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domingo, 10 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24937: In Memoriam (488): Zélia Neno (1953-2023), que foi casada com o Xico Allen (1950-2022) e mãe da Inês Allen... Velório a partir das 11h00 de hoje na Igreja de São Martinho de Lordelo do Ouro (Porto) e funeral amanhã às 14h30


Zélia Neno (1953- 2023). Foto: cortesia da página do Facebook de Inês Allen.


Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Ingoré > 1998 > Uma foto que correu mundo... ou que , pelo menos, já deu a volta à Tabanca Grande... A legenda é do Albano (Costa): “Esta foto vale pela imagem, e os brancos em África converteram-se? Não é que ficaram a ver a Zélia a puxar o burro, mulher de armas!"... O Albano fez questão de me mandar esta e outras fotos da viagem do Xico e da Zélia, em 1998, com o seguinte recado: "... para ilustrares o que entenderes, com a devida autorização da Zélia" (sic).

Foto: © Francisco Allen / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 


1. Por email de ontem,  às 19:40, do Zé Teixeira tivemos triste notícia do falecimento da nossa amiga Zélia Neno, a primeira mulher a integrar a nossa Tabanca Grande (em 19 de fevereiro de 2006; tem 14 referências no nosso blogue).

De seu nome completo, Zélia Neno Maria Cardoso, tinha sido casada com o Xico Allen (1950-2022) e era mãe também da nossa tabanqueira Inês Allen.

A Zélia estava internada no Centro Social Arcanjo Gabriel - ATRPT (Associação de Trabalhadores e Reformados da Portugal Telecom), onde os filhos ( a Inês e o irmão, que não conhecemos) a visitavam com frequência, em Vila Nova de Gaia,

A Inês deixou ontem, às 17:12, a seguinte mensagem na sua página pessoal e na página do Facebook da mãe:

Que grande exemplo de ser humano tu foste…
Para mim, e para quem se cruzou contigo na vida! 
Missão cumprida minha guerreira! Pra onde quer que vás…
Vai com tudo, e contagia-os com o teu lindo sorriso. 

Estará na Igreja de São Martinho de Lordelo (Lordelo do Ouro, Porto);
Entrada amanhã às 11:00;
Funeral : 2ª feira, às 14:30 (segue para o crematório  de Paranhos, Porto)
Missa do 7.º dia:  sábado, dia 16, às 18:30


2. Conhecia-a pessoalmente na Madalena, V. N. Gaia, em 2006, mas antes ele mandara-me o seguinte mail com data de 16/2/2006:

(...) Achará estranho receber este email enviado por uma mulher fã do Blogue-Fora-Nada, onde se encontram largas centenas de quilómetros de palavras sobre a Guiné.

(...) O senhor não me conhece, o mesmo não acontece comigo, pois não só através da escrita como por foto. Sou casada com o Xico Allen, que o senhor conhece mas ainda não é tertuliano, mas foi ele que há meses me alertou para a existência deste blogue e, como sou uma verdadeira amante da Guiné e da sua História, passada, presente e futura, que lamentavelmente teima em não vir a ser bem mais favorável para aquele seu povo tão sofredor, estou quase viciada a diariamente ler o que vão contando no blogue.

Por influência do Sr. Albano [Costa] e até do Sr. [José] Teixeira, que conheço pessoalmente pois ambos já foram à Guiné com o meu marido, fui incentivada a escrever contando algumas (pois são muitas) das minhas vivências naquela maravilhosa terra que conheci em março de 92, conforme conto no texto inicial e que enviei para o senhor no passado dia 15 Janeiro [por erro no endereço de -mail, não deve ter chegado, pelo que se volta a enviar]." (...)

Respondi-lhe nestes termos, em 19/2/2006, data em que passou a integrar a nossa Tabanca Grande, na altura conhecida apenas como tertúlia. Publicámos alguns postes dela ou com referência a ela, em 2006 (*):

(...) "A Zélia, de quem eu já tinha ouvido falar, no último Natal, na nossa minitertúlia do Porto-Matosinhos-Gaia, é o que se pode chamar, com toda a justiça, uma mulher de armas, uma mulher do Norte, uma caso sério de amor e de paixão (pelo seu Allen mas também pela Guiné e o seu povo)... Foi, por mor (como se diz no Norte) da guerra e do stresse pós-traumático da guerra, que ela acompanhou o marido à Guiné, em 1992, e já lá voltou várias vezes...

Fico muito honrado por publicar esta carta e, por desde já, convidá-la sem mais demoras a figurar no quadro de honra da nossa tertúlia (a ela e ao Allen, pois claro!). A Zélia (trato-o como se a conhecesse há anos!...) mandou-me mais documentos que serão inseridos no blogue ainda este fim de semana." (...)

À Inês Allen, ao seu irmão e demais família apresento as minhas condolências pessoais, a que se associam por certos os demais editores, colabiradores e restantes membros da Tabanca Grande.
____________

Notas do editor:

Vd. último poste da série de 22 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24783: In Memoriam (487): António Eduardo Jerónimo Ferreira, (15/05/1950 - 21/10/2023), ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 / BART 3873 (Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)

(*) Vd. postes de:


19 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - P546: Zélia, um caso de amor e de paixão (II)

terça-feira, 16 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24319: Homenagem a dois 'guineenses' de adoção e paixão, o algarvio António Camilo e o nortenho Xico Allen (1950-2022): "Diário da Viagem até à Guiné-Bissau por terra e por ela", em 20 dias (Herculano Prado). II (e última) Parte: de 26 de setembro a 6 de outubro de 2017; 11 dias : Bambadinca, Xime, Ponta do Inglès, Ponta Varela, Bafatá, Saltinho, Cussilinta, Quebo, Mampatá, Bafatá, Gabu, Bijagós, Bissau... Lisboa

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > c. 1973/74

Foto (e legenda): © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservado. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > O Rio Geba... o estreito (do Xime para montante) e o largo (do Xime para jusante)... c. 1970, no tempo seco... O rio era navegável de Bissau até Bafatá!... Mas normalmente, as embarcações (civis) iam até Bambadinca... As LDG ficavam pelo Xime, mas chegavam a Bambadinca, pelo menos até a 1968... Dois pontos vulneráveis do percurso eram a Ponta Varela (na margem esquerda do Rio, entre a Foz do Corubal/Ponta do Inglês e o Xime), e o Mato Cão (entre o Xime e Bambadinca, no troço serpenteante do Geba Estreito). Foto do álbum do Humberto Reis, ex-fur mil op esp (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Saltinho > Abril de 2006 > Um olhar de esperança no futuro ?... É, pelo menos, o que gostaríamos de adivinhar neste olhar inocente de uma criança às costas de sua mãe...

Foto: © Hugo Costa (2006). Todos os sireitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Novembro de 2000 > Da margem esquerda (Xime) à margem direita (Enxalé): a canoa ainda continua a ser um meio fundamental de "cambança"

Fotograma do vídeo A Outra Guiné /The Other Guinea, de Hugo Costa, legendado em inglês. Vídeo (9' 27''). Ficha técnica: produção: Universidade do Porto, 2012; realização: Hugo Costa e Tiago Costa: diretor de fotografia: Hugo Costa; som: Hugo Costa... Duração: 9' 27''. (Deixou de estar disponível "on line", inclusive na página do Facebook do Hugo Costa, possivelmente pela reprodução de músicas sujeitas a direitos de autor.)

Cortesia de Albano Costa e Hugo Costa (2013). Edição e legendagem da imagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

 
Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > 16 de dezembro de 2009 > A rua comercial da nova Gabu, onde então já havia banco (agência do BAO - Banco da África Ocidental) e multibanco... Em 2009, a velha "rainha do Gabu" havia já destronado a "princesa do Geba", do nosso tempo, Bafatá, a cidade "colonial" mais encantadora da Guiné... Mudam-se os tempos, mudam-se os lugares: aqui falava-se mais francês do que português, e corriam muitos CFA, escreveu o João Graça, médico e músico, que viajou por estas paragens...  

Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 >  Hospital
 
Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda (e última) parte da publicação do diário da viagem à Guiné-Bissau, feita "por terra e por ela" (sic), em 20 dias, de 18 de setembro a 6 de outubro de 2017, por 4 portugueses, em dois jipes, o António Camilo, o Xico Allen, o Herculano Prado e a esposa, Luzinha, prima do António Camilo (que foi fur mil da CCAÇ 1565, Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau, 1966/68).

O diário, da autoria de Herculano Prado, chegou-me, reencaminhado em 2018, quatro 
 anos antes de morrer, pelo Xico Allen (1952-2022).  

O Herculano Prado, hoje advogado, foi fur mil, CCAÇ 3550 / BCAÇ 3885 (Zambué, Tete, Moçambique, 1972/74). Não é membro da nossa Tabanca Grande, mas já foi convidado para a integrar, não só por esta viagem e a publicação deste texto (em duas partes), como pela ligação (profissional e afetiva) à Guiné (desde pelo menos 2010), e a amizade que criou e manteve com dois dos nossos tabanqueiros, o António Camilo e o Xico Allen (1952-2023).

Depois da morte do Xico, julgámos que seria oportuna a publicação deste "diário" no nosso blogue, partindo do pressuposto que era vontade dele que o texto fosse publicado no nosso blogue, com a anuência (pelo menos tácita) do Herculano Prado. 

Por outro lado, já aqui o dissemos, esta é a viagem que alguns de nós já fizeram, e que a maioria gostaria de ter feito em vida, e que por uma razão ou outra (a começar pelos problemas de saúde e segurança) nunca fez nem já chegará a fazer.

O texto, infelizmente, não veio acompanhado das fotos da expedição. Por esta ou aquela razão, as fotos nunca chegaram. Tivemos de recorrer por isso ao arquivo do nosso blogue. Mais uma vez deixamos aqui a manifestação da nossa gratidão ao Herculano Prado. E damos-lhe os parabéns pela excelència do texto, que ganha em vivacidade, fluência e objetividade (e que por isso seria uma pena ficar na "gaveta"...). 

Enviamos, entretanto, um alfabravo fratermo ao Camilo (de quem não temos tido notícias) desejando-lhe saúde e longa vida para poder continuar a fazer as suas expedições à Guiné-Bissau onde tem casa (em 2017, ao que parece, era a sua 22ª viagem). 

Em comentário do poste P24311 (*), o Carlos Silva, outro conheced0r da Guiné-Bissau,  comentou: "O Camilo, foi à Guiné depois da comissão, antes de 1998. Creio que em 1992 (?). E vários camaradas já lá tinham ido antes do Xico Allen e do Camilo. O Herculano, meu colega, está equivocado neste aspecto".

Por fim, fica aqui uma saudação especial à Inês Allen, que também já fez esta viagem por terra (um pouco mais longa, porque partiu do Porto). A nossa recém-tabanqueira (nº 875) é uma dugna sucedora do espírito aventureiro e solidário do seu pai.

DIÁRIO DA VIAGEM À GUINÉ BISSAU 

POR TERRA E POR ELA

  © Herculano Prado (2017)

8º dia, segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Após uma viagem tão desgastante e sempre a levantarmo-nos cedo, aproveitamos para dormir até mais tarde.

A primeira coisa que fiz foi tomar um antibiótico, porque se acentuou a dor que tinha no ouvido esquerdo, deduzindo que a tontura que tive em Saint Louis era devida a esta infeção.

Depois procurei o telemóvel, que já não via desde que tínhamos partido de Marraquexe, para lhe colocar um cartão local. Tinha-o desligado porque, em fevereiro, quando fizemos um cruzeiro nas Caraíbas, apesar de não ter feito chamadas, quando regressámos a Portugal tinha uma despesa de sessenta euros, gerada pela própria rede. Não o encontrei, nem até agora, concluindo que deve ter ficado em Marraquexe. Não fiquei muito preocupado, porque quando o desliguei retirei-lhe o cartão, para que não fosse ludibriado pelo sistema, colocando-o na pequena carteira que uso, há muitos anos, no bolso das calças. A preocupação, contudo, reapareceu quando constatei que o cartão não estava na carteira, tendo-o perdido ou ficado no bolso dos calções que utilizei durante a viagem. Quando procurei os calções informaram-me que tinham sido levados juntamente com a outra roupa para lavar… O meu azar acabou por se transformar em sorte, porque ainda fui a tempo de recuperar os calções e encontrar o cartão que estava dentro de um dos bolsos.

Depois do almoço, o Camilo levou-nos a visitar a região, tendo passado por muitos locais que marcaram muita da juventude portuguesa dos anos sessenta a 1974. Estivemos na Foz do Corubal com o rio Geba, em Xime, Ponta do Inglês e Ponta Varela. Passamos na Ponte do Rio Udunduma, vendo-se ao lado a do tempo colonial, já em ruinas, por onde passaram milhares de soldados e onde as nossas tropas sofreram muitas baixas. 

Eu, que também fiz a guerra, ainda que em outras paragens, em Moçambique, comovi-me ao visitar sítios que me foram referidos pelo Camilo e pelo Francisco, que cá estiveram na Guerra, pois imaginava o que sentiram e viveram os camaradas de armas que por cá passaram.

A minha mobilização foi para Moçambique, onde estive de Maio de 1972 a Agosto de 1974, integrado na Companhia 3550, pertencente ao Batalhão 3885, sediado no Fingoé. 

A companhia 3550 tinha a sede no Zambué e um destacamento no Zumbo, que distava cem quilómetros da sede. No mapa de Moçambique é fácil localizar o Zumbo, por ser a primeira terra moçambicana a ser banhada pelo rio Zambeze, junto à antiga Vila da Feira, atual Luangwa (15º 37`S, 30º 23` E), na Zâmbia, na foz da margem direita do Rio Aruangua, que divide os dois países.


9º dia, terça-feira, 26 de setembro de 2017

Este dia foi destinado a continuar a visitar os locais mais emblemáticos desta zona, começando por Saltinho e conhecer a casa que o Camilo tem no Clube de Caça, que fica junto à ponte Craveiro Lopes, sobre o rio Corubal, que foi visitada durante a construção pelo General Francisco Higino Craveiro Lopes, Presidente da República, em 1955.

Do Clube de Caça, localizado no antigo quartel da tropa, tem-se uma boa vista sobre a ponte e sobre o rio, que vai com um grande caudal. Do Outro lado do rio tem uma povoação grande ,onde visitei o régulo Suleiman, que foi soldado do meu primo Fernando, alferes Mota, quando cá cumpriu serviço militar. 

No bar do Clube, antigo bar dos oficiais ainda lá encontrámos um quadro de fotos da época feito pelo nosso companheiro de viagem, o Xico Allen, quando por cá passou em 1998. Depois passámos por Aldeia Formosa, atual Quebo, descendo a Buba, aonde almoçamos “ração de combate”, no Hotel da Dona Gabi, que se encontrava ausente para Bissau, utilizando uma das mesas que nos foi cedida, tendo sido recebidos pelo marido. 

De seguida regressámos a casa do Camilo, em Bambadinca, continuando a passar, agora sem riscos, por locais de tão triste memória, para aqueles que aqui fizeram a guerra.


10º dia, quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Mais uma vez nos levantámos cedo para, desta vez, irmos visitar Bissau e para o Camilo e o Francisco tratarem de vários assuntos. O Francisco trouxe duas ofertas de 50,00 e umas canadianas para serem entregues a dois antigos faxineiros, enviadas por dois antigos combatentes. Um deles, numa viagem que fez à Guiné, encontrou um desses faxineiros - em Moçambique chamávamos-lhes “mainatos” -, deficiente motor, que se locomovia encostado a um pau, do qual se condoeu, tendo prometido que lhe enviaria umas canadianas, promessa que foi cumprida, através do Xico Allen.

