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quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24012: (De)Caras (193): Histórias de "desempanadores" precisam-se!... Para já, temos fotos do Francisco Candeias Cardoso, da CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1965/67)


Foto nº 1 > O Francisco Candeias Cardoso, sentado no capô do jipe


Foto nº 2 > O Francisco Candeias Cardoso,  montado no burro de Bissorã


Foto nº 3 > O Francisco Candeias Cardoso, na ponta esquerda, apoiando-se nos varais da carroça do burro de Bissorã (uma espécie seguramente em vias de extinção)


Foto nº 2 > O Francisco Candeias Cardoso é o primeiro a contar da direita, junto ao memorial da CART 1525 em Bissorã


Foto nº 5 > O Francisco Candeias Cardoso,  desempanador, a exercer a sua função...

Guiné > Região do Oio > Bissorã > CART 1525 (1965/67) > O 1.º cabo  (ou soldado?) desempanador Francisco Candeias Cardoso... PelaS fotoS (18, sem legenda) que divulgou na página dos "Falcões", vê-se que o Cardoso era um tipo brincalhão e divertido, e que alinhava nas jogatanas de futebol... Aparece nos convívios,  vive em Armação de Pera, no Algarve. A companhia tinha mais dois desempanadores: Arménio da L. Branco e José C. G. Sampaio... 

Fotos alojadas na página da CART 1525, na seção "Páginas Pessoais".  Reproduzidas aqui com a devida vénia...ao autor (Francisco Candeias Cardoso) e ao editor (Rogério Freire).
 
Fotos: © Francisco Candeias Cardoso / Rogério Freire (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No Pelotão de Manutenção, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), constituído por 33 militares, havia:
  • 1 oficial de manutenção (o alf mil Ismael Augusto);
  • 7 mecânicos auto (o 2º srgt Daniel, o fur mil  Herculano José Duarte Coelho, os  1ºs cabos João de Matos Alexandre e António Luis S. Serafim, mais três soldados (Amável Rodrigues Martins, Rodrigo Leite Sousa Osório e Virgílio Correia dos Santos);
  • 1 bate-chapas (o 1º cabo Otacílio Luz Henriques, mais conhecido por "Chapinhas");
  • 1 correeiro estofador (1º cabo Norberto Xavier da Silva);
  • 1 mecânico electro auto (1º cabo Vieira João Ferraz);
  • 22 condutores auto: 2 cabos  e 20 soldados...
O que será feita desta gente toda, a começar pelo Ismael Augusto, que é o nosso grã-tabanqueiro nº 609 ? (*). E o "Chapinhas" ? Faço votos para que estejam bem, e de saúde. 

Estranho não existir um "desempanador" na CCS/BCAÇ 2852... Mas não faltava um correeiro estofador, mesmo que eu nunca tivesse visto burros, machos ou cavalos em Bambadinca, nem carros de tração animal, os principais clientes do correeiro estofador...(O correeiro faz obras de couro, como arreios; o estofador  faz móveis ou peças de móveis estofados.)

Mas vou encontrar esta especialidade de desempanador nas subunidades de quadrícula deste batalhão (CCAÇ 2404, 2405 e 2406)... Estas companhias, numa reduzidíssima equipa de mecânicos autos,  tinham pelo menos um ou dois desempanadores... (em geral, um 1º cabo, podendo haver também um soldado "mecânico auto desempanador").

Não sei muito bem o que os desempanadores faziam ou podiam fazer no "mato", em caso de avaria   ou  "atascanço" de uma viatura (coisa frequente, sobretudo no tempo das chuvas). Confesso que não me lembro de ver nenhum em funções... Na prática, eram os condutores autorrodas, que tinham que resolver ou remediar o problema, como a ajuda dos militares das escoltas,  longe do aquartelamento mais próximo (no caso das colunas logísticas, que podiam durar dois dias, com distâncias até 60 km)... 

Também não tenho ideia de ver, no CTIG, o pronto-socorro em ação... a não ser talvez nalguma estrada alcatroada (só conheci uma  a sul do rio Geba: Bambadinca-Bafatá). Nem me lembro sequer de ver um pronto-socorro em Bambadinca, mas devia haver...
 

2. Creio que na Tabanca Grande só temos um desempanador, o Alberto Sardinha, da CCS/ BCAÇ 1877 (Teixeira Pinto e Bafatá, 1966/67) (**). 


(...) "Fui Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCaç 1877. Cheguei à Guiné em 1966, fiquei em Bissau no Quartel da Amura durante 9 meses, de seguida fui para Brá, perto do Aeroporto de Bissau, dali para Teixeira Pinto, dali para Bafatá. (...)

É de Ponte Sor, mora no Seixal, o Carlos Vinhal desafiou-o a  "abrir o livro", na altura em que o apresentou ao pessoal da tertúlia: 

(...) "Esperamos que as tuas próximas mensagens venham mais compostas. Há sempre uma história para contar, já que todos nós guardamos na nossa memória peripécias várias. Terás por aí fotos que te lembrarão situações boas e más. Como desempanador foste muitas vezes ao mato recuperar viaturas avariadas ou atoladas? Nos quartéis improvisavam quando não havia sobressalentes à mão? Como vez já te sugeri assuntos para desenvolver" (...)

