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domingo, 28 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19144: Armamento (6): Morteiro médio 81 e morteiro pesado 107 (Luís Dias / Luís Graça)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) > O espaldão do morteiro 81.

Foto (e legenda): © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 1968 > CCS/ BCAÇ 1933 (1967/69) >  Espaldão do morteiro 10.7 (tubo com estrias, enquanto o morteiro 81 tem a alma lisa...).

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Guiné > Região de Quínara > Buba > c. 1969/71 > O Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138 (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71) pesadas de infantaria, do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71), no espaldão do morteiro 81, com uma granada.

Foto (e legenda): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Montando segurança próxima do "porto fluvial": o morteiro 81, na margem direita do rio Fulacunda...

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A malta sabia pouco das "armas dos outros": os infantes, por exemplo, não sabiam nada de artilharia (por ex., obuz 10.5,  obus 14, peça 11.4)... Os "artilheiros", por sua vez,  não sabiam (nem tinham que saber) nada de morteiros, uma arma de infantaria...  E por aí fora, até chegar aos pilav, aos fuzos, aos páras...

Os "atiradores" sabiam da sua "canhota", a G3 (, desmontra, limpar, montar, usar...)  e chegava... Hoje, já de nada disso nos serve, saber a distinção entre tubos de alma lisa (morteiro 81) e tubos com estrias (morteiro 107), por exemplo, São coisas que, felizmente, não vão ser precisas lá no Olimpo dos deuses e dos heróis, onde todos temos um lugar reservado, pelo menos os camaradas da Guiné. Por outro lado, estas armas são hoje peças de museu...

Mesmo assim, ainda há um uns "maduros", como eu, que vão gastando o seu latim com a discussão do sexo dos anjos... Já não me pergunto nem respondo à pergunta se vale a pena... Se perguntasse e respondesse, já tinha fechado a loja... (Felizmente, que o não posso fazer, porque o blogue não é meu, é do Luís Graça & Camaradas da Guiné, do Carlos Vinhal, do Virgínio Briote, do Eduardo Magalhães Ribeiro, do Jorge Ara+ujo e tantos mais, ao todo, 779, entre vivos e mortos.)

De qualquer modo, o saber não ocupa lugar nem aumenta o peso da alma... Quando formos para os anjinhos, vamos todos nuinhos, sem botas, bem farda, sem quico, sem a G3, sem os cantis, o cinturão, as cartucheiras... Mas nunca se sabe se o sacrista (sem ofensa...) do São Pedro nos prega a partida e não nos obriga a fazer um teste de conhecimentos  ou até mesmo um teste psicoténico... É que nem todos entram, e há quem se atreva a meter cunhas...

Pelo sim, pelo não, tomem lá boa nota das características das duas armas: sobre o morteiro 81 temos já uma dúzia de referências; sobre o morteiro 107 (, que não existia em todos os aquartelamentos, contrariamenet ao morteiro 81) temos menos referências: não chegam à  meia dúzia  (LG). (*)

O TPC é do Luís Dias, de quem já não tenho notícias há muito , e para quem mando um grande alfabravo (***).

MORTEIRO MÉDIO BRANDT m/931 de 81mm

Tipo:  Morteiro médio
Origem: França
Calibre: 81, 4 mm
Comprimento do cano ou tubo: 126 cm
Peso do cano: 20, 7 Kg
Peso do bipé: 18, 5 Kg
Peso do prato base: 20, 5 Kg
Peso do aparelho de pontaria: 1,3 Kg
Peso total em posição de fogo: 61 Kg
Alcance: 4 000 m
Alinhamento de tiro: Recurso a aparelho de pontaria apropriado
Capacidade de fogo: Variável, entre 15 a 30 granadas por minuto
Funcionamento: Ante carga, com percutor fixo e de tubo de alma lisa. O disparo dá-se por queda da granada sobre o percutor e o lançamento por acção dos gases da carga propulsora e das cargas suplementares, se as houver.
Munição: Variada: granada explosiva normal (3, 2 Kg), explosiva de grande potência (6, 9 Kg), de fumos, iluminação e de treino... As granadas podiam levar cargas suplementares presas nas alhetas que lhe davam um maior alcance. Havia granadas que armavam por inércia e só depois disso é que rebentavam ao contacto e outras que rebentavam pelo contacto da mola do nariz.

Tudo isto desmontadinho, dá 60 kg, fora as granadas... Agora imaginem o que é levar tudo isto às costas em operações no mato!... Com turras, abelhas, formigas carnívoras e capim a arder, atrás de nós!... (**)

Diz o nosso especialista em armamento, o Luís Dias (***), que o principal morteiro médio utilizado na guerra colonial foi o Brandt m/931, desenvolvido por esta firma em França, no final dos anos 20 (1927), (ainda que baseado no desenho do morteiro Stokes, de origem inglesa,) e conhecido como o Brandt 81 mm ml/27/31 (por ter sido redesenhado em 1931). Foi o morteiro das forças francesas na II Guerra Mundial. Depois da ocupação nazi foi utilizado pelas forças alemãs a contento e deu origem a um morteiro do mesmo tipo norte-americano e muitas cópias pelo mundo fora.

MORTEIRO PESADO M2 M/951 [ou M2 4.2 inch mortar]

Tipo: Morteiro pesado
Origem: EUA
Calibre: 107 mm
Comprimento do cano: 121,92 cm
Peso do cano: 48 kg
Peso do bipé: 24 kg
Peso do prato base: 79 kg
Peso total em posição de fogo: 151 Kg
Alcance máximo: 4 400 m
Alcance mínimo: 515 m
Alinhamento de tiro: Recurso a aparelho de pontaria apropriado
Capacidade de fogo: 5 granadas por minuto, por períodos de 20 minutos.
Funcionamento: Ante carga, com percutor fixo
Munição: Granada explosiva (11,1 Kg c/3,6 Kg TNT) e de fumos.

O primeiro morteiro pesado M2 entrou ao serviço das forças dos EUA, em 1943, embora o primeiro morteiro de 107mm, o M1, tenha sido introduzido em 1928. O M2 entrou em serviço na Campanha da Sicília e com grande êxito, seguindo o acompanhamento da evolução da IIª Guerra Mundial até ao seu término. Fez ainda a Guerra da Coreia e, a partir de 1951 foi, gradualmente, sendo substituído pelo morteiro M30, também de 107mm. No exército português foi nesta data que entrou ao serviço e acompanhou toda a campanha de África da guerra colonial.
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

15 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19102: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVII: Armamento: Morteiro 81 e morteiro 60, São Domingos, 1968

4 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18283: Buba e os pelotões de morteiro 81 no período entre 1964 e 1974: um espaldão com história (Jorge Araújo)

19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)

(**) Vd. poste de 8 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8388: A minha CCAÇ 12 (18): Tugas, poucos, mas loucos...30 de Março-1 de Abril de 1970, a dramática e temerária Op Tigre Vadio (Luís Graça)

(...) Participaram na Op Tigre Vadio as seguintes forças (num total de 300 homens, incluindo carregadores civis que transportaram 2 morteiros 81, granadas de morteiro 81 e de bazuca, ... mas alguém se esqueceu dos jericãs com o precioso líquido chamado... água!) (...)

21 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5682: Armamento (1): Morteiros, Lança-Granadas, Granadas e Dilagrama (Luís Dias)

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18245: Memória dos lugares (371): Buba, o espaldão do morteiro 81 e os Pel Mort [1086, 1242, 2138, 3020...] que por lá passaram


Inscrições:

Lado esquerdo: P M 3020  71-73 | SALGADO   [Pel Mort 3020 1971-73, mobilizado pelo RI 15, Tomar,em setembro de 1973; Salgado devia ser o apelido de um dos militares que trabalharam na construução ou, melhor, na manutenção do espaldão, c. 1971-73];

Lado direito: Pel Mort 213 [8] [, mobilizado pelo BC 10, Chaves, em agosto de 1969.



Inscrição: P M 3020  71-73 | SALGADO


Inscrição na parte de cima do paredão interior: P M 1086   [mobilizado pelo RI 15, Tomar, em maio de 1966]  |  [P M] 1242 [mobilizado pelo BC 10, Chaves, em outubro de 1967...]


Inscrição: P M 1086 | [ P M] 1242


Por este detalhe do espaldão do morteiro 81 (*), verifica-se que afinal não era obra do BENG 447, mas sim dos "artistas da casa", com bidões cheios de areia, com secções cheias de areia ou terra (já que não havia muita pedra na Guiné...), com as paredes revestidas de chapa de bidões... e na parte superior "acimentadas"... Uma canhoada em cheio rebentava facilmente o espaldão... Visto de cima e de longe, parecia todavia ser uma construção sólida...

 Guiné-Bissau >Região de Quínara > Buba > Esquadrão de morteiro 81 >  Em forma concêntrica, com dois anéis...

Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl > Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro 81. Já existia no tempo do Pel Mort 2138 [, Buba, 1969/71]. Os Pel Mort que por lá passaram a seguir ou  antes [Pel Mort 1086, Pel Mort 1242, Pel Mort 3020...] (**) foram fazendo a respetiva manutenção e deixaram lá a sua "assinatura"...

Como o espaldão está desativado, a foto deve ser posterior à retração do dispositivo das NT, em meados de 1974.

Citação: (1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139, do exército português.", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_44169 (2018-01-20)




Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > Maio de 2013 > "Por aqui passou o Pel Mort 1242 (1967/69)"... Restos do seu memorial, com o respetivo brasão e a lista do pessoal  (posto e apelido) (***)

Foto (e legenda) : © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (****)




Espaldão do morteiro 81, junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71). Local do impacto de uma granada de canhão s/r, do PAIGC. noutro ataque a seguir ao de 12/10/1969.

Foto (e legenda): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18244: (D)o outro lado do combate (17): ataque a Buba em 12 de outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138: os fracassos assumidos pelo PAIGC (Jorge Araújo)

(**) Vd. poste de 15 de janeiro de  2018 >  Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)

(***) Vd. poste de 30 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11653: Em busca de... (223): Pessoal do Pel Mort 1242 (Buba, outubro de 1967/ agosto de 1969) cujos nomes ficaram gravados na "pedra de Buba"... O que é feito de ti, camarada Clemente, ex-alf mil e comandante? E de ti, Simão? E de ti, Laginha?... E de vocês todos, 44 anos anos depois de terem regressado no T/T Uíge, em 23/8/1969?

Guiné 61/74 - P18244: (D)o outro lado do combate (17): ataque a Buba em 12 de outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382 e Pel Mort 2138: os fracassos assumidos pelo PAIGC (Jorge Araújo)


Foto nº 1 > Guiné-Bissão >Região de Quínara > Buba > Esquadrão de morteiro 81 >

Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl > Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro, mais provavelmente do Pel Mort 2138 [e não 2139], que esteve em Buba (1969/71). Como o espaldão está desativado, a foto deve ser posterior ao 25 de abril de 1974.


Citação: (1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139, do exército português.", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/ 11002/fms_dc_44169 (2018-01-20)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1969/71) > Posição do espaldão do morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba [poste P18231]


Fotos (e legendas): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974)


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE  > ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969  (AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138): OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC


por Jorge Araújo



1. INTRODUÇÃO

Como tive a oportunidade de referir na anterior narrativa sobre este tema, uma foto de um “espaldão de morteiro” localizada na Casa Comum - Fundação Mário Soares - na pasta: 05360.000.325, com o título/assunto: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2138, do exército português… estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2138” [poste P18223] deu lugar a uma nova investigação, tendo duas questões de partida [foto nº1]:

(i) como chegou ela (foto do espaldão) às mãos da guerrilha e/ou aos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973);

(ii) em que aquartelamento das NT teria ele sido construído?

Quanto à primeira questão, creio ser difícil, quase impossível, obter uma resposta fiável, a não ser que o seu autor tomasse a iniciativa de se identificar. Quanto à segunda, foram várias e imediatas as respostas, dando-nos conta tratar-se do «Espaldão do morteiro 81», colocado na embocadura do rio Grande de Buba, junto ao arame farpado do Aquartelamento de Buba. [foto nº 2]

Para além da preciosa ajuda dos nossos camaradas tertulianos que por lá passaram, destaco aqui o contributo do Fernando Oliveira (Brasinha) do Pel Mort 2138, que fez o favor de nos mandar algumas fotos desse local [poste P18231] … com história, e que muito agradecemos.

Para que conste, apresentamos acima duas fotos desse espaldão, a primeira, talvez de 1973 ou princípios de 1974 [ou mais tarde] (a do arquivo de fotos de Amílcar Cabral), a segunda do tempo do Pel Mort 2138 (1969/1971), do baú de memórias do camarada “Brasinha”.



2. O ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969


A análise ao modo como o PAIGC planeou este ataque ao aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, domingo, deu origem à elaboração de um “Relatório do Ataque” por parte do comandante da CCAÇ 2382 (1968/1970), ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo, bem como o competente croqui sobre a distribuição das forças IN. Este foi redigido a partir da informação obtida através da leitura dos documentos apreendidos ao capitão cubano Pedro Rodrigues Peralta, na sequência da sua captura por tropas paraquedistas do CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro’69, durante a «Operação Jove» [vidé poste P18223].

Recorda-se que este ataque foi liderado por Pedro Peralta e 'Nino' Vieira. De acordo com as informações do camarada Fernando Oliveira, este ataque foi lançado pela parte superior da pista de aterragem de aeronaves, tendo o IN estado muito próximo do arame farpado. O especial desempenho vai para o Esquadrão de Morteiros, junto à pista. Este ataque foi o baptismo de fogo do Pel Mort 2138, coincidindo com a despedida da CCAÇ 2382, comandada pelo Cap Carlos Nery Araújo.

Na infogravura abaixo, retirada do livro «Guerra Colonial», do Diário de Notícias, p. 295, as setas a amarelo servem para referenciar a zona onde se iniciou o ataque.




3. RELATÓRIO DO PAIGC SOBRE O PRIMEIRO ATAQUE A BUBA

- 12 DE OUTUBRO DE 1969

Como instrumento de investigação histórica «do outro lado do combate», visando encontrar eventuais elementos contraditórios entre versões, recorremos, uma vez mais, à principal fonte de consulta (privilegiada) que são os Arquivos de Amílcar Cabral, localizados na Casa Comum – Fundação Mário Soares.

Aí encontrámos referência a este ataque a Buba, realizado em 12 de Outubro de 1969, que pode ser consultado em: (1969), “Relatório das operações militares na Frente Sul”, 
http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20).

Nas primeiras duas páginas desse relatório de um total de vinte e três, cujo autor se desconhece, e que abaixo se apresenta dividido em pequenos fragmentos, é referido:

Na introdução:

“Após um longo período de minucioso reconhecimento e preparação das condições para a actuação da artilharia (tiro directo e indirecto) distribuída por 3 posições de fogo distintas, dedicou-se especial atenção em encontrar as vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição. No cumprimento desta última missão de reconhecimento temos a lamentar a morte de um camarada e o ferimento de outros dois, entre os quais o camarada CAETANO SEMEDO, em consequência da detonação duma mina antipessoal”.




Efectivos:

Dispunhamos para a operação dos seguintes efectivos:

Artilharia

- 9 canhões sem recuo B-10, com 90 obuses;

- 9 morteiros 82, com 180 obuses;

- 2 peças GRAD, com 7 foguetes;

Infantaria

- 5 bi-grupos para o assalto ao quartel;

- 3 bi-grupos para isolar Buba dos visinhos;

- 1 bi-grupo para a segurança da artilharia;

Defesa anti-aérea

- 12 DCK



Desenvolvimento da acção:

A operação devia ter início no dia 12 de Outubro [1969] às 17 horas, mas devido a atrasos na instalação dos canhões, só foi possível iniciá-la às 17h30.

Os canhões efectuariam tiro directo a uma distância de 1.200 metros; os morteiros 82 e GRAD estavam em ligação telefónica com o posto de observação, situado a 800 metros do quartel. A posição dos morteiros estava a 2.200 metros e a das peças de GRAD a 3.950 metros do quartel.

Primeiro abriram fogo os canhões B-10, que falharam completamente, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia], concentrando sobre o posto de observação (possivelmente já descoberto por ele), sobre a posição do fogo dos canhões e sobre o itinerário percorrido pela linha telefónica; como resultado da explosão dos obuses o fio telefónico foi cortado em 7 [sete] lugares diferentes, ficando a ligação interrompida.

Além disso, unidades inimigas de infantaria cruzaram o rio, pondo sob a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.


Conclusão:

Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das armas pesadas do inimigo.

Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria.

Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente.



Fonte: Casa Comum >  Fundação Mário Soares >  Arquivo Amílcar Cabral

Pasta: 07073.128.011. Título: Relatório das operações militares na Frente Sul. Assunto: Relatório das operações militares do PAIGC contra Buba, Bedanda, Bolama, Cacine, Cabedu, Empada, Mato Farroba, Cufar. Utilização dos foguetes. Algumas impressões sobre a utilização da arma especial (GRAD) na Frente Sul durante os meses de Outubro e Novembro de 1969. Data: c. Novembro de 1969. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. [Guileje]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


Em jeito de conclusão, podemos dizer que os dois relatórios se complementam, pela adição dos detalhes particulares observados em cada um dos lados do combate.


Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

22JAN2018.

_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18086: (D)o outro lado do combate (16): razões e circunstâncias da prisão e condenação do arcebispo católico de Conacri, Raymond-Marie Tchidimbo (1920-2011), na sequência da Op Mar Verde: de "santo" a "diabo", aos olhos do "guia iluminado", Sékou Touré: o testemunho do mais célebre prisioneiro político do sinistro campo de Boiro (excerto com tradução de Jorge Araújo)

sábado, 20 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18231: Memória dos lugares (370): Buba e os bravos do Pel Mort 2138... Mais fotos (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)


Foto nº 1 > O soldado apontador de armas pesadas de infantaria, do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71),  no espaldão do morteiro 81, com uma granada


Foto nº 2 > Posição do espaldão do morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba, Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71)


Foto nº 3 > Posição do espaldão do morteiro 81,  junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71)



Foto nº 4  > Espaldão do morteiro 81,  junto ao arame farpado e virado para o rio, ao tempo do Pel Mort 2138 (Buba, 1969/71). Local do impacto de uma granada de canhão s/r, do PAIGC.

Fotos (e legendas): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O Fernando Oliveira "Brasinha", ex-sold ap armas pes inf, Fernando Oliveira, "Brasunha", mandou-nos, ontem, às 20h33, a seguinte mensagem telegráfica

Seguem [4] fotos para comprovar poste do Grã-Tabanqueiro nº 727 Fernando Oliveira (Brasinha). (*)
______________

Nota do editor;

(*) Vd. último poste da série > 19 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71)

(...) Dado não haver estradas para Aldeia Formosa (hoje Quebo) a partir de Bissau, Buba era o ponto fulcral para desembarque e abastecimento daquela zona que abrangia, Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. De Buba partiam as Colunas Auto que transportavam os géneros, armas e munições.

O citado abrigo (espaldão) era habitado por quatro elementos que dormiam sobre as granadas dos morteiros (...).


(...) Um ano depois [do ataque ai aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, ao tempo da CCAÇ 2382], tivemos novo ataque, de igual poderio de fogo, desta feita pelo lado do Rio onde foi a vez do Esquadrão junto ao mesmo (...). Dessa vez, saiu-nos o primeiro prémio da Lotaria. Levamos com um obus no espaldão que, por uma unha negra, não caiu dentro do espaldão, que mandaria tudo pelos ares. Vou tentar anexar fotos do acontecimento aqui relatado, bem como, uma tirada após a nossa comissão, pelo furriel miliciano António Cruz. (...)

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18226: Memória dos lugares (370): Buba e o espaldão do morteiro 81 onde eu dormia... (Fernando Oliveira, "Brasinha", ex-sol apont Arm Pes Inf, Pel Mort 2138, Buba, Aldeia Formosa, NHala, Mampatá e Empada, 1969/71)


Guiné > Região de Quínara > Buba > s/d > Espaldão de morteiro 81... na margem direita do Rio Grande de Buba.

Foto: cortesia de Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabral > Pasta: 05360.000.325  (*)


1. Comentário  (*) do Manuel Fernando Dias Oliveira ("Brasinha"), ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138, (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71),  membro da nossa Tabanca Grande desfde 17/9/2016 (**):

Boa noite a todos os membros desta Tabanca Grande e outros ex-combatentes que se interessam pelas histórias reais, passadas naquele tempo e que alguns desejam que as mesmas sejam apagadas.

Muito bem, vamos esclarecer o que aqui está sendo comentado. Essa foto é REAL, está (va) mesmo junto ao arame farpado que cercava o aquartelamento [de Buba], para dar cobertura aos desembarques das Lanchas da Marinha que nos reabasteciam periodicamente. 

Dado não haver estradas para Aldeia Formosa (hoje Quebo) a partir de Bissau, Buba era o ponto fulcral para desembarque e abastecimento daquela zona que abrangia, Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. De Buba partiam as Colunas Auto que transportavam os géneros, armas e munições. 

O citado abrigo (espaldão) era habitado por quatro elementos que dormiam sobre as granadas dos morteiros:

lº Cabo António Silva Guerra (falecido recentemente);
Jorge Augusto dos Santos Franco (falecido pouco tempo após o término da comissão);
António Mendes de Freitas;
e Manuel Fernando Dias Oliveira ("Brasinha"), que sou eu. 

Como bem disse um camarada no seu comentário, essa foto certamente foi tirada no pós-guerra. O ataque ao qual se refere o Capitão Nery, foi comandado pelo [cubano] Peralta e pelo  Nino Vieira, ataque esse que foi lançado pela parte superior da pista de aterragem de aeronaves, tendo as tropas inimigas estado muito próximo do arame farpado. Teve especial desempenho o Esquadrão de Morteiros, junto à Pista. foi o nosso baptismo de fogo e a despedida da Companhia comandada pelo Cap Mil Nery [, CCAÇ 2382].

Precisamente um ano depois, tivemos novo ataque, de igual poderio de fogo, desta feita pelo lado do Rio onde foi a vez do Esquadrão junto ao mesmo (que está na foto). Dessa vez, saiu-nos o primeiro prémio da Lotaria. Levamos com um obus no espaldão que, por uma unha negra, não caiu dentro do espaldão, que mandaria tudo pelos ares. Vou tentar anexar fotos do acontecimento aqui relatado, bem como, uma tirada após a nossa comissão, pelo furriel miliciano António Cruz.

2. Comentário (*) do nosso camarada Manuel Traquina (ex-Fur Mil Mec Auto, da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), que vive em Abrantes [, foto atual, à direita] 

Este abrigo de morteiro é em Buba, situava-se na parte de trás das instalações dos sargentos, estive várias vezes neste local e, não há dúvida de que a foto deve ter sido tirada depois da saída dos portugueses, porque antes estava limpo, não havia capim. Vou ver se tenho uma foto! (***)

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(***)  Último poste da série >  4  de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18172: Memória dos lugares (369): Fajonquito (1961) ou... Gam Sancó (1940, 1914, 1906, 1889)? (Armando Tavares da Silva)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18223: Pelotão de Morteiros 2138 (Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada, 1969/71): espaldão com história (Jorge Araújo)


Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl >  Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro, mais provavelmemte do Pel Mort 2138 [e não 2139],  Buba, c. 1969/71. Pode perguntar-se: como é que esta foto chega às mãos do PAIGC?

Citação:(1963-1973), "Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139, do exército português.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44169 (2018-1-18)



Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494  
(Xime-Mansambo, 1972/1974)

PELOTÃO DE MORTEIROS 2138  (BUBA, NHALA, MAMPATÁ, ALDEIA FORMOSA E EMPADA, 1969-1971): ESPALDÃO COM HISTÓRIA

por Jorge Araújo

1. INTRODUÇÃO

Tal como aconteceu no meu anterior texto sobre o universo de Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961-1974), no qual se identificaram e corrigiram algumas discrepâncias encontradas em trabalho académico concluído em 2015 (*), também no caso presente se procura rectificar o que, em nossa opinião, é uma inexatidão (provavelmente uma gralha) e que, por esse facto, deve-se corrigir.

E essa inexatidão (ou gralha) foi editada na legenda de uma foto localizada na Casa Comum – Fundação Mário Soares – na pasta: 05360.000.325, com o título: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139 [?], do exército português”. O assunto é: “Estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2139. A data [é abrangente]: 1963-1973.

A foto pertence ao DAC - documentos Amílcar Cabral (fotografias), como se prova na imagem acima (reproduzidacom a devida vénia).

Será que esta foto tem alguma história… importante? É muito provável que sim, como daremos conta ao longo do texto.

 Considerando que no decurso da sua comissão ultramarina no CTIG (1969-1971) as diferentes esquadras do Pelotão de Morteiros 2138 [e não 2139] estiveram dispersas pelos aquartelamentos de Buba, Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e, finalmente, Empada, é mais do que certo que a foto acima dirá respeito a um deles, com forte probabilidade de ser o primeiro – Buba.


2. ELEMENTOS HISTÓRICOS DA UNIDADE

Para enquadramento histórico do Pelotão de Morteiros 2138, daremos conta, em síntese, do que escreveu o camarada Vítor Almeida, ex-fur mil, no blogue da sua Unidade [, e de que se reproduz aqui um excerto, com a devida vénia].

O relato inicia-se assim:

"Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português. 

"No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia”, o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã."

"Entretanto [o Vítor Almeida] embarcou para a Guiné no dia 24 de Julho, num [C-54, ] avião Skymaster da Força Aérea, com escala em Las Palmas e Ilha do Sal, em Cabo Verde, onde pernoitaram [com] a chegada no dia seguinte à Guiné. A finalidade desta viagem antecipada foi tratar da logística do Pelotão, tendo mesmo efectuado uma deslocação a Buba antes da chegada do Pelotão a Bissau [num total de quarenta e oito elementos].

"A partida de todo o pessoal para Buba efectuou-se no dia 24 de Agosto a bordo da LDG 105 “Bombarda”, com chegada no dia 25 pelas 08H00. O pessoal foi dividido por vários aquartelamentos tendo seguido viagem no dia 31 de Agosto, integrados numa coluna militar com destino a Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. 

"Só a esquadra para Nhala chegou ao destino tendo as outras duas regressado a Buba devido ao estado intransitável da estrada. Estas duas esquadras para Mampatá e Aldeia Formosa só no dia 6 de Setembro seguiram para o seu destino.

"No dia 4 de Novembro a CCAÇ 2382, que se encontrava em Buba [comandada pelo Cap Mil Carlos Nery Gomes Araújo (1968/70)] foi substituída pela CCAÇ 2616, passando o Pelotão a depender administrativamente desta última". […]

Em 14 de Março de 1971 foi destacada para Empada uma das esquadras de Buba, comandada pelo fur mil Vítor Almeida [ou seja, pelo próprio].

O regresso a Portugal deu-se no final de Junho de 1971. Felizmente todos regressámos da nossa comissão não interessando mencionar os sacrifícios passados ou as inúmeras vezes que os aquartelamentos onde nos encontrávamos foram atacados.

Pela resenha histórica acima, é credível considerar que esta foto é mesmo de Buba [aguardamos a sua confirmação por quem por lá tenha passado] e a sua existência nos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973), poderá estar relacionada com o reconhecimento relativo à preparação do ataque ao aquartelamento de Buba, em 12 de Outubro de 1969.

Esta é, aliás, uma forte probabilidade fazendo fé no que se encontra referido no livro «Guerra Colonial – Angola / Guiné / Moçambique», do Diário de Notícias, p. 295, onde consta que esta informação foi obtida através da leitura dos documentos apreendidos ao capitão cubano [agora, coronel] Pedro Rodrigues Peralta (n.1937), na sequência da sua captura por tropas paraquedistas do CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro de 1969, durante a «Operação Jove», realizada no “Corredor de Guileje”, onde ficou gravemente ferido e evacuado para o HM 241, em Bissau.

Como curiosidade, o capitão cubano Pedro Peralta foi socorrido e evacuado pela enfermeira paraquedista Maria Zulmira Pereira André (1931-2010), que recebera a incumbência de um seu superior dizendo: “temos um ferido muito grave, que é necessário evacuar o mais rapidamente possível, e a Zulmira não o pode deixar morrer”, [in: Susana Torrão, «Anjos na Guerra», Oficina do Livro, 2011 (P9319)].

3. PREPARAÇÃO DO ATAQUE A BUBA EM OUTUBRO DE 1969

Do livro «Guerra Colonial», referido acima, reproduzimos o que consta sobre a preparação desta operação, informação extraída nos documentos de que era portador o capitão Pedro Peralta.


4. A ESTRATÉGIA DO ATAQUE

A análise ao modo como o PAIGC planeou o ataque ao aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, domingo, deu origem à elaboração de um “Relatório do Ataque” por parte do comandante da CCAÇ 2382, ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo [, Carlos Nery, membro da nossa Tabanca Grande], bem como o competente croqui sobre a distribuição das forças IN.

Para que conste, dá-se conta, abaixo, de dois croquis do ataque, um global e outro mais específico, divulgados no livro acima citado, onde certamente se localiza o espaldar de morteiros da foto, utilizado pelos elementos do Pelotão de Morteiros 2138 em resposta ao ataque, cujo desempenho foi importantíssimo para o sucesso das NT, conforme é referido pelo autor do relatório.





5. O QUE ESCREVEU O CAP MIL GOMES NERY GOMES DE ARAÚJO

Neste contexto, recupero o que foi escrito pelo ex-CapM il Carlos Nery Gomes de Araújo, publicado no P6183, e citado do comentário ao poste de 25 de Janeiro de 2009:

“Eu era o Comandante da CCaç 2382 uma das unidades sediadas em Buba quando do ataque. A frase transcrita do relatório então elaborado foi de minha autoria. Porém, o desenho baseado naquele que fiz nesse mesmo relatório, contém algumas inexactidões. Efectivamente os cinco bigrupos do PAIGC que pretendiam entrar em Buba (cerca de 300 homens) foram emboscados por um grupo de combate da CCaç 2382, comandado pelo Alf. Mendes Ferreira, e por elementos do Pelotão de Milícia, postados no exterior do aquartelamento para lá da pista de aviação, tendo retirado com baixas e sem atingir o seu objectivo. Nessa retirada utilizaram o largo trilho aberto quando da sua aproximação.

Enquanto isto, a nossa artilharia, 2.º Pelotão/BAC comandado pelo Fur Mil Gonçalves de Castro atingia com eficácia a posição dos morteiros inimigos. Ficaram no local e foram capturadas na madrugada seguinte pelos fuzileiros do DFE7, 158 granadas, das 180 com que contava o Comandante Peralta [cap. cubano Pedro Peralta] na sua "Ordem de Fogo" preparando o ataque a Buba.

Entretanto, os dois morteiros 81, guarnecidos pelo Pel Mort 2138, atingiam a posição ocupada pelo comando do ataque IN, instalado na margem direita do Rio Mancamã, junto à foz. No lusco-fusco desse fim de tarde, viu-se, do quartel, a confusão de vultos em fuga, por entre o capim, nessa outra margem do rio. A maré estava baixa. Um frémito percorreu os defensores. Elementos do DFE7, da CCaç 2382 e da Milícia, sob o comando do Tenente Nuno Barbieri, alcançam a margem do rio Bafatá fronteira à posição dos canhões sem recuo e do comando inimigo. É aí deixada uma base de apoio comandada pelo Alf Domingos, da CCaç 2382, enquanto o Tenente Barbieri tenta ganhar a margem oposta no comando dos restantes voluntários, actuação esta que fez aumentar a confusão existente no dispositivo inimigo. Uma noite sem lua caíra, entretanto. Foi decidido regressar ao quartel. […]

Quando da captura do Comandante Peralta, pelos Paraquedistas, passados poucos dias, foi constatado que os planos de sua autoria para atacar Buba se ajustavam à descrição por nós elaborada. Gomes de Araújo (Cap Mil Art)”.

Em 4 de Outubro de 2009, passados quarenta anos, o colectivo de ex-combatentes do Pelotão de Morteiros 2138 «Sempre Excelentes e Valorosos», reuniu-se em Fátima, onde recordaram, naturalmente, este episódio (e muitos outros) ocorrido (s) em Buba (1969/1971), tornando-se este convívio num dia especial para todos.


Da esquerda para a direita: Vítor Almeida, António Guerra, Guilherme Manuel, Joaquim Magalhães, Hernâni Ramos, Joaquim António Sadio, Manuel Fernando Oliveira “Brasinha” [nosso grã-tabanqueiro nº 727] e António Freitas.

Foto retirada, com a devida vénia, do blogue da Unidade.

Obrigado pela atenção.

Com forte abraço de amizade,

Jorge Araújo.

13DEZ2017.
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sábado, 17 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16498: Tabanca Grande (494): Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138 (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), 727.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Grã-Tabanqueiro Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138, (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), com data de 15 de Setembro de 2016:

Caro Luís Graça, boa noite.

Eu sou o Oliveira, Soldado Apontador de Morteiro NM 06364668.
Fiz a minha Comissão na Guiné, no período de 1969/1971, tendo o meu Pelotão de Morteiros 2138 sido desmembrado pelos Aquartelamentos de Buba (sede), Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada.

 Pel Mort 2138 - "SEMPRE EXCELENTES E VALOROSOS"

Embora eu já vos acompanhe há alguns anos, só agora tomei a iniciativa de pedir o meu Registo. Já sou conhecido em algumas das vossas páginas, no que diz respeito ao nosso Pelotão, embora com a Alcunha de “Brasinha”.


Meu nome completo é Manuel Fernando Dias Oliveira, natural da Freguesia de Fajozes, Concelho de Vila do Conde, Distrito do Porto.
Vivo em Braga há quase trinta anos e sou membro ativo da Liga dos Combatentes, Delegação de Braga.

Com isto peço com muito gosto o reconhecimento como Tabanqueiro.
Fernando Oliveira (Brasinha)


2. Comentário do editor

Caro Oliveira, bem vindo à nossa Tabanca Grande. És o primeiro camarada do Pel Mort 2138 que quer fazer parte da nossa tertúlia, o que te traz responsabilidade acrescida, fazeres uma apresentação mais ou menos exaustiva da tua Unidade. Até hoje não tínhamos nenhuma entrada com o Pel Mort 2138.

Falando em termos mais pessoais, ambos somos do mesmo Concelho de Vila do Conde, embora eu só fosse nascer a Azurara, voltando ao fim de 15 dias para a minha terra de coração, Matosinhos. Também sou membro dos Corpos Directivos do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, com o cargo de 1.º Secretário da Mesa da Assembleia Geral.

Posto isto, só me resta, em nome da tertúlia e dos editores, deixar-te um abraço de boas-vindas e votos de que colabores mandando-nos as tuas histórias e as tuas fotos.

O camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)