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domingo, 6 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16690: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (19): Quando homens e armas estavam "à carga", sendo necessário levantar um auto, no caso de desaparecerem... A história do condutor auto, do EREC 2350, que não voltou de férias em 1969... (Fernando Gouveia, ex-alf mil, Rec e Inf, Cmd Agr 2957 Bafatá, 1968/70)



Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esquadrão de Reconhecimento 2640 (1969/71) > Uma autometralhadora Fox, em reparação na oficina do Esquadrão... Este tipo de viaturas blindadas adaptava-se mal às difíceis condições do terreno na Guiné... Não me lembro de ter visto muitas a andar pelos seus próprios meios nos sítios por onde andei... Imagino a trabalheira que terá sido trazê-las até aqui. Na  foto, o 1º cabo Mauel Mata


Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esquadrão de Reconhecimento 2640 (1969/71)  >  Na foto, o nosso camarada Manuel Mata de pé, em cima de uma viatura autometralhadora Daimler. Ao fundo, o famoso cartaz, visível dos ares: "Aqui mora a cavalaria!"...


Lisboa > O N/M Uíge, que transportou o Esq Rec Fox 2640, mais o Pel Rec Fox 2175 até Bissau, em 15 de novembro de 1969. Mas nem todos compareceram: um oficial desertou... O EREC 2640 foi render o EREC 2350. em Bafatá.

Fotos (e legendas): © Manuel Mata (2006). Todos ops direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue ;Luís Greaça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Fernando Gouveia, com data de 5 do corrente:


[Foto à esquerda, Fernando Gouveia foi alf mil rec e inf, Cmd Agr 2957 Bafatá, 1968/70: é arquiteto da CM Porto, reformado; e membro da nossa Tabanca Grande desde 9/4/2009]

Carlos:

Os dois casos de desertores que considerei no inquérito não sei muito bem se realmente o são ou não, face ao que tem sido dito e repetido no blogue.

Se consideras que realmente o são, talvez seja assunto interessante para "alimentar o voraz blogue".

O primeiro caso é o descrito no poste P4637 (*), sobre um elemento pertencente ao EREC 2350, ao nosso lado em Bafatá, que,  vindo de férias,  não mais voltou. Como digo nesse texto,  talvez a sua decisão tivesse a ver com a morte de dois camaradas, calcinados, dentro de uma FOX, uns tempos antes, lá para os lados de Piche.

O outro caso, referido no meu livro "Na Kontra Ka Kontra", a páginas 139,  foi-me contado, como autêntico, pelo próprio, de que não sei o nome, durante um almoço na "Tabanca dos Melros".

Ficará ao teu critério fazer um poste com essa matéria, e da forma que entenderes.

Um grande abraço,
Fernando Gouveia


Cortesia de Carlos Coutinho
2. Quando homens e armas estavam "à carga", sendo necessário  levantar um auto, no caso de desaparecerem... A história condutor auto do Erec 2350, que não  voltou de férias... 

por Fernando Gouveia

Hoje em dia, nos escritórios, quer do Estado, quer privados, é comum ver aquelas etiquetas autocolantes com código de barras, colocadas em todo o mobiliário e objectos de trabalho, a querer dizer que têm dono, que estão "à carga".

Há quarenta anos ainda não era assim nas empresas ou nas repartições públicas, mas na tropa já se processava esse zelo, como todos muito bem sabem. Tudo estava "à carga".

Vou contar, de forma simples, o que aconteceu, com o material "à carga" no Esquadrão de Rec Fox 2350 (Bafatá, 1967/69),  instalado ao lado do Comando de Agrupamento de Bafatá [, nº 2957, Bafatá, 1968/70], em 1969.

Os três alferes (às vezes 4 ou 5) do Agrupamento iam comer ao Esquadrão, daí que eu tenha assistido a todas as fases desta estória caricata.

Em determinada altura um condutor duma autometralhadora Fox veio de férias à Metrópole e não voltou, desertou. (Não me lembro se já tinha acontecido aquela emboscada em que um rocket IN perfurou a blindagem duma Fox e carbonizou os seus dois ocupantes.)

Correu o respectivo auto de deserção. Já depois do auto concluído, alguém se lembrou que esse condutor tinha uma pistola distribuída. Todos os responsáveis directos entraram em pânico. Havia que resolver a situação.

Os alferes do Esquadrão, Rodrigues, Sena, Grosso e Amaral,  depois de discutirem vários dias como resolver esse berbicacho decidiram que se daria baixa da pistola no próximo ataque IN a Piche ("Dien Bien Piche",  como também era conhecido dada a quantidade de ataques lá verificada, e por similitude com Dien Bien Phu, no Vietname), onde tinham um destacamento.

Ao fim de pouco tempo o ataque deu-se e,  para os nossos cavaleiros,  o assunto parecia ter sido resolvido em beleza.

Puro engano, alguém descobriu que o desertor possuía um armário fechado e, lá dentro, entre outros pertences, que aliás também deveriam ter sido discriminados no auto, estava, a agora, famigerada pistola.

Muito nos divertimos, os alferes do Agrupamento, com esta última situação criada. Era ver os alferes do Esquadrão a não quererem, cada um, nas suas mãos a dita pistola. Parecia que queimava.

Passados quarenta anos, não recordo como resolveram este último problema, mas das duas uma, ou alguém se presenteou com uma pistola que já não estava "à carga",  ou então tiveram que esperar por um novo ataque a Piche e fazer um novo auto do achamento de uma pistola. (**)
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quinta-feira, 20 de março de 2014

Guinjé 63/74 - P12860: Fotos à procura... de uma legenda (25): Da janela da antiga cadeia do Crato, do séc. XVIII, os reclusos podiam assistir a cerimónias religiosas, celebradas na capela em frente, a de N. Sra. do Bom Sucesso... (Hélder Sousa / Manuel Mata / Luís Graça)


Alto Alentejo > Crato  > Flor da Rosa > 2 de março de 2014 >  O antigo mosteiro de Samta Maria da Flor da Rosa, a 2 km do Crato... É hoje uma pousada nacional.  O edifício foi recuperado e transformado em 1995 pelo arquiteto Carrilho da Graça. Vd. aqui o roteiro turístico do Crato...  


Alto Alentejo > Crato  > Flor da Rosa > 2 de março de 2014 > Claustro do antigo Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa,  agora Pousada do Crato, Flor da Rosa... D. Álvaro Gonçalves Pereira, Grão-Prior do Ordem do Hospital  (mais tarde Ordem de Malta) e pai de D. Nuno Alvares Pereira, mandou erigir o edifício no século XIV.


É um importante monumento do nosso  gótico nacional, ligado profundamente à história não só do Alto Alentejo como do nosso país. No séc. XIV, com a criação do Priorado do Crato, a vila e concelho do Crato torna-se um das mais poderosas do Alentejo, em termos militares e religiosos.  O seu período áuereo é antigido no séc. XVI, nos reinados de D. Manuel I e D. João III.  Recorde.se que um dos priores do Crato, D. António de Portugal, foi um dos pretendentes ao trono, na sequência da crise dinástica de 1580.
 (...) "Sob a responsabilidade do Arquitecto Português Carrilho da Graça, nesta Pousada encontramos um conjunto de edifícios distintos, construídos em épocas distintas, como o Paço acastelado gótico, uma igreja Gótica Manuelina e ainda compartimentos Conventuais Renascentistas e mudéjares." (...) (Fonte:  sítio oficial da Pousada do Crato, Flor da Rosa).

