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segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Julho de 1974 > Visita de Bunca Dabó e do seu bigrupo, fortemente armado... Ao centro, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto, então alf mil, em farda nº 2, desarmado, descontraído, fazendo as "honras da casa". O aquartelamento e a povoação foram ocupados pelo PAIGC apenas em 2 de setembro de 1974. (Natural de Turquel, Alcobaça, o Jorge Pinto é professor do ensino secundário, reformado)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (169/74) > Meados / finais de maio de  1974 > Imagens do "glorioso dia do primeiro encontro com as tropas do PAIGC em Bissorã e após 25 de Abril,  creio eu que foi em meados ou finais de maio de 1974" (...). Fotos do álbum do Henrique Cerqueira, que esteve, como fur mil at inf, no TO da Guiné, desde finais de novembro de 1972 até inícios de kulho de 1974, primeiro na 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72 e depois na CCAÇ 13.

Fotos ( legenda): © Henrique Cerqueira (2012)  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Gabu < Paunca > CCAÇ 11 (1969/74) > 7 de junho de  1974 >  A paz, depois da guerra, ou guerra & paz, como faces da mesma moeda... >  O fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, "herói de Gadamael", no meio dos inimigos de ontem...  Fotos do seu álbum fotográfico, sem legendas... 

Este nosso camarada que vemos aqui a abraçar os inimigos de ontem, foi o mesmo que tinha escrito à mãe,na véspera,  em 6 de junho de 1974,  a seguinte missiva:

 "(...) Ficou, nesse encontro, determinado que amanhã o inimigo vinha a um quartel nosso visitar-nos, conhecer-nos, nós que nos matavámos [uns aos outros] sem nos vermos. Enfim, agora como está previsto, conhecer-nos-emos, se não houver imprevistos, e eu, que tanto os odiei, com o ódio que ganhei com a guerra, devido ao sangue que vi derramar, irei... talvez - quem sabe ? - abraçá-los. Sim, porque eles lutaram para defenderem o que por direito lhes pertencia, um chão deles, bravos soldados como nós." (...).

É o mesmo J. Casimiro Carvalho que na batalha de Gadamael pôs a vida em risco para salvar outros camaradas (e nomeadamente o seu capitão) e que chegou a ser ferido.

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73 (Xitole, 1974) > Foto do álbum do José Zeferino, ex-alf mil at inf. "Primeiro encontro no Xitole: de costas um comandante do PAIGC – não me lembro do nome – , o nosso médico, Dr. Morgado, eu, o capitão Luís Viegas, o comissário politico Antero Alfama e o 1.º sargento páraquedista Vaz".  O comandante da 2ª CCAÇ / BCAC 416/73 era cap mil inf Luís Fernando de Andrade Viegas (com este mesmo nome, há um membro da Ordem dos Engenheiros da Região Sul, portado ca cédula profissional nº 12.037).

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Xitole >  2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, Xitole, 1974 > s/d    [c. jun/set 1974]>  Chegada ao Xitole de forças do PAIGC, em camiões russos.

Algumas apontamentos do diário de alf mil José Zeferino: 

(i) Xitole, 22 de abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras; 

(ii) 25 de abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas: "Zefruíno, alferes Zefruíno"!!!... (...) Era o Jamil, comerciante libanês (...),  que estava a ouvir a BBC em árabe: "Zefruíno, o (...)  Spínola está a fazer uma revolta". (...) Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa. Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável, até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito. (...)

(iii) 15 de maio de 1974 – Violento combate – emboscada. Duas baixas do nosso lado: o alferes Aguiar e o soldado de transmissões Domingos. Cerca de uma dezena de feridos. Sinais de baixas IN;

(iv) 30 de maio de 1974 - São detectadas e levantadas várias minas reforçadas com granadas de RPG;

(vi) 6 de junho de 1974 - Pelas 6 horas, nova rajada. Desta vez de uma sentinela junto ao espaldão do morteiro 81, na zona dos quartos dos oficiais e do abrigo da Breda. Novamente nas valas avistámos, a umas dezenas de metros, uma coluna IN que se aproximava, vinda da tabanca, pela orla da pista de aviação. Sob o nosso fogo fugiram para o mato do outro lado da pista, deixando um deles ferido. Veio a falecer pouco depois na nossa enfermaria. Foi este, realmente, o ultimo acto de guerra na zona e ainda hoje não o entendo totalmente.

(vii) 15 de junho de 1974 - Na picada, para lá da Ponte dos Fulas, suspensa de uma árvore, é encontrada uma carta com um maço de tabaco Nô Pintcha, e um isqueiro. Convidava o capitão a fazer a paz. O que foi feito no mesmo dia, perto do pontão do Jagarajá.

(viii)  de 16 de junho a setembro de 1974 - Começaram então as visitas de comandantes e comissários políticos do PAIGC para combinar a cerimónia da entrega do quartel, com o arriar da nossa bandeira e o hastear da deles. Vinham das matas da margem direita do Corubal – Mina, Fiofioli, etc. (...)

Houve um jogo de futebol entre nós e os guerrilheiros. Gostavam imenso de falar com o nosso pessoal chegando a trocar impressões sobre o material que tínhamos usado na guerra. Creio que numa dessas conversas foi dito que quem preparou a tal emboscada de 15 de maio teria sido castigado. Não aprofundámos a questão (...).

Quase todos os dias apareciam guerrilheiros procurando refeições na nossa cantina geral. A única exigência nossa: tinham que deixar a arma à entrada do quartel, no posto de sentinelaFazendo-se transportar por camionetas civis paravam sempre na casa do Jamil para o cumprimentar. (...) Numa das colunas, e em viatura civil, chegaram também duas prostitutas. Alguns aproveitaram. (...)

