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terça-feira, 4 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21222: Recortes de imprensa (112): entrevista ao antropólogo Vasco Gil Calado sobre droga e álcool na guerra colonial, "Público", 2 de agosto de 2020 (Carlos Pinheiro)


Recorte da edição do Público, 2 de agosto de 2020: Texto de Patrícia Carvalho e fotografia de Daniel Rocha. O artigo só está disponível para assinantes. (Excerto reproduzido com a devida vénia...)  


1. Mensagem do nosso camarada e amigo de Torres Novas, Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70)

Date: segunda, 3/08/2020 à(s) 18:23

Subject:  Artigo no jornal "Público" sobre álcool e droga na guerra colonail

Caros companheiros e amigos

Peço imensa desculpa de vos estar a incomodar, mas o trabalho que abaixo partilho, Cannabis e álcool: as companheiras esquecidas dos combatentes da Guerra Colonial, e que, possivelmente muitos de vós já tereis visto, feito por um fulano para a sua tese de doutoramento, depois de ter entrevistado 200 ex-combatentes, incomodou-me sobejamente porque – posso estar a ver mal – o senhor chegou aquelas conclusões depois de ter falado com uma inexpressiva percentagem daquelas muitas centenas de milhares de jovens que durante 14 anos deram o corpo ao manifesto.

Ele, segundo diz, nunca se tinha interessado pela Guerra Colonial, e só agora, não sei porquê, realizou o tal trabalho e chegou a estas "esplêndidas" conclusões.

Não me quero alongar mais, mas permito-me perguntar se este senhor não mereceria que lhe fosse dirigida uma reacção que desmontasse o que o senhor afirma doutoralmente.

Já me têm feito confusão algumas teses de doutoramento, mas esta suplantou todas as medidas.

Se algum ou alguns dos meus amigos se quiserem dar ao trabalho de alinhavar algumas palavras acerca do assunto, fico grato.

Cá fico à espera.

Um grande abraço, virtual

Carlos Pinheiro

 PS - Vd. artigo no jornal Público de 2 do corrente:

2.  Nota do editor LG:

Obrigado, Carlos pela tua oportuna chamada de atenção. Mas é preciso ir  às fontes, ler em primeira mão o autor, para depois se ter uma opinião fundamentada.  O tema é delicado mas não é tabu. Temos, no nosso blogue,  30 referências sobre alcool, mas apenas duas sobre drogas... 

Percebo, pelo título do artigo, que possa desencadear reações emotivas (, já me chegaram ecos de Trás-os-Montes...), porque mexe com a nossa autoestima e pode ferir a honra da generalidade dos combatentes. Mas não vamos provocar aqui uma "caça às bruxas"... Há 16 anos que falamos, aqui, no nosso blogue, de tudo ou quase tudo, com frontalidade e verdade. Mas o nosso blogue não tem por missão produzir "trabalho científico", apenas partilhar "memórias"... A ciência é com os cientistas,,,

Começo por dizer que não li a entrevista do "Público", nem o livro, mas vou consultar a tese de doutoramento, do Vasco Gil Calado,  em antropologia, pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, defendida em provas públicas em 17/9/2019.  Temos que separar o artigo de jornal (e os títulos de caixa alta dos jornais provocam muitas vezes leituras enviesadas) e o trabalho académico.

Este é um trabalho com arbitragem científica. E terá por certo méritos e desméritos. Não há trabalhos científicos perfeitos.  E é bom desde já chamar a atenção que não é um trabalho de  investigação (quantitativa) em epidemiologia mas um trabalho de investigação (qualitativa) em antropologia. Portanto, é preciso ter cuidado com as eventuais generalizações abusivas.

Este trabalho académico pode ser consultada no Repositório desta instituição ["O Repositório Institucional do Iscte tem como objetivo preservar, divulgar e dar acesso à produção intelectual do Iscte em formato digital. Na medida em que reúne o conjunto de publicações académicas e científicas do Iscte, contribui também para o aumento da visibilidade e impacto do trabalho de investigação a nível nacional e internacional."]

Referêmcia bibliográfica:

CALADO, Vasco Gil Ferreira - Drogas em combate: Usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2018. Tese de doutoramento. [Consult. 3 de agosto de 2020 ] Disponível em www: http://hdl.handle.net/10071/18841. 

O acesso é restrito, por vontade expressa do autor (, por razões que desconheço, talvez relacionadas com a proteção das fontes e a confidencialidade da informação...),  podendo ser lhe pedida uma cópia em formato digital. Os trabalhos académicos, produzidos no âmbito das universidades públicas, devem estar ( e em geral estão)  em "open acesso", isto é, abertos à consulta pública.

Aqui fica o resumo da tese, o que é que está disponível "on line" no repositório, a par das palavras-chave: Antropologia cultural | Guerra colonial | Colonialismo português | Abuso de drogas | Memória coletiva | Usos e costumes | Portugal.

A Guerra Colonial Portuguesa foi um conflito de guerrilha marcado pelo desgaste físico e psicológico, tendo decorrido a milhares de quilómetros da «metrópole», em territórios inóspitos e em muito diferentes do que os jovens portugueses conheciam. 

Entre as novas experiências que tiveram lugar durante a comissão militar em África conta-se a descoberta da cannabis, uma planta de consumo tradicional em Angola e Moçambique, e a adoção de padrões de consumo intensivo de bebidas alcoólicas que a logística militar distribuía pelos quartéis. 

De acordo com as narrativas dos ex-combatentes, os usos de cannabis e álcool desenvolvidos pelos militares portugueses estão intrinsecamente relacionados com as circunstâncias do conflito, com as normas sociais e com as motivações de consumo. Na guerra, os militares portugueses recorriam às duas drogas como forma de ultrapassar as dificuldades, vencer o medo e lidar com uma realidade difícil de suportar, fosse pela omnipresença da violência, do tédio ou da tensão emocional. 

Embora a cannabis fosse uma planta que o olhar europeu historicamente associou à desordem e ao comportamento bárbaro, a partir do final da década de 60 do século XX os militares portugueses deram-lhe um uso diferente, consumindo-a de forma terapêutica, sem que isso desse aso a castigos disciplinares. No entanto, ao mesmo tempo, na «metrópole» o poder político iniciava uma «guerra às drogas», criminalizando o uso de cannabis e de outras substâncias psicoativas e fazendo da droga um problema social, associando-a à contestação social. 

Tudo isto permite perceber que a droga é um constructo social e um objeto eminentemente político, pelo que nada no uso de drogas é um facto adquirido ou algo que decorra exclusivamente das propriedades farmacológicas de cada uma, antes é condicionado histórica e socialmente, nomeadamente em função do contexto político. [Fonte: http://hdl.handle.net/10071/18841]

Há também um artigo do mesmo autor,  disponível em texto integral, "on line", na revista "Etnográfica" [Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia], e que já li em tempos (**).

Vasco Gil Calado, « As drogas em combate: usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa », Etnográfica [Online], vol. 20 (3) | 2016, Online desde 27 novembro 2016, consultado em 04 agosto 2020. URL : http://journals.openedition.org/etnografica/4628 ; DOI : https://doi.org/10.4000/etnografica.4628

Resumo: Apresentam-se as principais questões suscitadas pelo trabalho em curso acerca do uso de substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). São identificados alguns aspetos-chave que emergem das narrativas dos ex-combatentes acerca da sua experiência de guerra e que contextualizam um conjunto de práticas, entre elas o uso de drogas. Confirma-se o abuso de álcool e o uso de canábis entre os militares das forças armadas portuguesas envolvidas no conflito, numa altura em que em Portugal surgiam as primeiras iniciativas de combate às drogas. Tanto o consumo de bebidas alcoólicas como de outras drogas pode ser entendido como uma forma de lidar com a ansiedade e a violência do quotidiano.

