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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20464: Recortes de imprensa (110): Pinto Leite, Leonardo Coimbra, José Vicente de Abreu e Pinto Bull, os parlamentares que pereceram no acidente aéreo de 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 27 de julho de 1970)















Pequenas notas biográficas dos 4 deputados da Assembleia Nacional que morreram, no acidente aéreo de 25/7/1970, na setor de Mansoa, quando regressavam de Teixeira Pinto a Bissau, depois de uma digressão pelo interior da Guiné.


Recortes da página 16 do "Diário de Lisboa", nº 17097Ano: 50, Segunda, 27 de Jjulho de 1970, 1ª edição (Director: António Ruella Ramos).

Citação:
(1970), "Diário de Lisboa", nº 17097, Ano 50, Segunda, 27 de Julho de 1970, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6808 (2019-12-16)

Reprodução, com a devida vénia.



Guiné > Região do Biombo > Estuário do Rio Mansoa > 29 de julho de 1970 > Restos do helicóptero sinistrado são recolhidos pela Marinha. Sobre este episódio, no TO da Guiné, e segundo indicação do nosso colaborador permanente José Martins, há um valioso relato, muito  pormenorizado, da autoria de J. C. Abreu dos Santos (2008), publicado no portal UTW - Ultramar TerraWeb: "Alouette- III, da BA 12, despenhado na embocadura do Mansoa", ou mais exatamente na foz do rio Baboque, afluente do rio Mansoa.


Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Já aqui relembrámos a notícia do trágico acidente, com um Alouette III, pilotado pelo alf mil pil Francisco Lopes Manso e que transportava 4 de um grupo de  deputados  da então Assembleia Nacional que, desde o dia 8 de julho de 1970 faziam uma visita de estudo à província da Guiné, procurando-se inteirar "in loco" da situação político-militar. Eram acompanhados pelo cap cav  Carvalho de Andrade,  oficial da secção de radiodifusão e imprensa da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica do QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, que se situava na Fortaleza da Amura) (*).

O mesmo "Diário de Lisboa", na sua edição de 27 de julho de 1970, publicava uma pequena nota biográfica desses quatro deputados desaparecidos (, e depois confirmados como mortos, já que não houve sobreviventes, e os únicos corpos recuperados, no estuário do Rio Mansoa, foram os do deputado Leonardo Coimbra e do cap cav Carvalho de Andrade).

A perda, nomeadamente de Pinto Leite, deputado independente, lider da "ala liberal",  do partido único (a União Nacional, mais tarde ANP - Acção Nacional Popular) foi em termos pessoais e políticos,  um duro golpe para Spínola. Pinto Leite era claramente um reformista e um europeísta, defensor da "solução política" para a guerra colonial.




Guiné > Região de Biombo > Carta de Quinhanel (1952) > Escala 1/50 mil > Excerto: Rio Baboque, estuário do Rio Mansoa e Ilha de Lisboa

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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domingo, 15 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20458: Recortes de imprensa (108): A morte dos quatro deputados à Assembleia Nacional, em visita ao CTIG, no acidente de helicóptero, em 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 26/7/1970)





Notícia de primeira página do "Diário de Lisboa", nº 17096, ano 50,  domingo Domingo, 26 de Julho de 1970, 1ª edição.(Diretor: António Ruella Ramos). Edição, obviamente, visada pel censura...

Citação:

(1970), "Diário de Lisboa", nº 17096, Ano 50, Domingo, 26 de Julho de 1970, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6804 (2019-12-13)

Fonte:

Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares~
Pasta: 06616.154.24967
Título: Diário de Lisboa
Número: 17096
Ano: 50
Data: Domingo, 26 de Julho de 1970
Directores: Director: António Ruella Ramos
Edição: 1ª edição
Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos
Tipo Documental: IMPRENSA

 1. Era o tempo em que não havia internet, blogues, Facebook, redes sociais e a imprensa (rádio, TV e jornais) estavam sujeitos à censura (agora rebatizada com um eufemismo: "exame prévio").  E a comunicação era num só sentido, unilateral, de cima para baixo. 

Da guerra em África só se sabia aquilo que os soldados escreviam nos aerogramas para as famílias, ou que contavam quando vinham de férias ou depois de passarem à peluda.  Claro, havia a imprensa internacional, a BBC, etc., que só chegava a alguns, privilegiados. Havia a propaganda dos movimentos nacionalistas. Havia a boataria. Havia a contra-propaganda... E havia os comunicados das Forças Armadas.  A informação oficial e oficiosa era canalizada  pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo. Chegava aos jornais sob a forma de "comunicados", lacónicos demais para se poder criar confiança no leitor, crítico e independente...  Não havia opinião pública, desgraçadamente, num país como o nosso.

Uma notícia como esta, publicada na primeira página do "Diário de Lisboa", de 26/7/1970, era susceptível de ter várias leituras (*) e dar origem aos mais desconcertados e desconcertantes boatos. Não havia liberdade de imprensa nem investigação independente. Era o tempo da "evolução na continuidade"... da ditadura.

Neste caso, temos um "comunicado da província da Guiné" (sic) a  dar conta de um grave acidente de helicóptero que transportavam  dois militares e quatro deputados à Assembleia da República que estavam a acabar uma visita ao interior do território... Eram eles os deputados James Pinto Bull, José Pedro Pinto Leite, Leonardo Coimbra e José Vicente de Abreu.  Os três primeiros eram "doutores" e o último era "senhor".

Saberemos depois que a aeronave, que serviu de caixão aos nossos seis compatriotas (, dois dos quais nossos camaradas de armas,) acabará por ser encontrada, dias depois,  no fundo do Rio Mansoa, ou melhor na foz de um dos seus afluentes, o rio Baboque  (**).