O Saltinho já tinha sido entregueBastou um dia para ficarem sem gerador. Os novos ocupantes pedem ajuda ao Xitole para reparar o aparelho. Nesse dia à noite ficámos preocupados por a equipa que foi não ter chegado. Foram encontrados perto de Cambéssé com o Unimog espetado dentro do mato com vários guerrilheiros a tentar repô-lo na picada. O comandante deles, de nome Claude, ficou irritadíssimo quando nos viu. Já estava todo alterado. E foi a única expressão de ódio que registei em todos os contactos com elementos do PAIGC. Mas a nossa equipa foi muito bem tratada por eles.

Entretanto chegam-nos notícias de problemas em Bambadinca: Com as nossas milícias: queriam alimentos e com a CCAÇ 12 que não queria entregar as armas. Depois… o tempo passou-se… lentamente. E entregámos o Xitole  [em ].(...)

 (ix) Bissau, 12 de setembro de 1974 - Embarque no Uíge, para Lisboa. (...)

Foto (elegenda): © José Zeferino (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > 14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC. Foto do álbum  do José Lino [Padrão de] Oliveira [ex-fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974]

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Cemitério de viaturas e outros equipamentos militares (GMC, Daimlers,  Panhard, jipes, Obuses 14...) abandonados como sucata, no fim da guerra.

Guiné > Região do Oio > Mansoa > CCS/BCAÇ 4612/74 (12jul74-15/10/74) >  9 de setembro de 1974 > Cerimónia da entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné, o PAIGC,  e  da retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, na região do Oio, serviu perfeitamente para esse duplo propósito... É uma fotos histórica, em que se vê o nosso coeditor, camarada e amigo Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, a arriar a bandeira verde-rubra. (O MR é membro da nossa Tabanca Grande, desde 1/11/2005...

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 >  14 de outubro de 1974 > O último arriar da bandeira no CTIG, mas já sem a presença de representantes do PAIGC.  O último ato da soberania portuguesa não foi o arruiar da bandeira, em Mansoa, em 9 de setembro de 1974....O BCAÇ 4612/74 seria colocado depois de 9/9/1974, no BENG 447, em Brá, Bissau... a útima bandeira portuguesa a ser arriada, no CTIG, seria no próprio "dia do embarque", ou seja, mais de um mês depois, em 15/10/1974. Essa honra coube, de novo, ao Eduardo Magalhães Ribeiro, fur mil op esp / ranger, da CCS/BCAÇ 4612/73 (12 de julho de 1974 - 15 de outubro de 1974).

Fotos (e legenda): © José Lino Oliveira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné >s/l >  s/d > O último Governador Geral e Comandante-Chefe, Carlos Fabião (1974)... Era um dos militares com mais anos de serviço no TO (3 comissões ou mais). Aqui na foto ainda capitão e depois major, comandante do Comando Geral de Milícias (1971/73), ao tempo de Spínola... Foto de autor desconhecido, reproduzida aqui com a devida vénia. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d., pp. 332 e 335. .


Guiné > Bissau > Cais da Marinha > Outubro de 1974 > Quatro Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, poucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro do mesmo ano. É visível o navio Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné. Foto do álbum do ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz.

Segundo o nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74),e basedado no depoimento do Manuel Beleza Frerraz,  "no dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de 'Arriar da Bandeira Portuguesa', ao qual se seguiu o 'Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau' (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de outubro de 1974, sem cerimónia oficial),  como tal, nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12,  em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

(...) "A comitiva constituída pelo Governador (brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos 'Planos de Retirada', elaborados pelo CTIG / CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

(...) "Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra. Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a 'segurança de rectaguarda'  mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

(...) "Às 2h30m do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné. Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos 'seus antigos inimigos', e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos." (...)

Foto (e legenda): ©  Manuel Beleza Ferraz / Luís Gonçalves Vaz (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No livro de João Céu e Silva,  "Uma longa viagem com Pulido Valente" (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp.), são atribuídas a Vasco Pulido Valente (VPV)  (1943-2021) as seguintes afirmações, a propósito da descolonização (*):

(...) Quando o Dr. Mário Soares chegou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros , já o coronel Fabião estava aos abraços ao PAIGC e o Otelo aos abraços à FRELIMO. Não havia negociação possível.

Quem fez a descolonização não foi o Dr. Mário Soares, mas o MFA. Ele não queria fazer aquela descolonização, e foi assim porque o Exército português se desfez em quarenta e oito horas em Angola, Moçambique e Guiné. Neste último caso, fomos mesmo ao encontro das tropas inimigas e confraternizámos poucos dias após o 25 de Abril. Como aconteceu no Norte de Moçambique e quase imediatamente me Angola (pp. 282/283).

(…) Lembro-me do abraço de Soares a Samora Machel, horrível! E Como aconteceu ? A comitiva entrou na sala de reuniões, Otelo olhou para o Machel e disse: “Ah grande Machel, deixe-me dar-lhe um abraço”, e Soares, que estava a chefiar a delegação, ficou sem saber o que iria fazer. Depois de Machel ter dado um abraço a Otelo, veio ter com Soares de braços abertos, “Meu caro Mário”, e deu-lhe um abraço. Isto só deveria ter acontecido com Moçambique independente” (p. 191).


2. Pergunta-se, aos camaradas da Tabanca Grande que estavam no TO  da Guiné no 25 de Abril de 1974: tem algum fundamento a declaração de VPV, segundo a qual as NT foram logo, "pouco dias após o 25 de Abril" (...)  "ao encontro das tropas inimigas " (leia-se, do PAIGC) e "confraternizaram" ?

Eu não estava lá, mas pelo que sei, e pelos depoimentos já aqui foram publicados ao longo de 18 anos de existência do blogue,  acho estranho que, ao fim destes anos todos (já lá vão 48, quase meio século!), já ninguém se indigne com estas, senão "bojardas", pelo menos "bocas foleiras", vindas para mais de um homem com formação académica, historiador encartado e, de resto,  um dos "cronistas-mor" do regime democrático,  o qual, todavia,  sempre esteve longe (fisicamemte falando) do teatro de operações da Guiné. 