Em tempos, o Gil Vasco Calado pediu-nos ajuda para  este trabalho académico (**). Já não me lembro se me chegou a entrevistar, nem tenho a certeza de o conhecer pessoalmente,  O poste P16807 teve 12 comentários.
___________


(**) Vd. poste de 6 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16807: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (39): pedido de ajuda para tese de doutoramento em Antropologia, pelo ISCTE-IUL, sob o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial (Vasco Gil Calado)

(...) Chamo-me Vasco Gil Calado, antropólogo e técnico superior do SICAD [Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências]. 

Estou a fazer o doutoramento em Antropologia, no ISCTE, sobre o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial. Foi o Renato Monteiro quem sugeriu que o contactasse, na condição de grande especialista e dinamizador de um blog essencial sobre a guerra colonial. No âmbito académico da tese, gostava de o entrevistar, de forma anónima e confidencial, naturalmente.

O meu orientador é o Prof. Francisco Oneto, do departamento de Antropologia do ISCTE.
Nós cruzamo-nos no ISC-Sul, numa pós-graduação de Sociologia da Saúde, em que deu um módulo sobre Educação para a Saúde, se bem me lembro, para aí em 1999 ou algo do género. (...)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20561: E as nossas palmas vão para ... (20): O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, que faz hoje 23 anos e já recebeu mais de 14 milhões de visitas




1. M
ensagem que recebemos hoje do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa :



O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa completa 23 anos neste dia. Nas Notícias dá-se conta do balanço deste período de mais de duas décadas de trabalho árduo – eis os resultados:

– no Consultório, destinado a dar informação/esclarecimento, encontram-se, até ao momento, disponíveis para consulta livre, 35 644 respostas a questões colocadas sobre as mais diversas áreas da língua – da história à fonética e fonologia, bem como à dinâmica do texto, do discurso e até da literatura, passando pela formação de palavras, pela sua pertença a classes, pelo seu comportamento na frase (sintaxe) e por questões de semântica e de pragmática,

– já no campo da opinião ou da criação, as rubricas da secção Na 1.ª Pessoa –  O Nosso Idioma, Pelourinho, Controvérsias, Ensino, Lusofonias, Diversidades e  Acordo Ortográfico –, bem como as Notícias, a Montra de Livros e a  Antologia, totalizam , de de momento, 7650 artigos disponíveis em arquivo para leitura, análise e reflexão;

– acresce que, no final de 2019, o fluxo de visitas ascendia a mais de 14 milhões de visitas.

Há, pois, motivos de sobra para festejar mais um aniversário.

Na rubrica O nosso idioma, a professora e linguista Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, dá parabéns com o texto "Vinte e três anos em vinte e três palavras". Aqui se reúnem e definem, pelas memórias e emoções que evocam certos vocábulos – são exemplos solidez, validez, sensatez...–, tantos quantos os anos que já conta este serviço, sempre ao dispor de quem quer usar bem o português, conhecendo-o e praticando-o na sua unidade ou na sua diversidade. Como diz a autora, «[...] o Ciberdúvidas são as pessoas que o visitam a cada dia, são os textos sobre a língua e para a língua que aqui se partilham».

Aos nossos consulentes, quer tenham o português como língua materna quer não, se deve, portanto, o registo do nosso reconhecimento grato, porque é na sua constante adesão aos conteúdos aqui em linha, manifestada também em contacto direto, através do envio quotidiano de questões, achegas, críticas, que o Ciberdúvidas tem encontrado justificação e alento para seguir caminho, ao encontro do interesse que lhe confiam. 

Veja os textos na íntegra, aqui: 



2.  Comentário do nosso editor:

Confesso que sou fã, de há muito,  do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, um sítio da Net criado em 15 de Janeiro de 1997, por dois jornalista portugueses, o  José Mário Costa, e o  João Carreira Bom, este já falecido.
"Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos." 

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/noticias/ciberduvidas-23-anos-ao-lado-da-lingua-portuguesa/3401
[consultado em 15-01-2020]

De acesso gratuito, defende e promove a língua portuguesa, e a(s) lusofonia(s). Com altos e baixos, provocados pelas "dores do crescimento", as restruturações, a volatilidade dos apoios dos mecenas, as inevitáveis dificuldades de organização e funcionamento, a começar pela escassez de recursos humanos e  financeiros, celebra os seus 23 anos de existência, o que é obra, no mundo da Net, em português... Só por isso, por estas duas razões,  merece  de imediato as nossas palmas.

Acresce que também nós, o blogue da Tabanca Grande, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, temos na décima (e última) das nossas regras editoriais a defesa da língua portuguesa "que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos", da Lourinhã a Dili,  de Leça de Matosinhos a Bissau, de Almada a Nova Iorque, de Lisboa a Maputo, de Cascais a Macau, do Porto ao Rio de Janeiro, do Funchal ao Mindelo, e por aí fora...

Embora não seja esse o nosso "core business", interessamo-nos pelas questões linguísticas,  e não deixamos cair no esquecimentos os vocábulos e as expressões que (ainda) não vêm grafados nos nossos dicionários (gíria e calão da tropa e da guerra, acrónimos, siglas, crioulos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, angolês,etc.). Estas questões têm alguma visibilidade no nosso blogue que vai fazer 16 anos em 23/4/2021.. Veja-se. por exemplo, alguns dos nossos descritores / marcadores:

angolês (3)

Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (11)

CPLP (8)

crioulo (69)

Em bom português nos entendemos (42)

língua portuguesa (19)

lusofonia (93)

Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (9)

Aproveito esta efeméride para saudar o José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas e seu coordenador editorial desde o início... E naturalmente os seus colaboradores... Em boa verdade, ele tem sido, historicamente, "o corpo e a alma" deste projeto. Conheço-o pessoalmente. da tertúlia dos caminheiros da Quinta das Conchas onde aparece, uma vez por ano, para comer...lampreia connosco!... Falamos então,  à volta do arroz de lampreia, de coisas que são do nosso interesse comum  como a "sua" Angola, o "seu" Ciberdúvidas, a nossa" língua, o jornalismo, a lusofonia... 

E uma pessoa, amável, afável, generosa, que eu aprendi a estimar, não só pela sua grande honestidade intelectual, como pela sua cultura, facilidade de criar pontes, capacidade de trabalho... De resto,  só um profissional com o seu perfil  conseguiria  manter um portal desta natureza e envergadura, donde se destaca o "consultório linguístico" que responde diária e graciosamente às mais diversas dúvidas da língua portuguesa, de todas as partes do mundo.  

O Ciberdúvidas recorre a um vasto leque de especialistas.  Está atualmente alojado no servidor do  ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.
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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20387: Agenda cultural (715): Mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”, organização do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e do Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa), hoje dia 27 de Novembro, pelas 17h00, com a participação de Mário Beja Santos

C O N V I T E




Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais

O Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) organizam, no próximo dia 27 de Novembro, uma mesa redonda sobre “Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais”.

Partindo do debate sobre a utilização, por Mário Beja Santos, no seu livro “Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba: O BNU da Guiné” (Edições Humus, 2019), dos relatórios dos gerentes da filial do BNU na então Guiné Portuguesa, esta mesa redonda alarga o âmbito da discussão e procura pôr em confronto virtualidades de diferentes tipos de arquivo, nomeadamente as que advém da riqueza própria das fontes neles guardadas.