Era o tempo em que era governador da Guiné o general Spínola, acumulando com o cargo de comandante-chefe. Era um homem poderoso e, em geral, amado pelos seus homens e admirado por muitos "guinéus". Não sabemos quantos o amavam: nunca foi feito nenhuma referendo ou plebiscito. Seria interessante ele poder ter disputado  eleições, livres, como na livre Inglaterra, com o Amílcar Cabral, que ainda não tinha sido assassinado. (E nunca saberemos às ordens de quem, diga-se "en passant".)

Quem sabe hoje, os nossos filhos e netos, quem foi José Pedro Maria Anjos Pinto Leite (Cascais, 1932 - Guiné, 1970) ?  Acreditou, em 1969, na "Primavera Marcelista", ou seja, que era possível reformar, "por dentro", o velho Estado Novo... Foi eleito  deputado à "Assembleia Nacional", para rapidamente se converter no líder da chamada "Ala Liberal". Morreu ingloriamente na Guiné, aos 38 anos,  neste desastre de helicóptero, nas proximidades de uma ilha chamada Lisboa (que fica no estuário do rio Mansoa).

Sucedeu-lhe Francisco Sá Carneiro (Porto, 1934 - Loures, 1980) à frente dessa quixotesca ala liberal, que quis, contra a extrema-direita do regime,  democratizar o  corporativo e autoritário Estado Novo. Estranha, sinistra,  coincidência: Sá Carneiro irá morrer igualmente num desastre de avião em circunstâncias que nunca virão a ser cabalmente esclarecidas: falha humana. erro técnico, atentado...

Estranho país este, o que coube em sorte a Pinto Leite e a Sá Carneiro que foram bons (senão dos melhores) portugueses do seu tempo... LG
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Notas do editor:

(*) Último poste da série  > 8 de dezenbro de  2019 > Guiné 61/74 - P20428: Recortes de imprensa (107): Homenagem, em Ribamar, Lourinhã, aos 23 pescadores, de um total de 38 mortos, que ficaram insepultos no mar nos últimos 50 anos ("Alvorada", 15 de novembro de 2019)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13731: História da CCAÇ 2679 (70): Em "O Jagudi" - Quanto vale a vida de um homem?" (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 9 de Outubro de 2014: 

Olá Carlos, bom dia!
Na senda da lenta revelação de episódios ocorridos no âmbito da comissão militar, tanto em estrito, como em largo senso, hoje envio-te uma referência a uma intervenção de um dinâmico parlamentar da antiga Assembleia Nacional, o Pedro Pinto Leite, que (em minha opinião) conjuntamente com o Miller Guerra eram os mais afoitos deputados da chamada Ala Liberal, onde o Sá Carneiro dava a nota "snob" do oposicionista com "pedigree" civilizado.
Por infortúnio do destino, o Pinto Leite faleceu na Guiné durante uma visita no âmbito das funções parlamentares.

A referência relaciona-se com o eco dado pelo Jagudi a uma reportagem sobre a discussão da Lei de Meios, hoje designada por Lei do Orçamento, ou simplesmente Orçamento.

Com um abraço amigo
JD

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HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

"QUANTO VALE A VIDA DE UM HOMEM?"

Decorria a tarde sem incidentes que me fizessem levantar da cama, onde folheava um livro qualquer, quando, sem que a tempestade se fizesse anunciar, alguém me procurou para me apresentar ao capitão Trapinhos.
Ao passar a ombreira da porta do gabinete de SEx.ª, deparei com ele lívido e escanzelado que de costume, e num impulso de sobrevivência, atirou-me com a pergunta impertinente:
- Você quer foder-me, ou quê?

Posta assim a questão introdutória, a que reagi com um cauteloso silêncio, num gesto tenso de perturbação agarrou numa folha de papel que jazia na sua frente sobre a secretária, e deu-me a ordem clara para ler o conteúdo, esticando o braço com o papel na ponta dos dedinhos, enquanto me lançava um olhar vermelho de ódio incontido.
Tratava-se de uma mensagem-rádio proveniente de Bissau, que cito de memória:
- Encarrega-me S.Ex.ª o Com-Chefe de recomendar que, quando conveniente, os textos a inserir no Jagudi susceptíveis de interpretações deturpada, sejam previamente esclarecidos sobre o respectivo contexto.
Assinava o Brigadeiro Comandante-Militar.

Virei a folha para ganhar tempo e inspiração, pois no verso nada era acrescentado, fiz o gesto de lhe devolver a mensagem, que ele ignorou, enquanto parecia exigir o meu esclarecimento contextual.
Deixei cair o papel sobre a secretária, e com uma inusitada lata observei:
- Isto está a ser um sucesso!

O Trapinhos ficou tonto pela surpresa da resposta, e teorizei que o Sr. Com-Chefe, secundado pelo Sr. Comandante-Militar, não manifestava qualquer opinião condenatória, antes parecia só faltar mais clareza a dar estímulo para prosseguir.

Atónito, o capitão nada disse de relevante, mas advertiu-me, que se levasse uma porrada que lhe estragasse a carreira, haveria de vingar-se convenientemente.
Coitado, ainda não estava feliz. Para melhor compreensão da origem perturbadora da vida suave do comandante da Companhia, anexo o documento publicado.


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13570: História da CCAÇ 2679 (69): O número 2 de "O Jagudi" (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5162: Controvérsias (39): Nunca se fez um inquérito ao acidente que vitimou o meu avô James e seus companheiros (Sofia Pinto Bull)

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Distância, em quilómetros, de Mansoa a algumas das principais povoações, a leste (Bafatá, Bamabadinca, Enxalé), a sul (Porto Gole) e a leste (Bissau, Nhacra, Encheia)... Na foto, o ex-Alf Mil Paulo Raposo, CCAÇ 2405/BCAÇ 2852 (1968/70).

