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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25076: Memórias cruzadas: o que o PAIGC sabia sobre Bubaque, em 1969... "O antigo governador Schulz ia lá de vez em quando, com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá esteve morado. Foi só visitar."...


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 1978  >  O "Palácio do Estado" (hoje, 2024, em completa ruína)... Edifício da época colonial, de arquitetura alemã,conhecido também como "Palácio do Governador"... Do lado esquerdo,  uma outra casa que terá sido construida, para efeito de lazer,  para os oficiais superiores portugueses...  ("Foto tirada pelo médico cirurgião Dr. Luís Tierno Bagulho em 1978, como cooperante, já falecido"). Cortesia de Patrício Ribeiro (*)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > Dezembro de 2023 > O "Palácio do Estado" "ou "Palácio do Governador", hoje uma total ruina...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
2-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós
(A láspis,no alto da folha,está escrito: "Informações recolhidas pelo camarada Vasco Cabral")


(...) BUBAQUE não tem quartel. Tem lá padres italianos (2) e co-
merciantes cabo-verdianos, que são 4. Um deles, sabe-se de certeza
que é contra o Partido e está como empregado encarregado da
Casa Gouveia em Bubaque. A loja da Gouveia vende tecido, compra
coconote, compra óleo de palma. Vende também arroz.
 

Há 3 tugas que trabalham na fábrica de extração de óleo de 
palma. Esta fábrica pertenceu em tempos aos alemães. Esses
tugas estão armados com armas de defesa pessoal - pistolas.
Estão em Bubaque uns 10 cipaios que se enontram armados 
de carabinas Mauser, mas só usasm as armas em momentos
de serviço. O serviço de vigilância é montado poe 2 cipaios : um que circula 
na ilha eoutro que monta a guarda à Administração. Drante o
dia não usam armas no seu serviço. De noite usam as armas.
Por volta das 10h da noite o cipaio da guarda à Administração
custuma ir dormir. Mss o cipaio que vigia a iha faz  ua roda
até de manhã.

De uma maneira eral as pessoas da ilha são favoráveis ao Partido.







ORGANIZAÇÃO, FORNAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA
3-12-69
Audição de camaradas vindos de Bijagós

(...) 2. BUBAQUE - Está contra o Partido um comerciante cabo-verdiano de     
[nome 
Juca Ferraz que pertence à Pide. Também pertence  à
à Pide um outro empregado cabo-verdiano de nome Alberto
dos Santos.

Cada cipaio trabalha 24 h seguidas: das 7h da manhã de um 
dia às 7h da manhã do dia seguinte.

As tabancas grandes têm um nº de pessoas que oscila



entre 600 e 1 000.

Há um outro elemento favorável ao Partido e que ouvia frequente-
mete as nossas emissões. Trata-se de Luís de Barros, empregado da Casa
Espinheiro [? ] .

Há carreiras turística de avião e de barco que vêm de Bissau para
gente visitar as praias ao fim de semana. Em geral, trata-se de oficiais do Exér-
cito português que aí vão com as suas famílias. Às vezes, alguns, aproveitando
o tempo de férias ou gozando um certo tempo de licença, permanecem 15 dias e
até um mês. Existe em construção ainda uma casa destinada a albergar esses
oficiais. Trata-se de um edifício em  3 blocos, cada um com uns 4 quartos,
o que perfaz um total de 12 quartos. Situa-se à beira-mar.

Há também cerca deste edifício a casa do Governador da Guiné que já
está pronta. Trata-se de uma casa grande com 4 grandes quartos, também


está na praia. O antigo governador Schultz  [sic, Schulz ]   ia lá 
de vez  em quando,
com outros militares e algumas mulheres. O atual governador nunca lá
esteve morado. Foi só visitar. (*)

Uns aspirantes [cadetes ] da Marinha, um grupo vindo 
de  Portugal,  comeram  lá perto por altu- 
ras do mês de março e abril. Comeram numa pensão à beira-mar que é des-
tinada aos turistas e que foi construída pelos alemães. Esta casa pertence
ao Estado, mas é explorada comercialmente por um tal Teodoro Romano Pe-
reira.  Há ainda mais 2 casas semelhantes a esta, que pertencem ao
Estado e onde moram os empregados portugueses da Fábrica de Extração de
Óleo de Palma, em nº de 3, havendo um outro ainda de nome Lourenço de Pina.

  [ Seleção, edição,  transcrição, revsão / fxação de texto, parênteses retos: LG ]

Citação:
(1969), "Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41391 (2024-1-16) (Com a devida vénia...)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.128.006 | 
Título: Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós. | Assunto: Informações de carácter militar, extraídas da audição com os "camaradas" vindos dos Bijagós, sobre Soga, Bubaque, Formosa, Uno, Caravela, Orango, Orangozinho, Canhabaque, Galinhas e Uracane. Organização e formação política e ideológica dos Bijagós, manuscritos por Vasco Cabral. | Data: Terça, 2 de Dezembro de 1969 | Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Documentos.

____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25073: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (32): Os encantos e os mistérios da ilha deBubaque (incluindo o "Palácio do Governador", hoje em total ruína, onde o PAIGC quis matar Spínola)

terça-feira, 17 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16098: O que dizem os Perintreps (Nuno Rubim) (4): A um mês do 25 de abril de 1974, o IN ataca Canquelifá durante 4 dias, com um grande potencial de fogo, e faz violenta emboscada no itinerário Piche-Nova Lamego a coluna auto (Perintrep 12/74, relativo ao período de 17 a 24/3/1974)


Foto nº 1



Foto nº 2

Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné > Zona leste > Região de Piche > Setor de Piche > Canquelifá >  Março de 1974 > A desolação da guerra: a tabanca, depois das violentas e prolongadas flagelações, diárias,  do PAIGC, à tabanca e ao aquartelamento,  à luz do dia, com morteiros 120,  foguetões 122 e canhões s/r,  entre 18 e 22 de março de 1974, e partir de várias direções (, e sobretudo Norte e Leste).