No citado livro (que é um meritório trabalho do João Céu e Silva, como já aqui foi dito), há outras" leviandades" (não quero chamar-lhe outros nomes) que são ditas sobre a guerra da Guiné (como, por exemplo, sobre o acidente de helicóptero, caído no rio Mansoa, em que morreu o seu amigo, o deputado da Ala Liberal José Pedro Pinto Leite, e mais outros 3 deputados da Assembelia Nacional, além da tripulação, e que VPV atribui à pontaria dos artilheiros do  PAIGC) (**)...Para já não falar da infeliz expressão "capitães milicianos mercenários" (também não provocou, ao que parece, a indignação dos nossos leitores, na ausência de comentários ao poste) (***)...

No essencial, as declarações do VPV parecem-me injustas ou menos felizes, em relação aos "últimos soldados do Império" que arriaram a última bandeira verde-rubra na Guiné... No mínimo, não responderão à verdade dos factos... Em zonas como o Xitole, a guerra prolongou-se até quase a meados de junho e ainda houve mortos de parte a parte... Na generalidade dos casos,  a retração do nosso dispositivo militar (aquartelamentos, destacamentos, etc.)  fez-se com ordem e dignidade, de acordo com um plano de retirada superiormente aprovado... E, depois, se uma jogatana de futebol, entre inimigos de ontem, num processo de negocição de paz, ao fim de onde, doze, treze anos de guerra, é uma prova inequícova de "confraternização", então temos que tratar com pinças as palavras que usamos quando falamos da gestão dos conflitos entre os seres humanos...

Na primeira parte deste poste, selecionámos, ao "vol d'oiseau",  algumas fotos e legendas que fomos publicando, a este respeito, ao longo dos anos... Esperemos que estas possam suscitar mais depoimentos e reflexões sobre o tema, sem que a discussão acabe na "fulanização" e na "caça às  bruxas", na patológica tentação, tão portuguesa (e se calhar universal), de querer arranjar logo "bodes expiatórios" quando as coisas não nos correm com ventos de feição como foi o caso, por exemplo, da descolonização... 

Enfim, façamos votos, neste já final do ano de 2022,  para  que os nossos historiadores (militares ou outros, portugueses ou estrangeiros) possam, com mais investigação,  fazer mais luz, em 2023,  sobre este período e estes factos em que as narrativas ainda estão longe de serem consensuais, devido também ao enviesamento político-ideológico (****). LG
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23840: Notas de leitura (1527): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte VI: 25 de Abril ? 25 de Novembro ? E descolonização ? Acho que consigo compreender tudo no caso português. Isto parece uma gabarolice, mas não é. A mim, não há nenhum acontecimento que me cause perplexidade" (VPV)

(**) Vd. poste de 18 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23793: Notas de leitura (1518): "Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente", de João Céu e Silva (Lisboa, Contraponto, 2021, 296 pp) - O Estado Novo, a guerra colonial, o Exército e o 25 de Abril (Luís Graça) - Parte II: A guerra de África não foi nada parecido como o trauma da I Grande Guerra...


(****) Último poste da série > 25 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23736: Casos: a verdade sobre... (31): Pansau Na Isna, o "herói do Como" (1938 - 1970), entre o mito e a realidade - Parte II: Visto do lado de lá

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23800: Memória dos lugares (445): O Xitole que eu conheci em 1971/72, no tempo da CART 3492 / BART 3873 e do "tio" Jamil Nasser (Joaquim Mexia Alves)


Foto nº 1



Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4



Foto nº 5


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > 6 de abril de 1972  > Um almoço de chabéu que o Jamil (fotos nºs 1 e 4)  me ofereceu no dia dos meus anos,  precisamente no alpendre da frente da sua casa (Fotos nºs 2 e 3). .Foram convidados o Capitão Godinho e a sua mulher, bem como os alferes da companhia a que se juntou , por ter vindo em coluna do Saltinho,  o alf Armandino (meu camarada de curso de Operações Especiais), que veio a falecer escassos dias depois na célebre emboscada do Quirafo  [em 17 de abril de 1972]. Está sentado na ponta da mesa, juntamemte  com  o Chefe de Posto (Foto nº  2 e 4, aqui junto ao cap Godinho)..

Fotos (e legendas):  © Joaquim Mexia Alves  (2022). Todos os direitos reservados.Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá >  Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > c. 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, chega a Xitole, atravessando a ponte dos Fulas, sobre o rio Pulom, ao fundo. A viatura civil, em primeiro plano, podia muito bem ser do nosso conhecido comerciante libanês Jamil Nasser, amigo de alguns dos nossos camaradas que passaram pelo Xitole, como foi o caso do Joaquim Mexia Alves.  Nessas colunas logísticas integravam-se viaturas civis de diversos comerciantes da zona leste. Foto do álbum de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).


Foto (e legenda):  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp / ranger, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, régulo da Tabanca do Centro (Monte Real):

Data - 21 nov 2022 10:09

Assunto . - Xitole: Serração do sr. Henrique Martinho, amigo do Jamil, que deixou a Guiné em 1962 (*)

Caro Luís

Como sabes o Jamil e eu tínhamos uma forte relação de amizade. Tratava-o muitas vezes por Tio Jamil! (**)

Enquanto estive no Xitole, praticamente todos os dias ia a casa do Jamil ao fim da tarde e, sentados no seu alpendre, bebíamos whisky com água Perrier acompanhado de bocados de tomate só com sal.

Ele ouvia as notícias em árabe e comentava comigo o que se ia passando no seu Libano.

Tenho para mim que a casa que na foto tem o alpendre em ruínas, era a casa do Jamil, só que essa vista é de lado ou seja é do lado que dava para o quartel e assim o David Guimarães terá razão.

A frente da casa tinha a continuação desse alpendre e dava para a estrada que vinha de Bambadinca.