Durante a estadia, porque o Camilo conhecia o Tenente Coronel Sado e o Engº Agrónomo Constantino, que me tinham sido referidos pelo meu primo Fernando, o ex-Alferes Mota, para lhes apresentar cumprimentos e para lhes pedir ajuda, no caso de necessidade, encontrámo-nos com eles na Pastelaria Império. Foi um encontro agradável, que serviu para troca de cumprimentos e para o Engº Constantino, falar da sua boa experiencia vivida na minha cidade, Vila Real, quando lá frequentou o curso de agronomia. Fiz entrega a cada um de uma garrafa de vinho Cancellus Premium, que trouxe de Bambadinca a contar com um possível encontro, na convicção de que esta oferta seria do agrado do meu primo.

Porque, desde que saímos de Saint Louis, não tive oportunidade de aceder à internet, procurei encontrar um estabelecimento onde fosse possível, o que não consegui na Império, nem na Pensão Coimbra, onde pretendíamos almoçar, tendo, por isso, ido almoçar ao Hotel Ancar (antiga Solmar) aonde, para além de simpático almoço de buffet, consegui aceder ao Citius para consultar os processos que ainda tenho. Tinha uma notificação de um saneador.

Depois do almoço eu e o Francisco mantivemo-nos no bar do hotel, aproveitando a capacidade do Hi-Fi, cuja qualidade era inferior à que tínhamos encontrado no Diamarek de Saint Louis.

O Camilo e a Luzinha chegaram quando estava a começar uma grande ventania, que levantava poeira, mais parecendo que estávamos no deserto. Já tinham tratado da estadia nos Bijagós e comprado a viagem de barco para quatro pessoas. Também já tinham ido buscar o peixe que tínhamos comprado no porto e que tinha ficado para arranjar e para colocar na arca que levámos para esse efeito.

Porque eu pretendia ver o Basileia – Benfica para taça dos campeões, que começava às 18,45 horas locais, e entre Bissau e Bambadinca são 105 quilómetros, tivemos que regressar.

Quando chegámos a Bambadinca procurámos um sitio onde fosse possível ver o jogo, até que encontrámos um barracão onde supostamente daria o jogo, conjuntamente com outros, tendo pago a quantia de 150 francos CFA (um euro vale 650 CFA ), mas não conseguimos passar da entrada tal era a quantidade de pessoas que ali estavam para ver. Dos cinco écrãs que estavam ligados, um era o Sporting – Barcelona e num quinto procuravam um jogo que, provavelmente, seria o do Benfica. Em face destas condições e porque o Camilo só nos iria buscar depois do jogo terminar, eu e o Xico Allen fomos a pé para a casa do Camilo, que distava dois quilómetros.

Antes do jogo terminar, o Camilo disse-me que faltavam dez minutos para terminar o jogo e que o Benfica estava a perder 2 -0. No dia seguinte, quando nos levantámos disse-me que o Benfica perdeu 5-0. Custou-me a creditar…


11º dia, quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Saímos por volta das horas 10 horas para visitarmos Bafatá, cidade natal de Amílcar Cabral. Na parte colonial, alguns dos edifícios da época estão a ser utilizados por serviços públicos e outros estão em degradação. O que resta da cidade dá par ver que era uma muito bonita e que foi importante na histõria da Guiné. O Camilo vai-nos fazendo a historia de cada uma das grandes casas, pois ele conheceu a cidade no seu apogeu.

No regresso passámos por Gabu para a Luzinha comprar panos africanos. O mercando nativo é vasto e tem de tudo o que é expetável existir num sitio com muitas limitações.

Infelizmente, comprou muitos tecidos e alguns vestidos nativos…

É uma pena ver que tantos anos após a independência, nada tenha evoluído. A Guiné continua a ser um pais adiado, não se vislumbrando grandes saídas. Mesmos a fonte da sua economia - o caju - pode vir a ser abalada quando as enormes plantações que têm sido feitas no Vietname começarem a inundar o mercado

Não tendo pela Guiné a afetividade que tem aqueles que cá passaram parte da sua vida, tenho pena que a independência, que era inevitável em face das pressões internacionais e do desgaste que a guerra estava a fazer na sociedade portuguesa da época, não tenha trazido vantagens para as populações.

Começo a ter saudades dos meus cinco amigos de quatro patas: a Sacha, uma labradora de 10 anos; o Handy, um Waimaraner de sete anos; a Estrela, uma Serra da Estrela de seis anos; o Aires, um Serra D`Aires de cinco anos e, por fim, o Lobo, um pastor Alemão de nove meses.

Pela primeira vez tive tempo para ler, começando um romance histórico, Vela Sagrada, escrito por um escritor árabe Abdelaziz Al-Mahmoud, situando-se na época em que os portugueses chegaram à India e destabilizaram, não só o comércio de especiarias, que mudaram de rotas, mas também o poder político e militar da região, dominado pelos árabes.

Durante a tarde levantou-se uma ventania a que não estamos habituados, seguida de chuva intensa, que quem viveu na Guiné tao bem conhece.

Antes de nos deitarmos, fizemos a mala para partir no dia seguinte para a ilha de Bubaque, onde ficaremos quatro noites.


12º dia, sexta-feira, 29 de setembro de 2017


Saímos por volta das sete horas para fazermos os 105 quilómetros que nos separam de Bissau onde tínhamos a viagem marcada para Bubaque, às 15 horas.

Antes de partirmos, depois de chegarmos a Bissau o Camilo tratou do que era preciso para fazer uma pintura num dos jeeps. Fomos almoçar à pastelaria e, enquanto fazíamos tempo para a partida para Bubaque, fui tomar café ao Ancar para tentar aceder à Internet, não o tendo conseguido.

Porque pretendíamos marcar o nosso regresso a Lisboa, fomos à TAP, saber dos preços, que ficavam por quantia superior a € 400,00 por pessoa. Como eram muito caros, achamos por bem consultar as duas companhias que cá operam. Uma marroquina, que faz preços mais em conta, mas como teríamos que perder algumas horas em Casablanca acabámos por comprar na Euro Atlantic Airways, por cerca de € 300,00, por bilhete, para o dia 20 o Camilo comprou por cerca de € 150,00.

Depois, porque a Luzinha pretendia comprar uns panos pintados, que fazem quadros de parede, andámos à procura nas ruas perpendiculares à Av. Heróis da Pátria, que começa na Praça do Império e desce atá ao porto. O comercio foi deslocalizado para um parque distante do centro o que veio dar àquelas ruas um abandono ainda maior. Algumas estavam piores do que em 2010, apesar de algumas já estarem alcatroadas.

O palácio do quartel general, situado na Praça do Império, que, quando lá estive, em 2010, estava esburacado de balas, desde a altura em que assassinaram o General Nino Vieira, já está reparado, dando um ar mais digno àquela Praça.

Os bilhetes, que pagámos como residentes, ficaram em 40 000 CFAS, o que equivale a € 62,00.

O barco partiu às 15 horas e chegou às 19 horas, sem sobressaltos, porque o mar estava calmo.

O Xico Allen ficou em Bissau, para tratar de assuntos pessoais.

Depois de atracarmos transportámos a nossa bagagem para a Casa da Dona Dora. O que encontramos era um pouco diferente do que imaginava pelos relatos da Luzinha, feitos através de informações que recolheu do Facebook.

A luzinha, o Camilo e uma helvética que veio connosco no barco e que, também, ficou na Casa da Dona Dora,  foram beber um gim à Kasa Africana, enquanto eu fiquei a tentar pôr o diário em dia.

Deitamo-nos cedo e, contra o que era habitual, dormi razoavelmente.


13º dia, sábado, 30 de setembro de 2017

Por volta das oito horas fomos avisados pelo Camilo para nos despacharmos porque tinha encontrado um amigo, chamado Quintim, que é o diretor do Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão, que ia em trabalho para uma outra ilha, e que estava à nossa espera para nos levar. Tomámos o pequeno almoço à pressa, nem me deixaram acabar o galão, pois uma oportunidade destas não era para desperdiçar.

No barco fomos várias pessoas, tendo duas ou três ficado numa primeira paragem do barco e nós ficámos numa praia, na Ilha de Canhabaque ou Ilha da Rocha, enquanto os técnicos iam fazer o seu serviço, recuperando-nos no regresso, por volta da hora de almoço.