Houve mortos e feridos e graves danos materiais: pelo menos, 1 morto e 5 feridos graves entre as  NT; 3 mortos, 2 feridos graves e 4 feridos ligeiros entre a  População. Essas acções, que devem ter sido dirigidas pelo comandante do PAIGC Manuel dos Santos (Manecas),  revelam um certo "sentimento de impunidade", com o IN escudado nos Strela russos, tentando "engodar" a nossa aviação... Nesta altura, Canquelifá corria o risco de tornar-se a Guileje da zona leste.

Sempre presumi que a base de fogos tivesse instalada do outro lado da fronteira. O Perintrep é omisso fosse este ponto. Mass não, ao que parece era na antiga tabanca de Chauara, a escassos 10 km de X Canquelifá, com o PAIGC entrincheirado, e sua artilharia defendida por sapadores e infantaria... a escassos 4 km a norte, havia outra posição. Sinchã Jidé. No caso de Chauara, o reabastecimento era feito por estrada próxima que vinha do Senegal e atravessava a Guiné-Conacri.


Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné . Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona leste > Mapa de Canquelifá (1957) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Canquelifá (NT) e das bases de fogos do PAIGC, em março de 1974: Sinchã Jidé, a 4 km a norte, junto á fronteira com o Senegal, e Chauara, a menos de 10 km, a leste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri.


Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


Para aliviar a pressão sobre Canquelifá o batalhão de comandos africanos, a 3 companhias,  realizou a Op Neve Gelada (vd. vídeo no You Tube, da série A Guerra, realizado por Joaquim Furtado), a partir de 21 de março e até ao fim do mês, o  que levou à captura de grande quantidade de material, e provocou 26 baixas mortais entre o PAIGC (incluindo combatentes caucasianos ou não africanos, e nomeadamente enfermeiras, segundo testemunho de Carlos Matos Gomes, que comandou uma das companhias do Batalhão de Comandos Africanos).

Os comandos africanos tiveram 6 mortos e 1 desaparecido. Foi a última grande operação da guerra da Guiné, comandada por Raul Folques. esse bravo e lendário 'comando',  na altura, major.

Em 31/1/1974, tinha sido abatido por um Strela o Fiat-G pilotado pelo ten pilav Victor Manuel Castro Gil, a última aeronave abatida no TO da Guiné, antes do fim da guerra. O pilotop ejectou-se e conseguuiu chegar até tabanca de Dunane. Nesse dia Canquelifá foi flagelada com 50 foguetões, durante 2 horas, que causando sérios prejuízos no aquartelamento: um jipe com canhão s/r foi destruido.
























Documento (digitalizado) por Nuno Rubim (2016) / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné




Foto: Nuno Rubim (2007). Tem duas comissões no TO da Guiné, a última no QG, já como major. Na primeira comissão comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (out 1964/jul 1966) e a CCAÇ 1424 (jan 1966/dez 1966); trabalhador incansável, é também um bom amigo e um grande camarada, a que pedimos informação e conselho sobre as coisas e os feitos da Guiné; é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de junho de 2006 (*)

1. Reprodução (parcial) do Perintrep nº 12/74, relativo ao período de 17 (domingo)  a 24 (domingo) de março de 1974.

O Perintrep era uma documento classificado, elaborado pela 2ª Rep/QG/ComChefe/Guiné (chefiada então  por Artur Baptista Beirão, ten cor inf) (1925-2014). Era elaborado a partir de notícias recebidas (Relim) durante um período semanal, indicando-se sempre a origem ou o órgão da fonte da notícia.

Repare-se no nível de segurança: o documento, classificado,  chegava até aos comandantes operacionais (nível de companhia), que o tinham de incinerar no prazo de 72 horas... As informações nele contidas, devidamente selecionadas, podiam ser (ou não)  partilhadas depois com os subordinados, individualmente ou em grupo.

Este documento (cópia nº 36, parcial) chegou-nos às mãos, a nosso pedido, por gentileza do cor art ref Nuno Rubim, investigador, especialista em história da artilharia, e nosso grã-tabanqueiro da primeira hora. O Nuno Rubim tem a coleção toda, digitalizada,  dos Perintrep relativos ao CTIG (*).

Como se pode depreender da leitura deste Perintrep, a um mês do 25 de abril de 1974, no conjunto do TO da Guiné, e deum modo geral,  "atividade de iniciativa IN sofreu quebra considerável tanto no número de ações como na agressividade", se excetuarmos a zona leste, e em particular a parte nordeste do território,  "onde o IN fez incidir o esforço":

(i) flagelação da tabanca e aquartelamento de  Canquelifá (posto administrativo de Piche), diaramente, e durante várias horas, durante o dia, a partir de 18 e até 22 de março,   de várias direções, utilizando foguetões 122, canhão s/r, morteiro 120 (fonte: CCAÇ 3545);

(ii) emboscada a 22 de março, às 7h45, a coluna auto, no itinerário Piche-Nova Lamego, no troço entre  Bentém e Cambajã, por um grupo estimado em 200 elementos; as NT tiveram 5 mortos   5 feridos graves e 11 feridos ligeiros;  foram destruídas 3 viaturas: 1 Chaimite, 1 White, 1 Berliet (fonte: BCAÇ 3883)(**) .

A 22 de março de 1974, um grupo IN, na região de Canquelifá, também abriu fogo sobre sobre dois helis AL III, sem consequências.

Nos restantes zonas (oeste e sul), a atividade IN foi mais reduzida, em nº de ações e agressividade: assinalam-se ações, de iniciativa IN, em Binta (zona oeste) e em Gadamael (zona sul).

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 11 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16077: O que dizem os Perintreps (Nuno Rubim) (3): Mais três fotos da "minha" CCAÇ 1424... Numa delas o alf mil inf António Joaquim Alves de Moura, natural de Padronelos, Montalegre, que morreu em combate, "a meu lado com um tiro no coração", a 4/9/1966, em Chinchim Dari, entre Mejo, a sul, Nhabocá, a norte, e Salancaur, a oeste... mais 4 topónimos do nosso martirológio de Guileje

(**) Vd. poste de  12 de maio de  2016 > Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...

terça-feira, 19 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15992: Tabanca Grande (485): Completando o processo de adesão do António Osório, que vive em Vila Nova de Gaia: foi fur mil rec inf, CCS/QG/CTIG (Bissau, Cacine, Gadamael, Cameconde, 1970/72)


António Osório, foto atual. Vive em Vila Nova de Gaia



Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. 1970/71 > "Com um motorizada que comprei a um agente da DGS. Ia de Cacine a Cameconde, ida e volta. Adorei Cacine, o sítio mais lindo da Guiné".