Enfim, uma bela e acolhedora terra de Portugal, muito mal conhecida, e que merece uma visita de fim de semana... Tem, por exemplo, mais de 70 antas, sendo duas monumentos nacionais. Os vestígios da ocupam humana têm mais de 5 mil anos...




Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia


Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia > Edifício da antiga cadeia municipal...  Data do séc. XVIII. No 1º piso, funciona agora a  biblioteca municipal.

Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia > Janela, gradeada da antiga cadeia, donde os presos podiam assistir à missa (e outras cerimónias litúrgicas), na capela em frente, a de Nossa Senhora do Bom Sucesso



Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia > Janela da capela  de Nossa Senhora do Bom Sucesso, mandada  construir em 1755.


Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia > Fachada da capela  de Nossa Senhora do Bom Sucesso, mandada  construir em 1755, por uma piedosa senhora, com o único propósito de permitir aos reclusos da cadeia (que ficava em frente) assistirem a cerimónias religisoas



Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia > Folheto afixado, na parte interior, da janela da capela  de Nossa Senhora do Bom Sucesso,  onde se dá uma bereve explicação da sua origem e função


Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia >Janela da da antiga cadeia e, do outro da rua, a janela, envidraçada, da capela  de Nossa Senhora do Bom Sucesso,  



Alto Alentejo > Crato  >  2 de março de 2014 >  R 5 de Outubro, antiga Rua da Cadeia >  Aspeto parcial do piso térreo da antiga cadeia.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem do nosso camarada Manuel Mata, com date de 17 do corrente:

Caro Luís:

Obrigado pela notícia de tua passagem pelo Crato (*)

Realmente o meu telefone  fixo  mudou de  número,  mas qualquer pessoa dizia onde me encontrares, pois não existe outro Manuel Mata neste Concelho.

Tenho pena sinceramente de assim ter acontecido.

Não sou natural do Crato,  mas sim de Marvão, criei-me em Portalegre,  quando vim da Guiné, emigrei para a Escola de Nisa e a seguir fui abrir a do Gavião. Logo depois vim abrir a do Crato e aqui fiquei.

Aqui no Crato faz-se anualmente um almoço convívio da rapaziada,  natural ou residente,   que esteve na Guiné.

Achei interessante o repto lançado para as três fotos (*), também é notória a falta de conhecimento da nossa história. Diga-se de passagem não era fácil para quem não conheça o que foi a antiga prisão, agora Biblioteca Municipal no 1º piso.

Amigo, numa outra passagem por estas bandas espero por ti ou outros que queiram bater à porta.

Um abraço
MMata
Tel. (...)
Telm. (...)


2. Comentário de L.G.:

Estes passatempos são sempre divertidos... E o poste  (*) até teve bastante comentários: do António J. Pereira da Costa, do António Rosinha,  do Henrique Cerqueira, do Hélder Sousa, do Manuel Mata... Quem chegou ao Crato foi o nosso Helder Sousa...  Outros ficaram por Estremoz...

(....) Meu amigos zzz... Crato! É Crato! Agora o que são precisas são 'legendas'.... O que o Rosinha escreve faz algum sentido. Podia ser: "A Paz, para lá das grades". Ou então: "Aproveita a solidão para reflectir". Há mais, mas seguem estas agora. (...)
Mais difícil, temos de concordar com o Hélder Sosua e com o Manuel Mata, era pôr as as legendas... o que implicava  descobrir que a foto tinha sido tirada no interior da antiga cadeia municipal (num edifício setecentista onde funciona atualmente, no 1º piso, a bliblioteca local)... 

 A singuraliddae da foto é que apanha, do outro lado da rua, a janela envidraçada da "capela da cadeia"... É percetível uma imagem de uma santa, a Nossa Senhora do Bom Sucesso... 

A todos muito obrigado pela participação. E a próxima vez que lá voltar prometo procurar o nosso amigo Manuel Mata,  camarada do meu tempo do leste, que esteve em Bafatá (EREC 2640, 1969/71).

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Guiné 63/74 - P12858: In Memoriam (186): Maria Alice de Sousa Loureiro Costa (1948-2014), esposa do nosso camarada António da Costa Maria (ex-Fur Mil Cav, Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)

1. A triste notícia, esperada há dias, surgiu ontem, a Alice, esposa do nosso camarada e tertuliano, António da Costa Maria [foto à direita], (ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71), acabava de falecer depois de ter lutado estoicamente contra uma doença que fatalmente a havia de vencer.

O António Maria foi um exemplar companheiro, que durante 24 horas de cada dia, nos últimos dois ou três anos, particularmente, velava pela sua esposa, indiferente ao desfecho, inevitável, que se aproximava. 

Quem de perto o acompanha, como alguns do amigos mais próximos, sabe que ele foi um marido, um amante e um enfermeiro. Sabemos que a Alice foi estimada, mesmo quando já não conseguia comunicar. O nosso velho amigo Tone Maria é um exemplo, diria, o nosso herói.


A nossa amiga Maria Alice, esposa do António Maria, foi aluna da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, onde começaram o seu namoro ainda muito jovens, ele com 15 anos e ela com 13. Namoraram cerca de 10 anos, e após o regresso da Guiné, casaram. Fruto desse casamento há dois jovens filhos que hoje choram a perda da mãe, o Pedro e o Nuno. A Alice deixa também em profunda dor a sua mãe, uma senhora com mais de 90 anos, também a cargo do nosso camarada.

Ontem à noite pude verificar o quanto abatido está o nosso velho amigo, tal a canseira a que foi sujeito ao longo de anos, tratando esposa e sogra. Oxalá recupere tão rápido quanto possível. A família e os amigos vão dar uma mãozinha.

O funeral da Alice sairá hoje às 15h30 da Capela do Corpo Santo com destino à Igreja Matriz de Leça da Palmeira, onde será celebrada Missa de Corpo Presente. Repousará definitivamente no Cemitério n.º 1.

Ao António Maria, à senhora sua sogra, aos filhos Nuno e Pedro, netos e demais familiares, em nome da tertúlia, apresento os nossos mais sentidos pêsames e a certeza de que eles não estão sós nesta hora tão dolorosa.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12796: In Memoriam (185): Victor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, ex-cap art, cmdt, CART 2715 (Xime, 1970/71)...

quarta-feira, 5 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12794 : Memória dos lugares (264): Contuboel e Sonaco, junho/julho de 1969, ao tempo da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Humberto Reis / Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá)  > Contuboel > Julho de 1969 > CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (1969/71) > O alferes miliciano de operações especiais Francisco Moreira, no meio do Humberto Reis (à sua direita) e do Tony Levezinho (à sua esquerda). O nosso Moreira era o homem de confiança do comandante da companhia, o Cap Inf Carlos Alberto Machado Brito (, hoje cor ref). O Moreira passou por Lamego,  pelo CIOE, tal como o Reis.



Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá)  > Contuboel > 15 de Julho de 1969 > CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (1969/71) > O alferes miliciano Francisco Magalhães Moreira (1º Gr5 Comb), à esquerda, acompanhado pelo Tony Levezinho (furriel) (2º Gr Comb), o António Fernando R. Marques (furriel), o José António G. Rodrigues (alferes, já falecido) e o Joaquim Augusto Matos Fernandes (furriel) (estes três últimos do 4º Gr Comb), preparando-se para sair até Sonaco (a nordeste de Contuboel).




Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá) > Contuboel > "Em 10 de Julho de 1969, numa canoa no Geba a caminho de Sonaco... Reconhecem-se da esquerda para a direita o Tony Levezinho, eu, o alf Francisco Moreira, o Rocha, condutor, o alf Rodrigues, já falecido, e o djubi, manobrador da canoa, de pé" (HR).

A CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) realizou os exercícios finais da instrução de especialidade dos seus soldados africanos,  entre 6 e 12 de Julho, a 10 km a norte de Contuboel.  Sonaco era um destacamento do subsetor de Contuboel, tendo em permanência um grupo de combate da unidade de quadrícula de Contuboel mais um pelotão de milícias. Não me consta que alguma vez tenha sido atacada ou flagelada, tal como Contuboel. (LG)


Fotos: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. A propósito de uma recente referência a Contuboel e a Sonaco (*), dois topónimos de que se fala pouco, aqui no nosso blogue (, e em especial, Sonaco, que só tem meia dúzia de referências)...

O Humberto Reis, autor das fotos que acima publicamos (, que nâo têm de resto, a qualidade a que nos habituou: são de formato reduzido e fraca resolução,,,)  diz que "foi a Sonaco duas, ou três  vezes em passeio", no tempo em que a CCAÇ  2590/CCAÇ 12 esteve em Contuboel, ou seja, menos de dois meses, de 2 de Junho a 18 de Julho de 1969, na fase de instrução de especialidade dos nossos soldados do recrutanmento local . (Só um terço da companhia, os quadros e os especialistas, eram de origem metropolitana).

Sonaco era "um local sem quaisquer problemas", garante o Humberto... E eu confirmo:  pelo menos, não havia risco de emboscada ou de minas, nesse tempo... O braço armado do PAIGC não chegava até lá... Havia vários tampões, entre a fronteria com o Senegal e o subsetor de Contuboel a que pertencia Soncao. A terra tinha vários comerciantes, quer portugueses quer libaneses.

Não sei como as coisas evoluiram, depois... Enfim, era um sítio onde a malta do leste, de outros setores (como o L1,  de Bambadinca)  ia comprar vacas... O Torcato Mendonça, por exemplo, que "vivia" em Mansambo, já aqui referiu que chegou a comer alguns bifinhos das vacas de Sonaco... E eu também, em Bambadinca...

Igualmente havia quem fosse, de Bafatá, a Sonaco para pescar peixe, no rio Geba, à granada...como era o caso do Manuel Mata, (do EREC 2640, Bafatá, 1969/71). (E, a propósito, passei um belíssímo fim de semana na terra dele, o Crato; telefonei-lhe, mas ele já não usa o nº de telefone fixo que eu tinha na agenda).

A CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) realizou os exercícios finais da instrução de especialidade dos seus soldados africanos, entre 6 e 12 de Julho, a 10 km a norte de Contuboel.  Andámos por lá a brincar às guerras, com balas de salva (!)... Só os graduados de cada grupo de combate (alferes, furriéis e cabos metropolitanos) levavam nas cartucheiras algumas balas a sério, não fosse o diabo tecê-las...

Em 20/6/1969, escrevi no meu diário:

 "O chão fula vai resistindo, mal, ao cerco da guerrilha. De Piche a Bambadinca ou de Galomaro a Geba, os fulas estão cercados. Mas por enquanto, Bafatá, Contuboel ou Sonaco ainda são sítios por onde os tugas podem andar, à civil, desarmados, como se fossem turistas em férias! Contuboel é ainda um oásis de paz, com um raio de uns escassos quilómetros"...

Tenho ideia de lá ter ido também, a Sonaco, mas não tenho grandes memórias do sitio... Muito menos uma foto, mas pode ser que apareçam mais (**)... (LG)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Mapa de Sonaco (1957) (Escala 1/50 mil) > Pormenor da posição relativa de Sonaco, na margem esquerda do Rio Geba, a nordeste de Contuboel... Era uma região bastante povoada e próspera...

Os vagomestres das nossas companhias no leste conheciam Sonaco, onde iam comprar vacas... Pelo menos até ao início dos anos 70, e antes da intensificação da guerra na região fronteiriça, a norte, era um região calma... E acho que continuou calma... até ao fim.

Temos apenas meia meia dúzia de referências a Sonaco no nosso blogue... Era posto administrativo e pertencia ao subsetor de Contuboel. Tenho ideia de que, no meu tempo (junho/julho de 1969) havia lá um pelotão destacado, da unidade de quadrícula de Contuboel (, que já não recordo qual fosse, mas em princípio não podia ser a CART 2479 / CART 11; seria talvaz a CCAÇ 2436, 1968/70: passou por Bissau, Galomaro, Contuboel e Fajonquito; ou ainda a  CCAÇ 2436, que esteve em Quinhamel, Fajonquito, Contuboel e Nhacra; ambas pertenciam ao BCAÇ 2856, sediado em Bafatá).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).



Guiné > Zona Leste > CAOP2 > Setor L2 (Bafatá) > Guão do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74) com unidades de quadrícula em Contuboel (CCAÇ 3547), Geba (CCAÇ 3548) e Fajonquito (CCAÇ 3549).
Guiné > Zona Leste > CAOP2 > Setor L2 (Bafatá) > Susetor de Contuboel >   1972/74 > Em Contuboel estava a CCAÇ 3547 (Répteis de Contuboel),   do nosso camarada Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil. (Trabalha, ou trabalhou em tempo, no Hospital da CUF). É membro da nossa Tabanca Grande desde a 1ª série do blogue. A CCAÇ  3547 tem página no Facebook.

Quem também passou por Contuboel e Sonaco foi o nosso camarada açoriano, e notável escritor, Cristóvão Aguiar (n. 1940), ex-al mil da CCAÇ 800 (1965/67), uma companhia independente. O seu diário de guerra foi publicado no nosso blogue, organizado pelo nosso devotado colaborador, amigo e camarada José Martins. (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de:

3 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12790: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte IV): Passaram os quatro primeiros meses... Em Contuboel, ainda longe da guerra...

(...) No romance, os militares pertencem a um CCAÇ 666 (que nunca existiu, no TO da Guiné). O nosso camarada José Martins, entretanto, conseguiu,  com o seu olho clínico, identificar, a partir da leitura do livro (e da consulta do 8º Volume, Tomo II da CECA, Fichas História das Unidades, Guiné, pag. 342), a subunidade a que pertenceu o Alf Mil Luís Cristóvão Dias de Aguiar, e que era a CCAÇ 800 (Contuboel, 1965/67):

Companhia de Caçadores nº 800

Unidade Mobilizadora: RI 15 – Tomar.

A subunidade foi formada com data de 1 de Janeiro de 1965, conforme Ordem de Serviço nº 2 de 4 de Janeiro de 1965 do Regimento de Infantaria 15 de Tomar. Destinava-se, inicialmente, ao arquipélago de Cabo Verde, tendo a partida prevista para a data de 13 de Abril de 1965.

