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quinta-feira, 14 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25271: Ser solidário (265): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (Renato Brito)

1. Mensagem com data de 21 de Dezembro de 2023, enviada ao nosso Blogue por Renato Brito, voluntário, que na Guiné-Bissau integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa:

Bom dia Carlos Vinhal,
Agradecendo o contributo em divulgar a aventura de tentar construir uma escola na Guiné-Bissau, envio-lhe mais um bilhete-postal que apresenta a data de mais um mercado para venda objectos em segunda-mão.
Grande parte dos objectos para venda foram oferecidos por crianças de duas escolas primárias (Alessandro Manzoni em Bolzano e Giovanni XXIII em Sinigo) quando em dezembro do ano passado fui falar com eles a pedir ajuda para construir uma escola na Guiné-Bissau. Pedia a doação de um objecto e ofereceram um saco cheio de presentes.[1]

1 - Também, continuando o objectivo de dar a conhecer as maravilhas deste país, desta feita nesta “cartolina” falo sobre o mar da Guiné-Bissau.
(Clicar na imagem para ampliar e facilitar a leitura)

2 - O Documentário “Neram N'Dok” que apresenta o processo de gestão participativa de uma área marinha protegida nas Ilhas Urok, no Arquipélago dos Bijagós é muito bonito de se ver. Está disponível neste site com legendas em português: https://vimeo.com/130528214

3 - Ainda a referência a um publicação, disponível neste site para consulta e download:
Guia dos mamíferos do Parque Nacional de Cantanhez, https://www.researchgate.net/publication/322490831_GUIA_DOS_MAMIFEROS_DO_PARQUE_NACIONAL_DE_CANTANHEZ

Muito grato pelo seu contributo em divulgar este projecto.
Cumprimentos,
Renato Brito

____________

Notas do editor:

[1] - Vd. post de 22 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24989: Boas Festas 2023/24 (10): Renato Brito, voluntário que integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau

Último post da série de 9 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25256: Ser solidário (264): Relatório da viagem a Suzana em Fevereiro de 2024 (Manuel Rei Vilar Presidente da Associação Anghilau)

sábado, 9 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25256: Ser solidário (264): Relatório da viagem a Suzana em Fevereiro de 2024 (Manuel Rei Vilar Presidente da Associação Anghilau)

RELATORIO DA VIAGEM A SUZANA EM FEVEREIRO DE 2024

Introdução

Este é o relatório da nossa visita à Guiné-Bissau entre os dias 11 e 22 de fevereiro de 2024 e em particular a Suzana entre os dias 14 e 18 de fevereiro. Relatamos aqui todos os pontos que tínhamos anteriormente programado antes de realizarmos esta viagem. Um programa foi assim previamente elaborado para ser um guião da nossa visita. A realização deste programa ajudar-nos-ia a ter uma melhor ideia sobre a situação escolar e a avaliar a nossa colaboração com a Comunidade de Suzana e o seu Agrupamento Escolar.

Nesta viagem participaram Manuel Rei Vilar e Duarte Rei Vilar, Claude Piétrain (respetivamente Presidente, Vice-Presidente e Tesoureiro da Anghilau) e Marie-Christine Vickridge, uma nova madrinha da Associação. É necessário salientar que os custos desta viagem foram integralmente pagos por cada um dos viajantes e sem qualquer encargo para a Associação Anghilau.

A viagem foi iniciada em Lisboa no dia 11 com um embarque em atraso de mais de três horas do voo da Royal Air Maroc, o que nos levou a perder a ligação para Bissau na escala em Casablanca no mesmo dia e que nos obrigou a passar um dia inteiro nesta cidade à espera do próximo voo para Bissau. Chegámos a Bissau no dia 13 de madrugada. Marie-Christine chegou diretamente de Paris a Bissau no dia 12 de madrugada sem qualquer problema.

Logo no dia 13 pela manhã, pudemos ter uma conversa com Olálio Neves Trindade da Associação VIDA que tem sido uma ajuda preciosa no nosso trabalho e que se deslocou ao hotel Coimbra onde estávamos alojados com o propósito, sobretudo, de abrirmos uma conta conjunta no Banco da África Ocidental (BAO) em S. Domingos. O Olálio já tinha iniciado uma conversa com o responsável desta Agência Bancária, o que se revelou muito útil e facilitou as nossas démarches.

A partida para Suzana ocorreu no dia 14 de fevereiro de manhã com a viatura “Land Cruiser” da Missão Católica de Suzana que a Associação tinha mandado reparar anteriormente. Para seguirmos para Suzana, a viatura foi conduzida primeiramente por um motorista chamado António até S. Domingos. Ao sairmos de Bissau, tivemos uma pequena avaria que foi prontamente reparada numa estação de serviço. Em S. Domingos, encontrámos o segundo motorista de nome Setímio, um rapaz franzino que mais parecia um miúdo mas que já tinha 42 anos e 4 filhos e era um ótimo chofer. As coisas, porém, não correram tão bem e a segunda avaria ocorreu num sitio ermo da estrada de S. Domingos para Suzana, cujo estado continua deplorável, toda esburacada. O diferencial avariou-se num sitio absolutamente ermo da floresta e onde a rede telefónica era praticamente inexistente, foi muito mais grave pois. Depois de muitas tentativas para alertar a Missão de Suzana, pedindo ajuda aos raros carros que passavam, o Duarte conseguiu finalmente encontrar um sitio com rede e pediu auxílio ao Padre Vítor que pouco tempo depois chegou com o outro carro da Missão. O “Land Cruiser” teve de ser abandonado no local para ser rebocado e reparado posteriormente. Toda esta aventura ficou esquecida, pois o acolhimento à chegada a Suzana foi extraordinário com danças e cantares por muitas mulheres que nos vieram esperar para nos dar as boas-vindas.
1 - Segunda pane no meio da floresta
2 - Acolhimento das Mulheres de Suzana à nossa chegada.

Durante a nossa estadia em Suzana, residimos em Varela no Aparthotel Casa Aberta Kassumayaku. Em Suzana não há qualquer possibilidade de alojamento. Varela fica a à volta de 15 km de Suzana é uma estação balnear e tem dois aparthotéis onde há possibilidades de alojamento em pequenas cubatas bastante confortáveis. A estrada Varela-Suzana também se encontra num estado deplorável, tendo muitas vezes que se sair da própria estrada e ir pelo campo, porque a condução em certos sítios da estrada se torna puramente impossível. Nos dias seguintes, o Setímio ia-nos buscar de manhã e no final do dia reconduzia-nos a Varela, o que nos deu a possibilidade de tomar alguns banhos de mar durante a nossa estadia pois a praia de Varela é magnifica. Esta praia que faz parte dum parque natural está neste momento ameaçada por um projeto chinês que pretende explorar as areias pesadas para extrair entre outros metais raros, tais como o zircónio e o titânio numa zona de 5 km de areal. Isso está a preocupar particularmente os habitantes de Varela. Em particular, a nossa amiga Valentina Cirelli que é a proprietária do aparthotel onde ficámos, tem lutado com a comunidade de Varela contra esse projeto para evitar uma catástrofe ecológica.

Foi também nesta praia que encontrámos um português de Cascais de nome Armando Jaime Pinto Ferreira que constituiu uma Associação (As Pedras do Caminho) e circula pela Guiné acompanhado de quatro médicos bastante jovens com o objetivo de prestar assistência médica às populações. Os médicos foram formados na Guiné-Bissau pela Faculdade de Medicina Cubana e contratados pelo Jaime Ferreira. Têm feito centenas de consultas por toda a Guiné.

Ficámos ao todo 5 dias em Suzana, do dia 14 até ao dia 18 de fevereiro. No dia 18, regressámos no carro da Missão Católica conduzido pelo Padre Vítor: o Duarte para Bissau, donde partiu para Lisboa e nós, os três restantes, para um pequeno périplo nos Bijagós, Património Natural da Humanidade. Ficámos no pequeno ilhéu Keré nos Bijagós que se encontra entre duas grandes ilhas, a ilha de Carache e a ilha da Caravela, que tivemos a oportunidade de visitar. Aí, tivemos a sorte de assistir a dois eventos excecionais: em Carache, a um “Tchoro”, cerimónia do regresso da alma dum defunto à sua tabanca natal e na Caravela, a outra cerimónia a que eles chamam “Fanado” que consiste na passagem dos rapazes da adolescência à idade adulta. Dois eventos inesquecíveis!
3 -Poilão - A árvore sagrada da Guiné-Bissau.

• Abertura de uma Conta Bancária na Agência de São Domingos do Banco da África Ocidental (BAO).

Quando fomos de Bissau para Suzana, parámos em São Domingos para irmos à Agência do Banco da África Ocidental (BAO) abrir uma nova conta. De facto, a conta antiga é obsoleta pois ainda estar no nome do Padre Abraão que já não está na Missão Católica. Os titulares da nova conta bancária são agora o Presidente e o Vice-Presidente da Associação Anghilau, Manuel e Duarte Rei Vilar, respetivamente, e da parte de Suzana, o Padre Vítor e o nosso amigo Olávio Neves Trindade. Como cotitulares ficaram dois Professores da Escola de Suzana, o Professor Orlando e o Professor Alfredo que nós já conhecemos das visitas anteriores a Suzana. Só falta, agora, as assinaturas dos quatro titulares de Suzana. A conta é vantajosa também para podemos seguir as operações por “homebanking”.