Guiné > Região de Tombali > Cacine > c. 1970/71 > "Eu, com três bajuditas".


Fotos (e legendas): © António Osório (2016). Todos os direitos reservados


1. O  António Osório, ex-fur mil Rec Inf, CCS/QG/CTIG (1970/72) esteve em Bissau, Gadamael, Cacine, Cameconde e Bissau.

Faz parte, formalmente, da Tabanca Grande desde 27/12/2011 (*). Para além da foto atual, faltava-nos, pelo menos, mais uma foto do tempo da Guiné.

Já nos encontrámos em pelo menos 3 encontros nacionais, em Monte Real. Tivemos desta vez, em 16/4/2016, a possibilidade de recolher duas imagens do seu álbum fotográfico, para completarmos o seu processo de adesão, segundo as velhas NEP da Tabanca Grande (**)... Mais vale tarde que nunca... Aqui vão as fotos (vd. acima).

2. Recorde-se a apresentação que o nosso camarada fez na altura, secundando o seu pedido para integrar o nosso blogue. Acrescente-se que o Osório é amigo e vizinho do Xico Allen, e também acompanhou, em parte, o percurso do Mário Miguéis da Silva, que é da mesma especialidade e vive hoje em Esposende, Pensamos que os dois já se encontraram ou falaram ao telefone.

(...) Gostava que o meu nome fosse acrescentado à lista dos camaradas que serviram o nosso País na Guiné.

Cheguei às Caldas da Rainha a 6 de outubro de 1969 para frequentar o 1º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos [CSM],  ficando apto para a frequência do 2º ciclo em 2/12/1970, em Tavira.

Em 21 de março [de 1970] terminei o 2º ciclo do CSM,  com a classificação de 14,23 valores na especialidade de Reconhecimento e Informações. Mais tarde fui colocado nas Caldas da Rainha como cabo miliciano, instrutor dos cursos de sargentos milicianos.

Em 18 de novembro de 1970 embarquei para a Guiné, no navio "Ana Mafalda", onde cheguei no dia 24 de bnovembro, como furriel miliciano Rec Info, Fui colocado na CCS (Companhia de Comandos e Serviços) do QG/CTIG, em rendição individual.

No dia 25 de novembro rumei a Cacine e mais tarde a Gadamael. A minha vida no primeiro  ano de Guiné foi passada entre Gadamael, Cacine e Cameconde como furriel miliciano,  responsável pelas informações militares, na dependência do Comando-Chefe sediado em Bissau.

No segundo ano rumei a Bissau onde me mantive no Comando-Chefe, Rep Info (Repartição de Informações Militares) até 1 de dezembro de 1972, dia em que,  a bordo de um avião dos TAM, regressei a Lisboa.

Na Repartição Info, tive o privilégio de trabalhar com Firmino Miguel e Almeida Bruno, então majores do exército, hoje generais.

Fui louvado pelo Chefe de Estado Maior QG/CTIG (Ordem de Serviço n.º 279 de 29.11.1972 da CCS/QG), por proposta do Chefe da Repartição de Informações. Foi-me ainda atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné pelo Comandante Militar Brigadeiro Banazol, com a legenda “Guiné 1970-71-721 (Ordem de serviço n.º 253 de 28 de Outubro de 1972) da CCS/QG" (...).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > O António Osório estava inscrito com mais duas pessoas Ana e Maria da Conceição (Vila Nova de Gaia). 

Foto: © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12713: Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983 (Luís Gonçalves Vaz)

1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos um apelo que passamos a publicar.

Camarigos,


"Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983. Este "pedido de contactos", surge como vontade de um dos seus filhos, com o objetivo de obter algumas informações sobre o passado militar do seu falecido pai, no TO de Moçambique e da Guiné, teatros de operações por onde passou este militar do Quadro Permanente, da arma de Cavalaria, que quis o "destino" que sobrevivesse na guerra colonial, mas que muito cedo (com apenas 41 anos e vida) sucumbisse num trágico acidente no rio Tejo, no dia 8 do mês de dezembro do ano de 1983, altura em que frequentava um curso para aceder na sua carreira militar. Como o conheci pessoalmente e porque privei com ele durante o ano de 1983 na EPC (Escola Prática de Cavalaria) em Santarém, e de ter estado pessoalmente com o "grupo de sapadores da EPC" nesse mesmo dia fatídico, nas buscas e tentativa de salvamento deste mesmo oficial, é com muito respeito e admiração pela sua memória, que dou voluntariamente visibilidade e voz ao pedido de seu filho António Caetano. Como tal agradeço a publicação deste artigo no "Nosso Blog".

Forte Abraço deste camarigo.

Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano, falecido em 8/12/1983

(1942-1983)

Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Seu filho António Caetano, que tinha apenas 14 anos de idade, e era aluno do Colégio Militar na altura, quando o seu pai faleceu, em oito de Dezembro de 1983, num trágico acidente no rio Tejo, em Santarém, desejava comunicar com ex-camaradas e ex-combatentes, que com ele estiveram no TO (Teatro de Operações) de Moçambique, onde foi comandante do Esquadrão de Cavalaria 2 em Mueda, ou no TO da Guiné, nos anos de 1972/74, onde foi comandante da companhia de cavalaria 8350/72, no aquartelamento de Gadamael (onde chegou pela 1ª vez , lançado de helicóptero com o então capitão Monge e coronel Durão, para tentar enquadrar os militares portugueses em situação “crítica”, naquele que foi um dos “infernos” naquele TO, segundo relatos do sr. Brigadeiro Manuel Monge, em seu testemunho numa entrevista para os “Estudos Gerais da Arrábida sobre A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA, Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995). Na Guiné esteve também no CMI-Cumeré e durante a tarde de 28 de Agosto de 1973, na sala de sargentos do Agrupamento de Transmissões (CTIG), foi um dos oficiais subscritores do primeiro "manifesto anti-decretos", percursor do MFA-Guiné. Seu filho António Caetano, agradecia que algum ex-camarada de seu pai, que frequentasse este Blog ou por aqui passasse, se dignasse fornecer aos Editores, os respetivos contactos, para que ele os pudesse contactar, naturalmente para saber de algumas Estórias do seu falecido pai, que com ele apenas privou 14 anos, já que o destino assim vaticinou. O mesmo agradece esses eventuais contactos desde já.

