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quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23947: "Una rivoluzione... fotogenica" (1): Uma reportagem e um livro decisivos, e que consagram a estética da "guerra de libertação", "Guinea-Bissau: una rivoluzione africana" (Milano, Vangelista, 1970, 200 pp.), dos italianos Bruno Crimi (1940-2006) e Uliano Lucas (n. 1942)


Capa do livro de Bruno Crimi (texto) e Uliano Lucas (fotografia), "Guinea-Bissau: una rivoluzione africana" (Milano, Vangelista, 1970, 200 pp., italiano e francês) (Imagem da capa: Cortesia de Protest In Photobook.com Disponíveis também muitas outras das fotos do Uliano Lucas).

1. O Nelson Herbert, Nelson Herbert Lopes, é  jornalista reformado, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill". Viveu nos EUA, onde trabalhou na VOA - Voice of America,  Tem naciinalidade americana. Vive presentemente no Mindelo, ilha de São Vicente. 

Tem  cerca de 65   referências no nosso blogue. Integra a Tabanca Grande desde 16/3/2008 [Nelson Herbert, foto à direita].  Os pais ainda estiveram juntos no Mindelo em meados de 1943.

Na semana passada,  quinta feira, 29/12/2022, 12:04, o Nelson mandou-nos uma lacónica mensagem. "Assunto - A propósito de uma reportagem...". Não tínhamos notícias dele desde a pandemia de Covid-19. Mandou-nos um link para um artigo publicado na DW - Deutsche Welle, a Voz da Alemanha.

Achamos interessante reproduzi-lo aqui, na sua quase totalidade (exceto as imagens), como parte de uma série que gostaríamos que fosse alimentada por mais gente, dos nossos amigos e camaradas... Vou chamar-lhe "Una rivoluzione... fotogenica". Na realidade, o PAIGC e sobretudo o seu líder histórico, Amílcar Cabral (Bafatá. 1924- Conacri, 1973) sempre beneficiou de uma "boa imprensa", a nível internacional, e nomeadamente nalguns países europeus, como a Suécia, a Itália ou até a França

Alguns excelentes fotojornalistas mas também cineastas, médicos   e escritores foram às florestas e bolanhas da Guiné para se documentar "in loco" sobre o progresso da "luta de libertação" dos guineenses contra o colonialismo português. 

Amílcar Cabral era um sedutor e sobre atrair sobre si e a sua "revolução africana" as atenções de uma certa imprensa, nomeadamente de esquerda.  Foi o caso do jornalista e escritor Bruno Crimi e do fotojornalista Uliano Lucas, a que se referem este artigo da DW. Pode-se dizer que Uliano Lucas criou (ou ajudou a criar, com outros fotojornalistas e cineastas), uma "estética da guerra de libertação"... 

E teve seguidores e antecessores (como foi o caso  da Bruna Amico,  talvez a melhor fotógrafa de Cabral, que conheceu em 1969,  e que faria depois a reportagem da I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, em 23 e 24 de setembro de 1973, onde foi proclamada unilateralmete a independência,  alegadamente na região livre do Boé; ou do norueguês Knut Andreasson). 

Obrigado, Nelson. Mantenhas.


História  > Guiné-Bissau > Reportagem 1970: "Guiné-Bissau, uma revolução africana" | Rafael Belincanta (Roma)


 (com a devida vénia...)

A grande reportagem "Guiné-Bissau, uma revolução africana", publicada em 1970, foi o resultado de três meses de trabalho do jornalista Bruno Crimi, falecido em 2006, junto com o fotógrafo Uliano Lucas.

Corriam os finais dos anos 1960. Na Europa, os ares eram de revolução cultural e 'boom' económico Em Itália, iniciavam-se os anos de chumbo do terrorismo político. Ao ultrapassar questões internas, a decisão de um jornalista e um fotógrafo italianos de documentar a luta pela liberação foi decisiva para o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau.

Aos 80 anos, Uliano recorda com entusiasmo os meses transcorridos na mata guineense na companhia dos guerrilheiros.

"Praticamente encontrei um mundo – aquele da resistência, aquele das mulheres, aquele das escolas nas brigadas, um mundo que me abriu os olhos e, finalmente, eu podia ver uma guerra de liberação não cruel, assustadora, trágica, que fique claro, como aquela do Vietname", afirmou à DW.

Censura dos órgãos europeus

(...) Uliano partiu de Itália com uma ideia clara de romper o silêncio nos meios de comunicação europeus sobre o que acontecia nas então colónias portuguesas em África

"Antes de mais nada, não havia notícias, não se falava sobre isso. Sabia-se somente que Guiné-Bissau, Angola e Moçambique eram territórios ultramarinos de Portugal, colónias", começou por dizer o fotógrafo italiano, que utilizou as suas objetivas para mostrar o que não se via sobre a Guiné-Bissau.

