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terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13065: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (14): O fadista regressa ao palco - II (Ou quando o apurar dos factos nos leva à procura do militar desconhecido)

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 18 de Abril de 2014:

Fantástico!
Não sei se por estarmos na Páscoa, se por estarmos em período festivo, no que à vida do blog respeita, sei que esta equipa editorial é bestial.
Está um homem preocupado com o bom andamento da recuperação do Editor-Chefe, escreve ao Sub-Editor e diz-lhe, “ó Carlos, tenho aqui uma coisa escrita para enviar, mas não sei se o hei de fazer para o Luís ou se directamente para ti”. Responde o Carlos, “fácil, aos dois!”

Pois aqui têm, caros Luís Graça e Carlos Vinhal, decidam agora qual de vós descasca esta amêndoa. O que vos proponho não é uma nova história. É uma espécie de adenda ao que anteriormente escrevi com o titulo de “O fadista regressa ao palco”.

E por ser uma adenda, dei-lhe o 13-A como número de série. E esta adenda parece caída do céu, parece surgida com o propósito de assinalar o 10º Aniversário do nosso blog. Porque sem ele, sem a sua importância e vitalidade, não teriam sido possíveis os reencontros a que vão assistir. E o que os protagonistas dizem, entre si, é um verdadeiro hino em louvor da nossa Tabanca Grande. Acho que talvez mereça a pena ilustrar o texto com as fotos dos então capitães Barros e Hilário, hoje coronéis, cuja localização parece óbvia.

Resta-me desejar ao Luís rápida recuperação, desejar a ambos uma Boa Páscoa, e tornar este último voto extensivo a todos os nossos camaradas tabanqueiros.
Armando Pires


FURRIEL ENFERMEIRO, RIBATEJANO E FADISTA

13-A - O fadista regressa ao palco – Parte II

Ou quando o apurar dos factos nos leva à procura do militar desconhecido

Urge proceder à reformulação da divisa desta Tabanca Grande.
De facto, onde ela proclama que “o mundo é pequeno e a nossa Tabanca … é grande”, já não é sem tempo que se aumente o grau ao adjectivo, passando então a escrever-se que, “o mundo é pequeno e a nossa tabanca… é muito grande”.
Ocorreu-me isto após as incidências que resultaram do meu post anterior (P12905*), no qual, desastradamente, troquei o nome a um capitão. A correcção chegou num comentário do nosso camarada Grantabanqueiro, coronel Hilário Peixeiro, feito nos termos que aqui recordo.

Caro Armando Pires. 
Também estive em Bissorã, uns dias apenas, por volta de MAI/JUN70, para onde fui enviado, enquanto aguardava marcação de embarque para a Metrópole para comandar a CCS do Batalhão, em substituição do Cap. Luís Andrade Barros, do meu curso da Academia Militar que já tinha o embarque dele marcado. 
Foram realmente apenas alguns dias, razão porque não me lembro de ninguém. Na foto do bingo é precisamente o Capitão Barros que está presente. 
Parabéns pelo aniversário muita saúde e um abraço deste amigo que provavelmente ainda foi seu comandante de Companhia por alguns dias.

Hilário Peixeiro
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Meu comandante de Companhia por alguns dias? Foi aqui que o sino tocou a rebate, e que se iniciou uma troca de email’s, cujos eu vou citar nas partes que mais importam a esta história, não lhes acrescentando se não uma ou outra pequena nota de rigor, porque os conteúdos são suficientemente claros para que se compreenda toda a trama.
Comecemos, pois, pelo email que dirigi ao Coronel Hilário Peixeiro.

Caro Coronel. Camarada. 
Começo por lhe agradecer os parabéns o abraço que me deixou no nosso blog. 
Deixe que lhe manifeste a minha estupefação pelo que me revelou. Que esteve em Bissorã, ainda que de passagem, por referir que "terá" comandado a CCS de que fiz parte, e por identificar o Capitão que está na foto da sessão de bingo, comigo e com o Furriel Bonito, como sendo o Cap. Luís Andrade Barros. 
Permita-me que lhe faça um pedido que virá ajudar a "refrescar" a memória que temos desses tempos.

1 - Em que período, ao certo, esteve em Bissorã? 
2 - Não percebi em que circunstância "substituiu" o Cap. Barros 
3 - Dado que foi seu camarada na Academia Militar, pode ajudar-me a "refazer" o percurso dele na Guiné? 
4 - Peço-lhe que me confirme que o oficial que está na foto comigo e com o Furriel Bonito é o Cap. Barros que eu identifico, erradamente, por Cap. Caldeira. 
5- Finalmente, o camarada (permita-me que siga aqui o tratamento em uso no nosso blog) tem alguma fotografia sua da época, se não mesmo de Bissorã, que nos permita ajudar a identificá-lo? 

Aceite as minhas desculpas pela "trabalheira" que lhe dou, mas, como calcula, ao sinalizar a sua presença em Bissorã, deixou-nos a braços com uma imensa curiosidade, com uma enorme necessidade de preencher correctamente certos itens da nossa história.