Placa de um largo com o nome do major António Caetano, homenagem a este oficial de cavalaria da Câmara Municipal de Almeirim, sua terra natal.


Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Brigadeiro Manuel Monge: 

“… Bem, eu tinha vindo de comandar a guarnição operacionalmente mais difícil da Guiné, que era o COP 5, portanto também me sentia com alguma autoridade moral para poder falar da Guiné. Fui colocado a comandar o COP 5, lançado de helicóptero numa tarde, por ordem do general Spínola, numa altura em que aquilo tinha sido bombardeado pelo PAIGC e, dos 400 homens da guarnição, estavam lá 40, porque entre mortos, feridos e indivíduos que entraram em pânico e que tinham fugido para a bolanha, a guarnição estava completamente dizimada. Fui lá lançado de helicóptero ao final da tarde, com o coronel Durão e com o capitão Caetano, que já morreu. E estive a comandar durante oito meses o COP 5." …”

In: Estudos Gerais da Arrábida A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995).

NOTA: Manuel Monge (n. 1939): Oficial de Cavalaria. Fez quatro comissões de serviço em
África: duas em Angola e as duas na Guiné. Um dos braços direitos de Spínola,
quando este foi, primeiro, comandante-chefe da Guiné em 1968 e, depois,
Presidente da República. Dirigente do MFA.


Mueda 1969 - Despedida do Alferes Sousa (3.º da esquerda)


Mueda, 20 de Junho de 1969 - Despedida do Alferes Sousa
Alferes Manuel António, Alferes Sousa, Capitão Caetano, Alferes Azevedo e Alferes Sérgio

25 de Julho de 1969
Aniversário do Comandante do Esquadrão de Cavalaria 2, o Capitão Caetano
Frente: Alferes Padre Matos, Capitão Caetano, Capitão Cabral Lopes e Alferes Azevedo
Meio: Tenente André (falecido em 27/07/1969), Alferes Armindo, Capitão Sebastião e Tenente Ferreira
Atrás: Tenente Pinela, Alferes Braga e Tenente Resende

Para saber mais consulte Gadamael, o verdadeiro inferno, in: http://www.guerracolonial.org/index.php?content=413
Ali pode ler-se: "... Em 1 de Junho foram lá colocados os capitães Monge e Caetano, para enquadrar os militares ali reunidos... "
Fotografias retiradas do sítio:

Braga, 14 de Fevereiro de 2014
Luís Gonçalves Vaz (filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG) Luís Beleza Vaz

(Tabanqueiro 530)


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10046: Interessante os diálogos com o Senegal em Junho de 1973 (José Paracana)

1. Mensagem do nosso camarada José Paracana (ex-Alf Mil Analista de Segurança das Transmissões do QG do CTIG, 1971/73), com data de 30 de Maio de 2012:

Caro camarada!
Como estive colocado na Xeret, recolhi informação classificada!
Aí vai: pode pôr no blogue que eu já não me recordo dos dados de entrada no dito!
Interessante saber que o Senegal... dialogava!

Um abraço do
ex. alf. mil. José Paracana


Este documento transcreve uma escuta-rádio do pessoal da Guiné-Conakri!

É por demais ridículo... mas aconteceu este tipo de defesa. Na verdade, por vezes o nosso pessoal, junto à fronteira, "invadia o lado de lá" para passar tempo e beber "no estrangeiro"! Pelo menos assim mo contavam!!!


Neste documento a coisa reveste-se de tragédia: a morte levou mais inocentes para o seu quintal! [...]


Travei conhecimento com o alf mil que estava no serviço de reenvio de corpos para a metrópole! [...]. 

Nota do editor (LG): 

(...) Sobre este ponto (delicadíssimo), diz o nosso camarada Francisco Pinho o seguinte em oportuníssimo e esclarecedor comentário, de 19 d9 corrente, enviado às 7:28:00 PM:

 (...) "Quanto ao segundo documento, e relativamente ao comentário sobre o mesmo,  venho dizer que não havia nenhum alferes miliciano que reenviava os corpos para a metrópole. A secção de funerais,  1ªRep/2ªFun-QG/CTIG,  era constituída por um tenente do SGE, um primeiro sargento, dois furrieis milicianos, dois primeiros cabos e cinco soldados, estando um sediado em Nova-Lamego e tinha a seu cargo tudo o que respeitava a tratamento de mortos no COP5. 

NUNCA foram juntos cadáveres ou parte destes na mesma urna. Quando era impossível recuperá-los por diversos motivos,  eram declarados desaparecidos, com forte presunção de morte, ou então era comunicado que os mesmos ficavam sepultados na Guiné, sendo fornecidas todas as indicações sobre as suas sepulturas, caso de Guidaje. Francisco Jorge de Pinho, Fur Mil 1ªRep-2ªFun-QG/CTIG 1973/14-10-1974". (...)
 

Interessante saber que o Senegal... dialogava!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3488: O PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas (António Matos)


O PIFAs (Programa de Informação das Forças Armadas) teve, em 1971, este boneco em sua homenagem. Representava um repórter em traje militar de campanha, e aqui o deixo como peça do meu espólio.

Foi durante a minha comissão (1970/72) que foi inaugurado o emissor FM de Nhacra, o que transformou diametralmente o teatro de operações na Guiné. Até essa altura não havia qualquer tipo de guerra nessa zona e, em 1972, tornou-se de facto alvo do apetite do IN para eventual tomada e domínio das comunicações.

