Mostrar mensagens com a etiqueta Estórias de Cufar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Estórias de Cufar. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2313: Estórias de Cufar (2): A marmelada também curava (ex-1º Cabo Enf Salvador, CCAÇ 4740, 1972/74)

1. Texto do António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Enfermeiro, CCAÇ 4740, Os Leões de Cufar, Cufar (1972/74) (*), que trabalha hoje na KML, no aeroporto de Amesterdão, e que de vez em quando dá um salçto até cá, e vem arejar a sua casa em Penafirme, Torres Vedras, donde há dias me telefonou, desejando Boa Natal para a toda Tabanca Grande (LG):


Amigo Luís Graça:

Cá estou de novo para te contar o tal problema da marmelada, a tal que, como todos sabem, fazia parte da caixinha mágica que se levava para o mato, ou seja, o tubinho de marmelada que compunha a famosa ração de combate ...

Estórias de Cufar (2) > A Marmelada Também Cura? (**)
Um belo dia em que fomos fazer segurança todo o dia e toda noite, houve um colega que não queria passar a noite no mato, pelo que se fez de doente com dores nas costas... Os outros amigos açorianos disseram-em em surdina que o que ele queria era ir para dentro, ou seja, para o destacamento e dormir descansado o resto da noite...
Lá se arranjou a maneira de o levarmos até ao fundo da pista. Aí o transmissoes mandou uma mensagem, para se tratar da evacuação... Mas antes disso, e como ele se fazia de doente sem estar, eu tive que lhe tratar da saúde e vai daí tirei a marmelada mágica e esfreguei-lha nas costas.
Ao princípio escorregava bem mas para o fim já estava difícel devido ao facto de ele ter muito pêlo nas costas... Bom, ele lá foi evacuado para dentro mas disse-lhe para no dia seguinte ir ao médico.
Pelos vistos, não foi. O Dr. Moita, ao saberque tinha vindo um doente, quis saber quem era e lá vai o Alf Mil Médico à tabanca ver o doente... Perguntou-lhe se ele estava melhor e ele disse que sim, que tinha menos dores... A seguir, o médico, claro, perguntou quem é que tinha tratado dele e ele disse que tinha sido o Salvador, com uma pomada que tinha no saco da enfermagem.
É óbvio que o médico sabia perfeitamente que nós não tínhamos nada disso e mandou o rapaz voltar-se na cama e viu o que se passava: o que lá estava era a tal marmelada, já meia desfeita...
O que aconteceu a seguir foi o médico ir à minha procura porque isto tinha sido um dia antes, à noite, e no outro dia de manhã já nós tínhamos vindo do mato. Lá estava eu ainda na cama e o Dr. Moita, com aquele seu ar calmo, perguntou-me o que tinha eu feito ao doente... Eu a rir-me, comentei que não me passaria pela cabeça que o Dr. Moita fosse expressamente à tabanca ver o ocorrido... Enfim, avisou-me que aquilo não se fazia e que o rapaz podia não gostar do que eu lhe tinha feito...

Ele, o doente, nunca soube se era pomada ou marmelada... O amigo Moreira - era o seu apelido - só soube qual era o produto uns dias antes de a gente embarcar para os Açores, na viagem de regresso... A resposta dele:
- Eu queria era ir para dentro, não queria dar de comer ao mosquito...

E foi assim que se passou esa estória... Daqui envio um forte abraco a todos os camaradas da CCAÇ 4740, os Leões de Cufar (1972/74), bem como a todos os tertulianos do blogue, com viotso de que tenham um Feliz Natal e um Ano Novo melhor!
São os votos sinceros do Salvador e Família.

_________

Notas dos editores:

sábado, 6 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2155: Estórias de Cufar (1): Se querem uma injecção sem dor, perguntem ao Salvador (ex-1º Cabo Enf Salvador, CCAÇ 4740, 1972/74)


António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Enfermeiro, CCAÇ 4740, Os Leões de Cufar, Cufar , 1972/74


1. Mensagem de António Salvador, em 27 de Setembro de 2007

Amigo Luís:

Foi deveras surpreendente ver e ler tudo aquilo que te escrevi (1). Sem dúvida vocês merecem o máximo de consideração.

Como me pediste, passo a contar mais sobre mim na Guiné (Cufar) e sobre a minha Companhia, a CCAÇ 4740 (Os Leões de Cufar).