A mesa redonda contará com a participação dos especialistas em arquivos e fontes Ana Canas (AHU e CH-ULisboa), Augusto Nacimento (CH-ULisboa e CEI-IUL), João Figueiredo (CEDIS, FD-UNL), Maria João Vaz (CIES-IUL, ISCTE-IUL) e Mário Beja Santos, e será moderada por Carlos Almeida (CH-ULisboa) e Eduardo Costa Dias (CEI-IUL, ISCTE-IUL).

A sessão será de entrada livre, na sala C1.01 (Ed. II, ISCTE-IUL), pelas 17h00.

OBS: - Com a devida vénia ao Centro de Estudos Internacionais - ISCTE-IUL
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20362: Agenda cultural (714): 26 de novembro, 3ª feira, na Livraria-Galeria Municipal Verney, Oeiras, lançamento da 10ª edição do livro "Longas Horas do Tempo Africano", de Manuel Barão da Cunha. Prefácio de Isaltino Morais, presidente da CM Oeiras

sábado, 16 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20351: Agenda cultural (713): Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais Data: 27 de novembro 2019, às 17:00. Local: Lisboa, ISCTE-IUL, Sala C1.01




Mesa-redonda: Arquivos e Fontes para o Estudo dos Contextos Coloniais

Data: 27 de Novembro 2019, às 17:00
Local: ISCTE-IUL (ISCTE-IUL, Lisboa)



O Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) e o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) organizam, no próximo dia 27 de Novembro, uma mesa redonda sobre: 

“ARQUIVOS e FONTES para o ESTUDO dos CONTEXTOS COLONIAIS”.

Partindo do debate sobre a utilização, por Mário Beja Santos, no seu livro “Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba: O BNU da Guiné” (Edições Humus, 2019), dos relatórios dos gerentes da filial do BNU na então Guiné Portuguesa, esta mesa redonda alarga o âmbito da discussão e procura pôr em confronto virtualidades de diferentes tipos de arquivo, nomeadamente as que advém da riqueza própria das fontes neles guardadas.

A mesa redonda contará com a participação dos especialistas em arquivos e fontes:


Ana Canas (AHU e CH-ULisboa;

Augusto Nacimento (CH-ULisboa e CEI-IUL);
 

João Figueiredo (CEDIS, FD-UNL);
Maria João Vaz (CIES-IUL, ISCTE-IUL);
 
e Mário Beja Santos; 

e será moderada por Carlos Almeida (CH-ULisboa) e Eduardo Costa Dias (CEI-IUL, ISCTE-IUL).

A sessão será de entrada livre, na sala C1.01 pelas 17h00.

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Nota do editor:

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19302: (Ex)citações (348): O 'cinema Paraíso'... de Fajonquito e de Nova Lamego.. Recordações de nhô Manel Djoquim, o homem do cinema ambulante (Cherno Baldé / Vital Sauane)


Guiné > s/l> s/d> c. 1943/73> O caçador e empresário de cinema ambulante Manuel Joaquim dos Prazeres.

Foto (e legenda): © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz a ver os cartazes, espetados numa árvore, do filme da semana : Riffi em Paris, película francesa, de 1966, dirigida por Denys de La Patellière e com Jean Gabin no principal papel... Filme de gangsters, popular na época... Chegava à Guiné três anos depois...Melhor do que nada... Hoje os guineenses não têm uma única sala de cinema..  Uma ternura (e uma preciosidade), esta foto!... A "fábrica de sonhos", ambulante,  era a da nhô Manel Joquim. Com ele, a "sétima arte" chegava a sítios recônditos de África...

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cartaz do filme "Cinema Paraíso", de
Guiseppe Tornatore (1988), um daqueles
filmes que a gente não se cansa ver e rever...
Estreou em Portugal em 1990.
Fonte: Wikipedia
1. A história do nho Manel Djoquim, caçador, fotógrafo, homem dos sete ofícios, empresário de cinema ambulante em Cabo Verde (1929/1943) e depois na Guiné (1943/73), agora posta em biografia (ficcionada) pela sua filha Lucinda Aranha Antunes (*) , dava um belo filme como o inesquecível "Cinema Paraíso" (1988), escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore, com música de Ennio Morricone. Aliás, Cabo Verde e a Guiné desse tempo têm matéria-prima para grandes filmes...

Visto do séc. XXI, o Manuel Joaquim dos Prazeres só pode ser um descendente direto dos "lançados", dos grandes aventureiros de Quinhentos, do tuga que ama a Áfria e os grandes espaços, e as suas gentes... E que sabe fazer a ponte entre a natureza e a cultura, a geografia e a história, o real e o imaginário, os bichos e os homens...

Eu vi, por certo, algum filme dele, projetado na parede ds instalações do comando ou no refeitório das praças, em Bambadinca (entre julho de 1969 e março de 1971) e, antes, em Contuboel, em junho e julho de 1969... Aliás, vários de nós têm ainda uma vaga lembrança dele...

Mas deixemos antes aqui, recuperados, os depoimentos (emocionados) de dois guineenses, que eram crianças nesse tempo do cinema ambulate de nhô Manel Djoquim: o nosso Cherno Baldé, gestor de projetos, e o empresário Vital Sauane, curiosamente dois guineenses que completaram a sua formação académica, pós-graduada, na "minha" escola, o ISCTE-IUL. 


(i) Comentário de Cherno Baldé (, natural de Fajonquito, gestor de projetos, nosso colaborador permanente)  ao poste P13022 (**), de 23 de abril de 2014:

O Manel Djoquim (Manuel Joaquim), o Homem do cinema ambulante:

“Nestas suas andanças lá ia com a sua velha Ford, gerador, projector, ecrã, filmes os mais inócuos possíveis (capa e espada, cowboys, musicais, comédias, dramas), os seus ajudantes nativos (...)  cinco pesos e leva cadeira...”...

Era conhecido em toda a Guiné e em todas as aldeias, naturalmente, pelas pessoas daquele tempo, isto é,  pessoas com idade igual ou superior a 50 anos.

Eu conheci o Sr. Manuel Joaquim desde os meus 8/9 anos de idade em Fajonquito. Ele vinha à nossa aldeia, pelo menos, uma vez, em cada 2/3 meses, no seu velho camião carregado da sua máquina de sonhos para nos alegrar, e foi graças a ele que fomos descobrindo grande parte da cultura ocidental estilizada em gestos ousados, olhares atrevidos, carícias públicas e mil pedacos de um universo que entrava pouco a pouco dentro da nossa forma de ser e estar na vida.

Pessoalmente, para o resto da minha vida estaria marcado pela postura e coragem dos actores (Cowboys e Índios indomáveis), o que, no fundo, era muito parecido com aquilo que nos tentavam inculcar nas nossas cerimónias iniciáticas designadas de Fanado tradicional.

Dele ainda recordo-me dos seus enormes calções, meias esticadas até aos tornozelos e chapéu de abas largas, tipo Cipaio. A certa altura, um dos seus ajudantes era o Camões (zarolho) e por isso acreditavámos que com esta limitação visual podiamos sempre aproveitar para entrarmos sem que ele nos visse. Normalmente eramos apanhados e soltos de seguida dentro do recinto fechado para a projeção do filme.

Naquela idade não precisávamos de cadeiras, e quando a projeção se iniciava, pouco a pouco, enchíamos o recinto, acabando por nos sentarmos mesmo por baixo do pano das imagens, importante mesmo era entrar e assim poder participar, no dia seguinte, de mais um episóio marcante, uma história de vida que só voltaria a acontecer passados 2 ou 3 meses.

Quem não ficava contente com a chegada do Manel Djoquim eram as nossas pobres mães, pois sabiam que ele vinha, por certo, roubar, através dos seus filhos as pequenas economias conseguidas durante semanas ou meses com muito suor e canseira. (...)