Recordo inclusivamente que, nos últimos dias de permanência na Guiné, fui fazer a protecção a um rally que passava pela estrada Bissau-Nhacra-Mansoa (?) (o chamado rally do defeso), cujas informações eram transmitidas pelo jornalista José Mensurado onde fazia transparecer para Lisboa a pacificação daquela província ultramarina embora se tivesse "esquecido" de mencionar que por cima de nós sobrevoaram constantemente os helicanhões enquanto as Panhards calcorreavam o itinerário.... just in case.

Essa reportagem vim vê-la uns dias mais tarde na televisão já em Lisboa.

António Matos

_________


Notas de vb:

1. António Matos foi Alf Mil da CCaç 2790, Bula, de 1970/72.

2. Do Autor em

3. Referências ao PIFAS em

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2247: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (III): Período de 1964 a 1967

Terceira e última parte da transcrição do documento Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, elaborado em 31 de Outubro de 1967 pela 2ª Rep /CTIG (1).

Fixação do texto: vb

__________


CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967) (continuação)


1964

Em Janeiro agrava-se a situação no Sector de Bissau verificando-se a fuga, de Bissau, de elementos do PAIGC considerados recuperados, e a apreensão de material na região de Nhacra.

Por outro lado, o IN começou a desenvolver actividade no sector Oeste (Umpabá) com vista ao alastramento da subversão à área dos Manjacos.

Guiné > Cassacá > 1964. Encerramento do Congresso do PAIGC.

Foto do Arquivo Amílcar Cabral. À Fundação Mário Soares, os nossos agradecimentos e a devida vénia.


Em Fevereiro, realiza-se em Cassacá (Quitafine) uma reunião de quadros do PAIGC onde são tratados problemas de ordem militar, política, administrativa e social tendo merecido atenção especial o problema do analfabetismo.

O IN aumenta a sua actividade nos Sectores Oeste e Sul havendo a assinalar a utilização, pela primeira vez, de morteiro 82 m/m (na Ilha do Como e em Buba).

Em Março, exerce um grande esforço no aliciamento das populações da área de Bula e Geba. É referenciada pela primeira vez o emprego de Metralhadora Pesada 12,7 m/m (Cabedú e Campeane).

Em Abril, com o fim de isolar a região de Bafatá, há uma tentativa de alastramento da subversão para Leste (regulado de Sancorlá), a partir do Sector Oeste, o que provocou a fuga da população. Por outro lado são desencadeadas as primeiras acções a Norte do Rio Cacheu.

Em Julho, é levada a cabo a primeira acção de fogo na região dos Manjacos (estrada Jolmete-Pelundo).

[… Parte do texto ilegível]


1965
(…)

Em Julho, um grupo de elementos do PAIGC começou a actuar na área de S. Domingos, onde do antecedente, apenas havia acções da FLING.

Em Novembro, tornou a revelar-se na Ilha de Bissau, desta vez com um assalto a uma casa comercial e o assassínio de um Chefe de tabanca, Alferes de 2ª linha, colaborador das NT.

Paralelamente, teve particular interesse o facto de elementos IN lançarem um engenho explosivo entre a população que assistia a um batuque na tabanca de Morocunda, em Farim, causando 19 mortos e 70 feridos entre a população civil. Este acto levou à detecção de uma importante rede terrorista.

Em Dezembro, destaca-se um grande número de acções contra os aquartelamentos, com sistemático emprego de morteiros e elevado consumo de munições.

Durante este ano foi assinalado o emprego de 242 engenhos explosivos, dos quais foram levantados 153.

1966

Em princípios deste ano, a FLING encontra-se dividida em duas facções: a chamada “FLING de salão”, apoiada pelo Governo Senegalês, e a “FLING combatente”, sem esse apoio, enquadrando a maioria dos militantes e tendo como Secretário-Geral François Mendy.

Em Janeiro, o IN leva a efeito a primeira acção na região de Bassi (Sector Leste).
Em meados deste ano verifica-se um recrudescimento de acções em todos os Sectores, a maioria visando as populações.

De salientar a execução da primeira emboscada na estrada Bissau-Mansoa.

Em Julho é referenciado o emprego, pela primeira vez, de Canhões s/r 8,2 (Beli).

Mais tarde, em Novembro, é referenciado o uso de Canhões s/r 7,5 (Canquelifá).

Em Agosto, é reportada a presença de mercenários cubanos entre os grupos.


Em data que não se pode precisar, François Mendy é expulso da FLING, sendo a chefia do Movimento entregue a Benjamim Pinto Bull (na foto, à esquerda), que dissolvera o seu UNGP e, entretanto, já havia aderido à FLING na qualidade de Secretário da Informação e Imprensa.

Uma das suas primeiras preocupações foi a criação do Serviço de Assistência aos Refugiados da Guiné-Bissau (SARG).

Em Dezembro são interceptadas grande número de comunicações rádio, a maioria em língua espanhola, confirmando-se assim a utilização pelo IN de meios rádio para controlar os movimentos das nossas tropas.

Durante este ano, o “Ano da Informação”, o PAIGC realizou mais dois filmes de propaganda Labanta Negro e Nossa Terra, que foram projectados em vários países.

Neste ano, foi assinalado o emprego de 359 engenhos explosivos, dos quais 242 foram levantados.

1967

No início deste ano, o IN revelou-se da seguinte forma:

(i) Sector de Bissau: prosseguiu o trabalho de aliciamento das populações tanto em Bissau como nas zonas rurais.

(ii) Sector Oeste: mantém-se em Bases ao longo da fronteira com o Senegal, com efectivos retirados do Oio. Alastrou a actividade de guerrilha à região de Teixeira Pinto.

(iii) Sector Leste: concentrou elevados efectivos ao longo da fronteira com o Senegal. ontinuou a actuar com persistência contra os aquartelamentos das NT no Boé. Manteve o controlo de toda a área do Xime e Porto Gole.

(iv) Sector Sul: Manteve o controlo de todo o sector com a excepção das regiões do Forreá, Ilha de Bolama e Arquipélago dos Bijagós.

Utilizou grande número de engenhos explosivos.

Entretanto os laços entre a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) e o PAIGC são concretizados através da propaganda panfletária e de emissões radiodifundidas pela “Voz da Liberdade” (Argel).

