-me uma G3 que nunca tinha disparado um tiro e aí vou eu direitinho ao Raio X. Nos primeiros dias nada se passou de anormal, a vida continuava com as consultas externas a que eu estava habituado em Lisboa no Hospital da Estrela quando estive a tirar a especialidade.




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241> 1972 > O heliporto
Foto: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados
Mas um dia tinha de começar o meu baptismo... Deviam ser para aí umas cinco horas da tarde, ouço um burburinho, espreito à janela e vejo uma viatura do nosso exército com cinco ou seis corpos a monte. Perguntei a um camarada o que tinha acontecido, ao que ele me respondeu :
- É, pá, mararam todos, foi um acidente... Isto aqui é mato, é quase todos os dias. - E era verdade, muitos dos nossos camaradas morreram tambem por imprudência.

E eu pensei cá para com os meus botões:
- Se é assim, tens que te começar a habituar... - E assim foi durante a minha comissão de serviço, depois era o normal.

Entretanto o Carvalho estava a terminar a comissão e quem o vinha substituir era o Hermínio Clemente, o Bigodes, que era do meu curso e já tinhamos feito o estágio na Estrela juntos, sabia que era ele que marchava a seguir.

E aí começou a história das fotografias: o Hermínio Clemente era (e penso que ainda é) fotógrafo profissional... Anda por aí, algures em lisboa, quem souber dele diga porque tem muito mais fotos do que quando ele chegou ao Hospital com as suas máquinas fotográficas e a sua veia jornalistica... Ele disse-me:
- Ó Cardoso, temos que fotografar isto... - E como devem calcular, não era permitido e se fossemos apanhados teríamos graves problemas. Tivemo-lo que fazer às escondidas, com a colaboração de camaradas enfermeiros e de alguns médicos.

Eu, uma vez por volta das três da manhã, estava já a dormir assim como os meus camaradas. Fomos acordados pelo enfermeiro de serviço às urgências para estarmos preparados. Tinha rebentado uma granada num café em Bissau e havia muitos feridos. Não me lembro o nome mas sei que era na avenida principal do lado direito de quem ia para o cais. Talvez Ronda, será?

Seriam para aí uns trinta feridos e, como calculam, quando há estilhaços, é radiografia da cabeça aos pés. Terminámos o nosso serviço já era de madrugada. Aí entrava o cabo do rancho porque eu ´nãoo perdoava um bife com batatas fritas para todos.





Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > 1972/74 > Cenas do bloco operatório e restos humanos... Imagens que podem, ainda hoje, ferir a sensibilidade de alguns amigos e camaradas... Diz o Carlos: É mau de se ver, mas faz parte da nossa história... Aqui era o terminal da guerra, da morte, do horror (2)... Aqui chegavam, quase sempre com vida e alguma esperança, os nossos camaradas feridos pelas minas e pelos rockets...
Amputados, muitos sobreviveram. Mas desses, quantos não ficaram estropiados para o resto da vida ? Quantos sofrem, ainda hoje, de stresse pós-traumático de guerra ? Quantos estiveram em reabilitação no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão ? Quantos tiveram apoio na reintegração na vida civil e profisisonal ? Quantos regressaram à Pátria e não perderam a esperança ? Infelizmente, não temos uma ideia de grandeza dos nossos feridos (graves) durante a guerra colonial. (LG)

Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados


Quando chegavam os feridos tanto da cidade como do mato e tínhamos oportunidade - porque nem sempre podia ser -, fechávamos as portas do Raio X e batíamos umas quantas fotos. Quando eramos chamados ao bloco operatório para fazer RX aos operados apercebemo-nos que havia material que nos interessava fotografar, então combinámos com o enfermeiro Jesus e à noite fotografávamos os restos dos nossos camaradas.

É mau de se ver mas tem que ficar para a história. Não sei o que faziam, se enterravam ou queimavam, mas se algum camarada me estiver a ler e puder complementar a informação, poderemos encontrar a verdade.