Convite para a apresentação do livro de poesia "Mundo di Bambaram",  de Vital Sauane, empresário de futebol, descobridor de talentos do futebol guineense... Lisboa, 28 de dezembro de 2018, pelas 18h00, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Lisboa, Campo Grande.


(ii) Comentário de Vital Sauane [ natural de Nova Lamegio, mestre em Sociologia pelo ISCTE (2011/13), poeta, empresário de futebol, dono da Academia Vitalaise, em Bissau,] ao poste P12991, de 15 de abril de 2014 (***)

Cara Lucinda Aranha, é com grande satisfação que encontro este Blog, hoje é o dia em que regressei à minha terra natal por vários motivos, em primeiro lugar recordei da minha querida mãe que me deu tudo e mais alguma coisa, mas de repente veio à mente um senhor que fazia filmes na época colonial chamado Manuel Joaquim (Manel Djoquim, para todos os Guineenses).

Venho por este meio agradecer ao seu pai, porque eu adorava cinema, era muito novo, estava perto de completar os 5 anos aproximadamente, lembro-me sempre de pedir dinheiro a minha mãe para ir ver os filmes, na maioria das vezes não pagava porque os guardas da Casa Gouveia conheciam-me porque levava leite de vaca para os donos da Casa Gouveia [, em NovaLamego].

Os filmes eram projectados no quintal da Casa Gouveia, eu não queria ir à escola porque não era tradição na minha família alguém ir para escola, mas estava sempre a perguntar o que se passava nos filmes e como as pessoas estavam muito concentrados para ler a legenda não dava para me explicarem sempre o que se passava, um dia disse para a minha mãe que gostaria de perceber o que se passava nos filmes porque ninguém me explicava nada, ela disse me então chegou altura de pensares seriamente em ir para a escola, aceitei de imediato porque percebi de que sem a escola não poderia interpretar os filmes.

Comecei a ter explicação numa senhora portuguesa que era professora primária, morava ao pé da minha casa, nunca mais abandonei a escola, não sou ninguém mas pelo menos sou aquilo sou graças ao seu pai, talvez se o senhor Manel Djoquim nunca tivesse chegado a Nova Lamego eu seria uma outra pessoa, até poderia ido à escola mas não seria da forma que aceitei e gostei da escola.

Hoje passado todo este tempo recordo-me dos bons tempos da minha cidade, e como o seu pai nos ajudou a ver o mundo, nem rádio tínhamos em casa, de repente a começar a ver filmes, Tarzan, Sandokan,  o Tigre da Malásia, Pierre Brice  & Les Barker, como nos ensinou a ver outro lado do mundo através dos filmes, o seu pai era um homem bom, nunca ralhava com as crianças, sempre que notava que as crianças estava a furar a barreira fazia de conta que não estava a ver, ele amava a sua profissão, gostava do povo, sentia o povo, com os seus calções que ficaram eternizados mesmo depois da sua partida, calções de Manel Djoquim. 

Ficámos órfãos de tudo, a Guiné tem hoje mais Tarzans do que a própria selva, em cada esquina encontra-se Far West, o país está em autêntico declínio, Salteadores da Arca Perdida dentro do próprio Estado, a guerra dentro da cidade destruiu a capital por completo, fome e miséria por toda a parte, se há coisa que tenho saudades é dos bons tempos dos filmes de nhõ Manel Djoquim, que a sua alma descanse em paz, mais uma vez muito obrigado por partilharem estes momentos, obrigado aos donos do Blog, quem sabe um dia venho com mais historias de Nova Lamego onde tenho orgulho de ter nascido (...) . (****)

Vd. também postes de 

17 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19300: Notas de leitura (1132): “O Homem do Cinema, A la Manel Djoquim i na bim”, por Lucinda Aranha Antunes; edição da Alfarroba, 2018 (1) (Mário Beja Santos)


19 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13307: Notas de leitura (602): "Onde se fala de Bissau", do princípio dos anos 50, da UDIB... Um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)




(****) Último poste da série > 11 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19279: (Ex)citações (347): Os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965, na frente norte, tempo em que a CCAÇ 675 ali se encontrava em quadrícula (José Eduardo Oliveira)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18088: Agenda cultural (621): Joaquim Pais de Brito, na livraria Ferin, ao Chiado, amanhã, 6ª feira, dia 15, pelas 18h30, na apresentação do seu livro "Muitas coisas e um pássaro" (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp.)



Capa  do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 1230,  edição de 22 de novembro a 5 de ezembro de 2017.

Fonte: Sapo Visão > Jornal de Letras (com a devida vénia...)





1. Amanhã, 6ª feira, dia 15 de dezembro,  na Livraria Ferin, Rua Nova do Almada, 72, ao Chiado, Lisboa, pelas 18h30, realiza-se a sessão de lançamento do livro "Muitas Coisas e um Pássaro", de Joaquim Pais de Brito (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp, preço de capa, c. 14 €). A apresentação do livro e do autor está a cargo de Rosa Maria Perez.


O autor é convidado, neste seu livro,  a abordar o seu percurso profissional, a partir de cinco motivos: um desenho, uma imagem, um texto, um objeto, um som.

Fala-se então apaixonadamente de teatro, de literatura, de etnografia, de museus, de exposições, de alunos, do Portugal rural e urbano, do cantar do carro de  bois, de fado... E de motivações, escolhas e, também, acasos que o conduzem a refletir, enquanto antropólogo, sobre questões de museologia, formação e conhecimento.

Apaixonadamente, como ele sempre o fez, e como eu o recordo, em tudo aquilo em que se meteu e em que tocou, da investigação ao ensino e depois à museologia. Mas falemos do presente, que ele continua vivo da costa, felizmente... Ainda há dias bebemos um café juntos.

No caminho desta revisitação surge-nos, entretanto um pequeno pássaro intrometido que o acompanha há muitos anos, e que gosta de participar nessa reflexão. 


2. Joaquim Pais de  Brito, nascido em Nelas, em 1945, é professor emérito de Antropologia do ISCTE-IUL e foi diretor do Museu Nacional de Etnologia entre 1993 e 2015.  É seguramente uma referência maior na área das ciências sociais e humanas em Portugal.

Recebeu, em 1996, o Prémio PEN de Ensaio pelo seu livro "Retrato de Aldeia com Espelho: Ensaio sobre Rio de Onor", que foi o tema do seu doutoramento (Lisboa, Dom Quixote, 1996, 396 pp.). Acompanhou, desde 1975,  e durante década e meia, as transformações que se operaram naquela aldeia comunitária de economia agropastoril de montanha, dividida ao meio por uma linha fronteiriça luso-espanhola. A aldeia é só uma, com dois povos, os de cima e os baixo, que têm um língua comum, o riodonorês), além de um território e uma organização social única.

Joaquim Pais de Brito foi distinguido pelo Presidente da República Jorge Sampaio com a Comenda da Ordem de Mérito Cultural, em 2002.

Foi também o fundador e o diretor da notável coleção "Portugal de Perto: Biblioteca de Etnografia e Antropologia", sob a chancela das Publicações Dom Quixote,  onde se publicaram dezenas de títulos de trabalhos, alguns clássicos, fundamentais para o conhecimento da cultura popular portuguesa e do nosso património cultural, material e imaterial, como o por exemplo o fado. É um coleção incontornável, de referência obrigatória para quem se interessa por este domínio do saber. 

Foi também ele quem terá o sido o primeiro a levar a academia a sair da sua "torre de marfim", despir-se de preconceitos e fazer do fado ("cultura popular urbana lisboeta") um objeto de estudo  multissectorial, na confluência de diversas disciplinas, da etnografia à antropologia, da sociologia à história, da museologia à  etnomusicologia...