1 - VISITA ÀS BENFEITORIAS REALIZADAS E SEU APROVEITAMENTO E UTILIZAÇÃO:

• Visita ao Jardim-Escola frequentado por mais de 60 crianças.

As infraestruturas estão em bom estado com exceção da pintura exterior que se encontra bastante deteriorada. O telhado, as pérgulas e as latrinas estão em bom estado de conservação. A mobília encontra-se bastante danificada, em especial as cadeirinhas. Muitas encontram-se partidas e terão de ser reparadas. Teremos de criar um pequeno orçamento para a manutenção da escolinha.

Existe agora um fontanário com agua corrente mas não foi instalado nenhum lavatório para as crianças utilizarem. Propõe-se a instalação de um lavatório duplo. Por outro lado, o Material Escolar é praticamente inexistente e deverá ser fornecido ainda este ano, visto que já se encontra contemplado no Programa de Atividades e Orçamento de 2024.

• Educadoras do Jardim-Escola

Atualmente o Jardim-Escola tem três Educadoras com quem falámos: a Adélia, a Virgínia que vai começar agora a sua formação e a Elisabeth. Enquanto a Virgínia faz a sua formação de 6 meses a Adélia e a Elisabeth asseguram o funcionamento do Jardim-Escola. Quando a Virgínia voltar para o Jardim-Escola, irá a Adélia fazer o Curso de Formação.

• Inauguração da Residência dos Professores e Visita

4 - Inauguração da Residência Cascais-Suzana.

A Residência Cascais-Suzana foi inaugurada solenemente pelo presidente da ANGHILAU. O nome escolhido é o mesmo do projeto que a Associação Anghilau promoveu com o apoio da Câmara Municipal de Cascais que subsidiou uma parte da construção da Residência. Esta encontra-se em ótimo estado em termos de infraestruturas e de mobiliário. Há água corrente na cozinha, nas casas de banho e nas retretes e a eletricidade é fornecida por painéis solares. Os quartos estão cuidadosamente arrumados. A taxa de ocupação da Residência é de 100 %: há 7 quartos duplos ocupados por 14 professores e um outro quarto ocupado pelo Diretor do Liceu onde se encontra arrumado algum material da Residência. Os Professores pediram um retrato do Capitão Rei Vilar para a Residência dos Professores.
5 - Inauguração da Residência Cascais-Suzana e da Biblioteca Camões.

Mais uma vez as mulheres de Suzana nos brindaram com danças e cantares.
6 - Inauguração da Residência Cascais-Suzana com danças e cantares das mulheres de Suzana.

• Inauguração da Biblioteca
7 - Inauguração da Biblioteca Camões.

A Biblioteca Escolar foi também inaugurada solenemente com a denominação de “Biblioteca Camões” em honra do maior poeta da Lusofonia, pois o Português é a língua oficial da Guiné-Bissau que partilhamos com este país.
8 - Reunião com a Comissão de Acompanhamento e outros elementos da Escola de Suzana.

O estado da sala é impecável assim como o mobiliário que foi adquirido igualmente pela nossa Associação e construído por uma empresa jovem da cidade de Bula. Os livros encontram-se distribuídos pelos diferentes anos escolares, arrumados em estantes. Por enquanto, não há um responsável pela Biblioteca mas a Escola secundária EVA e o Liceu vão eleger um responsável entre os Professores, eventualmente o Professor Orlando que já se encontra reformado. A Sala é ampla e a mobília é de boa qualidade e adaptada às visitas organizadas por cada turma. Há lugares suficientes para acolher 30 alunos acompanhados pelo Professor.

• Sala de Informática

Ao lado da Biblioteca Camões situa-se uma outra sala que está disponível onde se poderá instalar uma futura Sala de Informática da Escola de Suzana. No entanto, esta sala encontra-se bastante deteriorada sobretudo no telhado e com uma parede rachada de alto abaixo. Assim, para a utilizarmos ter-se-á de reparar o telhado e a parede. O Professor Alexandre Apaiam encontra-se à espera de formação de um curso de informática e manutenção do material informático a fim de ensinar os Professores e alunos e se poder responsabilizar pelo equipamento informático.

• Fontanários

O abastecimento de água corrente em Suzana é agora realizado por mais do que uma dúzia de fontanários que foram em parte subsidiados pela nossa Associação. O funcionamento destes fontanários não é contínuo visto que alguns deles dependem de bombas alimentadas em eletricidade por painéis solares… e quando não há Sol não há água.

• Painéis solares

Vários painéis solares foram instalados pela Associação Anghilau (Residência dos Professores e Fontanários) e encontram-se em bom estado de funcionamento.

• Computadores

Existem três computadores oferecidos pela Associação Anghilau e cedidos pelo Banco Alimentar: um está com o P. Vítor, o outro está com o Prof. Nicodemos, Diretor do Liceu e o terceiro com o Prof.

Alexandre Apaiam. O computador do Professor Alexandre não funciona bem e bloqueia ao fim de pouco tempo. Não temos informação sobre o estado de funcionamento dos outros dois computadores.

• Refeições do Jardim-Escola

As refeições do Jardim-Escola têm funcionado. A preparação é feita pelas cozinheiras da Missão Católica. A aquisição dos produtos alimentares não é fácil. Há necessidade de implementar o desenvolvimento duma horta para a produção de hortaliças e legumes. Para isso ter-se-á de falar com a Senhora Palmira Djata para envolver a Associação de Mulheres de Suzana.

Formação Profissional

Não foi possível realizar encontros com os alunos que estão em formação profissional fora de Suzana. Lembro que o Gino Djata está a tirar a Carta de Condução de Pesados, o Óscar Djedjo está a tirar o curso de eletricista e o Ermano Ebidja, o curso de canalizador. O Alexandre Apaiam ainda não conseguiu arranjar lugar num curso de informática e manutenção de computadores. 2 - REUNIÕES

• Reunião com os Diretores da Escola EVA, do Liceu de Suzana e da Comissão de Acompanhamento no dia 16 às 16 horas locais.

Tivemos uma reunião com a Comissão de Acompanhamento e com vários Professores, alguns deles bastante jovens, muito implicados, além do Professor Orlando, o Senhor Ujdili, Responsável do Registo Civil, da Senhora Palmira Djata, que é Presidente da Associação das Mulheres de Suzana e sogra do nosso amigo Olálio Neves Trindade e com o Padre Vítor Pereira, Prior de Suzana além de alguns membros da Assembleia dos Homens Grandes e outros habitantes de Suzana. Após uma homenagem ao Capitão Rei Vilar por parte da comunidade e agradecimento pelos benefícios que a nossa Associação tem trazido a Suzana, coube-nos a nós agradecer em nome da Associação a participação de todos nas cerimónias da inauguração da Residência Cascais-Suzana e da Biblioteca Camões. Duarte Rei Vilar lembrou que a nossa comitiva estava em Suzana para representar os 60 associados da Associação Anghilau e que sem eles não teria sido possível realizar os benefícios que foram introduzidos em Suzana. Manuel Rei Vilar enumerou os nove projetos contidos no Plano de Atividades de 2024. Uma das senhoras presentes declarou que todo o dinheiro implicado nos projetos da Associação Anghilau em Suzana tem sido totalmente utilizado pela Comunidade e não é atribuído a famílias ou a particulares. Esta declaração foi fortemente aplaudida pela audiência. Um dos presentes, afirmou que tudo o que fizemos deveria ter sido realizado pelo Governo, mas como não foi… “vós sois o nosso Governo”. Foi mencionado que algumas salas de aula não podem ser utilizadas durante o período das chuvas devido ao mau estado dos telhados por entra chuva. Falou-se de algumas necessidades de Suzana, entre outras da criação duma horta para a produção de hortaliças de legumes. Falou-se também da necessidade de painéis solares e duma televisão para as crianças ou outros meios audiovisuais para a Escola de Suzana. Pouco antes do final da reunião, houve um pedido de uma ambulância que é considerada uma necessidade de extrema importância para Suzana. Manuel Rei Vilar respondeu que a nossa Associação não tem meios para comprar uma Ambulância. No entanto, iremos trabalhar no sentido de apresentar um pedido de subsídio a várias instituições suscetíveis de conceder o financiamento para essa aquisição. Um dos participantes Bissau-Guineenses pediu que a Associação oferecesse uma fotografia do Capitão Rei Vilar para se expor na Residência dos Professores. Manuel Rei Vilar agradeceu a constante ajuda do Padre Vítor Pereira e do nosso amigo Olálio Neves Trindade.