Do outro lado da estrada, mais ou menos em frente da casa, e um pouco afastado da estrada, ficava o armazém de venda do Jamil, que poderia muito bem ter sido a tal serração de que fala Maria Augusta Martinho Antunes.

Anexo fotos de um almoço de chabéu que o Jamil me ofereceu no dia dos meus anos em 6 de abril de 1972, precisamente no alpendre da frente da sua casa. Foram convidados o Capitão e a sua mulher, bem como os Alferes da Companhia a que se juntou por ter vindo em coluna do Saltinho o Alf Armandino, (meu camarada de curso de Operações Especiais), que veio a falecer escassos dias depois na célebre emboscada do Quirafo, sentado na ponta da mesa, e também o Chefe de Posto.

A minha amizade com o Jamil era tal que numas férias da Guiné em Lisboa, por coincidência ele estava também em Lisboa, (ficava num hotel encostado ao então cinema Tivoli, Hotel Condestável?), e então fomos almoçar juntos, se bem me lembro.

Depois perdi completamente o rasto ao Jamil Nasser, mas a sua amizade e a sua companhia foram um bálsamo naqueles primeiros meses de Guiné.

Podes, obviamente, servir-te deste email para o que quiseres.

A foto nº 4 somos o Jamil e eu no dia do almoço.

Um abraço para ti e para todos do
Joaquim Mexia Alves

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23799: Memória dos lugares (444): Xitole, onde cresci desde bebé até 1957, quando vim para a metrópole estuda... O meu pai, Henrique Martinho, tinha lá uma serração, e era amigo do comerciante libanês Nasser Jamil... (Maria Augusta Martinho Antunes)

domingo, 20 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23799: Memória dos lugares (444): Xitole, onde cresci desde bebé até 1957, quando vim para a metrópole estudar. O meu pai, Henrique Martinho, tinha lá uma serração, e era amigo do comerciante libanês Nasser Jamil... (Maria Augusta Martinho Antunes)


Guiné > Xitole > 1970 > Vista aérea do Xitole (aquartelamento, posto administrativo e tabanca), ao tempo da CART 2716 (Xitole, 1970/72)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Comentário do David J. Guimarães (ex-fur mil at inf MA, CART 2716 / BART 2917, Xitole, 1970/72)

(...) "Esta foto aérea terá se ser comparada com outras, que eu tirei em 2001, já publicadas na página do Xitole, e que identificam os edifícios que ainda existem (ou exitiam). Vamos lá descrever o que vejo, possivelmente a bordo de uma DO 27 não sei, deverá ser...

"Da direita para a esquerda, os edifícios: em primeiro lugar, a cozinha das praças notando-se na esquina um abrigo subterrâneo - era nesse abrigo que dormia parte do 4º Grupo de Combate... 

Depois andando mais para a esquerda vemos outro abrigo e depois uma casa civil - era a casa do Chefe de Posto, hoje ainda existente... 

"Continuando, vemos uma casinha pequenina e à frente outro abrigo - aí era o ninho de um dos morteiros 81 e o abrigo da secção de armas pesadas que lá se encontrava...

"Depois mais à frente aparece um grande abrigo - sei que lá se instalava parte do 1º Grupo de Combate... 

"Continuando mais à frente vê-se uma casinha pequenina - era a capela da companhia (tenho eu que enviar uma fotografia onde eu estou na frente). Notem agora uma arvore frondosa - é a árvore grande ainda hoje existente - da parte de vê-se outro abrigo: também ele com o resto do 1º Grupo de Combate... 

"Por detrás da capela e debaixo dessa árvore grande verde, é exactamente o bar do soldado, aquele bar onde o Humberto e o Levezinho se encontram a conversar em fotografia que vem mais abaixo, neste poste...

"Mais à esquerda vemos outra árvore de bom porte: é o local da porta de armas... Seguindo agora desse modo no sentido da pista, vemos um edifício escuro: é a Oficina Mecânica, o depósito de armamento, enfermaria, etc... 

"Caminhamos mais para a direita e novo edifício e abrigo - messe e abrigo dos oficiais... Antes e bem junto nota-se para lá qualquer coisa: ninho da metralhadora Breda e abrigo... 

"Mais para à direita casa dos oficiais, surge então a sala de operações, a messe dos sargentos, a secretaria etc... Deixamos esse edifício comprido e logo vemos outro: depósito de géneros.... 

"Mais à frente e com árvores notam-se edifícios: são casas de banho... Mais um abrigo voltado para a pista e mais uma arrecadação... Enfim, era por ali que se instalou também e já coberto pelas árvores o ninho do morteiro 10.7 ...

"E estamos muito perto do ponto de partida, a cozinha dos soldados.... Aí existia outro abrigo idêntico àquele que se situa ao lado da cozinha... Bem ao fundo nota-se então a pista dos aviões e um quadrado bem definido que é o heliporto....

"Toda a área circundante ao quartel antes da pista tinha uma vala, como era de esperar.... Ela percorria toda a zona habitável do aquartelamento...

"Agora bem à esquerda do aquartelamento aí está o Xitole civil ... Em frente à pista e do lado do heliporto nota-se um trilho que nos levava à Ponte Marechal Carmona... 

"Pelo fundo da pista nota-se uma estrada que vai dar à que segue para o Saltinho... Pela frente e na zona mais arborizada existe um complexo: era onde havia um poço... 

"Mais à esquerda sim, e quem sai da porta de armas, vê-se uma estrada - bem à esquerda da fotografia... Exactamente era por aí que entravam as colunas logísticas que vinham ao Xitole" (...)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole. "Um antigo armazém do comerciante libanês Jamil Nasser", diz o David Guimarães. A nossa leitora, Maria Augusta Martinho Aunbtubes, que viveu aqui nos anos 40/50 antes de ir estudar para a metrópole, em 1959, diz que erradamente aqui no nosso blogue esta casa  "é referenciada como sendo um antigo armazém do sr. Jamil"... Pelo contrário,  foi "feita pelo meu pai e os trabalhadores da serração", e nela nasceram dois seus irmãos... O Jamil era visita assídua da casa. È possível que o c
omerciante libanês a tenha ocupado, no início da guerra, sob recomendação do pai da nossa leitora, que deixou o Xitole em 1962.   