Foto: Paulo Raposo (2006)

Guiné > Região do Oio > Mansoa > Rio Mansoa > Pescadores > "Mansôa é uma linda vila, à qual o rio Mansôa empresta também os seus encantos, dando-lhe um verde imenso, e florido... A história da Guiné, passa por Mansôa, não só por ser um importante centro de comércio, mas também por ser um centro militar de grande importância estratégica, pois era aqui que existia a única ponte que permitia o acesso a Bissau... Inserida na conflituosa região do Óio, e a poucos quilómetros da mítica mata do Morés, Mansôa foi sempre um palco importante na história da Guiné... A partir de 15/12/2003 a jangada que atravessava o rio rio Mansôa, em Joladim, foi substituída por uma excelente ponte, passando a existir um segundo acesso a Bissau" (Fonte: Guiné - História > BCAÇ 2885, por Carlos Fortunato)
Foto: Cortesia de César Dias, ex-Fur Mil Sapador, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande.


1. Comentário, de hoje, de Sofia Pinto Bull ao poste 10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3292: Controvérsias (3): O acidente de helicóptero que vitimou Pinto Leite (J. Martins / J. Félix / C. Vinhal / C. Dias) (*)

Luís, ao fazer umas pesquisas sobre a Guiné-Bissau, deparei-me com o vosso blog e como não podia deixar de ser procurei info sobre o acidente de 25 de Julho de 1970, o qual vitimou o meu Avô James (Pinto Bull) (**) que, infelizmente, eu nunca viria a conhecer.

E não posso deixar de esclarecer e garantir-lhe (e aos demais participantes/intervenientes do blog) que o acidente ocorreu exactamente na data que mencionei - 25 DE JULHO DE 1970. O meu Pai, inclusivamente, prestava serviço militar na altura na Guiné-Bissau, tendo ele próprio participado nas buscas do aparelho e dos corpos (também o do seu próprio Pai).

Documentos disponibilizados pela COLOREDO (Comissão Eventual para Localização e Recolha de Dcumentação da Marinha sobre a sua Acção nas Operações Militares em África e Timor - 1967/75) com base em documentos nela existentes e no Arquivo Geral da Marinha e em depoimentos prestados por alguns dos intervenientes na operação também o confirmam.

Transcrevo um excerto do livro «O Sonho Desfeito - Quanto Vale a Vida de um Homem?», de Vasco Pinto Leite, irmão do Dr. Pinto Leite, falecido também no acidente:

"(...) Dia 25 de Julho de 1970

"Cerca das 15.00 horas ocorreu a queda de l helicóptero da FAP quando voava de Teixeira Pinto psra Bissau e foi atingido por um forte tornado. (...) pilotado pelo alferes miliciano Pil Av da FAP Francisco Lopes Manso e fazia parte duma formação de 3 helicópteros comandada pelo Cap Pil Av Cubas, que pilotava um dos helicópteros, sendo o terceiro pilotado pelo alferes miliciano Pil Av Coelho.

"O helicóptero sinistrado transportava como passageiros:
- 4 deputados à então Assembleia Nacional (Dr James Pinto Bull, Dr José Pedro Pinto Leite, Dr Leonardo Coimbra e José Vicente de Abreu).
- Capitão de cavalaria Carvalho de Andrade, oficial de ligação do Comando Chefe das Forças Armandas da Província da Guiné.

"Posteriormente viria a verificar-se que o helicóptero tinha caído nas águas do Rio Mansoa, em 20 metros de fundo, a Este da Ilha de Lisboa, ou seja, entre esta e a Ilha de Bissau."


Buscas ocorreram nos dias seguintes (segundo cópias de documentos constantes no livro), terão sido resgatados das águas lodosas dois corpos identificados como sendo do Dr Leonardo Coimbra e do Cap Carvalho de Andrade, e os detroços do aparelho, estes últimos entregues à FAP a 30 de Julho.

Uma das lanchas envolvidas nas buscas, "a LPG Cassiopeia manteve-se na área até ao dia 2 de Agosto, fazendo buscas sistemáticas das águas do Mansoa entre as ilhas de Lisboa e de Bissai mas nada mais viria a encontrar. (...) botes voltaram por vezes às zonas das buscas, em observação, mas nada mais encontraram."

Mas, de facto, e com muita pena minha e concerteza de todos os familiares das vítimas deste desastre, nunca houve nenhum INQUÉRITO. No livro, Vasco Pinto Leite afirma ainda:

"(...) Três dias depois da tragédia, em 28 de Julho de 1970, morre Salazar, e as atenções da Comunicação Social passam para 2º plano o impacto com o desastre da Guiné. Daí para a frente, os brandos costumes portugueses fizeram o resto", inclusivamente "o inquérito que não foi feito", sublinha o autor! (****).

Espero ter elucidado e respondido a algumas dúvidas.

Na imaginação desenho ainda hoje o meu retrato do meu Avô que quis o destino (ou não) que eu nunca tivesse conhecido, e na memória ficam, para além da enorme tragédia, histórias e relatos maravilhosos da minha Avó principalmente, mas também de outras pessoas que tiveram a felicidade de se cruzarem na vida com o meu Avô e com quem também eu me tenho vindo a cruzar!

Sofia Pinto Bull

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Notas de L.G.:

(*) Vd. também postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3296: Controvérsias (4): O acidente aéreo de 26 de Julho de 1970 (Jorge Picado)

20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3335: Controvérsias (6): O acidente aéreo de 25 de Julho de 1970 (Carlos Ayala Botto)

10 de Outubro de 2008 (Guiné 63/74 - P3291: (Ex)citações (4): Pinto Leite, em Bambadinca, dois dias antes de morrer em desastre de helicóptero: Não há solução militar)

10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)

(**) Último poste da série > 24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5153: Controvérsias (31): Afinal quem saiu derrotado na guerra da Guiné? (José da Câmara)


Não confundir o James Pinto Bull com o seu irmão, Benjamim Pinto Bull, de quem se apresenta aqui uma resenha biográfica, adaptada (Cortesia de Wikipédia > Benjamim Pinto Bull)

(i) Benjamim foi o líder da União dos Naturais da Guiné-Portuguesa (UNGP), um movimento que defendia uma evolução, negociada e pacífica, para a Guiné-Bissau.