Em Junho é referenciado um movimento de revolta no seio do PAIGC que culminou com uma tentativa de assassinato de Amílcar Cabral. Os chefes dissidentes pretenderam substituí-lo por um “preto da Guiné”. Parte deles teriam sido executados.

Em Julho, no decurso de uma reunião efectuada em Dacar, um certo número de antigos militantes expulsos do PAIGC e da FLING anunciou a criação de um movimento progressista da FLING “FLING progressista”, chefiado por Pablo Gomes Diaz que se proclama pró-cubano e pró-chinês.

No receio de ver prosperar esta organização, Benjamim Pinto Bull, já na qualidade de Secretário-Geral da FLING, intensificou as diligências junto dos países membros da OUA com o fim de obter o reconhecimento oficial da sua organização.

Por esta altura é referida a existência de um novo movimento, Juventude do Movimento dos Resistentes da Guiné-Bissau (JMRGB) de que se desconhecem os objectivos políticos e filiações.

Em Julho, a Rádio “Libertação”, emissora do PAIGC, transmitiu o seu primeiro programa e a partir de 27 Agosto passa a difundir os “Comunicados de Guerra” do PAIGC.

Em Outubro, delegados do PAIGC foram ouvidos num dos Comités da ONU.

Durante este ano, foi assinalado o emprego de 314 engenhos explosivos, dos quais 220 foram levantados.
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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2243: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (II): Período de 1961 a 1963

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2243: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (II): Período de 1961 a 1963

Dos terçados (*) e cavadores (**) ao fornilho, à mina A/C e às metralhadoras ligeiras (ou a evolução do armamento do então IN entre 1961 e 1963).

Continuação da transcrição do documento Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, elaborado em 31 de Outubro de 1967 pela 2ª Rep /CTIG (1).

Fixação do texto: vb
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1961

Em Abril reúnem-se em Casablanca os representantes de algumas organizações clandestinas de Angola, Moçambique, Goa, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe (a UPA de Angola e outros movimentos que não gozavam de simpatias dos países do bloco de Leste não compareceram).
Desta reunião resultou a dissolução da FRAIN, que foi substituída por outra nova organização que passou a funcionar naquela cidade marroquina e que adoptou a designação de Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).

Em Maio, François Mendy consegue fundir, pelo menos transitoriamente, o RDAG com o seu MLG no seio da Frente da Libertação da Guiné (FLG).

Em 27 e 28 de Maio, foi feita em Bissau a distribuição de grande quantidade de panfletos com propaganda subversiva.

Na noite de 17/18 de Julho um pequeno grupo de elementos do MLG, por decisão de François Mendy que pretende passar à luta armada, possivelmente para chamar a si as atenções mundiais, cortou a linha telefónica entre S. Domingos e a tabanca de Beguingue e tentou incendiar a ponte de Campada.

Na noite de 20/21 de Julho um outro grupo mais numeroso atacou o aquartelamento de S. Domingos fazendo uso de terçados (*), armas de caça, espingardas, garrafas de gasolina e cavadores (**). Na maioria envergavam camisas e calções pretos.

Em 25 de Julho um outro grupo provocou danos materiais na zona de turismo de Varela e em Susana, fazendo depredações e pilhando a maioria dos edifícios públicos, inclusive num posto sanitário.

No decorrer de todo o ano o PAIGC envia para a China (Pequim), Checoslováquia (Praga) e Gana grupos de elementos seus, a fim de frequentarem cursos de guerra subversiva e decide “passar da luta política à acção directa” em toda a Província sob o controle do “Bureau Político de Bissau”.

Verifica-se ainda a saída de muitos nativos para a República da Guiné e para o Senegal.
Entretanto, é criada a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) que é uma organização sindicalista subsidiária do PAIGC sendo seu Secretário-Geral Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral.

1962

Em Janeiro, era anunciada em Dakar a constituição entre a UPA e o MLGC da Frente Africana contra o Colonialismo Português (FACP), réplica à FRAIN.
Apesar do acordo então estabelecido prever o desencadeamento de acção armada na Guiné, prestando a UPA, para o efeito, assistência técnica relativa à guerra de guerrilhas e fornecendo armas e munições, nunca mais se ouviu falar em tal Frente.


Em Março, são detidos em Bissau, o Presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Paula Gomes Barbosa (foto nos anos 90, da autoria de Leopoldo Amado, com a devida vénia), que vivia na clandestinidade e outros elementos responsáveis do “Bureau Político de Bissau”.

É ainda apreendida propaganda e variadíssima documentação, incluindo o planeamento de acções em pontos importantes de Bissau.

Nos meses de Junho, Julho e Agosto são desmanteladas várias redes do PAIGC espalhadas por toda a Província: Binar, Teixeira Pinto, Calequisse, Pelundo, Pecixe, Cacheu, S. Domingos, Suzana, Sedengal, Bafatá, Geba, Nova Lamego, Contuboel, Sonaco, Empada, Darsalame, Fulacunda, Bolama e Arquipélago dos Bijagós.

Além da captura de activistas e suspeitos foi apreendida numerosa documentação, armas e munições.

Através das declarações dos elementos detidos, verifica-se que agitadores e propagandistas tinham “trabalhado” já com uma certa profundidade as populações nativas “tabanca por tabanca”, “homens grandes”, mulheres e crianças.


Em 3 de Agosto, François Mendy conseguiu finalmente a fusão do seu MLG com a UPG, o RDAG e a UPLG no seio da Frente da Luta pela Independência da Guiné (FLING) – “a autêntica emanação do povo da Guiné-Bissau e único instrumento revolucionário para a libertação nacional”.

Nesta frente integram-se, por conseguinte, a quase totalidade dos guineenses radicados no Senegal, com excepção dos Manjacos do MLG-Dakar, que recusam aderir.
O PAIGC recusou o convite para fazer parte da FLING.

Na sua decisão de “passar da luta política à acção directa”, o PAIGC desenvolve intensa acção de propaganda e de aliciamento das populações do Sul da Província. Apesar da acção desenvolvida pelas nossas autoridades, o PAIGC desencadeia no segundo semestre deste ano, as suas primeiras acções violentas, em especial terrorismo selectivo visando autoridades tradicionais e agentes da ordem, em especial no sector Sul.