Guiné-Bissau > Região de Bafatá  > Xitole  > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole > O antigo depósito de géneros: onde se guardava a bianda e o tudo o mais que era necessário à sobrevivência de uma companhia... O Xitole era abastecido através de colunas logísticas vindas de Bambadinca


Guiné-Bissau > Região de Bafatá  > Xitole  > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole > O David Guimarães, ao que parece erradamente,  diz que esta era a antiga casa do comerciante libanês,  com alpendre já em ruínas... A Maria Augusta Martinho Antunes tem outra versão:  "
não era nenhuma daquelas mencionadas no álbum de fotografias do Xitole, mas sim uma casa que ficava no cruzamento da estrada que, vinda de Bambadinca, passava pelas nossas e à entrada do Xitole virava para a estrada do Saltinho" (*).


Guiné-Bissau > Região de Bafatá  > Xitole  > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole >  A antiga casa do chefe de posto, vista do lado da parada do aquartelamento.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá  > Xitole  > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole > Uma das árevores de grande porte. A direita os antigos aposentos dos oficiais.

Fotos (e legenda): © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 

1. Mensagem, com data de 28/4/2022, 16:56, assinada por Maria Augusta Martinho, leitora do nosso blogue (e que nos chegou por via do Formulário de Contacto do Blogger). Descornimos que se trata de uma "amiga do Xitole", que já há largos anos nos contactou, sob o nome de Maria Augusta Antunes (*)-

Nascida em 1948, no concelho de Tomar, emigrou ainda bebé com os pais para a Guiné, donde regressou aos 12 anos, para estudar. Era filha de Henriqe Martinho, com serração no Xitole. O seu nome completo é Maria Augusta Antunes Martinho. Antunes deve ser apelido de casamento.

O Jorge Cabral identificou-a como mãe da sua aluna, Marta. Nunca chegou a responder ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande.  Não nenhuma foto sua nem do tempo  em que viveu no Xitole, nos anos 40/50. Os pais deixaram o Xitole, por causa da guerra, em 1962 (*).

 
De quando em vez, venho aqui à Tabanca matar saudades... Não sei que feitiço aquele chon tem em nós.

Obrigada por me proporcionarem uns bocadinhos de boas memórias. 

Não nasci no Xitole, mas vivi lá desde bebé até 1957 quando vim para a metrópole para estudar.

 Lá nasceram dois dos meus irmaõs, mas um, o Luis Manuel ficou para sempre lá por altura do Natal de 1954. Está sepultado em Farim.  Veio o Zeca que nasceu em outubro de 1955 de quem o sr. Jamil era padrinho, e continua felizmente connosco. 

Esses dois meus irmãos nasceram no Xitole na casa feita pelo meu pai e os trabalhadores da serração, o meu pai trabalhava com o sr. Pires e também com o sr. Toscano de Almeida. 

Erradamente aqui na Tabanca  Grande [essa casa ] é referenciada como sendo um antigo armazém do sr. Jamil. (Não sabemos se ele a ocupou depois do meu pai embarcar para Portugal Continental.) 

Havia, sim, um armazém também feito nessa época, para guardar o arroz que servia de complemento de pagamento para os empregados nativos que trabalhavam na serração.

E sim, sr. Luis Graça, tem razão a casa do sr Jamil, que era libanês e visita assidua de nossa casa e nós da dele, tinha efectivamente um alpendre onde ele gostava de tomar uma bebida com os amigos e o meu pai viciou-o no tomate com sal, que usávamos muito na nossa aldeia, e o meu pai mandava plantar e colher numa horta que mandou fazer junto da serração e que, além de mancarra, tinha também muitos ananases. 

Se não estou em erro era a primeira casa com um muro e com uma escada com poucos degraus aonde estava o gerador... e ficava na estrada que seguia para o Saltinho... Será??? 

Já cá não tenho os meus pais,  infelizmente,  para lhes perguntar. O meu pai faleceu com a Guiné na garganta, gostaria de ter lá voltado mas não foi possivel devido à guerra.

Atravessamos muitas vezes uma mas não me recordo do nome e também na jangada.
Também o meu tio João Martinho esteve muitos anos estabelecido em Nhacra e trabalhava para o sr Toscano. O outro meu tio por afinidade tambem ai ficou sepultado depois de ter sido atropelado por um nativo e ficar colado a um bissilon.

Tenho muitas saudades do Xitole que deixei, e tenho conhecimento que por ai ficou também um irmão que o meu pai nos deu, mas que nunca conhecemos, que julgo ter nascido em 1957/8... 

Sabe Deus se ainda a vou visitar ou se devo continuar com a ideia da linda terra que deixei , pois temo apanhar uma grande desilusão com o Xitole actual.

Desculpem a maçada, mas a saudade tem destas lamechices. Boa tarde a todos. (**)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Janeiro de 2006 > Casa, em ruínas,  de Jamil Nasser, comerciante de origem libanesa. Fotos do Dr. Rui  Fernandes, médico.