Quando em 73, nos confrontos em Guidaje e em Guileje recebemos a notícia que estavam para chegar cerca de cinquenta feridos. Passadas umas horas já só eram trinta, acabando por chegar ao hospital cerca de vinte, completamente destroçados, com o moral muito em baixo, em mísero estado.

O cheiro dos ferimentos putrefactos era insuportavél por não poderem ter sido socorridos com a devida urgência. Tivemos que andar com máscaras a socorrer os nossos camaradas.

Por tudo isto, camaradas, o meu testemunho é uma pequena amostra do que nós todos sofremos e passo a citar uma frase do nosso general Spínola quando se encontrava a visitar estes mesmos feridos no Hospital:
- É para isto que está guardada a juventude portuguesa ?

Depois veio o 25 de Abril.

Com um grande abraço
Cardoso RX

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 1 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1481: Hospital Militar de Bissau (1): Apresenta-se o ex-1º Cabo Radiologista Cardoso

(2) 10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1578: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (37): O horror do Hospital Militar 241 e o grande incêndio de Missirá

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1481: Tabanca Grande: Carlos Américo Rosa Cardoso, ex-1º Cabo Radiologista (HM 241, 1972/74)

Guiné > Bissau > 1972 > O edifício do Hospital Militar... Os horrores da guerra (os mutilados, os politraumatizados, os feridos graves...) eram ali despejados todos os dias, de helicóptero... O 1º Cabo Radiologista Cardoso mandou-nos documentos fotográficos, inéditos, do fim da linha: restos (macabros) de corpos humanos, restos de camaradas nossos a quem foram amputados braços ou pernas...


Guiné > Bissau > 1972 > A chegada, as primeiras descobertas e emoções...


Guiné > Bissau > 1972 > O primeiro passeio pela cidade...



Guiné > Bissau > 1972 > As primeiras ostras...



O novo membro da nossa tertúlia: Carlos Américo Rosa Cardoso: pertenceu aos Serviços de Saúde Militar, com o posto de 1º Cabo Radiologista. Vive em Lisboa. Trabalhou em artes gráficas. Hoje está reformado. Falei com ele pelo telefone. Dei-lhe as boas vindas... Vamos continuar a falar do inferno do Hospital Militar de Bissau que a maior parte d enós, felizmente, n
ao chegou a conhecer ao vivo... (LG)

Fotos: Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados


1. Mensagem de 29 de Novembro de 2006, enviada pelo ex-1º Cabo Radiologista Cardoso, dos Serviços de Saúde Militar:

Amigo:

Estive no Hospital Militar de Hissau como radiologista de 1972 a 74 e tenho algumas fotos que gostaria que não ficassem no esquecimento. Diga-me como as hei-de mostrar no vosso blogue.
Aguardo notícias

Um abraço
Cardoso

2. Camarada Luís Graça:

Conforme combinado, vão aí as fotos que me pediu. Se as quiser publicar todas ou só algumas, faça o favor. Como lhe disse terei muito prazer em fazer parte da tertúlia e mostrar algumas fotos inéditas.
Sem mais, um abraço

Cardoso, ex- 1º cabo radiologista


3. Apresentação do ex-1º Cabo Radiologista:



Guiné > O Hospital Militar de Bissau: "No meu tempo... Como foi ficando... Como está..."


"O meu Hospital Militar de Bissau:

"Ao navegar pela Internet procurando coisas sobre a Guiné, deparei com este site e achei piada porque acabei por encontrar algo que eu procurava há bastante tempo.

"Felicito ao mesmo empo o camarada Luís Graça por esta brilhante ideia.

"A minha história nada tem de especial: fui para a Guiné em 1972 e estive lá até 1974, como 1º cabo radiologista, em rendição individual.

"Foi neste hospital que fiz o meu serviço militar.

"Ao mesmo tempo aproveito par dizer á rapaziada do hospital que me contacte para ver se conseguimos uns quantos para nos organizarmos e depois aí partirmos - quem sabe ? - um almoço convívio. Telemóvel 939 928 718.

"Um abraço a todos os camaradas. Cardoso RX"