São apreendidas as primeiras pistolas (calibres 9 e 7,65 m/m) e destruídas diversas “casas de mato” já com camaratas, carreiras de tiro e pistas para treino físico.

Em Outubro, são referenciados os primeiros sobrevoos suspeitos, em especial de helicópteros.




Conakry nos finais dos anos 60 (?). A devida vénia ao autor desconhecido da foto.

Entretanto, partidários do PAIGC continuam a receber instrução de guerra subversiva na Checoslováquia, no Gana, em Marrocos, no Mali e na República da Guiné, onde em Conakry um grupo de instrutores argelinos (FLN) (***) se encontra desde Maio deste ano.

Em Dezembro, Amílcar Cabral apresentou-se como peticionário perante a Comissão de Curadorias da ONU, onde, além de pedir a independência da Província da Guiné, declarou que os seus partidários deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhariam funções semelhantes às dos “capacetes azuis” que se encontravam no Congo.

1963

Em Janeiro, recrudesce a actividade IN no Sector Sul havendo a registar um ataque ao aquartelamento de Tite em que faz largo uso de PM, P e GM e ainda a execução das primeiras emboscadas na região de Bedanda. Simultaneamente, faz-se sentir a sua presença no Sector Oeste.

Em Março, roubou os navios “Mirandela” e “Arouca” perto de Cafine (Sector Sul), que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material da República da Guiné.

Em Junho, elementos do PAIGC desencadeiam actividades no Sector Leste, em especial na área de Xime.

Em Julho, faz explodir pela primeira vez um fornilho (****) à passagem de uma viatura no Sector Sul (estrada S. João - Fulacunda) e tentou efectuar sabotagens no Sector Leste (Paunca e Pirada).

Em Agosto, registaram-se as primeiras acções violentas no Sector Oeste (Oio) e o emprego da primeira mina A/C no Sector Sul (S. João).

Em meados deste ano, o IN começou a utilizar MLs.
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Notas:


(*) espada de folha curta, recta e larga.
(**) paus com ponta afiada em forma de trapézio.
(***) FLN, Frente de Libertação Nacional, o movimento independentista que levou De Gaulle, num célebre referendo, a "dar" a independência à Argélia.
(****) carga explosiva colocada numa cova de um percurso, frequentemente misturada com todo tipo de material dilacerante (pregos, granadas, bombas de avião não detonadas...)
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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

domingo, 4 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

Transcrevemos sem comentários, Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, ou como os Serviços de Informação da 2ª Rep /CTIG viram a evolução dos acontecimentos.

Documento datado de 31 de Outubro de 1967.

Fixação de texto: vb
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CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967)

1946

Entre 19 e 21 de Outubro, reuniu-se em Bamako (Mali, então Sudão Francês) o Congresso da fundação da Reunião Democrática Africana (RDA), um movimento que, surgido na costa do Marfim, viria a constituir o principal instrumento de infiltração comunista na África Ocidental Francesa (AOF) e na África Equatorial Francesa (AEF).

Criado por Felix Houthouet-Baigny, deputado à Assembleia Nacional Francesa pela Costa do Marfim, o RDA contava entre os seus dirigentes mais destacados Gabriel Darbousier, um africano galardoado com o Prémio Estaline da Paz, e Raymond Barbet, membro influente do Partido Comunista Francês e Chefe do Gabinete do Governador da Costa do Marfim.

O programa da RDA baseava-se em três princípios: igualdade política e social dos indígenas e brancos, organizações locais democráticas e união livremente consentida com a França.


1947

Em Maio, Sekou Touré, actual presidente da Guiné e a principal figura da penetração comunista na Guiné Francesa, funda a secção guineense da RDA – o Partido Democrático da Guiné (PDG).

Até 1945, Sekou Turé havia desenvolvido as seguintes actividades pró-comunistas:

(i) Criação da União de Sindicatos da Guiné (USG), ligada à organização internacional comunista Federação Sindical Mundial (FSM);

(ii) Exercício da vice-presidência da FSM;

(iii) Ocupação do cargo de Secretário do Comité de Coordenação dos Sindicatos da Confederação Geral do Trabalhador (CGT) para toda a AOF.


1952

O Eng.º agrónomo Amílcar Cabral, nascido em Bafatá, filho de pais cabo-verdianos, ao tempo funcionário dos Serviços de Agricultura da Província da Guiné, sugere a criação de um “clube desportivo” reservado aos naturais da Guiné.

A não admissão de europeus e de cabo-verdianos deixava adivinhar a verdadeira finalidade do “clube”, que se pretendia fundar – “lançar as bases de uma organização de nativos, irmanando-os na mesma fé e nos mesmos destinos”.

O “clube” não chegou a ser autorizado pelo Governo da Província, mas a ideia de “uma união de nativos” estava lançada. Com o apoio de guineenses radicais, Amílcar Cabral organiza na clandestinidade o Movimento para a Independência da Guiné (MIG).

1956

Em meados deste ano são detectados, no sul da Província, nas tabancas das áreas de Cacine e Bedanda, “clubes de trabalho”, accionados por agitadores e propagandistas da RDA. A actividade destes “clubes” cessou com a prisão dos responsáveis.

O MIG, agora com o apoio das “organizações operárias e populacionais”, dá lugar a um partido que vem mais tarde a chamar-se Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

1957

No Outono deste ano, coincidindo com o II Congresso dos Partido Comunista Português (PCP), reuniram-se em Paris, os principais dirigentes do MPLA (Angola) e alguns revolucionários de Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe com a finalidade de criarem uma organização susceptível de pôr em execução a nova táctica ordenada por Moscovo ao PCP, relativamente às províncias ultramarinas portuguesas. Desta reunião, resultou o Movimento Anti-colonialista (MAC) com os seguintes objectivos:

(i) "Estudar os problemas registados na luta travada pelas organizações patrióticas.

(ii) "Contribuir para uma orientação mais lúcida desta luta, tendo em conta a concreta evolução da política internacional.