Mas o camarada Alberto Sardinha, infelizmente, ficou por aqui, ou seja, "empanado". Por isso tem apenas uma referência no nosso blogue (e com este poste, duas)... Tem página no Facebook desde janeiro de 2019. Mas pouco ou nada fala da tropa e da guerra.  Lá vai "facebook...ando",   com  familiares e amigos, como bom alentejano que é, e de uma bela terra, Ponte Sor.

Ora nós queríamos histórias de desempanadores... Fomos encontrar um camarada com esta especialidade, pertencente à CART 1525, os Falcões (Bissorã, 1965/67): o Francisco Candeias Cardoso, algarvio, segundo cremos... Não tem  "estórias", mas tem algumas fotos, que reproduzimos acima (cinco ), com a devida vénia ao autor e ao editor da página... 

Pode ser que o Cardoso nos veja e fique com vontade de se juntar a nós... Dos "Falcões" só temos o Rogério Freire, sentado à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande... De qualquer modo, aqui fica também a nossa homenagem a estes camaradas da "ferrugem", que eram poucos mas tinham que ser bons... (***)

A CCS / BCAÇ 2852 não tinha "desempanadores" mas tinha "corneteiros / clarins",  eram nada mais nada menos do que cinco: 1 sargento, 2 cabos, 2 soldados... Deviam-se fazer grandes paradas de honra em Bambadinca, mas já não me lembro... ou então devia andar distraído ou desenfiado no "mato".

3. O "desempanador", "o que desempana", do verbo "desempanar" 

desempanar
desempanar | v. tr.
 
de·sem·pa·nar  
(des- + empanar, avariar)

verbo transitivo

Resolver a avaria de (ex.: desempanar um motor). = CONSERTAR, REPARAR ≠ AVARIAR, EMPANAR

"desempanar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/desempanar [consultado em 25-01-2023].
___________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 14 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11249: Tabanca Grande (390): Ismael Augusto (ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), novo grã-tabanqueiro, nº 609

(**) Vd. poste de 13 de março de  2012 > Guiné 63/74 - P9603: Tabanca Grande (324): Alberto Sardinha, ex-Soldado Mecânico Desempanador Auto da CCS/BCAÇ 1877 (Teixeira Pinto e Bafatá, 1966/67)

(***) Último poste da série > 10 de janeiro de  2023 > Guiné 61/74 - P23967: (De)Caras (192): Os bravos comandos cap Maurício Saraiva e fur mil Joaquim Morais (morto em combate, no Quitafine, em 7/5/1965) (Virgínio Briote)

domingo, 11 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (134): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?


 Foto n.º 1  
 


Foto n.º 2
 

Foto n.º 3
 

Foto n.º 4


Foto n.º 5

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (Fotos nº.s 4 e 5) e atuação do conjunto musical  "Os Bambadincas"  (Fotos nºs 1, 2 e 3), junto ao edifício, em U, onde ficavam as messes e os quartos dos oficiais e sargentos. (*)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Não é que isso seja relevante para a História com H grande, no âmbito da Guerra na Guiné (1961/74)... Mas na foto n.º 1,  já tirada ao anoitecer (e, por isso, de muito fraca resolução), vê-se um vulto, que parece ser uma figura feminina, de saia-calça azul, a falar com um dos elementos da banda. 

Hoje pomos a hipótese de ser a "Cilinha"...

O autor das fotos, José Carlos Lopes (**), não tem ideia de ela ter pernoitado no "resort" de Bambadinca. Falámos, em 2013,  ao telefone, a esclarecer este ponto: o mais provável, para ele,  era ser uma das senhoras que viviam em Bambadinca (por ex., a esposa do tenente Pinheiro, chefe da secretaria, a esposa do dr. David Payne, alf mil médico, ou outra: julgo que o ten cor Pimentel Bastos, comandante do batalhão, também lá tinha a esposa; mas estas senhoras tiveram que recolher a Bissau depois do ataque ao quartel de 28/5/1969).

Esta visita, da presidente do MNF - Movimento Nacional Feminino, dá-se talvez duas semanas antes do ataque a Bambadinca. No dia anterior ou no dia seguinte ela estava de visita ao Olossato, visita essa documentada no nosso blogue, (***)

Na visita ao Olossato, em 11 de maio de 1969, ela veio expressamente de Bissau, de helicóptero, acompanhada da sua secretária, e do comandante da CCAÇ 2402,o cap inf Mário José Vargas Cardoso. Foi, nessa ocasião. "graduada" em capitão do Exército Português.


Guiné > Região do Oio > Olossato > CCAÇ 2402 (1968/70) > 11 de maio de 1969 > Visita da "CIlinha" e da sua secretária. À sua esquerda, o cap inf Vargas Cardoso.


Foto: © Vargas Cardoso / Raul Albino  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Da leitura do livro de Sílvia Espírito Santo ("Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino". Lisboa: A Esfera dos Livros, 2008), deduzo que a dirigente do MNE - uma mulher poderosa até à morte de Salazar e que detestava o Marcelo Caetano - tenha estado na Guiné, pelo menos 4 vezes. 1964, 1966, 1969 e 1974... 