(ii) Cita o Diário de Notícias, aquando da sua morte recente, que Benjamim Pinto Bull “era daqueles homens como já há poucos, um lutador”.

(iii) Durante a sua vida foi um defensor de uma independência progressiva da Guiné-Bissau, em oposição com a linha (revolucionária) de Amílcar Cabral e do seu PAIGC. Chegou, ao que parece, a tentar negociar nos bastidores do poder de Salazar.

(iv) Nasceu na Guiné-Bissau, no seio de uma das suas mais ilustres famílias.

(v) O seu irmão, James Pinto Bull, foi o histórico deputado da Ala Liberal, que morreu, no acidente de helicóptero, com José Pedro Pinto Leite e outros, em 25 de Junho de 1970, no Rio Mansoa.

(vi) Aos sete anos de idade, Benjamim Pinto Bull foi enviado para França, onde ingressou num seminário. Concluiu o ensino secundário e voltou para Portugal, para um seminário em Viana do Castelo. Nesta cidade estudou grego e latim. Mas não seguiu a vida eclesiástica.

(vii) Já em idade adulta, regressou à sua terra, para trabalhar nas alfândegas. Nesta altura, a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) seguiu-o e perseguiu-o até à Guiné-Bissau.

(viii) Segue-se o seu o exílio, no Senegal, onde foi acolhido por Léopold Sédar Senghor.

(ix) No Senegal, continuou a luta pela independência do seu país. Léopold Sédar Senghor foi, além de dirigente político e nacionalista, um poeta e um intelectual de grande craveira. Senghor e Pinto Bull tornaram-se grandes amigos.

(x) Abraçando uma nova etapa da sua vida no Senegal, Benjamim promoveu a língua portuguesa, a nível do ensino secundário e do ensino superior. Tornou-se rapidamente no tradutor oficial de Senghor (que, de resto, e ao que parece, na sua árvore genealógica, teria ascendentes portugueses).

(xi) Continuou os seus estudos, formando-se em Filologia Românica em Paris, para depois regressar a Dakar para dar aulas. A sua tese de doutoramento versa sobre o trabalho de Senghor: "Leopold Sédar Senghor e a Negritude".

(xii) Regressa a Portugal em 1984. Foi cônsul do Senegal em Lisboa e leccionou Latim Jurídico e Literatura Africana de Expansão Portuguesa em várias universidades privadas, como a Moderna, a Internacional ou a Lusófona.

(xiii) Em 1989, publicou "Filosofia e sabedoria, O crioulo da Guiné-Bissau". Publicou ainda uma autobiografia – "Memórias de um Luso-Guineense" – com introdução a cargo de Adriano Moreira.

(xiv) Em 1992, num autocarro, a caminho de Loures, Benjamim Pinto Bull defendeu um rapaz de apenas 12 anos que estava a ser insultado. Foi agredido e um soldado da GNR acabou por ser acusado de racismo e violência contra o professor. Um triste, miserável episódio que mereceu a atenção da comunicaçã social, na época, e que levou o então Presidente da República, Mário Soares, a pedir-lhe publicamente desculpas em nome de Portugal.

(xv) Benjamim Pinto Bull faleceu em Lisboa, no dia 25 de Janeiro de 2005.


Do James Pinto Bull, encontrei as seguintes referências bibliográficas, no Portal Memórias de África e do Oriente, Fundação Portugal-África, desenvolvido pela Universidade de Aveiro e pelo CESO :

[13098] Bull, James Pinto
Subsídios para o estudo da circuncisão entre os balantas / James Pinto Bull. In: Boletim cultural da Guiné portuguesa. - Vol. VI, nº24 (1951), p. 947-954
Descritores: Guiné-Bissau Antropologia social e cultural Circuncisão


[13108] Bull, James Pinto
Amor e trabalho / James Pinto Bull. In: Boletim cultural da Guiné Portuguesa. - Vol. VII, nº25 (1952), p.181-187
Descritores: Guiné-Bissau Antropologia social e cultural Contos

[64277] Bull, James Pinto
Amor e trabalho / James Pinto Bull. In: Boletim cultural da Guiné Portuguesa.- vol. 7, nº 25 (Jan. 1952), p. 181- 187
Descritores: Guiné Bissau Trabalho

[80712] Bull, James Pinto
Visita presidencial á Província da Guiné Portuguesa / James Pinto Bull. In: Cartaz. - ano 4, nº 16 (1968), p. 15.
Descritores: Guiné Bissau Chefe de Estado Visita oficial População autóctone

[186325] Bull, James Pinto
Subsídios para o estudo da circuncisão entre os balantas / James Pinto Bull. In: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. - Vol. VI, nº 24 (1951), p. 947-954
Descritores: Guiné-Bissau Mutilação sexual População autóctone

[201234] Bull, James Pinto
A doença do sono / James Pinto Bull. - Contém bibliografia. In: Anuário da Escola Superior Colonial. - (1944-1945), p. 223-233
Descritores: África Doença tropicalTEXTO :


(****) Vd. Decreto-Lei n.º 400/70:

Considerando que no decorrer de uma viagem à Guiné, organizada para informação da Assembleia Nacional, morreram num desastre de helicóptero os Deputados James Pinto Bull, José Pedro Maria Anjos Pinto Leite, José Vicente Abreu e Leonardo Augusto Coimbra;

Atendendo a que a missão que lhes foi confiada se revestia de grande importância para o País;

Usando da faculdade conferida pela 1.ª parte do n.º 2.º do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

Artigo único. - 1. Aos familiares que estavam a cargo de cada um dos Deputados James Pinto Bull, José Pedro Maria Anjos Pinto Leite, José Vicente Abreu e Leonardo Augusto Coimbra, e que a requeiram, será atribuída uma pensão do Tesouro do quantitativo correspondente ao subsidio mensal fixado para os Deputados, compreendendo a parte fixa e trinta dias de senhas de presença, a abonar mensalmente, com inicio no dia imediato ao do acidente.

2. O direito e a fruição destas pensões regulam-se pelos princípios estabelecidos no Decreto-Lei n.º 47084 , de 9 de Julho de 1960, não estando, contudo, os seus quantitativos sujeitos a quaisquer deduções, com excepção do selo de recibo.

Visto e aprovado em Conselho de Ministros. - Marcello Caetano - João Augusto Dias Rosas.

Promulgado em 12 de Agosto de 1970.
Publique-se.

Presidência da República, 21 de Agosto de 1970. - AMÉRICO DEUS RODRIGUES THOMAZ.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

1. Mensagem de José Carmino Videira Azevedo (*), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71), com data de 21 de Janeiro de 2009:

José Carmino Videira Azevedo, natural e residente na linda freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, Distrito de Bragança.

Soldado Condutor Auto Rodas n.º 04580768. Estive em Bula integrado na CCAV 2487/BCAV 2868, "O Xicote"

Participei na Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados CAPELA e HENRIQUE e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.

Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro.

Quando estive na guerra colonial, cheguei a João Landim num dia de muito calor.
Como tinha que esperar para encher a jangada, disse ao marinheiro, que era preto, que
ia mergulhar para refrescar. Estavam quase 60 graus ao sol e ali não havia sombra.

Quando mergulhei nas águas do Mansoa, o marinheira bateu a colatra da arma.
Fiquei assustado, saí e perguntei o porquê daquela atitude, mas ele não me respondeu. No dia seguinte, quando atravessei o rio, o marinheiro chamou-me e disse:

- Vês o porquê da minha atitude? Ontem estava ali um jacaré bébé que pesava cerca de 80 quilos.

Obrigado meu amigo onde quer que estejas.

Vale Frechoso, 21 de Janeiro de 2009


2. Comentário de CV:

Caro José Carmino, bem-vindo à nossa Tabanca Grande.
Peço desde já desculpa pelo tempo que demorei em publicar a tua apresentação, mas houve uma mensagem minha para ti a que não respondeste e daí esta confusão.

O nosso Editor Luís Graça disse-me que falaste com ele via telefone. Soube assim que és autarca na tua freguesia, que és um periquito nestas coisas dos computadores e que tens na memória, presentes, muitas histórias para nos contares.

Adivinhas que estou a falar da tristemente célebre Operação Ostra Amarga.
Dizes também que estavas por perto quando da carnificina dos nossos camaradas Majores e seus acompanhantes, mortos cobardemente, pois não considero um acto de guerra matar pessoas indefesas. Foram assassinados, é o termo.

Sendo assim, esperamos que comeces a narrar os acontecimentos em que intervieste, para que conheçamos, cada vez com mais pormenores, os casos mais marcantes da guerra da Guiné. Cada um de nós é uma pequena peça deste gigantesco puzzle que nos cabe montar.

Deixo-te o abraço de boas-vindas da ordem, em nome da Tertúlia que te acolhe de braços abertos.

Ficam agora as fotos que nos enviaste.

José Carmino Azevedo > Bissalanca

José Carmino Azevedo > Bolanha de Biombo

Bula

José Carmino Azevedo > Bula

José Carmino Azevedo > Bula > Parada

José Carmino Azevedo > Nhacra
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3776: O Nosso Livro de Visitas (53): José C. Videira Azevedo, Sold. Cond. CCav 2487/BCav 2868 (Bula, 1969/70).

Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3351: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (8): Homenagem à memória do Honório e do Manso (Victor Barata)


Guiné > Região do Oio > Rio Mansoa > 1970 > Restos do Helicóptero Alloutte III, que se despenhou no dia 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa, em consequência das condições climatéricas. Nele morreram, além do piloto (Alf Mil Av Francisco Lopes Manso), o Cap Cav José Carvalho Andrade e mais 4 deputados em visita à Província (entre eles Pinto Leite, o então chefe da Ala Liberal da Assembleia Nacional).

Cortesia de: © Victor Barata (2008) /Blogue Especialistas da BA12, Guiné 1965/74. Direitos reservados.


1. Mensagem do Victor Barata, com data de ontem (O Victor é membro da nossa Tabanca Grande, empresário em Vouzela, e é o grande animador do blogue dos nossos camaradas da FAP que estiveram na Guiné, entre 1965 e 1974):

Boa-Tarde, Luís.

Antes de mais quero cumprimentar todos os companheiros da Tabanca Grande e apresentar as minhas desculpas por esta ausência tão prolongada, mas a vida empresarial e o blogue Especialistas da BA 12 têm absorvido a maior parte das 24 horas do dia.

A ti quero agradecer-te os teus reconhecimentos abonatórios ao nosso Blogue (*), mas para tal aconteça não podemos deixar enaltecer o que aprendemos,e continuamos a aprender contigo, através do teu Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Sobre algumas mensagens que tenho lido nesse espaço, houve algumas que me deixaram um pouco desagradado da maneira como se abordam algumas passagens pelas terras da Guiné, nomeadamente, e obviamente, onde aparece o pessoal da FAP (**).

(i) Recordo a situação do Honório:

Seria possível, tanto humana com tecnicamente, um piloto da FAP "rapar na bolanha para acertar nos nativos..."?!

Não vamos denegrir a imagem de um cidadão que já não faz parte do mundo dos vivos, e que tantas vidas salvou, tanto apoio deu ao pessoal que ansiosamente esperava pelos géneros e notícias daqueles que lhe eram mais queridos, pondo em risco a sua própria vida e da sua tripulação.

Certamente que se esqueceram da geografia da Guiné,quando descolávamos de Bissalanca (BA 12) , toda a Guiné nos via, qualquer arma nos esperava em qualquer lugar. Vamos desejar ao Honório, PAZ À SUA ALMA!

(ii) Depois li também do José Martins, sobre o acidente de Mansoa:

"... acidente onde faleceram quatro deputados..."

Será que um dos deputados era o piloto do Hel Alloutte III? Ou será que o meu saudoso companheiro, Alf Pilav Manso, por não ser deputado já não conta? Ou o outro passageiro, que não era nenhum mecânico, visto só haver capacidade para seis pessoas e ter que viajar, salvo erro, um simples ajudante do Gen Spínola?

Notei e realço a tua observação ao José Martins, fazendo a mesma observação: "Então e o Piloto e mecânico?"

Desde já quero deixar bem claro que este meu reparo não serve para alimentar qualquer tipo de polémica ou incompatibilidade, é somente e apenas para me sentir bem comigo próprio.

Anexo uma foto do Helicóptero Alloutte III, sinistrado no referido acidente, consequência das condições climatéricas.

Um a abraço a toda a Tertúlia.

Victor Barata

2. Comentário de L.G.:

Camarada Victor:

Recordo-me bem de tua primeira mensagem:

"Chamo-me Victor Barata, fui Especialista, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, na Força Aérea Portuguesa que servi com muito orgulho, com dois anos de Guiné, entre 1971 e 1973"...

Tive o privilégio de saber, em primeira mão, o teu "segredo" guardado há 35 anos, e depois publicá-lo no nosso blogue (***). Tive muito gosto em apresentar-te à nossa então tertúlia (hoje, Tabanca Grande) em 10 de Maio de 2006... Tudo isto para te dizer que foste, és e continuas a ser um grande camarada e um homem sensível e solidário.

Eis o que na altura eu escrevi:

"Victor: A pista pode ser curta mas é toda tua... Na nossa caserna cabem todos os camaradas, sejam eles terrestres, voadores ou anfíbios. A FAP, tão dignamente representada por ti, é bem especialmente bem vinda à nossa tertúlia e ao nosso blogue... Por mim, sempre tive uma especial admiração pelos malucos das dessas máquinas voadoras que eram as DO 27 e que nos traziam notícias do mundo, do outro do mundo... Já não gostava tanto quando elas, em vez do carteiro, transportavam o senhor major de operações ou do senhor comandante de qualquer coisa... Ou sejam, quando de frágil caranguejola eram promovidas a um coisa que pomposamente se chamava o PCV.

"Um reparo: o blogue chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné... Eu sou apenas o editor. A partir de hoje o blogue também é teu, de pleno direito. Vou publicar o texto adicional que me mandaste, e que é um bonito testemunho de solidariedade em tempo de guerra, ou seja, de camaradgem. Se tiveres fotos desses tempos que já lá vão, manda, que os tertulianos têm ainda a ilusão de que recordar é viver" (***)...


Agora vamos ao conteúdo da tua recente mensagem: percebo a tua mágoa, o teu desagarado e até o teu (res)sentimento... Dois camaradas teus (e nossos) da FAP não terão sido aqui bem (re)tratados, um por acções e outro por omissões. Comecemos pelo Honório que era talvez, já no meu tempo (1969/71), o piloto da FAP mais conhecido, querido e popular... Como sabes, uma das nossas regras de ouro do nosso blogue é não fazer juízos de valor sobre a competência e o comportamento, a nível operacional, dos nossos camaradas.

Hoje admito que o título desta série (Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras) não foi feliz... E muito provavelmente vai morrer aqui. Costuma-se dizer que o inferno está cheio de boas intenções (e de bons rapazes e... raparigas). A nossa (boa intenção) era tão só a de homenagear os nossos camaradas da FAP (que tinham mesmo que ser malucos para voar nas difíceis condições da Guiné, em termos de terreno, clima e guerra; mas o mesmo também se aplicava às outras máquinas dos outros ramos das nossas forças armadas, fossem elas a GMG ou a LDM)... Enfim, há limites para tudo, e até para o humor (que foi muito útil, em tempo de guerra, para a nossa saúde mental)...

De qualquer modo aqui fica o teu desagravo à memória do Honório. Não creio que alguém o quisesse atingir na sua honorabilidade. O Honório era um mito. E, depois, só pode falar dele, em boa verdade, quem privou e/ou voou com ele... Eu, por exemplo, nunca tive essa sorte ou privilégio, mas conheci-o, pelo menos de vista, em Bambadinca, onde ele aterrava, com frequência, sempre no seu DO27.

Quanto ao trágico acidente do dia 25 de Junho de 1970, ficamos a saber finalmente que, além, dos quatro deputados da Nação, morreram dois militres: o Cap Cav José Carvalho de Andrade, camarara de curso e amigo do nosso Cor Cav Ref Carlos Ayala Botto (***) e o Alf Mil Pil Av Francisco Lopes Manso (cujo nome, de resto, não consta - contrariamente ao do referido capitão - da lista do pessoal da FAP, morto na Guiné, 1963/74; mas consta do teu blogue).

Deixa-me só vir a terreiro defender o meu amigo e camarada José Martins que é, em matéria de verdade factual, a honestidade em pessoa: ele é o nosso "rato de biblioteca", sempre disponível para fazer pesquisas na sua base de dados sobre esta ou aquela unidade, este ou aquele camarada... Infelizmente, há (ou havia até agora) um incomodativo silêncio sobre os militares que perecerem neste terrível acidente, para além dos deputados da Nação... O piloto seguramente estava na lista dos mortos do Ultramar... Mas desconhecíamos a sua identidade. Aqui fica também a tua e a nossa homemagem ao Manso.

Em resumo: temos sempre que ter cuidado com as palavras que teclamos no computador e sobretudo que mandamos para a blogosfera... Algumas das nossas evitáveis quesílias (e até conflitos), até agora ocorridos no blogue, entre camaradas e amigos da Guiné, resultam das dificuldades do processo de comunicação... Simplesmente por que não somos (nem nunca seremos) suficientemente claros, concisos e precisos, como manda as boas regras da comunicação...

Um Alfa Bravo para ti e para todos os especialistas, pilotos e demais pessoal da BA12 que estiveram na Guiné, entre 1965 e 1974. Longa vida para o teu/vosso blogue.

PS - Obrigado pelo teu reconhecimento pelo papel, de algum modo pioneiro e inovador, do nosso blogue. Que mil blogues sobre a Guiné 1963/74 floresçam à sombra dos nossos poilões ou na orla das nossas bolanhas ou no meio das picadas esburacadas pelas minas ou no fim das pistas de terra batida ou nos restos dos nossos bunkers-bidonvilles... Por que as memórias daquela terra e daquele tempo ninguém no-las pode tirar...
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3344: Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helicóptero (A. Marques Lopes)

(...) Nota de L.G.:

(...) Aproveito para saudar o Victor, que é também membro da nossa Tabanca Grande e tem ido aos nossos encontros nacionais, e desejar-lhe boa sorte e perseverança neste combate, que nem sempre é fácil, de reunir as antigas tropas, agora tresmalhadas, e que no caso dele não eram de terra nem do mar, mas do ar...

No seu sempre activo blogue, têm aparecido além dos Melec (técnicos de manutenção aeronáutica, como ele), outros camaradas, como os pilotos e os pára-quedistas... Boa saúde e bom trabalho para o Victor e os camaradas da FAP que a Guiné juntou e uniu. O Victor está, além disso, a organizar uma viagem de saudade à Guiné, a realizar em Fevereiro do próximo ano. (...)

(**) Vd postes da série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras:

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3232: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (2): O Honório, meu amigo (Torcato Mendonça / Alberto Branquinho)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3234: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (3): O Honório que eu conheci... em Luanda (Joaquim Mexia Alves)

26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3259: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (6): Alguns esclarecimentos (Jorge Félix)

8 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3281: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (7): Desfazendo equívocos (Alberto Branquinho)

(***) Vd. poste de

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73) (Luís Graça)

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLI: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)


(****) Vd. poste de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3333: Controvérsias (6): O acidente aéreo de 25 de Julho de 1970 (Carlos Ayala Botto)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3291: (Ex)citações (4): Pinto Leite, em Bambadinca, dois dias antes de morrer em desastre de helicóptero: "Não há solução militar"

“A Guiné actual já não tem solução militar. Por favor guarde para si, o próprio governador gostaria de chegar a um acordo com Amílcar Cabral. Em Lisboa, espero poder dizer frontalmente tudo ao Presidente do Conselho [, Marcelo Caetano]. Tem que se chegar à paz”...



1. São palavras atribuídas ao deputado José Pedro Pinto Leite (*), líder da Ala Liberal, na Assembleia Nacional, eleito, como deputado independente da União Nacional (mais tarde, rebatizada como ANP - Acção Nacional Popular, o partido único do regime político de então), em 26 de Outubro de 1969, ao lado de Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota e Miller Guerra.

Estas palavras terão sido ditas pelo corajoso e malogrado deputado, em Bambadinca, ao Alf Mil Mário Beja Santos, a título de confidência, "dois dias antes" de morrer no acidente de helicóptero, que caíu no Rio Mansoa, alegadamente em consequência de um tornado. E foram reproduzidas numa carta que o nosso camarada escreveu em Julho de 1970, já no final da sua comissão, ao poeta Ruy Cinatti.

2. Tenho dúvidas sobre a data em que ocorreu o acidente, o qual terá provocado no total seis mortos (incluindo a tripulação do helicóptero). Segundo o Beja Santos teria sido em 27 de Julho... Ora a data que é referida sistematicamente nas escassas fontes que tenho encontrado e consultado na Internet é 25 de Julho de 1970...

Pode ser lapso de memória do Beja Santos, ou erro sistemático reproduzido na Internet... De qualquer modo, nada como confirmar a data no livro escrito pelo irmão, Vasco Pinto Leite, em 2003, e em que se pretende reabilitar a memória de um grande português do nosso tempo, ignorado e esquecido depois da sua morte... Infelizmente não tenho o livro nem o li.

Recorde-se que J. P. Pinto Leite viajava com mais outros três deputados da Assembleia Nacional, Leonardo Coimbra (filho do filósofo Leonardo Coimbra), José Vicente de Abreu e James Pinto Bull (este, guineense, irmão do Benjamin Pinto Bull). Os restantes mortos, no acidente de helicóptero, deverão ter sido o piloto e o outro tripulante habitual do heli, um Melech (No entanto, na lista dos Mortos do Ultramar, não encontro referências a baixas mortais da FAP nessa data, por acidente ou em combate; é possível que tenham sido dados como desaparecidos).


3. Volta-se a reproduzir aqui o excerto da carta que o Beja Santos escrever ao seu amigo , o poeta Ruy Cinatti, a quem tratava por Dear Father [Querido Pai]:

"No passado dia 24 [de Julho de 1970], fomos avisados que iríamos montar segurança a um grupo de deputados que vinham visitar os reordenamentos dos Nhabijões e do Bambadincazinho, na manhã seguinte [25]. Antes deles chegarem parti para os Nhabijões onde os recebi.

"Foi uma boa surpresa reencontrar o Dr. José Pedro Pinto Leite que conhecera num lançamento na Moraes, salvo erro em companhia do Prof. Miller Guerra, bem como numa conferência promovida pela JUC [Juventude Universitária Católica].