Quando descemos do barco ficámos encantados com a temperatura da água, ao nível da melhor que já encontrámos, comparando-a com a das Filipinas, Indonésia, Cabo Verde, Caraíbas, Cuba, S. Tomé, por serem as mais quentes aonde já estivemos. Se em Saona, nas Caraíbas, existe a que é considerada a maior piscina natural do mundo, esta praia e a piscina que a rodeia, na ilha de Canhabaque, não lhe fica atrás e a água é incomparavelmente mais quente. Estivemos horas dentro de água e poderíamos continuar indefinidamente pois não chegaríamos a ter nenhuma sensação de desconforto. Uma maravilha! Avançámos pelo mar dentro, sempre com água pela cintura.

O barco recolheu-nos por volta da 13 horas, e quando estávamos na viagem de regresso, receberam um telefonema de um dos técnicos, que iriamos recolher, informando que estava atrasado, tendo-nos sido posta a hipótese de nos virem trazer a Bubaque e depois regressarem , com o que nós não concordámos pelos incómodos que lhes causaríamos e porque, para nós, a espera era a possibilidade de ficarmos mais algum tempo naquelas águas maravilhosas.

Enquanto esperávamos pelo recomeço da viagem, voltámos para a água, que continuava a ter altura da minha cintura, com a variante de os nossos pés pisarem lodo em vez de areia. Aquilo que, inicialmente, parecia um transtorno, porque nos enterrávamos, passou a ser um privilégio quando nos apercebemos de que estávamos a pisar, aquilo a que Luzinha chamou “ uma mina” de ameijoas, combé. Começámos a apanhá-las por distração e, passado pouco tempo, com a colaboração do condutor do barco, apanhámos uma grande quantidade, que acabámos por colocar num saco de supermercado, dos resistentes. 

Num calculo, por baixo, deveríamos ter apanhado mais de dez quilos, que transportámos para a Casa da dona Dora, para comermos no dia seguinte, porque, para o jantar desse dia, já tínhamos encomendado três robalos grandes, grelados, a uma nativa que tinha um grelhador à porta.

Nos primeiros dias de Guiné não teria comido em tal local – uma mesa colocada na rua de terra batida - mas agora, depois de me aperceber de que as pessoas são limpas, apesar da falta de qualidade das habitações, deixei-me dessas esquisitices ou então continuaria a comer “ ração de combate”, na gíria de combatente.

O peixe que foi servido com batatas fritas, salada e pão acompanhado de cerveja, estava bom e foi em quantidade suficiente que deu para quatro pessoas e para uma dúzia de amigos de quatro patas, que interesseiramente nos fizeram companhia. As festinhas que lhes fiz deu para mitigar as saudades, que cada vez são maiores, dos cinco amigos, que ansiosamente nos esperam em Vale da Laranja / Rio Maior.

Quando regressámos à “nossa casa”, a Glória, uma filha da Dona Dora, que está atualmente à frente do negócio, porque a mãe e irmã estão há um ano em Lisboa, conseguiu disponibilizar-me o sinal Hi-Fi, permitindo-me, assim, aceder ao Citius. Tinha duas notificações, das quais só tive acesso a uma. Espera-me trabalho, quando na próxima sexta-feira chegar a Lisboa. É por estas limitações e preocupações que deixei de aceitar a quase totalidade dos clientes que me procuram.

Não consegui receber nenhum dos setenta e-mails, que ficaram retidos.

Combinámos uma viagem ao outro extremo da ilha, para as 9,30 horas, com o dono de um transporte, que veio ter connosco ao hotel.


15º dia, domingo, 1 de outubro de 2017

Tomámos o pequeno almoço e ficámos a aguardar que nos viessem buscar, o que aconteceu por volta das 9,30, para nos transportarem a Bruce. Fomos recolhidos por um triciclo de caixa aberta com dois bancos de cada lado, que nos transportou a Bruce, no outro lado da Ilha de Bubaque e que dista 24 quilómetros do nosso “ aquartelamento” – a casa Dora. 

Foram quarenta e oito quilómetros por estrada, ida e vinda, na gíria chamamos-lhe picada, que deu para apreciar a paisagem verdejante, com algumas plantações de arroz, de milho e de outros produtos, Após muitos solavancos chegámos e encontrámos uma praia maravilhosa, a perder de vista, de águas tépidas e calmas. Passámos horas na água, tal como temos feito sempre que há oportunidade. Deu para explorar as redondezas, encontrando um pequeno curso de água, que faz uma piscina natural, antes de correr, devagarinho, para a praia, que deve secar no tempo seco. Continuámos a encontrar rochas vulcânicas, o que não me deixa qualquer dúvida quanto à origem destas ilhas, apesar de haver quem conteste esta evidência.

Aqui, em Bruce, um jovem local construiu um edifício de oito apartamentos, suites, espaçosos e modernos, dignos de qualquer bom lugar, que têm apoio de restaurante e bar. Com aquele mar em frente é um local a ter em conta para quem queira passar umas férias calmas e com conforto. O único contra são as viagens: quatro horas de barco, com saída de Bissau e os 24 quilómetros de “picada”. Também estão a ser construídos outros apartamentos, ainda que mais modestos, mesmo ao lado, que poderão, a preços mais módicos, prestar os serviços essenciais.

Quando chegámos, cruzamo-nos com duas portuguesas que cá estão a prestar cooperação, no seu período de férias e que tinham ficado num dos apartamento. Falámos-lhes da nossa viagem, o que as deixou desejosas de um dia também a poderem fazer.

Parte do regresso foi feito por outro caminho, incluindo a pista aérea, que também serve de campo de pastagem às muitas cabras que as populações próximas possuem.

À noite, comemos parte das ameijoas, que aqui se chama combé, arranjadas pela Glória, a dona do Aparthotel Canoa, mais conhecido por Casa da Dona Dora. Estavam ótimas.

Depois do jantar fui ver o jogo do Marítimo 1 – Benfica 1, que acabou por me dar mais uma desilusão. Quando não estamos habituados custa mais…


16º dia, segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Por volta das dez horas, aproveitando mais uma visita ao Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão, fomos com a equipa do Diretor, Quintim, visitar as quatro ilhas mais no interior do Atlântico: João Vieira, Cavalos, Méio e Poilão, em trabalho de dinamização e sensibilização.

Fizemos uma paragem em Cavalos, para deixar o Diretor, que iria lá ficar até sábado e continuámos até Méio, onde parámos e aproveitámos para nos banharmos nestas águas maravilhosas. 

Continuámos para a Ilhéu de Poilão, que é a ilha mais ocidental do Arquipélago de Bijagós, sendo talvez por isso que é um santuário para as tartarugas marinhas, que aí vêm desovar. Estivemos com os técnicos que lá prestam serviço na monotorização das tartarugas e a prestar-lhes apoio no seu regresso ao mar, quando ficam presas nas rochas ou quando estão cansadas, depois do esforço de porem uma média de cento e vinte ovos, em cada postura. 

O chefe da equipa, biólogo, que esteve recentemente em Bragança a frequentar um curso, desta área, fez-nos uma exposição sobre o Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas, no qual se insere o Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão.

Quando nos preparávamos para piquenicar, coincidindo com o almoço dos nossos anfitriões, fomos obsequiados com a oferta de um prato de arroz com peixe, que estava muito bom. 

De seguida visitámos os locais de desova das tartarugas, sendo bem visíveis os enormes buracos dos últimos nascimentos. Indicaram-nos os locais, que se encontram identificados por datas, para onde transferiram os ovos, que se encontravam em locais ao alcance das ondas.

No regresso passámos pela Ilha de João Vieira, onde se encontra a sede do Instituto. Estivemos duas horas a banhos. Antes de regressarmos, por volta das 17 horas, ainda vimos o Museu do Parque, uma pequena sala, que contém elementos da fauna existente no Parque. Foi um viagem de regresso que demorou cerca de duas horas.

Durante o regresso vimos grande quantidade de golfinhos, que vinham saltar ao lado do barco, quando batíamos na chapa. Foi um momento muito gratificante.