Fotos: Cortesia de  © Rui Fernandes / Carlos Silva  (indelizmente a página do Carlos Silva já n
ão está disponível "on line": http://carlosilva-guine.i9tc.com/ )


Guiné >Região de Bafatá > Carta de Xitole (1955) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa do Xitole, na margem direita do Rio Corubal, na estrada Bambadinca - Saltinho - Aldeia Fomosa... Era então posto administrativo, possuindo  serviços sanitários e telegráfico-postais... Sinalizam-se também as ruinas da antiga ponte sobre o rio Corubal e os rápidos de Cusselinta.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)
__________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

7 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6549: O Nosso Livro de Visitas (92): O Xitole que eu e os meus pais conhecemos até 1962 (Maria Augusta Antunes, filha de Henrique Martinho, antigo madeireiro)

(...) Sou Maria Augusta Antunes Martinho, e fui para a Guiné ainda bebé com a minha mãe e irmão ao encontro do meu pai, Henrique Martinho, madeireiro e colono então no Cumeré.

Mais tarde montaram a serração no Xitole, para onde nos mudamos. Com o meu pai estava também o sr. Pires. Fizeram ambos as suas casas de raíz e também a casa aonde guardavam o arroz e o sal, que faziam parte do pagamento do trabalho diário dos negros, trabalhadores da serração.

Pois a razão deste mail é exactamente o desejo que tenho de corrigir uma informação do seu blogue.

Na verdade, a casa do sr. Jamil (se a memória não me trai, de seu nome completo Jamil Nene Nasser), compadre dos meus pais, (pois foi o padrinho de baptizado de um dos meus irmãos, nascidos naquela casa), não era nenhuma daquelas mencionadas no álbum de fotografias do  Xitole, mas sim uma casa que ficava no cruzamento da estrada que, vinda de Bambadinca, passava pelas nossas e à entrada do Xitole virava para a estrada do Saltinho. Vi a verdadeira casa do sr. Jamil no blogue do sr. Carlos Silva. Como eu a conheço bem!

Quando em 1962 o meu pai veio da Guiné, pediu ao compadre Jamil que olhasse pela casa na esperança de um dia voltar e para evitar ela ser ocupada pelos negros. Assim também sucedeu com a do Sr. Pires.

Vivi e cresci a ouvir falar da Guiné. Transmito isso aos meus filhos e neto. Os meus queridos pais faleceram sem lá poder voltar. Mas isso são outras histórias.....

Como deve calcular posso falar do sr. Jamil, pois que era visita constante de nossa casa.
Se estiver interessado dar-lhe-ei os pormenores que souber.

A minha casa é a que tem os 2 anexos juntos, um era a cozinha e a casa aonde o meu pai punha a caça quando vinha do mato, e o outro era a casa de banho. (...)

Vd. também postes de:

terça-feira, 15 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13400: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (1): Quem eram, onde viviam e trabalhavam, quando chegaram, etc. Propostas de TPC estival: factos, gentes, histórias, fotos... precisam-se!

1. Amigos e camaradas da Tabanca Grande e demais leitores:

Estamos já em plena "época estival" e o blogue ressente-se da falta de colaboração... O Carlos Vinhal costuma queixar-se, nesta altura do ano, de ter pouco trabalho... Por outro lado, em agosto  o blogue, as férias e a praia são três coisas que não combinam bem... Eu, LG,  ainda estou no ativo e vou tirar férias em agosto (altura em que o meu estaminé fecha, parcialmente, durante 2 semanas...).

À boa maneira dos senhores professores, vamos  pedir-vos  um TPC, trabalho de casa, para alimentar o blogue durante a canícula... O tema é: "Os libaneses da Guiné"...

(i) Uma questão interessante é a de se saber quantos libaneses viviam na Guiné, antes e durante a guerra colonial (1963/74); .

(ii) Algumas famílias terão ficado por lá mesmo depois da independência, ou emigraram, para lá a seguir; se sim, quantas ? onde ? [Lemos, numa reportagem do jornal Expresso, de 2006, que seriam uns 200, a maior parte concentrados em Bissau];  (*)

(iii) Do nosso tempo estão sinalizados (ou têm sido referidos)  alguns comerciantes libaneses, ou de origem libanesa, em Bissau, Bafatá, Xitole, Gondomar e outros sítios:

(a) Bissau > Na baixa, havia as lojas do Taufik Saad, do Azis Harfouche, do Mamud el Awar;

(b) Bafatá > As "manas libanesas";

(c) Xitole > Jamil Nasser;

(d) Nova Lamego > (?)

(e) Bissorã > (?)

(f) Teixeira Pinto / Canchungo > (?)

(g) Xime > Amin (?)

(h) Gondomar > Regala (?)

(i) Catió > ?

(j) Piche > Taufick ?

(iv) Não há estatísticas... Ou há ?  De qualquer modo, a diáspora libanesa é já muito antiga, e remonta aos seus antepassados fenícios que chegaram à nossa costa, atlântica,  muitos séculos antes de Cristo... Calcula-se que, para uma população atual de 4,4 milhões a viver no Líbano [, "Lebanon", em inglês], haja o dobro ou o até o triplo de libaneses, ou seus descendentes, pelo mundo fora, com destaque para o Brasil (5 a 7 milhões), a Argentina, os EUA,a Venezuela, a Austrália, etc. Mas também países árabes, África ocidental francófona (Costa do Marfim, Senegal, Guiné-Bissau...).

(v) Antiga colónia ou protetorado francês, depois da desintegração do império otamano, o Líbano alcançou a independência em 1943; as tropas francesas sairam de lá em 1946; e  a emigração para a África Ocidental francófona deve ser dessa época, ou até anterior (antes e depois da I Guerra Mundial); em geral, são cristãos, mas também muçulmanos xiitas, os que emigram, e são reconhecidos como uma comunidade próspera e influente, de gente que se dedica ao comércio (veja-se  o caso do Brasil);

(vi) Quando é que os libeneses começaram a vir para a Guiné ? [O Expresso diz que foi há mais de 120 anos] (*);

(vii) Não sei se o Joaquim Mexia Alves e outros camaradas que privaram com o Jamil Nasser (**), no Xitole, têm alguma informação sobre a história da família, sua chegada à Guiné, etc.

(viii) Alguns foram nossos camaradas como o cap grad comando Zacarias Saiegh, por exemplo, tendo começado como fur mil do Pel Caç Nat 52,antes e ingressar na 1ª CCmds Africanos.


2. Quem quer dar uma ajudinha para este TPC coletivo ?

Boas férias para quem for de férias, bom descanso para quem ficar em casa... Passear, a pé, é importante... Mas também conviver, pensar, ler, escrever... e blogar!

Um abraço (ativo, produtivo, saudável, camarigo...) para todos. Luís Graça, Carlos Vinhal e demais equipa.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. excerto de reportagem, Expresso, de 7/972006 (Os libaneses na actual  Guiné-Bissau")

(...) O cônsul do Líbano em Bissau, o comerciante Hassib el Awar, garante que os "sirianus" – como eram conhecidos os libaneses antes da independência da Guiné-Bissau – estão cá há pelo menos 120 anos. Este druzo de 73 anos, natural da região de Baabda, no centro do Líbano e a 40 quilómetros de Beirute, sabe do que fala. Chegou à ex-Guiné Portuguesa em 1949, para trabalhar com o tio, de quem herdou a "Casa Mamud el Awar", loja que ainda hoje conserva o mesmo nome.

Hoje, o cônsul tem um registo de apenas 200 libaneses. Mas supõe-se que são muito mais, na maioria muçulmanos, xiitas. Discretos, por vezes, não hesitam em exibir as suas preferências políticas, como durante o recente conflito com Israel, em que o restaurante "Ali Baba", em Bissau ostentou um retrato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.

Os irmãos Mazeh, xiitas, instalados a partir dos anos 90, abriram a primeira fábrica de espuma da capital guineense, onde está o grosso dos libaneses. Mas ainda há um punhado de comerciantes nas regiões. É o caso de Abibe Fares, ex- colaborador do general Aoun, que vive em Bissorã, no Norte. Outro apoiante do líder cristão, Ghassam S. Makarem, um famoso jornalista, explora duas papelarias em Bissau.

As diferenças confessionais não impedem a comunidade de coabitar. Em Julho, cristãos e muçulmanos organizaram uma marcha de protesto contra a ofensiva israelita no sul do Líbano. Mas difícil é manter a associação local, que apenas funcionou um ano.(...)


(**) Vd. poste de 8 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)

domingo, 13 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)

1. Mensagem do nosso camarada José Zeferino [, ex-alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74; foto à esquerda],  com data de hoje:

Ainda o Jamil (*)

Já me tinha referido ao Jamil anteriormente e realmente ele tinha contactos com o PAIGC: pelo menos um comandante de canhões deles, que vim a conhecer mesmo na sua casa, tinha sido empregado dele em lojas que tinha na zona de Mina [, na margem direita do Rio Corubal], antes da guerra.

Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra,  foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.

O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?

O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.

Abraços para todos

José A.S. Zeferino

2. Comentários do editor L.G. (*):


 A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir  reproduzir.

Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...

Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
3. Comentário de Paulo Santiago [, com data de 10 de julho de 2012, em poste publicado no blogue da Tabanca do Centro,] e republicado no nosso blogue, no poste P13378 (*) ...


[Foto à direita: Paulo Santiago, Pombal, 2007; ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]


Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do whisky ía baixando na garrafa .

Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!

Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...

Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.

O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.

Xitole, c. 1971/72 > O Jamil Nasser com o alf mil op esp
Joaquim Mexia Alves, da CART 3492
4. O Jamil Nasser, na evocação feita pelo Joaquim Mexia Alves  [, texto originalmente publicado no blogue da Tabanca do Centro, em 10/7/2012, e aqui  reproduzido com a devida vénia (**)

Recordações da memória – o Jamil

por Joaquim Mexia Alves 

[, à esquerda uma  rara foto do Jamil Nasser, com o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves;   cortesia do autor] (**)

Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.

Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.

Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.

Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!

O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.

A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.

Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!

Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!

É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de 
tarde no Xitole! Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a 
outras histórias com ele.(***)

Monte Real, 10 de Julho de 2012
Joaquim Mexia Alves [, foto atual à direita]

[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
 ________________

Notas do editor:


(**) Vd. blogue Tabanca do Cnetro >  10 de Julho de 2012 > Recordações da memória – o Jamil [, por Joaquim Mexia Alves]

terça-feira, 8 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > c. 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, chega a Xitole, atravessando a ponte dos Fulas, sobre o rio Pulom, ao fundo. A viatura civil, em primeiro plano, podia muito bem ser do nosso conhecido comerciante libanês Jamil Nasser, amigo de alguns dos nossos camaradas que passaram pelo Xitole, como foi o caso do Joaquim Mexia Alves (*).  Foto do álbum de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.

1. O José Zeferino é um camarada que hoje faz anos, e de quem não temos tido notícias nos últimos tempos a não ser hoje (agradecendo justamente os  nossos voros de parabéns e dizendo que não nos tem esquecido, apesar de não se encontrar no melhor das suas capacidades, presumo que ainda na sequência da intervenção cirúrgica a que foi submetido há um ano atrás)... É menmbro da nossa Tabanca Grande desde 20 de fevereiro de 2008.

Estava no Xitole quando soube do 25 de abril de 1974... Três semanas depois, a 15 de maio, a sua companhia sofreria ainda um tremenda emboscada, de que resultaria a morte do  alferes  mil inf Aguiar e do soldado de transmissões Domingos (Houve ainda cerca de uma dezena de feridos do lado das NT).

De acorco com a pesquisa na Net que fizemos, o Luís Gabriel do Rego Aguiar, natural de Ponta Delgada, é dado como morto em 20/5/1974,  segundo a preciosa listagem dos mortos do ultramar, organizada por concelhos, e disponível no portal Ultramar Terraweb;  por seu turno, (ii) o  Domingos da Silva Ribeiro era natural de Vila Real, e a data  do seu falecimenmto é 15/5/1974; é possível que o alf mil inf Aguiar tenha morrido no HM 241, em Bissau, na sequência de ferimentos graves recebidos nesta emboscada, a última, ao que parece, realizada pelo PAIGC no TO da Guiné, ou pelo menos no setor L1, a seguir ao 25 de abril.

