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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I

1. Mensagem,  de 31 de agosto de 2015,  do Abílio Machado 

[o nosso "Bilocas" de Bambadinca, grande amigo dos velhinhos da CCAÇ 12, eu, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Gabriel Gonçalves, entre outros; ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e também um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; vive na Maia; publicou recentemente o Diário dos Caminhos de Santiago, Porto, 2013]

Caro Luis :

Em anexo, segue o texto digital da expedição à Guiné (e não só).

Datando o evento : 26 de Dezembro 2013 a 9 de Janeiro 2014, passando por Portugal, Espanha, Marrocos, Sahara Ocidental, Mauritânia, Guiné-Bissau, Gâmbia e Senegal.

Enviarei depois algumas fotos que possam "engalanar" o texto.

Grande abraço
Bilocas


PS - A passagem pela Guiné foi - não o escondo - um dos motivos maiores que me trouxeram a esta expedição [, do Dakar Desert Challenge]. E a aventura, que sempre me estimula.  A oportunidade de rever amigos e voltar a um território onde, por força da guerra,  gastei dois anos da minha juventude, tornavam esta jornada mais que aliciante.


Abílio Machado, foto atual
2. Porto-Dakar - Parte I

por  Abílio Machado  

[, integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 ] (*)


Fotos (e legendas): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.  Como o Abílio Machado não nos mandou as fotos a tempo, usamos as da Expedição Porto-Bissau, realizada em abril de 2006, por Xico Allen e A. Marques Lopes. [Edição e legendagem complementar: L.G.].


A expectativa era alta, largos os horizontes, imensa a vontade de partir e rasgar o desconhecido… O jeep, um Land-Rover robusto e fogoso, artilhado e armado para todos os Bojadores, quase intimidava o neófito que mal adivinhava as aventuras que o esperavam. Não fora a carga humanitária que o trotamontes carregava - o que lhe dava um ar quase humano - e o secreto desejo de retornar a um país onde gastara dois dos seus jovens anos, o pobre estreante destas descobertas teria arrepiado caminho na sua decisão.

Partimos … a chuva molhava uma noite, escura como breu, que exigia ao condutor do Land todos os sentidos alerta. Assim melhor sentíamos as ânsias e o temor dos velhos marinheiros de antanho que nos revelaram o mundo.

Revigorados por três horas de sono em Coruche (*) - era o prenúncio das vigílias que nos esperavam - rumamos a Tarifa, porta aberta para Tânger e o exótico de Marrocos.

Porto-Bissau... 6 de Abril de 2016...Dia 2, Marrocos,
Marraquexe: gare ferroviária.
Foto: © Hugo Costa (2006)legenda
Nada nos tolhia o entusiasmo, mesmo os dois furos com que o primeiro dia nos recebeu. Se mal despertos íamos, foi-se-nos o sono : nunca pensei que fossem tão pesados os pneus de um jeep. Esgotamos na primeira etapa a nossa dotação de furos: nem os mais pedregosos tracks do deserto fizeram a mais pequena mossa aos neumáticos do "cavalinho". ("Cavalinho" era o nome com que eu afagava o Land nos apertos das areias ou dos trilhos mais rugosos).

Ainda tonto das novidades, de tudo querer ver e saber, de tudo apreender (o que é um “erg”, oued é djelabha, xocram…), vês-te no turbilhão da Praça Jemaa el Fna, mendigos, serpentes, Marraquexe recebe-te com um chá de menta que te aquieta a alma. A alma perde-se-te nos labirintos da medina, entre tapetes, especiarias, babuchas, fezs, ferragens e frutos secos.
um rio?,

Agadir é já ali, ali é já o dia seguinte, o ”cavalinho” afeito às distâncias nem arfava, arfávamos nós de fome. Num descampado à face da estrada entrava pela janela um aroma conhecido : peixe grelhado. Mesmo a calhar.

Sondamos o peixe e o menu : sardinhas assadas sobre pão marroquino e cebola crua. Tudo sobre um rectângulo de papel, pratos não havia, talheres também não, nem intérprete. O preço apelativo : 5 sardinhas,  1 euro. Será que entendi bem? Não será ao invés, 1 sardinha cinco euros?

Porto-Bissau... 7 de Abril de 2016...Dia 3, Marrocos:
 a caminho de Tânger...o Atlas ao fundo
Foto: © Hugo Costa (2006).
Abancamos. Gordas, grávidas, pediam-nos que as comêssemos. Comemos. O ar de satisfação que os marroquinos exibiam estendeu-se à mesa dos portugueses.  As sardinhas estavam - se o usasse - de se tirar o chapéu, um regalo! Arrematamos com um queijo de Serpa e bolos artesanais. E tangerinas de Marraquexe. Um manjar de Califa.

Não houve refeição que melhor nos soubesse : quase grávidos, sonolentos fomo-nos aos jeeps.

O vale-oásis, mais te fascina que surpreende, sabes que o deserto tem seus segredos, mal esperas e um oásis abre-se para ti ao virar da duna, não há coisa que mais deleite tuaregs e camelos.


Adicionar Porto-Bissau... 8 de Abril de 2016...Dia 4,
Sara Ocidental: 
a caminho de Tantan - Roc Chico, a 73 km
de Tarfaya 
Foto: © Hugo Costa (2006).legenda
Este foi lugar aprazível - fácil é imaginá-lo - para os ocupantes de Fort Bou Jerif que lhe fica sobranceiro, os soldados da Legião Estrangeira [Francesa] que o ocuparam durante anos, não nós que nele pernoitamos uma noite, uma noite limpa, estrelada e de estrelas tão brilhantes que as julgávamos ao alcance da mão.

O deleite dos olhos trouxe-nos o sacrifício do corpo : o briefing do dia sinalizava a passagem na Praia Branca e advertia para a hora da praia-mar, de olhar o oásis, esquecemos o detalhe, enchia a maré quando desembocamos na praia, paisagem de sonho, areia branca mas perigosa, como certas mulheres, fofas mas movediças, ao fim da praia contamos cinco horas para fazer 87 kms, coisa - amigos - ao alcance de um bom maratonista, digo-vos eu.