Depois de jantarmos as sobras do almoço, pagámos os bilhetes da viagem de regresso, que tiveram a amabilidade de nos levar ao Aparthotel. Antes nos irmos deitar, pagámos a estadia, porque, no dia seguinte, deixaríamos os quartos por volta das sete horas, para apanharmos o barco às oito horas. Como aquela hora ainda não haveria pequeno almoço, a Glória, não vou chamar-lhe dona, porque é uma jovem de trinta anos, arranjou-nos uns bolos feitos por ela.


17º dia, terça-feira, 3 de outubro de 2017

Levantámo-nos pouco antes das sete para irmos apanhar o barco que nos traria de regresso a Bissau, puxando, no meu caso, uma mala de porão que tinha as minhas coisas e as da Luzinha.

Um dos jovens, que nos acompanhou nas visitas ao Parque, veio-se despedir de nós, tal como prometera na véspera. A contar com essa despedia, deixei-lhe ficar dois polos e uns calções safari, dos que tenho utilizado e demos-lhe uma pequena gratificação, para lá da que já havíamos feito coletivamente.

Fomos transportados num dos barcos que faz a ligação Bubaque a Bissau, sem comodidades, dado só ter meia dúzia de cadeiras, sendo a maioria dos assentos bancos sem encosto. Para atenuar este incómodo passei para a parte superior do barco, aonde descobri uma cadeira sem pernas, que coloquei em cima de um pneu, que partilhei com o Camilo, diminuindo o incómodo que foi a viagem, de mais de quatro horas e meia, aproveitando para continuar a leitura do livro Vela Sagrada. Foi a uma das piores partes da viagem!

Quando chegámos ao cais, tínhamos o Xico Allen à nossa espera com o jeep, que o Camilo conduziu de imediato, confirmando o que já sabíamos: o Camilo só cede o volante quando já não consegue resistir ao cansaço. Mas desta vez a condução foi curta, porque o Camilo ficou no Banco para levantar dinheiro e o Xico transportou-nos até ao Restaurante Ancar, para esperarmos por ele, pois este era o local que nos permitiria aceder ao Hi-Fi. Deu para fazer algumas consultas, mas continuo sem receber e-mails.

Como não gostámos do bufete do restaurante, fomos almoçar à Pastelaria do Trovão, onde comi uma bifana com batatas fritas e ovo, antecedido de umas moelas, que a Luzinha e o Xico condimentaram com piripiri. Como tinham gostado muito da primeira vez que lá comemos, o Xico, enquanto estivemos nas ilhas, comprou gindungo (piripiri) em verde, que deixou na pastelaria para uma empregada da casa preparar. Depois dividirá com a Luzinha, na sexta-feira, quando partirmos para Lisboa. Passado muito tempo de espera o Camilo lá chegou do Banco. Vinha esfomeado. A fome ainda poderia ser maior se, durante a viagem, não lhe tivesse dado um ovo cozido, que trazia para quando eu tivesse fome.

Depois do almoço regressámos a Bambadinca, tendo-nos cruzado com o Sr. Jorge que ia para Gabu aonde está a construir um armazém e outras instalações. Na viagem, várias vezes ultrapassámos o Sr. Jorge e fomos ultrapassados por ele, devido às paragens que fomos obrigados a fazer, talvez por culpa do piripiri que a Luzinha comeu.

A Luzinha, para o jantar, fez uma ótima sopa de abóbora, batata doce, cebola e de outros vegetais, acompanhado com umas rodelas de chouriço, que trouxemos de Portugal.

Antes de dormir, estive a escrever o diário.


18º dia, quarta-feira, 4 de outubro de 2017


Depois de tantos dias a levantar cedo, levantámo-nos calmamente. A Luzinha preparou o almoço: arroz de tomate com peixe frito. A refeição foi acompanhado com o vinho RedVelvete, de 2015, produzido pela Adega Alonso, de Alijó, propriedade da família do meu amigo Tozé Alonso, que era uma “boa pomada”, seguido de café, de moscatel de Alijó da mesma Casa e de Wiskey Teachers, uma garrafa antiga que trouxe da minha garrafeira.

Depois de bem bebido e quando se preparava para uma sesta merecida, e eu me encontrava a ler a Vela Sagrada, no alpendre, duas nativas vieram pedir ajuda ao Camilo, para levar ao médico a menina que as acompanhava e que aparentava ter seis anos, que está com a barriga inchada. A barriga da menina tinha duas grandes cicatrizes devido à operação que lhe foi feita em 2014. Perante esta situação, acabou o descanso do Camilo e do Xico, que foram levar a menina ao médico a Bafatá, sem a certeza de que lhe possa ser prestada ajuda. Se o Camilo não o fizesse, a menina ficaria sem assistência, porque aqui não existe Serviço Nacional de Saúde, nem ambulâncias acessíveis, nem postos de saúde adequados. O Camilo e o Chico saíram às 15 horas e passadas mais de duas horas ainda não regressaram. A menina poderá precisar de cuidados mais especializados que só existem em Bissau, que dista daqui 105 quilómetros por más estradas. Por muito boa vontade que o Camilo tenha, não pode estar a substitui uma função do estado guineense. São seis horas e o Camilo e o Xico acabaram de chegar. 

Estamos desolados! O médico que atendeu a menina, um espanhol dos Médicos Sem Fronteiras, que já anteriormente a tinha visto, referiu-lhe que não havia nada a fazer, que o problema é do fígado e que a menina está condenada… Ao olharmos para aquela menina, de olhos tristes, não podemos deixar de sentir um grande mal estar, por nos sentirmos impotentes perante esta crueza da vida!


19º dia, quinta-feira, 5 de outubro de 2017


Como tínhamos programada uma vista ao Saltinho, para lá almoçarmos, levantámo-nos mais tarde, sem as correrias que foram habituais ao longo destes dezanove dias. Só em Saint Louis, onde fizemos uma paragem reparadora e ontem, que ficámos em Bambadinca, ainda que com os incómodos que o Camilo e Xico tiveram, não fizemos visitas ou não estivemos ocupados com programas.

Chegámos a Saltinho por volta da 11,30 horas. Trouxemos almoço, para almoçarmos no Clube de Caça, que já foi referido na primeira visita, porque o Clube só abre para clientes, quando são feitas reservas. Contamos que depois das três horas nos tragam as famosas ostras, que até o meu primo Fernando me disse que são imperdíveis.

Como gostei deste local, trouxe o portátil para, na explanada em frente ao bar, ouvindo o barulho que as águas do Corubal fazem ao passar pelos rápidos do Saltinho, pouco antes de passarem pela Ponte Craveiro Lopes, procurar a inspiração que me falta, para escrever um texto mais digno de quem o possa ler.

A Luzinha acabou de chegar com um nativo do tempo da guerra, o Mamadu, ex-fuzileiro da nossa tropa, segundo diz, que reconheceu o alferes Mota de entre o grupo de fotos que tenho no portátil, tirados na festa dos meus sessenta anos.

Depois do almoço e enquanto esperámos pelas ostras, depois de tirar mais umas fotos, fomos tirar uma sesta nos quartos do Clube.

O Camilo veio dar-nos a notícia de que devido à altura das marés não puderam apanhar as ostras, o que para nós foi uma frustração e para a Luzinha um alívio, por não gostar de ostras.

No regresso a Bambadinca, o Camilo levou-nos a passar pelo interior da Tabanca de Mampata e, posteriormente, levou-nos aos rápidos de Cussilinta.

Antes de nos deitarmos deixámos as malas feitas, para irmos cedo para Bissau, porque apesar da partida estar marcada para as 15 horas, é necessário fazer o chec-in com seis horas de antecedência e porque para fazer a viagem até Bissau são necessárias mais de duas horas


20º dia, sexta-feira, 6 de oubro de 2017


Acordámos cedo, porque o calor húmido, apesar da ventoinha ficar ligada durante toda a noite, faz-nos sentir como se estivesse-mos numa sauna. Mesmo depois de tomarmos banho, com água fria, a transpiração regressa e só quando iniciámos a viagem para Bissau, com as portas do jeep abertas, para sentirmos os odores da mata, o calor abranda, tornando a viagem menos incomoda.