Aceite um abraço do 
armando pires
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Caro Armando Pires, um grande abraço. 
Não tenho comigo nenhum documento que me permita saber com exactidão quando estive em Bissorã mas vou dar referências que podem trazer luz sobre o assunto. 
Fui comandante da CCaç 2403 que embarcou em 24jul68, no Uíge e regressou em 28mai70 no Carvalho Araújo. 
Em Jul69 fui evacuado para Lisboa e regressei à Guiné em 20jan70, indo comandar a CCS do BCaç 2851 que estava em Galomaro. 
Quando o Batalhão foi para Bissau aguardar embarque, eu fiquei a aguardar que Lisboa informasse do despacho sobre a minha doença da baixa, e mandaram-me para Bissorã substituir o Cap Luís Andrade de Barros, que já tinha regressado a Bissau por ter terminado a comissão e por isso não nos encontrámos em Bissorã. 
Se quiser ver fotos minhas da época, pode dar-se ao incómodo de ver no nosso Blogue uma resumida história da CCaç 2403.

Hilário Peixeiro 
Grantabanqueiro
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Último jantar a bordo. Na mesa do Imediato os Cmdts da CCaç 2401, CCaç2403 e CCaç 2405. Na outra mesa, de costas, o Cmdt da CCaç 2402
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Caro Coronel. Camarada. 
Muito lhe agradeço a brevidade com que respondeu às minhas interrogações. Até porque elas vieram por um ponto final numa dúvida que há muito se tinha instalado naqueles a quem pedi que identificassem pelo nome o capitão (e seu antigo camarada de curso) que substituiu o Capitão Alcino Veiga dos Santos. 
Já pedi ao Luís Graça que fizesse as necessárias correcções ao texto do meu Post. 
Quanto ao "meu coronel", melhor dito, "meu capitão", já foi devidamente identificado, sobretudo pela malta das transmissões, a quem hoje dei contra do seu relato. Sim, recordam-se de si, embora sempre com esta nuance, "ó pá, mas ele esteve muito pouco tempo lá em Bissorã". Pois é para esta questão que peço me diga em que "data" saiu de Bissorã.

Aceite um abraço do 
armando pires
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Caro Armando 
Não sei precisar a data da minha saída de Bissorã mas terá sido em finais de Julho porque eu julgo que regressei em Agosto à Metrópole. Não tenho nada escrito sobre estas datas. 
Hei de pedir uma cópia da minha nota de assentos principalmente por causa destas datas. 

Um abraço e obrigado pelo contacto. 
Gosto imenso de recordar a Guiné e por isso estou muito grato ao Luís Graça e aos restantes administradores do excelente Blogue que criaram para todos nós e que eu consulto com frequência. 

Hilario Peixeiro
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Cap Hilário Peixeiro > Natal de 1968 em Nova Lamego (Gabú)
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Meu caro coronel. 
Aqui tem uma excelentíssima razão para eu não estar muito seguro da sua presença em Bissorã. É que ela corresponde exactamente ao período em que vim de férias a Portugal. 

Um abraço e grato pela sua disponibilidade. 
armando pires
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Caro Armando 
Para a hipótese de querer contactar o Coronel Barros e convidá-lo a incorporar os Tabanqueiros aqui lhe deixo o seu e-mail 
HP
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Cap Hilário Peixeiro > Natal de 1968 em Nova Lamego (Gabú)

Fotos ©: Hilário Peixeiro
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Fantástico!!! 
Muito obrigado. 
Amanhã já lhe vou escrever. 
Abraço. 
AP.
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Meu caro Senhor Coronel Luís Andrade de Barros. 
Chamo-me Armando Pires, fui furriel miliciano enfermeiro da CCS do BCAÇ 2861 (Bissorã) que o senhor Coronel, à época capitão, comandou. Este endereço de email foi-me dado pelo coronel Hilário Peixeiro, seu camarada do Curso da Academia. Acontece que ele e eu escrevemos memórias da Guiné num blog que tem o seguinte link.

… A última memória que publiquei foi sobre as sessões de bingo que realizávamos no bar de sargentos, e das noites de fado em que era eu que cantava. Nessa memória publiquei uma fotografia onde o senhor coronel, se me permite ainda, o "meu capitão", está ladeado por mim, à direita, e pelo Furriel Bonito, já falecido, à sua esquerda. É essa fotografia que tenho a honra de lhe oferecer.

Aceite os cumprimentos do 
armando pires
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Caríssimo Armando Pires, furriel enfermeiro, ribatejano, fadista e companheiro da guerra . 
Recebi com muito agrado as suas notícias de Bissorã, nomeadamente recordando as sessões de bingo com uma afluência capaz de fazer inveja às melhores casas da especialidade. Lembro o entusiasmo que tal iniciativa despertou, a preparação - decoração da sala com pinturas alusivas e os convites para o evento, incluindo a amigos do IN, isto na certeza de então não sermos atacados. E havia também as diversões no club do Michel. 
Estive em Bissorã até 23 de julho de 1970, tendo ali permanecido cerca de cinco meses. Guardo algumas fotografias e também boas recordações de Bissorã .