 Diz ela, na pág. 116: "Eu fui a quase todo o lado [da Guiné]. com excepção de Guerrilhe [, Guileje ?], Medina (sic) do Boé e Gadamaela [, Gadamael ?]. Não me venham dizer a mim que a Guiné estava toda tomada, por amor de Deus". 

Foi também da sua iniciativa convidar artistas na moda, como a Florbela Queirós ou o conjunto "João Paulo" para atuar, no Ultramar, no mato (pp.143 e ss.).

Mas há contradições nas suas declarações a respeito da Guiné e dos sítios aonde foi. Por exemplo, em entrevista à  revista "Combatente", da Liga dos Combatentes, em 16/7/2005, terá declarado o seguinte: "

(...) "A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. A Guiné foi grave. A minha 'Guinezinha', como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a 'picar' a estrada." (...)

Na última visita à Guiné, em finais de fevereiro e primeira quinzena de março de 1974, sabemos que ela (e possivelmente a secretária que a acompanhava) dormiu pelo menos duas vezes no mato: em Gadamael (segundo informação do nosso camarada Carlos Milheirão ****) e em Bafatá, segundo relato do então já major de infantaria Vargas Cardoso (***).

Comentando a visita a Bambadinca,  que deve ter sido antes ou depois de 11 de maio de 1969, o nosso camarada Ismael Augusto escreveu-nos o seguinte, em 26 de setembro passado:

(...) "O oficial ao lado da Cilinha [, Foto n.º 4,[ não é do batalhão [, BCAÇ 2852,], logo não é o tenente coronel Pimentel Bastos.

Devo dizer-te e tanto quanto me recordo, que [a Cilinha] foi recebida com curiosidade, mas sem nenhum entusiasmo pela parte dos milicianos. Era no entanto uma figura com alguma popularidade e apresentava-se de forma muito simpática.

Grande abraço e boa saúde para ti e para todos os nossos Camaradas da Guiné neste ano dos 50 do regresso do BCaç 2852. Tenho umas fotos que tirei na saída de Bambadinca e a caminho do Xime que irei enviar. " (...)

É de recordar (e de esclarecer) o seguinte a respeito das visitas da presidente do MNF ao CTIG, à sua "Guinezinha":

(i) muitos militares não apreciavam a sua visita aos aquartelamentos e destacamentos do mato, e sobretudo a sua integração em colunas auto, na medida em que isso representava um acréscimo de mobilização de meios e medidas de segurança;

(ii) era uma mulher poderosa até à morte de Salazar, mas em relação ao sucessor deste,  Marcelo Caetano, a antipatia era mútua;

(iii) devido às boas relações com Spínola e à esposa, Helena, em 1969, a "Cilinha" ainda pôde dispor de algumas "mordomias", como helicóptero às ordens (, uma aeronave cuja operação era cara: o helicanhão, por exemplo, custava na época quinze contos por hora, o equivalente, a preços de hoje, a 4600 euros!);

(iv) a "Cilinha" nunca foi enfermeira diplomada: frequentou o 1.º ano do curso de enfermagem da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paula, entre outubro de 1941 e junho de 1942; para ser enfermeira, teria, na época, que abdicar de casar;

(v) pelo menos em fevereiro / março de 1974, terá pernoitado mo mato, pelo menos duas vezes, em Bafatá (***) e em Gadamael (****);

(vi) de resto, as suas visitas só poderiam realizar-se no tempo seco (, de preferência entre fevereiro e maio);

 Enfim, pode ser que alguém ainda possa (e queira) acrescentar algo mais a estas fotos (*****).
 (**) Vd. poste de 23 de janeiro de  2013 > Guiné 63/74 - P10993: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (8): Há festa no quartel: visita da Cilinha e do conjunto musical das Forças Armadas, em abril ou maio de 1969


(...) "Na 4ª e última comissão (Mar72 a Jul74), fui oficial de operações do BCAÇ 3884, responsável pelo sector de Bafatá, e a partir de Nov73 já major, acumulei com o Comando de Batalhão.

Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74) [, fins de fevereiro e primeira quinzena março de 1974] a Cilinha visitou Bafatá e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.

Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.

Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.

No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.

Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de Canquelifá (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.

Em resultado desse contacto, a “Cilinha", como enfermeira (que era) da Cruz Vermelha, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços. (...)


(...) Comentário:

C. Martins: Relativamente ao post sobre a D. Cilinha e contrariando-o um pouco, tenho quase a certeza de que ela pernoitou em Gadamael. De resto, se bem me lembro, ia acompanhada de uma outra senhora de que não me lembro o nome. Já pela noite dentro, encontrando-nos nós no Bar da messe de oficiais, entrou um soldado completamente "pirado" com uma granada descavilhada na mão e a gritar que "f...a aquela m...a toda". A D. Cilinha, aparentando muita serenidade, abeirou-se dele e lá conseguiu acalmá-lo. Também me lembro de termos sido flagelados enquanto ela lá estava e que foi a única pessoa que permaneceu no seu lugar, tendo todos nós corrido para os abrigos. Após o ataque, o capitão Patrocínio (com quem aprendi a fazer ski-aquático na bolanha), perguntou-lhe porque é que ela não se tinha ido abrigar, tendo-lhe ela respondido que não valia a pena porque "só se morre uma vez".