Durante a viagem aproveitámos para comprar amêndoa de caju, em quantidade que dará para satisfazer alguns amigos e a gulodice que eu e Luzinha temos por este produto.

Antes de chegarmos à cidade, ao passarmos ao lado do aeroporto, fizemos o check-in, ficando sem esta preocupação, o que nos permitiu fazer as últimas compras calmamente.

A Luzinha comprou  mancarra (amendoim) e duas papaias grandes. Enquanto o Camilo foi pagar o bilhete de avião para regressar no dia vinte, fomos mais uma vez ao Ancar para aproveitar o ar condicionado e para aceder ao Hi-Fi. Deu para aceder, mas, mais uma vez, não pude consultar os meus e-mails. Acabámos para ir almoçar à pastelaria do Trovão, antes do Camilo nos trazer ao aeroporto. O gindungo que o Xico deixou para preparar estava pronto, tendo-o divido com a Luzinha.

Ao passarmos pela máquina de controlo, a funcionária pediu-me um sumo e, como não lhe dei nada, mandou-me para uma mesa aonde estavam sentados dois funcionários, que me pediram para mostrar o que levava, ao mesmo tempo que me pediam dinheiro.

São três horas da tarde, estamos no aeroporto, à espera do embarque, com uma sauna ainda pior da que sentíamos em casa do Camilo, porque ali, à noite, tínhamos as ventoinhas ligadas, que atenuavam o calor.

Finalmente, entrámos no avião da Euro Atlantic, um boeing 767 – 300ER, com boas condições. Já são 4,20 e o avião nunca mais parte…. Partiu às 4,30 horas e chegámos a Lisboa por volta das 9,15 horas. Tendo em atenção a diferença de hora, mais uma em Portugal, demorámos quatro horas e pouco.

O serviço da Euro Atlantic é bom e a Luzinha comeu a refeição, coisa que poucas vezes acontece nos aviões.

Porque as bagagens só nos foram disponibilizadas por volta das 22,30 horas, o Xico Allen já não tinha transporte para o Porto, ficando em nossa casa.

Enquanto a Luzinha preparava o quarto para o Xico e uma refeição ligeira, acedi à Internet para consultar o Citius, constatando que tinha duas notificações: uma cujo prazo para apresentar testemunhas terminaria daí a uma hora, por sorte já as tinha apresentado, e a outra a terminar na segunda, para apresentar originais de documentos, no tribunal de Portimão, porque o juiz deve ter problemas de visão e não consegue ler as cópias que enviei. Isto vai alterar tudo o que tinha programado, porque teremos que ir no domingo pernoitar na Praia da Rocha, para, no dia seguinte, me deslocar ao escritório do cliente, em Albufeira, a fim de recolher os originais e entregá-los. Só pensávamos ir buscar o meu carro mais tarde, depois de matarmos saudades, ficando com disponibilidade emocional, para repousarmos mais uns dias no Algarve.

O Xico deixou-nos às sete, para apanhar o Alfa das oito, depois de chamarmos um táxi, porque não tínhamos o comando para abrir a porta da garagem, que se encontrava no meu carro, em Lagoa, aonde o tínhamos deixado.

O Xico Allen, que não conhecíamos, durante estes vinte dias de viagem , ganhou o direito de fazer parte do nosso grupo de amigos.


PS: No sábado, dia 7, fomos para Vale da Laranja aonde nos esperavam os nossos cinco amigos. Ficámos lá essa noite e no dia seguinte fomos para o Algarve, para dar cumprimento à notificação. Enquanto me encontrava no escritório do cliente, aproveitei para contactar a Virtual, firma informática de uma sociedade do Zé Miguel, meu cunhado, que, com a qualidade que lhe é reconhecida, à distância, resolveu o problema existente com a minha conta de e-mail, que se mantinha desde os primeiros dias da viagem.

Aproveitámos a nossa ida ao Algarve para levarmos o Lobo, o pastor alemão, a fim de o socializar, tendo excedido as nossas expectativas. Na praia do Alvor, o Lobo, depois das hesitações iniciais, tomou o seu primeiro banho de mar e conseguiu enfrentar as ondas.

Regressámos na terça, a tempo de ver o Portugal – Suíça, porque, apesar da água do mar estar como poucas vezes a encontrámos no Algarve, achámos por bem regressar, até porque, para além de já termos saudades das nossas rotinas em Lisboa e em Vale da Laranja, a mãe da Luzinha tinha uma consulta para hoje, na qual lhe foi marcada a operação, para transplante da córnea.


APRECIAÇOES FINAIS

Antes das apreciações gerais não posso deixar de agradecer ao Camilo tudo o que nos proporcionou. Sem ele, esta viagem nunca teria existido e nunca teria sido tao variada e completa, para além de nos acolher na sua casa em Bambadinca e por nos ter mostrado e explicado os locais que são referidos neste diário. Obrigado Camilo!

Também queremos agradecer ao Xico Allen, pela sua amizade e por todo o apoio que nos prestou, nomeadamente por ter feito a maior parte da condução, especialmente nos troços mais difíceis.

Esta foi a viagem da nossa vida: pela duração, pela diversidade de situações vividas, pelas muitas emoções sentidas. Não foi uma viagem muito difícil, porque íamos acompanhados por dois veteranos, conhecedores de todos os locais por onde passámos.

Durante a viagem, passámos por países e regiões muito dispares, bem percetíveis pelo que nos era dado apreciar nos contactos que fomos tendo com as suas gentes, nos locais em que parámos e que visitámos.

Marrocos foi uma agradável surpresa, começando por Tânger, aonde já tinha estado em 1980 e pelo que conheci de Casablanca quando lá estivemos em 2015. Casablanca e Tanger, tal como as grandes cidades de Marrocos, são cidades tipicamente ocidentais, com exceção das partes tradicionais do mundo muçulmano, como a Medina, o Kasbah e as mesquitas no lugar das igrejas.

Marrocos é um pais muçulmano, situado em Africa mas que se considera mais europeu do que africano, com o que concordamos, pois é diferente dos outros do mesmo continente e que tem a sorte de ser governado por uma monarquia esclarecida. O atual rei, Mohammed VI, filho de Hassan II, tem seguido uma politica de desenvolvimento, bem patente na rede viária e na construção civil, procurando eliminar os bairros da lata, como foi visível ao longo do percurso. Dentro de dois anos já terão o TGV, segundo nos disseram e acreditámos, tendo em atenção o estado avançado dos trabalhos. Devido ao seu poderio, a anexação dos territórios do Sara Ocidental poderão ser irreversíveis.

Mauritânia é um pais desértico e porque não tem petróleo é pobre, bem patente na aparência das suas gentes e dos pedidos que nos faziam, quando parávamos para meter combustível. A sua capital, Nouakchot, é cheia de contrastes. Tem partes agradáveis e limpas e outras com o lixo espalhado pelos passeios. O Hotel onde ficámos é de grande qualidade e quando lá pernoitámos estava praticamente vazio.

Senegal, por já fazer parte da região subsariana, não é tão pobre como a Mauritânia – tem mais condições naturais para se viver -, mas a pobreza é bem visível.

Em Saint Louis, cidade costeira, que, no tempo da colonização francesa chegou a ser a capital do Senegal, ficámos impressionados com a pobreza e sujidade que encontrávamos. As pessoas coabitavam com o lixo, as cabras, os burros, galinhas e outros animais. Também foi aqui que passámos um dos melhores dias da viagem, no Hotel Diamarek, bem juntinho à praia.

A Guiné, apesar de ser um país pobre, não é um país miserável, como me pareceu ser a Mauritânia e o Senegal que conhecemos, mas continua a ser um país adiado. As suas gentes são simpáticas, mas indolentes, por natureza, o que, associado ao clima quente e húmido e à impreparação das pessoas, contribui para esse atraso. 

Para além destes fatores endógenos, muito contribui a corrupção e a frequente instabilidade política. Por outro lado, também lhe faltam fontes de energia, porque, sendo um país plano, não tem centrais elétricas, tendo que recorrer a geradores e a painéis fotovoltaicos, que são dispendiosos e por isso leva a que a energia elétrica seja distribuída de forma intermitente. Em Bambadinca, a luz é produzida por painéis fotovoltaicos e é distribuída só à noite e com pouca capacidade.