"Não saíam informações sobre a guerra da liberação, havia um silêncio generalizado. O problema era conseguir derrubar esse muro de silêncio a respeito da luta pela libertação, de escrever ou fotografar aquilo que era a história em curso, mas também sobre o nascimento de uma nova democracia".

A frente democrática da luta de libertação nacional contra o jugo-colonial era liderada por Amílcar Cabral. Uliano Lucas teve um encontro com o 'Pai fundador' das nacionalidades guineense e cabo-verdiana já em território libertado, próximo à fronteira com o Senegal, ao final de três meses de campanha.

Entrevista a Amílcar Cabral

(...) "A ordem que Amílcar Cabral havia dado era que nós éramos 'preciosos', preciosíssimos, porque aquilo que estávamos fazendo significava uma abertura no sistema de comunicação e, por isso, nada poderia nos acontecer", recordou ainda Uliano.

"Já em Dakar, capital senegalesa, ficamos numa casa onde Bruno Crimi fez a entrevista e eu tirei as fotografias."

A entrevista foi publicada em cerca de 10 jornais, italianos e também noutros meios de comunicação social europeus, e abriu as portas da Europa para a causa da independência das colónias portuguesas em África, segundo Uliano Lucas.

"Conseguimos, seja na Itália que no exterior, realizar uma formidável operação de comunicação visual e, a esta altura, sentimos a necessidade de publicar um livro que se materializou a partir de algo complexo".


Reportagem mudou o rumo dos acontecimentos?

(...) Mas foram duas as principais conquistas obtidas a partir da publicação do livro em 1970.

A primeira foi em Roma durante a conferência das colónias portuguesas, com os três líderes, organizada em 1970. Uliano Lucas conta que o então líder angolano, Agostinho Neto, Cabral e dos Santos foram recebidos pelo Papa, chefe da Igreja Católica.

Segundo o fotografo italiano, foi um acontecimento não indiferente porque, na prática, Portugal era discretamente 'deixado de lado' pelo Vaticano. E o livro foi entregue ao Papa.

"Mas o fato mais importante foi que o livro chegou à Comissão da ONU que estabeleceu, por meio daquele livro, e claro, também outros documentos, que Guiné-Bissau tinha territórios livres e era realmente um Estado. Por essas duas coisas a viagem valeu a pena, tudo valeu a pena", afirmou em entrevista à DW, em Itália.

Uma exibição com uma retrospetiva dos trabalhos de Uliano Lucas na Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e Portugal está marcada para 2023 em Lisboa, já como parte das comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos. (...)
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15434: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (15): A Rádio Libertação e a inconfundível voz da "Maria Turra", a locutora, angolana, de origem caboverdiana, Amélia Araújo, hoje com 81 anos e a viver em Cabo Verde


Amélia Araújo gravando os trabalhos da I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau para a Rádio Libertação, na "região libertada do Boé". Data:  23 e 24 de setembro de 1973.

Fonte: Antena Um / Fundação Mário Soares / Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral (Com a devida vénia...)


Amélia Araújo aos microfones da Rádio Libertação, a rádio do PAIGC, a emitir a partir de Conakry.  Teve início em julho de 1967. Data da foto: c. 1967.

Com 81 anos, Amélia Araújo vive hoje em Cabo Verde. A sua voz pode ser aqui recordada no ficheiro áudio (10' 18'') do portal DW - Deutsche Welle ("Rádio Libertação: Fala o PAIGC").

Fonte: Antena Um / Fundação Mário Soares / Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral (Com a devida vénia...)


1. Estas duas fotos são do portal Casa Comum / Documentos Amílcar Cabral (*), mas foram primeiro visualizadas no programa "Canções da Guerra",  realizado por Luís Marinho, com produção de Joana Jorge e transmissão na Antena Um (todos os dias, de 2ª a 6ª feira, às 14h55)...   

Um dos episódios recentes deste programa da Antena Um foi justamente sobre a Rádio Libertação, o seu papel, na propaganda e contrapropaganda do PAICG. Não se pode fazer a história desta rádio sem falar da "Maria Turra", a angolana, de origem caboverdiana,  Amélia Sanches Araújo,  que lhe deu voz e alma de 1967 a 1974...  Aderiu ao PAIGC em janeiro de 1964.  Com mais quatro guineenses, a Amélia Arújo  foi enviada por Amílcar Cabral para uma formação de nove meses na União Soviética. Em maio de 1967 a União Soviética entrega ao PAIGC, através do seu embaixador em Conacri, uma estação de rádio.