Um abraço amigo do 
Luis Andrade de Barros.
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Caríssimo Coronel. 
Obviamente que vai ter que me perdoar por lhe ter trocado o nome. Só me apercebi do equívoco quando o seu camarada Hilário falou de si no comentário que fez no meu post. Mais uma vez lhe apresento as minhas desculpas, dizendo-lhe que ontem mesmo escrevi ao Luís Graça, o "pai" do Blog, a solicitar-lhe a devida correcção. 
Já agora, se o meu amigo me permite, porque razão só esteve cinco meses connosco? Segundo me disse o Hilário, terminou o seu tempo de serviço. Sendo assim, o "meu capitão" já se encontrava na Guiné. Importa-se de esclarecer mais este capitulo da nossa história? E deixe-me lançar-lhe um desafio, que me foi sugerido pelo coronel Hilário. Porque não se torna o senhor coronel membro da Tabanca Grande?

Fico na expectativa de notícias suas e peço-lhe que aceite um abraço, um abraço sincero, do 
armando pires
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Caríssimo Armando Pires, furriel enfermeiro e companheiro da guerra.
Vou já responder-lhe porquanto é meu princípio não deixar para amanhã o que posso fazer hoje.
Antes de ir para Bissorã estive a comandar a C.Caç.1788 desde Julho de 1968, em substituição do capitão falecido por acidente em atividade operacional, na sequência do rebentamento de uma granada - armadilha das NT.

Nota: o Coronel Luís Barros refere-se ao capitão Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes. Sobre este acidente de guerra consultar o P3813.
Prosseguindo com o email do cap Barros:

Tive situações difíceis, mas também bons momentos em Catió / Cabedu e Farim. 
Vou só contar a tourada em Farim, uma iniciativa muito parecida com as sessões de bingo em Bissorã. 
Estava no gabinete quando me aparece um alferes seu vizinho (era alentejano) dizendo-me : 
- Meu capitão, não queira saber a nossa sorte! Temos um boi que marra! 
Isto referindo-se a um bezerro vindo do Senegal e destinado a bifes. 
- E o que é que isso interessa! respondi-lhe surpreendido. 
- O que interessa ?!... Antes de o comermos temos de fazer uma tourada!
 Depois de algum espanto com a ideia, alinhei e colaborei com ela. Comprámos um burro para servir de cavalo; improvisou-se com as viaturas uma praça de touros; convidaram-se civis e militares da cidade e até se afixaram cartazes publicitários. 
O bezerro foi toureado duas vezes a pé e a cavalo de burro, valendo tudo. Não houve uma terceira corrida porque o touro partiu um corno quando o metiam no curro (um abrigo ), o que acelerou o seu fim.

Quanto ao convite para me tornar membro da Tabanca Grande, agradeço, considerando muito interessante a sua atividade na constituição de amizades e de recordações boas e mas, sendo certo que se não fosse a Tabanca Grande não teria "regressado" a Bissorã, indiscutivelmente o melhor lugar que tive na comissão da Guiné … fica só a minha disponibilidade para colaborar e nos termos em que agora o faço com muito gosto. Como reformado vou passando o tempo desocupado em Coimbra e de vez em quando vou até à aldeia, em Figueira de Castelo Rodrigo, onde faço agricultura bastante para sacrificar o corpo. E já fiz um livro de 400 páginas sobre a minha aldeia, o que para mim constitui um motivo de alegria e de realização pessoal, isto além de ter concluído a licenciatura em Direito em Coimbra.

Um abraço de muita consideração com votos de uma Boa Páscoa do 
Luis Andrade de Barros.
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Caro Coronel. Meu Capitão. 
Em primeiro lugar. Deixe-me dizer-lhe que está a provocar grande "frisson" entre malta da nossa companhia o facto de nos termos reencontrado. Só não tenho reacções do lado dos oficiais porque, à excepção do Dr. Oliveira, (com quem falei agora mesmo ao telefone e que pediu que lhe enviasse os seus cumprimentos) não tenho contactos com mais ninguém. Foi para mim preciosa a sua resposta à minha pergunta central, porque ela me permite escrever a história por linhas direitas. Da mesma forma que me "localizou" no blog do Graça, sugiro-lhe que localize uma referência que lá vem à CCAÇ 1788, onde é dada nota de ter o sr. coronel substituído o falecido capitão Artur Nunes.
… Aceite um forte abraço e fico a aguardar as suas notícias. 
armando pires
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Terminada a epistolar e muito cerimoniosa troca de correspondência, fica por saber quem foi o 4º Homem. Sim, não sei se se deram ao trabalho de terem vindo a contar o número de capitães que comandaram a CCS do BCAÇ 2861, a saber, em primeiro lugar o capitão Alcino dos Santos, o tal que tendo sido promovido a major passou a oficial de operações, depois o Capitão Luís Andrade Barros, seguiu-se-lhe, quase me apetece dizer, em regime de parte-time, tão breve foi o tempo que lá esteve, o Capitão Hilário Peixeiro, e vão três, pois então, mas tendo o Capitão Hilário terminado a sua missão em Julho de 1970, quem foi o homem, o tal quarto homem, a comandar-nos até ao fim da comissão, ou seja, até Dezembro de 1970?

Deixem-me abrir um parêntesis para dizer que, não sendo caso raro, o nosso Batalhão foi pródigo em trocas de comandantes de Companhia. Só Capitão Melo de Carvalho se manteve fiel, do principio ao fim, à sua CCAÇ 2465. Quanto às restantes, a CCAÇ 2466 teve três comandantes e a 2464, dois.

Fechado o parêntesis, quero dizer que muito tenho interrogado os meus camaradas sobre que memória ainda lhes acode do 4º Homem. Nada. Ninguém está seguro de nada. Alguns até se questionam se existiu um 4º Homem. Outros têm uma vaga ideia de um tipo que era baixo, magro, até há quem o diga, havendo mesmo quem ponha bigode a recortar o lábio superior, mas só de um ou dois ouvi dizer que ele se chamava Castro.

“E que tal ires à história da Companhia?”, perguntarão os que me estejam a ler. Pois atentem na minha incredibilidade ao ler a Resenha Histórica Militar das Campanhas de África, 7º Volume, Tomo II, da qual consta que a minha Companhia foi comandada pelo capitão Castro, da arma de Infantaria, acrescentando o livro que “não foi obtida a identificação completa”.

Quase em choque, dirigi-me ao Arquivo Histórico Militar, requisitei a história do meu Batalhão, da minha Companhia em particular, e do Capitão Castro nenhuma referência, nenhuma notícia, ali o homem não existiu. Ora eu não acredito que aquele capitão tenha ido à Guiné, a fazer um biscate, entre Julho e Dezembro de 1970, como comandante da minha Companhia.
Aquele capitão ou já estava na Guiné e, por uma qualquer razão, foi destacado para o comando da CCS do BCAÇ 2861, ou chegado de Portugal, em rendição individual, foi direitinho para Bissorã para nos comandar mas, chegando a nossa comissão ao fim, a ele ainda lhe restaria muito tempo de serviço por cumprir.

Então, de onde veio o Capitão Castro, oficial da arma de infantaria?
Então, para onde foi o capitão Castro, oficial da arma de infantaria?
Será que alguém me ajuda a dar nome a este “militar desconhecido”?

(FIM)

Armando Pires
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(*) Vd. poste de 27 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco

sábado, 21 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8309: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (4): Actividade da CCAÇ 2403 em Mansabá, com passagem pelo Olossato, e regresso à Metrópole




1. Quarta e última parte da publicação da História (resumida) da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70), envida pelo seu Comandante, ex-Cap Mil Hilário Peixeiro*, actualmente Coronel na situação de Reforma.






História (resumida) da CCaç 2403 – Guiné 1968/70 (4)

Actividade da CCAÇ 2403 em Mansabá, com passagem pelo Olossato, e regresso à Metrópole


Olossato

Uma das personalidades mais conhecidas do Olossato era a lavadeira Rosa que aplicava uma tabela de preços pela sua actividade, baseada no princípio de que quem mais ganha mais paga e, assim, não interessando quem entregava mais ou menos roupa para lavar, o Capitão pagava mais que todos, depois vinham os Alferes, os Furriéis e Praças sucessivamente, não havendo argumentos que a convencessem de que devia cobrar de acordo com a roupa que cada um lhe entregava. Fazia-se acompanhar pela filha pequena sempre que ia buscar e entregar roupa e um dia levou consigo uma jovem já quase adulta para a apresentar ao Capitão, como a segunda mulher do seu marido, comprada recentemente.

Contacto com a população

A estadia da Companhia no Olossato, anunciada como última até ao fim da comissão, foi de pouca duração. Poucos dias após a chegada, Mansabá sofreu um dos seus maiores ataques*, com uma duração inusual de cerca de 40 minutos que provocou grandes estragos materiais e muitas vítimas entre a população e algumas entre os militares. Logo após este ataque, a CCaç 2403 recebeu ordem de transferência para aquele aquartelamento por troca com a CCaç 2402 que ali estava colocada.

Mansabá

Em Mansabá o BCaç 2851 era comandado pelo Major Borges em substituição do Ten Coronel Luz Mendes a quem o General Spínola retirou o Comando após o ataque ao quartel. O Major Bispo tinha sido transferido para Bissau para o Serviço de Justiça, o Major Martins tinha sido evacuado por, dias antes, ter pisado uma mina, mas continuavam o Capitão Bento e o Capitão Gamelas e os Alf Mil Pimentel, Sousa, Amaral e Bentes da CCS. Foi criado um Comando Operacional sob o Comando do Ten Cor Paraquedista Fausto Marques, constituído pela CCP 122 comandada pelo Tenente Silva Pinto, a CCaç 2403 e a CCaç (?) de pessoal madeirense sob o comando do Capitão Carvalho.

Foi atribuída às Companhias do Exército, reforçadas com o Pel Daimler do Alf Mil Belo, a missão de protecção próxima dos trabalhos da estrada, enquanto a CCP 122 faria a protecção afastada através de heli-assaltos onde fossem localizadas posições do In. O COP iniciou a sua acção com o assalto a uma posição do In no Morés com o GComb do Tenente Bação, que tinha ficado em Bissau, para o efeito. Depois da actuação dos Fiats sobre o objectivo e largado o Grupo no mesmo, os helis dirigiram-se a Mansabá para transporte do resto da Companhia. Quando regressaram para transportar o terceiro Grupo, entregaram 1 Metralhadora e 1 ou 2 armas ligeiras capturadas pelo Grupo ido de Bissau.

Seguiram-se outros assaltos sempre iniciados com o Grupo que estivesse em Bissau, Tenente Terras Marques ou Tenente Avelar de Sousa, mas já sem capturas de material. A CCaç 2403 com a do Capitão Carvalho estabeleceram o sistema de protecção com 2 GComb 24 horas por dia no exterior, junto ao desenrolar dos trabalhos e desde o primeiro dia, em que foram levantadas as minas anti-pessoal colocadas na noite anterior, nunca mais, uma só que fosse, foi colocada. Quando a Companhia chegou a Mansabá, as minas, colocadas em grande quantidade, era tanto o pavor do pessoal como uma grande fonte de rendimento, dado que cada uma levantada valia bom dinheiro.

Para além da protecção aos trabalhos a CCaç 2403 ainda fez duas Operações em conjunto com a de Páras sendo, na segunda, recolhida (pela primeira vez ) de helicóptero.

Quando os trabalhos se afastaram do quartel, dificultando o apoio de fogo à reacção a prováveis ataques ou flagelações do In, a Engenharia Militar empenhada nas obras e dirigida, inicialmente pelo Capitão Engº Veiga e depois pelo seu substituto, Alf Mil Engº, também de apelido Veiga, construiu uma posição para o Morteiro 10,7 existente no quartel, a cerca de 3Km deste, protegido por um GComb. Numa das primeiras noites, após a instalação desta arma, a posição foi atacada, provocando 2 feridos ao GComb da Companhia madeirense que nessa noite a ocupava. Ou pela reacção encontrada e acção dos Páras no dia seguinte ou por outra qualquer razão foi o último ataque aos trabalhos. A partir daí apenas se verificavam flagelações de 1 ou 2 granadas de Morteiro 82 a que sempre respondia o Morteiro 10,7.

A certa altura a estrada era completamente finalizada com pavimento asfaltado, à ordem de 100 metros por dia e assim continuou até serem interrompidos os trabalhos por motivo das chuvas intensas da época. Foram terminados cerca de 6 quilómetros, até à região de Birongue, até princípios de Agosto.

Em finais de Julho o Capitão baixou ao Hospital de Bissau e foi evacuado para Lisboa, por motivos de saúde.

Após o fim dos trabalhos o Comando do COP foi transferido para a região de Bafatá e o Comando do BCaç 2851 para Galomaro, ficando apenas a CCaç 2403 em Mansabá, integrada no Batalhão de Mansoa.

Quando se encontrava em Lisboa o Capitão foi informado pelo 1.º Sargento da Companhia que o Alf Mil Brandão, em acção de patrulhamento que lhe tinha sido imposta para poder entrar de licença dias depois, tinha falecido, em 18/09/69, com um tiro, disparado, por acidente pelo Tenente que o tinha substituído no comando da Companhia, da arma de um guerrilheiro, abatido. Foi o terceiro morto da Companhia.

Não teve capacidade para vencer o pavor que tinha de sair para o mato e o Capitão nunca soube lidar com essa situação. Encontrou a morte da forma mais inesperada e estúpida.

Teve a hombridade de não ter desertado o que, quem sabe, o poderia ter tornado num importante político. Paz à sua alma.

Quando em Janeiro o Capitão teve alta do HMP contactou o Capitão Carreto Maia, então Comandante da Companhia informando-o da chegada a Bissau no dia 20 e propondo-lhe a troca de funções com a que lhe viesse a ser atribuída. No dia 21 contactado o QG de Bissau a troca não se fez porque a colocação disponível era na Companhia do Jolmete e o Capitão Maia só aceitava ficar em Bissau ou numa Companhia do Batalhão de Mansoa a que, então, pertencia e de que gostava.

No regresso a Mansabá, em 23 de Janeiro de 1970, a Companhia sofreu uma emboscada e na reacção, um acidente com um dilagrama provocou dois mortos, o 1.º Cabo Rebelo e o Soldado Alexandre e um ferido de média gravidade, o Soldado “Caracol”. Foram o quarto e quinto mortos e o primeiro ferido da Companhia.

Entretanto o General Spínola requisitou para a Câmara Municipal de Bissau o Comandante da CCS/BCaç 2851 por ser arquitecto e determinou a sua substituição por um Capitão disponível o que levou o Capitão Peixeiro de volta ao seu Batalhão, em Galomaro. Comandava o Ten Coronel António José Ribeiro e os restantes Oficiais eram praticamente os anteriores.

Em meados de Maio, com a comissão terminada, o Batalhão reuniu-se novamente em Bissau onde, 22 meses antes, tinha sido desmantelado.

Na formatura de despedida do General Spínola às tropas que regressavam à Metrópole foi lido o louvor atribuído pelo Comandante-Chefe à CCaç 2403.

Não regressaram com a Companhia: o Capitão Peixeiro que ficou a aguardar despacho do seu auto por doença em serviço; o Capitão Maia, os Alf Mil Carias e Amaral por não terem ainda terminado as suas comissões; e o Alf Mil Tavares que ficou na comissão liquidatária.

Assim, embarcou em Bissau no Navio Carvalho Araújo, em 28 de Maio e desembarcou em Lisboa em 04 de Junho de 1970, comandada pelo Fur Mil Casimiro Santos, a CCaç 2403.

Navio Carvalho Araújo

(FIM)
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Notas de CV:

Vd. postes anteriores da série de:

14 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8273: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (1): Deslocação para a Guiné e chegada a Nova Lamego

16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8284: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (2): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios
e
19 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8299: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (3): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios

(*) Vd. poste de 24 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3146: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (12): Ataque a Mansabá

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8299: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (3): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios




1. Terceira parte da publicação da História (resumida) da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70), envida pelo seu Comandante, ex-Cap Mil Hilário Peixeiro*, actualmente Coronel na situação de Reforma.






História (resumida) da CCaç 2403 – Guiné 1968/70 (3)

Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Lança Afiada

Com a chegada da CCaç 1790 a Nova Lamego a CCaç 2403 recebeu ordem de marcha para o Olossato com passagem por Fá Mandinga (onde Amílcar Cabral tinha trabalhado num projecto agrícola) e aí ficou mais de 1 mês, em missão de intervenção do Comando de Agrupamento de Bafatá. Era um local sem mosquitos, talvez único na Guiné, certamente devido a uma enorme colónia de morcegos instalada nos telhados dos edifícios existentes. Neste tempo de permanência em Fá, a Companhia foi ocupar o quartel de Fajonquito para libertar a CCaç local para uma Operação na respectiva área de acção. A seguir foi mandada efectuar uma Operação no Sara, conjuntamente com o Pel Caç Nat 52 do Alf Mil Beja Santos que tinha um prisioneiro que conhecia a localização de um objectivo.

Na noite de pernoita antes do objectivo o prisioneiro fugiu e de manhã foi accionada uma mina antipessoal que provocou ferimentos graves num Sargento de 2.ª linha do Alf Mil Beja Santos e no Soldado Pereira, da Companhia. Quebrada qualquer surpresa para abordar o objectivo e havendo necessidade de fazer a evacuação dos feridos, em perigo de vida, tentou-se, sem resultado durante algumas horas, contactar o Comandante do Batalhão para dar a Operação por finda e pedir as evacuações. Enquanto se procurava um local onde o Heli pudesse aterrar, o estado do Soldado Pereira, com as duas pernas arrancadas abaixo do joelho, ia piorando rapidamente. Finalmente e com a ajuda dos espelhos que cada militar transportava consigo, um DO localizou a Companhia e conseguiu-se pedir a evacuação para um local já encontrado.

Entretanto deu-se mais um ataque de abelhas e para as afastar alguém lançou uma granada de fumos que incendiou o capim, já o Heli se aproximava. Quando se preparava para aterrar o local estava em chamas mas não foi impedimento suficiente para o piloto, num gesto de extraordinária bravura e abnegação, poisar e uma Enfermeira Pára-quedista receber os feridos. Os seus nomes não são referidos por não se saberem.

No dia seguinte, uma mensagem informava a Companhia do falecimento do Soldado Pereira, em 22 de Fevereiro de 1969, que chegara ao Hospital ainda com sinais de vida, muito débeis. Foi o 2.º morto da Companhia. À sua família foi escrita uma carta comunicando que morrera em paz com o pedido ao Capitão que lhe retirasse do bolso uma nota de cem escudos e a desse a Nossa Senhora pela sua alma o que não foi cumprido por se pensar que se chegasse vivo a Bissau estaria salvo.
Acompanhada do Comandante do Batalhão, Ten Cor Pimentel Bastos que se deslocou no Heli da evacuação, a tropa recolheu a quartéis.

Chegados a Fá começaram imediatamente os preparativos para a grande Operação “Lança Afiada”* na região do Fiofioli, onde nos últimos anos as NT não tinham intervindo e em que iriam participar 9 Companhias e importantes meios aéreos, com uma duração prevista de 12 dias. Para além do tradicional “matar, capturar ou, no mínimo correr com o IN”, a missão englobava também a destruição dos meios de subsistência dos guerrilheiros na posse das populações e retirar estas do seu controlo e deslocá-las para junto dos aquartelamentos militares. Cada Companhia deveria fazer-se acompanhar por cerca de 100 carregadores cada um com um pau, uma corda e um saco os quais transportariam um grande barco insuflável com remos, e 20 coletes de salvamento para travessia dos cursos de água da zona que, afinal, não existiam.