3. Mandei-lhe há dias uma mensagem de resposta ao seu pedido de divulgação deste evento. Aqui vai:

Joaquim: antes de mais, parabéns!...Como eu costumo dizer, a gente, da nossa geração, que fez a guerra e a paz, tem de se recusar a ir para a "vala comum do esquecimento"... E tu fostes daqueles profes, no ISCTE, que a maioria de nós não vai esquecer... Acho que este é um dos elogios, dos muitos, a que tens direito... Se eu estiver inspirado ainda te faço uma quadra ou um soneto... onde meto o teu "pássaro"...

Para já prometo fazer-te um "poste", "à maneira", na nossa série "Agenda cultural"...

Bolas, não tens uma "chapa", uma foto do teu tempo de "menino e moço" ?... Vou procurar... E em princípio lá estarei, no dia 15, na Ferin, às 18h30... Vou divulgar pelos meus contactos, facebook, etc. (Infelizmente não fiquei com grandes contactos da malta do meu/nosso tempo do ISCTE...).


Um xicoração fraterno, Luís

Na realidade, quantos professores passaram pelas nossas vidas ? Dezenas e dezenas... E de quantos nos lembramos hoje ? Na melhor das hipótees, uma meia dúzia... O Joaquim Pais de Brito está nessa minha curta lista de "professores para a vida"... Daqueles que nos marcaram verdadeiramente, de cuja voz e brilhozinho  nos olhos nunca esqueceremos... Daqueles relativamente raros professores que sabem falar com paixão e rigor daquilo que sabem... As suas aulas eram uma festa!... Não fui antropólogo, fui para a sociologia do trabalho e, mais tarde, da saúde... Mas sempre dei importância ao lado "socioantropológico" das coisas.... Essa minha sensibilidade cultural deve muito ao Pais de Brito e ao entusiasmo com que ele nos levou a redescobrir e a repensar muitas das nossas formas, humanas e portuguesas, de ser e estar na vida, no território, na comunidade, no mundo...

Foi meu professor de antropologia, no ISCTE, durante a minha licenciatura em sociologia (que terminei no ano letivo de 1979/80). Foi com ele que ganhei o gosto não só por esta área científica como  pelo trabalho da investigação empírica, feita no terreno. 

Durante meses, eu e a minha equipa (que fazia parte de uma equipa mais vasta, um turma inteira que estudou o fado na suas múltiplas dimensões, sob a sua "batuta")...  fizemos durante meses "observação participante" numa taberna do Bairro Alto, a Princesa da Atalaia, na rua da Atalaia, onde em finais da década de 1970 ainda se cantava e tocava o chamado "fado vadio"...A expressão hoje não é consensual, "fado vadio", mas na altura queria significar algo que se opunha à  (ou pelo menos, não encaixava na) "cultura oficial" do fado, a do profissionalismo e da indústria do espectáculo... 

De qualquer modo a "Princesa da Atalaia" não existe mais, que eu saiba, engolida na voragem do tempo e no processo de "gentrificação" e "turistificação" dos bairros populares de Lisboa....Passei, por lá há uns anos, a loja era então de moda ou  de pronto a vestir... Há dias,  ao ir à "Tasca do Chico" (que estava cheia, que nem ovo, de turistame...), voltei a tentar reconhecer a fachada do prédio da antiga tasca da rua da Atalaia... Para surpresa minha, era agora um "kebab"...

Com muita pena minha, não vou poder estar amanhã com o Joaquim, na centenária Livraria Ferin (que mudou recentemente de dono, ao fim de 177 anos de existência...). Amanhã estarei fora de Lisboa, mas prometo ler  (e fazer a recensão de) o  livro...  De qualquer modo, aqui fica o poste prometido e o desejo de continuação de bons voos para o pássaro que o tem acompanhado ao longo da vida e que o inspira, motiva, protege e o mantem vivo, saudável, inquieto, irrequieto, ativo e produtivo... Apaixonado, em suma, pela vida, a cultura e a ciência... (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série >  14 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18087: Agenda cultural (620): No passado dia 9 de Dezembro foi inaugurado o Museu do Combatente de Gondomar que fica situado na Quinta dos Choupos - Fânzeres, sede da Tabanca dos Melros

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18048: Agenda cultural (615): Lisboa, Casa do Alentejo, hoje, 5 de dezembro, 19h00: apresentação do livro "Cantar no Alentejo" (organizado por Rosário Pestana e Luísa Tiago de Oliveira)... Atuação, no final, do Grupo Coral Cantadeiras de Essência Alentejana, de Almada


Capa do livro, edição da Estremoz Editora


Convite


1. Mensagem da Maria Luísa Tiago Oliveira, com data de 3 do corrente:

Car@s amig@s:

Convido-vos para uma sessão no próximo dia 5 de Dezembro na Casa do Alentejo, [Rua Portas de Santo Antão, 58,] em Lisboa, pelas 19h00, de apresentação do livro Cantar no Alentejo. A terra, o passado e o presente, coordenado por Maria do Rosário Pestana e Luísa Tiago de Oliveira

Este livro partiu de uma Conferência realizada no âmbito das Festas do Cante em Monsaraz, que reuniu estudiosos de diferentes áreas disciplinares (Antropologia, Etnomusicologia, História e Sociologia), com cantadores, letristas, autarcas e outros interessados no Cante Alentejano.

Prefaciado por Salwa Castelo-Branco, o livro divide-se em duas partes. Na primeira, contém capítulos escritos por Fernando Oliveira Baptista, Ema Pires e Daniel Rodrigues, Dulce Simões, Susana Mareco, Maria José Barriga, Maria do Rosário Pestana,Luísa Tiago de Oliveira e Paulo Ferreira da Costa. A segunda parte do livro consta de uma mesa-redonda, marcada pela espontaneidade e pela multiplicidade de perspectivas, com intervenções de cantadores, de decisores e de alguns dos autores anteriores. Neste debate, moderado por Jorge Freitas Branco, participaram Ana Paula Amendoeira, Anabela Caeiro, António Caixeiro, David Pereira, Dulce Simões, Joaquina Margalha, José Pedro Fernandes, José Pereira, Luís Caixeiro, Luís Filipe Marcão, Maria Antónia Zacarias, Maria José Barriga, Paulo Costa, Pedro Mestre, Maria do Rosário Pestana, Serafim Silva e Susana Mareco.

No seu conjunto, o livro permite uma abordagem nova e multi-situada da questão da terra, da memória e do património que, hoje, se encontram numa encruzilhada.

A apresentação contará com a actuação do Grupo Coral Cantadeiras de Essência Alentejana, de Almada.

Teria muito gosto em vos ver por lá. Até breve,

Luísa Tiago de Oliveira
ISCTE-IUL


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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18038: Agenda cultural (614): Lisboa, dia 12, 3ª feira, 18h00, Instituto de Defesa Nacional: sessão de lançamento do livro "...Da descoloniização: do protonacionalismo ao pós-colonialismo", do maj gen Pedro Pezarat Correia. Apresentação a cargo dos prof dout Luís Moita e Carlos Lopes

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16807: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (39): pedido de ajuda para tese de doutoramento em Antropologia, pelo ISCTE-IUL, sob o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial (Vasco Gil Calado)





Vasco Gil Calado, « As drogas em combate: usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa », Etnográfica [Online], vol. 20 (3) | 2016, Online desde 27 Novembro 2016, consultado em 06 Dezembro 2016. URL : http://etnografica.revues.org/4628 ; DOI : 10.4000/etnografica.4628


Resumo (em português):

"Apresentam-se as principais questões suscitadas pelo trabalho em curso acerca do uso de substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). São identificados alguns aspetos-chave que emergem das narrativas dos ex-combatentes acerca da sua experiência de guerra e que contextualizam um conjunto de práticas, entre elas o uso de drogas. Confirma-se o abuso de álcool e o uso de canábis entre os militares das forças armadas portuguesas envolvidas no conflito, numa altura em que em Portugal surgiam as primeiras iniciativas de combate às drogas. Tanto o consumo de bebidas alcoólicas como de outras drogas pode ser entendido como uma forma de lidar com a ansiedade e a violência do quotidiano."



Algumas conclusões do autor:

(...) "A análise das respostas permite chegar a duas conclusões: a ausência de consumo de canábis por parte das tropas portuguesas na Guiné e um consumo relevante em Angola e Moçambique. De entre os 210 respondentes, todos aqueles que estiveram na Guiné afirmam não ter consumido a planta e desconhecer por completo o seu uso no território durante a guerra. 

O mesmo não se passa com os respondentes que estiveram em Angola e Moçambique: 15% dos militares que fizeram a guerra naqueles territórios afirmam ter consumido canábis, enquanto outros 25% afirmam ter assistido ao consumo ou tido conhecimento direto disso. Feitas as contas, dos respondentes que estiveram em Angola e Moçambique durante a Guerra Colonial Portuguesa, perto de metade (40%) declaram ter tido um contacto direto com a planta." (,..)


1. Mensagem de nosso leitor e doutorando em antropologia Vasco Gil Calado: 

Data: 30 de novembro de 2016 às 11:03
Assunto: Doutoramento Antropologia

 Bom dia, Prof. Luís Graça


No seguimento do meu trabalho em curso, publiquei um artigo na revista Etnográfica. Vinha propor-lhe que divulgasse o artigo no blogue, se achar oportuno (eu divulguei o artigo numa comunidade do facebook sobre a guerra colonial onde recrutei um informante e algumas das pessoas que preencheram o inquérito on-line mas a verdade é que fui muito mal recebido. Portanto, se achar que a divulgação irá levantar uma polémica desnecessária, esqueça o meu pedido).

A minha ideia em divulgar o artigo agora é que, como me encontro na fase da escrita da tese de doutoramento, quaisquer críticas, sugestões e reparos (a imprecisões, termos mal usados, erros conceptuais, etc.), ou até mesmo encontrar alguém que queira colaborar com informação será muito bem-vindo.

O link é: http://etnografica.revues.org/4628

Cumprimentos,

Vasco Gil Calado
ISCTE-IUL; SICAD, Portugal
vascogil@gmail.com


2. Mensagens anterior de Vasco Gil Calado com data de 5/3/2015

Chamo-me Vasco Gil Calado, antropólogo e técnico superior do SICAD [Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências]. 

Estou a fazer o doutoramento em Antropologia, no ISCTE, sobre o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial. Foi o Renato Monteiro quem sugeriu que o contactasse, na condição de grande especialista e dinamizador de um blog essencial sobre a guerra colonial. No âmbito académico da tese, gostava de o entrevistar, de forma anónima e confidencial, naturalmente.

O meu orientador é o Prof. Francisco Oneto, do departamento de Antropologia do ISCTE.
Nós cruzamo-nos no ISC-Sul, numa pós-graduação de Sociologia da Saúde, em que deu um módulo sobre Educação para a Saúde, se bem me lembro, para aí em 1999 ou algo do género. (...)

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sábado, 26 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9948: Agenda cultural (204): Convite ISCTE-IUL, para o Lançamento do livro digital sobre "Militares e sociedade, marinha e política



Convite ISCTE-IUL
Lançamento de livro digital sobre "Militares e sociedade, marinha e política"
30 de Maio às 18h00 no auditório B203, edifício II 


No próximo dia 30 de Maio, é apresentada a edição do primeiro livro digital do ISCTE-IUL sobre “Militares e Sociedade, Marinha e Política: um século de História”, coordenado por Luísa Tiago de Oliveira e João Freire, professores do ISCTE-IUL. 

Resultado de um Encontro Científico, onde esta temática foi abordada, o livro surge da compilação de estudos desconhecidos ou ainda pouco divulgados, de forma a poderem ser partilhadas pela sociedade. 

Veja mais aqui

O livro será apresentado por Fernando Oliveira Baptista, sociólogo e professor da Universidade Técnica de Lisboa, e José Manuel Paquete de Oliveira, professor do ISCTE-IUL e antigo Provedor do Tele-espectador da RTP. 

A apresentação acontece pelas 18h00, no Auditório B203, Edifício II. 

Contamos com a sua presença e solicitamos divulgação junto dos seus contactos privilegiados. 

Melhores cumprimentos.
Visite-nos em
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8906: Quem conheceu os GUC (Gabinetes de Urbanização Colonial) e/ou os projetos de reordenamentos das populações ? Pedido de informações e contactos (Eduardo Costa Dias, antropólogo, ISCTE)


1. Do nosso amigo e antropólogo Eduardo Costa Dias, professor do ISCTE [, fotp à direita, Bissau, 2008]


De: Eduardo Costa Dias [ecostadias@netcabo.pt]
Data: 11 de Outubro de 2011 11:07
Assunto: Pedido

Caros amigos,

Bom dia a ambos

Trago-vos um pedido.

Estou integrado num projecto de investigação sobre os Gabinetes de Urbanização Colonial/ultramarina (GUC) dirigido pela Arquitecta Ana Vaz Milheiro e no âmbito do qual acabo de passar, com ela e com um outro colega (Paulo Tormenta Pinto), uma semana na Guiné. Como com todos os projectos em que estou metido, este projecto na Guiné conta também com o generoso apoio do nosso comum amigo Carlos Schwarz [, Pepito].

Peço-vos contactos de pessoas que directa ou indirectamente durante a sua estadia como militares na Guiné  contactaram de perto/trabalharam para os GUC, inclusive nos projectos das chamadas aldeias de reagrupamento*. 

É nossa intenção,  depois de completada a recolha de informação e feito um tratamento mínimo,  dela fazer um encontro ou,  como agora se diz,  um workshop de apresentação e discussão dos materiais; em muito ganharia o projecto e o workshop se pudesse contar com a experiência e o saber de amigos que,  por uma razão ou outra contactaram a "realidade" da arquitectura e  urbanismo  na Guiné nos anos da guerra.

 Muito obrigado

 Com amizade
 Eduardo


* a parte mais significativa destes reagrupamentos não passou pelo GUC, foi directamente planeado, projectado e implementado pelas FFAA. Interessa-nos tanto os dos GUC como os das FFAA !

2. Comentário de L.G.:

Eduardo, julgo que te queres referir aos "reordenamentos" das populações. Era o termo (mais soft que reagrupamento) que usávamos para as tabancas, construídas de raiz pelas populações locais com materiais e mão de obra especializada fornecida pela tropa.  Estes "reordenamentos" podiam atingir as três centenas  e meia de moranças, como o foi o caso do aglomerado habitacional, "sob duplo controlo",  de Nhabijões, no sector de Bambadinca. 

Temos uma dúzia de postes com este marcador (reordenamentos). Vê em especial os postes P2100 e P2108 [A política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações > Reprodução do documento Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.

sábado, 8 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6341: Antropologia (18): Elogio ao nosso blogue em comunicação sobre Régulos, almamis e mouros durante a guerra colonial, do Prof Eduardo Costa Dias

 Cortesia do amigo e colega Eduardo Costa Dias, grande especialista da cultura e da história da Guiné-Bissau, professor de Estudos Africanos, Departamento de Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) (foto à direita, Bissau, 2008).