Estive em Bissau em 2010, no âmbito de um protocolo antigo celebrado com o Governo da Guiné e os Jogos Santa Casa, para darmos apoio ao desenvolvimento dos Jogos Sociais na Guiné. Apesar dos apoios que íamos dando, inicialmente em material e dinheiro, sentíamos que nada estava a ser feito, mas os pedidos de apoio em dinheiro continuavam, o que me fez duvidar que tais verbas se destinassem para o desenvolvimento dos Jogos Sociais. Por isso, propus ao Administrador daquela área que o melhor seria ir à Guiné para, in loco, aferir dos apoios necessários e, a partir daí, começar a dinamização que fosse necessária. Quando lá cheguei fiquei na Pensão Coimbra e no dia seguinte vieram levar-me, num carro posto à disposição pelo Secretário de Estado da Juventude e Desportos, com quem reuni mais tarde no seu gabinete, com a presença do seu Assessor e do meu anfitrião, o futuro diretor. 

Enquanto estava a decorrer a reunião, ocorreu um facto, que nos deixou estupefactos: entraram pelo gabinete dois chineses para prestarem assistência ao ar condicionado, sem pedirem licença nem cumprimentarem ninguém, o que me levou a comentar, talvez de forma inapropriada, que estávamos na presença dos novos colonizadores.

Antes desta reunião fomos visitar as instalações onde funcionaram as Apostas Mútuas ( Totobola) do tempo colonial, aonde ainda se conseguia vislumbrar a antiga designação. O edifício, apesar de em tempos ter sido enviado dinheiro para a sua reparação, estava um autêntico pardieiro, esburacado, sem forro no telhado, sem cofres para guardar o que fosse necessário, sem as bolas para fazerem os sorteios. Em suma, eram um barracão onde nada existia que pudessem dar credibilidade à existência de um jogo oficial, apesar de serem vendidos alguns bilhetes na rua, por engraxadores, apondo um carimbo nos bilhetes antigos, que lhes tínhamos fornecido. Numa sala, em que nem cadeiras existiam para as pessoas se sentarem, foram-me apresentadas umas quatro, que eram as que supostamente lá trabalhavam e para as quais precisavam de dinheiro para lhes pagar.

Na reunião com o Secretário de Estado referi-lhe toda a disponibilidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através do seu Departamento de Jogos, mas para isso o governo da Guiné teria que mostrar interesse, começando por criar legislação própria e arranjar umas instalações, com alguma dignidade porque aquelas, já eram impróprias. 

Apesar das promessas, saí da Guiné convicto de que nunca mais lá voltaria, porque não acreditei que a minha colaboração viesse a ser necessária. Apesar dessa convicção, ainda elaborei um projeto de decreto-lei e uns estatutos, que poderiam servir de apoio para a criação da legislação necessária. A instabilidade politica inviabilizou a possível boa vontade do Secretário de Estado.

A Guiné continua a ser delapidada pelas potencias mundiais naquilo que lhes interessa. A China, nos últimos anos, veio buscar muitos milhões de metros cúbicos de madeira, a coberto de protocolos, que pouco contribuíram para o seu desenvolvimento. Só pararam devido às pressões da Greenpeace, acabando por deixar muita madeira cortada pela mata, como nos tem sido dado observar.

Os pedidos de dinheiro, que nos foram feitos em alguns controlos policiais e no aeroporto, dão uma ideia da fragilidade institucional e social da Guiné Bissau.

Arquipélago dos Bijagós, com as suas muitas ilhas, mais de oitenta, e as suas águas maravilhosas, tem condições excecionais para o turismo, que poderá vir a ser uma das fontes de maior rendimento do pais.

A Luzinha pretende voltar aos Bijagós, mas é minha intenção, apesar de ter adorado os Bijagós, visitar novas paragens, quando tiver oportunidade. Com tanto para ver, não gosto de repetir destinos.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos: LG]
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Nota do editor:

domingo, 30 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)




Guiné-Bissau  > Região de Quínara > Empada > 2005 > O emblema ou efígie da CCAÇ 3566, "Os Metralhas", uma peça em argila que foi encontrada pelo Xico Allen a servir de "tapete" ou "soleira" à casa do administrador local... Fotos do álbum do José Teixeira, que acompanhou o Xico Allen nessa viagem.

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)

Data . quinta, 27/04, 15:22 (há 1 dia)
Assunto -  Os Metralhas

Boa tarde Luís

Junto as fotos que tirei em 2005 em Empada com a pedra símbolo dos "Metralhas," que estava a fazer de tapete no acesso à porta da casa do Administrador de Empada. 

O Xico Allen foi cumprimentá-lo e descobriu a pedra e a sua função. Ficou muito aborrecido. e demonstrou o seu descontentamento, pegando na pedra e trazendo-a para o Saltinho. Dois dias depois embarcámos no avião de regresso e a pedra veio conosco.

Quando, no ano passado,  soube que tinha sido criado o Grupo de Futebol "Os Metralhas de Empada" logo se dispôs a ir lá levar a pedra para emblema do clube. Tinha combinado ir com o Silvério Lobo. Infelizmente adoeceu e, ainda antes de morrer,  encarregou a Inês de cumprir a sua vontade.

De recordar que os "Metralhas", a CCAÇ 3566, foram os últimos militares portugueses que estiveram em Empada.

Um xi coração para ti e para a Alice.




2. Resumo da viagem,  à Guiné-Bissau, da Inês Allen, acompanhada do Silvério Lobo (e mais alguns antigos combatentes que se lhes juntaram), em fevereiro de 2023; 

Segundo uma notícia da Agência Lusa, de 14 de fevereiro de 2023, que foi publicada nos jornais (e nomeadamente no "Observador", mas também da Rádio Voz da Guiné, no dia seguinte, no Facebook), "a portuguesa Inês Allen Pereira cumpriu a vontade do pai e entregou em Empada, no sul da Guiné-Bissau, o distintivo da companhia da tropa colonial portuguesa “Os Metralhas” a um clube de futebol com o mesmo nome", que havia sido criado em junho de 2021.

É sabido que o nosso Xico Allen, depois de reformado (era bancário), tornou-se uma "viajante compulsivo", tendo visitado a Guiné-Bissau por diversas ocasiões.  Numa delas, em 2005, e conforme relato acima do nosso camarada Zé Teixeira, encontrou em Empada o emblema ou a efígie da sua antiga companhia, a CCAÇ 3566, cuja divisa era justamente "Os Metralhas”,  

"Nostálgico, Francisco pegou naquele símbolo circular com cerca 50 centímetros de diâmetro, que levou para Portugal." - acrescenta a peça da Agència Lusa - com a ideia de o restaurar. Era uma peça feita de argila, pesando cerca de 19 quilos.

"A ideia, contou à Lusa em Bissau a filha Inês Allen Pereira, era restaurar aquela relíquia feita de argila da Guiné e um dia devolvê-la a Empada. Em outubro passado, quando Francisco tinha tudo planeado para trazer de volta o símbolo de “Os Metralhas”, acabou por morrer de doença".

Conhecedora da vontade do pai, a Inès decidiu viajar até Empada:

“Ele tinha muito orgulho porque soube que há muito pouco tempo tinha sido criado o clube de futebol “Os Metralhas” em Empada e estava a correr muito bem e que tinham subido de divisão”, explicou à Lusa Inês Pereira.

Francisco “tinha muito orgulho” pelo facto de em Empada terem dado, ao clube de futebol local, o nome da divisa da sua companhia, o tempo da guerra colonial, a CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74).

Tão cedo Inês não se vai esquecer da “grande receção” que teve na vila onde o pai foi militar quando no passado domingo, dia 12 de fevereiro, fez 12 horas de viagem entre Bissau e Empada para entregar o símbolo de “Os Metralhas”, com cerca de 19 quilogramas.

(...)  "Dauda Cassamá, vice-presidente do Empada Futebol Clube “Os Metralhas”, criado há dois anos e que subiu da terceira para a segunda divisão, explicou à Lusa que o símbolo devolvido por Inês Pereira vai ser colocado numa vitrina no hall de entrada da sede do clube" (...).