Comandante: Capitão Inf Carlos Alberto Gonçalves da Costa, sustituído em Setembro de 1965 pelo Capitão Miliciano de Cavalaria António Tavares Martins (que tinha vindo da CCav 489/Bcav 490) (...).

Constituíam o quadro de Oficiais subalternos os Alferes Milicianos:

João Belchurrinho Baptista;
Luís Cristóvão Dias Aguiar;
João Faria Cortesão Casimiro;
e João Baptista Alves.

Partida: Embarque em 17 de Abril de 1965; desembarque em 23 de Abril de 1965; Regresso: Embarque em 20 de Janeiro de 1967 (...).

A CCAÇ 800 actuou sobretudo no subsetor de Contuboel, a nordeste de Bafatá.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12434: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (10): A Mãe d'Água ou a 'Sintra de Bafatá', local aprazível e romântico onde se realizavam almoços dançantes para os quais se convidavam os senhores alferes, alguns furriéis e as moças casadoiras



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16A


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16 B


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16 C

FOTO 16 > Zona da Mãe d’Água, também chamada “Sintra de Bafatá”, onde havia umas mesas para piqueniques e que, de vez em quando, a esposa do comandante  Esquadrão  organizava uns almoços dançantes (16 C) em que eram convidados além dos alferes, e penso que alguns furriéis (16 B) , todas as meninas casadoiras de Bafatá, libanesas e não só (16 A).

 [ O Fernando Gouveia não quis identificar o Esquadrão, mas o último do seu tempo, foi o Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71, cujo comandante era o cap cav Fernando da Costa Monteiro Vouga; reformou-se como coronel, e é autor de diversos livros sob o nome de Costa Monteiro].



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 17


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 17 A

 FOTO 17 > “Sintra de Bafatá”. Caminho que ia de junto do Mercado até à Mãe d’Água e casa do comandante do Esquadrão. Todo o percurso era ensombrado, como os caminhos da mata de Sintra. Na foto, o Fernando Gouveia, à civil.


Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo  Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à esquerda]

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de dezembro de  2013 >  Guiné 63/74 - P12401: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (9): Fotos 6, 7, 10 e 12: rua do cinema, parque infantil, rua das libanesas, porto fluvial, Rio Geba

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12395: O que é que a malta lia, nas horas vagas (7): A prestigiada revista "Vida Mundial" (Manuel Mata, ex-1º cabo, Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)

1. Excertos de um poste do Manuel Mata, publicado na I Série, em 5/5/2006 (*)


[Foto à esquerda: o autor, 1º cabo cav, Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/70, junto à Fonte Pública de Bafatá, construida em 1948]

22 De Novembro de 1970

A vida no Esquadrão [Esq Rec Fox 2640] decorria com toda a normalidade que era habitual, no dia-a-dia da unidade em Bafatá, não fossem as notícias que ouvi, cerca das 6 horas da manhã na rádio de Conacri, onde anunciavam com alguma ansiedade a invasão da República da Guiné e apelava aos Boinas Verdes para virem em seu auxilio, pois estavam a ser invadidos por tropas colonialistas Portuguesas.

Fiquei estupefacto e comecei a falar com a rapaziada do Esquadrão, mas todos iam ficando pensativos sem nada se conseguir relacionar. Perguntou-se ao Manuel, um ex- turra a trabalhar na padaria do Esquadrão, como padeiro, se tinha conhecimento de alguma coisa. Resposta negativa, como era óbvio. Mas para nós, ele sabia e sabia fazer muito bem o seu jogo entre as partes envolvidas, o mesmo se passou com os restantes trabalhadores guineenses do Esquadrão o Braima e o Samba.

Já isso não se verificou com o Teófilo e o seu amigo, sobrevivente do desterro e residente em Bafatá, que comentaram:
- Pura intromissão, na vida de um país vizinho, só de um Governo Fascista e Colonialista como o Português, tem que ser derrubado!.

As notícias continuaram na rádio, ficamos a saber da entrega de um dos grupos, da libertação dos nossos prisioneiros, da destruição da pista de aviação, de muitos mortos, mas nada de muito concreto. Como era fácil adivinhar, foi um momento de muita alegria ao saber-se que haviam libertado os nossos prisioneiros.

Como nada mais se sabia, pedi a familiares e amigos na metrópole que estivessem atentos às notícias e que me enviassem a prestigiada revista da altura, a Vida Mundial. Semanas mais tarde lá chegou, com uma reportagem da entrevista, na televisão, com um dos prisioneiros, mas nada de grande luz sobre a situação da invasão à República da Guiné-Conacri.

Ansiei ao longo dos anos pela verdade, como certamente todos nós, finalmente, o livro de António Luís Marinho "Operação Mar Verde", nos veio clarificar toda a preparação maquiavélica da Operação. (...)

A destruição da "Vida Mundial"

Um dos meus passatempos, na Guiné, era ler, ouvir e gravar música subversiva para os amigos que me pediam, principalmente, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros, que me chegavam da Metrópole, por intermédio de um estudante universitário de Coimbra, irmão do 1º Cabo Antunes (já falecido).

O comandante [do Esq RecFox 2640, ] lá foi informado deste meu hobby. Então para me manter ocupado, andou durante algumas semanas, todos os dias, cerca das 10 horas da manhã, a visitar a arrecadação de material de guerra e aquartelamento. Entrava mudo e saía calado, deitava o material das prateleiras para o chão. Eu voltava a colocar o material nos devidos lugares, e assim foram decorrendo os dias.

Já com alguma preocupação, falei com o 2º Comandante, prometeu ir ver o que se passava, disse-me depois:
- Termina com as gravações senão vais parar a Piche!

Claro, continuei mas fora de horas... Terminada a comissão, com receio que algo pudesse acontecer, visto estar já referenciado, pedi a um amigo insuspeito que me trouxesse todo o material subversivo, onde tinha as gravações, livros, incluindo a Vida Mundial.

Este amigo, o 1º Cabo Machuqueira, como não fui na semana seguinte, da passagem à disponibilidade, levantar o referido equipamento, e com medo da PIDE/DGS, queimou todo o material, que lhe confiei. (...) (*)

Manuel Mata


2. Comentário de L.G. 

"Vida Mundial: o mundo numa semana" era uma revista semanal, propriedade da Sociedade Nacional de Tipografia, e diirigida por Francisco Eugénio Martins (desde c. 1939 até 1970). Em 1967 custava 5$00, conforme se pode ver na capa  nº 1463, de 23/6/67. [Cortesia do blogue A Lisnave].

Sete anos depois, custava os mesmos 5$00 (vd. capa da 1º edição sem censura, nº 1821, 3/5/1974; o diretor interino era o jornalista  Manuel Figueira). Por avião, cada nº custava 12$50 em Angola, 15$00 em Moçambique, 2 Francos em França, e  0, 45 dólares para o Canadá. Não sabemos qual seria o preço na Guiné, por avião.

Neste espaço de tempo, de meio século, por ela passaram muitos homens e algumas mulheres do jornalismo e das letras. A sua história está por fazer. Sabemos que houve uma renovação da revista nos últimos anos do Estado Novo. A Hemeroteca Digital (sítio da Hemeroteca Municipal de Lisboa, disponibiliza, integralmente digitalizado, um nº histórico, o 1821, de 3/5/1974, de que se apresenta aqui, à direita, a respetiva capa, com a devida vénia. (**)

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sábado, 30 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12369: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (6): O café do sr. Teófilo (Parte II): um homem amargurado que sabia demais? (Manuel Mata)





Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto do álbum do Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70] > Foto nº  11 > Legenda: 1 – Estrada para Bambadinca, logo a seguir à rotunda; 2 – A minha casa;  3 – A casa e restaurante do Sr. Teófilo.

Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados.



1. Texto do Manuel Mata, com data de 29/3/2006, publicado na I Série (*):

Caro Luís Graça:

Volto à questão do Teófilo ser ou não um presumível informador... da PIDE/DGS (**). Não creio!... Com o devido respeito, e que me perdoe a família por estar a referir o seu nome e passagens do meu convívio com o seu familiar, mas são memórias de uma época que gosto de partilhar embora com alguma imprecisão, já que vão decorridos 36 anos, e os neurónios por vezes já não respondem a 100%.

O Esq Rec Fox 2640 [, Bafatá, 1969/71] tinha um sistema rotativo do serviço de vagomestre, à messe de Oficiais e de Sargentos. No mês que coube ao 1º Srgt Mecânico (já falecido), as refeições ao longo das primeiras semanas foram quase sempre à base de peixe do rio, pescado na zona de Sonaco, a nordeste de Contuboel.

 Eu levava granadas defensivas ou ofensivas que eram posteriormente justificadas em combate, questão que o 1º Sargento resolvia para que eu não tivesse problemas com o Comandante do Esquadrão. Lá seguíamos nós (ele, a esposa, o filho de 3 a 4 anos de idade e eu por vezes), numa Peugeot de caixa aberta e, chegados a Sonaco, dois Guineenses com canoas conduziam-nos pelo Rio...Granada aqui, granada acolá, lá vinha o peixe à tona da água, mergulhava um dos guias para apanhar o peixe...

Um certo dia, o pessoal do Esquadrão já estava saturado... O Comandante, Capitão Fernando Vouga, mandou que se atirasse tudo ao lixo e exigiu cabrito para o almoço. E assim foi! Nesse mesmo dia, passei pelo café do Teófilo, fez-me logo o comentário:
– Então, o mecânico não se contenta só com o que rouba ao civis na reparação das viaturas!? Vai pagar tudo!

O Esquadrão teve em determinada altura algumas armas de caça automáticas, de cinco tiros, que o pessoal podia requisitar para os seus tempos de lazer. O 1º Srgt mecânico era um dos elementos que as utilizava para a caça nocturna.

Uma noite, em que por casualidade o não acompanhei, foi coadjuvado pelo 1º Cabo Cozinheiro, cerca das 24 h, ao tentar regressar à viatura com o carregamento de lebres, o guia diz estar desorientado e não saber onde se encontrava a carrinha. O sargento deu-lhe algum tempo para se orientar na mata. Este continuou a dizer que não conseguia ir ter à carrinha. O sargento apontou-lhe a espingarda à cabeça e disse:
– Ou encontras já o transporte ou disparo!

O rapaz lá seguiu e, mal dada uma meia dúzia de passos, eis a carrinha à sua frente.

Guiné > Zona leste > Sonaco > Rio Geba > Bafatá > 1970 > Foto nº 1 > A pesca à granada... Na foto o Manuel Mata (à esquerda) 


 Foto (e legenda):  © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados





Guiné > Zona leste > Bafatá >  1970 > Foto nº 2  O milagre dos peixes... 

Foto (e legenda): © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados



Posteriormente, passo pelo Café do Sr. Teófilo (parece que o estou a ver de bengala na mão, sentado na sua cadeira de braços, do lado esquerdo da porta do café)... Quando pus o pé no patamar, disse-me logo em voz baixa:
– Então o teu amigo mecânico ontem à noite ia ficando na caça?

Observei no mesmo tom:
– Como sabe? – Respondeu:
– Já te disse que sei tudo – e acrescentou:
– Não perde pela demora!

Semanas mais tarde, estando o 1º Sargento em casa, entre as 21 e as 23 horas, de um determinado dia, bateram-lhe à porta dizendo:
– Foge com a mulher e o menino, eles vêm para te matar!.

Não foi por o Teófilo ser um presumível informador da PIDE/DGS, como se dizia, mas por haver fortes duvidas, quanto à sua ligação ao PAIGC, e ao mesmo tempo viver num bairro [, a Tabanca da Rocha,] onde viviam elementos do IN, que chegou a estar tudo de prevenção em Bafatá, com o material bélico apontado para a zona, incluíndo o Pelotão de morteiros sediado no Batalhão, para queimarem a área... Felizmente imperou o bom senso.

Não creio que o Teófilo fosse um informador [da PIDE/DGS] mas socorria-se desse subterfúgio para camuflar outras facetas.

Falando em PIDE/DGS, recordo um elemento que estava em Bafatá, muito activo, de quem não me recordo o nome, mas penso ser da área de Castelo Branco: conseguiu descobrir (sempre andando na sua bicicleta) onde o pessoal do IN se reunia numa tabanca próximo da Ponte Salazar, no Rio Geba. Várias vezes o vi fazer o percurso da pista de aviação com destino a essa tabanca. Certo dia comentei com o Teófilo esta situação. Resposta curta e directa:
– Esse não sai de cá com vida!

Algum tempo depois, na referida tabanca, o pessoal reunido, lá aparece o elemento da PIDE/DGS, deram-lhe tanta pancada que foi evacuado de helicóptero...Por sorte, passava nesse momento o jipe da patrulha, o que levou os agressores a fugir e a aparecer gente para socorrer a vítima.

Comentário do Sr. Teófilo após o acontecimento:
– Eu não te disse? Já pagou! – Acrescentei eu:
– Sabe que o indivíduo já me tinha convidado para ingressar na PIDE/DGS, ele fazia-me o requerimento ao Director Rosa Casaco e eu quando regressase a Lisboa entrava logo ao serviço (claro não era serviço que se coadunasse com a minha forma de ser e de estar na sociedade)... 

O Teófilo ficou furioso e fez o seguinte comentário:
– Esse porco já teve o que merecia!

Foram estas situações, vividas e outras, que sempre me levaram a acreditar na sua inocência nesse campo, tanto mais que por vezes me dizia:
– A coluna que se realiza no dia x vai ser emboscada... 

E era fatal como o destino. Quando foi o ataque a Bafatá, ele já o tinha previsto, umas semanas antes.

Manuel Mata [ex-1º cabo, Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71]

2. Comentário de L.G.:

Manuel Mata: este teu testemunho é precioso... Eu nunca insinuei que o Teófilo fosse da PIDE/DGS (ou que colaborasse com o PAIGC)... Além disso, o senhor já morreu e merece o nosso respeito. 

Ele, muito possivelmente, como outros velhos colons (na Guiné, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe...) deveria ser contra a situação (ou seja, o regime político então vigente desde 1926)... Só assim se explica que ele tivesse sido deportado para a Guiné no princípio dos anos 30, conforme a tua versão (e a versão que corria em Bafatá, no meu tempo)... 

Nalguns sítios (como Bambadinca, que eu conheci melhor) havia a suspeita de os comerciantes locais serem também informadores da PIDE/DGS ou jogarem com um pau de dois bicos... Podemos perguntar hoje se, em contexto de guerra, ou contexto daquela guerra,  eles tinham alternativa...