Esse episódio (do programa "Canções da Guerra") pode ser revista no portal da RTP, e aqui:


Antena 1 > Canções da Guerra > Rádio Libertação

"A Guiné foi a mais dura das três frentes de guerra em África. E também aqui a Rádio teve grande importância.

"O PAIGC tinha uma emissão de Rádio a partir de Conakri. Era a Rádio Libertação.

"Uma das suas vozes mais emblemáticas era a de uma mulher: Amélia Araújo, conhecida no lado da tropa portuguesa por Maria Turra." [Este link remete para um poste do nosso blogue, justamente com a história desta mulher que alguns de nós confundiam com a mulher do Amílcar Cabral] (**)


Amélia Araújo, em 2014, em Cabo Verde.
Foto de DW - Deutsche Welle / Madalena Sampaio
(Com a devida vénia...)
2. Além das duas fotos, acima reproduzidas, o portal da RTP disponibiliza, na íntegra o testemunho de Amélia Araújo, à Antena 1 [em data que não é referida]:

Ficheiro áudio, 6' 53'': A Amélia Araújo explica como funcionava a rádio do PAIGC, com escassos meios técnicos, até 1969/70, altura em que receberam, da ajuda sueca, equipamento moderno, potente...[Na realidade. esse sofisticado equipamento, sueco, pedido por Amílcar Cabarl em 1971, só chegaria em meados de 1972; aqui a entrevistad está equivocada quanto às datas; até 1972 operaram com equipamento soviético]. (***)

Havia emissões em português e  crioulo, e algumas línguas vernáulas, como o balanta, o fula, o mandinga, o beafada, etc. A rádio, para além de manter os combatentes informados, nas três frentes (sul, norte e leste), foi um importante veículo de desenvolvimento e difusão do crioulo, bem como de recolha e divulgação do património musical da Guiné e de Cabo Verde...O programa também fazia contrapropaganda, dirigindo-se aos soldados portugueses, e fazendo questão de sublinhar que a guerra travada pelo PAIGC não era contra o povo português mas contra o colonialismo português. (Sinopse: LG)

Outros Links:

A Rádio Libertação e a Voz, Maria Turra – A história [Texto do portal DW - Deutsche Welle, da autoria de Madalena Sampaio, com data de 22/9/2014, e onde se reproduzem também as duas fotos acima com a "Maria Turra"].

Há mais vídeos e ficheiros áudio disponíveis, no portal Media > RTP > Canções da Guerra, direta ou indiretamente relacionados com a Rádio Libertação.


3. Mais alguns exemplos de documentação constante do portal Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral, referente à Rádio Libertação:

(i) Reunião sobre a Rádio do PAIGC, de 21/6/1966: listagem dos tópicos debatidos, definição dos programas, horários e idiomas (1 página);

(ii) Declaração assinada por Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, comprovando a recepção de uma estação de emissão rádio enviada pela Embaixada da URSS [, em Conacri], com data de 20/5/1967 (em francês);

(iii) Mensagem de Ano Novo de Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, emitida pela Rádio Libertação, no dia 1 de Janeiro de 1971 (27 pp.) (em francês).



(...) A Maria Turra era (é, porque está viva, em Cabo Verde) Amélia Araújo, natural de Angola, casada com o cabo-verdiano José Araújo, esse já falecido.  (...)

A mulher do dr. Manuel Boal - outro natural de Angola - era Maria da Luz (Lilica) Boal, nascida em Tarrafal de Santiago. Essa,  sim, dirigiu a Escola Piloto em Conacri, trabalhou nos manuais escolares, etc. (...)


Tanto os Araújo como os Boal estavam em Portugal em 1961 e fizeram parte do grupo que, nesse ano, fugiu de Portugal, com o apoio de oganizações protestantes, do qual muitos se foram juntar aos movimentos de libertação dos respectivos países. O dr. Boal começou por se juntar em Leopoldville ao MPLA para, mais tarde, quando este foi forçado a saír da cidade, ir ter com a mulher a Dakar e colaborar com o PAIGC.

Quanto ao dr. Mário Pádua - que desertou do Exército colonial em Angola e veio a ser médico do PAIGC, no Hospital de Ziguinchor, onde tratou o soldado Fragata - não sei se era casado na altura. (...)

(***) Vd. poste de 9 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)

(...) "Em 1971 Amilcar Cabral pediu o fornecimento de uma estação de rádio montada em dois camiões Mercedes Benz...também fornecidos pela Suécia. (...)

"Em 19 de Setembro 1972, dois transmissores (e o material de estúdio respectivo) começaram a funcionar desde o Norte da Guiné [leia-se: Senegal], com programas também para Cabo Verde.

"Os técnicos responsáveis por estas transmissões foram treinados na companhia sueca Swedtel." (...)