O José Zeferino foi alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74), o mesmo é dizer que foi um dos últimos soldadoa  do império. Ele já recordou aqui, telegraficamente, alguns das datas-chave da sua passagem pelo TO da Guiné. Vamos reproduzir alguns excertos,  desde a sua chegada a Bissau até à notícia do 25 de abril, ao mesmo tempo que lhe endereçamos os nossos votos de parabéns natalícios e lhe desejamos as melhoras das suas mazelas. (**)

2. Alguns apontamentos sobre a acção da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 - 73-74 (Xitole, 1973/74)  na Guiné (***)

pro José Zeferino [, foto à esquerda]

(i) Bissau – de 20 de Dezembro 1973 a 4 de Janeiro 1974 - Chegada. A maior parte, como eu, a 2 Janeiro por avião.

(ii) Cumeré - 6 de Janeiro de 1974 – Início da IAO [Instrução de Aperfeiçoamento Operacional].

(iii) Mansoa - 18/19 de Janeiro de 1974. Primeira acção do Batalhão. Segurança / emboscada nocturna no itinerário Bissau – Farim.

(iv) Cumeré - 25 de Janeiro de 1974 - Primeira baixa no Batalhão: o Furriel Humberto, madeirense, da 3.ª Companhia que iria para Farim, suicida-se com a sua G 3. Por motivos sentimentais.

(v) Xitole - 11 de Fevereiro 1974 - Chegada da 2.ª CCAÇ .

(vi) Xitole - 19 de Fevereiro de 1974 - Primeiro combate, na mata. Sem baixas. Indícios de baixas no IN.

(vi) A partir desta data deixa de haver dias de semana. Passam a ser contados por blocos de três dias: dois de patrulhamento e um de descanso. Um grupo de combate fixa-se na defesa da Ponte dos Fulas com rotação mensal.

(viii) Mansambo – 3 e 4 de Março 1974 - Grande operação no Fiofioli. Sem contacto IN.

(ix) Xitole – 9 de Abril de 1974 - Segundo combate na mata. Baixas não confirmadas no IN. O alferes Araújo do 2.º GComb é evacuado para a psiquiatria do HMB. O meu GComb, o 3.º, estava na ponte nesta altura. Foi de onde tirei esta foto.

(x) Xitole – 13 de Abril de 1974 - Visita do general Bettencourt Rodrigues. Transportado por héli Allouette IIIG

(xi) Xitole  – 22 de Abril de 1974 - Apresenta-se um guerrilheiro do PAIGC. Má altura, para ele, para desertar das suas fileiras.

(xii) Xitole  – 25 de Abril 1974 - madrugada, cerca das 6 horas:
Zefruíno, alferes Zefruíno!!!

Era o Jamil, comerciante libanês com grande influência política, social e económica, tanto na Guiné como na restante família, árabe, dispersa por três continentes.

Estávamos a iniciar mais um patrulhamento, a dois Gr Comb, talvez à zona do Duá.

Na varanda da sua casa, tipo colonial, claro, estendiam-se fios de antenas que acabavam num rádio antigo, de válvulas, por onde estava a ouvir a BBC em árabe.

Diz-me:
 – Zefruíno, o... (não me lembro, ou não quero, das palavras exactas) do Spínola está a fazer uma revolta.

O Jamil tinha tido um contencioso com o general Spínola: tinha querido transferir as suas casas de comércio na zona, para Bissau, no que foi impedido pelo general. Era uma base de apoio para as nossas tropas e para a população.

Foi assim que tive conhecimento do que se passava em Lisboa.

Regressámos de imediato ao quartel. Ficámos na expectativa nos dias seguintes. Patrulhamentos, só o mínimo indispensável-até Endorna. Montagem de segurança nocturna: poucas. Estávamos literalmente presos pela avidez dos comunicados. Acreditámos que o fim da guerra era desejado pelas duas partes. Pelo menos para a população era-o. E muito.

Entretanto chegou ao nosso conhecimento, não me lembro como, que no PAIGC havia duas correntes: uma para atacar em força aproveitando uma possível desorientação nossa; outra para entrar de imediato em conversações de paz no terreno. (...)

_______________


(...) Deparei-me com a fotografia das ruínas da casa do Jamil Nasser,  do Tio Jamil, como eu lhe chamava, e veio-me uma nostalgia difícil de explicar.

Quase todos os dias, ao fim da tarde, ía a casa do Jamil e no seu alpendre de entrada, bebiamos uns uísques, acompanhados de pedaços de tomate com sal, enquanto ele ouvia as notícias do Libano no seu rádio, em árabe, claro está, e comentava o que por lá se passava.

Para mim era como sair um pouco da tropa e entrar numa vida social, o que dava um certo equilíbrio emocional.

Um dia, quando me preparava para ir ter com o Jamil, apareceu o seu criado Suri, oriundo da Gâmbia, salvo o erro, para me dizer que o Jamil pedia para eu não ir ter com ele naquele dia.
 Fiquei admirado, mas bebi o que tinha a beber no quartel. Mal anoiteceu, houve um tremendo ataque ao Xitole que, graças a Deus, não provocou quaisquer vítimas ou sequer ferimentos, mas destruiu bastante alguns edifícios.

Percebi o recado do Jamil, mas nunca falámos nisso. Tenho algumas histórias com ele e até fotografias, se não me engano, não tenho é muito tempo, mas logo verei o que posso arranjar.

A memória falha de vez em quando, mas penso que ainda me encontrei com o Jamil em Lisboa depois de ter vindo da Guiné. Lembro-me que ele costumava ficar num Hotel, ao lado do Cinema Tivoli, se não me engano Hotel Condestável. (...)