Em relação aos Diretores das Escolas de Suzana, tivemos contacto com o Diretor do Liceu, o Professor Nicodemos Djata que é natural de Cassolol, uma tabanca vizinha de Suzana antes de Varela. O Diretor da Escola Eva (Escola de Verificação Ambiental) de Suzana que é o Professor Ismael Djata, natural de Suzana, não se encontrava pois estava ausente em Bissau. Com o Diretor do Liceu abordou-se a questão da atribuição e gestão das Bolsas de Estudo (Universidade ou Cursos técnico-profissionais) que a curto prazo deverá ser formalizada, mediante a definição de algumas orientações. O jovem Diretor do Liceu, Professor Nicodemos, manifestou o desejo de seguir um curso de Ciências da Educação.

No final da nossa visita, a Equipa REI VILAR brindou-nos com um pequeno desafio de Futebol.
9 - Equipa de Futebol de Suzana (REI VILAR – Associação Anghilau)

3 - SITUAÇÃO ATUAL DE SAÚDE EM SUZANA.

A Missão Católica de Suzana dispõe de um pequeno Centro de Saúde que conta com a ajuda da Irmã Eurizanda, Bissau-guineense e de uma jovem irmã, além de uma outra senhora da tabanca de nome Manuela. Alem disso, elas contam com o serviço de uma parteira tradicional de Suzana. Quando visitámos o Centro de Saúde havia pessoas que estavam a ser tratadas: um rapaz que tinha caído de uma palmeira e que estava com os braços esfolados, um menino acompanhado com o seu pai com dores de cabeça e uma mãe com um bebé que tinha um mês e só pesava 2,700 kg porque a mãe não tinha leite para lhe dar. As irmãs queixaram-se que não têm medicamentos para dar aos enfermos. A Irmã Eurizanda reforçou a ideia da necessidade urgente de uma ambulância para Suzana.
10 - Centro de Saúde da Missão Católica de Suzana

4 – Visita A Budjim

Fizemos ainda uma visita à Escola de Budjim, uma tabanca já muito próxima da fronteira do Senegal. O capitão Rei Vilar tinha aí mandado construir uma Escola que já não existe e foi substituída por outro edifício maior. Em Budjim há escolaridade desde o Jardim-Escola até ao quarto ano. Há cerca de 70 alunos dos quais cerca de 30 no Jardim-Escola. Há grandes necessidades e os professores querem instituir mais dois anos de escolaridade. Pediram-nos para enviarmos algum material escolar para o Jardim-Escola.
11 - Partida de Bissau

Este é o relato da nossa viagem a Suzana e ao seu Agrupamento de Escolas. As necessidades são enormes mas tenho confiança que a nossa Associação continuará a estabelecer pontes para ajudar a comunidade Felupe de Suzana, as suas Escolas e as suas crianças.

Em nome das crianças de Suzana, agradeço a vossa implicação!

Manuel Rei Vilar
(Presidente da Associação Anghilau
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Nota do editor

Último post da série de24 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24883: Ser solidário (263): Relatório da nossa 38.ª Missão Solidária que decorreu entre os dias 28 de Outubro e 04 de Novembro de 2023 na Guiné-Bissau (Afectos Com Letras)

segunda-feira, 4 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25236: Notas de leitura (1672): "A Cidade Que Tudo Devorou", por Amadú Dafé; Nimba Edições, 2022 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Agora há que esperar mais obras de consagração, só se espera o melhor da escrita de Amadu Dafé. A narrativa de A Cidade Que Tudo Devorou é a prova provada que ele tem um domínio absoluto de uma escrita inovadora, tece uma radiografia arrasadora das instituições e dos avatares de um Estado falhado, caldeia com mão segura o poderoso animismo africano (que influi até na vida dos crentes muçulmanos guineenses) as desventuras de um país em roda livre, fala abertamente na escravatura das crianças, na impunidade absoluta dos traficantes de droga nos Bijagós, no envolvimento dos políticos e militares em negócios fraudulentos, com ajustes de contas sanguinários. Não há no seu discurso um milímetro de nostalgia da vida colonial, há é a lembrança das cadeias de solidariedade, de uma cidade limpa onde era agradável passear, e que se tornou numa quase montureira, com o património a despedaçar-se, uma economia assente na depredação florestal (com os ávidos chineses por trás, sempre rapaces) e no caju, como se fosse possível a nação progredir com a ajuda humanitária, o neocolonialismo chinês e o caju que vai para a Índia. Amadu Dafé não só escreve livro notável, deixa para quem quiser estar atento, um libelo arrepiante, referencial para o futuro próximo e longínquo.

Um abraço do
Mário



Paraninfo para um escritor maior da literatura luso-guineense (2)

Mário Beja Santos

Continuamos a falar do romance "A Cidade Que Tudo Devorou", por Amadu Dafé, Nimba Edições, 2022. O autor lavra esta sua tragédia com inovação na escrita, este é português com terminologia guineense, o belo crioulo há séculos inventado e sempre mutante; tragédia porque houve traição, não se cumpriram os sonhos de Cabral, houve classes políticas gananciosas, inescrupulosas, ressalvadas as distâncias montaram oligarquias junto do círculo íntimo tanto do Partido Único como dos quadros partidários subsequentes; daí os desfechos da autoestrada da droga, do património escalavrado, dos assassinatos, dos golpes; mas mesmo dentro destes lugares devorados há paixões e esperança e os irans são grandes senhores dentro destas portentosas florestas tropicais, veja-se uma descrição magistral do autor falando deste habitat onde pontificam os poilões:
“Os seus perfumes atraem mais insetos e, por isso, os pássaros colhem boas recompensas. As suas folhas são deliciosas e as girafas são beneficiadas. Os seus galhos são robustos e os macacos conseguem dormir num conforto deslumbrante. Os esquilos fazem bons tálamos no interior dos seus troncos; os ratos, manguços, iguanas, suricatas fazem lindas tocas nas fissuras abertas pelas suas raízes (…) Os poilões, aos pares, amam-se, porque não sabem ser de outra maneira e porque dão corpo ao espírito dos irans.”

Lê-se este estupendo romance como se vê um retábulo, a peça central, a placa giratória, é Bissau a que tudo falta, tecem-se, por meios colaterais, narrativas de perdas e achados, a aparição de grandes amores, logo transtornados, conversações que só um animismo milenário permite, daí o papel dos balobeiros, de certos fantasmas, descobrimos que um dos heróis do romance, além de carteirista e marinheiro, está destinado a estranhas missões, uma delas vai correr mal e vai custar a vida a N’Sunha Badjuda, tudo ocorre numa cilada, tudo vai correr mal a este nosso herói, vai parar à prisão, há um espírito que o liberta, por indicações recebidas vai parar a um balobeiro, uma figura de indumentária extravagante fará uma apreciação da Guiné colonial e da sua transição para a independência, são evocados os antigos combatentes.

Mais adiante, o nosso herói recebe instruções para ir ao aeroporto buscar alguém, e o autor faz-nos um comentário do caos que se vive no aeroporto quando chega o avião de Lisboa, pela madrugada:
“A razão por que muita gente ia ao aeroporto, a cada vez que chegava um avião, receber encomendas, deve-se à ausência dos serviços essenciais. Esta era a única forma das nossas diásporas manterem o contacto com a terra, ajudando os pobres familiares que ficaram para trás. O cais do porto de pindjiquiti andava sombreado por uma maré trivial, porque nada chegava pelos navios, ao contrário do afluído aeroporto. Nem mesmo as prostitutas das feiras de caracol eram concorridas como o nosso aeroporto.”

E aquela menina vinda de Lisboa, de nome Sónya, aceita o transporte, fala-se de Bissau e dos irans de tchon-de-papel, da estátua de Cabral, que não deve andar descansado pela traição dos seus camaradas da luta de libertação nacional, o nosso herói cumpre as instruções do Almirante, dirige-se à embaixada de Cuba, temos agora uma história de aventura e ação, mete embaixador e colaboradores, Cabral e Che Guevara são invocados e nisto seis homens armados, fardados e encapuçados, invadiram a sala e dispararam indiscriminadamente , cabe a Sónya o discurso na primeira pessoa do singular, se há pessoa que não sabe o que se está a passar é ela, quem vem quer saber do produto, traz-se uma mala que o herói recebeu do Almirante, o que lá está é pura deceção, há tiroteio, o embaixador morre, quem aparece é António Tabaco, por acaso é conhecer de toda a história do nosso herói e desta Sónya, Tabaco é um intermediário da droga, o nosso herói é espancado, aquele produto é um mistério, acontece que o livro que Sónya escrevera tem algo de premonitório, nisto entra um ministro em cena, novo tiroteio, o Almirante caiu de joelhos, é mortalmente esfaqueado, mas o ministro também não escapou.

Há intenso realismo mágico em toda esta narrativa a que Amadu Dafé em subtítulo diz ser “Uma história confusa, caótica, nunca é escatológica, porquanto do caos nasce a ordem, a amoralidade da natureza.” Regressam à cena pais falecidos, há quem esteja interessado em devolver o sonho de felicidade às crianças, como justifica Sónya:
“Libertá-las dessa maldição que é a escravatura, a miséria e claro, as drogas. A estratégia para completar o puzzle passa por escrever e publicar sobre aquele fenómeno do desaparecimento de crianças nas ilhas e todo o mal que as drogas têm causado ao país. É esta a visão que tenho do momento, e embora o meu gato não tenha aparecido como de costume, acredito que as coisas tenham mudado de ângulo para nos permitir enxergar melhor.”

Andam os dois caminhando por Bissalanka, Sprança lembra-se do manuscrito que está guardado na sua caverna, quando lá chegam tudo tinha ardido naquele edifício que era um quartel antigo que tinha sido reabilitado com o fito de travar uma batalha secreta contra o mal das drogas e a escravatura. Sónya e Sprança mostram-se dispostos a cooperar para devolver o sonho de Cabral ao país. Caminham pela margem até ao estuário de Bissalanka, Sprança anuncia que o pai de Sónya mora ali, entrámos no universo da fantasmagoria, por processo antropomórfico aquele pai é agora um gato cinzento. “Enrosca-se em mim, como uma chapa de zinco ondulada nas coberturas das casas da capital. Levanta a cabeça e olha de mansinho para mim. A sua cara expressa alguma aflição e eu prontifico-me para uma operação de salvamento, levando-o ao colo.”

A Cidade Que Tudo Devorou é uma obra inesquecível do que há de melhor da literatura luso-guineense, aliás Amadu Dafé teve o cuidado de nos dar um glossário que facilita a compreensão de inúmeros termos. Amílcar Cabral temia Bissau depois da independência, era também a premonição de que os vencedores pretendiam o melhor da vida civilizada, apoderaram-se das casas do pessoal colonial, usaram as ajudas para terem bons carros, Bissau cresceu desmesuradamente com quem vinha à procura do Paraíso, de deceção em deceção, inventaram-se inimigos internos, fuzilaram-se antigos militares que apoiaram os portugueses, houve empreendimentos megalómanos e a latente tensão entre cabo-verdianos e guineenses cresceu violentamente, deu-se a rotura, a economia falhava, vieram novos auxílios e criou-se uma oligarquia com peso agrário. À falta de recursos, abriu-se a porta à droga, comprovadamente Bissau tornou-se na cidade que tudo devorou, como magistralmente Amadu Dafé, já se apresentara como uma promessa da grande escrita, nos apresenta em obra que irá dar muito que falar.

Bissau, feira de Bandim em hora de ponta
Apreensão de cocaína na Guiné, imagem retirada do site VOA Português – Voz da América, com a devida vénia
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Notas do editor:

Post anterior de 26 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25216: Notas de leitura (1670): "A Cidade Que Tudo Devorou", por Amadú Dafé; Nimba Edições, 2022 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 1 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25229: Notas de leitura (1671): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (14) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25216: Notas de leitura (1670): "A Cidade Que Tudo Devorou", por Amadú Dafé; Nimba Edições, 2022 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Se um grande romance é uma história bem contada, Amadú Dafé recebe a cotação máxima com esta "A Cidade Que Tudo Devorou", vamos embrenhar-nos na cidade de Bissau, palco de assassinatos, guerra civil, roubalheiros de toda a ordem, ninho de paixões, corredor da droga, cenário de mística, mundo dos balobeiros, conversas entre mortos e vivos; uma Bissau desmazelada, onde impera o caos, um povo surpreendentemente resignado com décadas de desgovernação; e uma arquitetura literária de primeiríssima água, os sonhos de Amílcar Cabral não se cumpriram mas os guineenses roubaram-nos muito bem a língua, este belíssimo romance é a prova provada de que a língua se renova, se universaliza na identidade que lhe é dada pelo escritor em nome da fala comum dos povos que são a matéria prima da sua escrita. É com muito orgulho que vejo alcandorado Amadu Dafé ao lado de Abdulai Sila, Mia Couto, Pepetela, Luandino Vieira, Ondjaki, João Paulo Borges Coelho, entre outros. Que nos surpreenda mais com outras gemas literárias, são os meus sinceros votos.

Um abraço do
Mário



Paraninfo para um escritor maior da literatura luso-guineense (1)

Mário Beja Santos

Já conhecia um livro belíssimo de Amadú Dafé, Ussu de Bissau, uma denúncia corajosa do desvio de crianças guineenses para o tráfico sexual e escravatura, só lamento que esta joia quase seja mantida no anonimato, possui uma tessitura muito própria, uma construção subtil que confirma que não há esmalte literário se a história não é bem contada e não a retivermos como valor no edifício dos nossos princípios.

A obra que acaba de dar à estampa coloca-o ao nível dos primeiros nomes da literatura da Guiné a alcandora-o a expoente entre as figuras principais da literatura lusófona. Ele pega numa frase do investigador António Duarte Silva para construir a radiografia da Guiné atual, centra-se em Bissau, A Cidade Que Tudo Devorou, Nimba Edições, 2022. A urdidura das peripécias que ele vai narrar investem no realismo mágico, há para ali uma língua portuguesa que é desossada, recebe injeções de crioulo, desce ao terreno da laterite, mete golpismo, assassinatos, delinquência, gente que conversa com fantasmas, paixões desmesuradas, desmonta-se o machismo, aquele maldito mercado da droga, ali se fala sem cessar das crianças misteriosamente desaparecidas do arquipélago dos Bijagós. São narrativas que se entrepõem, há falas para irmos até ao abismo das mentes e perceber o que move N’Sunha Sprança, Sonya, Lante Ndam Kdutar, Tabaco, Almirante, Kanserá Só, todos a contracenar num palco dramático, porque este primor literário não é só uma radiografia, é o espelho de uma tragédia, onde se fala permanentemente do caos em que vive uma nação mas onde os jovens ainda têm uma réstia de esperança.


É literatura da modernidade, as mulheres são mostradas fora da submissão, mas não se deixa de mostrar a moral vigente:
“Estava feliz. Não teria mais de suportar aquele ardente desejo de ser casada, aquela pressão social de ter de encontrar um homem bom, pressão esta que lhe fez espécie desde que se formou badjuda. Era ela e eram todas as outras mulheres da terra. Mesmo aquelas que tinham, pela alcunha, uma premonição menos favorável, ansiavam pelo aparecimento de um homem para casamento. A sorte da mulher é na porta do casamento, dizia-se. Um dos mais fortes sinais de machismo e misoginia enraizados nesta sociedade, é este castramento de sonhos e construção de dependências. As mulheres só podem sonhar com casamento; são frágeis e sensíveis e por isso precisam de alguém que cuidasse delas. Já os homens podem sonhar alto, almejar riquezas, lutar pelo poder e desposar mulheres, várias. Podem juntá-las na mesma casa, como peças de mobiliário, e podem consigná-las a casa um, casa dois, casa três, ou a vários lares a seu bel-prazer, sem lhes atribuir a propriedade da própria felicidade. Conseguem-no em nome da mentira e a custo de uma manipulação desenfreada. A troco das dependências e fragilidades a que elas se sujeitam.”
A conversa entre mãe e filho é palpitante, o pai morrera de forma tão dramática, vivia tão arredio da paixão da mãe que esta guardou no espírito a imagem de um homem que já não lhe pertencia.

E entra em cena N’sunha, e em simultâneo com a paixão de jovens fala-se do morto, Lante Ndam Kdutar, há pouco tempo houvera uma guerra civil em Bissau, vamos saber o que aconteceu: “Ficou claro, mais tarde, para os que se juntaram aos dois oponentes nesta barbarice, de que tinham arriscado a vida em vão. Mataram civis inocentes, pilharam armazéns e desgraçaram o país, deixando-o refém nas mãos dos políticos mal preparados, por causa de um cisme absurdo. Foi vendida a todos a ideia de uma divergência sobre a venda de armas aos insurretos do país vizinho, porém, por maior que seja a montanha, jamais envergará o Sol.” Lante apresentou-se no quartel de Mansoa, assistiu à crueldade de uma chacina dementada: “Quando as tropas da junta militar invadiram aquele quartel, não fizeram reféns nem presos de guerra. Os corpos mortos dos chamados aguentas, crianças e jovens guineenses que lutaram ao lado dos militares estrangeiros, vindos do Senegal e da Guiné-Conacri, para a junta governamental, foram largados nas ruas para os jagudis, os cães, gatos e corvos se alimentarem. A cidade tresandava a sangue podre e a almas desabrigadas.” É nesta altura que Lante vai conhecer uma rapariga de seu nome Sán’nan. Gozando de uma vida familiar às direitas, é nessa altura envolvido numa operação golpista, o móbil é o assassinato do presidente da República, por portas e travessas o presidente escapa e é levado para uma tabanca, cena hilariante, da mais refinada tragicomédia, os papagaios vão botando palavrões, o presidente disserta sobre a classe política, nunca diz explicitamente de que etnia fala, mas tece um comentário cheio de vitríolo: “Esta gente, por natureza, vive pelo poder. Embora durante a nossa luta de libertação se tenham mantido esquivos, porque eram os grandes aliados dos colonizadores, disfarçando-se sempre de comerciantes desinteressados, sempre tiveram o poder em mira. São uma espécie de camaleões venenosos e conseguem disfarçar com uma perícia do caralho… Até a sua religião, que é de uma particularidade diferente da das crenças nacionais, fá-los passar despercebidos.”

E, mais adiante: ”Depois da nossa independência e ao verem-se perseguidos pelo partido que os considerou traidores, por terem sido aliados dos colonizadores, enveredaram-se pela estratégia de espionagem, disseminação de intrigas e conspirações nas fileiras das nossas forças armadas e nas nossas estruturas políticas, em busca da recuperação dos privilégios perdidos ao longo das últimas décadas (…) Nunca aceitaram Cabral como um herói. Ainda hoje veneram os seus líderes que há séculos fizeram aquelas incursões de ocupação desta região e acabaram por transformar toda a zona num lugar de confusões, conspirações e instabilidades, a partir das quais dominaram os planaltos à volta dos rios, essenciais para a pastorícia e o comércio. A verdade, porém, é que foram sempre uma minoria nesta zona, mas com a estratégia de dividir para reinar, tomaram conta de tudo e de todos.” O presidente deposto acaba baleado.


Mudamos agora de campo de ação. Alguém, inominado, está a ordenar papéis, veio até à Guiné numa missão tão mística quanto divina, veio para impedir uma guerra civil iminente, leva uma existência entre o pretérito, o presente e o futuro, é assumidamente a filha de um fantasma e conta-nos onde começou este sonho messiânico, como chegou à Guiné-Bissau, vamos agora navegar entre feitiçaria, doenças do foro da saúde mental, há espaço para as almas do outro mundo e conversação com os mortos, esse alguém veio seguramente de Portugal. E parece que estamos a mudar de cenário, vamos conhecer o balobeiro de Bissilanka, voltamos a ouvir falar em Sán’nan e apresenta-se Sprança: “Cresci como Sprança, sem o é, porque o é, transfigurado de raiva, também da minha parte, expulsou esse alguém, afastando-o dali, fisicamente.” Sprança conheceu N’Sunha Badjuda junto ao pátio da escola de djembrem (barraca), ao lado da casa do General Anónimo, ela acaba por ter por ele embeiçamento, há sempre fantasmagoria, chegou a hora de mostrar a importância dos irans, cabe a N’Sunha a narrativa: “Dizia que ao crescerem juntos, os poilões, habitat natural dos irans, passam os dias a competir, cada um a querer ser o melhor, a tentar captar mais a atenção do resto da floresta e ver-se mais cortejado pelos animais. Entregam-se ao som do vento para verem quem dança melhor. Atiram-se de cabeça desgrenhada às trovoadas, à prova de oposição contra os raios piromaníacos e contra as tempestades devastadoras. Enquanto uns penetram o solo até ao manto, outros engrossam as suas raízes para a superfície. Se uns alargam os ramos para abraçar toda a floresta, outros aumentam o verdume das suas folhas para cromatizar todo o ambiente.”

Aqui se interrompe a recensão, segue no próximo número, adverte-se o leitor que estamos perante um caso muito sério do que melhor existe na literatura luso-guineense.

Leitura imperdível.

(continua)

Bissau, feira de Bandim em hora de ponta
Apreensão de cocaína na Guiné, imagem retirada do site VOA Português – Voz da América, com a devida vénia
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Nota do editor

Último post da série de 23 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25204: Notas de leitura (1669): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (13) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25189: Notas de leitura (1668): "Amílcar Cabral e o Fim do Império", por António Duarte Silva; Temas e Debates, 2024 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2024:

Queridos amigos,
Impõe-se um esclarecimento, antes de mais, este texto que ponho à vossa consideração seguiu igualmente para alguns órgãos da imprensa regional, entendi que tinha aqui pleno cabimento fazer referência, nos mesmissimos termos, de um livro que, estou certo e seguro, durará décadas até que venha uma outra investigação tão potente de um olhar diferente, talvez mais original. Há livros assim, como a biografia política de Salazar, de Filipe Ribeiro Meneses, demorará muito tempo investigar-se mais e melhor, como a biografia de Hitler, da autoria de Ian Kershaw, ou a de Churchill, de Martin Gilbert. Mas quanto a biografias de Amílcar Cabral, cometeria a mais grosseira injustiça não referir outros trabalhos como o livro premiado de Julião Soares Sousa, as biografias de António Tomás, Oscar Oramas, ou as Memórias de Aristides Pereira e Luís Cabral, não esquecendo uma obra de consulta obrigatória de Leopoldo Amado, as entrevistas que fez para o livro de Aristides Pereira intitulado "O Meu Testemunho".

Um abraço do
Mário



Aqui se revela o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral

Mário Beja Santos


Publicado no ano do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, temos finalmente uma biografia escrita por um investigador português que é simultaneamente um livro de história, de política e de direito, em torno de um líder revolucionário africano que criou o PAIGC, que deu voz aos movimentos nacionalistas africanos de língua portuguesa nos areópagos internacionais, admirado pelo seu pensamento original, pelos seus dotes diplomáticos e como estratega militar. O seu nome está associado à construção de duas nações, à renovação do pensamento revolucionário à escala mundial e ao determinante contributo que deu à queda da ditadura e à descolonização portuguesa: "Amílcar Cabral e o Fim do Império", por António Duarte Silva, Temas e Debates, 2024.

Devo fazer uma declaração de interesse: o autor honra-me com a sua amizade desde longa data, fui sentindo, pelos anos fora, como esta escrita lhe ia pulsando da investigação, credora de um olhar completamente distinto de outras obras de cariz biográfico.

 Posso afirmar, sem a mínima hesitação, que se trata de uma investigação memorável, tem uma moldura biográfica tão distinta que põe esta obra ao nível dos ensaios biográficos que resistem aos caprichos do tempo. O autor tem um currículo firmado, de grande qualidade científica, que inevitavelmente o catapultou para este exercício que comporta uma conclusão que certamente assombrará muitos leitores: ao delinear um modelo praticamente idêntico numa colónia em guerra fazer uma consulta popular que culminaria numa declaração unilateral de independência, nunca Cabral imaginou que tal processo iria, a breve trecho, escancarar as portas à descolonização portuguesa. Como o próprio autor declara:

“Concluo que a declaração unilateral de independência do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, como ato e prova da soberania e da autodeterminação interna e externa, foi, pelo seu êxito e impacto no fim do colonialismo português e apesar de formalmente posterior ao seu assassinato, o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral.”

É um longo itinerário discursivo onde cabem as primeiras reuniões dos movimentos unitários contra o colonialismo português, a reunião de Bissau em setembro de 1959, os primeiros opúsculos e memorandos, como o PAI/PAIGC se foi afirmando à escala internacional, a preparação da luta e os apoios à formação de quadros, os primeiros relacionamentos com a ONU, a consolidação do pensamento ideológico (a constituição da vanguarda, o papel da pequena burguesia e da massa camponesa); a convulsão no Sul da Guiné, a partir do segundo semestre de 1966, a Operação Tridente, o Congresso de Cassacá, o crescimento imparável da guerrilha, os assentamentos em território colonial, o apoio cubano, Schulz, Spínola; a formulação de Cabral de que a luta de libertação nacional é um processo cultural, libertador, um regresso à identidade; as preocupações de Cabral em estabelecer pontes para a organização de um quadro jurídico que levasse à aceitação internacional, uma gestação que preludia a decisão de tomar a iniciativa de fazer uma declaração unilateral de independência; o reconhecimento de Spínola de que não se podia ganhar militarmente a guerra e a proposta de medidas que os órgãos de soberania recusaram; a ofensiva político-diplomática culmina em 1972 com a visita da missão especial da ONU, em Abril, a eleição da Assembleia Nacional Popular, a última tentativa de Spínola de negociar um entendimento, recusa de Marcello Caetano; e chegamos ao assassinato do líder revolucionário e o autor observa: 

“O PAIGC ficou sem cabeça, pois não havia ninguém capaz de o substituir, especialmente na discussão de ideias, na definição de grandes objetivos e na diplomacia. Morto, Cabral deixava pronto o processo de independência da Guiné-Bissau, um programa mínimo conseguido, um programa maior para aplicar e uma unidade orgânica com Cabo Verde por concluir.”

O autor disseca os antecedentes de declarações unilaterais de independência e como Cabral foi preparando uma recetiva atmosfera internacional. Em 1972, obtém apoio soviético para deter uma arma que leve a guerra a um patamar mais elevado – os mísseis terra-ar, que farão destruições a partir de março de 1973, e deixaram as forças portuguesas em polvorosa. 

Numa reunião de chefias em 8 de junho com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tomou-se a decisão de retrair o dispositivo português, o objetivo era consolidar um reduto que pudesse garantir uma solução política. 

“Em reunião com Costa Gomes e os ministros da Defesa, do Ultramar e da Marinha, Marcello Caetano pôs a hipótese de preparação a retirada progressiva das tropas, para não prolongar um sacrifício inútil, designando um oficial-general para liquidar a nossa presença, ao que Costa Gomes terá retorquido ser possível a defesa militar enquanto não aparecesse a aviação.”

E temos o legado de Cabral: o II Congresso do PAIGC (julho de 1973), a cerimónia no Boé, em 24 de setembro, a proclamação da Constituição, a decisiva resolução 3061 da ONU, de 3 de novembro, a admissão da Organização da Unidade Africana, também em novembro; o acordo de Argel, a 26 de agosto de 1974; as iniciativas para a descolonização e independência de Cabo Verde, e a assunção da nova república; e o caminho para o desastre da unidade Guiné-Cabo Verde, a governação de Cabral, o golpe de Estado de 14 de novembro de 1980, a cisão partidária.

“O Estado da Guiné-Bissau nasceu frágil e rapidamente entrou em colapso. Bissau tornou-se uma cidade-Estado e devorou a luta de libertação nacional. A revisão constitucional de 1980, destinada a consolidar a unidade Guiné-Cabo Verde, trouxe o fim do regime. No início da década de 1990, ambas as Repúblicas transitaram para a democracia representativa e pluralista. Em 1998, uma rebelião militar originou uma guerra civil e a Guiné-Bissau derivou para Estado-falhado. Sob a tutela das FARP, o PAIGC manteve-se no poder. Assumira-se sucessivamente como um partido político autónomo, binacional e clandestino, um movimento de libertação nacional, um Partido-Estado, a força dirigente da sociedade, um partido nacional, o partido único e um partido político democrático. Embora com sobreposição destas diferentes naturezas, estatutos e funções, ainda sobrevive; não passa de uma mescla, dotada de uma sigla antiquada, equívoca e desgastada. Em Cabo Verde foi substituído por um partido herdeiro e novo, o PAICV.

Com Amílcar Cabral, seu ideólogo e líder, o PAIGC ficará na história como o movimento de libertação nacional que alcançou a independência associada da Guiné-Bissau e de Cabo Verde que contribuiu decisivamente para o fim do império colonial português. Política, diplomática e juridicamente, o momento transcendente foi a declaração unilateral de independência da Guiné-Bissau, o maior feito revolucionário de Amílcar Cabral, fundador do PAI primordial e PAI das Repúblicas irmãs da Guiné-Bissau e Cabo Verde, pelas quais deu a vida.”


De leitura obrigatória, documento da maior exigência para a consolidação das relações luso-guineenses, devia ficar nas mãos de todos os investigadores de estudos africanos em Portugal e na Guiné-Bissau, e ser alvo de estudo continuo dos estabelecimentos escolares da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Tenho sérias dúvidas que esta abordagem venha a ser ultrapassada nas próximas décadas.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25121: Notas de leitura (1662): "Os três rostos da Igreja Católica na Guiné" (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Julho de 2022:

Queridos amigos,
O levantamento efetuado por Frei Vicente respeitante à missionação católica na Guiné é uma leitura pessoal que em nada colide com a obra de referência do Padre Henrique Pinto Rema. Este missionário procedeu a uma leitura de três momentos históricos de tal missionação: a que vai da criação da Diocese de Cabo Verde até 1932, um segundo momento que se estende com o regresso dos missionários até 1977; e a partir desta data um período que ele designa por igreja particular contemporânea, igual a todas as outras, pobres e ricas, projetada por bispos de grande prestígio e exemplaridade. Intervindo na educação, saúde e apoio social, tendo um ensino de gabarito, gestão de instituições de saúde com funcionamento impecável, criando escolas de artes e ofícios, um pouco por toda a parte, justifica-se a confiança deste missionário na crescente projeção desta comunidade de fiéis que não conhece qualquer hostilidade por parte da comunidade islâmica com quem dialoga nas diferentes áreas da sua intervenção.

Um abraço do
Mário



Os três rostos da Igreja Católica na Guiné (2)

Mário Beja Santos

Na mesma revista Itinerarium n.º 227, referente ao primeiro semestre de 2022, dos franciscanos missionários, donde, aliás, já fizemos referência ao Diário do Padre Macedo que testemunhou os primeiros anos da independência da Guiné-Bissau, vem um artigo assinado por Frei João Dias Vicente intitulado “Os três rostos da Igreja Católica na Guiné”, cujo teor merece ser referenciado por alguns aspetos inovadores da leitura historiográfica e religiosa que ele faz. Recorde-se sumariamente o que se escreveu no texto anterior. Sem detrimento da visão global enunciada na obra de referência do Padre Henrique Pinto Rema, "História das Missões Católicas da Guiné", Frei Vicente divide todo o período histórico da missionação em três momentos maiores: a partir de 1533, data da criação da Diocese de Cabo Verde, que inclui os Rios de Guiné, até 1932, data do regresso aos Rios de Guiné dos franciscanos; o segundo momento compreende o período de 1932 a 1977, data da criação da Diocese de Bissau e escolha do primeiro bispo; e o terceiro momento estende-se de 1977 aos nossos dias.

Quanto ao primeiro momento, o autor detalha diferentes fases de missionação, não esquece os padres jesuítas, dois deles, Padres Baltazar Barreira e Manuel Álvares, deixaram informações escritas de grande importância. Assim chegamos ao virar do século XVIII, permanecem na região da Guiné os Franciscanos da Soledade, prestando assistência nas principais praças existentes. Entrara-se num período de decadência das missões, a presença portuguesa estreitara-se e pode dizer-se que a situação política nos Rios de Guiné, na segunda metade do século XVIII, era altamente problemática. Em 1778, as Praças da Guiné sob o domínio português eram: Bissau, Cacheu, Geba, Farim e Ziguinchor. As intrigas e o divisionismo entre autoridades civis e eclesiásticas eram constantes. E escreve dizendo que se os frades deram frequentemente escândalo na sua vida moral e religiosa e no desrespeito, as autoridades civis, por sua vez, não eram melhores.

São tempos de crise de vocações, tempos de crise na atividade missionária franciscana na Guiné. Não admira que em 1802 só houvesse 3 frades na Guiné, em 1806 eram apenas 4 (2 em Bissau e 2 em Cacheu); os últimos frades na Guiné terão existido provavelmente até 1823, como certifica o Procurador-Geral da Província da Soledade. A partir de 1824, os relatórios do mesmo Procurador-Geral já só falam das suas missões de Cabo Verde, sinal de que na Guiné já não estaria nenhum frade. A extinção das Ordens Religiosas em Portugal veio confirmar oficialmente o fim da presença franciscana da Soledade na Guiné.

Foram os sacerdotes do clero regular que aguentaram sozinhos os esforços por manter na Guiné a assistência religiosa possível nas principais praças sob domínio português. O Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim forneceu uns 19 sacerdotes entre 1855 até 1910 que trabalharam na Guiné e 3 deles eram mesmo naturais da região. Do Seminário-Liceu de Cabo Verde, desde 1866 até 1910 saíram 7 sacerdotes que trabalharam na Guiné. Em 1932 haveria em toda a Guiné apenas 3 sacerdotes do clero secular. Frei Vicente caracteriza esta primeira etapa da envangelização nos Rios de Guiné como predominantemente sacramental e sobretudo batismal. Os missionários não conseguiram ter recurso a catequistas leigos que pudessem ajudar a manter a fé dos cristãos e a garantir melhor a preparação dos futuros batizandos.

A segunda etapa (1932 até 1977) é marcada pelo regresso ou vinda de congregações religiosas já com forte preocupação social, regressaram os franciscanos portugueses, vieram as franciscanas hospitaleiras portuguesas; em 1940, passou a existir uma missão com completa autonomia da Diocese de Cabo Verde. A envangelização processou-se através das escolas. Lançou-se o ensino médio liceal com o Colégio Católico de Bissau, mas durou pouco tempo (1943-1945). Graças ao Acordo Missionário (1940) ficou aberto o caminho a missionários não portugueses e o Papa Pio XII criou a Missão sui juris presidida por um Prefeito Apostólico. Os primeiros missionários não portugueses chegaram em 1947, eram os padres do Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras, seguiram-se outras missões italianas. Criou-se em 1969 o Seminário da Guiné (primeiro em Bafatá e depois Bissau), mas só passou a ter sucesso quando se construiu a Escola Interna do Seminário, o primeiro sacerdote que saiu deste Seminário foi o Padre José Câmnate na Bissign, será o primeiro bispo guineense nomeado pelo Papa João Paulo II. Esta segunda etapa assentou predominantemente na educação, na saúde e na promoção social, criaram-se infraestruturas que ainda hoje são referências na Guiné: leprosaria de Cumura, o Hospital-Geral de Cumura, o dispensário-maternidade de Quinhamel, os postos sanitários das missões de Catió, Mansoa, Bambadinca, Suzana, entre outros; foram criadas pequenas escolas práticas de aprendizagem de ofícios, casos das pequenas escolas de carpintaria, apareceu inclusivamente o jornal "O Arauto"; Frei Vicente chama a esta igreja a de tempos de missão que se adaptou às variadas dificuldades do período da luta de libertação, que soube ter uma posição ao mesmo tempo colaborante nas tarefas da reconstrução nacional e simultaneamente de crítica em relação à ideologia oficial do marxismo-leninismo.

O terceiro momento vai de 1977 a 2021, Frei Vicente define-o como o rosto de uma igreja particular contemporânea, porque passou a ser uma igreja igual a todas as outras igrejas do mundo. A Igreja Católica na Guiné-Bissau não é alvo de nenhuma hostilidade por parte do credo maioritário islâmico. O primeiro bispo, Dom Settimio Arturo Ferrazzetta, distinguiu-se pela sua simplicidade e bom relacionamento com toda a gente, já fisicamente prostrado, durante a guerra civil de 1998-1999, pôs-se ao caminho para dialogar com os dois contendores, acompanhado por outras entidades religiosas. Com ele, a Igreja Católica deu um salto. Depois de Dom Settimio, virão mais 3 bispos, Dom José Câmnate na Bissign (que resignou em 2020), o brasileiro Dom Pedro Carlos Zilli, bispo de Bafatá e Dom José Lampra Cà. Esta igreja particular está orientada tendencialmente por pastores locais. O lema de Dom José Câmnate na Bissign era a bem-aventurança evangélica: bem-aventurados os construtores da paz. Dom Pedro Carlos Zilli granjeou com enorme prestígio na sua Diocese de Bafatá. Em 2001, em Bafatá, as paróquias existentes eram 8, os sacerdotes diocesanos eram 6, as irmãs religiosas 24, os seminaristas maiores 3; mas em 2017 os sacerdotes já eram 27, os seminaristas maiores 13, os leigos missionários 16 e as religiosas 25. O seu funeral em Bafatá foi impressionante, tempos depois era comum verem-se pessoas com camisolas com o lema de Dom Pedro Zilli: o amor jamais passará.

E o trabalho de Frei Vicente culmina com a apresentação do que eram em 2021 a organização religiosa e leiga da Guiné-Bissau.

Fachada da capelinha de Nossa Senhora da Natividade em Cacheu, o mais antigo templo católico da Guiné
Missa na Guiné-Bissau, imagem do Arquivo Missionárias da Consolata, com a devida vénia
Fiéis católicos guineenses estiveram reunidos, de 8 a 9 de novembro corrente, na peregrinação Mariana 2017, na cidade de Cacheu. A peregrinação deste ano decorreu sob o lema “Maria ka bu medi pabia bu otcha graça diante di Deus (Maria não tenhais medo porque encontrastes a Graça do Pai, tradução livre)”
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Notas do editor:

Post anterior de 22 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25100: Notas de leitura (1660): "Os três rostos da Igreja Católica na Guiné" (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25112: Notas de leitura (1661): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (9) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25108: O segredo de...(42): Patrício Ribeiro, "filho da escola", fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre... Numa canoa nhominca, em Varela, pelo mar dentro mar, com os útimos 10 portugueses e outros estrangeiros fugidos da guerra civil de 7 de junho de 1998


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Praia de Varela > Maio de 2021 > Praia sul >  A minha cana de pesca


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Praia de Varela > Maio de 2021 > Praia sul > Quilómetros de praia, que continua a ser bela e aprazível, apesar das alterações climáticas e da erosão.


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Tabanca de Iale >  Maio de 2021 > A minha casa ao entardecer, às 6h30

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não é fácil arrancar "segredos" aos antigos combatentes que passaram pelo TO da Guiné entre 1961 e 1974. Esta série, "O segredo de..." (*), não pretende ser sensacionalista ou voyeurista. Tem apenas como objetivo facilitar a partilha de memórias, mais recalcadas, mais distantes ou já esquecidas, nalguns casos, ou mais difíceis de contar em público, com receio de censura social ou de grupo, noutros casos... Achamos, por outro lado, que devemos também dar visibilidade e  pu
blicidade a ações relevantes, praticadas por amigos e camaradas nossos, cuja modéstia os inibe de falar delas...

Um dos exemplos é o  Patrício Ribeiro que cultiva o "low profile", é discreto, vivendo há quatro décadas na Guiné-Bissau, onde é empresário e... estrangeiro. 

Na guerra civil de 1998/99 ele  estava lá. E teve um comportamento de grande coragem e nobreza, tendo socorrido e ajudado alguns compatriotas e outros estrangeiros, que lá viviam ou foram apanhados pelos acontecimentos.

Recorde-se que ele nasceu em Águeda, em 1947, foi levado pequeno para Angola, cresceu em Nova Lisboa (hoje Huambo). Aqui casou, viveu e trabalhou. Fez a tropa como fuzileiro (1969/72). 

Veio depois para Portugal na véspera da independência, na 23.ª hora (**); mas nunca gostou da sua condição de "retornado":  em 1984, decidiu ir viver e trabalhar, na Guiné-Bissau, primeiro como cooperante, e depois estabecendo-se como empresário: fundou uma empresa ligada à energia, a Impar Lda...  Agora, aos  76 anos, recusa-se a reformar-se, está cá e lá (sobretudo quando cá faz frio, e chuva, e é inverno). 

Vai dando, por outro lado, uma mãozinha ao filho que lhe sucedeu nos negócios, continua a gostar de viajar pelo interior da Guiné  (e nomeadamente de canoa nhominca, pelos Bijagós)... E, quando cá vem, dedica-se também à sua agricultura em Águeda.   

Membro da nossa Tabanca Grande desde 2/1/2006, é  autor da série "Bom dia desde Bissau" mostrando-nos pontos desconhecidos ou já esquecidos daquela terra verde-rubra...  

É nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau; tem já cerca de 150 referências no blogue...

Ainda não "abriu o livro todo" das memórias de Angola e da Guiné-Bissau. Mas já nos contou aqui um dos seus "segredos" (*). 

De um outro viemos a sabê-lo, há uns largos anos,  por intermédio de um amigo comum, infelizmente já falecido, o eng. agrónomo  Carlos Schwarz da Silva, mais conhecido por "Pepito"  (1949-2012).

Esse "segredo", em boa verdade já não o é, foi divulgado há anos no blogue (***), merece todavia figurar nesta série... para "memória futura"


O segredo de...(41): Patrício Ribeiro, "filho da escola", fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre... Numa canoa nhominca,  em Varela, pelo mar dentro, com os útimos 10 portugueses  e outros estrangeiros fugidos da guerra civil de 7 de junho de 1998, até ao NRP Vasco da Gama

Tenho aqui perto, em Varela, uma pequena palhota para passar alguns fins de semana (vd. fotos acima). Há 20 anos estava a mais de 250 metros do mar, agora o mar já está muito mais perto; dentro de algum tempo, já posso pescar com a cana, a partir da minha varanda…

Neste mesmo local, numa clareira, aterraram os helicópteros da fragata Vasco da Gama, para recolher os Portugueses que aqui estavam encurralados na guerra de 1998.  Foi num destes helis que o nosso saudoso Pepito, saiu.

Eu também aqui estava… Mas tinha por missão ajudar a sair outros Portugueses que se encontravam no interior, em Canchungo (antiga Teixeira Pinto) e Cacheu. Como não apareceram às horas combinadas, estive em S. Domingos e depois em Ingoré (sem combustível e em situação de guerra),  à procura deles… E de onde, a partir dos rádios da Missão Católica, comuniquei com a fragata a informar que estavam atrasados para a sua evacuação…

Ao fim do dia, também saí desta praia de Varela, numa canoa nhominca, acompanhando os últimos 10 portugueses que quiseram sair, assim como de outras nacionalidades, a quem a fragata autorizou o embarque… 

Como destino, “o pôr do sol”, o poente… Passados 18 milhas, mar adentro, lá encontramos a nossa frota com 3 navios dos “filhos da escola” que na parte final nos vierem cumprimentar nos botes e mandar subir pela escada de corda, para a fragata Vasco da Gama.

Já não foi possível os helis da fragata Vasco da Gama voltarem a aterrar na praia, havia quem os quisesse deitar abaixo… mas fomos acompanhados pelo ar, de onde recebíamos ordens, por vezes mandavam-nos, à nossa canoa, desviar de alguns obstáculos, que havia no mar …

Gosto de falar da minha praia de Varela de que adoro; dos banhos na água quente a 30º, das minhas pescarias diretamente para o grelhador, acompanhadas por umas bacias de ostras, etc…

O que escrevi,  num comentário, é um pequeno resumo dos diversos capítulos vividos naquela época, mas muitos deles ainda os considero 'classificados'.

Quando nos voluntariamos a ajudar os outros, quando pessoas a chorar nos pedem para não os deixar para trás..., a “formação militar não o permite", vem ao de cima...

E, por força das circunstâncias, passamos a ser o elo de ligação entre o resto do mundo e o interior de um país em guerra, de onde não é possível informar os familiares: onde estamos, que estamos vivos…  E, repara, não havia telefones e as fronteiras estavam fechadas, quer internamente, quer com os países vizinhos e estas últimas estavam a ser bombardeadas. Bissau ficava longe e não se sabia o que se passava no interior.

E quando do exterior… nos pedem a colaboração, através do nosso “bombolom”, para encontrar esta e aquela pessoa de quem não se tem notícias há muitas semanas, certamente qualquer um de nós ajudaria, se tivesse condições...

Os restantes capítulos vão saindo, quando alguém tocar na "ferida".

Luís, depois de ter saído na canoa nhominca, que, no regresso, na minha presença, carregou da fragata Vasco da Gama a primeira ajuda humanitária para a Guiné, destinada à Missão Católica de Suzana, eu voltei para Portugal. Não, não fiquei lá...

Mas, passados 2 meses regressei à Guiné, via Dakar e táxi aéreo para Bubaque, dali para Bissau em vedeta de guerra, que foi construída no Alfeite e que estava na mão dos militares senegaleses.

De Bissau por vezes saía para Varela, quando recebia um 'papelinho',  avisando que era melhor ir dar uma volta… Pegava na minha mochila com uma lata de atum, atravessava a pé as bolanhas e lá ia eu para banhos.

O aeroporto de Bissau esteve fechado quase um ano… Quando da morte do 'Nino', tinha ido passar o fim de semana à ilha de  Orango…

Na morte do Ansumane Mané, estava fora de Bissau... Ao reentrar em Bissau encontrei quase uma centena de milhares de pessoas, a saírem a pé. Algumas já iam para lá de Nhacra. Fiz um apelo na rádio RTP África, para mandarem transporte, a fim de apanharem as pessoas que estavam a dormir à beira da estrada, sem quaisquer condições.

Ao mínimo problema, a estrada principal era fechada a viaturas, em Safim.

Assim, como da morte dos restantes altos dirigentes do país..., estava fora, por Varela, Contuboel, etc.  

( Excertos  de vários textos e comentários, revisão / fixação de texto / negritos:  LG)


2. Comentário do nosso editor LG:
 
Patrício Ribeiro, português,
nascido em Águeda, em 1947,
criadoe casado em Angola,
com família no Huambo,
ex-fuzileiro em Angola de 1969
a 1972, a viver na Guiné-Bssau
desde 1984,
fundador, sócio-gerente
e director técnico
da firma Impar, Lda-


Patrício,  não é por acaso que eras conhecido em Bissau, ainda até há pouco tempo, como o "pai dos tugas"... Os jovens, cooperantes, rapazes e raparigas, tinham por ti um enorme respeito e admiração na altura em que o meu filho, João Graça, te conheceu em dezembro de 2009, em Bissau...

Esta história do resgaste de diversos portugueses e 
outros, em plena guerra civil (que começou com o golpe de  Estado de 7 de junho de 1998), perdidos em Varela, Canchungo  e Cacheu, devia merecer honras de título de caixa alta nos jornais da época e nas parangonas dos telejornais... Não me dei conta que isso tenha acontecido... Mas é uma verdadeira história de heroísmo que te honra e nos honra a todos nós, portugueses, teus amigos e camaradas!...

Deixa-me recordar, para os nossos leitores mais recentes, que na sequência daquele conflito, foi  montada pelo Governo Português uma operação de resgaste de cidadãos portugueses e de outras nacionalidades. 

Essa operação, com o nome de código Crocodilo, envolveu uma força conjunta dos três ramos das Forças Armadas. A componente naval foi  constituída pela fragata Vasco da Gama, com dois helicópteros Lynx Mk95 embarcados, pelas corvetas Honório Barreto e João Coutinho e o navio reabastecedor Bérrio

A atuação dos dois helicópteros foi fundamental para o êxito da missão. A força naval foi comandada pelo capitão-de-mar e guerra Melo Gomes. 

(Vd. P. Conceição Lopes, CFR: Operação Crocodilo. "Revista da Armada", julho de 2013, pág. 20).

A história do resgate, efectuado por tua conta e risco, em Varela, já a tinha ouvido contar, na tabanca de São Martinho do Porto, há uns largos anos atrás, talvez em 2012, da boca do nosso saudoso Pepito (1949-2012), um dos "encurralados", em junho de 1998, em Varela, onde também tinha casa de praia, já do tempo dos pais, e que era portanto teu vizinho.

Conseguiste metê-lo, a ele e à família, e a mais cidadãos, num dos helis da fragata Vasco da Gama, ancorada ao largo, a 18 milhas, fora das águas territoriais do país, com mais os dois ou três avios de apoio...

Eu já sabia, além disso, que, na impossibilidade de voltar o heli a Varela, tu já te havias metido na tua canoa nhominca, levando mais um grupo (10 pessoas, de nacionalidade portuguesa, e outros estrangerios...) ao fim da tarde, pelo mar fora, até à fragata salvadora!...

Camaradas e amigos, 18 milhas náuticas numa canoa nhominca (embarcação em que tu és perito e que muito admiras!), são mais do que 33 km pelo mar adentro... Não é para todos, é para quem aprendeu a amar e respeitar o mar, como tu, que foste "filho da escola" da Armada... Afinal, fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre!

Volto a escrever o que já repeti aqui: esta tua história incrível merece ser contada uma e outra vez. Sei que és um homem discreto e modesto, mas ainda espero ir ao 10 de junho, se não for longe, para te ver ser condecoradao por este feito de grande coragem, altruísmo e patriotismo!...

Patrício, se isto não é heroísmo, então eu nunca vi nenhum herói ao vivo e a cores!

Registo, para mais, este facto: durante o conflito político-militar, sangrento, de 1998/99, tu foste incapaz de estar longe da tua/nossa Guiné mais do que dois meses... Ao fim de dois meses, voltaste a entrar no país via Dacar, Senegal.


Carlos Schwarz da Silva, "Pepito",
 Lisboa, campus
da ENSP/NOVA. 6/9/2007.
Foto de Luís Graça
O Pepito e a família, cuja casa no bairro do Quelélé, em Bissau, foi pilhada e destruída pela 
soldadesca senegalesa, que apoiava o 'Nino' Vieira, estiveram refugiados em Cabo Verde, à volta de um ano (se bem me lembro)... 

O Pepito tinha nacionalidade guineense, e este foi um dos acontecimentos mais marcantes (e traumatizantes) da sua vida (segundo me confidenciou em São Martinho do Porto)... Voltou à Guiné, para recomeçar a sua vida, uma vida nova, nunca escondendo a sua gratidão para contigo. 

Tu, por sua vez, eras/és português, aliás o português mais guineense da Guiné-Bissau que eu conheço... e a Guiné-Bissau está-te grata pelo trabalho que lá tens feito, levando a energia elétrica a muitas tabancas mas também hotéis, escolas, hospitais....

És um homem que sabe muito da história recente da Guiné-Bissau, saberás até demais, pelos círculos em que te moves, o que te torna também um pessoa cautelosa, discreta, diplomática, sem deixares de ser fiável, afável, prestável, solidário e generoso.

Quem está há 40 anos na Guiné-Bissau, não se imaginando já capaz de viver e trabalhar noutro sítio do planeta, é um sobrevivente nato, capaz de enfrentar e resistir a tudo o que apoquenta, chateia e mata naquela terra (a sida, o paludismo, a cólera, as infecções nosocomiais, as canoas inhomincas, as armas, o tráfico de droga, a violência, a droga de vida, os golpes de Estado, a ausência de Estado, as picadas mal alcatroadas, o tempo seco, o tempo das chuvas, a pobreza, etc....).

Felizmente Águeda não está longe: tu também sabes que tens aqui uma retaguarda segura, à entrada da velha Europa, onde podes 'carregar baterias', revisitar família e amigos, fazer as teus exames de saúde, as tuas consultas médicas... É bom ter uma retaguarda segura, é bom ter uma Pátria, senão mesmo 
duas ou três... 

Tiro-te chapéu pela tua longevidade na Guiné, pela tua história de vida, pela tua sabedoria de verdadeiro africanista. 

Que Deus, Alá e os bons irãs te continuem a proteger  sempre!...
LG

PS1- Espero que no relatório da Op Crocodilo também apareça o teu nome e as tuas boas ações. Nunca chegarás a almirante, mas foste um bravo fuzileiro. 

PS2 - A RPT1, na"Sociedade Civil", ainda recentemente, dedicou a esta operação dois programas num total de cerca de 2 horas e meia. Os vídeos estão disponíves em RTP Play:

24 de julho de 2023 > Operação Crocodilo / Falcão (Parte 1) (1h 12m 08s)
25 de julho de 2023 > Operação Crocodilo / Falcão (Parte 2) (1h 20m 31s)

  

NRP Vasco da Gama (F330) na sua visita a Tallinn, capital da Estónia, entre 27 e 31 de março de 2008. Pormenor, imagem editada pelo nosso Blogue, da autoria de Ivo Kruusamägi da Wikipedia estoniana (2008) (Com a devia vénia ao autor e à Wikimedia Commons)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25083: O segredo de... (41): António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62; topógrafo da TECNIL, Bissau, 1987/1993): Luís Cabral, a camarada Milanka, eu e o 'mau agoiro' do meu patrão

(***) Vd. poste de 18 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23090: (In)citações (198): a atuação de Patrício Ribeiro, durante a guerra civil de 1998/99, e nomeadamente em Varela, em articulação com o NRP Vasco da Gama..."Se isto não é heroísmo, então eu nunca vi nenhum herói ao vivo e a cores" (Luís Graça)

Ver ainda postes de:

31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)




18 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23088: (In)citações (197): Mais recordações do conflito político-militar de 1998-1999, por parte de quem o viveu por perto, o Cherno Baldé e o Patrício Ribeiro