Abraço. (Carlos Milheirão) CCAÇ 4152,  13 de junho de 2013 às 16:18 (...)

(*****) Último poste da série > 10 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21437: Fotos à procura de... uma legenda (127): Levantamento de um campo de minas A/P: chão felupe, setembro de 1974, uma notável sequência fotográfica do António Inverno (ex-alf mil Op Esp / Ranger, 1º e 2ª CART / BART 6522 e Pel Caç Nat 60, São Domingos, 1972/74)

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21213: Os nossos regressos (38): Comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): uma longa viagem de nove dias, no velhinho T/T Carvalho Araújo, de 16 a 26 de junho de 1970, com um dia no Funchal (Fotos: Otacílio Luz Henriques)


Foto nº 436  > Viagem de regresso Bissau - Lisboa > T/T Carvalho Araújo > Ao largo, c. 16-26 de junho de 1970 > O 1º cabo bate-chapas Otacílio Luz Henriques


Foto nº 405 > Guiné > Bissau > T/T Carvalho Araújo > Partida: 16 de junho de 1970


Foto nº 438 > T/T Carvalho Araújo >  Ao largo, c.  16-26 de junho de 1970 > O navio estava já em fim de vida...


Foto nº 419 > Guiné > Bissau > T/T Carvalho Araújo > Partida: 16 de junho de 1970. O navio 'engalanado'... Regressa casa,vivo e são, era o maior ronco...


Foto nº 434  > T/T Carvalho Araújo >  CCS/BCAÇ 2852 > Ao largo, c.  16-26 de junho de 1970 > Um camarada do 1º cabo Otacílio Luz Henriques, em primeiro plano, a fumar um cigarro, debruçado sobre a amurada do navio.


Foto nº 421 >  T/T Carvalho Araújo > Temos dúvida se ainda está no cais de Bissau, em16 de junho de 1970, ou já está atracado no porto do Funchal...


Foto nº 410 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Baía do Funchal > c. 16-26 de junho de 1970


Foto nº 423 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 >  Baía do Funchal > c. 16-26 de junho de 1970


Foto nº 431 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Baía do Funchal > c. 16-26 de junho de 1970 > Parece  er a zona da Barreirinha (hje, da "noite funchalense").. À direita, a zona do Lazareto.


Foto nº 437 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Baía do Funchal > c. 16-26 de junho de 1970 >  O núcleo histórico do Fnchal, com a marina, o Forte de São Tiago, etc,


 Foto nº 426 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio  pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970 > Hotel ?


 Foto nº 425 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio  pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970 > Em primeiro plano o 1º cabo Otacílio Luz Henriques, em segundo plano a cidade e, ao fundo, à direita,  a baía do Funchal


Foto nº 414 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio  pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970  > Ao  fumdo, à esquerda, parece ser a zona do Lido.


Foto nº 426 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970 > Em primeiro, a igreka que se vê, com duas torres, parece ser a de Santo António, segundo o nosso coeditor Carlos Vinhal.


Foto nº 407 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970 > Vista da baía do Funchal, ao fundo à esquerda, a ponta do Garaju.


Foto nº 441 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970


Foto nº 404 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo > BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa > Passeio pelo interior da ilha > c. 16-26 de junho de 1970


Foto nº 415  > Madeira >  T/T Carvalho Araújo >  BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa >  Funchal  > c. 16-26 de junho de 1970 >  Estádio dos Barreiros, hoje estádio do Marítimo... Foi inaugurado em 1957..(E remodelao em 2009.)


Foto nº  432 > Madeira >  T/T Carvalho Araújo >  BCAÇ 2852 > Viagem Bissau - Lisboa >  Funchal  > c. 16.26 de junho de 1970 >  A Igreja de São Martinho 

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Já aqui publicámos, em tempos, bastantes fotos do álbum do Otacílio Luz Henriques, ex-1º cabo bate-chapas, do pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Augusto, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), e também viola baixo do conjunto musical "Os Bambas D' Incas" de que faziam parte, ainda, o José Maria de Sousa [, Ferreira], soldado do pelotão de intendência de Bambadinca (viola solo),   e os primeiros cabos, todos da CCS,  o Tony ("cantor romântico", vocalista), o Peixoto (bateria) e o Serafim (viola ritmo). 

No Pelotão de Manutenção, constituído por 32 militares, havia, além do comandante, o alf mil  oficial de manutenção Ismael Augusto (. membro da nossa Tabanca Grande), um 2º srgt mecânico auto (o Daniel), um fur mil mec auto (o Herculano José Duarte Coelho), dois 1ºs cabos mec auto (João de Matos Alexandre e António Luis S. Serafim), mais três soldados mec auto (Amável Rodrigues Martins, Rodrigo Leite Sousa Osório e Virgílio Correia dos Santos)...

O pelotão tinha  ainda um 1º cabo bate-chapas (o Otacílio Luz Henriques, mais conhecido por "Chapinhas"), um correeiro estofador (1º cabo Norberto Xavier da Silva) e ainda um mecânico electro auto (1º cabo Vieira João Ferraz). Os restantes dezanove elementos do pelotão eram condutores auto: primeiros cabos (2) e soldados (17)...