A 8 de Março a Companhia, como Destacamento D, iniciou a Operação com os 4 GComb a partir do Xime. Poucas horas depois o In começou a efectuar flagelações sobre os vários Destacamentos em acção mas sem oferecer resistência às reacções das NT. No 2.º dia o Alf Mil Brandão, psicologicamente incapacitado, foi evacuado e no 3.º ou 4.º dia foram recolhidos das Companhias os barcos e todos os seus acessórios, por desnecessários. As flagelações foram diminuindo em número e intensidade e ao 10.º dia, não havendo manifestações do In, com as populações refugiadas na margem oposta do Corubal e feito o esvaziamento dos celeiros de milho e arroz existentes, o General Spínola, recebido junto às tropas por mais um ataque de abelhas que o vento provocado pelo Heli abreviou, ordenou ao Coronel Felgas o fim da Operação, 2 dias antes do previsto, com o aproveitamento de uma lancha da Marinha para transportar as tropas para o Xime, porque a partir do dia seguinte não haveria qualquer apoio da Força Aérea, necessária para outras acções. Por razões de ordem técnica ou de navegação as tropas não foram embarcadas e regressaram ao Xime pelos próprios meios ou seja, a pé.

Nem o responsável pela Operação nem o responsável pela sua autorização perceberam que uma acção daquele tipo, com a retaguarda do In completamente livre de forças opositoras, apenas servia para o forçar a fazer o que fazia com regularidade e para o qual dispunha de meios, que era passar para a margem esquerda e aguardar o fim da Operação para voltar a passar para a margem direita. Se fosse uma Operação ao nível do Comando-Chefe, sem linhas limites de actuação, como acontecia quando se tratava de Operações de nível local, talvez o resultado tivesse sido outro, completamente diferente, para as NT. Operações ao nível do Comando Chefe (não consta que alguma tivesse sido realizada), em que todos os diferentes meios disponíveis fossem empenhados, é que podiam abater, no verdadeiro rigor do termo, um inimigo cada vez mais confiante na sua liberdade de acção.

Não era com companhias dispersas por todo o território, cuidando principalmente da própria segurança e subsistência em termos de água, lenha, verduras, etc, através da construção de abrigos, patrulhamentos e pequenas Operações com reduzidos efectivos na sua zona de acção que a situação geral podia, alguma vez, evoluir a favor das NT.

Com esta Operação a Companhia terminou a sua actividade no Sector Leste da Guiné e embarcou, dias depois, no Xime, com destino ao Olossato, via Bissau. O Comando com 3 GComb seguiu para o Olossato enquanto o 2.º Grupo, do Alf Mil Brandão, seguiu para Mansabá para reforçar aquela guarnição na protecção aos trabalhos da estrada em construção para o K3, junto a Farim. Mais de 8 meses depois da chegada à Guiné foi no Olossato que os soldados passaram a dispor de camas e de ventoinhas.

(Continua)
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8284: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (2): Actividade da CCAÇ 2403 e participação na Operação Mabecos Bravios

(*) Além do marcador "Op Lança Afiada" para consultar os postes desta II Série, consultar ainda os seguintes Postes da I Série:

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

9 de Novembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

9 de Novembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli

14 Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal (Luís Graça)"

sábado, 14 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8273: História da CCAÇ 2403 (Hilário Peixeiro) (1): Deslocação para a Guiné e chegada a Nova Lamego




1. Início da publicação da História (resumida) da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70), envida pelo seu Comandante, ex-Cap Mil Hilário Peixeiro*, actualmente Coronel na situação de Reforma.





História (resumida) da CCaç 2403 – Guiné 1968/70 (1)

Deslocação para a Guiné e chegada a Nova Lamego

O BCaç 2851, constituído por Cmd e CCS e pelas CCaç 2401 - 2402 e 2403, foi formado e preparado no RI1, sediado na Amadora, com os seguintes Oficiais Superiores e Capitães:

- Cmd
- Cmdt – Ten Cor César da Luz Mendes
- Of Info - Maj Bispo
- Of Op - Maj Martins
- Of Pes e Reab – Cap Bento
- CCS - Cap Gamelas
- CCaç 2401 - Cap Mil Maduro (Juiz de profissão)
- CCaç 2402 - Cap Vargas Cardoso
- CCaç 2403 – Cap Peixeiro


Paquete Uige


CCaç 2403 no Leste da Guiné

A 24 de Julho de 1968, aquando do embarque no Paquete Uige, a situação da CCaç 2403, em Oficiais, Sargentos e Praças era a seguinte:

- Oficiais: - o Cmdt, recém-promovido a Capitão, o Alf Mil Brandão, Cmdt do 2.º GComb, e o Alf Mil Tavares, Cmdt do 3.º GComb (este já em Bissau, a receber os materiais da Companhia).
Os Cmdts, nomeados, dos outros dois GComb, não embarcaram, um por motivos de saúde e o outro, Carvalho, natural de Angola, por deserção;

- Sargentos: 2.º Sarg Melo e 2.º Sarg Andrade (este último já em Bissau na recepção dos materiais); Vaguemestre, Transmissões, Enfermeiro e Mecânico, respectivamente, Furriéis Milºs Nelson Rodrigues, Oliveira, Viriato dos Santos e Eusébio Pires; e comandantes de Secção, por ordem alfabética, Furriéis Milºs Almeida, Braga, Brito, Lareiro, Lousada, Marques, Pereira, Rosa, Santos, Silva e Soares.

- Praças: 36 Cabos e 106 Soldados.

A viagem decorreu com mar calmo, sem acontecimentos dignos de registo e com chegada, cinco dias depois, 29 de Julho, a Bissau.


Último jantar a bordo. Na mesa do Imediato os Cmdts da CCaç 2401, CCaç2403 e CCaç 2405. Na outra mesa, de costas, o Cmdt da CCaç 2402

Logo que desembarcou, o BCaç 2851 foi completamente desmembrado: Cmd e CCS foram destinados a Mansabá; CCaç 2401 a Pirada; CCaç 2402 a Có e CCaç 2403 a Nova Lamego.

A CCaç 2403, sem camas, sem colchões e sem mosquiteiros ficou cerca de 10 dias em Bissau a receber materiais e instruções e a aguardar embarque para o destino.

Durante estes dias foi testar-se o armamento para a região de Prabis, um pouco a norte de Bissau e ai a Companhia teve a sua primeira baixa, temporária, devido a um fortíssimo ataque de abelhas. Vá lá saber-se porquê, investiram quase exclusivamente sobre o soldado Maneiras que teve de ser evacuado para o hospital onde permaneceu 4/5 dias.

Depois destes dias a alimentar os biliões de mosquitos de Bissau, a Companhia embarcou numa LDG, rumo a Bambadinca através do rio Geba. Da foz até à Ponta do Inglês, onde recebe o Corubal, o rio é tão largo que as suas margens mal se avistam uma da outra. Da ponta do Inglês à nascente transforma-se em gigantesca serpente em perpétuo movimento ziguezagueante. De doze em doze horas, ou seja duas vezes por dia, ingere tanta água e com tal sofreguidão que arrasta para o seu interior tudo o que nela flutua, incluindo embarcações e outras duas vezes por dia expele, em prolongado vómito, toda essa água ingerida nas seis horas anteriores. Por isso neste rio as embarcações só conseguem navegar em perfeita sincronia com estas fortes correntes, originadas pelo fluxo e refluxo das marés.

A forte corrente da enchente, cria uma onda que se desloca para montante como um enorme tapete rolante, chamado “Macaréu”, que se desenrola ao longo do rio, provocando um aumento instantâneo do caudal de muitos metros e contra o qual não é possível navegar.

Os militares da Companhia sentados no fundo da Lancha não colaboravam na respectiva segurança nem tinham autorização para espreitar para o exterior. Assim o In, quando via passar a Lancha, não sabia, naquele momento, que tipo de carga transportava. Na passagem por locais considerados mais perigosos eram os marinheiros da tripulação que ocupavam os postos de combate para sua defesa.

Cavalgando o “Macaréu”, a Lancha atracou em Bambadinca onde se procedeu ao desembarque do pessoal e descarga do respectivo material, no tempo estabelecido pelo Comandante, sem um minuto de tolerância, porque a navegação para juzante tinha que ser iniciada ao mesmo tempo da corrente da vazante.

Organizada a coluna com as viaturas disponíveis, iniciou-se a marcha para Nova Lamego onde se chegou já noite dentro.


Nova Lamego (Gabú)

Em Nova Lamego a Companhia ficou em instalações precárias, cedidas pela Administração, sem camas para as praças, que receberam colchões insufláveis os quais, algumas semanas depois, já não retinham o ar; estavam todos rotos. Ventoinhas não havia para ninguém.

A Companhia ficou de Intervenção ao Batalhão local, começando a efectuar patrulhamentos de 24 horas na zona, sempre com 2 GComb.

No dia 14 de Setembro quando o Fur Mec Eusébio procedia à reparação de uma máquina de fazer gelo, da Administração, o compressor desta rebentou, causando-lhe ferimentos de tal gravidade que não chegou a ser evacuado no avião que, mesmo de noite, se deslocou de Bissau para o efeito. Não tinham passado 2 meses desde que embarcara em Lisboa. Foi o primeiro morto da Companhia.

Ainda em Setembro a sua vaga foi preenchida pelo Fur Mec Pinto Mendes que, por sua vez, foi rendido em Maio de 69, quando terminou a comissão, pelo Fur Mec Fernandes.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8252: Tabanca Grande (281): Hilário Peixoto, Coronel Reformado, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851 (Guiné 1968/70)