Eu penso que, aos olhos da tropa, isso deverá ter acontecido  não só em Bafatá e em Bambadinca como noutras circunscrições e  postos administrativos, naquelas ocalidades de maior ou menor importância onde ainda houvesse comerciantes (independentemente da sua origem, portugueses, caboverdianos ou libaneses)... Muitos dos nossos miliatares tinham esse preconceito ou estereótipo: comerciante ou era turra ou era informador da PIDE...ou até uma coisa e outra. Muitos de nós, em contrapartida, nunca puseram essa hipótese em relação a alguns dos oficiais que nos comandavam ou dos sargentos do quadro que comiam à mesa connosco e até acamaradavam connosco...

Quanto a esse  história do agente  da PIDE/DGS que levou porrada numa tabanca... .Ouvia-a eu,  ao próprio, em Bafatá, creio que na Transmontana (ou foi no café do Teófilo ?, não posso jurar): iam-lhe cortando o nariz, à dentada...  Lembro-me de ouvir a conversa dele (eu, algo incomodado, com a presença dele e doutro agente, numa mesa de alferes e furriéis milicianos de Bambadinca)... O fulano – que, se bem me lembro, falava alemão, por ter sido imigrante, com os pais, na Alemanha – estava lixado com o Spínola, por que na época (c. 1970) não se podia fazer justiça por mãos próprias... Enfim, ainda bem que havia leis, havia tribunais, e estava em curso a política da "Guiné Melhor"...

De qualquer modo, nunca cheguei a saber onde era a delegação da PIDE/DGS em Bafatá... Por outro lado, a sua colaboração com as NT (e vice-versa) era considerada, mais ou menos, como uma coisa normal...
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Notas do editor:

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12358: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (5): O café do sr. Teófilo (Parte I): um homem reservado, de poucas falas, e com um passado mal conhecido (Manuel Mata / Luís Graça / Humberto Reis / Maltez da Costa)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > Rotunda à entrada de Bafatá e o Café do Teófilo (pai da Ritinha), ao fundo. Em frente ao Teófilo, morava o meu camarada e amigo Fernando Gouveia.


Foto (e legenda): © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados


1. Já aqui temos falado aqui, mais do que uma vez, do Café do Sr. Teófilo, em Bafatá... Alguns leitores poderão querer  saber quem era, afinal,  esse senhor que se cruzou connosco...

Para quem passou pelo leste, e inevitavelmente por Bafatá, em pleno coração do "chão fula", o nome do sr. Teófilo pode dizer qualquer coisa... Mas o seu café, já fora do núcleo central da cidadezinha colonial de Bafatá, à saída para Bambadinca, na Tabanca da Rocha, poderá ser menos conhecido... Não era sítio de paragem de todos os que estiveram em Bafatá, ou iam a Bafatá, em serviço ou em lazer.

Em contrapartida, era frequentado pelo pessoal do setor L1 (Bambadinca, Xime, Mansambo, Xitole), e nomeadamente pelo pessoal metropolitano da CCAÇ 12 que, mais ou menos de mês a mês, conforme a frequência e a intensidade da actividade operacional, ia a Bafatá com três ou quatro  propósitos  simples: (i) comer o seu bifinho com batatas fritas e... "ovo a cavalo", supremo luxo! (em geral na Transmontana, um refeição que custava qualquer coisa como 25 pesos, o equivalente à "diária" de um militar); (ii) visitar as amiguinhas do Bataclã (que às vezes também iam a, e ficavam em,  Bambadinca, em visita de cortesia...); (iii)  fazer compras na Casa Gouveia ou outras casas comerciais; ou simplesmente (iv) distrair a vista pelas montras da civilização...  Enfim, um ou outro andava a tirar a carta na escola de condução local.

Com cerca de 4 mil habitantes (no princípio dos anos 60), Bafatá era a sede de concelho do mesmo nome e a segunda maior cidade da Guiné (passou de vila a cidade em Março de 1970!)... De Bambadinca a Bafatá,  a estrada era alcatroada ... e podia-se acelerar! Uma verdadeira autoestrada de 30 km.!... As preocupações com a segurança eram mínimas e houve acidentes, rodoviários, de maior ou menor gravidade! [vd. foto aérea, à direita, do Humberto Reis, c. 1970]

O Teófilo já foi aqui evocado, em 25 e 26/3/2006,  pelo seu amigo Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de CCM47, integrado no Esquadão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71), e que vive no Crato, Alto Alentejo, sendo membro da nossa Tabanca Grande desde essa altura:

 "Café do Teófilo: À saída de Bafatá, na estrada para Bambadinca. Este homem era sobrevivente de um grupo desterrado para a Guiné nos anos 30. No período da guerra era apontado como sendo informador do IN. Foi pessoa com quem me dei particularmente bem, pois tinha pelos alentejanos (em especial de Portalegre) um carinho especial. Era sítio que eu visitava com alguma regularidade, tomava-se uma cerveja gelada, com alguma descrição, acompanhada de uma breve conversa. Era uma pessoa de parcas palavras" (*).

Mandei, nessa altura, em 25 de março de 2006, a seguinte mensagem ao Manuel Mata:

"A história do Teófilo intressa-me. Eu julgo que ele era das Caldas da Rainha, do Oeste (eu sou da Lourinhã). Seria ? Fiquei com essa ideia, das minhas conversas (escassas) com ele... Eu ia lá algumas vezes, recordo-me da filha [, a Rita]. Ele era de poucas palavras (acrescentei eu, à tua legenda).

"Sabes o motivo por que foi desterrado (ou deportado, como se dizia na época) para a Guiné ? Por razões políticas ? Seria ? Terá estado envolvido nalgum movimento de contestação ao Estado Novo nos anos 30 ? Recorde-se que em 1936 foi criado o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, e que entre 1916 e 1939, mais de 15 mil portugueses foram presos e, muitos deles, deportados (para as ilhas adjacentes e colónias) por razões políticas, segundo estimativa do historiador Fernando Rosas (**)...

"De facto, no meu tempo, ele já tinha 40 anos de Guiné [e já deveria ter  cerca de 60 de idade]... Nunca aprofundei essa história. Voltaste a saber dele ? Vou perguntar também ao meu camarada Humberto Reis, da CCAÇ 12" ...


2. Informações adicionais do Manuel 
Mata [, foto à direita, em Santa Magarida,]
sobre o Teófilo, publicadas em 25/3/2006 (*):

No que respeita ao Sr. Teófilo, soube em certa altura, após o 25 de Abril de 74, suponho que por um dos meus amigos de Castelo Branco, donde a esposa do senhor era natural, que a Ritinha e o irmão (furriel na altura, em Bissau) viviam em Lisboa.

Quando cheguei a Bafatá, em Novembro de 1969, alguém me disse:
– O fulano ali do café procura militares de Castelo Branco e de Portalegre. 

Lá fui eu e dois companheiros de Castelo Branco, acabámos por jantar com o senhor. Posteriormente em conversas havidas, recordo de me contar que era sobrinho do Sr. Tapadinhas, proprietário da Tipografia Tapadinhas, em Portalegre.