Embarcámos em Junho de 1972 num avião dos TAM e no mesmo dia chegámos ao aeroporto de Bissalanca. Estivemos cerca de um mês no Cumeré para fazermos a adaptação ao terreno ou seja, se não me engano, o IAO.

Acabado o IAO, fomos de Bissau em LDG ou LDM até Cufar, sem qualquer problema. Esperava-nos a Companhia velha da qual não me recordo do número. Recordo sim alguns enfermeiros, tais como o Cosme e o Filipe que nos ensinaram tudo aquilo que sabiam. O que se tinha aprendido no HMP [Hospital Militar Principal] era totalmente diferente da realidade do mato.

Quanto a ataques, de vez enquando lá estávamos a embrulhar, mas felizmente nunca caiu nada dentro do aquartelamento. Aliás, caiu um míssil, um dos tais foguetões, mas não rebentou, ainda bem.

Como já havia dito, eu era 1º Cabo Enfermeiro.

Todos temos não histórias, mas realidades para contar e eu também tenho uma.


Se querem uma injecção sem dor perguntem ao Salvador

Havia um major com 23 anos, os graduados eram sempre mais velhos, que não era da nossa Companhia, talvez fosse dos Páras-quedistas ou de outra companhia que estivesse por ali na zona. Ele estava por ali um tempo, depois ia a Bissau e voltava de novo, até que uma vez chegou com uma doença venérea.

Como é óbvio, tinha que levar umas injecções de penicilina de um milhão de unidades.

O nosso médico, o alferes Moita, e o Furriel Enfermeiro Aguiar nunca lhe deram nenhuma, mas sim nós os enfermeiros. Escusado será dizer como doem as injecções de penicilina. Era vulgar as agulhas entupirem e termos que as tirar e voltar a espetar outra vez. O major não queria isso, concerteza.

Calhou-me a mim dar-lhe a última injecção e eu ia com receio de que algo não corresse bem. Ele pôs-se a jeito na cama, as nádegas muito branquinhas, decerto nunca tinham visto sol nem lua, eu tirei a seringa, bati muito bem o líquido e lá vai disto.

Conclusão, a agulha entupiu. Pensei eu no momento que só havia uma solução. Finjir que estava a injectar, levando o tempo necessário e de vez enquando perguntar se doía. Ele que estava por baixo, dizia que não. Finalmente guardei a seringa na caixinha, tirei a agulha e esfreguei de novo com álcool. Tudo bem guardado no estojo, lá me fui embora.

Isto aconteceu de manhã e à tarde, veio o médico agradecer-me da parte do major, dizendo que na vida dele nunca tinha levado uma injecção sem dor.

O título desta minha aventura podia ser Se querem uma injecção sem dor perguntem ao Salvador.

Amigo Luís:

Aqui vão as fotos da praxe, a primeira tirada em Cufar no dia 1 de Dezembro de 1974 e a outra o ano passado em A-dos-Cunhados.
[...]

Está também no blogue o António Graça de Abreu a contar que gravou em audio um ataque a Cufar no dia 20 de Janeiro de 1974. Isso é verdade e foi às dez horas. Tenho aqui escrito na minha agenda o seguinte: Eram cerca de 10 horas quando Cufar foi atacada por RPG7. Foram manga deles, mas não houve feridos, só susto.

Estas dez horas devem ser da noite, porque era a hora deles nos chatearem, embora de vez enquando também aparecessem de dia.

Tinha mais que contar, mas fica para a próxima.

Daqui envio um forte abraço ao Mário Fitas. Já li os seus dois livros que, sem dúvida, estão bem estruturados. Quem ao ler, entrar na personagem, consegue viver a realidade dos acontecimentos.

Sem mais, um forte abraço para todos os tertulianos do Blogue, do qual passarei a ser mais um.

P.S. - Se houver algum elemento da CCAÇ 4740 - Os Leões de Cufar, por exemplo o Alferes Lopes ou o Parracho, que dêem sinal de vida para um futuro encontro. Não posso também esquecer o ex-Furriel Faria, de Pedroso, Vila Nova de Gaia.

A próxima aventura será A Marmelada também cura

António Salvador

2. Comentário de CV:

Caro Salvador dou-te as boas-vindas formais ao nosso Blogue. Na realidade já foste apresentado pelo nosso Editor Luís Graça, aquando do teu primeiro contacto connosco.
Esperamos de ti muitas estórias, que bem podem ser humorísticas como esta.
____________________________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 16 de Setembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2109: Tabanca Grande (34): António Manuel Salvador, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74, hoje funcionário da KLM, Amesterdão