O prõximo desafio é fazer "cumprir um desejo dos cidadãos de Empada que querem batizar o campo de futebol com o nome Francisco Allen Pereira"

O acontecimento teve honras de conferência de imprensa Bissau, no dia 14 de fevereiro, em que a nossa Inês foi a "vedeta". E, merece, naturalmente as nossas palmas pelo seu gesto. (*).  



  Guiné > região de Quínara > Empada > Futebol Clube "Os Metralhas de Empada" > Fevereiro de 2023
Leiria > Convívio anual da CCAÇ 1790 > "Mais um convívio muito bem passado! Obrigada à CCAC 1790, 1967/69, por nos receberem e também pelas 150 'empadas' angariadas hoje, por amizade e pela compra de livros, para a concretização do 'Campo de Futebol Xico Allen' ". A Inês Allen aqui com  Silvério Ribeiro Lobo e Liliana Miguel Carvalho Dantas em Leiria.

Fotos: Cortesia da página do facebook da Inès Allen (2023)

3. Ficha da unidade > Companhia de Caçadores nº  3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74)

Identificação:  CCaç 3566
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua | Cap Inf Herberto Amaro Vieira Nascimento | Cap Mil Inf Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro
Divisa: "Os Metralhas"
Partida: Embarque em 23Mar72; desembarque em 23Mar72 | Regresso: Embarque em 18Jun74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27Mar72 a 22Abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24Mai72, para Empada, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3373.

Em 17Mai72, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3852. 

Em 22Jan73, por remodelação do dispositivo, o subsector passou à dependência do BCaç 4510/72. 

Em 03 e  21Abr73, dois pelotões foram deslocados para Catió, em reforço da guarnição
local, onde se mantiveram até 23Jan74.

Em 25Fev73, a sua zona de acções foi alargada às áreas da península da Pobreza e Cubisseco de Baixo, por reformulação do dispositivo, incrementando então a sua actividade ofensiva, com realce para uma acção imediata sobre Iangué, em 190ut73, com bons resultados.

Em 14Jun74, foi rendida no subsector de Empada pela CCaç 4944/73, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações -  Tem História da Unidade (Caixa n.º 116 - 2.ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 412.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 19 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23896: E as nossas palmas vão para... (21): o Humberto Reis, que hoje faz anos e é um dos nossos grandes fotógrafos, para além de colaborador permanente e "cartógrafo-mor" do nosso blogue

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24259: Tabanca Grande (548): Inês Allen, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 875... Voltou a Empada, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do pai, Xico Allen, entregar ao clube de futebol local, "Os Metralhas", o emblema da divisa da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)


Inês Allen: de acordo com a informação da sua página do Facebook, (i) é natural do Porto; (ii) vive em Vila Nova de Gaia; (iii) tem uma licenciatura em Design do Produto na ESAD Matosinhos (1998-2004); (iv) atualmente é  Freelancer, Visual Merchandiser + Project Coordinator; (v) em fevereiro de 2023 viajou até à Guiné-Bissau para cumprir uma última vontade do pai. Foto: cortesia da sua página do Facebook.



Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 > Três "Metralhas": da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva (o "Brasuca") e o Xico Allen, de seu nome completo Francisco Jorge Allen Gomes Pereira (1950-2022).  O Joaquim e o Xico são membros da Tabanca Grande e eram grandes amigos.

Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro da Silva  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Viagem Porto -  Bissau > Abril de 2006 

O   organizador desta viagem por terra, em abril de 2006, foi o Xico Allen (ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566, "Os Metralhas", Empada e Catió, 1972/74). Levou o jipe, que lá ficaria para futuras viagens. O grupo regressaria depois de avião. Os "aventureiros" foram, além do Xico, e da sua filha Inês, o Hugo Costa (filho do Albano Costa), e ainda o A. Marques Lopes, o Manuel Costa e o Armindo Pereira. 
 
O Xico Allen, nosso grã-tabanqueiro desde 2006 (entrou pela mão do Albano Costa), foi um dos primeiros de nós, antigos combatentes, a voltar à Guiné, depois da independência. E nos últimos anos chegou mesmo a lá viver. De acordo com as memórias da Zélia Neno, também nossa tabanqueira (e infelizmente doente), o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992 (eles os dois, mais um outro casal). Voltaram lá em 1994 (desta vez foram 3 casais) e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão.

Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998. Temos vários fotos dessa viagem, em que o Xico (e a Zélia) foram inclusive a Madina do Boé. Depois disso, o Xico passou a lá ir regularmente. Perdemos as contas que fez essa viagem,  por terra e por ar...

Por sua vez,o Albano Costa, pai do Hugo Costa e primo do Manuel Costa, tinha lá estado em novembro de 2000 (incluindo o Armindo Pereira, o Manuel Casimiro, o Manuel Costa e mais uma vez o Xico Allen). Foi a sua primeira e única vez. Fotógrafo profissional, fez uma excelente cobertura fotográfica dessa viagem, ele e o filho, Hugo Costa, percorrendo a Guiné de lés a lés, incluindo uma ida a Guidaje, onde ele fizera a sua comissão. (Foi 1.º cabo at inf, CCAÇ 4150, Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74).

Fotos (e legenda): © Albano Costa / Hugo Costa  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A Inès Allen com o "boneco"  
de "Os Metralhas",  exibido no
convívio anual do pessoal,
em Fátima, em 22/4/2023
1. A Inês Allen, filha do Xico Allen (1950-2022) aceitou, "com muito gosto",  o nosso convite para integrar a Tabanca Grande (*), preenchendo assim o vazio deixado pela morte do seu pai e dando continuidade aos seus desejos e sonhos para a Guiné, um deles era ajudar a terra, Empada, onde ele esteve, em comissão de serviço militar (há menos de dois anos foi criado o Futebol Clube de Empada "Os Metralhas", em homenagem aos antigos militares portugueses da CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74).

A Inês entra para a Tabanca Grande de pleno direito: é um lindo exemplo para outros filhos e netos de camaradas nossos que já nos deixaram ou não tem a mesma facilidade de comunicar connosco pelas redes sociais. E, como gostamos de dizer, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são...

Passa a ser a nossa tabanqueira n.º 875 (**).  E esperamos que ela, por email ou no seu Facebook nos vá dando conta do andamento do seu projeto em Empada.


Muito rapidamente, diremos só que, em fevereiro passado, a Inês, acompanhada pelo  nosso camarada Silvério Lobo,  de Matosinhos,  voltou à Guiné-Bissau, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do Xico, que era entregar, em Empada, o distintivo da CCAÇ 3566, um "relíquia", feita em barro, que ele "redescobriu" em 2005: estava a fazer de degrau para acesso à escada de um edifício administrativo... 

O Xico trouxe-a para Portugal, com a intenção de a restaurar... A doença, e depois a morte, surpreendeu-o antes de ele poder concretizar o seu sonho de devolver, à origem, o símbolo de "Os Metralhas", quando ele soube da existência do clube de futebol local, que tinha o nome da divisa da sua companhia, a última deixar Empada antes da independência... 

"Os Metralhas" subiram, entretanto,  de divisão, da 3ª para a 2ª, mas, como não tem infraestruturas desportivas adequadas, para se manterem na 2ª divisão, a subida não foi homologada...

O emblema  de "Os Metralhas”, com cerca de 19 quilogramas, foi entregue em Empada num domingo,  dia 12 de fevereiro de 2023, depois de uma viagem de 12 horas entre Bissau e Empada.  A Inês teve uma receção emocionante e inesquecível.  A população local quer dar ao campo de futebol local o nome do Xico Allen. Contaremos essa história em próximo poste e publicaremos o "achado arqueológico" que o Xico encontrou em 2005 e que o Zé Teixeira fotografou.

(**) Último poste da série >  4 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24196: Tabanca Grande (547): Rogério Paupério, ex-1.º Cabo Escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73). Natural de Valongo, vive atualmenmte em Vila Nova de Gaia; passa a ser o membro n.º 874 da Tabanca Grande.