Contou-me que tinha sido desterrado para a Guiné no inicío dos anos trinta, num grupo de 40 elementos dos quais restavam três à data, estando ele e um outro em Bafatá de quem não me recordo o nome – sei que tinha uma taberna na Tabanca [da Rocha] entre a casa dele e o Hospital, e foi pessoa com quem , de resto, privei algumas vezes, para ouvir os programas em Português da BBC de Londres.

Sei que o Sr. Teófilo tinha vindo à Metrópole apenas duas vezes, tinha uma estima profunda pelos Guineenses, pois foi esse povo maravilhoso que o tratou de inúmeras doenças, e só assim conseguiu sobreviver.

Deu-me muitos conselhos, contou-me muita coisa confidencial, mas nunca quis falar da razão que deu origem ao seu desterro. Sempre respeitei a sua vontade, não o pressionando.

Manuel Mata

3. Comentário de L.G.:

[Foto à esquerda, de Fernando Gouveia: "1970 - A minha casa (pintada de verde) e o restaurante do Sr. Teófilo (junto da camioneta vermelha)]

Esta história é fantástica: o Manuel Mata veio-me refrescar a memória. Lembro-me muito bem do velho Teófilo, que era apontado, no meu/nosso tempo (1969/71) com um caso excepcional de sobrevivência de um europeu às duras condições da Guiné: ele sobreviveu a tudo, o paludismo, a bilharziose, a doença do sono e tantas outras doenças tropicais; enfim, e sobretudo, sobreviveu ao isolamento, ao desterro, ao abandono... 

Como todos os brancos (em especial, comerciantes e poucos) que eu conheci  na Guiné, o Teófilo tinha fama de estar feito com o IN (ou, noutros casos, era-se inevitavelmente suspeito de ser informador da PIDE/DGS, como era o caso de um comerciante de Bambadinca, cuja casa frequentei /frequentámos algumas vezes)...

Devo, contudo, dizer que não me recordo de ter visto os agentes da PIDE/DGS de Bafatá no Café Teófilo... No Restaurante Transmontana, sim...(Mas posso estar a fazer confusão ao fim destes anos todos: numa destas casas conheci um ou mais agentes da PIDE/DGS de Bafatá...  Um deles tinha sido agredido, em serviço, numa tabanca, iam-lhe cortando o nariz, à dentada, e vociferava contra o Spínola e a sua política).

De qualquer modo, o Manuel Mata, que passou a sua comissão em Bafatá (, era seis meses mais novo do que eu...) e, além disso,  era visita da casa do Teófilo, sabe mais histórias sobre este grupo de deportados que não nos quis, na altura,  contar, por razões que eu entendo e respeito... Presumo que se tratava de homens, na altura jovens, que não morriam de amores pelo Ditadura Militar e depois pelo Estado Novo. Como se dizia na época,  deveria ser gente  do reviralho... E daí a suspeita, se calhar injusta,  de pactuarem (ou simpatizarem) com o IN (leia-se: os turras)... Em suma, o sr. Teófilo era visto com reservas pela tropa de Bafatá... Enfim, é pelo menos uma primeira conclusão que eu posso tirar...

Eis, entretanto,  o que o Humberto Reis me esclareceu sobre o café do sr. Teófilo: 

"Do Teófilo apenas me lembro de que era lá que se formava a coluna de regresso a Bambadinca, por isso aí se bebiam os últimos copos. Também me recordo que a filha, Rita, trabalhava nos correios lá em Bafatá e que a balança se queixava, cada vez que ela se punha lá em cima (era uma miúda nova mas já bastante forte para a idade). De resto já não me recordo de mais nada".

Mas há muito mais malta, da nossa Tabanca Grande, que esteve em (ou passou por) Bafatá, que gastava lá o patacão (vd. imagem acima, de uma nota de 50 pesos!), para além do Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640), do pessoal da CCAÇ 12 (eu, o Humberto, o Tony Levezinho, o Joaquim Fernandes), do Fernando Gouveia (Comando de Agrupamento nº 2957, 1968/70) (que, de resto, viveu quase dois anos numa casa em frente ao café do sr. Teófilo), etc.

O Teófilo, cuja memória evoco com respeito (hoje se fosse vivo andaria perto dos 100 ou mais), fez-me lembrar-me o caso dos lançados... Eram tipos (desde os condenados pela justiça do rei aos aventureiros, aos judeus, aos ‘assimilados’, etc.) que desde o tempo de D. Henrique eram literalmente lançados, sozinhos, com a missão de explorar, por sua conta e risco, a costa da África Ocidental, os países subsarianos, até à próxima viagem das caravelas ... Eram, na época dos Descobrimentos, em meados do séc. XV, uma espécie de guias e picadores, de espiões, de antropólogos, de embaixadores, de bandeirantes, verdadeiros líderes (no sentido em que iam à frente, para conhecer e mostrar o caminho)… Também eram conhecidos por tangomaus

Nem sempre foram bem vistos pela autoridade régia (que pretendia manter o monopólio do comércio com a África Ocidental, enquanto os lançados também farão, mais tarde, negócios com os ingleses, os franceses e e os holandeses) nem muito menos pelos missionários que os acusavam de estarem completamente cafrealizados, vivendo em poligamia, no pecado, à maneira dos cafres...

Estamos a falar ainda do Séc. XV… Os nossos amigos e camaradas estão a imaginar serem lançados, por exemplo,  na foz do  Rio Corubal, com uma missão (contactar os povos da margem direita do Corubal) e uma promessa sem garantia (a de voltar a casa no ano seguinte ?)

Estas são outras histórias do Império que muitos de nós desconhecem... Sobre os Lançados, vd. Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (ed lit Luís de Albuquerque). Vol II. Lisboa: Círculo de Leitores. 1994.582-584. Ver também o texto do senegalês Mamadou Mané - Algumas observações sobre a presença portuguesa na Senegâmbia até ao séc. XVII, publicado na Revista ICALP, vol. 18, Dezembro de 1989, pp. 117-125, disponível em formato pdf na página do Instituto Camões. (**)


4. Comentário de Maltez da Costa, ex-1º cabo radiotelegrafista do STM, que esteve nos Esq Rec Fox 2350 e 2640  (Bafatá, 1968/70) (*)

A tabanca do sr.Teófilo, esposa, filho e filha, funcionava como café e restaurante, durante 24 meses (junho/68 a Julho 1970). Era lá que eu gastava as minhas parcas economias e,  quando não havia dinheiro, havia sempre o rol de fiados.

Era uma família simpática! Recordo com muita clareza, embora já se tenham passado 40 anos, as suas fisionomias. Não é verdade que a PIDE/DGS não frequentava o seu estabelecimento, pois foi lá que conheci dois dos seus elementos com quem tive alguns problemas e lá foram resolvidos com a ajuda de um camarada de Guimarães.

Na altura dizia-se que o Sr. Teófilo tinha chegado à Guiné para trabalhar como ajudante de veterinária e só depois da chegada da nossa tropa é que se fixou em Bafatá. Desconheço se é verdade ou mentira. 

Inicialmente eu dormia no Comando de Agrupamento [nº 2957] e trabalhava no posto de rádio junto à messe dos Sargentos. Mais tarde mandaram-me definitivamente para o Esquadão de Reconhecimento Fox (Cavalaria). Quando lá cheguei,  em Junho de 1968, já lá estava um Esquadrão [Esq Rec Fox 2350], quando me vim embora em Julho de 1970, lá ficou outro [Esq Rec Fox 2640]. Em ambos fiz amigos que gostaria de voltar a ver ... de certeza que já não os conheço ... foram 40 anos de separação.