T/T Carvalho Araújo
2. Para comemorar os 50 anos do regresso do Comando e CCS/BCAÇ 2852, mais a CCAÇ 2404 (um das 3 unidades de quadrícula do batalhão), no T/T Carvalho Araújo, com partida de Bissau em 16 de junho de 1970 e chegada a Lisboa a 26, vamos publicar mais umas fotos do álbum do "Chapinhas". 

São imagens de "slides", digitalizados, mas de qualidade variável. Selecionámos as melhorzinhas, sendo a maior parte do Funchal e arredores. Têm algum interesse documental.

O navio ficou um dia no Funchal, o que permitiu que alguns militares, em grupo, alugassem  táxis e fossem dar uma voltinha pela ilha. Foi o caso do Otacílio, que tirou "slides" de algumas paisagens. Mas o álbum não traz legendas e a numeração não é exatamente cronológica, tem a ver a com a ordem da digitalização... Guardámos apenas os três últimos dígitos para identificar as imagens.

Alguns dos nossos leitores poderão ajudar-nos a completar as legendas, a começar pelo coeditor Carlos Vinhal, que pertenceu a uma companhia madeirense, a CART 2732, mobilizada pelo BAG 2, sita no Pico de S. Martinho, no Funchal. (E que partiu para o TO da Guiné a partir do cais do porto do Funchal.)

Muitos de nós, no regresso, fizemos estas voltinhas, nalgumas escassas horas. Cinquenta anos depois a Madeira está bastante diferente, seguramente tem muito mais cimento... Mas continua a ser a  "pérola do Atlântico"...

O T/T Carvalho Araújo levou 9 dias a fazer uma viagem de cinco dias, em condições normais. Segundo o comandante da CCS/BCAÇ 2852, o alf mil trms Fernando Calado, o navio esteve parado em alto mar mais um dia, por causa de um tufão.

Incrivelmente, dou conta de que o Otacílio ainda não é membro da Tabanca Grande; fiquei à espera, estes anos todos, do seu endereço de email e de uma foto atual... Nem sei se ele visita o nosso blogue. Alguém me disse que andava entretido com um monte alentejano que tinha comprado... Vou reparar esta injustiça: O Otacílio Luz Henriques tem 14 referências no nosso blogue. Um alfabravo fraterno para ele, se nos ler...


Foto nº 516 > Viagem de regresso Bissau - Lisboa > T/T Carvalho Araújo >  BCAÇ 2852 > Ao largo, c.  16-26 de junho de 1970 > Aproximação ao continente, se não erro.


Foto nº 513 > Viagem de regresso Bissau - Lisboa > T/T Carvalho Araújo >  BCAÇ 2852 > Estuário do Tejo (?)  > Chegada a 26 de junho de 1970 


Foto nº 520 > Viagem de regresso Bissau - Lisboa > BCAÇ 2852 > T/T Carvalho Araújo > Estuário do Tejo >  Ponte Salazar e Monumento de Cristo Rei > Chegada a 26 de junho de 1970.

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21208: Os nossos regressos (38): O pessoal do Comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968 / 70) chegou a Lisboa, no T/T Carvalho Araújo, a 26 de junho de 1970 (Fernando Calado)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18843: (De) Caras (112): O João Rocha (1944-2018), em Bissau e em Brá, nos primeiros tempos do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (Fernando Calado)


Foto nº 1 > Guiné > Brá > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > O João Rocha e o Fernando Calado, sentados no jipe do comandante.


Foto nº 1 A > Guiné > Brá > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Detalhe: o João Rocha e o Fernando Calado, sentados no jipe do comandante.


Foto nº 2 > Guiné > Bissau > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Um grupo de oficiais milicianos, na Av da República (vendo-se ao fundo a Praça do Império e o Palácio do Governador), no dia seguinte ao desembarque (29 de julho de 1968). O João Rocha é o primeiro a contar da esquerda para a direita, o Fernando Calado o 4.º e o Ismael Augusto o 5º.


Foto nº 2 A > Guiné > Bissau > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Detalhe: à esquerda, o João Rocha. Av da República, 30 de julho de 1968.



Foto nº 2 B > > Guiné > Bissau > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > Detalhe: os primeiros à esquerda, o Fernando Calado e o Ismael Augusto. Av da República, 30 de julho de 1968.

Fotos (e legendas): © Fernando Calado (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Fernando Calado, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, camarada de quarto do Ismael Augusto e do João Rocha, acaba de nos mandar dois fotos com o  João, que acaba de deixar a "terra da alegria"...

Caro Luís,

Junto 2 fotos com as seguintes referências:

1ª. Estou eu e o Rocha em Brá encostados ao jipe do comandante [ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos]

2º. A primeira saída no dia a seguir à chegada a Bissau [, que ocorreu a 29 de julho de 1968]. São visíveis o Ismael, eu próprio e o Rocha (o 1º à esquerda com a camisola escura).

Um grande abraço,


2. Comentário de LG:

Falámos ao telefone.  A meu pedido, o Fernando mandou-me estas fotos, O Fernando soube, com surpresa da morte do amigo e camarada João Rocha (ª). Disse-me que partilharam juntos o quarto em Bambadinca, mais o Ismael Augusto ( alf mil, cmdt do pelotão de manutenção), até o João ir de férias, talvez por volta de abril de 1969. "Foi seguramente antes do ataque ao quartel, em 28 de maio de 1969", assegura o Fernando.

O João foi a Moçambique, de férias, ver a família, e atrasou-se no regresso, por razões que não sabemos. Foi punido disciplinarmente. Confirma-se assim a versão do António Pimentel, ex-al mil Pel Rec Imnfo, CCS/BCAǪ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70) (*). Ele acabou por baixar ao HM 241, em Bissau, nunca mais tendo voltado  a Bambadinca nem sido substituído.  

O Ismael e o Fernando ficaram os dois no quarto até ao resto da comissão. O Fernando lembra-se bem do João e das suas gargalhadas. Era um camarada que irradiava simpatia. Encontraram-se depois em vários convívios do pessoal de Bambadinca (1968/71). Tem ideia de ele ter trabalhado na TAP, não sabe ao certo se como piloto ou comissário de bordo. 

Recorde-se que o BCAÇ 2852 desembarcou em Bissau em 29 de julho de 1968. O Comando e a CCS instalaram-se em Brá,  ficando como  reserva do Comando-Chefe. Fizeram patrulhamentos, recenseamentos de população, ação psicossocial, construiram tabancas, etc. As companhias operacionais deixaram de pertencer ao comando do batalhão, sendo  colocadas em Binar (CCAÇ 2404), Mansoa (CCAÇ 2405) e Olossato (CCAÇ 2406). 

Em outubro de 1968 a CCS/BCAÇ 2852 vai tomar conta do setor L1 (Bambadinca). Foi aí que eu conheci, em julho de 1969, o Ismael e o Fernando.

Um dos homens do Pel Rec Info  era o ex-furriel miliciano Pinto dos Santos, organizador de um dos primeiros convívios do pessoal de Bambadinca (1968/71)  realizado em 29 de maio de 1999,  em Resende, na sua quinta.

Bolas, Fernando e Ismael, como éramos "putos" (a avaliar hoje pelas nossas caras...). E no entanto tínhamos já, sobre os ombros,  o pesado fardo de fazer, conduzir ou alimentar uma guerra!... (**)

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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17443: Falsificações da história (3): o ataque a Bambadinca em 28/5/1969: nós estávamos lá !...e esta é a nossa versão dos acontecimentos (Fernando Calado, ex-alf mil trms / Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS / BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O fur mil José Carlos Lopes, o homem dos reabastecimentos, posando ao lado da temível Browning, 12.7, um metralhadora pesada que podia varrer toda a pista de aviação.

Era uma arma devastadora, com uma cadência de 500 disparos por minuto, e com um alcance à superfície de 1500 metros. Pesava cerca de 45 kg. Principal função: defesa de ponto. Era também usada pela Marinha.

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 >
Em primeiro plano,  o Fernando Calado, e atrás
o Ismael Augus
Ataque / flagelação a Bambadinca na noite de 29/5/1969

por Fernando Calado & Ismael Augusto


INTRODUÇÃO

Como todos sabem, o decurso do tempo permite interpretações que, frequentemente, deturpam os factos e conduzem às chamadas “falsidades históricas” que, de acordo com os historiadores mais exigentes, caracterizam a história da humanidade.

Assim, assumimos que esta é a nossa versão do ataque/flagelação a Bambadinca que ocorreu há 48 anos e alguns dias, cerca das 0 horas e 30 minutos do dia 28 de Maio de 1969.

Assumimos ainda que, em termos de informação precisa dos factos, somos detentores de algumas vantagens relativamente aos autores de outras versões (que respeitamos) e que são as seguintes:

- Estivemos lá antes, durante e depois da flagelação.

- Como em qualquer outro contacto de fogo, vivemos cada minuto com muita intensidade, o que permitiu armazenar na memória próxima ou na memória remota a maioria dos detalhes ocorridos.

- As responsabilidades próprias das funções que desempenhámos permitiram, no próprio dia e nos dias seguintes, ter acesso a informação privilegiada.


VERSÂO OFICIAL

O Sitrep (situation report) refere, no capítulo “Actividade em Maio de 1969”, subcapítulo “Actividade do In”, apenas o seguinte:

“Em 280025, um Gr. IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 CAN S/R, Mort82, LGF, ML, MP e PM, durante 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros”.

É interessante verificar que os relatórios referiam com grande desenvolvimento e detalhe as operações das nossas tropas, sendo que as operações do inimigo eram descritas de uma forma breve e sucinta.

A NOSSA VERSÃO

Bambadinca era considerado um local de difícil acesso militar por parte do PAIGC já que o quartel se situava num pequeno planalto no topo da povoação e, numa grande extensão, rodeado de bolanhas. Todavia, era um alvo apetecido do ponto de vista político-militar, uma vez que o seu porto do rio Geba constituía a maior plataforma de abastecimento logístico e militar a todo o leste da Guiné (Em Maio de 1969 a estrada para o Xime era ainda de terra batida com emboscadas frequentes, com especial frequência em Ponta Coli).

Nesse âmbito,  Bambadinca garantia a maioria dos abastecimentos, tanto de combustíveis e munições a vários aquartelamentos, para além de outros bens, sendo por isso um local por onde terão passado muitos dos nossos camaradas sediados em aquartelamentos da Zona Leste.

As tropas do PAIGC tinham aumentado as suas acções de combate com manifesta tendência para flagelação de aquartelamentos.

O Comandante do Batalhão,  tenente-coronel Manuel Maria Pimentel Basto, s tinha sido transferido por razões disciplinares e tinha sido substituído interinamente pelo tenente-coronel Álvaro Nuno Lemos de Fontoura ausente em Bissau na data da flagelação. Já antes, tinha sido transferido o 2º. Comandante Major Manuel Domingues Duarte Bispo (por razões de saúde). A responsabilidade de comando nesse dia pertencia ao Major Viriato Amílcar Pires da Silva.

É neste contexto que  aconteceu o ataque de 28 de Maio e que provocou enquanto durou (cerca de 40 a 50 minutos) uma grande desorientação inicial na maioria dos militares presentes que não tinham grande experiência operacional.

Nas circunstâncias vividas todas as possibilidades se colocavam, inclusive a da possível tentativa dos guerrilheiros do PAIGC assaltarem as instalações.

Durante o ataque percebemos que estavam a ser utilizadas diferentes tipos de armas, designadamente os canhões sem recuo,  instalados nas proximidades da pomposamente designada e assinalada em todos os mapas da Guiné como pista de aviação (na direção do Xime) e não muito distante da periferia do quartel. Nessa pista pousavam os helicópteros e aterravam com dificuldade os monomotores militares conhecidos por DO’s, e também alguns monomotores civis (a pista servia também esporadicamente de campo de futebol)

Foram também utilizadas as célebres “costureirinhas” (PPSh 41) que tinham um forte impacto psicológico já que parecia que estavam a disparar apenas a alguns metros.

Foram ainda utilizados alguns morteiros de calibre 82, tendo algumas das granadas atingido o
aquartelamento, nomeadamente o telhado de um quarto do edifício dos sargentos, as traseiras dos quartos dos oficiais (fotografia do blogue) e outros locais, mas sem danos de maior, com exceção de dois feridos ligeiros.

Alguns invólucros das munições utilizadas já foram objeto de uma fotografia apresentada no blogue.

Para sua defesa estavam habitualmente estacionados em Bambadinca dois obuses de grande calibre, que por razões operacionais algumas vezes eram deslocados para outros aquartelamentos. Foi o que sucedeu na noite da flagelação.

Por outro lado, constatou-se que pelotão de morteiros só teve possibilidade de reagir com algum atraso.

As armas ligeiras fizeram quase todo o trabalho, bem como uma Browning 12,7 mm, que ajudou um pouco á festa estava colocada junto ao abrigo, que ficava próximo do topo da pista e encravado entre a central elétrica e dezenas de bidons de combustível e lubrificantes colocados numa vala muito próxima. Apenas três ou quatro que estavam mais perto da superfície foram atingidos. Felizmente, mas não por acaso, eram de lubrificantes.

Bambadinca, como já referimos e na sua componente de grande base logística, era plenamente conhecida pelo PAIGC, bastando lembrar que o aquartelamento era atravessado pela única estrada que ligava a povoação a todas as outras situadas a sul.

Em condições muito provisórias, mas por períodos muito curtos, eram armazenados em Bambadinca, dezenas de bidões  de combustível e de lubrificantes e muito raramente também largas quantidades de munições de todo o tipo e para todo o tipo de armas em uso no exército português.

Era, portanto, visível para quem com alguma frequência ali passasse, a chegada massiva de materiais e a sua permanência, dentro do aquartelamento.

Percebemos no final do ataque,  que a missão do grupo do PAIGC era proceder à flagelação e sair rapidamente, uma vez que os guerrilheiros naquele local ficariam expostos logo que a noite clareasse e a retirada seria difícil.

Se além de outros objetivos, conseguissem atingir pelo menos parte dos materiais em trânsito tanto melhor e, se por acaso, esses tivessem sido alguns de entre as dezenas de bidões de gasolina e gasóleo que ali estavam naquela noite, a história seria outra.

Parece ficar claro que a operação do PAIGC foi bem pensada já que se tratava de atingir um objetivo muito importante, que consistia em atacar a sede de um Batalhão que, naquela zona e como se disse, era uma base de interesse estratégico do ponto de vista militar e logístico.

Isso não invalida a realidade de uma flagelação muito intensa ao longo de todo o período em que decorreu.

Não foi por falta de munições nem de vontade, que o PAIGC não causou danos profundos.

É necessário ter em conta que do ponto de vista militar o aquartelamento ficava no vértice mais a sul da zona Fula que importava a todo o custo manter sem perturbações de maior. Fragilizar Bambadinca, seria, não só do ponto de vista estritamente militar, mas também psicológico, um trunfo de importância significativa no já frágil xadrez em que nos movíamos.

Por volta das 4h30/05h00 (quando começou a alvorecer), comandados pelo capitão Neves, criou-se um pequeno grupo que se deslocou em reconhecimento à zona que se estendia de Bambadinca até á primeira bolanha a caminho do Xime. Não havia vestígios que indiciassem que alguém do PAIGC tivesse sido atingido. O material recuperado teve apenas valor simbólico e parte, como se referiu, já foi apresentado no blogue (invólucros de munições).

Ficámos, no entanto, a perceber como foi montada no terreno a operação. Se serviu como informação útil para outras situações é matéria que desconhecemos.

Parece, no entanto, poder concluir que a sorte e a ineficácia se juntaram de ambos os lados

Pouco tempo depois chegou de helicóptero o comandante de Batalhão,  tenente coronel Lemos Fontoura.




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 3 de Março de 2008 > O antigo quartel das NT > Edifíco dos quartos e messes de oficiais e sargentos, ao tempo da CCS/BCAÇ 2852, 1968/70; CCAÇ 12, 1969/71, e CCS/BART 2917, 1970/72)... No regresso a Bissau, depois de uma visita ao sul, à região do Cantanhez, no ãmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), eu e o Nuno Rubim , fizemos um pequeno desvio para visitar Bambadinca... Os militares ali instalados foram minimamente corteses connosco, e não se opuseram a que tirássemos fotos às instalações, já muito degradadas...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados


O OUTRO LADO

Em Junho de 1995, eu, Ismael Augusto, desloquei-me á Guiné Bissau ao serviço da RTP para se proceder à inauguração do emissor da RTP África que tínhamos instalado em Nhacra.

Integrava na altura a comitiva do Ministro da Presidência, Dr. Marques Mendes, que também tinha como missão anunciar o apoio a instalação de um emissor em Bafatá, juntamente com um outro destinado á televisão da Guiné Bissau.

Acompanhei-os num almoço realizado no empreendimento português construído no Capé (próximo de Bafatá) e a seguir desliguei-me da comitiva que regressava a Bissau e fui com um colega da RTP a Bambadinca.

Já com a nova estrada para o Xime construída, o acesso ao aquartelamento era feito pela antiga porta de armas que ficava junto á pista.

A custo convenci o dono da viatura, que por casualidade era do Xitole e tinha sido milícia na nossa zona, que queria entrar pela velha rampa, já quase inoperacional mas ainda transitável. Foi por aí que retornei a Bambadinca, percorrendo o caminho de sempre.

As emoções e as lembranças que me atingiram não são o objeto deste pequeno testemunho, apenas quero sublinhar o estado de alguma degradação das instalações, apesar de uma parte continuar em perfeito funcionamento, nomeadamente as que serviam a zona dos sargentos e oficiais e o comando do batalhão.

Refiro isto porque Bambadinca era então (1995) um posto da polícia.

Dirigiu-se a mim um jovem tenente, que com alguma desconfiança me perguntou o que queria dali.

Disse-lhe que apenas pretendia tirar algumas fotografias (para quem não sabe, ao tempo, era expressamente proibido tirar fotografias a postos militares ou militarizados. Tinha a meu lado um exemplo vivo disso mesmo. O colega e amigo da RTP que me acompanhou tinha sido detido cerca de um ano antes junto a Nhacra por fotografar inadvertidamente um posto de polícia não identificado).

A resposta veio rápida:
- Não pode, pá.

Tentei convence-lo explicando as razões que me levaram á Guiné, a futura televisão em Bafatá, a presença do Ministro das Comunicações (salvo o erro) da Guiné-Bissau, que nos tinha acompanhado (seria fuzilado pouco tempo depois na sequência de um dos vários golpes militares de que a Guiné foi fértil), mas nada disso o demoveu.

Fotografias,  não.

Entretanto enquanto a conversa decorria á sombra duma acácia, que recordamos como pequenas árvores mas já atingiam então um porte razoável, aproximou-se um civil, mais velho, que ouvia a conversa com interesse.

Aí e perante as negativas continuadas disse ao tenente:
- Sabe porque é que eu insisti em tirar as fotografias? Porque fui militar aqui em Bambadinca no período de 68/70.

Nessa altura o homem mais velho perguntou.
- O que é que fazias?

Lá lhe expliquei sucintamente. Sorriu e disse-me: Podes tirar todas as fotografias que quiseres e visitar todas as instalações.

Mas antes foi a minha vez de perguntar o porquê da mudança.

Então contou-me que tinha sido e ainda era quadro do PAIGC, comandante no tempo da guerra e comandado um bigrupo (ou grupo) no ataque a Bambadinca a 28 de Maio de 1969.

Depois afirmou:
- Fomos militares, estivemos em lados diferentes, mas hoje já podemos ser amigos.

A conversa que se seguiu foi longa, interessante e cheia de detalhes mas, o grande resumo foi este:
- Naquela noite de 28 de Maio de 69 ficamos muito preocupados, esperávamos uma grande reação e ela não acontecia. Esperamos a resposta dos obuses e ela não vinha. Nem os morteiros reagiam. Instalou-se a desconfiança e pensamos que teriam saído tropas do quartel para nos cercarem.

Não fazemos quaisquer comentários. O que dissemos anteriormente explica tudo isto.

Grande abraço a todos os grã-tabanqueiros e amigos de sempre.


Fernando Calado e Ismael Augusto

Lisboa, 07.06.17

Fotos do arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17417: Falsificações da história (2): o ataque a Bambadinca em 28/5/1969: eu estava lá !... e vou enviar em breve um texto conjunto com o Fernando Calado com a nossa versão dos acontecimentos (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)