Atascamos, desatascamos, ajudamos, partilhamos, suamos, cervejamos, mais fácil é escrevê-lo que sofrê-lo.

A praia termina na foz do Oued Aoerora, subimo-lo e como nós, deslumbrados pela beleza, cáfilas de camelos que, na pouca água do rio, matavam sedes de semanas.

Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a 
Nouakchott,  capital da Mauritânia... Um dos maiores 
comboios do mundo  Foto: © Hugo Costa (2006)
Fotos com os pastores, até que alguém grita, ala que se faz tarde!, chegaremos a Smara de noite. Arrancamos, pressurosos… Sustém a marcha, "cavalinho", a noite vem, eu sei, mas deixa que uma outra vez deleite os olhos ao pôr do sol. Há muitos, sabemos, e de vários cambiantes, mas morrer sem um pôr de sol no deserto é morrer cego, cego não morrerei, eu vi o sol pondo-se sobre o deserto de Smara.

Smara é já no Sahara Ocidental, cidade rodeada de quartéis, tantos são que se julga a cidade ela mesma aquartelada, militares nas ruas, desarmados mas visíveis, como visíveis são algumas mudanças : não nas mulheres, que trajam o tradicional, mas nos homens, como se nos dissessem, sou do Sahara Ocidental, como ocidental visto.
AdicionarPorto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico
 a 
Nouakchott,  capital da Mauritânia... O comboio...
Foto: © Hugo Costa (2006)
 legenda

Muda o deserto também, uns taludes de terra acompanham os trilhos que fazemos, muros contra a Frente Polisário, dizem-nos, lemos que este é território em disputa, o povo sarauhi reclama autonomia.

Autónomo, não, não falo do Alberto João!, autónomo foi o nosso jantar. Porquê? - dirão. Vejamos : num lado se compra a carne, noutro se cozinha. Assim mesmo : vai-se ao talho e compra-se 1 kg de bifes e costeletas; vai-se ao restaurante a grelhar e comer. Duas operações, autónomas como as nossas autonomias, mas baratas : 1 kg de carne, 10 euros.

Para os ecónomos, aí vai : 5 sardinhas 1 €, 1 kg de carne 10 €, tagine de borrego 5 €, 1 kg de tangerinas 40 cents, 1 djelabha 15 €, 3 gorros 60 cents, carpete de lã 60 €, a mesma de seda 125 €, 2 punhais 7 €, a dormida foi em quarto duplo Hotel Amine, Smara, com banho privativo e cilindro prestes a rebentar 25 €, para compra e venda de acções direi que 10 dirhans 1 €, 350 oughias cotam-se a 1 €, o franco cfa está cotado a 0,650 do €, cotação de Wall Street acabadinha de abrir, 14 h na Euronext.

Montamos a tenda. Era dia de acampamento, era noite, o dia já se fora e com ele as primeiras miragens : são como as bruxas : no me creo en brujas, mas que las hay, las hay, direi em português : sei que não existem, mas que as vi, vi.

Lagos, largos de água, ao longe, que o deserto, uns metros à frente, esconde.

O deserto dá, o deserto o tira, o deserto é todo ele uma miragem, vasta, bela, um horizonte infindo de fantasia e ilusões.

No brinde da meia-noite desejámo-nos fantasia e sonhos, também saúde e acções, das boas …Hoje é a passagem de ano : 2014 entra pé ante pé, surpreende-nos no deserto, belo mas inóspito e frio, um cozido de bacalhau com grão e batatas aquece-nos o corpo, à alma aquece-a um bagaço odoroso, perfumo o café, repito, nem assim a noite será mais quente, pior será a manhã, negativos os graus, no lavar da loiça caem-nos os dedos, de tão frias logo cairão as mãos. Retorno à infância, não retenho da minha vida momentos de tanto frio, o velho professor esperava que as mãos nos aquecessem para iniciar os trabalhos.

Passamos o trópico de Câncer, um tronco de madeira, artisticamente esculpido, assinala o ponto. Um dia passarei, sou Capricórnio - passaremos - o outro, não nos negue a vida vontade para tal feito. Alguém faz anos na caravana.

Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico
 a Nouakchott, capital da Mauritânia... Sarauís...
Foto: © Hugo Costa (2006)
r legenda
Hoje direi das acácias a cada dia mais magras e ressecas, da ave bip-bip (sem coiote), das beduínas tendas, nómadas, dos cães selvagens, das mariolas, dos pneus e montes de terra, balizas-guias no deserto, dos bebedouros, das duas ovelhas perdidas e seus anhos de um dia, como se dissessem vamos ali ter um filho e já vimos e na volta se vissem abandonadas da família, da vasta planura do deserto sarauhi, infindo, uma colina, vaidosa, exibe-se no horizonte, de uma penugem verde que cobre o deserto, não me dás de comer hoje?, dou o que tenho, também o céu não me dá água, come essa ervinha tenra, chamar a isto erva, vê-se bem que nunca foste à Europa, não posso ir, não tenho pernas como tu, o aventureiro não vê só miragens, também ouve as conversas que têm as ovelhas e o deserto, é do sol que abrasa e lhe coze o cérebro, das conversas das mulheres sarauhis quando se encontram - um beijo na face direita, dois na face esquerda - , ou dos homens - dois beijos em cada face, a mão posta sobre o coração do amigo -, ouve, mas nada entende, também aqui Deus confundiu as línguas, outro dia direi de outras coisas mais, longo vai já o dia. Dito está.

Um almoço no deserto. Lembro o filme de Bertolucci, “Um chã no deserto”. Se de italianos falamos, em italiano comemos : spaghetti alla bolognese.

Resgatamos do Land mesas e cadeiras, fogão e panela, talheres e guardanapos, o deserto não nos verá comer à mão, isto não são sardinhas marroquinas.

Abeiramo-nos de uma acácia-abrigo, alguém, os animais comendo ou os homens rasgando, abriu uma entrada para o interior da acácia, junto dela é visível a estada de animais e humanos, um bebedouro perto indica-a como poiso de descanso e alimento. Comemos, bem. Fruimos, melhor. Não reservará a vida muitos momentos iguais, gozemo-los. Gozamos.

Em Dakhla [, Villa Cisneros, no período colonail espanhol,] estás em casa, tens o mar e o vento, o surf, o wind, o kite, a cidade recebe-te na ponta de uma península estreita que, afoita, rasga as entranhas do mar adentro, 40 kms de terra que a noite te esconde, adivinhas o mar de um e outro lado, em Dakhla, capital do Sahara Ocidental, podes ser dakhliano, no ocidente estás. Tanto mar, peixe tem, vamos ao peixe, que a fome aperta.

O Samarcanda - nome mítico para outros povos - desdobra-nos um menu variado, não lhe damos atenção, sabemos ao que vamos : um misto de peixes vários, sobre o qual repousam duas pequenas lagostas dissecadas. Como tuaregs esfomeados, lançamo-nos aos bichos, trucidamo-los, na travessa restam umas tristes folhas de alface, um pitéu para as ovelhas, o que a uns abunda a outros falta, é assim o mundo, mas bem não está…

Aos curiosos ou especuladores : 4 refeições 170 dirhans. Abençoamos o Samarcanda e prometemos retornar. Cumprido foi.

Como as miragens, afirmo sem receio de contradita que as terras de ninguém existem, e, sendo embora de ninguém, é certo que lá vive gente, vive e prospera.

Venham comigo. Mas sem pressas. Vamos passar uma fronteira e as fronteiras fizeram-se para que o people espere, canse, desista e não passe além…

Ou caia de sono, morra de fome ou de tédio… Para isso os estados têm um tirano a seu mando : a burocracia. Despótica, autoritária, inexorável, definitiva… Irónico,  o bicho homem : quanto mais pobre é, mais predador se torna.

É assim nas fronteiras de África. E nas fronteiras de todos os países onde à pobreza juntas o atraso, o subdesenvolvimento, o analfabetismo…

Se a isto acrescentares uma pitada de religião, tens o panorama que as notícias diariamente te dão do mundo : radicalismos políticos, fanatismos religiosos…
- Maintenant, on va prier!

Eram duas da tarde. Os funcionários da alfândega, na fronteira da Mauritânia, não intervalam para comer mas para rezar, e entre abluções - passam água pelas mãos, pela cara, pelas orelhas, pelos braços, pelos pés, entre os dedos dos pés, também no mindinho - e orações, passou meia hora, a fila engrossou e estendeu-se, o ajudante prepara aos senhores da douane um chá de menta no fim da reza. Sem pressas.
Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a Nouakchott,
capital da Mauritânia... Foto: © Hugo Costa (2006)

Vamos, é a nossa vez.

Passamos a fronteira. O que temos à frente é um terreno escalavrado, pedras salientes, agressivas, até o mais corpulento jeep tem de pisar com cuidado não vá criar calos nos pneus : é a terra de ninguém, zona-tampão, espaço com 4 kms de largura imposto pela ONU, para que os vizinhos desavindos, Marrocos e Mauritânia, só se vejam ao longe, assim as mulheres de um e outro lado não se puxam os cabelos nem os homens as armas. O Land pisa lento, cauteloso, olha pensativo as carcaças ferrugentas, carros esventrados, pneus velhos, capots abertos, enfim, corpos mortos a cada lado do estradão, o nome é um favor meu!

Mas há vida aqui : junto à parte marroquina, carros novos, usados, marcas francesas a maior parte, não sei, não quero saber, recuso-me a saber o que fazem os seus donos, sentados, alheados, esperando o quê em terra de ninguém…

Vendem, compram, cambiam, traficam - diz-me o jeep, vai por mim que já sou velho nestas andanças, aqui é a 2ª vez que passo.

Ao Land não o contrario, é ele que nos leva, se lhe dá uma birra ainda nos deixa em terra, mas não é birrento o cavalinho, um trabalhar suave que deixaria dormir não fosse o acidentado dos tracks, a suspensão poupa-nos o rabo a cada solavanco…

Passamos a via férrea - aqui prestamos a nossa homenagem - do comboio mais longo e mais lento do mundo : carruagens que podem estender-se por 3 kms, 45 minutos de lentidão a passa…a…a…ar. Num mundo cada vez mais apressado, o comboio da Mauritânia - transporta minério do interior para o porto de Nouadhibou - ensina-nos a virtude da espera e obriga-nos à reflexão do que persegue o homem com tal sofreguidão…

Pelo deserto da Mauritânia, uma voz, como surgida do mais fundo da terra, embalava os ares, um
chamado de acasalamento, camelos e ovelhas levantavam os narizes, não era ainda o tempo de procriar :

Vem viver a vida, amor
Que o tempo que passou
Não volta, não.
Sonhos que o tempo apagou
Mas para nós ficou
Esta canção.

O condutor do Land espantava o sono e, romântico mas não trôpego, lembrava os primeiros amores. Fugiam camelos e pastores, as ovelhas protegiam as crias…

O Land, solidário, parou…
- Algum problema?
- No. Han visto uns amigos atras, un Toyota parado…
- No, nada - disse o cavalinho.

O Land não quer saber de Toyotas, e se os vê, com risco nosso, ignora-os.

Tem sido assim desde o início, a cada passo rosna, é um deles que nos passa, ri-se-lhe o motor quando os deixa para trás.
- Podemos seguir con vosotros…
- Claro, vamonos… diz o condutor do Land, mirando a espanhola.

Eram catalães, um catalão e uma catalã.

O dia bafeja-nos com um trilho ameno e uma passagem pela praia.

Ao longe, aldeias de pescadores e, poisados no mar, cansados da faina, os mesmos barcos que cruzavam o mar da Póvoa e a minha infância : a vela latina enfunava ao vento. E pelicanos, cansados também.