Se alguém se lembrar de mim, que entre em contacto comigo, um abraço a todos e o desejo de uma longa vida na companhia dos filhos, netos e bisnetos. Maltez da Costa, 1º cabo radiotelegrafista do STM (jose.m.costa@sapo.pt)

(Continua) (***)
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Notas do editor

(*) Vd I Série, postes de

25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata)

26 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLIV: Bafatá: o Café do Teófilo, o desterrado
(**) Segundo o historiador Fernando Rosas, o número de deportados nas ilhas e nas colónias, em finais de 1931, meados de 1932, entre oficiais, sargentos praças e civis, era de 1421 (a maior parte em Angola, Timor, Cabo Verde e Açores).

Na Guiné, o número de deportados reviralhistas (opositores ao regime instalado em Portugal depois do golpe militar de 28 de Maio de 1926) era de 46, dos quais 18 oficiais, 5 sargentos, 5 praças e 18 civis... Será que entre estes civis poderia estar o nosso jovem Teófilo ? Recordo-me do Teófilo me ter sempre falado de um grupo original de 40 portugueses que veio para a Guiné, e de que ele era já (em 1969/71) um dos últimos sobreviventes. Julgo que mais tarde (se não mesmo logo em 1932) ele e os seus companheiros de infortúnio terão beneficiado de uma amnistia.

Fonte: História de Portugal (ed. lit. José Mattoso), Vol. 7: O Estado Novo (1926-1974). Lisboa: Circulo de Leitores 1994. 209.

(***) Último poste da série > 28 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12357: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (4): Pista e Tabanca da Rocha (fotos nºs 4, 5 e 8)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12284: Memória dos lugares (252): Bafatá ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71) (Manuel Mata)



Guiné > Zona leste > Bafatá > Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (1969/71) > Vista aérea, tirada de heli.

O Esq Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) era constituído por 1 Pelotão de Comando e Serviços e 3 Pelotões de Reconhecimento, equipados com as seguintes viaturas: (i) três Auto Metralhadoras Daimler; (ii)  duas Auto Metralhadoras Fox; (iii) um Granadeiro com blindagem lateral sendo a sua guarnição composta por atiradores; (iv) um Unimog cuja secção tinha um morteiro 81.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Texto do Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47, Esq  Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (*)

[Montagem de fotos  originalmente publicadas na I Série do Blogue, em vários postes (*),  e que se volta a reproduzir, com um abraço ao autor, de quem não temos tido notícias; creio que vive no Crato ou Niza, no Alto Alentejo; gostaríamos de ter outras fotos iguais mas com melhor resolução]


1. Apresentam-se a seguir algumas imagens que documentam o aspecto de Bafatá à data da sua elevação a cidade (em cerimónia que decorreu a 12 e 13 de Março de 1970, com a presença do Ministro do Ultramar, Joaquim Moreira da Silva Cunha). (**)


Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 1 

Estabelecimentos comerciais e ruas com o seu aspecto bem cuidado, onde se destaca a limpeza e os lancis pintados a branco.





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 2

Outra rua comercial 





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 3

Rotunda à entrada de Bafatá e o Café do Teófilo (pai da Ritinha), ao fundo. 



Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 4

Hospital, unidade dirigida por missionários 
italianos





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 5

Catedral onde casou o Alferes Félix Vaz,  do Comando, com uma irmã do Coronel Danif, filhos da D. Rosa.  





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 


Foto nº 6

Residência do Administrador do Concelho [Ribeiro Guerra, na altura] e  posto dos cipaios.






Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 7

Mesquita, espaço de oração da comunidade muçulmana. 





Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 8

Escola Primária inaugurada nesse ano.







Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 9 

Edifício dos Correios e Finanças. 






Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 10

O "Bataclã" [, no bairro da Rocha],   um dos pontos de lazer e divertimento da rapaziada.








Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > 

Foto nº 11


Ponte do Rio Colufe [, afluente do Rio Geba,] com a sua célebre estrutura em troncos de palmeira,




Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 >

Foto nº 12

Ponte sobre o Rio Geba[, em cimento armado]


Fotos e legendas: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados

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Notas do editor:

[Foto à esquerda: Campo Militar de Santa Margarida > Regimento de Cavalaria 4 > 1969 > O Manuel Mata posando num Carro de Combate M47. Foto do autor]


(*) Vd. I Série > poste de 2 de abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (4): Elevação de Bafatá a Cidade

Comentários deixados neste poste:

(1) posted by Jovem Cantineiro [, Carmindo Pereira Bento,]: 12/19/2007 12:41 PM


Colegas de Bafatá, vejo tudo o que têm neste e noutros sites relativos à Guine.

Sou ex-militar do Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840.  Estive lá no inicio de 1973 até perto do fim do ano de 1974.

Tenho histórias a contar como vocês contam as vossas. Tivemos lá dos maiores atentados registados até essa data.

Lamento,  principalmente o meu ex-capitão e comandante Carvalhais,  do Esquadrão de Cavalaria 8840 (hoje coronel),  nada registar na internet.

Não vos conheco mas gostaria de ter contacto convosco para vocês conhecerm o meu esquadrão e recordarmos por onde e como passamos.

Um abraço... Carmindo Pereira Bento.
Restaurante Ângulo-Real 2425-022 Monte-Real- Leiria.


(ii) posted by Anónimo [Maurício Vieira] : 1/02/2009 12:16 AM 

Oi, amigo, também estive em Bafatá,  de Março de 1972 até Julho de 1974, pertenci à CCS do Batalhão 3884, mesmo ao teu lado. 

O meu mail: maunuvi@hotmail.com, para futuro contacto, Tel. 214026571 - Tm. 914614074.

No blog do Luis Graça podes encontrar o meu nome e referências na fotogaleria, chamo-me Mauricio Vieira e moro em Sintra. Teria todo o prazer em nos contactarmos, até porque gostaria de ter fotos de Bafatá que infelizmente perdi na totalidade. Um abraço e até breve.
(iii) posted by Antonio [Fontes] : 5/04/2011 3:31 PM

Tudo bem,  amigo, há muito que procurava alguém do esquadrao do qual fiz parte. Fiquei muito contente ao ver isto,  sou o mecánico Fontes,  gostava de contactar amigos do 8840. O meu contacto: afontessantos@gmail.com

(iv) posted by Campelo de Sousa : 1/30/2013 10:44 PM 

Também estive em Bafatá em fins de 1970 no Posto de Rádio (STM).

Foi lá que recebi o meu primeiro salário o dito Pré referente ao mês de Novembro/1970, de valor global = 2.738$00 !!! Esse recibo trazia escrito a lápis o seguinte: B.ART.2920 e ESQ.FOX.2640.

Passados que são 43 anos eu ainda guardo esse 1º Recido.

Francamente era uma fortuna que compensava muito bem as agruras daquela guerra para não dizer outra coisa  !!!!

Ex 1º Cabo Radiotelegrafista Campelo de Sousa.

PS - Esqueci-me de deixar o meu email: campelodesousa@sapo.pt

(**) Último poste da série > 12 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12280: Memória dos lugares (251): Cacheu, o Largo Central, a Casa Escada, a Casa Gouveia... (António Bastos, ex-1.º Cabo, Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)