(iii) "Trabalhar a favor de uma unidade de acção dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.

(iv) "Formar as forças que actuam no interior dos territórios, reservas revolucionárias inesgotáveis, com o fim de subtrair ao colonialismo português qualquer possibilidade de abafar a luta libertadora dos povos”.

Era assim, fomentada a criação de organizações comunistas “autónomas” nas províncias portuguesas do ultramar, que já não dependiam do PCP, mas que estavam a ter a possibilidade de contactar directamente com a máquina comunista internacional.

Em 18 de Setembro, em Thiés (Senegal), é fundado o Partido Africano de Independência (PAI). A sua criação foi precedida de uma série de conferências realizadas naquela cidade sob a égide da RJDA (Juventude da RDA) e por uma intensa propaganda desenvolvida, em especial, no meio ferroviário.

O manifesto do novo partido declarava que o PAI lutaria “pela conquista do poder político, no âmbito da independência nacional, e pela entrega dos bens sociais àqueles que os produzem, no âmbito do socialismo”. O seu objectivo fundamental era a “eliminação da dominação imperialista e a construção da futura sociedade socialista africana.

Mais tarde, em data que não se pode precisar, são acrescentadas as palavras da “Guiné e Cabo Verde” formando a actual sigla PAIGC que virá a ser do mais importante e único partido que desenvolverá a actividade armada na Província. No entanto, em 1967, o PAIGC comemorou o seu 11º aniversário indicando o dia 19 de Setembro de 1956 como o da sua fundação.

1958

Em 28 de Setembro, a população da Guiné Francesa, sob a influência do PDG, recusa por esmagadora maioria a integração da Guiné na Comunidade Francesa.

Em 2 de Outubro é proclamada a independência da República da Guiné. O Senegal, por seu turno, surge como “república autónoma” a partir de 25 de Novembro. Desde então, foram surgindo nestes dois territórios limítrofes da Guiné Portuguesa diversos “movimentos emancipalistas” desta nossa Província.

Enquanto em Conakry eram concedidas ao PAIGC todas as facilidades exigidas pela estruturação de um agrupamento subversivo, no Senegal, em especial em Dakar, iam surgindo “movimentos” que, fiéis ao princípio “A Guiné para os Guineenses”, se revelaram, na sua quase totalidade, como acérrimos adversários do PAIGC, a quem atribuíam o objectivo de querer manter na Guiné “a secular preponderância dos cabo-verdianos sobre os guineenses”.

Entre os movimentos com sede em território senegalês, contavam-se os seguintes:

- Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde (MLGC), dominado por cabo-verdianos que pretendiam a independência conjunta da Guiné e Cabo Verde. Este era um dos poucos movimentos que no Senegal tinham adoptado, na sua generalidade, a linha de acção do PAIGC;

- Movimento de Libertação da Guiné (MLG), a que aderiram a maior parte dos manjacos guineenses residentes no Senegal, que não aceitavam qualquer associação com os cabo-verdianos. Com sede em Dakar, chegou a ter filiais em Dakar e Bissau. Era seu chefe François Mendy, um estudante de Direito de ascendência manjaca nascido no Senegal;

- União Popular para a Libertação da Guiné (UPLG), que enquadrava alguns fulas residentes no Senegal;

- União das Populações da Guiné (UPG), à qual estava filiada uma minoria de guineenses residentes em Koldá (Senegal);

- União dos Naturais da Guiné Portuguesa (UNGP), movimento chefiado por Benjamim Pinto Bull que reclamava a autonomia da Guiné Portuguesa através do diálogo com o Governo Português;

- Reunião Democrática Africana da Guiné (RDAG), accionado por elementos da RDA e que integrava a colónia mandinga do Senegal.

1959

Em 3 de Agosto, perante uma reivindicação de salários dos trabalhadores do cais do Pindjiguiti (Bissau) seguida de greve, ocorre grave incidente de que resulta a morte de nove estivadores manjacos (1). Este acontecimento que não teve qualquer relação com os “movimentos nacionalistas”, passou a ser explorado por eles como sendo a primeira reacção contra a autoridade portuguesa e assim o PAIGC e o MLG disputam entre si a “responsabilidade” por este incidente.

Em Setembro, Amílcar Cabral, sob o pretexto de uma visita a familiares seus, permanece na Província da Guiné apenas sete dias. Contudo, este curto período de tempo foi suficiente para insuflar, entre os seus amigos e entre os companheiros das reuniões para a formação do “clube desportivo” já referido atrás, a ideia da necessidade da “luta emancipalista”, desenvolvendo a organização clandestina e iniciando o recrutamento de “quadros”.

Em 19 de Setembro, o PAIGC decide, no decorrer de uma reunião clandestina em Bissau, “passar da luta política à acção directa”.

No final do ano Amílcar Cabral fixa residência em Conakry.


1960

Em Janeiro, Amílcar Cabral, na qualidade de membro do MAC, assiste à Conferência de Tunes (a 2ª Conferência dos Povos Africanos). Foi por esta ocasião que o MAC foi extinto, sendo criada em sua substituição a Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (FRAIN ou FRAINCP), órgão que visava principalmente a acção directa e que pretendia alargar o campo de acção comunista a “todas as organizações que lutam pela liquidação do colonialismo português”.

Em Março, Amílcar Cabral, sob o pseudónimo de Abel Djassi, divulga em Londres a acção da FRAIN, através de um comunicado à imprensa.

Em Maio passa à clandestinidade e no segundo semestre visita Pequim, onde garante a instrução revolucionária de um grupo de elementos do seu partido.

Por esta altura, começam a ser detectadas na Guiné Portuguesa actividades subversivas reveladoras de uma organização com uma amplitude que não seria de prever, apesar do incidente do Pindjiguiti e das emissões rádio difundidas de Conakry tendentes a agitar a população guineense.

Em Outubro, o PAIGC, já com escritório em Dakar, faz publicar uma carta aberta dirigida ao Governo Português, propondo-lhe “uma solução pacífica do problema colonial da Guiné e de Cabo Verde” e em Dezembro, envia o seu primeiro memorando à ONU.

(Continua)

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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte