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quinta-feira, 25 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22034: Memória dos lugares (419): Ilha do Sal, ao tempo da CART 566 (17/10/1963 - 25/7/1964) (José Augusto Ribeiro, 1939-2020)


Brasão da CART 566, "Bravos e Sempre Leais" 
(Ilha do Sal, Cabo Verde, e Olossato, Guiné, 1963/65), "



1. Reproduzimos, agora com melhor resolução, um texto já antigo (*) do nosso saudoso José Augusto Miranda Ribeiro, falecido há 3 meses (**), e que foi fur mil at art, CART 566, tendo estado  9 meses na Ilha do Sal, antes de ser colocada no Olossato, região do Morés, Guiné.  

O texto merece ser divulgado: o Ribeiro era um homem e um militar com sensibilidade sociocultural acima da média, até pelo facto de ser professor do ensino primário, e a sua descrição das condições de vida na ilha têm interesse documental para se poder cotejar com a dramática experiência vivida pelo 1º batalhão expedicionário do RI 11 (Setúbal) que lá esteve duas décadas antes, ao tempo da II Guerra Mundial (junho de 1941 / março de 1943, acabando a comisão, em dezembro desse ano, na ilha de Santo Antão). (***) 

Em comentário,que também reproduzimos no final, o Ribeiro confirmava, citando uma fonte local, aquilo que já sabíamos: além de 16 mortos, o batalhão do RI 11,  teve cerca de metade de baixas por doença, devido à fome na Ilha do Sal... Tudo isto são malhas que o Império teceu... [A esse batalhão da fome pertenceu o pai do nosso camarada Augusto Silva Santos, o então 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989)].(****)

Vinte anos depois ficamos a saber que a ilha do Sal (*****) funcionava, na logística da guerra colonial, pelo menos em 1963/64,  com uma espécie de plataforma de reserva do CTIG: várias das primeiras companhias colocadas no TO da Guiné, passaram por Cabo Verde, e em especial pela Ilha do Sal...Além da CART 566 (1964/65),vieram de Cabo Verde a CART 349 (1963/64), a CCAV 353 (1963/64), a CCAV 678 (1964/66)... A CCAÇ 414, por seu turno, esteve primeiro na Guiné e depois foi para Cabo Verde (1963/64).

Outro apontamento não menos interessante: o nosso camarada, aproveitou a estadia de 9 meses na Ilha do Sal, para  levar a exame da 4ª classe muitos dos homens da sua companhia (e e em especial do 2º pelotão)... (LG)

 
 















Texto (e fotos): © José Augusto Miranda Ribeiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentários ao texto (que infelizmente não teve a continuação prometida) (*):

(i) Hélder Sousa:  

Caros camaradas: É interessante conhecer estas passagens. Como temos (tinha) o pensamento na Guiné,  não ocorria pensar nas permanências em Cabo Verde. Para mim, Cabo Verde era qualquer coisa que tinha tido tropa durante a 2ª Guerra Mundial... Afinal, agora acabei de recordar que as divisas de Furriel e o dolmen me foram cedidos por um amigo e antigo colega de escola em Vila Franca, que fez a sua comissão de serviço em Cabo Verde. (...)

(ii) Augusto Silva Santos:

Camarada e Amigo [Ribeiro], é sempre com alguma emoção que leio relatos da nossa passagem por terras da Guiné, por aquilo que efectivamente nos toca, mas essa emoção é para mim ainda mais forte, quando se relata algo sobre Cabo Verde, nomeadamente sobre a Ilha do Sal. Se tiveres tempo e oportunidade, sugiro-te que consultes no nosso blogue o post P9674 (Meu pai, meu velho, meu camarada - Feliciano Delfim dos Santos) (***)e  vais perceber o porquê. 

Se nos anos sessenta foram essas as condições que a vossa Companhia  foi encontrar, imagina o que não foi viver uma situação idêntica 20 anos antes, portanto nos anos 40. Devido à minha actividade profissional entre 1968 / 1970, tive ocasião de conhecer bem algumas ilhas de Cabo Verde, e também um pouco da ilha do Sal, e sei bem dar o valor o que terá sido a vossa passagem por aquelas paragens. (...)