1. Resumo de uma comunicação científica, em francês [, com a respectiva tradução, em português, ] do nosso amigo Eduardo Costa Dias, professor e investigador no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e em que se faz uma elogiosa referência ao nosso blogue.


Colonial auxiliaries or advocates of colonial subjects? A comparative view on chiefs and ‘traditional rule’ during the colonial period

Régulos, Almamis et Mouros pendant la guerre coloniale dans l’ex- ‐Guinée portugaise: à chacun son rôle, ses convenances et ses fidélités 


Eduardo Costa Dias
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa


L’avènement de la guerre coloniale, en 1963, dans l’ex- ‐Guinée portugaise non seulement a profondément transformé le modus vivendi des populations africaines et européennes, comme, un peu partout, a basculé les relations tissues entre les autorités traditionnelles et l’administration coloniale.

En effet, les autorités traditionnelles ont été confrontées, en plus de l’exigence de « faire vite » allégeance à un des deux belligérants, avec le besoin de composer presque inopinément avec de nouveaux interlocuteurs coloniaux. Plus la guerre s’étendait à de nouvelles zones du territoire guinéen et les combats regagnaient d’intensité, davantage, localement, les commandants militaires remplaçaient de facto et de jure, comme interlocuteurs des autorités traditionnelles, les administrateurs civils (administradores de circunscrição, chefes de posto, etc.). Dans plusieurs sens, pendant la guerre coloniale, dans la majeure partie du territoire, « l’ (vraie) autorité portugaise » était l’armée.

Dans l’étude de cas qu’adosse cette communication – le cas des autorités mandingues et, surtout, peuls des cercles administratifs de Bafatá et de Nova Lamego (Gabú) – , toutefois, plus que le renforcement « rayonnant » ou la rupture brutale de la très ancienne collusion stratégique entre les chefs musulmans et l’État colonial, on a assisté principalement à la multiplication, en nombre et en « qualités », des interlocuteurs locaux des autorités portugaises et, naturellement, à une plus grande diversité des prises de position des dignitaires politiques e religieux mandingues et peuls.

Un almami ou un mouro (marabout) n’avait nécessairement, par rapport aux autorités portugaises ou au PAIGC, le même positionnement que « son » régulo, même si celui- ‐ci, en plus de musulman et mandingue/peul comme lui, était son frère. Au contraire, parfois, il y’ avait même grands avantages en aménager des positions différentes dans une même famille, tabanca (village) ou zawiya (délégation locale d’une confrérie); dans des situations complexes comme celles vécues pendant la guerre coloniale pour beaucoup de peuls et mandingues de Bafatá et du Gabú, la bonne utilisation de la réinterprétation ouest- ‐africaine de l’institut du muwalat – « accommodation sur réserve avec l’infidèle »/ « acceptation d’un compromis provisoire avec l’infidèle » - presque le prescrivait!

Dans l’essentiel, l’information travaillée pour cette communication a été obtenue à partir des entrevues faites dans les années 1990 et 2000 à des dignitaires musulmans des régions de Bafatá et du Gabú, de la compulsation de documentation dans des archives portugaises (AHM, AHU, ANTT) et de la lecture systématique d’un blog d’anciens combattants portugais dans l’ex-Guinée portugaise.

Le blog « Luis Graça & Camaradas da Guiné », en plus de sa « mission » fondatrice, est actuellement, malgré le caractère « témoin personnel » de la plupart des posts, un important répertoire des activités des militaires portugais en Guinée, entre 1963 et 1974.





Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > O almami local...  Foto do médico e músico João Graça, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto:  © João Graça (2009). Direitos reservados





2. Tradução de L.G.:


Auxiliares coloniais ou advogados dos súbditos coloniais ? Uma análise comparativa dos chefes e do sistema de autoridade tradicional durante o período colonial  [Título em inglês]


Régulos, Almamis e Mouros durante a guerra colonial na ex-Guiné-Português: a cada um a sua função, sua conveniência e sua lealdade

Eduardo Costa Dias
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa

O advento da guerra colonial em 1963, na ex-Guiné Portuguesa, não só mudou o modus vivendi das populações africanas e europeias, como, um pouco por toda parte, mexeu com as relações mantidas entre as autoridades tradicionais e a administração colonial.

Com efeito, as autoridades tradicionais,  para além da exigência de rapidamente se posicionarem ao lado de uma das duas partes beligerantes, foram confrontadas com a necessidade de lidar, quase inesperadamente, com novos interlocutoers coloniais.

Quanto mais a guerra se estendia a novas zonas do território guineense e os combates aumentavam de intensidade, mais, a nível local, os comandantes militares se substituíam, de facto e de direito, aos administradores civis (administradores de circunscrição, chefes de posto, etc.) como interlocutores das autoridades tradicionais.

Em diversos sentidos, durante a guerra colonial, na maior parte do território, “a (verdadeira) autoridade portuguesa ", foi o exército.

No estudo de caso a que se reporta esta comunicação - o caso das autoridades mandingas e, sobretudo, fulas, dos círculos administrativos de Bafatá e de Nova Lamego (Gabu), no entanto, mais do que o reforço “fulminante” ou a ruptura brutal da velha coligação estratégica entre os chefes muçulmanos e o e Estado colonial, assistiu-se principalmente à multiplicação, em número e em "qualidades", dos interlocutores locais das autoridades portuguesas e, naturalmente, a uma maior diversidade das tomadas de posição dos dignitários políticos e religiosos mandingas e fulas.

Um almami ou mouro (marabú) não tinha, necessariamente, em relação às autoridades portuguesas ou ao PAIGC, a mesma posição que o “seu” régulo, mesmo se este, para além de ser muçulmano e mandingo / fula como ele, fosse seu irmão.

Pelo contrário, às vezes, havia mesmo grandes benefícios em tomar posições diferentes numa mesma família, tabanca (aldeia) ou zawiya (delegação local duma confraria); em situações complexas, como aquelas vividas durante a guerra colonial por muitos dos fulas e mandingas de Bafatá e do Gabu, o uso adequado da reinterpretação oeste-africana do instituto da muwalat – "acomodação, sob reserva, com o infiel” / “aceitação de uma compromisso provisório com os infiéis” –  que obrigava a isso!

No essencial, a informação tratada nesta comunicação foi obtida a partir de entrevistas realizadas nos anos de 1990 e 2000 a dignitários muçulmanos das regiões de Bafatá e Gabu, da consulta de documentação em arquivos portugueses (AHM, AHU, ANTT) e da leitura sistemática de um blogue de antigos combatentes portugueses na ex-Guiné Portuguesa.

O blogue "Luis Graça  & Camaradas da Guiné ", para além da sua “missão" fundadora, é hoje, apesar do carácter de “ testemunho pessoal" da maior parte dos postes,  um importante repertório das actividades dos militares portugueses atividades, na Guiné, entre 1963 e 1974.

terça-feira, 10 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4006: (Ex)citações (20): Nino Vieira, carismático, calculista, vingativo, violento, solitário (Eduardo Costa Dias)

1. Excertos de uma peça jornalística que gostei de ler, da autoria de Ana Dias Cordeiro > Nino Vieira: Combatente exemplar, ditador temido, Presidente sozinho. Público 4/3/2009.

Destaco aqui as opiniões (qualificadas), recolhidas pela jornalista, junto do meu amigo e colega Eduardo Costa Dias, grande especialista da cultura e da história da Guiné-Bissau, professor de Estudos Africanos, Departamento sde Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) (foto à esquerda, Bissau, 2008).

Ele prometeu-me há dias um artigo para o blogue com a sua leitura socioantropológica da morte (física e simbólica) do Nino Vieira. Os camaradas e amigos da Guiné ficar-lhe-ão gratos. Até lá, fica aqui uma pequena amostra (*) do seu pensamento sobre um homem que ele conheceu pessoalmente...

O Prof Doutor Eduardo Costa Dias vai regularmente à Guiné-Bissau. Apresentou uma comunicação ao Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), subordinada ao título "Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental: o caso da Guiné-Bissau". (**)

O homem que vai hoje a enterrar a Bissau, oito dias depois de ter sido brutalmente assassinado em sua casa, foi combatente, do outro lado da barricada, numa guerra onde estivemos envolvidos... Não foi um combatente qualquer. Foi um grande combatente. Foi objectivamente um inimigo que os tugas, apesar de tudo, aprenderam a respeitar. É também o último dos históricos comandantes do PAIGC... Com ele, há um grande capítulo da guerra colonial que se vira ou que se arruma, mal ou bem... Penso que mal: com ele (e com Tagme Na Waie) morrem também memórias privilegiadas de uma época, que não chegaram a ser recolhidas, tratadas e socializadas... Nenhum homem devia morrer sem primeiro passar o seu testemunho, sem escrever ou ditar as suas memórias... (LG)

(Bold, da responsabilidade do editor. L.G.)


(…) Foi alvo de verdadeiras tentativas de golpe de Estado, mas também fabricou algumas, para ter apoio em momentos de fragilidade. "Como todos os chefes guerrilheiros míticos, Nino escapou várias vezes à morte. Foi um chefe guerrilheiro que teve a morte sempre presente e foi esse espírito que levou para a governação", diz Eduardo Costa Dias, professor de Estudos Africanos do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa.

Entre os guerrilheiros era visto como um chefe corajoso, mas ao mesmo tempo muito temido, porque traiçoeiro. "Continuou a jogar com o carisma que tinha de guerrilheiro junto de outros guerrilheiros", acrescenta Eduardo Costa Dias. Mas esse carisma foi-se desvanecendo. Terminou os seus dias praticamente sozinho. Manteve a confiança de alguns antigos guerrilheiros fora das Forças Armadas, de um pequeno núcleo dentro do PAIGC de que foi líder, e junto de alguns régulos. Mas mesmo nas eleições de Novembro do ano passado associou-se ao PRID, um partido novo que apenas elegeu três deputados numa Assembleia em que o PAIGC de Carlos Gomes Júnior obteve maioria absoluta. À derrota militar de 1999 seguiu-se a derrota política.

Quando em 2005 voltou ao país e foi eleito nas presidenciais, o seu regresso chegou a ser remotamente imaginado como uma tentativa de redenção e as suas palavras como um genuíno gesto de reconciliação com inimigos de um passado conturbado e violento. Mas Nino não escolheu redimir-se.

"Além de calculista, Nino Vieira era extremamente vingativo", continua Costa Dias, para quem o ex-Presidente regressou sobretudo para vingar o seu passado, o seu derrube pela junta militar.

(…) Quem vive na violência morre na violência, sugeriram algumas figuras, como o ex-Presidente português Mário Soares. O professor universitário Eduardo Costa Dias diz que Nino Vieira ilustra na perfeição esse conceito. E acrescenta: "Além de violento, Nino não era amigo de ninguém." Nos últimos dias, provavelmente, tinha como única e eterna companheira a mulher, Isabel Romano Vieira, de uma família ligada à administração colonial e irmã do cônsul-geral da Guiné em Portugal. Foi poupada pelo comando que matou o Presidente.

Para Costa Dias, "a fragilidade de Nino Vieira veio dar um novo papel, de conselheira, a Isabel Vieira, que contudo teve sempre um papel importante". E que esteve com Nino até ao fim.


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Notas de L.G.:

(*) Vd. 7 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P3993: (Ex)citações (20): Órfãos de guerra: Rogério Soares, aos dois anos, em Nhabijões (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12)

(**) Nota curricular,constante da página do
Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008):

(i) Professor de Sociologia e de Estudos Africanos coordenador científico dos Programas de Mestrado e de Doutoramento em Estudos Africanos do ISCTE e professor visitante no Institut d’Études Politiques (Sciences Po-Paris) e na Université de Laval (Canada).

(ii) Tem desenvolvido investigações sobre as relações entre o Estado e as Autoridades Tradicionais, o “Islão Politico” e o ensino muçulmano na África Ocidental, em especial na região senegambiana (Gâmbia, Guiné-Bissau, Senegal).

(iii) Autor de vários trabalhos sobre problemáticas sociais e politicas contemporâneas da Guiné-Bissau, prepara actualmente a publicação de um livro sobre a islamização do antigo Kaabú e tem no prelo uma recolha de artigos publicados e inéditos sobre a politica colonial nas regiões islamizadas da antiga Guiné Portuguesa (1880-1930).

(v) Título da comunicação > Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental: o caso da Guiné-Bissau

(vi) Sinopse da comunicação

O assunto desta comunicação tem directamente a ver com as diferenças de peso, de dinâmica e de tempo de intervenção que muçulmanos e seguidores das religiões ditas tradicionais tiveram no movimento de libertação nacional liderado pelo PAIGC na Guiné-Bissau.

Trata-se, do meu ponto de vista, de um tema de grande importância para a compreensão, por exemplo, das razões sócio-politicas e político-religiosas da, globalmente, menor presença dos muçulmanos durante todo o período da luta de libertação, nas fileiras da guerrilha.

Com efeito, embora muitos muçulmanos tivessem, a título individual, integrado a guerrilha e alguns nela desempenhado papéis político-militares de relevo, durante a luta de libertação, a larga maioria dos membros do establishment muçulmano guineense (dirigentes das vários ramos guineenses da confraria qadriyya e da tijâniyya, imãs, letrados, régulos, etc.) teve um papel pouco colaborante com o PAIGC e muitos mesmo de assumido colaboracionismo com o poder colonial.

Nesta comunicação procurarei, descrevendo o quadro sócio-religioso da Guiné-Bissau e enumerando alguns dos acontecimentos mais marcantes das relações tecidas, antes e durante a luta de libertação, pelos dignitários muçulmanos guineenses com o poder colonial, questionar globalmente o papel dos vários grupos religiosos não cristãos durante a luta de libertação nacional e, numa dimensão mais precisa, aduzir elementos para a compreensão das razões da manifesta hostilidade por parte da maioria do establishment muçulmano guineense para com a luta de libertação.

Na minha opinião, as razões desta hostilidade não se radicam, no fundamental, na eventual incompatibilidade entre o Islão e o ideário filosófico-político proclamado pelo PAIGC ou na simples discordância sobre os métodos seguidos por este movimento na luta pela independência da Guiné-Bissau, mas sim em questões fundadas na política de alianças com o Estado seguida pelos dignitários político-religiosos muçulmanos guineenses e de um modo geral pelos dos países vizinhos desde os anos 1880-1890. Entroncam, na política dita do muwalat (“acomodação sob reserva”/”coabitação” com o Estado) encetada pelos dignitários muçulmanos no 3º quartel do século XIX em toda a África Ocidental e que, como o atestam, no caso guineense, a antiga “tradição” de aliança com o Estado colonial, a oposição do establishment muçulmano à luta de libertação e a “reentrada” na área do poder de muitos dignitários passado pouco tempo sobre a independência da Guiné-Bissau, transitou, nos seus contornos fundamentais, da situação colonial para a pós-colonial.

Cabral, fino conhecedor do xadrez social e político-religioso da Guiné-Bissau, tinha, bem antes do início da luta de libertação, consciência da tendência “estrutural” do establishment muçulmano para acomodar-se ao “poder do momento” qualquer que ele seja! Disse-o nos seus escritos, teve-a em atenção no delinear da estratégia de mobilização das populações para a Luta.