"Após a visita, ele e os outros deputados vieram até à messe de Bambadinca, estávamos a meio da tarde, formaram-se grupos, o Pinto Leite pediu-me discretamente para conversarmos em particular, cá fora. Saímos para junto de uma das portas de armas, com um copo na mão, ele queria saber o tipo de guerra em que estávamos envolvidos, a natureza das dificuldades que vivíamos, os apoios da guerrilha, etc.

"Inicialmente eu estava muito constrangido, são assuntos com que nunca falamos com os civis e muito menos com deputados. Ele pôs-me à vontade, queria só que eu fosse sincero. Com toda a naturalidade, então, falei-lhe como vivera no Cuor, o tipo de guerra que ali fazíamos e agora em Bambadinca. Escolhi o exemplo do Xime, uma povoação e um porto doravante fundamental para o abastecimento do Leste, que vai ter uma estrada alcatroada até Bambadinca, mas onde os guerrilheiros se movem sem grande embaraço a cerca de 4 km de distância. Ele perguntou-me como é que os guerrilheiros aguentavam tantas dificuldades. Creio que lhe terei dito que sempre viveram nas maiores dificuldades e se não se entregam é porque acreditam no que fazem. Disse-lhe igualmente que sentia cada vez mais dificuldades no campo militar e que as populações estavam forçadas ao jogo duplo.

"Ele tudo ouviu, de vez em quando pedia esclarecimentos, e regressámos à messe. Antes de entrar, ele observou: 'A Guiné actual já não tem solução militar. Por favor guarde para si, o próprio governador gostaria de chegar a um acordo com Amílcar Cabral. Em Lisboa, espero poder dizer frontalmente tudo ao Presidente do Conselho. Tem que se chegar à paz'.

"Despedimo-nos pouco depois no aeródromo, prometi-lhe visitá-lo logo que chegasse a Lisboa.

"A 28 [de Julho de 1970], soubemos que na véspera [27] um tornado precipitara o helicóptero em que ele ia com outros dois [sic] deputados, no rio Mansoa. Pode imaginar a minha mágoa, o mais grave é a perda para o país com o desaparecimento deste político tão promissor, gostei sempre muito da acutilância e a oportunidade das suas propostas. Imagino a consternação que V. sente, sei que também o apreciava muito". (...)




4. Talvez os camaradas da FAP - o Jorge Félix ou o Victor Barata, por exemplo - possam esclarecer em que data precisamente e em que circunstâncias se deu este acidente. E quem foram, para além dos 4 deputados portugueses (e não três, como diz o Beja Santos), os camaradas da FAP que morreram (em princípio, dois, o piloto e um Melec, presumo). 

Não encontrei qualquer referência a este acidente (se é que se tratou de acidente...) no blogue do nosso camarada Victor Barata (Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74).

O editor, L.G.

_________

Nota de L.G.:

(*) De seu nome completo, José Pedro Maria dos Anjos Pinto Leite (1932-1970), eleito pelo Círculo de Lisboa, nas listas da ANP - Acção Nacional Popular, tinha partido para a Guiné, com outros três deputados, no dia 20 de Julho de 1970, para uma «viagem de estudo e de informação».

Na Assembleia Nacional, para onde foram eleito, a convite de Marcelo Cateno, seu professor de direito, tinha-se destacado nos últimos meses pelas suas qualidades de brilhante jurista, grande tribuno e incontestado e corajoso líder da ala liberal. Juntam-se duas referências bibliográficas.



Título: A Ala Liberal de Marcelo Caetano
ou o Sonho Desfeito de José Pedro Pinto Leite

Autor: Vasco Pinto Leite

Editora: Tribuna da História

Local: Lisboa

Ano: 2003

Preço: 15,00 €

ISBN: 978-972-8799-09-0

Formato: 15 x 23,5

Nº de Páginas: 384

Sinopse (com a devida vénia...):

"Quanto vale a vida de um homem? É a pergunta que ficou célebre no primeiro discurso em que o deputado José Pedro Pinto Leite contestou a defesa económica que o anterior regime fazia da Guerra Colonial.

"Católico progressista, instado por Marcelo Caetano, de quem foi aluno em Direito, a participar nas eleições legislativas de 1969 e na formação de um grupo liberal, que liderou, José Pedro Pinto Leite viria a morrer logo em Julho de 1970, no termo da primeira sessão legislativa, num acidente mal esclarecido, com um helicóptero da Força Aérea, durante uma visita à Guiné.

"Esta obra debruça-se sobre o projecto político da chamada 'Ala Liberal' e sobre a perspectiva histórica que potenciou. Propunha-se uma transformação profunda e imediata da comunidade portuguesa, reconciliada com os seus irmãos africanos. De São Bento a Bissau José Pedro Pinto Leite descreveu, num ápice um trajecto simbólico. O Sonho de uma ala parlamentar rebelde, que tentou aglutinar e que se desintegrou com a sua morte. O posterior 25 de Abril não pode ser estranho a este desfazer 'do sonho de José Pedro Pinto Leite.

"Setenta e três depoimentos de amigos próximos ou figuras proeminentes da sociedade portuguesa, actores ou testemunhas directas daquele período crucial de fim de regime, ajudam-nos a avaliar a importância do percurso de António Pedro Pinto Leite e da sua proposta. O livro contém prefácios do Dr. Mário Soares, do Dr. Francisco Pinto Balsemão, do Professor Adriano Moreira e do Dr. Sérgio Ribeiro".


Vd. ainda sobre a 'ala liberal' o artigo:

Araújo, António de - Ala liberal, o desencanto do reformismo. [Em linha]. Análise Social, vol. XLII (182) , 2007, 349-354. [Consult 10 de Outubro de 2008]. Disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n182/n182a20.pdf