(iii) César Dias:

Também eu na ida para a Guiné fiz escala na ilha do Sal, e recordo-me dessa imagem da mulher que empurra o barril de água, penso que salobra, pois não foi fácil fazer a barba nesse dia com aquela água. (...)

 (iv) José Augusto Miranda Ribeiro:
 
Caros amigos e Camaradas:  (...) Fiquei bastante admirado ao ter lido o que escreveram sobre a Ilha do Sal. Em 1963 conheci um velho funcionário da Companhia francesa que extraia sal. Ele trabalhava na secretaria daquela empresa, na Pedra do Lume e com ele falei muitas vezes sobre assuntos sérios, passados ali no Sal. 

O batalhão  [ do RI 11, Setúbal] que esteve naquela ilha (****) , segundo dizia o tal amigo cabo-verdiano de cabelos todos brancos, tinha ido para Cabo Verde, por castigo, tinham feito um levantamento de rancho numa unidade militar em Lisboa. 

Seria assim ou não? Não sei, mas talvez fosse uma forma de seleção. Falou-me numa grande epidemia que matou mais de metade dos militares ali estacionados. Naquela altura ninguém podia entrar nem sair do Sal, para que a epidemia não alastrasse às restantes ilhas. Um dia apareceu uma equipa de médicos que fizeram o diagnóstico a todos os doentes. Esse diagnóstico foi enviado para Lisboa e era igual para todos. Causas da doença: FOME, FOME, FOME... 

Naquele tempo, em plena II Guerra Mundial não era facil mandar um navio pelo Atlântico, por isso viviam mal e mal alimentados. Mas parece que, com isto, o Salazar resolveu, finalmente mandar esse navio. No cemitério de Santa Maria havia uma zona reservada para os militares, daquele batalhão que iam morrendo diariamente. No dia de Finados de 1963, a CArt.566 foi prestar honras militares naquele local, onde se ouviu um discurso do representante do comandante do CTI de Cabo Verde. 

Sei que a estrada entre a povoação de Espargos (Aeroporto) e a capital Santa Maria foi construída e calcetada por esses nossos camaradas. Era a única estrada da ilha com cerca de 20 quilómetros, embora com muitas zonas degradadas pelas ondas do mar e pelas dunas de areia que apareciam de um dia para o outro. Muitas histórias ouvi sobre esses militares, que contarei oportunamente. (...)



 Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Foto nº 27 > "A fome, a miséria"... A grande seca de 1943 foi evocada no romance de Manuel Ferreira, ele próprio expedicionário, "Hora di Bai"... O título diz tudo sobre o dramático dilema que enfrentava o cabo-verdiano de ontem (e de hoje): a vontade de ficar, a necessidade imperiosa de partir.

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

_______________

Notas do editor:


(***) O batalhão expedicionário do RI 11, Setúbal, com pessoal basicamente originário do distrito, partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. 

Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

Para além de 16 mortos, o batalhão expedicionário do RI 11 terá tido um número impressionante de baixas por doença, cerca de metade, segundo o depoimento do  José Rebelo. Ao fim de 20 meses de permanência na Ilha do Sal, e na véspera de partir para a Ilha de Santo Antão, os expedicionários do Onze estavam reduzido a 16 oficiais, 22 sargentos e 460 praças..

Vd. em especial os seguintes postes da série:


26 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17284: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte XII: O "cancioneiro" da Ilha do Sal

4 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17205: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte X: Foram mil e regressaram menos de quinhentos... Recordações do Fernando Pais, emigrado nos Estados Unidos da América

16 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17147: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VII: Quando o Onze foi castigado, por portaria de 26/6/1941, por alegada falta de galhardia e aprumo na marcha para o embarque, ficando inibido de poder ostentar a bandeira do exército...

13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17133: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VI: 16 mortos, devido a doença e desnutrição, ficaram no cemitério da vila de Santa Maria

23 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17076: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte IV: por castigo ("falta de brio e aprumo" de alguns militares no desfile de embarque!...) , o 1.º Batalhão do Onze é impedido de ostentar a Bandeira do Exército Português... (O cmdt do Onze era o cor inf Florentino Coelho Martins, um português da "escola de Mouzinho")... Na ilha do Sal, "a vida e a morte lá iam decorrendo"...

terça-feira, 18 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17256: Meu pai, meu velho, meu camarada (55): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte VI (e última): a seca, a fome, a miséria na ilha de Santo Antão



Foto nº 28 A


Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > "A fome, a miséria"...  (Foto nº 28)


[Este é  o retrato das condições miseráveis em que vivia grande parte da população, no interior da ilha de Santo Antão... Em 1940 e depois em 1942 e anos seguintes a seca prolongada foi responsável por uma das maiores catástrofes demográficas da história de Cabo Verde: este é o pano de fundo do romance "Hora di Bai", publicado em 1962, pelo escritor português Manuel Ferreira (Gândara dos Olivais, Leiria, 1917-Linda a Velha, Oeiras, 1994), também ele mobilizado como expedicionário em 1941, com o posto de furriel.  (*)

[Manuel Ferreira (, foto à esquerda, com a devida vénia ao blogue Literatura Colonial Portuguesa), é também autor, entre outros,  de "Morna" (1948), livro de contos,  e "Morabeza" (1958), romance, obras depois reunidas em 1972 num único volume, "Terra Trazida".

[Depois do 25 de Abril de 1974, Manuel Ferreira fez carreira académica, e nomeadamente leccionou  na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde introduziu a cadeira Literatura Africana em Língua Portuguesa. É autor de inúmeros ensaios e de publicações nesta área: destaque para a sua obra "Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa" (editada em dois volumes, pelo ICALP, em 1977). Celebra-se este ano o 1º centenário do seu nascimento, estando a sua cidade, Leiria, a preparar uma exposição a cargo do professor e investigador João B. Serra].


Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Foto nº 27 > "A fome, a miséria"... A grande seca de 1943 foi evocada no romance de Manuel Ferreira, ele próprio expedicionário, "Hora di Bai"... O título diz tudo sobre o dramático dilema que enfrentava o cabo-verdiano de ontem (e de hoje): a vontade de ficar, a necessidade imperiosa de partir... 




Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Foto nº 29>  "Feiticeiro"



Cabo Verde > Ilha de Santo Antão > 1943 > Foto nº 26 > "Pesca de um grande tubarão"



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > Foto nº 33 > "Tartaruga que deu à costa".


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Sexta (e última parte) do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, tendo antes da tropa trabalhado na marinha mercante, e nomeadamente nos navios de transporte de tropas para o ultramar).

Recorde-se que o Augusto Silva Santos disponibilizou, ao nosso editor Luís Graça (que também teve o pai, Luís Henriques, 1920-2012, como expedicionário na Ilha de São Vicente), 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos (1922-1989) [, foto à direita] e dos seus camaradas da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11 (Setúbal), que estiveram na ilha do Sal, aquartelados em Pedra de Lume, entre meados de 1941 e 15 de março de 1943 , e o resto do tempo, até final de 1943, na ilha de Santo Antão (*).

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. Estiveram grande parte do tempo (cerca de 20 meses) na então desoladora ilha do Sal, em missão de soberania, em plena II Guerra Mundial.

As últimas fotos, que publicamos hoje, são da ilha de Santo Antão (fotos nºs 26, 27, 28, 29).  A foto nº 33 é da ilha de São Vicente, bem como as fotos nºs 30, 31 e 32 (já publicadas no poste P17002, de 30/1/2017).(*)

No final da comissão, o pessoal do "Onze" fez um passagem pela ilha de Santo Antão (de meados de março a dezembro de 1943), para retemperar forças antes do regresso a casa. Ao todo estes "nossos pais, nossos velhos e nossos camaradas" cumpriram cerca de dois anos e meio de comissão de serviço em Cabo Verde. O RI 11 teve 16 mortos por doença na ilha do Sal. 

Segundo o nosso camarada Augusto Silva Santos, o seu pai, na sua passagem pelo Sal e por Santo Antão, chegou a  viver maritalmente com uma cabo-verdiana,  de seu nome Maria Helena Almeida, de quem viria a ter um filho chamado Fernando Almeida Santos (hoje teria 75 anos de idade). Ambos faleceram prematuramente por doença, sem que ele os pudesse valer. (**)
 __________

Notas do editor:

(*) Postes anteriores da série >

20 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17064: Meu pai, meu velho, meu camarada (54): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte V: Restos de espólio: o orgulho de ter pertencido ao Onze... E mais duas fotos de Pedra de Lume

10 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17039: Meu pai, meu velho, meu camarada (53): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte IV: Ilha do Sal, Feijoal

2 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17016: Meu pai, meu velho, meu camarada (52): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte III: Fotos de Pedra Lume, Morro Curral e Espargos, na ilha do Sal

30 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17002: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte II: "Colá San Jon", na Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, 1943


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17064: Meu pai, meu velho, meu camarada (53): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte V: Restos de espólio: o orgulho de ter pertencido ao Onze... E mais duas fotos de Pedra de Lume


Emblema comemorativo do 25.º aniversário da passagem do "11" por terras de Cabo Verde.


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume  > 1943 > O Feliciano no topo da pirâmide. [Foto nº 24]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1943 > Aquartelamento do “11” [Foto n.º 25]

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Folha 9 da caderneta militar


Passaporte militar


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, tendo antes da tropa trabalhado na marinha mercante, e nomeadamente nos navios de transporte de tropas para o ultramar):

Recorde-se que o Augusto Santos disponibilizou, ao nosso editor Luís Graça (que também teve o pai, Luís Henriques, 1920-2012,  como expedicionário na Ilha de São Vicente),  33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos (1922-1989) [, foto à direita] e dos seus camaradas da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, que estiveram  na ilha do Sal, aquartelados em Pedra de Lume, entre meados de 1941 e 15 de março de 1943 , e o resto do tempo, até final de 1943,  na ilha de Santo Antão (*),

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês.  Estiveram grande parte do tempo  (cerca de 20 meses) na então desoladora  ilha do Sal, em missão de soberania. Publicam-se mais duas fotos desse tempo [fotos nº 24 e nº 25].

No final da comissão, fizeram um passagem pela ilha de Santo Antão (de meados de março a dezembro de 1943), para retemperar forças antes do regresso a casa. Ao todo estes "nossos pais, nossos velhos e nossos camaradas" cumpriram cerca de dois anos e meio de comissão de serviço em Cabo Verde. O RI 11 teve 16 mortos por doença na ilha do Sal.


2. Mensagem mais recente do nosso camarada Augusto Silva Santos:

Data: 16 de fevereiro de 2017 às 11:37
Assunto: Espólio de Feliciano Delfim dos Santos / RI 11

Olá,  Luís, bom dia!

No seguimento da minhas pesquisas sobre a passagem do meu pai pelo RI 11 / Cabo Verde (*), vim a descobrir mais uma "preciosidade".

Estou a juntar foto do emblema que o meu pai orgulhosamente ostentava na lapela do seu casaco, aquando da realização dos almoços / convívios anuais em que quase sempre participava, referindo-se o mesmo ao 25.º aniversário da passagem do "11" por terras de Cabo Verde [, 1941-1966].

Tanto quanto me lembro, esses almoços eram sempre (ou quase sempre) realizados na margem sul, ou seja, em localidades do distrito de Setúbal (ex., Setúbal, Montijo, Palmela, Alcochete, etc.)

A título de curiosidade, estou também a juntar cópia de página da minha caderneta militar, em que consta que a minha unidade de desmobilização foi precisamente o RI 11, a qual na altura escolhi como forma de homenagear o meu pai, que muito orgulho tinha na "sua unidade".

Foi mesmo propositadamente, pois poderia até escolher qualquer outra que, na altura, até me seria bem mais fácil em termos de deslocação, visto viver em Almada.

Quando o RI 11, os seus arquivos foram dispersos por outras unidades (foi-me assim explicado na altura), sendo que no meu caso passei a pertencer ao Regimento de Infantaria de Queluz, onde me dirigia para obter os  "passaportes militares",  sempre que tinha necessidade de me ausentar do país, quer em serviço ou em férias, pois durante anos fiz parte, como todos nós, da chamada reserva territorial (julgo que era assim que se chamava).

Foi numa dessas vezes que tomei conhecimento que havia sido "promovido" a 2.º Sargento Miliciano, coisa que nunca me havia passado pela cabeça (as coisas que a pessoa descobre). Apenas por curiosidade junto igualmente cópia desse documento.

Publica o que achares de interesse.

Um forte abraço e boa continuação da tua situação de reformado.
Augusto D. Silva Santos

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17041: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte I: Mobilização do batalhão e composição das companhias (1)


Cabo Verde > Ilha do Sal > Vista de Santa Maria (1)


Cabo Verde > Ilha do Sal > Vista de Santa Maria (2)
[5]


Capa da brochura, "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)








Brochura digitalizada a partir de cópia pessoal do Augusto Silva Santos




1. O nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)  [. foto à direita,] teve o pai, na II Guerra Mundial, como expedicionário em Cabo Verde: o Feliciano Delfim Santos (1922-1989) era 1º cabo da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 [, foto à esquerda].

Do seu espólio,  o filho aproveitou 33 fotos que, depois de digitalizadas, foram enviadas para publicação no nosso blogue, bem como  um exemplar da brochura que agora vamos apresentar...  O Augusto mandou-nos cópia em pdf e faz gosto em partilhá-la com todos os amigos e camaradas da Guiné que se sentam à sombra do mágico poilão da Tabanca Grande.

Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do governador civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada, tem 76 páginas, inumeradas. É seu autor José Rebelo, antigo expedicionário e na altura, em 1983,  capitão SGE. Não sabemos se ainda hoj3 é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada merece, onde quer que esteja, as melhores manifestações do nosso apreço e gratidão.

O Augusto Silva Santos e os editores do blogue defendem  que é um "dever de memória"  e uma obrigação salvaguardar e divulgar esta brochura, já rara, da qual se fizeram 1000 exemplares. A execução gráfica esteve a cargo da Setulgráfica, de Setúbal.

Recorde-se que os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. O navio transportava igualmente os materiais de construção indispensáveis para a edificação das instalações para o pessoal de dois batalhões (do RI 11 - Setúbal e do RI 2 - Abrantes)  e de mais uma companhia (de comando e serviços do RI 11,  composta por 312 homens), além de serviços de saúde e intendência, tudo num total de 2244 militares: foram colocados na Ilha do Sal, e ali permanceram dois anos e meio (junho de 1951 / dezembro  de 1943).

Pelo relato do José Rebelo, sabe-se que:

 (i) o 1º Batalhão do RI 11, que esteve do Sal, era composto por 852 homens, a grande maioria oriundo do distrito de Setúbal;

(ii) a ilha era escassamente era povoada ("meia dúzia de casas"...);

(iii) as únicas atividades produtivas, além da pesca artesanal, eram a exploração de uma mina de sal e um fábrica de conservas de peixe (atum);

(iv) tiveram que recrutar lavadeiras de outras ilhas (Boavista, São Vicente e Santiago), que não as havia na ilha do Sal;

(v) nem sequer havia padre na ilha, apenas uma professora, na vila de Santa Maria, a "capital";

(vi) o aquartelamento era na Pedra de Lume, perto das minas de sal, no nordeste da ilha;

(vii) a água potável era racionada, tomando-se banho e lavando-se a roupa com água salgada;

e, por fim, (viii) cerca de duas dezenas de homens do 1º batalhão do RI 11 morreram de doença, ficando sepultados na ilha.

A par dos Açores, Cabo Verde (e muito em particular a ilha do Sal e a  ilha de São Vicente) tinha um papel estratégico na defesa contra eventuais ataques das potências envolvidas na II Guerra Mundial: a ilha São Vicente, por causa do porto de Mindelo; a ilha do Sal por causa das suas infraestruturas aeroportuárias... (E, no caso dos Açores, por ser um verdadeiro "porta-aviões" natural, no meio do Atlântico, tendo vindo a revelar-se decisivo para o desfecho, a favor dos Aliados, da guerra do Atlântico Norte).

A ilha do Sal, mais especificamente,  tem também um papel na história da aviação comercial e nomeadamente no desenvolvimento das ligações transatlânticas (entre a Europa e América do Sul)... Sabe-se que por volta de 1935/36 os italianos estavam muito empenhados em construir um aeródromo, em Cabo Verde, que permitisse à sua aviação comercial  fazer uma escala, a meio do Atlântico,  na longa viagem entre Roma e as capitais dos países da América do Sul onde viviam importantes comunidades de origem italiana.

A escolha acabou por recair no Sal (uma ilha plana com 30 km de comprimento e 12 km de largura, no sentido leste-oeste), com o beneplácito de Salazar:   a 13 de agosto de 1939, os italianos fazem desembarcar material destinado ao início das obras de construção do aeródromo (oficinas, central eléctrica, posto de rádio, camiões, etc, além de chefes, técnicos e operários). Em escassos meses foram montados os pré-fabricados, foi construída uma pista de terra batida, e  instalaram-se  os  indispensáveis serviços de apoio (hangares para os aviões, oficinas de manutenção, rádio, posto de meteorologia, armazéns, escritórios, hotel, locais de habitação, hospital)...

A linha Roma-América do Sul vai funcionar até maio de 1940, ou seja, até à entrada da Itália na guerra, ao lado da Alemanha. O  aeroporto fica desativado até ao final do conflito,  altura em que as suas infraestruturas são adquiridas pelo governo português... No pós-guerra, foram feitos bastantes melhoramentos, com destaque para a  construção de uma pista asfaltada de 2200 metros. O novo aeroporto internacional  (hoje batizado Amílcar Cabral)  foi inaugurado em  15 de maio de 1949.

Percebe-se melhor agora a "missão de soberania" que foi confiada aos "expedicionários do Onze" (mas também do RI 2)... De resto, o esforço de guerra do país, nessa época, não é conhecido (ou é muito mal conhecido) de muitos de nós: em outubro de 1943, eram mobilizados no continente 60 mil homens, juntando-se aos 40 mil espalhados pelos Açores, Cabo Verde e colónias.

Estima-se que, entre 1940 e 1945, o nº de homens em armas ascendesse aos 180 mil. Por sua vez, a modernização do exército, neste  período, implicou uma despesa extraordinária com rearmamento que, a par da mobilização,  auumentou 12 vezes e meia em escassos anos, passando dos 90 mil contos (em 1937) para os 1124 mil contos (em 1943) (Quadro a seguir).



Fonte: Portugal. Assembleia Nacional. Diário das Sessões. IV Legislatura, Sessão nº 11, em 14 de dezembro de 1945, p. 130. Intervenção do deputado Sá Viana Rebelo.


Até agora sabemos da existência de dois familiares de camaradas nossos que fizeram parte do 1º batalhão do RI 11: além do pai do Augusto Silva Santos, o 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989), temos o tio do Benjamim Durães, o soldado atirador António Joaquim Durães. É possível que haja outros... (LG)





"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da  autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) 


Parte I (pp. inum, 1 a 5)



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Nota do editor:

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17039: Meu pai, meu velho, meu camarada (52): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte IV: Ilha do Sal, Feijoal


Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano é o quarto, sentado, da direita para a esquerda. [Foto 19A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano é o quarto, de pé, da direita para a esquerda. [Foto 17 A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano, na última fila, o mais alto, de mão no ar [Foto 18 A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano, na última fila, assinalado com uma seta. [Foto 20 A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano, o primeiro da esquerda [Foto 21 A]


 Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano, sentado no burro [Foto 22 A]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Feijoal > 1942 > O Feliciano, primeiro da esquerda.[Foto 23 A]

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Feliciano Delfim Santos (1922-1989)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73). 

O Augusto disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos (1922-1989), e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e março  de 1943 e deposi na ilha de Santo Antão (até dezembro de 1943) [, foto à direita].

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês (8 dias de viagem).

Estiveram cerca de vi nte meses na então inóspita e pouca habitada ilha do Sal, em missão de soberania, como se podem perceber por estas fotos. As instalações (barracas de madeira) eram em Pedra Lume, a nordeste da ilha. A capital era então Santa Maria, a sul.

As fotos que publicamos hoje são do sítio do Feijoal, onde havia alguma raquítica  vegetação e provavelmente haveria mesmo uma pequena horta (a avaliar pela presença de um burro, de um moinho de vento, em ferro, dos muros de pedra e de algumas, poucas, árvores, nomeadamente palmeiras)... O sítio ainda hoje existe, fica entre Espargos (hoje a capital, que se desenvolveu com o aeroporto internacional Amílcar Cabral e o turismo...)  e Pedra Lume, onde estavam aquartelados os militares do Onze. [Vd aqui  o mapa do Google.]
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Nota do editor

(*) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17016: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte III: Fotos de Pedra Lume, Morro Curral e Espargos, na ilha do Sal