O mar convidava a um banho azul, tão azul era a água.


Mapa dp Parque Nacionao do Banco de Arguim (**)... Imagem do domínio público.

Fonte: Cortesia de Wikimedia Commons



Mas algo nos intimidava : a Maité - o marido, Tomás - não era Eva, nem nós Adão, o decoro exigia calções que nenhum de nós tinha. Caberia ao Tomás a decisão.
- En calzoncillos, amigos…
- Em cuecas, pois seja…

Todos trazíamos cuecas, felizmente. A Maité acompanhou-nos no gesto, os homens tiraram as calças, pois ela tiraria a camisa…

Exibido o músculo e encolhida a barriga, fomo-nos ao banho, entramos mar adentro, água
convidativa, cálida… Como lembrar que estamos em Janeiro? Demos umas braçadas a espantar a preguiça.

Alá, lá onde mora, olhando a praia, três machos em cuecas, uma mulher em soutien :
- Então, não querem lá ver… Estes pensam estar no paraíso terreal…

E era, amigos, palavra de Alá! era o paraíso terreal, estivemos no Éden naquela tarde… A praia - 50 kms - integrava um parque natural, o Banc d’Arguin, e foram garças, pelicanos, gaivotas, barcos, pescadores, até uma praga de gafanhotos, esvoaçavam à nossa frente, faziam negaças, brincavam com o cavalinho.

Era noite, à chegada a Nouakchott, a capital mauritana.

 (Continua)

______________

Notas do editor:

(*) 28 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12214: Ser solidário (153): Expedição solidária Dakar Desert Challenge arranca de Coruche, em 26/12/2013, e apoia a AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau. Inscrições até 31 do corrente.

(**) "Arguim é uma ilha na Baía de Arguim, Mauritânia, costa ocidental de África. Com apenas 12 km² de área, a ilha é alongada, medindo cerca de 6 km de comprido por 2 km de largura média. Está situada a 12 km da costa, dela separada por canais arenosos repletos de recifes e de bancos de areia que se movem com as correntes.

"A ilha faz parte do Arquipélago do Golfo de Arguim e está incluída no Parque Nacional do Banco de Arguim, uma vasta zona dedicada à protecção da natureza, classificada pela UNESCO como património mundial graças à sua importância como local de invernada de aves aquáticas.

"Nela localizou-se a primeira feitoria portuguesa na costa ocidental africana, a partir do qual os portugueses trocavam tecidos, cavalos e trigo, produtos essenciais para as populações locais, porgoma-arábica, ouro e escravos, que traziam para a Europa.

"A ilha foi sucessivamente ocupada por portugueses [de 1445 a 1633], holandeses, ingleses, prussianos e franceses, até ser abandonada, dada a crescente aridez e as dificuldades de acesso a navios de grande calado, resultantes dos perigosos bancos de areia e extensos recifes que a rodeiam. Na actualidade a ilha encontra-se quase deserta, com excepção da pequena povoação de Agadir, na sua costa oriental, habitada por cerca de uma centena de pescadores-recolectores da etnia Imraguen." (Fonte: Wikipedia)

sábado, 9 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7104: Ser solidário (90): Missão a Dulombi. Vila do Conde > Guiné-Bissau, Outubro de 2010 (Fernando Barata)


1. O nosso Camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72), enviou-nos uma mensagem em 7 de Outubro de 2010, dando-nos conta da evolução das actividades desenvolvidas pelos expedicionários da “Missão a Dulombi”:
Expedição a Dulombi

Camaradas,

Dois jovens que se metem à aventura numa "barcaça", quais Gil Eanes do século XXI, na tentativa de chegarem à Guiné e estar um deles (Gil Ramos, filho dum combatente da C. Caç. 2700) no local onde seu pai prestou serviço, disponibilizando bens de primeira necessidade à população dulombiana, merecem todo o nosso apoio, apreço e admiração.
A expedição pode ser acompanhada em: http://missaodulombi.blogspot.com/

Abraço,
Fernando Barata
Alf Mil da CCAÇ 2700
__________
Notas de M.R.:
Segundo o que se encontra descrito no blogue mencionado a “Missão a Dulombi”, a partida está prevista para o início de Outubro de 2010, e a viagem será efectuada em automóvel entre Vila do Conde e a Guiné-Bissau, tendo como grande objectivo levar bens essenciais para distribuir pelas crianças carenciadas daquele país.

Os bens serão abrangentes, tais como vestuário e calçado, brinquedos e material escolar que serão distribuídos na aldeia de Dulombi, esperando os expedicionários que, com este seu gesto, contribuam para melhorar a qualidade de vida destas crianças.

Ao mesmo tempo, pretendem os organizadores desta grande aventura, homenagear os ex-Combatentes Portugueses, pelo que, irão equipados com material audiovisual, a fim de realizarem um documentário sobre as memórias da presença dos portugueses no período da guerra, a Cultura Guineense e os Vestígios da Cultura Portuguesa no dia-a-dia junto do povo local.
Como não podia deixar de ser, a Tertúlia deste blogue deseja aos autores de mais esta formidável e louvável iniciativa, as maiores felicidades e a melhor e mais bem sucedida das concretizações, de todos os objectivos que se propõem alcançar.
Vd. último poste desta série em:

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5905: Ser solidário (58): Mais uma Expedição à Guiné-Bissau da Associação Humanitária Memórias e Gentes 2 (Carlos Marques Santos)

1. O nosso Camarada Carlos Marques Santos* (ex-Fur Mil da CART 2339 - “Os Viriatos -, Fá e Mansambo, 1968/69), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 27 de Fevereiro de 2010:


Camaradas,

Envio-vos notícias da saída da Expedição Anual da Associação Memórias e Gentes, com ajuda e solidariedade para a "nossa Guiné" reportada pelo DIÁRIO as BEIRAS.

Recorte do jornal "Diário As Beiras", com a devida vénia

O encontro da tabanca do Centro foi, mais uma vez, um êxito. O Mexia Alves é uma máquina.

Vamos ter novidades em breve.

Todos PRONTOS para o 5.º ENCONTRO e 6.º ANIVERSÁRIO do BLOGUE?

PREPAREM-SE.

Grupo de Ajuda Solidária “memórias e gentes”

De relevar a ida de uma ambulância, oferta dos Bombeiros de Águeda, com o apoio de Santa Maria da Feira e Águeda, que vai ser doada ao Hospital de Mansoa, e que vai ser conduzida até lá por duas senhoras.

CMS
68/ 69 Mansambo
CART 2339

P.S. - O ENCONTRO de ONTEM, em Monte Real correu excelentemente. Brevemente haverá novas!!!!!!!!!
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5876: Ser solidário (57): Mais uma Expedição à Guiné-Bissau da Associação Humanitária Memórias e Gentes (Carlos Marques Santos)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5876: Ser solidário (57): Mais uma Expedição à Guiné-Bissau da Associação Humanitária Memórias e Gentes (Carlos Marques Santos)

Recorte do jornal "Diário As Beiras", com a devida vénia


Instituição de Utilidade Pública / Reconhecimento e registo como ONG pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros

Natureza jurídica: Pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, inserida no regime do mecenato cultural previsto nos Códigos do IRS e do IRC, matriculada na C.R.C. de Coimbra / NIPC 508 343 461

Sede: R. Prof. Guilherme Tomé (instalações J.F.Taveiro) - Apartado 453046-801 TAVEIRO (COIMBRA)

Contactos:
E-mail: http://www.blogger.com/j.moreira@sapo.pt
ou
http://www.blogger.com/guine@coimbraeventos.com


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Marques Santos*, com data de 24 de Fevereiro de 2010:

Caros camaradas:
Este recorte de o "DIÁRIO as BEIRAS” de Coimbra, saído hoje 24 de Fevereiro dá conta que a referida Associação se prepara para, amanhã dia 25, sair para a Guiné.

Não é nem a primeira, nem a segunda vez que o fazem. Tem sido uma constante.
Um contentor carregado de material já chegou a 17.

Amanhã lá estarei eu e a minha mulher Teresa para desejar “BOA VIAGEM” e “BOM REGRESSO”, no Largo da Portagem.

Como nota importante deixo uma informação complementar:

Segue na expedição uma empresária de Santa Maria da Feira, conduzindo uma ambulância que doará ao Hospital de Mansoa, com material médico, fardamentos para bombeiros, vestuário, material escolar, etc.

A nossa contribuição é tão simples quanto isto: alfinetes de costura, lápis e borrachas.

Mas para o próximo ano já temos cerca de duzentas camisas para criança.

E nós com tudo à mão ainda nos queixamos.

Até Monte Real dia 26.

CMSantos
CART 2339
68/69
MANSAMBO
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5727: Estórias avulsas (73): A Fonte Pública de Mansambo (Carlos Marques dos Santos)

Vd. poste de 28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4873: Ser solidário (36): Assoc. Humanitária Memórias e Gentes reconhecida como ONG desde 26 de Junho de 2009 (José Moreira)

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5868: Ser solidário (56): Zé Teixeira, a perda de uma mãe é sempre irreparável, mas nada nem ninguém te vai roubar a sua doce memória e o seu exemplo inspirador (Editores)

sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 – P5231: Expedição Humanitária 2009 (7): Diário de Bordo: de 20 a 26 de Fevereiro (José Moreira, Memórias e Gentes)

Porto-Bissau 2006 > Viagem de jipe (solitário) com o Xico Allen, a Filha, o Marques Lopes, o Hugo Costa e mais 2 camaradas > Marrocos > Marraquexe > 3º dia, 7 de Abril de 2006

Porto-Guiné 2006 > Marrocos > O Atlas ao fundo > 7 de Abril de 2006

Porto - Guiné > Saará Ocidental > Dia 4, 8 de Abril de2006 > Uma paragem para almoçar, a 149 km de Boudjour

Porto - Guiné 2006 > Mauritânia > Dia 5, 9 de Abril de 2009 > Nouakchott, a capital, fica para trás

Porto - Guiné 2006 > Mauritânia > Uma viagem com algum exotismo e muitos quilíometros > 10 de Abril de 2006. A 12 de Abril, o jipe atravessa, por volta das 10h15, a fronteira do Senegal com a Guiné (*)

Fotos: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados

1. O nosso Camarada José Moreira (ex-Furriel Miliciano da CCAÇ 1565 - 1966/68) é Presidente da Direcção da Associação Humanitária “Memórias e Gentes”, enviou-nos a seguinte mensagem:

Em Marcha Expedição Humanitária Portugal - Guiné-Bissau 2010

Coimbra, 22 de Outubro de 2009

Camarada e amigo Luis Graça, em tempos formulastes o pedido, para descrevermos o percurso das nossas expedições à Guiné-Bissau. Finalmente ele aqui vai numa espécie de “Diário”, com os dias de viagem, horas, quilómetros parcelares e totais até à Guiné-Bissau. Presumo ser uma informação útil para todos os camaradas do Blogue que, eventualmente, queiram um ano destes participar connosco nesta viagem que, ininterruptamente se faz há 5 anos a esta parte.

Uma curiosidade: Analisando os Kms. já percorridos e adicionando os da próxima expedição, esta Associação vai atingir os 100.000 Kms. (ida e volta), ao volante pela lusofonia.

Cumprimentos,
Presidente da Direcção
José Moreira
(Ex-Furriel Miliciano da CCAÇ1565 de 1966/68)

Uma imagem do diário "As Beiras", de 21 de Fevereiro de 2009, que foi enviada pelo nosso camarada coimbrão, Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69), que acompanhou a reportagem sobre a Expedição Humanitária, organizada pela Associação Humanitária "Memórias e Gente", sob a liderança do José Moreira. A partida foi no dia 20 Fevereiro de 2009. A caminho de Bissau seguiram 22 amigos (20 homens e 2 mulheres) e camaradas da Guiné. Foi uma viagem de sete dias com 9,3 mil quilómetros percorridos. Dias antes da sua partida, seguira 1 contentor com várias utensílios e utilidades de 25 toneladas.

O "diário de bordo" do José Moreira, relativo à viagem de 2009... Dia a dia, km a km...

Data / Hora / Kms / Parciais / Kms Totais / Descrição:

20-02-2009 10H00 0 0 1.º Dia. Partida do Largo da Portagem, na cidade de Coimbra. O ambiente era de festa e estavam presentes quer o Sr. Presidente da Câmara Municipal quer o Sr. Governador Civil. Notava-se alguma ansiedade no ar, mas também uma grande vontade de partir, pois o ferry-boat não esperava. Davam-se entrevistas para rádios, jornais e Agência Lusa, e no fim não faltou a bela "foto de família".

20-02-2009 Primeiro almoço na Área de Serviço de Grândola, em plena auto-estrada portuguesa. Havia sandes de leitão, cerveja e um óptimo vinho branco.

20-02-2009 16H15 Entrámos em Espanha pela ponte de Ayamonte, e acrescentámos uma hora aos relógios.

20-02-2009 21H45 854
854 Chegada a Tarifa. Para ajudar, acabámos por nos perder, e chegámos ao porto 15 minutos atrasados. É verdade, perdemos o barco por 15 minutos, e ele até se atrasou meia-hora, pois a hora de partida estava marcada para as 21:00 horas. Arranjámos quartos no Hostal Las Margaritas, fomos jantar e depois... cama. Notou-se alguma frustração no pessoal da organização, pois o atraso era significativo. Contudo, amanhã há mais... despertador para as 07:00 horas.

21-02-2009 07H00 0
854 2.º Dia. Hora de levantar. Banho, bolinhos e… toca a andar.

21-02-2009 07H40 2
856 Chegada ao Puerto de Tarifa - Estación Maritima. Grande fila e nós em último. O jipe do Vítor deu o primeiro problema, pois saltou um tubo do vaso de expansão.

21-02-2009 08H30 3
857 Entrámos no ferry-boat Limassol. Muita confusão… o habitual.

21-02-2009 09H20 Finalmente partimos em direcção a África. O mar estava encrespado e no barco parecia que estavamos num carrossel.

21-02-2009 09H20 3
857 Entrada em Marrocos. Voltámos a pôr a hora igual à de Portugal, ou seja, ganhámos uma hora e passaram a ser 09:20 horas. Assim que parámos na fronteira de Tânger, apareceram logo uns "funcionários" que nos pediram os documentos das viaturas e dos condutores. Contudo, no final, o habitual: «Propina para nós os dois» (sic).

21-02-2009 09H45 3 857 Saímos da fronteira. Foi muito rápido. Apareceu uma viatura da polícia com as luzes verdes… realmente, são diferentes. Mais, enquanto esperávamos uns pelos outros, apareceram dois oficiais da polícia marroquina e, mais uma vez, a simpatia natural. Quiseram ver a lista da caravana e saber as datas da nossa viagem, para assim poderem avisar o resto da polícia, para facilitar a passagem das viaturas. Depois, mais uma "propina" e um sorriso.

21-02-2009 10H40 3 857 Saída da fronteira. O ambiente estava calmo, mas o atraso era evidente.

21-02-2009 11H30 2 859 Saída de Tânger, depois de abastecer as viaturas e levantar Dirhams.

21-02-2009 13H00 159 1013 Paragem na área de repouso de M Nasra. À medida que íamos entrando em Marrocos a temperatura não parava de subir… parecia Verão. A agricultura fazia-se ao longo da costa, e eram visíveis estufas de morangos e de bananas. Havia, igualmente, culturas de regadio, de onde se destacava a produção de batatas.

21-02-2009 Rumámos a Sul via auto-estrada A1. Era incrível o número de pessoas a pedir boleia dentro dos limites da auto-estrada… e as cabras a pastarem nos taludes?

21-02-2009 13H25 Chegada a uma portagem sita a cerca de 10 Km de Kenitra. Próxima paragem era para almoçar. O ritmo da "segunda caravana", onde nós estavamos incluídos, fazia-se como se tratasse de um simples passeio… não passavamos dos 100 Km/h.

21-02-2009 13H35 Engano na nossa caravana… é o que dá o grupo estar separado.

21-02-2009 13H40 219 1076 Paragem na área de serviço de Kenitra para almoçar. O "Nando" confeccionou uma febras divinais e o Gustavo preparou o seu antibiótico (mel + água ardente).

21-02-2009 15H10 219 1076 Regresso à estrada. Pouco depois, controlo de velocidade na auto-estrada.

21-02-2009 15H40 263 1120 Chegada a Rabat (capital de Marrocos). Antes encontrámos o polo em construção da futura TECNOPOLIS, e junto à estrada vimos muitas famílias a fazerem piqueniques.

21-02-2009 16H35 355 1212 Passámos ao lado de Casablanca sem parar. Por muito velhas que sejam as casas, não faltam antenas parabólicas. O lixo… queima-se nas ruas e o cheiro nota-se bem. Seguimos pela auto-estrada Casablanca/El Jadida. Após o almoço passámos a rodar a cerca de 120 Km/h, que é o limite máximo nas auto-estradas marroquinas. De quando em vez, o Oceano Atlântico aparece-nos à direita, assim como, algumas praias que parecem ser fantásticas. A vegetação está muito verde e nota-se que há muita água nesta região.

21-02-2009 17H35 451
1308 Chegámos a El Jadida e efectuámos uma paragem de cerca de dez minutos. O Sol começa a pôr-se e a temperatura desce de forma acentuada, pois estamos junto ao mar. Pedimos ajuda a um marroquino. Verifico que os marroquinos continuam a não gostar de fotografias (nomeadamente, as marroquinas) e descubro uma inovação em termos de segurança: um cão preso no telhado de uma casa.

22-02-2009 00H25 888 1745 Chegada a Agadir. A Toyota Hiace furou um dos pneus traseiros, que é prontamente trocado por quatro voluntários marroquinos. Para surpresa de todos, o pneu sobresselente também estava furado. Ficámos instalados no Hotel Mabrouk, junto ao qual havia um bar de alterne, tipo "Piano Bar / Dancing", de nome Red Lion.

22-02-2009 07H00 0 1745 3.º Dia. Não obstante termos acordado cedo, o pequeno-almoço atrasou devido à falta de empregados no hotel.

22-02-2009 08H15 0 1745 Saída do hotel em caravana. Parámos à saída de Agadir para atestar as viaturas e, entretanto, chega um vendedor de legumes frescos. Contudo, este conceito é discutível.
22-02-2009 08H50 Saída da cidade de Agadir.

22-02-2009 09H50 67 1812 Entrada na província de Tiznit.

22-02-2009 09H53 73 1818 A viatura do Vítor volta a dar problemas e tivémos que parar para limpar o filtro do gasóleo. As mãos do Alves pareciam uma chave de grifos a desapertar o filtro.

22-02-2009 10H10 73 1818 Voltámos à estrada.

22-02-2009 10H25 94 1839 Chegada a Tiznit. As ovelhas também merecem andar confortáveis e, como tal, nada como ir dentro de uma carrinha.

22-02-2009 11H50 101 1846 Passagem por De Guelmin e início do Sahara. Andámos às voltas para encontrarmos a direcção de Tan-Tan. À saída, muito vento e pó no ar. Temperatura óptima e sol quanto baste.

22-02-2209 243 1988 Passámos dentro de uma tempestade de areia.

22-02-2009 300 2045 Na paisagem vêem-se muitas antenas e junto à estrada começavam a aparecer cada vez mais dromedários. Em algumas colinas eram visíveis escritos feitos com pedras, isto mesmo antes de entrarmos na província de Tan-Tan.

22-02-2009 13H30 321 2066 Entrada na província de Tan-Tan.

22-02-2009 13H40 339 2084 Entrámos na cidade de Tan-Tan e fomos parados pela polícia, para controlo dos passaportes.

22-02-2009 14H10 368 2113 Passagem por El Quantia e chegada a Tan-Tan de la Plage. Paragem para almoço. Apareceu o "General" e o Lobo entregou-lhe uma fotografia tirada o ano passado. O "General" mostrou gostar quer de cerveja quer de bifanas. Litro do gasóleo era a € 0,438.

22-02-2009 16H20 368 2113 Saída de Tan-Tan de la Plage. A estrada que se seguiu apresentava paisagens magníficas, com praias e dunas.
22-02-2009 19H40 657 2402 Chegada a Laayoune. Apanhámos um primeiro posto de controlo que foi fácil de passar, mas depois seguiu-se um segundo onde perdemos um quarto de hora.
22-02-2009 22H40 851 2596 Chegada a Bonjdour (Cabo Bojador), onde apanhámos uma operação STOP que nos fez perder mais meia-hora.

22-02-2009 23H15 854 2599 Chegada ao Hotel Taiba, que até cheirava a novo (€ 30,00/quarto). Depois, um belo jantar de peixe frito, com salada de tomate e pão, no restaurante Jebal Gar-Gar.

23-02-2009 08H00 0 2599 4.º Dia. Fomos enganados e tivémos que pagar o pequeno-almoço.

23-02-2009 08H30 3 2602 Saída do Cabo Bojador, com o tempo muito encoberto. Estradas planas com muitas rectas, e uma paisagem sempre deslumbrante. Os controlos de estradas sucedem-se, mas a imensidão da paisagem faz esquecer o resto.

23-02-2009 11H40 292 2894 Passagem pela aldeia piscatória de N'Tirif.

23-02-2009 12H15 352 2954 Passagem por Tinghir.

23-02-2009 12H48 379 2981 Ultrapassámos o Trópico de Câncer.

23-02-2009 13H00 400 3002 Passámos por um acidente rodoviário. Uma carrinha encontrava-se voltada, devido ao rebentamento de um dos pneus traseiros.

23-02-2009 13H50 481 3083 Passámos junto a um acampamento militar marroquino, em pleno Sahara Ocidental e no meio do nada.

23-02-2009 14H35 541 3143 Indicação de existência de um campo de minas.

23-02-2009 14H50 570 3172 Chegada a Roc Chico e paragem para almoçar.

23-02-2009 16H10 570 3172 Partida de Roc Chico.

23-02-2009 16H55 658 3260 Chegada à fronteira de Marrocos, que permite passar para a Mauritânia.

23-02-2009 18H30 658 3260 Saída de Marrocos e entrada na "terra de ninguém".

23-02-2009 18H45 663 3265 Chegada à fronteira da Mauritânia, onde já nos esperava o Arturo (mediador de seguros).

23-02-2009 19H00 663 3265 Entrada do primeiro grupo na Mauritânia.

23-02-2009 19H35 663 3265 Entrada do segundo grupo na Mauritânia.

23-02-2009 20H30 663 3265 Primeiro controlo policial na Mauritânia, logo após saírmos da fronteira. Depois, ainda apanhámos mais alguns, sendo que, num deles tivémos que pagar € 10,00/viatura.

23-02-2009 21H30 714 3316 Chegada a Nouadhibou.

23-02-2009 21H40 720 3322 Chegada ao hotel Al Jezira, na cidade de Nouadhibou. Demos uma volta pela cidade e quando fomos parados numa das barreiras policiais, deixaram-nos logo seguir, visto sermos turistas portugueses.

24-02-2009 08H05 0 3322 5.º Dia. Saída do hotel em caravana. Pouco depois fomos parados num controlo policial e deu-se a pergunta sacramental: "Qualquer coisa para a Polícia?".

24-02-2009 10H35 177 3499 Depois de várias paragens em postos de controlo, eis que parámos no posto de El Valah. A paisagem começou a mudar e as grandes dunas começaram a dar lugar à savana.

24-02-2009 12H15 346 3668 Começou a chover e, entretanto, o Mercedes-Benz atolou na berma da estrada.

24-02-2009 12H50 389 3711 Parámos num posto de controlo (o terceiro em quinze quilómetros), e o militar que lá se encontrava pediu-nos água. Como só tínhamos uma garrafa à vista, mandou-nos embora.

24-02-2009 13H10 431 3753 Zona de exploração de areias, onde os homens abrem buracos tão grandes que cabem lá dentro as camionetas. Depois, é só atirar a areia para dentro da caixa de carga, com as pás.

24-02-2009 13H40 474 3796 Posto de controlo armados. De salientar que na Mauritânia os posto de controlo sucedem-se a um ritmo impressionante.

24-02-2009 13H50 480 3802 Entrada na cidade de Nouackchott (capital da Mauritânia). A dada eltura passámos por um pedreiro que trazia vestida uma camisola da selecção portuguesa de futobol, com o nome do Cristiano Ronaldo nas costas.

24-02-2009 14H55 506 3828 Paragem da caravana para o almoço. Entretanto apareceu um berbere que queria que nos fossemos embora, pois estávamos a assustar os dromedários.

24-02-2009 15H30 506 3828 Iniciámos de novo a marcha, mas desta feita com uma tempestade de areia como companhia.

24-02-2009 15H40 531 3853 Passámos pela cidade de Boutreva. Os postos de controlo continuam a suceder-se, e os polícias não têm qualquer problemas em pedir presentes.

24-02-2009 17H20 688 4010 Entrada na cidade de Rosso.

24-02-2009 19H30 782 4104 Paragem no posto de controlo do Parque Natural de Diawling. Mais uma vez tivémos que pagar para passar - € 5,00/pessoa.

24-02-2009 19H45 793 4115 Chegada à fronteira. 24-02-2009 20H10 793 4115 Saída da fronteira em direcção ao Senegal.

24-02-2009 20H11 794 4116 Chegada à fronteira do Senegal. Foram € 10,00/viatura só para entrar, e mais umas prendas. Depois, € 5,00/pessoa e € 60,00/viatura para poder seguir viagem, pois os guardas tiveram que estar a fazer horas extraordinárias.

24-02-2009 21H50 794 4116 Saída da fronteira escoltados por um "velho conhecido" da polícia local.

24-02-2009 22H10 823 4145 Entrada na cidade de Saint-Louis. Ligámos o rádio e começámos a ouvir a emissão da Rádio Crioula de Cabo Verde.

24-02-2009 22H30 833 4155 Chegada ao hotel Cap Saint-Louis.

25-02-2009 09H45 0 4155 6.º Dia. Saída do hotel em caravana, a fim de ainda ir tratar dos seguros para as viaturas.

25-02-2009 10H20 0 4155 Finalmente foram feitos os seguros e seguimos para a cidade de Saint-Louis.

25-02-2009 11H25 10 4165 Depois de atestar as viaturas, começámos a andar em direcção a Sul.

25-02-2009 11H50 31 4186 Passagem por Semel. Estávamos nitidamente em África. Mudou a paisagem… mudaram as pessoas… mudaram as cores.

25-02-2009 12H50 113 4268 Passagem por Kébémèr.

25-02-2009 13H10 146 4301 Passagem por Sagatta Gueth, com grande agitação no mercado da cidade.

25-02-2009 13H20 157 4312 Paragem para o almoço à beira da estrada.

25-02-2009 14H45 157 4312 Voltámos à estrada.

25-02-2009 15H20 200 4355 Passagem por Touba, onde parámos para arranjar os pneus da Toyota hiace.

25-02-2009 16H50 219 4374 Saída da cidade de Touba.


25-02-2009 17H30 263 4617 Passagem por Mbar, com viragem para Kaffrine.

25-02-2009 18H15 325 4480 Passagem por Kaffrine.

25-02-2009 18H50 362 4517 Entrada na "picada".

25-02-2009 21H20 416 4571 Paragem na cidaded de Koungheul para abastecer as viaturas.

26-02-2009 00H20 548 4703 Finda a "picada", acabámos por chegar à cidade de Tambacounda.

26-02-2009 01H00 553 5256 Chegámos ao Hotel Niji, em Tambacounda. Sensação: parece que acabámos de sair de dentro de uma máquina de lavar a roupa.

26-02-2009 08H15 0 5256 7.º Dia. Arrancou o primeiro grupo da caravana.

26-02-2009 08H50 0 5256 Arrancou o segundo grupo da caravana, após termos mudado uma das rodas do Nissan Patrol do Vítor.

26-02-2009 11H00 152 5408 Passagem sobre o Rio Koulountou.

26-02-2009 11H55 212 5620 Passagem por Vélingara.

26-02-2009 12H05 226 5846 Passagem por Biarou.

26-02-2009 12H25 249 6095 Passagem por Kabendou e entrada em "picada" com piso do tipo "chapa ondulada".

26-02-2009 12H50 268 6363 Chegada à fronteira do Senegal, situada em Wassadou.

26-02-2009 13H15 273 6636 Saída do Senegal.

26-02-2009 13H25 279 6915 Chegada à fronteira da Guiné-Bissau em Pirada. Finalmente voltámos a ouvir falar em português.

26-02-2009 15H05 331 7246 Chegada à cidade de Gabú. A alegria na caravana era total e impossível de esconder.
26-02-2009 16H35 331 7577 Após o almoço, saída da cidade de Gabú.

26-02-2009 17H20 384 7961 Depois de algumas "bolanhas" e de várias "tabancas", passagem por Bafatá.

26-02-2009 17H45 412 8373 Passagem por Bantandjan.

26-02-2009 18H25 471 8844 Passagem por Jugudul.

26-02-2009 19H00 518 9362 Chegada ao Hotel Rural de João Landim. Estamos a escassos quilómetros de Bissau, o nosso destino final.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCLI: Do Porto a Bissau (15): Diário de bordo e avisos à navegação (A. Marques Lopes)